13.07.2018 Views

Revista Curinga Edição 25

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Texto:<br />

Foto:<br />

Arte:<br />

Modelos:<br />

Lethícia Bueno<br />

Débora Madeira<br />

Maria Santos<br />

Laura Marostegan<br />

Luciana Gontijo<br />

Clara Lemos<br />

Carolina Sousa<br />

Ruan Sousa<br />

Pequenos<br />

GRANDES<br />

Universos<br />

Todos os dias, menos aos fins de semana, Rosimary de<br />

Oliveira Silva vai à universidade. Acorda às cinco e meia da<br />

manhã, prepara o café e arruma os filhos para saírem. Às<br />

sete horas, Rosimary assina a folha de papel que dá entrada<br />

ao seu turno no campus do Instituto de Ciências Sociais<br />

Aplicadas (Icsa), em Mariana, Minas Gerais. Às cinco da<br />

tarde, o horário encerra e ela faz o caminho inverso para<br />

casa. No dia seguinte, o vai-e-vem do dia anterior.<br />

Há quase sete anos, a rotina da auxiliar de serviços gerais<br />

passa pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), onde<br />

ela realiza as funções de limpeza e de organização. Um<br />

trabalho que faz toda a diferença no dia-a-dia da Academia.<br />

Sem Rosimary e todas as outras mulheres que integram<br />

o corpo de trabalhadoras terceirizadas da Ufop, não há<br />

conhecimento ou ciência que possa existir e ser produzido.<br />

Agora, ela quer ir além: pretende cursar Jornalismo, uma<br />

das quatro graduações ofertadas no Icsa. “É poder falar<br />

que eu estudei, que eu aprendi, que eu fiz alguma coisa por<br />

mim”, reflete. Mas Rosimary demorou para compreender<br />

que ela também pode ocupar a Universidade - não apenas<br />

pelo seu trabalho. “[Antes de conhecer o Icsa], a única<br />

coisa que eu via era uma escola particular que eu não tinha<br />

condições de pagar para estudar”, explica.<br />

Assim como Rosimary, a vida de muitas mulheres<br />

é marcada direta e diariamente pela Universidade.<br />

Sejam servidoras, técnicas-administrativas, alunas<br />

ou professoras, elas estão presentes. No entanto, suas<br />

histórias ainda parecem ser um mistério para quem não se<br />

arrisca a escutá-las.<br />

Na monografia Estudo sobre as trabalhadoras invisíveis da<br />

limpeza em uma Universidade Federal, defendida em 2016, a exaluna<br />

de Administração da Ufop Daiane de Lourdes Martins<br />

se propõe a ouvir os relatos dessas trabalhadoras. A autora<br />

conclui demonstrando que a maioria das terceirizadas da<br />

Ufop e entrevistadas por ela gostam do ambiente de trabalho,<br />

mas se sentem excluídas pela comunidade acadêmica. Frases<br />

como “nós somos tratadas diferente aqui, ao verem nosso<br />

uniforme mudam o jeito” e “tem gente que acha que somos<br />

sujeira também” são algumas das muitas encontradas ao<br />

longo da pesquisa.<br />

Nos seis anos em que está no Icsa, Sandra Helena da Silva<br />

Soares foi procurada apenas uma vez para dar entrevista.<br />

À auxiliar de cozinha, que trabalha 48 horas por semana<br />

para ajudar a filha que estuda em uma universidade federal<br />

em outra cidade, foi perguntado sobre o funcionamento<br />

do restaurante universitário. Na parede fina que separa<br />

a cozinha onde Sandra trabalha e as mesas em que os<br />

estudantes almoçam e jantam todos os dias no Icsa, uma<br />

lembrança dolorida que ela não teve a oportunidade de<br />

contar: “uma vez, um rapaz jogou a bandeja [e ela] passou<br />

para o lado de dentro e eu saí da reta para não pegar no meu<br />

nariz. Ele falou: ‘eu não sou obrigado a comer essa porcaria’.<br />

Não é a gente que faz a comida”, desabafa.<br />

Ivani Márcia do Carmo e Cláudia Aparecida da Silva<br />

também são auxiliares de cozinha do Icsa e revelam que a<br />

convivência no instituto é boa e tranquila. Mesmo assim,<br />

Ivani já vivenciou situações de negligência no trabalho, como<br />

na vez em que ela e outras mulheres engravidaram e foram<br />

demitidas de uma empresa terceirizada que atendia a Ufop.<br />

“A gente ficou a gravidez toda sem um centavo, porque a<br />

empresa que entrou disse que não poderia contratar grávida”,<br />

lembra. Tempos depois, Ivani conseguiu retornar ao cargo.<br />

Já Cláudia está nos primeiros meses de sua terceira gestação<br />

e entre os sorrisos e a gratidão de alguns alunos, a auxiliar<br />

encontra energia para seguir trabalhando. Para ela, a Universidade<br />

prepara e capacita as pessoas para a vida e, por isso,<br />

entre suas metas, está a de continuar os estudos. “Meus planos<br />

são esperar minhas filhas crescerem mais um pouco, voltar a<br />

estudar, abrir um restaurante e terminar minha casa”, conta.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>25</strong> 31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!