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REVISTA UNICAPHOTO ED. 12

Revista do curso de fotografia da Unicap

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REPORTAGEM<br />

“A imagem fotográfica fornece provas, indícios, funciona sempre como documento iconográfico<br />

acerca de uma dada realidade” (Boris Kossoy)<br />

Brasiliana Fotográfica. Ponte do Recife. Lamberg, Moritz -1880 - 1885.<br />

Fotografia,<br />

intervenção<br />

e narrativa<br />

considerações acerca da utilização de fontes primárias para a<br />

escrita da história na atualidade<br />

TEXTO Braz Pereira Alves Neto<br />

Fotografia e documentação<br />

A história, como disciplina autônoma teve seu galardão em fins do século XIX, época em que<br />

o Positivismo direcionava o historiador a privilegiar documento escrito, sobretudo o oficial. Assim,<br />

esse tipo de documento assumia o peso de prova histórica e, de certa forma, falava por si mesmo:<br />

A valorização do documento como garantia da objetividade, excluía a noção de intencionalidade<br />

contida na ação do historiador.<br />

A partir do segundo quartel do século XX, ampliou-se a noção de documento com o surgimento<br />

de outra concepção de história, proposta pela Escola dos Annales. Conforme os partidários dessa<br />

concepção a história se dava a partir das ações dos homens, e por consequência ao documento<br />

escrito foram incorporados elementos diversos, tais como objetos, signos, paisagens etc. A relação<br />

do historiador com o documento também se modifica: A intencionalidade já passa a ser alvo<br />

de preocupação por parte do historiador, num duplo sentido: a intenção do agente histórico<br />

presente no documento e a intenção do pesquisador ao se acercar desse documento Nessa prática,<br />

progressivamente, o ponto de partida da investigação passa do documento para o problema,<br />

esquemas são valorizados- como, por exemplo, a corrente marxista. Destaquemos que a partir dos<br />

anos 1960, muitos historiadores colocaram na técnica o critério de objetividade para a construção<br />

histórica.<br />

Na transição do século XX para o XXI, buscou-se pensar a história por vias distintas de esquemas<br />

e ortodoxias. O documento figura como “expressão da experiência humana”, a preocupação com<br />

o cotidiano toma corpo, e eis que o historiador se depara com a contingência de diversificar os<br />

materiais utilizados na investigação, incorporando novas linguagens - literatura, relatos, cinema,<br />

teatro, música, pintura, fotos, etc.” e com o desafio, de colocar essas linguagens como elementos<br />

constitutivos de realidades sociais.<br />

Destaquemos que com a “revolução documental” houve uma nova posição para a fotografia, ou<br />

melhor, para o agora documento fotográfico. Assim, um novo panorama se delineou no ambiente<br />

acadêmico no Brasil: verificamos, por exemplo, um aumento significativo do interesse pelas<br />

fontes fotográficas iniciada na década de 1990 – 73 trabalhos publicados. Número significativo se<br />

comparado aos <strong>12</strong> da década anterior e aos 4 dos anos setenta.<br />

Intervenção e contexto<br />

Conforme, o historiador Marcelo Rede dentre os que se ocupam com a produção historiográfica<br />

na atualidade, há larga aceitação, que o documento deve sua existência à intervenção do historiador.<br />

O autor supracitado traz à tona Meneses que propõe um procedimento metodológico<br />

elementar a qualquer documento, isto é, a qualquer suporte de informação, seja ele, material ou<br />

textual, oral ou iconográfico, denominado ‘desdocumentalização’, onde por intermédio de um ato<br />

intelectual, se imaginaria um objeto reinserido em seu contexto, para poder se explicar seu papel<br />

histórico e suas interações com os homens, ou seja, um tipo de inversão que permitiria ir de um<br />

documento descontextualizado (ou melhor, inserido em outros contextos: o museu, o arquivo, etc.)<br />

ao objeto em seu contexto (ou sucessão deles). Tal procedimento possibilitaria ao historiador criar<br />

estratégias para responder as suas indagações e dar início a uma narrativa apropriada. Rede ainda<br />

aponta a atualidade do método proposto por Meneses e reitera que a fonte documental pode trazer<br />

intrinsecamente características de ambiguidade cuja percepção depende de variantes subjetivas e<br />

culturais, assim, o objeto deve ser alvo de depurações para o avanço de um processo cognitivo.<br />

Independente das particularidades do método que seja utilizado, conforme é do métier<br />

do historiador, elaborar o exercício de se interrogar sobre a lógica interna do documento, sua<br />

<strong>UNICAPHOTO</strong><br />

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