Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia
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sente atração por outra mulher, se ela vai pra a cama com outra mulher ela é bi - é lésbica” -<br />
já desconsiderando a existência <strong>da</strong> bissexuali<strong>da</strong>de, colocando tudo no mesmo “balaio”. Em<br />
poucos segundos ambas concluem que para elas “sentiu atração por outra mulher, levou outra<br />
mulher pra cama, é lésbica” e Fernan<strong>da</strong> diz ain<strong>da</strong> que acha que “a juventude, essa geração que<br />
veio agora, mais recente, realmente é mais liberal que a nossa, eu posso estar erra<strong>da</strong>, mas eu<br />
tenho a sensação de que as pessoas já não têm muito essa coisa do gênero, eles se pegam geral.<br />
Aí é que está a questão, eu não sei se ao se pegar já são… Né, já tem uma preferência defini<strong>da</strong>,<br />
ou se é uma experimentação geral”. Ou seja, em março de 2011 a bissexuali<strong>da</strong>de não existia<br />
mesmo para a apresentadora. Extraordinariamente, isso mudou em poucos meses e em julho do<br />
mesmo ano ela apresenta a nova sigla que representa o movimento dos homossexuais (sic),<br />
“LGBTTIS”. O programa recebe Nelson Freitas, Rogéria, Jorge Fernando e Juliana Paes para<br />
um jogo e um papo sobre <strong>sexuali<strong>da</strong>des</strong> divergentes. Logo no início do programa Fernan<strong>da</strong><br />
apresenta to<strong>da</strong>s as letras <strong>da</strong> sigla e no B, diz “meninas que gostam de meninos e meninas ou<br />
meninas que gostam de meninos e meninas, ou seja, pessoas que gostam de pessoas”, sem<br />
titubear. Na apresentação simplista dos Ts, transsexuais viram pessoas que nascem no “corpo<br />
errado” e travestis são homens que se vestem de mulher ou mulheres que se vestem de homem,<br />
mas não sentem desconforto com a anatomia do seu corpo. Uma confusão, que por mais<br />
legítima que seja a intenção, pouco auxilia aos movimentos e pessoas LGBTQIs na luta pela<br />
sua inclusão e compreensão. O quadro <strong>da</strong> vez é o Vai Ter Que Rebolar e ele é cheio de<br />
desinformação, mostrando o despreparo <strong>da</strong> equipe do programa para tratar as temáticas que<br />
envolvem pessoas LGBTQIs. Os próprios convi<strong>da</strong>dos - mesmo sendo parte <strong>da</strong> sigla LGBTQI -<br />
são pessoas que não tem discernimento sobre questões importantes para o movimento, como a<br />
tecla tão bati<strong>da</strong> que busca a diferenciação entre identi<strong>da</strong>de de gênero e orientação sexual e a<br />
valorização de identi<strong>da</strong>des bissexuais e travestis, que são imensamente apaga<strong>da</strong>s. O programa<br />
em questão só faz reforçar o que o senso comum diz, fazendo confusões conceituais e<br />
reproduzindo preconceitos, utilizando termos como “mu<strong>da</strong>nça de sexo” e “hermafroditas”<br />
quando falam sobre pessoas intersexuais. A própria apresentadora admite durante a edição que<br />
ain<strong>da</strong> precisa aprender muito sobre estas questões e o que salva determinados debates é a<br />
presença de três mulheres trans que estão na plateia e recebem o microfone para explicar que<br />
algumas falas durante o programa são equivoca<strong>da</strong>s, como quando identificam as pessoas<br />
transexuais como aquelas que já passaram pela operação de resignação sexual – que não é<br />
ver<strong>da</strong>de, afinal as pessoas transexuais passam por um longo percurso até, enfim, realizarem este<br />
tipo de interferência no corpo e algumas se quer desejam fazê-las - e explicar que a identi<strong>da</strong>de