Boletim BioPESB 2016 - Edição 24

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Perfil A longevidade tem receita? “Vai diminuindo a cidade. Vai aumentando a simpatia.Quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia.” Os versos da música interpretada pela banda Pato Fu descrevem bem o sentimento de quem visita as comunidades do entorno do Parque Estadual Serra do Brigadeiro. O nome da música é Simplicidade, que combina com longevidade. Esta, por sua vez, combina – e muito – com os dois personagens deste perfil da edição 24 do Boletim BioPESB. Quem vê Marcos Lopes de Menezes Sobrinho, o seu Marcos, não acredita que esse senhor com poucas rugas e cabelo brilhante e acinzentado tem quase 105 anos. O seu Marcos nasceu em 11 de dezembro de 1911, no município de Bom Jesus do Madeira. Aos 2 anos foi morar na comunidade do Córrego do Coruja. Depois mudou-se para Carangolinha, distrito de Divino, onde vive até hoje. Aos 10 anos, o seu Marcos frequentou, pela primeira vez, uma escola. Aos 21, conheceu Andrezina Rosa Damaceno, com quem se casou e teve 12 filhos. À senhora Andrezina, já falecida, o centenário não poupou elogios. Trata-se do amor de sua vida e de sua maior saudade. E, sobre as relações descartáveis de hoje em dia, o seu Marcos deixou um recado para os jovens: _Casamento é coisa séria. Deus quis que existisse amor no casamento. Tem que ter respeito e união dos dois. A receita do casamento feliz é a união dos dois. E já que o seu Marcos falou em receita, será que existe uma para viver tão bem durante 105 anos? O centenário diz que não há segredos. Mas também afirma que a fé foi sempre fundamental em sua vida. Foi com fé em Deus e na vida que ele criou seus 12 filhos morando e trabalhando na roça. Agricultor, ele plantou de tudo, especialmente arroz, feijão e milho. Foi da terra do entorno do PESB que o seu Marcos tirou o sustento de toda a família. Para andar por lá, ele utilizou a charrete até os 100 anos, quando caiu e fraturou o fêmur. Quem já quebrou esse osso sabe o quanto a recuperação é difícil. Os médicos disseram que ele dificilmente voltaria a andar. A resposta do seu Marcos veio com menos de 90 dias, quando ele já estava andando por toda a casa. Hoje, ele recebe os cuidados de sua nora, Maria, que cozinha o mingau de quem almoça às 9:30 da manhã todos os dias. Vale ressaltar que esse ser humano de voz suave e jeito sereno de 105 anos não toma nenhum remédio. E o feito do qual ele mais se orgulha é de encher os olhos: _Graças a Deus eu não tenho inimizade com ninguém. Respeito todo mundo e sigo minha vida simples e feliz. Ano 6, n°24 - Pág 6 E é exatamente esse um dos orgulhos da segunda personagem do nosso perfil. Ilda Ferreira de Morais, a dona Ilda, vive na cidade natal do seu Marcos, mas nasceu em São Francisco do Glória em 7 de fevereiro de 1923. São 93 anos de dedicação à família de 12 filhos e quase 200 netos, bisnetos e tataranetos. A senhora de expressão doce – que logo vem oferecendo café – casouse 16 anos. A boa memória lhe permite lembrar detalhes do casamento: _Foi no dia 12 e outubro às 12 horas. O dia estava muito bonito. A dona Ilda também encontrou na terra a fonte de sustento de sua família. A fetilidade do entorno do PESB rendeu-lhe “mesa simples, mas farta”, com ela conta. As roupas dos 12 filhos era ela quem costurava. Com um saudosismo encantador e os olhos distantes como voltassem no tempo, ela narra: _Era um vestidinho mais lindo que o outro. Tinha um rosa. Lindo. Elas pareciam princesas. Eu costurava tudo, ponto por ponto. Hoje, a senhora baixinha de cabelos longos acorda cedo, prepara o café – e, quando lembra do café, logo me oferece mais uma xícara – e assiste televisão. Ela espera a filha, que mora em frente, trazer o almoço. À tarde, algum vizinho sempre aparece para prosear. A dona Ilda valoriza a harmonia e é categórica ao afirmar: _O mundo precisa tomar jeito! A gente precisa é de paz. Enquanto não houver amor e educação, o mundo não tem jeito. Que Deus ilumine o coração de todos os jovens, para que eles cresçam com amor no coração e sem fazer guerra. Agora um recado da equipe BioPESB: que a beleza e a sabedoria desses “serumaninhos” tão admiráveis que tomaram conta do Boletim 24 invadam o coração de cada um de vocês, nossos leitores. Imagem: Ana Paula Abreu Ana Paula Abreu / Isabella Alves / Júlia Condé Imagem: Ana Paula Abreu
Serra do Brigadeiro Ano 6, n°24 - Pág 7 Guardas-parques: os guardiões da natureza Danilo Santos Isabela Paes Raíssa Castro A conservação e preservação dos recursos naturais e culturais de uma unidade de conservação (UC), como o Parque Estadual Serra do Brigadeiro (PESB), são algumas das funções desenvolvidas pelos guardas-parques. Eles possuem uma função fundamental dentre as atividades desenvolvidas nas UC’s, contribuindo para o gerenciamento do Parque como um todo. Os guardasparques muitas vezes são moradores de comunidades próximas à UC, normalmente conhecedores da região que auxiliam no intercâmbio de informações deste com essas comunidades. No PESB, os guardas-parques são responsáveis por diferentes setores, uma vez que, devido à grande extensão da UC, foi necessária a setorização da mesma, de modo que sua fiscalização seja mais eficiente. Os setores estão separados estrategicamente de acordo com os oito municípios englobados pelo Parque: Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Ervália, Sericita, Araponga, Pedra Bonita e Divino. Dentre as atividades desempenhadas pelos guardas-parques estão a manutenção das trilhas, acompanhamento e apoio a turistas e pesquisadores, além de ações de proteção ambiental como o cercamento de nascentes, controle de incêndio, dentre outras ações, todas voltadas para a proteção e prevenção de algum tipo de dano florestal. As atividades e observações realizadas pelos guardas-parques no período de um dia dentro do perímetro do parque são explicitadas em um diário de campo, o qual busca o melhor controle dos fatos ocorridos dentro da unidade. A compilação dessas informações tem sido fundamental para o aperfeiçoamento da gestão do PESB ao longo do tempo. O diário de campo deve conter informações referentes a rondas e caminhadas, orientação a pesquisadores e também o relato referente a observação de caça, apreensão de pássaros e outros animais, extração de plantas, incêndio, ou ainda poluição e vandalismo. Josué Ferreira do Nascimento, guardaparque há mais de quatro anos e membro do Conselho Consultivo do PESB, re- O guarda-parque Josué Ferreira do Nascimento conhece a importância de seu trabalho e revela ter um imenso prazer em participar desse tipo de atividade. Isso porque, além de obter conhecimento pessoal e levar informações às comunidades, ele contribui para a manutenção do Parque. Josué destaca a preservação ambiental. Segundo ele, entre as ocorrências encontradas, a caça de aves e a extração de espécies nativas são as mais recorrentes. Ainda de acordo com o guardaparque, juntamente com os incêndios, estas são as ocorrências mais difíceis de serem solucionadas. Entre os motivos estão a necessidade de envolver outros profissionais, como a polícia ambiental, brigadistas e o corpo de bombeiros, além disso, outra dificuldade encontrada é o acesso limitado ao local. O guarda-parque atua na unidade de conservação como um policial atua em sua cidade. Através de seus serviços, ele busca manter a harmonia no Parque, vigiando, zelando e agindo nos momentos de desordem. Devido à extensão do PESB, a ação desses profissionais é indispensável e de grande importância para a preservação da natureza. Entretanto, é importante lembrar que, ainda com o trabalho dos guardasparques, é essencial que haja a colaboração de toda a população do entorno do Parque Estadual Serra do Brigadeiro, bem como de seus visitantes, na preservação do mesmo. Josué enfatiza que é preciso que todos tenham consciência ambiental e, com isso, possam aproveitar a beleza que a natureza tem a oferecer. Foto: arquivo do PESB
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