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Revista Dr Plinio 248

Novembro de 2018

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fosse uma voz de um timbre próprio a<br />

uma cantora, nunca. Tinha uma certa<br />

musicalidade, não de artista, mas psicológica.<br />

O timbre de voz era agradável,<br />

sem ser extraordinário, com qualquer<br />

coisa de psicológico que exprimia<br />

tão bem tudo quanto ela sentia.<br />

A luminosidade de seu olhar<br />

Isso se fazia notar no timbre de voz,<br />

na impostação, e até no português utilizado<br />

por ela. Não um português ornado;<br />

eram as palavras da vida corrente,<br />

mas sem nenhum erro. Frases de uma<br />

construção muito simples, porém inteiramente<br />

corretas; vocabulário fácil.<br />

Mesmo no estado de semilucidez do<br />

fim da vida, nenhuma vez a vi à procura<br />

de uma palavra. Aquilo ia com naturalidade.<br />

Mas ela não se apressava para<br />

contar, não corria, e não amarrava,<br />

ia devagar. Era uma velocidade exatamente<br />

adequada ao que conviria.<br />

No modo afável de tratar as pessoas,<br />

ela era muito amável. Porém,<br />

conservava uma atitude por onde<br />

não era possível faltar-lhe com o respeito.<br />

Nem passava pela cabeça de<br />

alguém desrespeitá-la.<br />

O olhar dela era aveludado, de um<br />

marrom muito escuro que tomava<br />

uma luminosidade conforme o grau de<br />

intensidade com que ela queria caracterizar,<br />

marcar o que ela dizia. Quando<br />

ela estava alegre, era uma luz meiga,<br />

envolvente; quando tomava a coisa<br />

muito a sério, estava impressionada, o<br />

olhar adquiria uma tonalidade de um<br />

escuro carregado, bem definido.<br />

Ao percorrer com o olhar de uma<br />

coisa para outra, fazia-o com um<br />

movimento tão temperante que parecia<br />

com os passos dela: um caminhar<br />

um tanto rápido, mas apesar<br />

disso muito compassado.<br />

Um raio de sol incide sobre<br />

a cruz feita de flores<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

A este respeito me comoveu um<br />

episódio ocorrido por ocasião da<br />

Missa de sétimo dia do falecimento<br />

de mamãe. Quando ela morreu, pedi<br />

a Nossa Senhora que me desse a certeza<br />

de que ela tinha saído do Purgatório.<br />

Porque evidentemente me<br />

atormentava muito a ideia de que<br />

ela pudesse estar sofrendo.<br />

E quando houve o fato daquele raio<br />

de luz que incidiu sobre as orquídeas<br />

que ornavam o centro de uma cruz feita<br />

de flores, o modo pelo qual o raio<br />

de luz, de repente, pôs-se a mover e<br />

saiu, era como se ela saísse de dentro<br />

do meu campo visual, com aquela<br />

ligeireza. Mas era o passo ligeiro e<br />

ao mesmo tempo calmo dela, não um<br />

passo de corridinha vulgar. Era o passo<br />

de uma consciência leve. Podia carregar<br />

qualquer peso, mas não o do pecado,<br />

nem o da raiva, do ódio, da inveja,<br />

essas amarguras assim.<br />

A luz cresceu em intensidade enquanto<br />

incidia sobre a cruz. De maneira<br />

que, em certo momento, aquelas flores<br />

ficaram carregadas de tal intensidade<br />

luminosa, que as orquídeas pareciam<br />

estar iluminadas por dentro. E foi<br />

lentamente se evanescendo, mas com a<br />

suavidade que mamãe punha nas transições<br />

dela. Depois saiu “andando”.<br />

Não creio que se possa falar em milagre,<br />

mas foi um fenômeno onde o sobrenatural<br />

estava patente. Claramente<br />

um sinal. Aliás, propriamente o pedido<br />

que fiz a Nossa Senhora foi o seguinte:<br />

“Eu tenho consciência de ter sido para<br />

com ela muito bom filho. Assim, invoco<br />

minha condição de bom filho para Vos<br />

pedir que me deis um sinal de que ela<br />

não está no Purgatório. Em nome do<br />

bom filho que fui, e o que sei que Vós<br />

apreciáveis, eu Vos peço isso.”<br />

Como aquele raio, por assim dizer,<br />

se perdeu dentro da parede, assim<br />

também Dona Lucilia partiu.<br />

Mas de um modo tão característico<br />

dela, que era um último carinho. v<br />

(Extraído de conferência de<br />

15/4/1989)<br />

1) Quadro a óleo, que muito agradou a<br />

<strong>Dr</strong> . <strong>Plinio</strong>, pintado por um de seus<br />

discípulos, com base nas últimas fotografias<br />

de Dona Lucilia. Cf. <strong>Revista</strong><br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> n. 119, p. 6-9.<br />

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