Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia

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O homem ou a mulher que confessasse praticar sodomia 12 no século XVI seria
convencido da pecaminosidade deste ato, no caso do homossexual do século
XIX, a ênfase não estava nas ações, mas sim na condição “cientificamente”
determinada do indivíduo. (SPARGO, 2006)
Neste caso, conforme Foucault, quando a “ciência” passa a assumir o protagonismo no
conhecimento sobre a temática, a homossexualidade passa a ser considerada uma espécie de
“androginia interior” e passa a se enquadrar também na primeira das anomalias classificadas
por Foucault (2001). Essa verdade construída no seio do Iluminismo durou muito tempo, tempo
suficiente para a homossexualidade ser tratada até hoje como uma espécie de anomalia, mesmo
que até a medicina tenha assumido que a homossexualidade não é exatamente o que diziam.
Em 1952, por exemplo, a Associação Americana de Psiquiatria publicou, em seu
primeiro “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais”, a homossexualidade 13
como uma confusão mental, mas por falta de provas científicas foi retirada do Manual no ano
de 1973. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia também adotou a mesma posição.
Mas na contramão disso, a Organização Mundial da Saúde incluiu em 1977 a homossexualidade
no CID - a classificação internacional de doenças - como uma doença mental, da qual só foi
retirada em 1990.
Sempre houve alguém - um ou vários homens - para direcionar o que a sociedade deve
saber e o que não deve saber sobre a sexualidade. Para Foucault (2005), o interesse da medicina,
psiquiatria e direito por estudar a temática pode ter surgido, mais uma vez, apenas da intenção
de assegurar o povoamento, reproduzir a força de trabalho e a forma das relações sociais; em
suma, proporcionar uma sexualidade economicamente útil e politicamente conservadora.
Entretanto, ele analisa que este período de forte busca por uma normatização científica
também passa a criar um contra-discurso partindo das classes oprimidas, que assumem a
responsabilidade de falar sobre suas vidas, sexualidades e vivências. Neste sentido, ao mesmo
tempo que a medicina, a psiquiatria, a sexologia e o direito construíram uma categoria de
sujeitos a serem combatidos, também produziram algumas formas de identificação, permitindo
que após tanto tempo de “não existência”, essas pessoas pudessem se organizar em grupos e
construir uma narrativa da própria história.
12
A sodomia era um dos principais pecados para a igreja católica, consiste basicamente no sexo anal praticado
por dois homens ou até mesmo por um homem e uma mulher.
13
Na época o termo empregado era homossexualismo, mas ele caiu em desuso após a retirada da
homossexualidade do CID, pois o sufixo “ismo” remetia a doença, sendo desprezado pelos movimentos sociais.