Edição do 35.º Aniversário
Especial Aniversário
ABRIL MAIO JUNHO 2018
Edição Trimestral
Nº 13
GESTÃO
HOSPITALAR
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES
GESTÃO HOSPITALAR Nº13 ESPECIAL 35º ANIVERSÁRIO
35º
ANIVERSÁRIO
HOMENAGEM
JOÃO SANTOS CARDOSO
GH SUMÁRIO
ABRIL MAIO JUNHO 2018
GESTÃO
HOSPITALAR
PROPRIEDADE
APAH − Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.º Andar
Av. do Brasil 53
1749-002 Lisboa
secretariado@apah.pt
www.apah.pt
DIRETOR
Alexandre Lourenço
COORDENADORES
Bárbara Carvalho, Emanuel Magalhães de Barros,
Miguel Lopes
EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
Bleed - Sociedade Editorial e Organização
de Eventos, Ltda.
Av. das Forças Armadas 4 – 8B
1600-082 Lisboa
Tel.: 217 957 045
info@bleed.pt
www.bleed.pt
PROJETO GRÁFICO
Sara Henriques
DISTRIBUIÇÃO
Gratuita
PERIODICIDADE
Trimestral
DEPÓSITO LEGAL N.º
16288/97
ISSN N.º
0871–0767
TIRAGEM
2.000 exemplares
IMPRESSÃO
Grafisol, lda
Rua das Maçarocas
Abrunheira Business Center Nº3
2710-056 Sintra
Esta revista foi escrita segundo as novas regras
do Acordo Ortográfico
4
6
8
12
16
20
23
33
40
44
54
62
64
66
76
83
89
101
112
114
117
118
119
Editorial Alexandre Lourenço
35 Anos a Gerir Serviços de Saúde
Reedição, Gestão Hospitalar Nº 1, 1983
Editorial
Homenagem a Santos Cardoso António Correia de Campos
João José dos Santos Cardoso
Homenagem a Santos Cardoso José António Meneses Correia
Santos Cardoso só sabia trabalhar em equipa
Homenagem a Santos Cardoso Pedro Lopes
Capacidade para ouvir para entender
História José Carlos Lopes Martins
"Gestão Hospitalar" qualidade técnica e científica
Reedição, Gestão Hospitalar Nº 1, 1983 J. M. Caldeira da Silva
Administração médica no contexto hospitalar
Reedição, Gestão Hospitalar Nº 3, 1983, José António Meneses Correia
O sistema de gestão do Hospital: contributo para uma visão sistémica
História Artur Morais Vaz
35 anos da "Gestão Hospitalar"
Reedição, Gestão Hospitalar Nº 20, 1990 Rui Janeiro da Costa
Sistema básico de informação hospitalar nos H.U.C.
Reedição, Gestão Hospitalar Nº 27, 2007 Margarida Bentes
A gestão estratégica nos hospitais passo a passo
História Jorge Varanda
Memórias Intelectuais e sentimentais
Reedição, Gestão Hospitalar nº 22/23, 1991 Artur Morais Vaz
Editorial
Reedição, Gestão Hospitalar nº 21, 1990 David H. Gustafson,
William L. Cats-Baril, e Farrokh Alemi
Desenvolvimento e testes dos modelos Bayesiano e Mau para prevenir
e explicar o sucesso da implementação
História Manuel Delgado
35 anos de história
Reedição, Gestão Hospitalar nº 29, 1994 Manuel Delgado
Financiamento da Saúde: equívocos e preconceitos
Reedição, Gestão Hospitalar nº 31, 1995 Vasco Pinto dos Reis
As questões que se põem aos sistemas de saúde
Reedição, Gestão Hospitalar nº 33, 1996/1997 Margarida Bentes,
Maria da Luz Gonçalves, Suzete Trancoada, João Urbano
A utilização dos GDHs como instrumento do financiamento hospitalar
Reedição, Gestão Hospitalar, 2002 José António Meneses Correia
Saber, saber fazer e a reforma da saúde
História Pedro Lopes
A reforma hospitalar
Reedição, Gestão Hospitalar nº 43, 2009 Paulo Salgado
Qualidade e racionalidade económica
Reedição, Gestão Hospitalar nº 46, 2010 Pedro Lopes
Editorial
Reedição Gestão Hospitalar Nº1, 1983 Coriolano Ferreira
Três reflexões sobre os Administradores Hospitalares em Portugal
3
GH editorial
Alexandre Lourenço
Presidente da APAH
35 anos a promover a gestão
de serviços de saúde
Este ano celebram-se os 35 anos da
Revista da Associação Portuguesa de
Administradores Hospitalares: Gestão
Hospitalar (GH). Reconhecendo
a sua relevância, recentemente, digitalizámos
todos os números destes anos de revista,
sendo agora disponibilizados universal e gratuitamente
no nosso site.
Eduardo Sá Ferreira, João Santos Cardoso, Raúl Moreno,
João Urbano, Júlio Reis, José Carlos Lopes Martins
e Jorge Varanda foram os elementos da primeira
direção da APAH que editaram o primeiro número
da GH em 1983. Figuras maiores da Gestão de Serviços
de Saúde foram reconhecidos este ano como
Sócios de Mérito da sua APAH.
Desde a primeira hora, João Santos Cardoso, primeiro
Diretor da GH (1983-1986), generosamente
se disponibilizou a escrever o editorial desta edição
comemorativa. Malogradamente, tal não foi possível
dado o seu falecimento no passado mês de maio.
Esta edição especial da GH é dedicada à sua memória.
António Correia de Campos, José António
Meneses Correia, José Carlos Lopes Martins e Pedro
Lopes partilham as suas recordações sobre este
Homem de Liberdade.
Para esta edição especial, os antigos presidentes da
APAH e diretores da GH, José Carlos Lopes Martins,
Artur Morais Vaz, Jorge Varanda, Manuel Delgado e
Pedro Lopes selecionaram artigos que marcaram o
percurso da gestão de serviços de saúde nestes 35
anos. Assim, contamos com artigos de, entre outros,
Caldeira da Silva, Meneses Correia, Janeiro da Costa,
Margarida Bentes, Cats-Baril, Vasco Reis e João Urba-
no. Nesta linha, adiciono ainda o primeiro artigo da
GH, da autoria de Coriolano Ferreira, “Três reflexões
sobre os Administradores Hospitalares em Portugal”.
Apesar de datados no tempo, muito destes artigos
mantém a pertinência do momento presente.
Dificilmente encontraríamos um instrumento de
acompanhamento das particularidades e evolução
do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como a Gestão
Hospitalar. Neste sentido, é um documento extraordinário
da perseverança e compromisso de várias gerações
de profissionais do SNS.
Desde o primeiro número que, a Direção da APAH
estava “consciente das dificuldades que a manutenção
da sua publicação regular comporta”. É com esta
preocupação que damos início neste número a um
novo projeto editorial que garante a manutenção da
qualidade, a regularidade e a sustentabilidade financeira
da GH para os próximos anos. Exista “colaboração
e empenho de todos os profissionais de saúde,
sobretudo dos administradores hospitalares”.
Desde o primeiro editorial, agora republicado, a GH
é o “órgão de análise, divulgação e debate de toda a
problemática de gestão de serviços de saúde”. Apesar
de privilegiar a abordagem técnica do tema administração,
a GH situa-se na “perspetiva sistémica,
de forma a abranger os aspetos de condicionamento
e interação entre o hospital e os serviços de saúde
envolventes”. Apesar de ser a revista dos administradores
hospitalares portugueses é “um espaço aberto
à colaboração de todos os profissionais nos vários
níveis da organização dos serviços de saúde”.
Este primeiro editorial indica-nos a linha editorial da
GH e o futuro da profissão. Venham mais 35. Ã
Permanecer competitivo depende do valor que aporta
4
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 1
Editorial
8.000
Empregos
Directos
1.131 M€
Exportações
1.700 M€
Produção
Farmacêutica
75 M€
Investimento
em I&D
142
Ensaios
Clínicos
6 7
GH homenagem
João José dos
Santos Cardoso
EM 1970 TEVE INÍCIO O I CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
HOSPITALAR (CAH) E SANTOS CARDOSO INSCREVEU- “-SE E FOI GRADUADO COM DISTINÇÃO NO III CAH.
”
António Correia de Campos
Sócio Honorário da APAH
João Santos Cardoso foi um distinto administrador
hospitalar, um dos primeiros
diplomados na Escola Nacional de Saúde
Pública (ENSP), que se tornou mais conhecido
por ter administrado o Hospital
Pediátrico de Coimbra em equipa com pediatras e
professores ilustres como António Torrado da Silva
e Henrique Carmona da Mota. Presidiu à Associa-
ção Portuguesa de Administradores Hospitalares e
depois do 25 de Abril assumiu obrigações cívicas
na política autárquica, como vereador municipal
em Coimbra, eleito pelo PCP, tendo dirigido com
reconhecida proficiência e rigor os Serviços Municipalizados
de Coimbra. Era um profissional altamente
competente e era um homem bom. Granjeou
o respeito e a admiração de muitos, médicos,
enfermeiros, dirigentes da Saúde, políticos e dos
seus eleitores, mesmo os que discordavam das suas
ideias e posições.
Santos Cardoso estudou direito e letras em Coimbra
sem ter concluído qualquer curso. Na Universidade
conviveu com muita gente sobretudo do
mundo da cultura, tendo sido um dos primeiros
membros do CITAC, o Círculo de Iniciação Teatral
da Academia de Coimbra, organismo de vanguarda
no seu tempo. Tendo abandonado os estudos procurou
trabalho no Hospital de Sobral Cid, uma das
muitas instituições de saúde que o professor Bissaya
Barreto ia criando na sua inesgotável energia, bem
oleada pela amizade que cultivava com o Doutor
Salazar. De Coimbra passou para Lisboa, logo no
início dos anos sessenta, tendo integrado como
primeiro-oficial a recém-criada Direção-Geral dos
Hospitais (DGH) onde trabalhou sob as ordens de
Augusto Mantas.
Quando em 1967 decidiu criar um centro de informática
para os hospitais da Região Centro, então
chamado Centro Mecanográfico Hospitalar
de Coimbra, por sugestão de jovens técnicos que
já trabalhavam na DGH, Augusto Mantas decidiu
convidá-lo para dirigir o centro, onde criou uma
equipa de contabilistas e analistas para auxiliar os
hospitais da Região a desenvolverem os seus sistemas
de informação. Em 1970 teve início o I curso
de administração hospitalar (CAH) e Santos Cardoso
inscreveu-se e foi graduado com distinção no
III CAH. Apesar de não ser licenciado foi admitido
ao abrigo de uma portaria transitória que permitiu
o acesso ao curso a licenciados em áreas não contempladas
no diploma inicial e mesmo a funcionários
da carreira administrativa, enfermeiros e outros
profissionais, desde que tivessem o terceiro ciclo
dos liceus e alguns anos de bom e efetivo serviço.
Foi ao abrigo dessa janela que pessoas como Santos
Cardoso, Mariana Diniz de Sousa, Cândido Pacheco
de Araújo e o escritor Mário Braga se diplomaram,
tendo alcançado lugares de relevo e de reconhecido
mérito, na década seguinte. Santos Cardoso foi
um excelente aluno e a sua anterior experiência na
administração de hospitais e na DGH tornaram-no
um profissional com a qualidade necessária para
ser escolhido para administrar o recém-construído
Hospital Distrital de Portalegre. Quando o Pediátrico
de Coimbra se constituiu, pouco depois do 25
de Abril, Santos Cardoso concorreu a administrador
onde, com a equipa brilhante que ali havia sido reunida,
criou um dos mais notáveis exemplos de qualificado
funcionamento de uma moderna unidade
do SNS, com a maioria dos profissionais em dedicação
exclusiva. }
8 9
GH homenagem
“
COMPETENTE, SENSATO, JUSTO, INOVADOR,
OS QUE COM ELE TRABALHARAM RECORDAM-NO
COM ADMIRAÇÃO. COMO CIDADÃO MERECE
O NOSSO RESPEITO E APREÇO.
”
Santos Cardoso em todos os lugares por onde passou
foi reconhecido como um exemplar servidor
público, que aliava trabalho e competência a um
trato de profundo respeito pelos colaboradores,
colegialidade na decisão e racionalidade persuasiva.
Frontal, não escondia as suas opiniões mesmo
negativas sabendo sempre apresentá-las de forma
cooperante e urbana. Preocupava-se com as condições
de trabalho dos seus colaboradores, respeitava
as suas opiniões, criando um bom clima de trabalho
assente na completa imparcialidade e na mais rigorosa
probidade e sobretudo mantinha uma postura
de permanente criatividade e inovação. A sua experiência
levou-o a ser convidado para prestar serviços
de consultoria nacional e internacional. Entre nós,
colaborou com o INA na primeira avaliação comparada
de hospitais (Garcia de Orta e Fernando da
Fonseca, em 1999). Em consultoria internacional
destacou-se na equipa que, na Guiné-Bissau, prestou
apoio ao projeto de modernização do sistema
de saúde com financiamento do Banco Mundial. Escrevia
com acerto e colaborava com assiduidade e
assinalável independência ideológica em órgãos da
imprensa regional. João José dos Santos Cardoso
foi um bom exemplo de administrador hospitalar.
Competente, sensato, justo, inovador, os que com
ele trabalharam recordam-no com admiração. Como
cidadão merece o nosso respeito e apreço. Ã
Homem solidário e empenhado
na coisa pública
Presto a minha homenagem ao Santos Cardoso,
um homem reto, de carácter, solidário e empenhado
na coisa pública. Tive a sorte de o poder
acompanhar em dois projetos diferentes,
mas ambos desafiadores e inovadores:
• O primeiro, o lançamento e a luta pela sobrevivência
da Revista Gestão Hospitalar, em que
pude testemunhar o entusiasmo e também a resiliência
com que procurávamos conteúdos e
fundos para garantir cada edição.
• O segundo, a informatização do processo clínico
do Hospital Pediátrico; estávamos em
1982/83, o Santos Cardoso era o Administrador
do Hospital e eu Administrador do Centro Regional
de Informática. O projeto era pioneiro em
Portugal, os conhecimentos e os recursos eram
escassos mas a ambição e a persistência motivadora
do Santos Cardoso, fizeram com que
se iniciasse um caminho irreversível e determinante
na organização hospitalar portuguesa.
Obrigado Santos Cardoso, valeu a pena.
José Carlos Lopes Martins
10
GH homenagem
“
SANTOS CARDOSO ACOMPANHAVA A MECANIZAÇÃO
DE TODOS OS SERVIÇOS, NÃO SENDO DIFÍCIL
IMAGINAR O QUANTO ESSA EXPERIÊNCIA
O ENRIQUECEU PROFISSIONALMENTE.
”
Santos Cardoso
SÓ SABIA TRABALHAR
EM EQUIPA
– rodeado de máquinas que perfuravam, triavam e
classificavam enormes ficheiros de míticos cartões
de 80 colunas, e de uma impressora que funcionava
à “incrível” velocidade de 300 linhas/minuto.
Os construtores não vendiam as máquinas; alugavam
computadores com os respetivos periféricos, e prestavam
serviços, disponibilizando aos seus clientes o
apoio de Analistas de Sistemas altamente qualificados.
Tive ocasião de trabalhar com alguns desses especialistas
que proporcionavam a aprendizagem de
metodologias destinadas a analisar os procedimentos
existentes e a conceber e implementar novos
métodos baseados na utilização do computador. O
Santos Cardoso acompanhava a mecanização de todos
os serviços, não sendo difícil imaginar o quanto
essa experiência o enriqueceu profissionalmente.
A mecanização da Estatística foi feita em poucos
meses. No início do ano seguinte, frequentei o Curso
de Diretor de Hospital na Escola de Saúde Pública
Francesa.
No regresso, antes de partir para Beja, onde iria participar
na montagem do primeiro Hospital Distrital
construído e explorado pelo Estado, ainda estive uns
meses em Coimbra. Dos encontros que tivemos
constatámos um novo interesse comum. A preferência
de ambos, sem esquecer os contributos das }
José António Meneses Correia
Sócio de Mérito da APAH
Neste texto recordarei o trabalho do
Santos Cardoso enquanto profissional
da Saúde e Administrador Hospitalar.
Outros colegas, melhor do que
eu, se encarregarão de evocar diferentes
aspetos da sua personalidade multifacetada.
Conheci-o há, precisamente, cinquenta anos. Em
Fevereiro de 1968 iniciei funções nos HUC, como
Chefe de Serviços de Arquivo e Estatística. As estatísticas
de movimento de doentes eram obtidas,
manualmente, através da classificação e contagem
dos resumos de alta, repetidas tantas vezes quantos
os parâmetros a obter.
Era uma tarefa penosa e sujeita a imprecisões de
vária ordem, que tinha todas as características para
ser mecanizada.
Nos HUC estava instalado o Centro Mecanográfico
Hospitalar de Coimbra, pertencente ao SUCH, na
altura dirigido pelo Santos Cardoso.
O pedido para a mecanização da Estatística foi imediatamente
aceite e até bem-vindo porque, depois
da mecanização dos vencimentos, havia serviços
que ofereciam resistência à mudança e se opunham
à informatização.
O Centro dispunha dum equipamento de 2ª geração
– um IBM 1401H, com 4k de memória central
Impressoras com Software DICOM
Pioneiras em Tecnologia de Impressão Digital
As impressoras para imagiologia e impressão médica da OKI têm software DICOM
integrado e oferecem alta qualidade de impressão LED a preços acessíveis.
Imprima diretamente a partir de dispositivos médicos, sem necessidade de
recorrer a conversores de software DICOM ou outros equipamentos externos.
12 13
Saiba mais em www.oki.pt/DICOM
GH homenagem
“
NÓS, ADMINISTRADORES HOSPITALARES, ESTAMOS-
-LHE GRATOS PELA MANEIRA COMPETENTE, SÉRIA
E DEVOTADA COM QUE HONROU A PROFISSÃO.
OBRIGADO MEU CARO E INESQUECÍVEL AMIGO.
”
diversas escolas de organização, pela Teoria Geral
dos Sistemas, movimento derivado da cibernética.
A escolha do tema do seu trabalho final do Curso
de Administração Hospitalar – Cibernética e Administração
Hospitalar- é significativa do interesse que
dedicava a este assunto.
A ideia de sistema é importante, desde logo ao nível
do próprio conceito. Porque fornecendo ao gestor
uma visão holística da organização, ajuda os dirigentes
a reconhecer a estrutura dos problemas e a natureza
dos processos de gestão, a colocá-los no seu
envolvimento real e, eventualmente, a simplificá-los,
com conhecimento de causa. O que é bem diferente
das simplificações de quem desconhece a complexidade
da gestão hospitalar e pensa que tudo se
resolve com o controlo orçamental.
Depois, a conexão deste conceito com a teoria cibernética
permite identificar uma filosofia de comportamento
do sistema cujas palavras-chave são a
evolução, adaptação, aprendizagem, controlo e regulação,
que asseguram a sua pilotagem.
Se a experiência do Centro Mecanográfico lhe deu
a oportunidade de apreender, exaustivamente, os
fluxos dos processos administrativos, a teoria dos
sistemas ajudou-o a reconhecer que não se pode
combater a complexidade dum sistema pela fragmentação
em elementos disjuntos, para cada um
dos quais se editam regras específicas. O produto
final, ao qual se chega por essa via, não é um sistema,
apenas uma coleção de sub-programas, eventualmente
ligados entre si, mas sem capacidade de
regulação mútua, adaptação e otimização.
Acabado o Curso de Administração Hospitalar,
partiu para Portalegre para a montagem do novo
Hospital, uma experiência importante na vida dum
Administrador, onde teve ocasião de aplicar os seus
já vastos conhecimentos.
Regressou a Coimbra para ser Administrador do
Hospital Pediátrico, numa época que o Professor
Carmona da Mota, primeiro Diretor Clínico, considera
uma época de ouro da Pediatria Portuguesa. A
criação do Hospital Pediátrico de Coimbra tornou
possível reunir um conjunto de grandes nomes da
Pediatria Portuguesa a que se associou uma plêiade
de jovens Médicos interessados em trabalhar com
este escol de notáveis, de que destacaria o Professor
Torrado da Silva, regressado da Suíça que, em
Lausanne, ocupava um lugar de grande relevo.
Dificilmente o Pediátrico poderia ter melhor Administrador
e dificilmente o Santos Cardoso poderia
encontrar melhor ambiente de trabalho.
Em 1983, sendo vogal da APAH e diretor da Revista,
convidou-me a escrever um artigo que seria publicado
no nº 3. Não me recordo se me sugeriu o tema
ou o escolhi espontaneamente; “O sistema de gestão
do hospital-contributo para uma visão sistémica.”
No seguimento da sua publicação, proporcionoume
o privilégio de conhecer o Professor Torrado
da Silva, sugerindo-me uma reunião com os dois, no
Hospital Pediátrico, sobre aquele tema.
Tive então a oportunidade de notar quanto era
considerado no Hospital, ele que só sabia trabalhar
em equipa e tinha natural aptidão para as constituir.
E de constatar como Direção Clínica e Administração
estavam alinhadas na prossecução dos objetivos
da instituição, fator fundamental para impedir que
as preocupações técnicas, por um lado, e económico-financeiras,
por outro, constituíssem duas dimensões
antagónicas no Hospital Pediátrico.
No final desse ano, nas V Jornadas de Administração
Hospitalar, Santos Cardoso, Lopes Martins, Janeiro da
Costa e Torrado da Silva apresentaram um trabalho
– “A informação de gestão no hospital” - que continha
uma “Proposta de Sistema de Informação de Gestão
na Área Clínica: dados base por doente tratado.”
Cito os principais pressupostos em que essa proposta
se baseava:
“O hospital deve ser pensado como um sistema
integrado, composto por várias partes interdependentes,
prosseguindo objetivos globais em interação
com o universo exterior constituído por outros hospitais,
serviços de saúde e a comunidade que serve.”
“A eficiência da atividade hospitalar dependerá fundamentalmente
da qualidade da informação clínica.”
“A informação clínica deve constituir a base para
a elaboração do sistema integrado de informação
de gestão, para a coordenação interna, coordenação
externa da atividade dos vários hospitais, destes
com os cuidados de saúde primários, assim como a
avaliação de resultados na comunidade.”
Na sua comunicação os autores deixavam bem expresso
que a informação clínica devia ter um carácter
pluridisciplinar; médico, enfermagem, serviço
social, serviços administrativos, etc.
Hoje o sistema de informação hospitalar é obviamente
muito mais rico do que o era há mais de três décadas.
Mas é falsa a ideia de que um sistema de informação
dum sistema complexo, como é um hospital, possa
resultar duma elaboração puramente tecnocrática,
nascendo já adulto, qual Minerva saindo do cérebro
de Júpiter com escudo, lança e armadura.
O sistema de gestão dos nossos hospitais foi-se
construindo ao longos dos anos com a participação
de muitas pessoas. O Santos Cardoso foi um participante
ativo na sua elaboração e soube, para além
disso, utilizar a informação para escolher as ações e
os meios mais adequados à produção dos resultados
pretendidos.
Como, muito justamente, referiu a Direção da
APAH, “Santos Cardoso foi um insigne devoto da
causa pública e, particularmente, do Serviço Nacional
de Saúde.”
Nós, Administradores Hospitalares, estamos-lhe gratos
pela maneira competente, séria e devotada com
que honrou a profissão.
Obrigado meu caro e inesquecível amigo. Ã
14
GH homenagem
Capacidade
disponibilidade ao aconselhar-me na minha iniciática
prática hospitalar.
Frequentou um dos primeiros Cursos de Administração
Hospitalar, na Escola Nacional de Saúde Pública
e desenvolveu uma longa atividade na administração
hospitalar. Procedeu à abertura do Hospital
de Portalegre, foi administrador do então Hospital
Pediátrico de Celas, do CHC, talvez no mais longo
período da sua atividade, como administrador
hospitalar e foi, ainda, Diretor do Departamento de
Informação para a Gestão (DIG) do CHC.
Desenvolveu outras atividades de relevante mérito
na área da saúde designadamente na Direção Geral
da Saúde, em colaboração com o Professor Coriolano
Ferreira, bem como no Centro Regional de Informática
do Centro, do Serviço de Informática do
Ministério da Saúde.
Mas também noutras áreas, designadamente na área
social, teve um papel de relevo, com a criação da
Associação de Saúde Infantil de Coimbra, constituída
formalmente em Janeiro de 1984, fazendo parte
da sua Direção.
A sua nobreza de carácter e o seu espírito de bemfazer
impeliam-no para outros desígnios e foi assim
que integrou a Comissão Instaladora do Centro de
Desenvolvimento da Criança, no então Hospital Pediátrico
de Celas do CHC.
Mas se a sua atividade na área da saúde foi da maior
relevância não o foi menos o seu envolvimento
político enquanto membro do Partido Comunista
Português, característico de um homem de causas
e de convicções.
O seu espírito participativo, a sua visão de cidadania
e o seu apego à cidade de Coimbra levou-o a par- }
para ouvir
para entender
Pedro Lopes
Presidente da APAH (2008-2013)
No dia 28 de Maio de 2018 faleceu o
nosso colega João Santos Cardoso,
mais conhecido por Santos Cardoso.
Era uma pessoa com uma enorme
capacidade para ouvir e para entender,
apesar da sua grande experiência e conhecimentos
acima daqueles que o rodeavam. Com um
diálogo fácil e afável, mas determinado nos seus conceitos
particularmente de vida e sociedade.
Tive o privilégio de o conhecer no Hospital dos Covões,
do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC), na
década de oitenta, era eu um jovem administrador
hospitalar e logo me apercebi do seu trato fácil e
16
GH homenagem
“
MAS SE O SEU PERCURSO PROFISSIONAL NA ÁREA
DA SAÚDE FOI RELEVANTÍSSIMO, NÃO O FOI MENOS
O SEU EMPENHAMENTO NA CRIAÇÃO
E NA SUSTENTAÇÃO DA NOSSA CARREIRA
18
DE ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR.
”
tilhar os destinos do município fazendo três mandatos
neste seu trajeto político. Neste contexto, não
podemos deixar de referir e realçar o mandato de
1989 – 1993, no qual assumiu o pelouro dos mercados
onde se revelou como um dos maiores impulsionadores
da instalação do Mercado Abastecedor
de Coimbra.
Mas se o seu percurso profissional na área da saúde
foi relevantíssimo, não o foi menos o seu empenhamento
na criação e na sustentação da nossa Carreira
de Administração Hospitalar. Desde logo quando
integrou a primeira Direção da Associação Portuguesa
de Administração Hospitalar (APAH) partilhando
com notáveis colegas este primeiro grande
momento da nossa Associação.
A sua capacidade interventiva, a sua experiência e
os seus conhecimentos obrigaram-no a ir mais longe
e foi assim que em 1983 fundou a Revista de Gestão
Hospitalar que dirigiu até 1986. Numa época em
que a comunicação se fazia basicamente de forma
escrita o nosso colega Santos Cardoso teve o arrojo
de avançar com este novo projeto da APAH.
O privilégio que referi no início destas singelas
palavras foi o mesmo que tive no passado dia 24
de Maio, quando num quarto de um Serviço dos
Hospitais da Universidade de Coimbra, do Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra pude com
ele conversar e onde manifestou o apreço pela distinção
que a APAH e o seu Presidente com ele tiveram,
no dia 11 de Março, aquando da realização de
4.ª Conferência VALOR APAH, homenageando-o
pelos seus feitos.
A APAH distinguiu-o, ainda, com a maior elevação
e por aclamação, atribuindo-lhe o título de Sócio
Honorário, a 28 de Maio passado, em reunião da
Assembleia Geral, pelo seu valoroso percurso profissional
e pelos serviços prestados a todos os colegas
administradores hospitalares. Ã
HEALTHCARE INTEGRATED FACILITIES
A TDGI É UMA EMPRESA QUE ATUA NA ÁREA DO FACILITY MANAGEMENT,
ASSUMINDO A GESTÃO GLOBAL, OPERAÇÃO E RESPONSABILIDADES TÉCNICAS
DAS INFRAESTRUTURAS E DOS EQUIPAMENTOS MÉDICOS DE DIVERSAS UNIDADES
HOSPITALARES EM PORTUGAL, PERMITINDO ASSIM QUE O CLIENTE SE FOQUE
EXCLUSIVAMENTE NO SEU CORE BUSINESS.
SETORES DE ATIVIDADE TDGI
FACILITY MANAGEMENT | MANUTENÇÃO E GESTÃO TÉCNICA DE INSTALAÇÕES
GESTÃO DE ESPAÇOS E OBRAS | ANÁLISE E DIAGNÓSTICO | SOLUÇÕES DE ENERGIA | IT & SOFTWARE SOLUTIONS
PORTUGAL | ANGOLA | MOÇAMBIQUE | ESPANHA
BRASIL | BÉLGICA | ARGÉLIA | QATAR
FOLLOW US ON:
GH HISTÓRIA
"Gestão Hospitalar"
Qualidade técnica
e científica
José Carlos Lopes Martins
Presidente da APAH e Sócio de Mérito
Ao reler todos os números anteriores
da Gestão Hospitalar pude
constatar com muito agrado a importância
da nossa Revista no tratamento
dos temas relevantes em
cada época para a administração hospitalar e na qualidade
técnica e científica de tantos e tantos artigos merecedores
de referências que estou certo serão feitas
por colegas na Edição Especial que está a ser preparada.
Permito-me, pela minha parte escolher dois dos mais
antigos que reli à luz de conceitos atuais:
No número 1 da Gestão Hospitalar, Janeiro a Março
de 1983, o Prof. J. M. Caldeira da Silva no artigo
- Administração Médica no Contexto Hospitalar -
interrogava-se sobre «que tipo de participação e em
que grau devem ter os médicos de um serviço na
sua organização e gestão». O tema era atualíssimo
há 35 anos e ainda hoje é pertinente e atual, desde
logo pela sábia conclusão a que chega: - «o envolvimento
do médico em administração deverá ter como
objetivo obter uma melhor eficácia e eficiência
dos serviços face ao doente».
Mais à frente interroga Caldeira da Silva «Será a gestão
uma inimiga do médico? e responde - «De modo
algum. A gestão médica pode parecer dissonante da
gestão global... a verdade é que praticamente toda e
qualquer decisão clínica interfere na gestão corrente
do Hospital» e concluía de uma forma que ainda hoje
considero ter plena validade: «Os médicos devem
reconhecer a importância e as vantagens das componentes
de gestão e administração global e devem preparar-se
para darem um contributo qualificado dentro
desta perspetiva».
No número 3 da Gestão Hospitalar de 1983, o José
António Meneses Correia tem um artigo que considero
essencial para o entendimento das especificidades
do Hospital. Todos reconhecemos no Meneses Correia
o domínio dos conceitos, o rigor e a profundidade
de pensamento e talvez por isso e pela sua visão larga,
este artigo me parece hoje tão atual como na data
da sua publicação. O Meneses Correia caracteriza,
logo no início, a complexidade do Hospital em duas
ideias força: a variedade e a interdependência; o Hospital,
refere «é mais do que a simples justaposição de
mecanismos técnicos e administrativos isoladamente
reguláveis» e por isso chama, muito apropriadamente
à atenção para a «necessidade de o Hospital ser
pensado como uma totalidade composta por múltiplas
partes interconectadas em interação com o
universo exterior e prosseguindo objetivos globais».
Desenvolve depois com toda a pertinência os conceitos
cibernéticos aplicando-os à realidade Hospital, ao
sistema de governo e aos mecanismos de regulação. É
particularmente clara a fundamentação conceptual da
necessidade de autonomia e o enunciado dos níveis
de responsabilidade. Este artigo ajudou-me, ajudounos
e ajudará a todos os que o lerem a compreender
o Hospital. Ã
20
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 1
Capa
e artigo
23
GH REEDIÇÃO
24 25
GH REEDIÇÃO
26 27
GH REEDIÇÃO
28 29
GH REEDIÇÃO
Better Health, Brighter Future
Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.
Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda
proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua
fundação em 1781.
Hoje, combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo,
desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:
encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar
melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,
o mais rápido que conseguirmos.
Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,
a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.
Gastrenterologia
Oncologia
Sistema Nervoso Central
Vacinas
PT/INI/0217/0003
Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.
Avenida da Torre de Belém, nº 19 R/C Esq. 1400-342 Lisboa
Sociedade por quotas. NIF: 502 801 204
Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.º 502 801 204
Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456
www.takeda.pt
30
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 3
Capa
e artigo
33
GH REEDIÇÃO
34 35
GH REEDIÇÃO
36 37
GH REEDIÇÃO
38 39
GH HISTÓRIA
ANOS DA
"GESTÃO
HOSPITALAR"
1. Dois artigos relevantes da GH
Em declaração prévia de interesses relativamente à
seleção dos dois artigos, devo assumir a minha muita
amizade e muita saudade pelos dois autores dos
textos que vou referenciar - Rui Janeiro da Costa
e Margarida Bentes. Ambos desaparecidos precocemente,
foram, cada um à sua maneira, personalidades
ímpares e profissionais únicos que marcaram
profunda e positivamente a administração hospitalar
portuguesa. Por isso, a minha seleção dos dois artigos
é, também, uma homenagem que lhes presto.
O Rui Janeiro da Costa, cujo percurso profissional
(formado em Direito, foi Procurador do Ministério
Público antes de integrar a Administração Hospitalar)
não antecipava a área a que veio a dedicar maior
interesse e em que foi precursor em Portugal, é uma
referência nacional incontornável no âmbito dos sistemas
de informação hospitalar. O texto a que me
refiro foi publicado na GH nº 20, de Julho/Setembro
de 1990 e tinha como título “Sistema Básico de
Informação Hospitalar nos HUC”. É um texto pioneiro,
naturalmente datado (o que é mais evidente
nestas matérias tecnológicas) mas que foi um dos
primeiros textos a abordar a importância das tecnologias
e sistemas de informação para a gestão hospitalar,
hoje um dado absolutamente adquirido mas, à
data, uma ideia ainda em processo de disseminação
e desenvolvimento. É interessante, também, porque
a GH nº 22/23, de Janeiro/Junho de 1991, referencia
a atribuição ao Rui Janeiro da Costa do Prémio
Centro Hospitalar de Coimbra/Banco Pinto e Sotto
Mayor de Gestão de Serviços de Saúde pelo seu
projeto “Sistema de Informação de Doentes”.
A Margarida Bentes, desde sempre ligada aos sistemas
de financiamento hospitalar e, juntamente com
João Urbano, entre outros(as), responsável pela introdução
em Portugal dos modelos de pagamento
prospetivo por GDH, um dos mais bem sucedidos
projetos de mudança estrutural no Ministério da
Saúde, alargava o seu leque de interesses a outras
áreas, do que é testemunho o artigo que selecionei,
publicado na GH nº 27 (nova numeração), publicada
em 2007 e intitulado “A Gestão Estratégica nos
Hospitais Passo a Passo”. Neste artigo, Margarida
Bentes aborda de forma pedagógica os modelos
e instrumentos de gestão estratégica de hospitais
e explicita, antecipando em alguns anos a sua vulgarização,
a questão da cadeia de valor e da criação
de valor nas organizações prestadoras de cuidados
de saúde.
2. O Passado da GH
A APAH foi constituída em novembro de 1981,
a primeira Direção eleita em março de 1982 e o
primeiro número da GH publicada em março de
1983. O primeiro Diretor da GH foi o João Santos
Cardoso, com o José Carlos Lopes Martins como
Subdiretor, tendo posteriormente, com a mudança
da Direção da APAH, o José Carlos assumido }
Artur Morais Vaz
Diretor e Coordenador da Gestão Hospitalar
Q
uando o Alexandre Lourenço me telefonou
para me pedir este artigo, na
minha condição de antigo Diretor da
Revista Gestão Hospitalar, confesso
que me assustei com duas coisas: A
primeira, é que fui Diretor da GH já no século passado
(!), entre 1987 e 1991, e a segunda é que essas
funções me foram atribuídas por ser o “que tinha
mais jeito para essas coisas” no âmbito da então
Direção da APAH, sempre me tendo efetivamente
sentido mais como membro de uma equipa do que
como um Diretor da GH.
O caderno de encargos que o Alexandre me apresentou
integrava a seleção de dois artigos marcantes
da GH, um texto sobre o passado da GH e referências
ao futuro da gestão em saúde. É a isso que vou
tentar responder nas próximas linhas.
40
GH HISTÓRIA
“
O FUTURO DA GESTÃO
DA SAÚDE EM PORTUGAL
PASSA MUITO,
NA MINHA PERSPETIVA,
PELA DEFINIÇÃO DE UM
MODELO ADEQUADO
DE GOVERNAÇÃO
DO SETOR DA SAÚDE,
DO SNS E DAS
INSTITUIÇÕES INDIVIDUAIS
QUE O COMPÕEM.
”
blicação, de edição, de revisão de provas, de recolha
de patrocínios e publicidade, correspondendo cada
número a um parto longo e sempre com recurso a
ferros (!). Entretanto, com interregnos mais ou menos
longos, com maior ou menor grau de colaboração
dos associados da APAH, a GH logrou atingir os
35 anos de publicação o que é, certamente, motivo
de celebração.
Confesso que não sei qual é, hoje, nestes tempos
de redes sociais e comunicações instantâneas, a real
relevância que a GH pode assumir na vida dos associados
da APAH e dos profissionais de gestão
em saúde. O seu indiscutível valor simbólico pode
não ser argumento suficiente para a sua manutenção
nos moldes atuais, mas isso é uma reflexão que
deixo à Direção da APAH.
7480_220x155_Portugal_PopHealth_v4.pdf 1 7/16/18 12:29 PM
vista, o amadorismo, qualquer que seja o seu fundamento,
faz correr riscos graves, de grande montante
económico e de incalculáveis afrontamentos
humanos.”
Passaram entretanto 35 anos sobre estas palavras,
as quais se mantêm estranhamente atuais, apesar
dos fantásticos desenvolvimentos tecnológicos e organizacionais
que se verificaram desde então.
O futuro da gestão da saúde em Portugal passa muito,
na minha perspetiva, pela definição de um modelo
adequado de governação do setor da saúde, do
SNS e das instituições individuais que o compõem,
num quadro de autonomia responsabilizante, de liderança
efetiva e sujeita a avaliação, de defesa dos
direitos, dos interesses e participação dos cidadãos
e de modelos ajustados de financiamento e acesso
a cuidados de saúde de qualidade.
A necessária profissionalização da gestão dos serviços
de saúde exige um contexto que a isole e proteja
dos apetites partidários ou corporativos, dos
repentes políticos conjunturais, dos interesses paroquiais,
da incompetência, dos conflitos de interesse
e da falta de transparência ou de visão. Apenas um
novo modelo de governação do setor poderá garantir
tal objetivo.
Os desafios futuros, cujos impactos todos sentimos
já, marcarão, de forma ainda mais vincada e,
por vezes, brutal, a vida e a gestão dos serviços de
saúde, seja qual for o setor a que pertençam. O
envelhecimento da população, a inovação tecnológica,
as alterações climáticas, as dinâmicas políticas,
económicas e sociais terão um impacto crescente
sobre os serviços de saúde a que estes só poderão
responder se estiverem dotados de estruturas de
gestão com as competências, a autonomia e a liderança
adequadas à enormidade dos desafios futuros.
Enfrentar novos problemas com soluções habituais
é meio caminho andado para o insucesso. Ã
a Direção da GH, comigo e com o Rui Moutinho
como Coordenadores e, a partir do nº 20, Julho/
Setembro de 1990 calhou-me a mim a Direção da
Revista que mantive até ser substituído pela Armanda
Miranda. Como referi no início, a atribuição das
responsabilidades de Direção da GH correspondia
a uma distribuição de pelouros dentro da Direção
da APAH havendo, todavia e como acontecia com
os restantes pelouros, um intenso e contínuo trabalho
de equipa. As associações deste género, e a
APAH não foi exceção nesses tempos, dependem
em muito da carolice dos que assumem os seus órgãos
sociais.
Não havendo, então, nem as tecnologias de comunicação
e informação nem os serviços jornalísticos
hoje existentes, a publicação da GH era um processo
moroso e difícil de recolha de material para pu-
3. O Futuro da Gestão em Saúde
O Prof. Coriolano Ferreira, no seu estilo irónico e
arguto, em artigo publicado no nº 1 da GH intitulado
“3 Reflexões sobre os Administradores Hospitalares
em Portugal”, na sua terceira reflexão, sobre
o futuro dos administradores, referia:
“É para mim motivo de muita admiração a estranha
apetência que a administração dos hospitais desperta
nas mais variadas instituições e personalidades.
Desde as misericórdias às faculdades de medicina,
das fundações às câmaras municipais, das instituições
de previdência às associações mutualistas, dos
médicos aos políticos, todos desejam administrar
hospitais e todos se consideram capazes de o fazer.
Acontece, no entanto, que os hospitais são entidades
extremamente complexas, das mais complexas
dos tempos de hoje, pelo que, do meu ponto de
Adote uma gestão efectiva da saúde da população
Desde o aumento dos requisitos regulatórios aos avanços tecnológicos, o sector da
saúde está em crescente mudança e evolução. Estratégias comprovadas podem já não
ser suficientes para uma resposta eficiente aos actuais desafios.
Só estabelecendo uma estratégia abrangente, sustentada numa plataforma agregadora,
robusta e inteligente, é que as organizações serão capazes de se preparar para uma
eficiente gestão da saúde da população. Pergunte-nos como.
42
cerner.com
@Cerner
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 20
Capa
e artigo
44 45
GH REEDIÇÃO
46 47
GH REEDIÇÃO
48 49
GH REEDIÇÃO
50 51
GH REEDIÇÃO
52 53
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 27
Capa
e artigo
54 55
GH REEDIÇÃO
56 57
GH REEDIÇÃO
58 59
GH REEDIÇÃO
60
GH HISTÓRIA
Memórias intelectuais
e sentimentais
“
CONFESSO QUE LEVEI
A SÉRIO O QUE APRENDI
COM O PROFESSOR
Jorge Varanda
Presidente da APAH (1988-1992)
e Sócio de Mérito
Uma visita inesperada a memórias
escritas, sendo que as memórias
não são apenas de natureza intelectual,
mas também do mundo
sentimental, é uma aventura assinalável.
Tanto mais assinalável quando temos de
fazer uma escolha entre textos escritos, uns mais
distantes de nós, outros mais próximos, quase diria,
em nós incorporados.
Foi o que me aconteceu nesta viagem a quatro números
da revista Gestão Hospitalar editados durante o
tempo em que me coube presidir à Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares em dois
biénios diferentes, o primeiro no final dos anos 80 e
outro no começo dos anos 90.
No final dos anos 80 convergiram dois feixes de
acontecimentos de natureza muito diferente:
• A aplicação de uma nova lei de gestão, o Decreto-lei
19/88, de 21 de Janeiro
• A realização de dois cursos de Aplicação de Métodos
de Engenharia Industrial aos Hospitais (1987
e 1988), pelo Professor William Cats-Baril, da Universidade
de Vermont, com uma parte letiva em
Lisboa, completada com um seminário de duas semanas
em Madison, capital do Wisconsin, EUA, no
University of Wisconsin Hospital and Clinics.
O primeiro feixe de acontecimentos gerou uma
enorme tensão nos administradores hospitalares,
cabendo à APAH interpretar a reação justa de um
grupo que fora idealizado pelo Professor Coriolano
Ferreira para gerir os Hospitais e que se vira ultrapassado
pela aplicação de uma nova lei de gestão
que apeara muitos profissionais capazes e os substituíra
por escolhas de política local, sem garantia de
competência para o cargo.
Quanto ao segundo dos acontecimentos, pode dizer-se
que foi o coroar de um vasto conjunto de
atividades, com apoio americano, que o Professor
Augusto Mantas lançou ao longo dos anos 80, na
qualidade de Diretor do Departamento de Gestão
Financeira do Ministério da Saúde, com a liderança
prática do Dr. João Urbano.
Confesso que levei a sério o que aprendi com o
Professor Cats-Baril e o relacionei com uma realidade
mais vasta da ciência da melhoria e da mudança,
ao descobrir os dois mestres da Melhoria Contínua
da Qualidade que ajudaram a fazer do Japão a extraordinária
potência económica em que se transformaram
depois da 2.ª Guerra Mundial: Deming
e Juran. Tudo isso me permitiu lançar em Portugal
projetos de melhoria, com o espírito de Deming e
as metodologias de Juran. Saudades!
CATS-BARIL E O
RELACIONEI COM UMA
REALIDADE MAIS VASTA
DA CIÊNCIA DA MELHORIA
E DA MUDANÇA.
C
M
”
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Escolhi dois textos para ilustrar esse período de responsabilidade
que tive na Direção da APAH:
• O editorial da Revista n.º 22/23, Janeiro-Junho
de 1991, como afirmação dos valores de do estado
da profissão de administração hospitalar, traduzindo
os problemas, após a tempestade da aplicação do
referido Decreto-lei 19/88, de 21 de janeiro
• O artigo de Gustafson, D., Cats-Baril, W. e Alemi,
F., Desenvolvimento e Testes dos Modelos
Bayesiano e MAU para Prevenir e Explicar o Sucesso
da Mudança (Revista n.º 21, Out-Dez 1991).
Apesar da tecnicidade dos modelos a sua leitura
ajuda-nos a identificar um conjunto de fatores de
sucesso, com relevo para o envolvimento dos interessados
e a ação dos agentes das mesmas (leia-se,
na nossa perspetiva, ‘dos administradores hospitalares’…).
Por aqui me fico, com um mínimo de memórias e
um mínimo de carga emotiva. Ã
62
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 22
Capa e
editorial
64
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 21
Capa
e artigo
66 67
GH REEDIÇÃO
68 69
GH REEDIÇÃO
70 71
GH REEDIÇÃO
72 73
GH REEDIÇÃO
74
GH HISTÓRIA
Manuel Delgado
Presidente da APAH (1992-2008)
e Sócio de Mérito
Em 1983 foi lançado o primeiro número
da revista “Gestão Hospitalar”
(GH). Hoje, 35 anos passados e
com cerca de 50 edições publicadas,
a GH continua a ser o veículo privilegiado
de afirmação dos valores da gestão hospitalar
e dos profissionais que abraçaram esta profissão.
Valerá a pena fazer um balanço deste percurso, rico
pela diversidade de temas abordados e pelas opiniões
expressas, pioneiro, muitas vezes, na inovação
quanto a conceitos e no apontar de novos caminhos
para os nossos hospitais, livre e irreverente nos conteúdos,
muitas vezes apaixonados ou incómodos,
mas sempre na defesa desta profissão e contra os
compadrios de ocasião.
Pela GH passaram, em todas as épocas, as principais
figuras que animaram o Setor da Saúde:
Presidentes da República, Ministros, Secretários de
Estado, Deputados de todos os partidos, Reitores
anos
de história
das Universidades, Bastonários das diferentes ordens
profissionais, sindicalistas, personalidades de
méritos reconhecidos, nacionais e estrangeiras, representantes
da Industria e, claro, os mais distintos
Administradores Hospitalares portugueses.
GH começou por ser um precioso acervo de artigos
técnicos, intemporais na maioria dos casos, e
de elevada qualidade. Abordavam-se temas inéditos
entre os profissionais de saúde, retirando-se ricos
ensinamentos para a vida prática de administradores,
médicos, enfermeiros, engenheiros,etc.
A imagem e os contornos editoriais da revista mantiveram-se
inalteráveis durante cerca de uma década.
Destacaremos deste período, a 1ª edição, de Jan/
Março de 1983, com a publicação de artigos “históricos”,
pela qualidade e pela autoridade, de Coriolano
Ferreira (“…o amadorismo (na gestão hospitalar) faz
correr riscos graves…”), Moreno Rodrigues (“…o
Governo interfere onde não deve, minando e desacreditando
a autoridade de quem deve atuar…)
e Caldeira da Silva (“… em face da verdade incontestável
de que os recursos são limitados…é desejável…
que o clínico seja chamado às atividades de
planeamento e às de gestão… sendo indispensável
uma consciencialização… de que cada decisão clínica
tem repercussões sobre os recursos…).
Mas ficaram também na nossa memória, desta primeira
fase da GH, os contributos de Correia de
Campos sobre regionalização, Vasco Reis sobre
áreas intermédias de gestão, Meneses Correia sobre
sistemas de gestão, Santos Cardoso, sobre responsabilidade
profissional, Daniel Serrão sobre ética, Torrado
da Silva sobre saúde infantil, Artur Vaz sobre a
carreira de AH, Augusto Mantas sobre custos hospitalares,
Eduardo Caetano sobre a segurança nos hospitais,
Queiroz e Melo sobre transplantação cardíaca,
entre outros de grande interesse e relevância.
A vida associativa na década de 90 foi marcada pela
iniciativa inédita da APAH que ficou conhecida por
“Feira de Projetos”, realizada em Coimbra, em novembro
de 1990. GH fez bastante eco deste acontecimento,
galvanizando assim o brio e o profissionalismo
dos AH, numa época particularmente adversa,
face às decisões do poder político de então,
sobre a carreira de AH e a Lei de gestão hospitalar.
Realce-se desse período o belíssimo e avisado editorial
da GH nº 21 de out/dez de 1990, que reproduzia
o discurso do então presidente da Direção
na abertura da “Feira de Projetos”, em defesa da
profissão. Uma leitura ainda hoje obrigatória!
Em 1993, e já com uma nova Direção, a Revista foi
objeto de uma mudança editorial: aos artigos técnicos,
passou a adicionar, frequentemente, uma entrevista
de fundo e variadíssimas reportagens sobre acontecimentos
que se iam destacando ao longo do tempo.
O editorial da GH 26/27 de jan/julho de 1993, ilustrava
bem o clima adverso que então os AH viviam.
Muito duro para o poder político, referia-se nesse
texto: “…foi um erro político grave, relegar os AH para
plano subalterno na gestão dos hospitais públicos.”
Foi um período rico no debate sobre políticas de
saúde, com o novo Estatuto do SNS, o abortado
Seguro Alternativo de Saúde, as primeiras PPP e a
criação dos centros de responsabilidade. GH acompanhou
de perto esses processos e fez-se eco, quer
em artigos de opinião, quer nas declarações da Direção,
das diferentes posições assumidas pelos AH.
Noticiamos os acontecimentos à época mais relevantes
e, desde logo, o Ciclo de Encontros que a
APAH então iniciou, tendo como primeiro convidado
o Ministro Arlindo de Carvalho.
No capítulo das entrevistas abrimos, na GH nº
26/27 de jan/julho de 1993, com Coriolano Ferreira,
seguindo-se noutras edições, Paulo Mendo (“… }
76
GH HISTÓRIA
“
OS AH PROTAGONIZARAM,
NESSA ÉPOCA, UM CONJUNTO
DE INICIATIVAS QUE
MARCARAM A CLASSE
PROFISSIONAL E MUITO
CONTRIBUÍRAM PARA
O SEU RECONHECIMENTO
PÚBLICO.
”
porque é que a AH não deveria ser uma especialidade?...”),
Caldeira da Silva (então Presidente do
CD da ENSP, que tinha evitado o seu puro e simples
encerramento e negociado a sua passagem, do
Ministério da Saúde para o Ministério da Educação),
Lopes Martins (Sec. de Estado da Saúde), Correia
de Campos (acabado de regressar de um cargo de
Diretor no Banco Mundial em Washington), Maria
de Belém Roseira (então Ministra da Saúde).
Os AH protagonizaram, nessa época, um conjunto
de iniciativas que marcaram a classe profissional e
muito contribuíram para o seu reconhecimento público.
GH relatou esses acontecimentos com textos
e reportagens fotográficas, hoje deliciosas memórias
vivas desses tempos:
• O almoço de homenagem a Augusto Mantas, com
as presenças de Coriolano Ferreira e de Maria dos
Prazeres Beleza (então Secª Geral do Ministério da
Saúde) (GH nº 30, Dez 94/jan 95);
• As viagens de estudo realizadas aos EUA e ao
Reino Unido e Escócia (com o relato impagável da
saudosa Arminda Cepeda sobre esta última na GH
nº 32 de maio de 1996);
• Os estágios promovidos pela APAH/ Fundação
Calouste Gulbenkian na Clinica Mayo, nos EUA, para
diplomados em AH pela ENSP (GH nº 33, Dez
96/Jan 97);
• A criação dos Prémios APAH/Sandoz para o melhor
aluno do Curso de AH , pela primeira vez atribuído
em 15 de novembro de 1996, à nossa colega
Helena Gonçalves (GH nº 33, já citada);
• O arranque do Fórum Gulbenkian de Saúde, em
coorganização com a APAH, em 1997, que passou a
ser uma referência nacional na área da gestão de serviços
de saúde e em que participaram, durante vários
anos, personalidades de referência a nível mundial.
Em 1999, lançámos uma edição especial de GH em
outubro, dedicada às eleições legislativas que se avizinhavam,
comparando as propostas para a Saúde
dos principais partidos e publicando depoimentos
dos principais lideres (António Guterres, Carlos
Carvalhas e Durão Barroso) e comentários de personalidades
de relevo na área da Saúde: Caldeira
da Silva, Daniel Serrão, Maria José Nogueira Pinto,
Paulo Mendo e Pedro Pita Barros.
Foi também nessa edição que fizemos uma ampla
reportagem sobre o Congresso da Associação Europeia
de Gestores Hospitalares, então pela 2ª vez
realizado em Portugal e que contou com a presença
do Presidente da República, Jorge Sampaio, e uma
conferência notável de Maria de Lurdes Pintasilgo
sobre valores societais.
Em 2005, a GH mudou de novo a sua imagem e
passou a ter, durante algum tempo, uma periodicidade
mensal. Foi um grande desafio, só possível com a
disponibilidade de uma equipa redatorial profissional.
Sucedeu-se um conjunto de entrevistas de fundo,
com Correia de Campos, nas vésperas de ser Ministro
(GH nº 2, fev 2005), Pedro Nunes (Bastonário
da Ordem dos Médicos), Pereira Miguel (Alto Comissário
para a Saúde), Francisco Ramos (Secretário
de Estado da Saúde), Vasco Reis (Sub –Diretor da
ENSP e coordenador do Curso de AH).
Foi um período efervescente na política de Saúde,
com uma mudança de Governo e fortes esperanças
para os AH (depois frustradas…). Manuel Delgado,
no nº 1 de janeiro de 2005,era citado na capa com a
frase:”…exigimos respeito do futuro Governo…” e,
em março, na GH nº 3, lançava 10 desafios ao no-
vo Ministro Correia de Campos, que valerá a pena
recordar, pelo atrevimento, pelo desassombro e…
pela atualidade.
Francisco Ramos (então Sec. de Estado), na edição nº
6 de junho de 2005, manifesta em entrevista, a vontade
política de revitalizar a carreira de AH, dando dignidade
funcional e hierárquica aos AH. Vivia-se, de facto,
uma época de esperança para estes profissionais.
GH realizou ao longo dessa década um conjunto
notável de entrevistas a personalidades de relevo
da vida pública nacional e internacional, sendo de
realçar as de Jorge Sampaio (já ex-Presidente da
República e em vias de iniciar funções como Alto
Comissário das NU contra a tuberculose, GH nº
22,2006), Francisco George (nº 26,2007), Pedro Pita
Barros (nº 27,2007),
Maria de Belém Roseira (nº 30,2007), Eduardo Barroso
(nº 31,2007), Sobrinho Simões (nº 32,2007),
Constantino Sakellarides (nº 41, 2009), António Arnaut
(nº 42,2009), Eduardo Sá Ferreira, o primeiro
Presidente da APAH (nº 45,2009) e Ana Jorge, Ministra
da Saúde (nº 46,2010).
Em novembro de 2007, a APAH organizou uma justa
homenagem ao prof Vasco Reis, num jantar a que
GH fez referência destacada (nº 32,3007).
Vasco Reis foi, talvez, o professor que mais perto
esteve dos seus alunos e ex-alunos, quer na Escola,
quer nos saudosos HCL, quer na sua participação
ativa em novos projetos, grupos de trabalho e reuniões
associativas. Nesse jantar, que reuniu familiares
e muitos amigos, e que contou com as presenças de
Constantino Sakellarides, Caldeira da Silva, Nogueira
da Rocha, Maria de Belém e os Bastonários das
Ordens dos médicos e dos enfermeiros, o Ministro
da Saúde, Correia de Campos, agraciou Vasco Reis
com a medalha de ouro do Ministério da Saúde.
Distinção merecida e que a APAH e a GH registaram
com satisfação e orgulho.
Em 2014, e após um longo interregno, GH reaparece
com um novo visual e nova linha editorial.
Marta Temido, nova presidente, escrevia no nº 1
desse ano, sob o título “Mau tempo no Canal”:
“…2014 (foi) um dos mais difíceis na vida de muitos
de nós…”, “…pelo 5º ano consecutivo, o sistema }
78
GH HISTÓRIA
“
35 ANOS DE UMA RIQUEZA
INFORMATIVA, TÉCNICA
E CIENTÍFICA QUE
PRESTIGIARAM A PROFISSÃO
E OS PROFISSIONAIS,
ALERTARAM CONSCIÊNCIAS
E DESPERTARAM VONTADES.
”
de saúde português irá sofrer uma redução da despesa
pública…”
Nada de mais lapidar e evidente! Os atuais arautos
da desgraça nada diziam, então, sobre um SNS em
acelerada destruição.
Seguiram-se entrevistas a João Bilhim (presidente da
CRESAP, no nº 2), Correia de Campos (nº 3) e Jorge
Simões (presidente da ERS, nº 4).
No editorial da GH nº 4 de 2014, Pedro Lopes (ex-
-presidente da Direção e então Presidente da Mesa
da AG) escreve um excelente e premonitório artigo
sobre fusões e separações de hospitais. Uma questão
de moda? Ou de eficiência? Ou, ainda de necessidade?
Face ao percurso que tivemos nesta matéria,
provavelmente um pouco de tudo, e a redução de
90 instituições para cerca de 40 na atualidade, não
teve a avaliação e o balanço necessários, em termos
de custos, serviço ao cliente, proximidade, acesso,
qualidade técnica e equidade.
Registe-se, desse tempo, a carta da Direção da
APAH, dirigida à CRESAP, e publicada na GH nº
4, na sequência de um parecer desta em que se
aventava a sugestão de criar uma valência especializada
em gestão hospitalar. A Direção da APAH, e
muito bem, insurgiu-se contra a descarada negação
da realidade e o caráter provocatório com que isso
era sentido pelos AH.
Em 2015, GH entrevista Paulo Macedo, Francisco
Ramos e Alexandre Quintanilha.
Em 2016, Artur Vaz, num excelente artigo de opinião
publicado no nº 8,março, sob o título “Oportunidades
Perdidas” dizia: “…seria suposto que a virtuosa
reforma…dos CSP…tivesse tido um impacto
…nos padrões de utilização das urgências hospitalares,
mas tal parece não se ter verificado.” Infelizmente,
dois anos depois, o que parecia, confirma-se…
Em 2017, Alexandre Lourenço, dá uma excelente
entrevista à GH (nº 9, abril/maio/junho) em que
reforça os valores dos Administradores Hospitalares
e traça um caminho inovador e dinâmico para a
APAH. Caraterísticas que se têm vindo a confirmar
e de que GH tem feito eco: a “Academia APAH”, o
Prémio Margarida Bentes, as “Conferências de Valor”,
o IX Forum do Medicamento e o regresso do
Prémio Coriolano Ferreira, para o melhor aluno do
CEAH da ENSP, são exemplos.
O profissionalismo da gestão hospitalar, a autonomia
dos hospitais, a carreira de administração hospitalar
revisitada, as questões do financiamento, são
temas presentes e destacados nestes últimos números
de GH.
A par de justas homenagens póstumas a Augusto
Mantas, João Urbano, Margarida Bentes e João Santos
Cardoso, este último recentemente desaparecido
e que foi presidente da APAH na década de 80.
É este o retrato dos 35 anos da nossa revista. Em
que houve que fazer opções de entre o muito que se
publicou, e face à variedade dos temas e à intensidade
dos debates.
Percebe-se bem, ao longo da vida de GH, a passagem
de vários governos, com diferentes cores e,
sobretudo, diferentes sensibilidades quanto à profissionalização
da gestão hospitalar.
35 Anos de uma riqueza informativa, técnica e científica
que prestigiaram a profissão e os profissionais,
alertaram consciências e despertaram vontades. Mas
que, sobretudo, colocaram os AH em patamares de
reconhecimento, liderança e respeitabilidade inquestionáveis.
Continuemos, pois, com a GH, a respeitar
esta História, construindo o futuro. Ã
Permanecer competitivo depende do valor que aporta
80
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 29
Capa
e artigo
83
GH REEDIÇÃO
84 85
GH REEDIÇÃO
86
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 31
Capa
e artigo
89
GH REEDIÇÃO
90 91
GH REEDIÇÃO
92 93
GH REEDIÇÃO
94 95
GH REEDIÇÃO
96 97
GH REEDIÇÃO
HEALTHCARE INTEGRATED FACILITIES
A TDGI É UMA EMPRESA QUE ATUA NA ÁREA DO FACILITY MANAGEMENT,
ASSUMINDO A GESTÃO GLOBAL, OPERAÇÃO E RESPONSABILIDADES TÉCNICAS
DAS INFRAESTRUTURAS E DOS EQUIPAMENTOS MÉDICOS DE DIVERSAS UNIDADES
HOSPITALARES EM PORTUGAL, PERMITINDO ASSIM QUE O CLIENTE SE FOQUE
EXCLUSIVAMENTE NO SEU CORE BUSINESS.
SETORES DE ATIVIDADE TDGI
FACILITY MANAGEMENT | MANUTENÇÃO E GESTÃO TÉCNICA DE INSTALAÇÕES
GESTÃO DE ESPAÇOS E OBRAS | ANÁLISE E DIAGNÓSTICO | SOLUÇÕES DE ENERGIA | IT & SOFTWARE SOLUTIONS
98
PORTUGAL | ANGOLA | MOÇAMBIQUE | ESPANHA
BRASIL | BÉLGICA | ARGÉLIA | QATAR
FOLLOW US ON:
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 33
Capa
e artigo
101
GH REEDIÇÃO
102 103
GH REEDIÇÃO
104 105
GH REEDIÇÃO
106 107
GH REEDIÇÃO
108 109
GH REEDIÇÃO
Better Health, Brighter Future
Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.
Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda
proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua
fundação em 1781.
Hoje, combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo,
desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:
encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar
melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,
o mais rápido que conseguirmos.
Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,
a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.
Gastrenterologia
Oncologia
Sistema Nervoso Central
Vacinas
PT/INI/0217/0003
Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.
Avenida da Torre de Belém, nº 19 R/C Esq. 1400-342 Lisboa
Sociedade por quotas. NIF: 502 801 204
Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.º 502 801 204
Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456
www.takeda.pt
110
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Setembro 2002
Capa
e artigo
112 113
GH HISTÓRIA
A Reforma Hospitalar
Pedro Lopes
Presidente da APAH (2008-2013)
Corria o ano de 1988 quando numa
atitude de rutura com um enquadramento
jurídico hospitalar eminentemente
público foi criado o novo regime
jurídico dos hospitais, através do
Decreto-Lei n.º 19/88, de 21 de janeiro, caracterizado
por uma visão gestionária fortemente empresarial.
O crescimento exponencial dos custos na saúde e
a consequente cada vez maior dimensão dos hospitais
portugueses justificaram a necessidade de adotar
princípios de gestão e administração empresariais
sugerindo-se, ainda, a criação de centros de responsabilidade
como níveis intermédios de administração.
Estruturas intermédias de gestão que tiveram a sua
tradução legal no Decreto-Lei n.º 374/99, de 18 de
Setembro, referindo que os centros de responsabilidade
integrados deviam constituir verdadeiros órgãos
de gestão intermédia com poder decisório baseados
em orçamentos-programa negociados com
os respetivos órgãos de gestão.
A preocupação com o aprofundamento da empresarialização
dos hospitais deu origem a um novo
diploma legislativo, o Decreto-Lei n.º 188/2003, de
20 de Agosto que pretendeu ajustar o modelo de
organização hospitalar às respetivas necessidades
em saúde, conferindo uma maior capacidade diretiva
aos órgãos máximos e intermédios de gestão
e que ficou conhecido com o nome de “hospitais
com estatuto S.A.”, ou seja, sociedade anónima. Passou
a exigir-se grande capacidade de liderança com
a atribuição de mais autonomia por contrapartida da
exigência de maior responsabilidade e consequente
obtenção de melhores resultados.
Um novo paradigma de financiamento substituiu o
modelo tradicional de financiamento baseado em
orçamentos históricos, por um novo regime de pagamento
pelos atos praticados.
A possibilidade de privatização dos hospitais S.A. e a
necessidade de manter, de forma inequívoca, a sua
natureza pública mantendo, no entanto, a sua vertente
empresarial, deu origem a um novo diploma
legislativo, o Decreto-Lei n.º 233/2005, de 29 de dezembro
que ficou conhecido com o nome de “hospitais
E.P.E.”, ou seja, entidade pública empresarial.
Por outro lado, a necessidade de integrar cuidados
de saúde primários com cuidados de saúde hospitalares
e a consequente uniformização da respetiva
legislação levou à criação de um novo diploma legislativo,
o Decreto-Lei n.º 12/2015, de 26 de janeiro.
Finalmente, com vista a concentrar num único diploma
o regime jurídico das entidades que integram o
SNS (serviço nacional de saúde) e para melhorar a
articulação entre os diferentes níveis de cuidados de
saúde, primários, hospitalares, continuados e paliativos
e ainda para gerar ganhos de eficiência e eficácia
no sistema, foi criado um novo diploma legislativo, o
Decreto-Lei n.º 18/2017, de 10 de fevereiro.
Estas foram, no período mais recente e após 25 de
abril, sem nunca esquecer a Lei n.º 56/79, de 15 de
setembro que criou o SNS, os documentos legislativos
verdadeiramente estruturantes das reformas da
gestão hospitalar. Em resposta às críticas, aos estu-
dos, aos fóruns e a outras realizações que referiam
a dificuldade e mesmo impossibilidade de gerir estas
instituições de saúde num contexto normativo de
pendor essencialmente burocrático-administrativo,
caracterizado pelas regras que definiam a gestão
pública e navegando a nova onda dos recentes conceitos
da nova administração pública, a NPA (new
public administration), surgiram todos estes normativos
fortemente influenciados pelos princípios da
gestão empresarial.
A possibilidade de ter partilhado este projeto arrojado
de mudança e a atual reflexão sobre o mesmo,
atentas as questões ligadas aos orçamentos
inadequados, à manutenção das listas de espera, ao
crescimento dos preços dos produtos, fruto do endividamento
dos hospitais, à falta de avaliação dos
mesmos particularmente dos seus resultados e à recente
manifesta desproporcionalidade de capacidade
decisória dos ministérios acionistas, com preponderância
do Ministério as Finanças, tem originado
grande preocupação e alguma desilusão.
Porque se fala tanto de reformas estruturais sou de
opinião que na saúde criamos excelentes normativos
verdadeiramente estruturantes, só não tivemos
o engenho e a arte de os colocar, na sua totalidade,
no terreno.
Os dois artigos que escolhi para constarem da
presente publicação, da autoria do administrador
hospitalar Paulo Salgado, intitulado “Modesta homenagem
a Margarida Bentes – Qualidade e racionalidade
económica” e da minha própria autoria,
o editorial “Sustentabilidade do SNS”, elaborados
no período em que tive responsabilidades
enquanto Presidente da Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares (APAH)
e constantes das revistas que na altura publicamos,
são bem o exemplo do nosso contributo enquanto
administradores e gestores hospitalares para
esta reforma.
Somos perseverantes e otimistas e porque gostamos
de gerir na saúde e acreditamos nas nossas capacidades
e no compromisso para com o SNS, com
estes e outros ventos asseguraremos o futuro dos
nossos hospitais. Ã
114
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 43
Capa
e artigo
116 117
GH REEDIÇÃO
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 46
Capa e
editorial
GESTÃO
HOSPITALAR
Número 1
Capa
e artigo
118 119
GH REEDIÇÃO
120 121
GH REEDIÇÃO
122
GESTÃO HOSPITALAR Nº13 ESPECIAL 35º ANIVERSÁRIO