REVISTA UNICAPHOTO ED. 12
Revista do curso de fotografia da Unicap
Revista do curso de fotografia da Unicap
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Priscilla Buhr trabalha com<br />
fotografia desde 2005, é<br />
recifense, mãe e feminista.<br />
Desenvolve um trabalho de<br />
fotografia voltado pro universo<br />
das “narrativas visuais e<br />
motivadas pela compreensão<br />
e reconstrução do passado e<br />
por trajetos emocionais da<br />
mulher”, segundo informa<br />
no site www.priscillabuhr.<br />
com.br. Esta entrevista<br />
fez parte de uma pesquisa<br />
desenvolvida para a disciplina<br />
Processos Criativos \e Gestão<br />
de Projetos em Fotografia e<br />
Audiovisual, da pós-graduação<br />
As Narrativas Contemporâneas<br />
da Fotografia e do Audiovisual,<br />
da Universidade Católica de<br />
Pernambuco, ministrada por<br />
Carol Monteiro, com o objetivo<br />
de investigar os processos do<br />
ser/tornar-se artista e como se<br />
dá a viabilização e visibilidade<br />
da produção artística<br />
contemporânea.<br />
<strong>UNICAPHOTO</strong> Pra você, o que é<br />
arte contemporânea?<br />
Arte contemporânea tem<br />
uma definição tão fluida.<br />
Tem muita discussão sobre<br />
o que é arte contemporânea,<br />
principalmente sobre o que<br />
é fotografia contemporânea.<br />
Acredito que seja mais do que<br />
um estilo, que seja uma forma<br />
de processo de criação, mais<br />
aberto, que envolve vários tipos<br />
de suportes, de plataformas,<br />
de matéria-prima. Não é<br />
uma fotografia que tem uma<br />
definição clara. Às vezes me<br />
perguntam: “S trabalho tá em<br />
que linha? Você é fotojornalista?<br />
É documentarista? É artista<br />
contemporânea?”. E fico, às<br />
vezes, sem saber responder<br />
justamente porque arte<br />
contemporânea caminha<br />
por tudo. A gente pode fazer<br />
um trabalho, de certa forma,<br />
documental e usar elementos<br />
de outros suportes de arte;<br />
usar pintura, usar colagem,<br />
não deixa o trabalho dentro<br />
da fotografia documental<br />
ou do fotojornalismo. A arte<br />
contemporânea é uma caixa<br />
aberta, acredito muito nisso,<br />
não cabe uma classificação<br />
fechada. E, talvez isso tenha<br />
me encantado bastante na<br />
arte contemporânea e na<br />
fotografia contemporânea<br />
especificamente: essa liberdade.<br />
Essa possibilidade de ser várias<br />
coisas, de caminhar por vários<br />
espaços, de experimentar.<br />
Essa possibilidade de<br />
experimentação é o que me<br />
encanta.<br />
<strong>UNICAPHOTO</strong> Qual foi o divisor<br />
de águas para você se reconhecer<br />
enquanto artista?<br />
Sempre tive um medo de me<br />
dizer artista. Sempre falei<br />
que era fotógrafa. Até quando<br />
deixei a fotografia mais formal,<br />
o fotojornalismo, continuei<br />
me chamando de fotógrafa.<br />
E já estava fazendo arte, já<br />
estava sendo artista. Mas me<br />
assumir artista foi uma coisa<br />
mais recente, foi agora, depois<br />
de ter sido mãe, em 2016. E,<br />
de certa forma, começaram<br />
algumas cobranças, enquanto<br />
estava grávida. As pessoas<br />
perguntavam se iria deixar<br />
de ser fotógrafa porque ia ser<br />
mãe e logo depois que m filho<br />
nasc as mesmas perguntas:<br />
“E aí, deixou a fotografia?”.<br />
E comecei a perceber que<br />
não era uma questão deixar<br />
porque não tinha como deixar<br />
de ser. E percebi que não era<br />
só fotografia como um ofício<br />
e sim uma arte, e isso foi uma<br />
libertação. Porque achava que<br />
poderia ser prepotente, poderia<br />
parecer que estava querendo<br />
subir num pedestal e dizer: “ sou<br />
artista”. Na verdade, foi uma<br />
libertação quando consegui<br />
parar e me perceber artista,<br />
foi uma libertação de muitas<br />
amarras, de muitas cobranças,<br />
de muita angústia de ter que<br />
estar nos lugares, de ter que<br />
participar de festivais, de ter<br />
que estar produzindo o tempo<br />
inteiro. Percebi que artista<br />
não é máquina, que artista<br />
tem o s tempo de processo,<br />
não só de produção, mas de<br />
maturação daquilo e, enfim,<br />
cada artista tem sua forma de<br />
lidar com esses processos. O<br />
que é completamente diferente<br />
de um fotógrafo de jornal ou<br />
de uma agência. O ritmo é<br />
outro, a forma é outra. E, na<br />
verdade, sempre fui assim,<br />
desde que saí da faculdade e<br />
comecei a fotografar. Quando<br />
me percebi fotógrafa de fato,<br />
já tinha esse outro ritmo, já<br />
tinha essa outra forma de olhar<br />
para o m trabalho autoral e me<br />
perceber artista foi me perceber<br />
livre desses prazos, dessas<br />
obrigações, dessa metodologia<br />
que se tem dentro da fotografia<br />
como ofício. Foi um momento<br />
que tive que parar e repensar<br />
tudo, e colocar numa balança,<br />
colocar tudo em perspectiva e<br />
comecei a perceber que, de fato,<br />
era uma artista e que não tinha<br />
essa prepotência, esse peso que<br />
achava que tinha em se dizer<br />
artista.<br />
<strong>UNICAPHOTO</strong><br />
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