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Revista Dr Plinio 248

Novembro de 2018

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Editorial<br />

Meditação e apostolado<br />

Acivilização contemporânea, por força da vida trepidante imposta pelos meios de diversão<br />

excitantes, mantém o homem numa perpétua agitação e fixa constantemente sua atenção<br />

sobre fatos novos, não raras vezes sensacionais, de uma atualidade candente, porém logo<br />

depois substituídos por outros, numa sucessão atordoante.<br />

Habituado a ocupar-se por esta forma, o homem contemporâneo sofre frequentemente de uma<br />

superexcitação dos sentidos e da imaginação, e de uma atrofia da razão. Molesta-o fixar longamente<br />

a atenção sobre um mesmo objeto. A reflexão calma, lúcida, prolongada parece-lhe fastidiosa. Fixar<br />

a atenção, refletir são operações que implicam na primazia da inteligência sobre os sentidos. E nós<br />

vivemos do contrário: do domínio dos sentidos sobre a inteligência.<br />

Por dissipação, entendem os autores espirituais precisamente este defeito. A alma considera constantemente<br />

o mundo, e nunca entra em si mesma, nunca analisa seu próprio interior. Considerando o mundo<br />

exterior, ela o faz de modo superficial, contentando-se apenas com as aparências e não penetrando jamais<br />

na realidade profunda das coisas, nem remontando delas para um plano de cogitações mais elevado.<br />

O hábito da meditação consiste exatamente no contrário. O homem é capaz de isolar-se, privar<br />

seus sentidos da embriaguez contínua das impressões, das sensações e vibrações, desviar sua atenção<br />

do que é externo, passageiro, superficial, para isolar-se na calma de algum recanto e pensar.<br />

A meditação especificamente religiosa, como no-la apresenta a Santa Igreja, tem um fim bem definido:<br />

considerar as verdades cujo conjunto constitui a Doutrina Católica, vendo a si mesmo e ao<br />

mundo exterior com ordem a essas verdades.<br />

Toda a vida espiritual depende da graça de Deus e da colaboração da vontade humana. Ora, na meditação<br />

é Deus que, pela graça, vai esclarecendo a inteligência e dando vigor à vontade para o conhecimento<br />

e a prática do bem. É, pois, um ato de intimidade da alma com o Divino Espírito Santo, que transcende<br />

a simples meditação natural e a eleva à categoria de um dos atos mais augustos da vida humana.<br />

Esta meditação sobrenatural, di-lo expressamente Nosso Senhor (cf. Mt 11, 25), não é privativa<br />

dos homens de ciência. A história dos Santos prova que muitas vezes as meditações mais profundas<br />

foram feitas por pessoas muito ignorantes no sentido humano da palavra, mas cheias de virtude e de<br />

amor de Deus.<br />

E o apostolado? Não se diria que a meditação inutiliza o homem para a ação? O que é melhor: rezar<br />

ou agir?<br />

A pergunta equivaleria, no terreno espiritual, a esta outra no terreno material: o que deve fazer o<br />

homem, comer ou beber? Evidentemente, é preciso comer e beber, rezar e agir.<br />

A meditação bem feita traz, por consequência, o espírito de apostolado. Os próprios religiosos<br />

contemplativos não escapam a esta regra, pois fazem apostolado, e do melhor. E se um contemplativo<br />

não tem zelo pela salvação das almas, pode-se dizer que sua contemplação é mal feita.<br />

Meditar é exercitar-se no amor a Deus e ao próximo. Como pode alguém ter esse amor e ser indiferente<br />

a que a glória de Deus seja conspurcada a todo momento pelo pecado, e a todo instante as almas<br />

exponham a sua salvação?<br />

Na realidade, ser apóstolo supõe, antes e acima de tudo, meditação. Pois um apostolado sem amor<br />

de Deus e do próximo não tem sentido nem consistência, é mera agitação*.<br />

* Excertos da conferência realizada na sessão solene de encerramento do 1o Congresso das Ordens Carmelitanas<br />

do Brasil em 30/10/1952, e publicada em Mensageiro do Carmelo, novembro-dezembro de 1952, p. 267-269.<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

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