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Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia

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machos e/ou fêmeas. Mas as pessoas acabam se enquadrando primeiro por não refletirem sobre<br />

o que isso significa e depois porque<br />

Juridicamente, como sabemos, só existem duas categorias de gênero - homem<br />

e mulher ou masculino e feminino. Quando nasce, ca<strong>da</strong> pessoa é<br />

automaticamente inscrita em uma delas, única e exclusivamente em função do<br />

seu sexo genital, de macho ou fêmea. A peça jurídica que configura tal<br />

inscrição é a Certidão de Nascimento. (LANZ, 2015, p. 41)<br />

Por outro lado, há centenas de milhares de pessoas só no Brasil - e no mundo -, que<br />

vivem descumprindo a binarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> lei. Uma reportagem publica<strong>da</strong> pelo jornal O Tempo<br />

(2016) 15 , afirma que só as pessoas intersexuais somam cerca de 167 mil no país. E novas<br />

expressões de gênero não param de ser cria<strong>da</strong>s todos os dias. Algumas destas identi<strong>da</strong>des são<br />

as mulheres travestis, pessoas queers, não binárias - e aqui entram mais dezenas de<br />

subcategorias. Há também um estilo de performance artística, geralmente pratica<strong>da</strong> por homens<br />

cis gays, que demonstra a fragili<strong>da</strong>de do conceito social de mulher: as drag queens. Em uma<br />

palestra no EPPA 2017 16 , a drag queen Lorelay Fox 17 , quando confronta<strong>da</strong> sobre o quanto a<br />

sua performance poderia prejudicar a luta do movimento feminista, rebateu: “se as pessoas me<br />

olham na rua com esse cabelão, essas unhas, essa maquiagem e esse salto e ain<strong>da</strong> assim<br />

acreditam que eu não sou uma mulher - e eu não sou mesmo uma - significa que elas precisam<br />

seriamente repensar o que é ser mulher” 18 .<br />

As performances de drag queens são considera<strong>da</strong>s por Butler (2003) como uma espécie<br />

de afronta às noções de gênero, muito pelo motivo que citou Lorelay no episódio descrito acima,<br />

de serem elas dota<strong>da</strong>s de to<strong>da</strong>s as características espera<strong>da</strong>s em uma mulher, mas não o serem.<br />

Butler não trata de questões específicas <strong>da</strong>s pessoas transgêneras - e nem eu o farei por não me<br />

sentir confortável do meu lugar de fala -, o que Butler produz é uma narrativa de um núcleo<br />

ain<strong>da</strong> pouco conhecido, que podemos chamar, no Brasil, pelo termo transvia<strong>da</strong>s 19 - utilizado<br />

para se referir ao movimento que nega as noções estabeleci<strong>da</strong>s de gênero e constrói uma<br />

<strong>contra</strong>narrativa partindo dos muitos estereótipos ligados às orientações sexuais, mas não só elas.<br />

Ser transviado - ou queer - não tem necessariamente a ver com ser uma pessoa transexual.<br />

15<br />

Disponível em: https://goo.gl/cWLMtv<br />

16<br />

Evento realizado pelo curso de publici<strong>da</strong>de de propagan<strong>da</strong> do Bom Jesus/Ielusc.<br />

17<br />

Lorelay Fox é uma personagem de Danilo Dabague, um publicitário paulista, que faz sucesso no youtube<br />

<strong>da</strong>ndo dicas de maquiagem e falando sobre diversos outros assuntos, inclusive preconceito <strong>contra</strong> LGBTQIs.<br />

18<br />

A citação pode não ser fiel à reali<strong>da</strong>de.<br />

19<br />

A correlação entre as identi<strong>da</strong>des transvia<strong>da</strong>s (Brasil) e queers (Estados Unidos) foi retira<strong>da</strong> de um texto de<br />

Helena Vieira, pessoa trans não binária, colunista <strong>da</strong> revista Fórum. O texto está disponível em:<br />

https://goo.gl/otQYUw

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