Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia
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3.2.3 Feminismo e Masculini<strong>da</strong>des<br />
A relação entre o feminismo e a masculini<strong>da</strong>de é muito estreita, poderia se dizer até que<br />
um dos grandes objetivos do primeiro é desconstruir o segundo, permitindo-lhe inclusive a<br />
diversi<strong>da</strong>de proposta pelo termo “masculini<strong>da</strong>des”, no plural. To<strong>da</strong>via, as primeiras tempora<strong>da</strong>s<br />
do <strong>Amor</strong> & <strong>Sexo</strong> não anunciam esta discussão. Uma forma prática de observar isso é voltar à<br />
análise do quadro Strip Quiz, na primeira edição, que mostra que<br />
[...] a representação <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de no programa é, predominantemente,<br />
marca<strong>da</strong> pelo binarismo essencial entre o macho e a fêmea. As diferenças entre<br />
eles são postas de maneira naturaliza<strong>da</strong>, em última instância, de origem<br />
biológica. No jogo do binarismo, as mulheres são trata<strong>da</strong>s como naturalmente<br />
mais “complexas”, “emotivas”, “sentimentais”. Enquanto entende-se que os<br />
homens guiam sua prática sexual pelo instinto, tais como animais. (BARROS<br />
et al, 2011, p.8)<br />
Esta naturalização <strong>da</strong> binarie<strong>da</strong>de entre os gêneros é contesta<strong>da</strong> algumas vezes por<br />
participantes do programa e pela plateia, mas estas manifestações não levam a na<strong>da</strong>.<br />
André Marques invoca o termo “machismo” enquanto participa do programa de 4 de<br />
setembro de 2009. Quando Carmita Abdo diz que a traição para os homens é diferente <strong>da</strong> traição<br />
para as mulheres, argumentando que os primeiros só consideram que traíram quando se<br />
envolveram emocionalmente com alguém, enquanto as mulheres só traem se estão previamente<br />
envolvi<strong>da</strong>s, André responde: “Isso é meio machismo, dizer que a mulher só trai quando gosta<br />
de outro cara ou cansou <strong>da</strong> relação. Eu tenho amiga mulher e amiga bem pra frente […]”.<br />
No mesmo episódio, Fernan<strong>da</strong> Lima pergunta a Giovanna Antonelli, também no quadro<br />
Strip Quiz, se “um tapinha não dói, ver<strong>da</strong>de ou mentira?”, a convi<strong>da</strong><strong>da</strong> responde “pô, ver<strong>da</strong>de.<br />
Imagina, um tapinha colabora”. Neste caso, uma integrante <strong>da</strong> plateia se manifesta para dizer<br />
que acha perigoso afirmar que um tapinha não dói em um país tão machista quanto o Brasil.<br />
Uma Pesquisa realiza<strong>da</strong> pelo Datafolha 43 e encomen<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Fórum Brasileiro de Segurança<br />
Pública, este ano, divulgou que 503 mulheres foram vítimas de agressão física a ca<strong>da</strong> hora no<br />
Brasil em 2016, um <strong>da</strong>do que serve como base para esta inquietação. Outra questão a ser<br />
pensa<strong>da</strong> é que, mesmo se tratando de um fetiche ou uma fantasia, são as mulheres que estão<br />
naturaliza<strong>da</strong>s na posição de subordinação. Em 5 de março de 2012, Fernan<strong>da</strong> Lima entra<br />
novamente nessa questão, desta vez questionando Fiuk. “Todo mundo sabe que um tapinha não<br />
dói, mas a maioria dos homens só gosta de <strong>da</strong>r e não de levar” E ele responde que é ver<strong>da</strong>de.<br />
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