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Apóstolo do pulchrum<br />
que fabricasse uma catedral desse material e a colocasse<br />
num panorama estudado para combinar com isso.<br />
O fato é que o vitral se fez sem a grande indústria. E<br />
nós poderíamos imaginar, com a evolução da indústria<br />
dos vitrais, igrejas todas feitas de vidro. De maneira que<br />
seria possível ir longe.<br />
Ademais, golpeado com jeito, esse material emite um<br />
som bonito. Imaginem uma igreja que seja o sino de si<br />
mesma, onde o toque não se dá no campanário, mas na<br />
parede da própria torre! Torres que vibram elas próprias<br />
como se fossem badalos postos no ar, de maneira a fazer<br />
corresponder em som a cor contemplada pelo olhar.<br />
É preciso dizer que fiquei com inúmeros mundos assim<br />
possíveis inacabados na mente. Sobretudo cores que eu vi<br />
de cá, de lá, de acolá, e que davam margem a imaginar<br />
universos possíveis dos quais esse vasinho era uma amostra.<br />
Creio que a matriz da inspiração artística é essa.<br />
Um perigo contra o qual é necessário precaver-se: um<br />
mundo vivido assim é tal que não se compreenderia dentro<br />
dele a dor e nem sequer a prova. Quer dizer, se imaginássemos<br />
um mundo de criaturas assim e que Deus resolveu<br />
impor a prova para elas, teríamos um suspense<br />
como se víssemos o Criador traindo a sua própria obra.<br />
Há uma dificuldade em instalar dentro disso a ideia de<br />
prova como, por exemplo, em compreender que Deus tenha<br />
permitido a entrada da serpente no Paraíso.<br />
O mais interessante é que só depois de ter passado pela<br />
prova compreendemos que tudo isso só toma sua perfeição<br />
para quem passou pela prova. Somente quando isso<br />
recebeu a trombada do oposto e se afirmou, é que propriamente<br />
justificou a sua existência.<br />
Donde poderia vir uma objeção: “Então o mal é necessário?”<br />
Não, o mal não é necessário, mas a prova é. Essas maravilhas<br />
devem existir em ordem de batalha contra o que<br />
as quer destruir. É nesta postura de ordem de batalha<br />
que elas adquirem uma espécie de plenitude de consistência<br />
que lhes dá força e dignidade.<br />
Um modo de relacionar-se<br />
próprio à visão beatífica<br />
Entra, então, um aspecto que à primeira vista não se<br />
imaginaria: um cavaleiro cuja armadura fosse feita deste<br />
material, mas inquebrantável, trazendo o próprio<br />
símbolo da delicadeza e do feérico na batalha mais feroz.<br />
Na Chanson de Roland, as despedidas entre Olivier e<br />
Roland dão ideia disso. Os dois iam morrer, encontravam-se<br />
numa situação em que estavam liquidados. Entretanto,<br />
a ternura com a qual ambos se tratam é enorme.<br />
Ouvi dizer, não sei se é verdade, que hoje em dia se tiram<br />
fotografias por onde se percebe a cor de certos corpos<br />
celestes, nos quais se vê reinar um colorido diferente<br />
do existente aqui na Terra.<br />
Poder-se-ia imaginar um mundo para o qual o colorido<br />
desse vasinho fosse como a luz do dia para nós, onde<br />
todas as pessoas se tratassem como o vermelho e o branco<br />
se “tratam” aqui, e que no interior de cada pessoa –<br />
não só fisicamente, mas moralmente – a luz brincasse<br />
como brinca neste objeto.<br />
Essas pessoas se compreenderiam e teriam uma espécie<br />
de avidez de se entenderem, uma necessidade de mútuo<br />
entendimento cordial superabundante, por onde se<br />
uniriam umas às outras numa perpétua troca de alegria<br />
com a “surpresa”, na consideração de que a outra existe.<br />
De maneira tal que indo à rua não se encontraria uma<br />
multidão de anônimos, mas de boas surpresas: “Oh,<br />
existe também este, aquele...!” As pessoas, sem se conhecerem,<br />
parariam, se saudariam e se alegrariam neste<br />
diapasão. E haveria, por assim dizer, um perpétuo sorriso<br />
de encantamento, um perene cântico e uma espécie de<br />
perpétua dança das pessoas se encontrando, se falando.<br />
O Céu deve ser assim.<br />
A questão é que existe um mundo de outras coisas que<br />
se prestam a considerações como estas. O objeto aqui<br />
analisado é uma gotícula que ocupou, nas minhas cogitações<br />
de criança, um pequeno espaço. Os jades, as porcelanas<br />
chinesas, os cristais da Boêmia, os esmaltes, os<br />
ônix, as mil coisas preciosas que há, exprimem uma ordem<br />
natural, filosófica, quiçá metafísica. Acenam para<br />
uma superior natureza, mas estão inteiramente dentro<br />
da nossa ordem natural. O sobrenatural está fora e acima.<br />
Não é inimigo; ao contrário, é amigo, bafeja, abençoa,<br />
mas se encontra diretamente acima.<br />
Para considerar como isso se instalaria na ordem sobrenatural,<br />
teríamos que imaginar como um objeto desses<br />
caberia na gruta de Belém, na noite de Natal.<br />
A ordem natural transposta<br />
para a clave sobrenatural<br />
Poder-se-ia fazer uma distinção entre a natureza do<br />
Céu empíreo, que ainda está na linha do natural, e a do<br />
metafísico. Aquilo que em nós é puramente espiritual<br />
enquanto contempla o que nos outros é também espírito;<br />
e, depois, o que em nós é espírito e contempla a Deus,<br />
portanto a essência divina, infinitamente acima de nós.<br />
São coisas inteiramente diferentes.<br />
Mas tudo isso, que seria uma contemplação árdua, difícil,<br />
pode-se resumir e acompanhar muito melhor, considerando<br />
a união das naturezas humana e divina em<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele encontramos todas as<br />
belezas e excelências possíveis da ordem natural transpostas<br />
para a clave sobrenatural.<br />
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