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REVISTA UNICAPHOTO ED. 12

Revista do curso de fotografia da Unicap

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O registro<br />

fotográfico de<br />

Marc Ferrez no<br />

Porto do Recife<br />

TEXTO Renata Victor<br />

O primeiro registro fotográfico do mundo (ver<br />

foto01), de autoria do francês Joseph Nicéphore<br />

Niépce, é datado de 1826. Foram necessárias<br />

oito horas de exposição à luz para captura e o<br />

autor denominou o seu processo de captura da<br />

imagem de heliografia. Não podemos, contudo,<br />

dizer que ele seja o único pai da fotografia, pois<br />

houve vários outros que contribuíram para o<br />

aperfeiçoamento do mesmo feito, como Louis<br />

Jacques Mandé Daguerre, Antoine Hercule<br />

Romuald Florence, Hyppolite Bayard, William<br />

Talbot e Frederick Herschel, George Eastman,<br />

entre outros. A maior parte deles era desenhista,<br />

pelo que comungavam do desejo de descoberta<br />

de técnicas reprográficas que facilitassem o seu<br />

ofício.<br />

O processo químico fotográfico passou por três<br />

momentos importantes para a sua evolução: a<br />

utilização do colódio úmido, gelatina-bromuro<br />

e a criação da primeira câmara portátil (criada<br />

por George Eastman, fundador da Kodak, 1888).<br />

O governo francês só reconheceu a invenção da<br />

fotografia (guerreótipo), em 19 de agosto de 1839,<br />

quando deu a patente para pintor francês Louis<br />

Daguerre (1787-1851).<br />

No contexto brasileiro, a notícia da descoberta<br />

do chegou à corte brasileira em janeiro de 1840,<br />

anunciada pelo “Jornal do Commercio”. A<br />

fotografia foi introduzida por aqui em 1840. A<br />

França, orgulhosa da sua descoberta científica<br />

e artística, enviou a corveta L’Orientale, um<br />

navio-escola comandado pelo capitão Lucas,<br />

para apresentar ao mundo o daguerreótipo. O<br />

capelão francês Louis Compte foi o responsável<br />

por revelar “a máquina que aprisionava a luz e<br />

que fixava as pessoas e as coisas em miniaturas<br />

tão perfeitas como a natureza as havia criado, a<br />

daguerreotipia, ou por outra, a fotografia”, nos<br />

dizeres de Gilberto Ferrez, no seu livro Velhas<br />

Fotografias Pernambucanas, 1851-1890.<br />

A corveta chegou ao Brasil Império em 1840,<br />

quando D. Pedro II acabara de ser nomeado<br />

imperador, aos 14 anos. O capelão Compte, no<br />

Rio de Janeiro, foi recebido pelo imperador, no<br />

palácio de São Cristóvão, e fez demonstração do<br />

daguerreótipo para a família imperial.<br />

O entusiasmo pela experiência levou o<br />

imperador a adquirir uma máquina por 250 mil<br />

réis na loja do importador Felício Luzaghy.<br />

Na prática doméstica, D. Pedro II foi o primeiro<br />

brasileiro a usar o processo e, possivelmente, o<br />

primeiro imperador do mundo. No entanto, D.<br />

Pedro II não era apenas admirador e colecionador<br />

de fotos. O incentivo à técnica e seu gosto pela<br />

arte levaram ministros e conselheiros da Corte<br />

a criar estratégias econômicas, utilizando<br />

a fotografia como propaganda do país. No<br />

exterior, as demonstrações foram efetuadas<br />

nas exposições de Paris, Londres, Amsterdã<br />

e Antuérpia, que mostravam a evolução da<br />

indústria e da economia.<br />

Enquanto a imagem de nossas reservas minerais<br />

e vegetais se propunham a atrair a mão-de-obra<br />

e o capital europeus, a fotografia e seus métodos<br />

de impressão faziam sucesso, revelando a<br />

qualidade dos artistas brasileiros.<br />

Ao referenciar o Nordeste brasileiro, sobretudo,<br />

no Recife, não se sabe ao certo quando o<br />

daguerreótipo chegou, mas há indícios de que<br />

foi entre os anos de 1841 e 1842. O que se pode<br />

afirmar, com base no relatório apresentado ao<br />

Governo pela Comissão Diretora da Exposição<br />

de Pernambuco, de 1866, é que:<br />

“O aparecimento do daguerreótipo em<br />

Pernambuco sucedeu em poucos anos à sua<br />

maravilhosa descoberta no velho continente.<br />

Foi em 1841 ou em 1842 que as primeiras<br />

imagens daguerreotipanas foram produzidas<br />

na província quando então a arte se podia dizer<br />

na infância estava ainda cercada de sensíveis<br />

imperfeições. Diversos estabelecimentos desta<br />

arte se têm fundado em Pernambuco: desde o<br />

iniciador da indústria que foi um francês...”.<br />

O informante não revelou o nome do tal<br />

precursor, mas esta lacuna foi preenchida por<br />

Pereira da Costa, em Anais pernambucanos.<br />

Como afirma Costa, tratava-se do americano J.<br />

Evans, que, vindo do Rio de Janeiro, abriu estúdio<br />

fotográfico no Recife, no primeiro andar da rua<br />

Nova, 14, em fevereiro de 1843. Daí por diante,<br />

não pararam de chegar ao Recife fotógrafos<br />

itinerantes que colocavam anúncios nos jornais<br />

do seu trabalho com sistema fotográfico mais<br />

atualizado do momento. A fotografia tida como<br />

a mais antiga do Recife (ver foto 02), foi tirada do<br />

alto do farol, na entrada do porto, por Charles<br />

de Forest Fredrichs, 1851.<br />

Marc Ferrez - o fotógrafo<br />

da iconográfica brasileira.<br />

Dentre os fotógrafos que realizaram produções<br />

brasileiras, destaca-se Marc Ferrez. Ele nasceu<br />

no Rio de Janeiro, no dia 7 de dezembro de 1843, e<br />

desde cedo teve contato com o universo artístico,<br />

através de seu pai, Zeferino Ferrez, (membro da<br />

Missão Artística Francesa e importante gravador<br />

e empresário da época). Após o falecimento de<br />

seu pai, no dia 22 de julho de 1851, vítima de uma<br />

doença que sacrificou também alguns escravos<br />

e animais domésticos de sua propriedade, na<br />

fábrica de papel em Andaraí Pequeno, o jovem<br />

Ferrez foi enviado à França, onde recebeu os<br />

cuidados de um escultor amigo, Alpheé Dubois,<br />

e de sua mulher. A data de seu retorno ao Brasil,<br />

segundo seu neto Gilberto Ferrez (1997), continua<br />

incerta, presumindo-se que haja acontecido por<br />

volta dos dezesseis anos de idade, provavelmente<br />

no ano de 1859.<br />

Chegando ao Brasil, Ferrez trabalhou na Casa<br />

Leuzinger (referência em impressões e artes<br />

gráficas), onde conviveu com expressivos nomes<br />

da fotografia e recebeu as primeiras lições do<br />

ofício com o fotógrafo alemão Franz Keller. Em<br />

1867, Ferrez resolveu abrir sua própria empresa,<br />

Marc Ferrez & Cia, na Rua de São José, número<br />

96. Marc Ferrez prestou serviços à Marinha<br />

durante a Guerra do Paraguai, documentando,<br />

no Rio de Janeiro, a fabricação das embarcações<br />

que navegariam nos rios Prata, Paraguai e<br />

Paraná após 1868. No dia 10 de julho de 1870,<br />

em comemoração ao fim da disputa, o fotógrafo<br />

registrou os festejos públicos no Templo da<br />

Vitória, erguido no campo da Aclamação. No<br />

ano de 1872, recebeu o título de “Photografo da<br />

Marinha Imperial”. Ferrez, nesse momento, se<br />

tornava um dos mais conhecidos e respeitados<br />

fotógrafos da capital carioca, recebendo<br />

inúmeras encomendas para a documentação de<br />

edifícios públicos, exposições de arte e ciência e<br />

festejos públicos. Porém, no dia 18 de novembro<br />

de 1873, o prédio no qual possuía o seu ateliê<br />

sofreu um incêndio, a perda de centenas<br />

de chapas e negativos originais, segundo a<br />

historiadora Barros (2004), deixou o fotógrafo<br />

em uma delicada situação financeira. A notícia<br />

do incêndio, no dia seguinte ao ocorrido, foi<br />

divulgada em dois grandes órgãos da imprensa<br />

da época, o Jornal do Commercio e o Diário<br />

do Rio de Janeiro. Após o desastroso acidente,<br />

Ferrez pediu empréstimo ao seu amigo Julio<br />

Cláudio Chaigneau, “um dos mais conhecidos<br />

<strong>UNICAPHOTO</strong><br />

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