Dona Lucilia Arquivo <strong>Revista</strong> Uma senhora de sociedade inteiramente voltada à devoção 6
Em Dona Lucilia se notava a união da sociedade espiritual com a temporal. Ela era uma senhora de sociedade e não uma freira. Mas de tal modo estava embebida das graças recebidas do Sagrado Coração de Jesus, que ambas as condições se interpenetravam: a de senhora de sociedade e a de uma alma dada completamente à piedade. Em minha infância, no contato contínuo entre mãe e filho, ainda mais um filho naquela tenra idade, eu sentia em Dona Lucilia algo que depois, ao longo da vida, não fez senão confirmar- -se: aquela doçura de um espírito, de uma alma elevada a altas cogitações. Elevação, bondade, perdão sem limites, soledade <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> junto à imagem do Sagrado Coração de Jesus e ao Quadrinho, na sala de visitas de sua residência, em 1984. Não era apenas a doçura de uma pessoa dotada de um bom gênio, bom humor, e que trata as pessoas bem, mas uma coisa muito mais alta do que isso. Era o bom gênio, o humor afável e acolhedor dela, como que penetrado por um raio de luz que tornava a bondade de mamãe tão à maneira da bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que eu percebia perfeitamente ser-lhe dado por Ele, como se tirasse de um sol um raio e dardejasse com ele uma alma. A alma não ficaria com todos os raios daquele sol, mas ela ficava cheia daquele raio que recebeu. Assim, ela nem de longe tinha todas as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo, a não ser em grau que um católico praticante bom deve possuir. Mas havia uma presença de elevação, de tristeza, de bondade, de perdão sem limites, de soledade em torno dela. Uma soledade que não era o vazio. Ela não tinha em torno de si o vácuo, a soledade dela era toda saturada, impregnada pela irradiação de sua bondade. Conhecendo isso nela, eu tinha uma espécie de confirmação tangível de como era no Sagrado Coração de Jesus. E vendo como n’Ele era em grau infinitamente maior, e em mamãe uma coisa semelhante, isso me confirmava também na Fé. Quer dizer, tanto é verdade que Ele é assim que ela, à força de rezar a Ele, ficou com algo disso. De maneira que era uma ação reversível, meio em pêndulo: olhando para as imagens d’Ele, mais de uma vez eu me lembrava dela; e olhando para ela, mais de uma vez eu me recordava d’Ele. Vinha daí uma espécie de querer bem a ela, que era um querer bem a Ele nela. Eu queria imensamente bem a ela, mas a razão principal era porque, olhando-a, nela eu via a discípula d’Ele. É preciso dizer o seguinte: nunca notei nela o menor desejo de imitá-Lo fisicamente, que seria inteiramente insuportável, intolerável. Minha amizade, meu afeto por ela se partiria em estilhaços se eu notasse uma coisa assim. Não era isso, mas propriamente o que a Doutrina Católica nos ensina de uma alma boa, reta, muito sobrenatural, e que recebia esse embebimento d’Ele. Arquivo <strong>Revista</strong> 7