Primeira Infancia e Maternidade nas ruas de SP - CDH LG
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29 [A mãe] <strong>de</strong>ve, antes,<br />
passar por todos os<br />
setores <strong>de</strong> serviços<br />
públicos (CREAS, UBS,<br />
Conselho Tutelar), e<br />
ter o judiciário como<br />
última medida. Quando a<br />
mulher não passou pelos<br />
setores, o plantão faz um<br />
encaminhamento e realiza<br />
uma audiência concentrada<br />
para que sejam discutidas<br />
as possibilida<strong>de</strong>s para<br />
aquela mulher. [Excerto<br />
<strong>de</strong> Relatório <strong>de</strong> uma<br />
das conversas com<br />
magistrados, por Ana<br />
Clara Klink <strong>de</strong> Melo]. As<br />
audiências concentradas,<br />
estabelecidas pelo<br />
provimento número 32<br />
<strong>de</strong> 2013 do CNJ, para<br />
discussão dos casos,<br />
encontram <strong>de</strong>safios.<br />
Estabelecidas pela<br />
corregedoria nacional<br />
<strong>de</strong> justiça para a análise<br />
contínua dos abrigamentos<br />
no país, são feitas<br />
em alguns casos <strong>de</strong><br />
acolhimento.<br />
30 Há diversas narrativas<br />
<strong>de</strong> mulheres que, <strong>nas</strong> <strong>ruas</strong>,<br />
continuam <strong>de</strong>sejando<br />
engravidar após perdas<br />
sucessivas. A questão<br />
da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> repetição,<br />
como são chamados esses<br />
casos, estão presentes<br />
<strong>nas</strong> narrativas das agentes<br />
como casos exemplares do<br />
trauma da perda. Sobre o<br />
tema, citamos o livro Mães<br />
Abandonadas (PISANO,<br />
2015).<br />
Da mesma maneira, em entrevistas realizadas no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste<br />
relatório com algumas magistradas e magistrados do município,<br />
as drogas são colocadas em <strong>de</strong>staque na problemática da maternida<strong>de</strong><br />
e primeira infância nos contextos da rua. As mães que<br />
se envolvem com drogas não teriam, na perspectiva <strong>de</strong> muitas<br />
entrevistadas, autonomia suficiente para cuidar <strong>de</strong> seus bebês,<br />
que ficariam relegados à própria sorte: “elas (as mães) po<strong>de</strong>m até<br />
ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficar com as crianças, mas não teriam condições<br />
mínimas necessárias e não há políticas públicas suficientes e<br />
eficazes para lidar com essa situação”. A violência da separação e<br />
a angústia causadas a muitas <strong>de</strong>ssas magistradas em razão <strong>de</strong>ssa<br />
intervenção <strong>de</strong>finitiva na vida <strong>de</strong>ssas mulheres e crianças também<br />
é mencionada.<br />
A responsabilização individual das mulheres – pelo uso <strong>de</strong> drogas<br />
– é, muitas vezes, colocada lado a lado com a insuficiência das<br />
políticas e ausência <strong>de</strong> atuação em re<strong>de</strong> - já apontada pelo CNRua<br />
e pelas maternida<strong>de</strong>s. As entrevistadas convergiram para a problemática<br />
da falta <strong>de</strong> políticas públicas específicas para as mulheres<br />
grávidas e puérperas com suas bebês recém-<strong>nas</strong>cidas, além das<br />
<strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> articulação entre o judiciário e a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços e<br />
apoio a essas pessoas, que não po<strong>de</strong>m ser supridas por uma única<br />
audiência concentrada 29 .<br />
Uma das entrevistadas, ao mencionar a separação, elogiou a<br />
iniciativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado Tribunal em projeto <strong>de</strong> terapia para mães<br />
que são <strong>de</strong>stituídas do po<strong>de</strong>r familiar. Segundo ela, com essa<br />
iniciativa, elas têm a chance <strong>de</strong> viver o luto da perda do filho com<br />
mais suporte e informação, pois “do jeito como é hoje, é muito<br />
violento”, consi<strong>de</strong>ra 30 .<br />
A localização das mães para realização das audiências configura-<br />
-se como um entrave para o acesso a seus direitos. Uma vez que<br />
muitas <strong>de</strong>las efetivamente voltam às <strong>ruas</strong> após o parto - sem<br />
dinheiro para o transporte público ou instruções sobre qual fórum<br />
será competente para o curso <strong>de</strong> seu processo, em qual centro<br />
<strong>de</strong> acolhimento está sua bebê ou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar auxílio<br />
perante a Defensoria Pública do Estado <strong>de</strong> São Paulo - não conseguem<br />
comparecer às audiências, o que acaba por atestar seu<br />
“<strong>de</strong>sinteresse pela criança” segundo a narrativa processual.<br />
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