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Revista Curinga Edição 25

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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quisadora, tem uma raiz mais profunda: a formação<br />

dos professores. O docente universitário muitas vezes<br />

não é preparado para dar aula, e aprende assistindo<br />

aos próprios professores. “E assim vamos repetindo<br />

por cem anos ou mais as mesmas práticas, que são<br />

prejudiciais”, completa.<br />

Alternativa à esquerda<br />

A pedagogia das Universidades seguiu pautada em<br />

grande parte pelas ideias da Escola Nova. Hoje, Anísio<br />

Teixeira dá nome à uma faculdade em Feira de Santana,<br />

na Bahia, a Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Também<br />

batiza outro instituto, o Instituto Superior Anísio<br />

Teixeira (Isat), no Rio de Janeiro. E ainda nomeia o<br />

Pavilhão Anísio Teixeira, bloco de salas da UnB, a Universidade<br />

de Brasília.<br />

Apesar das homenagens, apareceram também<br />

propostas pedagógicas que se opunham e criticavam<br />

a Escola Nova. A Igreja Católica enxergava nas novas<br />

Universidades o perigo do Liberalismo norte-americano.<br />

Anísio Teixeira, por exemplo, defendia que o ensino<br />

fosse laico e obrigatório. Para a Igreja, essa forma<br />

de ensinar afastava os jovens dos princípios religiosos.<br />

Então, em 1946, foi criada a primeira Universidade<br />

Católica do Brasil, que mais tarde receberia o título<br />

de Pontifícia. A pedagogia foi desenvolvida e aplicada<br />

para atender aos princípios da moral e cultura católica.<br />

No ritmo das críticas à Escola Nova, a década de<br />

1980 apareceu com importantes propostas para a sala<br />

de aula. Demerval Saviani, filósofo, pedagogo e professor<br />

emérito da Unicamp, Universidade de Campinas,<br />

elaborou, em 1982, a Teoria Histórico-Crítica, que buscava<br />

compreender o percurso da educação no Brasil e<br />

propor um novo modelo de Ensino, oposto ao vigente.<br />

Em seu livro “Escola e democracia: polêmicas do<br />

nosso tempo”, Saviani apresenta a pedagogia da Escola<br />

Nova como uma mentira. Para ele, a promessa<br />

pela inovação era falsa, porque acabava reproduzindo<br />

nas salas de aula as estruturas de poder do Brasil.<br />

Na opinião do professor, a ideia de Anísio Teixeira de<br />

respeito às diferenças nada mais era do que uma forma<br />

de justificar e aceitar as desigualdades. “A escola<br />

tradicional foi construída como instrumento de redimir<br />

a humanidade, era o grande projeto da educação<br />

burguesa quando ela era revolucionária. Quando se<br />

tornou conservadora, abandonou a busca pela igual-<br />

dade essencial entre os homens e começou a admitir<br />

as diferenças. Aí vem a Escola Nova dizendo que as<br />

crianças são diferentes entre si e tem que respeitar as<br />

diferenças. Na verdade está justificando a desigualdade,<br />

então é reacionário”, explica ele em entrevista ao<br />

canal online Leituras Brasileiras.<br />

Movido pelas ideias do socialista Karl Marx, Saviani<br />

rejeitava o método da Escola Nova. Para ele, a educação<br />

deveria se concentrar no ato de ensinar. Identificando,<br />

dentro da sala de aula, o conceito marxista<br />

de luta de classes, ele dizia que o conhecimento tinha<br />

que ser compartilhado para que “os dominados possam<br />

dominar o que os dominantes dominam”. José<br />

Jardilino, professor de História da Educação da Ufop,<br />

aponta essa diferença como uma das principais entre<br />

os modelos de ensino: “[Na Escola Nova] Os professores<br />

viviam o período da cátedra. Tinham conhecimento e repassavam<br />

ao alunos. Não tinha a ideia do professor que<br />

constrói conhecimento. Era mais uma transmissão de<br />

conteúdo. É Paulo Freire que rompe com isso.”<br />

Paulo Freire, Patrono da educação no Brasil, é uma<br />

das inspirações de Saviani. Para Freire, a educação, em<br />

todas as instâncias, deveria significar uma “apropriação<br />

crítica da realidade”. É justamente sob esse ponto<br />

de vista que o professor da Unicamp faz seus questionamentos<br />

à Escola Nova. “Para Saviani o grande vilão<br />

era o tecnicismo na educação. Formar o professor era<br />

treiná-lo para ele fazer o ensino desde a alfabetização<br />

das crianças até os primeiros conhecimentos da escrita.<br />

Ensinar é diferente de educar. O ensino é o treinamento,<br />

e muito bom para o capital. Só ensinar a fazer é<br />

muito fácil, o difícil é educar”, explica Jardilino.<br />

Ao contrário do que se pode pensar, a influência<br />

marxista de Saviani não foi um dos motivos da rejeição<br />

às suas ideias. Jardilino lembra que na década<br />

de 1980, quando publicou suas teorias, o Socialismo<br />

ainda estava em alta. “Os grandes temas de Marx<br />

estavam todos dentro da Educação. O que é muito<br />

comum, pois estávamos passando por um momento<br />

de abertura. Então, a pós-graduação vai dar esse<br />

enfoque progressista para a educação. Mas se tivesse<br />

publicado hoje, certamente seria execrado”, explica.<br />

Apesar de as propostas de Saviani não terem sido<br />

implementadas no Ensino Superior em todo o Brasil,<br />

elas influenciaram várias inovações pontuais dentro<br />

das salas de aula das Universidades. Na Universidade<br />

de Brasília (UnB), o professor de Cálculo I, Ricardo

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