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Revista Dr Plinio 248

Novembro de 2018

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Apóstolo do pulchrum<br />

J.P. castro<br />

Cogitações na linha do<br />

senso do maravilhoso<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> possuía, desde tenra infância, um senso<br />

do maravilhoso tão excelente que, vendo um vasinho<br />

colorido, imaginava uma catedral, as ruas e casas<br />

de uma cidade feitas com o mesmo material, com as<br />

mesmas cores e luminosidades. Muito mais sensível às<br />

cores que às formas, ele cogitava a respeito de universos<br />

possíveis dos quais aquele vasinho era uma amostra.<br />

GEspírito muito mais cromático<br />

do que dado às formas<br />

ostaria de analisar um objeto que, em minha infância,<br />

serviu-me para muitas cogitações na linha<br />

do senso do maravilhoso.<br />

Trata-se de um pequeno vaso que, de si, não tem nada<br />

de extraordinário, nem é de grande valor comercial.<br />

Porém, tem isso de próprio e que me foi muito favorável:<br />

ele visa, em vários pormenores, imitar e reunir pedaços<br />

de estilos que, sob alguns aspectos, apontam para<br />

o admirável.<br />

Seu formato, os desenhos dourados, a base também dourada<br />

que, invertida, dá ideia de uma coroa, tudo isso encaminha<br />

o espírito para uma ideia de objeto maravilhoso.<br />

Para a criança não é tão importante a questão – que<br />

a pessoa se põe depois dos trinta anos, quando começa a<br />

maturar errado –: se o objeto tem ou não o maravilhoso<br />

para o qual tende. Mas a pergunta que a criança se coloca,<br />

ainda que implicitamente, é: Qual o valor do maravilhoso<br />

para o qual aponta?<br />

Então, digamos, um vasinho francamente ordinário –<br />

não como este que é bom –, mas que apontasse melhor<br />

para o maravilhoso, uma criança lhe daria mais valor<br />

do que ao bom. Porque a pergunta não é qual o valor venal,<br />

nem da pura concepção artística, mas para onde vi-<br />

sou, como sendo a primeira qualidade a ser tomada em<br />

consideração.<br />

Assim eu via, em menino, este objeto. Notem que meu<br />

feitio de espírito é muito mais cromático do que dado às<br />

formas. Para mim, mais do que a forma ou a qualidade<br />

do material, este vaso é uma gota de cor, na qual se verifica<br />

a mistura que me é bem-amada: vermelho e branco.<br />

Não assim: uma lista vermelha, uma lista branca, mas<br />

são esbranquiçados de vermelho ou uns avermelhados<br />

de branco, postos de cá, de lá e de acolá.<br />

A matéria da qual ele é composto tem uma certa<br />

transparência a qual permite à luz um certo jogo que se<br />

presta muito para a reprodução desse gênero de cor.<br />

Há aqui uma espécie de teoria da mistura das cores<br />

que me agrada extremamente. As cores podem misturar-<br />

-se até um certo ponto onde uma degenera na outra. Então<br />

já não é uma mistura, mas uma outra coisa. E o passar<br />

por todas as gamas intermediárias dá um valor cromático<br />

ideal muito especial.<br />

Imaginar ruas e casas feitas<br />

com essa matéria<br />

Aprazia-me considerar como seria um mundo no qual<br />

a cor e as luminosidades dominantes fossem essas, onde<br />

as pedras das ruas e os tijolos das casas fossem dessa<br />

matéria, onde os homens, em consequência, não seriam<br />

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