Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia
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Na déca<strong>da</strong> de 70, surge nas revistas femininas como a Nova, uma figura ain<strong>da</strong> não vista<br />
tão claramente em periódicos femininos: o homem. Neste período passa a ser considera<strong>da</strong> a<br />
sexuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher, ain<strong>da</strong> que somente dentro dos padrões <strong>da</strong> heteronormativi<strong>da</strong>de. Mesmo<br />
com o largo passo, “as ações sugeri<strong>da</strong>s são sempre em função dele. Ela vai fazer as coisas para<br />
ele, para agradá-lo. Mais uma vez, apesar de to<strong>da</strong> a aparência em contrário, o eixo principal é a<br />
passivi<strong>da</strong>de” (BUITONI, 2009, p. 122).<br />
No mesmo período passa a existir a imprensa feminina alternativa, como as publicações<br />
Nós Mulheres e Brasil Mulher que, diferente de tudo que já tinha sido feito até então, buscam<br />
conversar com as mulheres <strong>da</strong>s classes mais baixas e assumem temas como a participação em<br />
sindicatos, salários e direitos trabalhistas, alimentação, terrenos clandestinos etc. “Fazer<br />
jornalismo de baixo para cima é muito difícil. Mas as re<strong>da</strong>toras de Nós Mulheres e Brasil<br />
Mulher, tentaram” (BUITONI, 2009, p.125).<br />
Na televisão, já consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> no Brasil, temáticas relaciona<strong>da</strong>s aos direitos <strong>da</strong> mulher e<br />
principalmente ao empoderamento feminino começaram a ser trata<strong>da</strong>s no seriado Malu Mulher,<br />
que esteve no ar nos anos 1979 e 1980, na Rede Globo. Malu, interpreta<strong>da</strong> pela atriz Regina<br />
Duarte, se envolve em diversas situações que a mostravam como uma mulher empodera<strong>da</strong>. Os<br />
três primeiros episódios tratam de assuntos bastante polêmicos para a época. A série inicia com<br />
a separação conflituosa de Malu e seu então cônjuge, dois anos após a lei do divórcio 3 ter sido<br />
aprova<strong>da</strong> no Brasil.<br />
No segundo episódio, colocado no ar no dia 7 de junho de 1979, Regina Duarte faz uma<br />
cena em que Malu transa com o novo namorado e representa, então, pela primeira vez na TV<br />
brasileira, uma cena de orgasmo feminino. No terceiro episódio a trama está envolta em um<br />
aborto clandestino feito por uma <strong>da</strong>s amigas de Malu que confessa a ela a intervenção.<br />
Malu Mulher é considerado um marco porque retrata a condição <strong>da</strong> mulher no início <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 80 de uma forma ain<strong>da</strong> não mostra<strong>da</strong> na TV. Os 76 episódios foram exportados e<br />
transmitidos em diversos países. Em 1982, foi considerado o melhor programa de televisão do<br />
ano em Portugal e na Grécia.<br />
Fora <strong>da</strong> ficção, então, o primeiro programa a tratar <strong>da</strong> mulher como protagonista,<br />
levando em consideração uma vi<strong>da</strong> não glamorosa foi o TV Mulher 4 , que esteve no ar na Rede<br />
Globo de abril de 1980 a junho de 1986. O programa “contemplava assuntos como direitos <strong>da</strong><br />
mulher, mo<strong>da</strong>, principais manchetes do país, economia doméstica, culinária e até mesmo<br />
3<br />
Lei Nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6515.htm<br />
4<br />
Desde maio de 2016 o TV Mulher voltou ao ar, desta vez no Canal Viva.