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Amor & Sexo: feminismos, sexualidades e o contra-agendamento da mídia

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um termo estritamente feminino, as trocas de pronome, sem falar na exposição do nome de<br />

registro <strong>da</strong>s entrevista<strong>da</strong>s, que é uma questão bastante desconfortável para boa parte <strong>da</strong>s pessoas<br />

trans.<br />

Por se tratar de uma produção que mostra “os bastidores <strong>da</strong> notícia” - como assinala o<br />

próprio slogan do programa, o Profissão Repórter teve uma grande repercussão negativa depois<br />

de exibir na edição o evidente desconforto <strong>da</strong>s pessoas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a falar, além <strong>da</strong>s falhas no<br />

tratamento já menciona<strong>da</strong>s.<br />

As principais críticas ao programa foram pela forma como os transexuais ou<br />

transgêneros são representados, muitas vezes como seres exóticos. Não é de<br />

hoje que a <strong>mídia</strong> enfrenta problemas nas representações de homossexuais,<br />

bissexuais e transexuais. São vários os motivos para isso acontecer, que vão<br />

desde a identi<strong>da</strong>de do veículo em questão, seu posicionamento em relação a<br />

esse grupo social, a visão <strong>da</strong> maioria de seu público ­alvo e até o<br />

posicionamento do próprio jornalista que realiza a reportagem com o tema.<br />

(MARTINS et al, 2016, p. 11)<br />

Erros como estes, cometidos pela <strong>mídia</strong>, acabam corroborando com atitudes<br />

preconceituosas e isso se torna ain<strong>da</strong> mais grave quando o grupo tratado em questão é tão<br />

marginalizado como é o caso <strong>da</strong>s pessoas transgêneras. Conforme <strong>da</strong>dos do Grupo Gay <strong>da</strong><br />

Bahia, a ca<strong>da</strong> três dias uma pessoa trans morre por ser transexual no Brasil 9 , vítima de<br />

transfobia.<br />

Para que reali<strong>da</strong>des como esta não sejam mais comuns, é necessário que todos os<br />

espaços sejam ocupados com a intenção de debater e diminuir os preconceitos e as<br />

discriminações. Os estudos acadêmicos sobre a comunicação só passaram a comportar<br />

timi<strong>da</strong>mente estudos de gênero na déca<strong>da</strong> de 90. Timi<strong>da</strong>mente mesmo. Conforme Escosteguy<br />

e Messa (2008) entre os anos de 1992 e 1996, 754 teses e dissertações foram apresenta<strong>da</strong>s no<br />

Brasil dentro <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des com pós-graduação em comunicação, destas apenas 12 tratavam<br />

de alguma questão relaciona<strong>da</strong> ao gênero (mulher). Foi entre os anos de 2000 e 2002 que<br />

passaram a surgir trabalhos acadêmicos <strong>da</strong> área com análises <strong>da</strong> representação feminina na<br />

<strong>mídia</strong>. Dos 1665 trabalhos apresentados no período, 35 tinham pesquisas liga<strong>da</strong>s à temática.<br />

Após essa visão panorâmica dos meios, é possível perceber que, ao buscar as<br />

representações de gênero - mulheres, pessoas transexuais e transgêneras, travestis, pessoas não<br />

binárias, entre outras representações de gênero que não sejam cis-homem e de sexuali<strong>da</strong>de não<br />

heterossexuais, busca-se enfrentar um problema muito anterior à falta de representativi<strong>da</strong>de na<br />

<strong>mídia</strong>. Busca-se enfrentar a falta de aceitação social. Como bem coloca Buitoni (2009), “a<br />

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Disponível em: https://grupogay<strong>da</strong>bahia.com.br/assassinatos

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