Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
47<br />
ca<strong>da</strong> um tem que responder a duas perguntas: me sinto amado? Me sinto desejado? Se a<br />
resposta for sim para as duas perguntas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz<br />
respeito, não é <strong>da</strong> minha conta” 42 . Esta é a primeira intervenção <strong>da</strong> psicanalista do que poderia<br />
se tornar uma coletânea de falas em prol do amor livre na TV aberta.<br />
Embora não exista uma única definição aceita universalmente para conceituar o amor<br />
livre, é consenso para os que pensam o assunto o fato de que ele tem muito mais a ver com<br />
questões ideológicas que de fato com as práticas sexuais - mesmo que seja esta a mais divulga<strong>da</strong><br />
diferença entre monogâmicos e não monogâmicos. É a própria liber<strong>da</strong>de que torna o amor livre<br />
indefinível, porque ele é o que ca<strong>da</strong> um deseja que ele seja, diferente dos relacionamentos<br />
monogâmicos, com to<strong>da</strong>s as suas regras - muitas vezes silenciosas - e submissões.<br />
O amor livre é, então, o termo que se usa para falar de relações não-hierárquicas e com<br />
cooperação mútua, onde existe um diálogo franco sobre tudo, inclusive desejos. Neste ponto,<br />
estes relacionamentos marcam sua posição indo <strong>contra</strong> os ideais capitalistas de exclusivi<strong>da</strong>de e<br />
possessivi<strong>da</strong>de e indo <strong>contra</strong> as instituições que possibilitam o controle social dos<br />
relacionamentos: o Estado e principalmente a Igreja, com o sempre fiel apoio <strong>da</strong> <strong>mídia</strong>.<br />
No mesmo programa, agora falando sobre sexo fora do casamento, Regina comenta que<br />
“ain<strong>da</strong> é difícil [para as mulheres], porque esse condicionamento cultural é muito forte, a<br />
gente está numa cultura que diz ‘quem ama não transa com mais ninguém’, então se você<br />
descobre que o seu parceiro ou parceira transou com alguém, você sofre imaginando que você<br />
não é mais ama<strong>da</strong>”, imediatamente Fernan<strong>da</strong> Lima responde: “Claro. Lógico. Ora bolas!”<br />
Um pouco antes, no mesmo episódio, Léo Jaime se manifesta e Fernan<strong>da</strong> responde:<br />
“agora, você dividiria a ‘sua mulher’ igual fatia de pizza, com um monte de gente?” Essas<br />
duas frases revelam que a apresentadora estava completamente avessa à ideia de liber<strong>da</strong>de -<br />
sexual - no casamento.<br />
Em 7 de novembro de 2013, vai ao ar um <strong>Amor</strong> & <strong>Sexo</strong> com a temática “romantismo”<br />
(amor romântico). Mais uma vez, todo o programa é construído a partir <strong>da</strong> ideia de que a<br />
felici<strong>da</strong>de está em en<strong>contra</strong>r um par. No segundo bloco, duas mulheres são recebi<strong>da</strong>s no palco<br />
para falar sobre como é difícil en<strong>contra</strong>r um namorado e sobre ter “dedo podre”. Regina<br />
argumenta que, na ver<strong>da</strong>de, as pessoas são cria<strong>da</strong>s para acreditarem que precisam en<strong>contra</strong>r um<br />
par amoroso e a partir disso elas idealizam terceiros e se frustram com muito mais facili<strong>da</strong>de.<br />
Para Regina, “desejar um par amoroso não tem problema nenhum. O problema é achar que só<br />
42<br />
Transcrições <strong>da</strong>s falas do programa aparecerão, no decorrer do trabalho, em itálico e no corpo do texto, de<br />
modo a distingui-las <strong>da</strong>s citações teóricas.