You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Apóstolo do pulchrum<br />
J.P. castro<br />
Cogitações na linha do<br />
senso do maravilhoso<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> possuía, desde tenra infância, um senso<br />
do maravilhoso tão excelente que, vendo um vasinho<br />
colorido, imaginava uma catedral, as ruas e casas<br />
de uma cidade feitas com o mesmo material, com as<br />
mesmas cores e luminosidades. Muito mais sensível às<br />
cores que às formas, ele cogitava a respeito de universos<br />
possíveis dos quais aquele vasinho era uma amostra.<br />
GEspírito muito mais cromático<br />
do que dado às formas<br />
ostaria de analisar um objeto que, em minha infância,<br />
serviu-me para muitas cogitações na linha<br />
do senso do maravilhoso.<br />
Trata-se de um pequeno vaso que, de si, não tem nada<br />
de extraordinário, nem é de grande valor comercial.<br />
Porém, tem isso de próprio e que me foi muito favorável:<br />
ele visa, em vários pormenores, imitar e reunir pedaços<br />
de estilos que, sob alguns aspectos, apontam para<br />
o admirável.<br />
Seu formato, os desenhos dourados, a base também dourada<br />
que, invertida, dá ideia de uma coroa, tudo isso encaminha<br />
o espírito para uma ideia de objeto maravilhoso.<br />
Para a criança não é tão importante a questão – que<br />
a pessoa se põe depois dos trinta anos, quando começa a<br />
maturar errado –: se o objeto tem ou não o maravilhoso<br />
para o qual tende. Mas a pergunta que a criança se coloca,<br />
ainda que implicitamente, é: Qual o valor do maravilhoso<br />
para o qual aponta?<br />
Então, digamos, um vasinho francamente ordinário –<br />
não como este que é bom –, mas que apontasse melhor<br />
para o maravilhoso, uma criança lhe daria mais valor<br />
do que ao bom. Porque a pergunta não é qual o valor venal,<br />
nem da pura concepção artística, mas para onde vi-<br />
sou, como sendo a primeira qualidade a ser tomada em<br />
consideração.<br />
Assim eu via, em menino, este objeto. Notem que meu<br />
feitio de espírito é muito mais cromático do que dado às<br />
formas. Para mim, mais do que a forma ou a qualidade<br />
do material, este vaso é uma gota de cor, na qual se verifica<br />
a mistura que me é bem-amada: vermelho e branco.<br />
Não assim: uma lista vermelha, uma lista branca, mas<br />
são esbranquiçados de vermelho ou uns avermelhados<br />
de branco, postos de cá, de lá e de acolá.<br />
A matéria da qual ele é composto tem uma certa<br />
transparência a qual permite à luz um certo jogo que se<br />
presta muito para a reprodução desse gênero de cor.<br />
Há aqui uma espécie de teoria da mistura das cores<br />
que me agrada extremamente. As cores podem misturar-<br />
-se até um certo ponto onde uma degenera na outra. Então<br />
já não é uma mistura, mas uma outra coisa. E o passar<br />
por todas as gamas intermediárias dá um valor cromático<br />
ideal muito especial.<br />
Imaginar ruas e casas feitas<br />
com essa matéria<br />
Aprazia-me considerar como seria um mundo no qual<br />
a cor e as luminosidades dominantes fossem essas, onde<br />
as pedras das ruas e os tijolos das casas fossem dessa<br />
matéria, onde os homens, em consequência, não seriam<br />
32