REVISTA UNICAPHOTO ED. 12
Revista do curso de fotografia da Unicap
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REPORTAGEM<br />
O tempo e<br />
o lugar<br />
da imagem<br />
TEXTO Catarina Andrade<br />
FOTOS Márcia Larangeiras<br />
Uma fotografia, antes de mais<br />
nada, é uma imagem. Uma<br />
imagem de tempo e de espaço, e<br />
que percorre tempos e espaços.<br />
Um fotógrafo é alguém que<br />
esteve naquele tempo – o do<br />
instante da elaboração da imagem – e naquele lugar – inscrito<br />
visualmente na imagem. Mas sempre me pergunto: Como nasce<br />
uma imagem fotográfica? Onde? Quando? Parece uma pergunta<br />
ingênua. Sim. E, de certo modo, é. Contudo, não se responde<br />
facilmente, muito menos, de forma precisa.<br />
Vi(s)agem entre duas cidades parece ser fruto dessa atividade de<br />
fazer nascer imagens. Não determinando um onde e um quando,<br />
mas possibilitando o onde e o quando a partir dos atravessamentos<br />
de olhares entre fotógrafo, imagem, espectador. Márcia percorreu<br />
esses lugares, captou suas imagens, inscreveu nas fotografias<br />
um tempo e um espaço. Entre os anos de 2014 e 2018, registrou<br />
Maputo e Recife, suas gentes, suas arquiteturas, suas formas<br />
de convívio, suas cores. Porém, as imagens parecem ter nascido<br />
depois. As fotografias que estão neste foto-livro nascem do desejo<br />
da fotógrafa de narrar. A partir de sua errância, seu arruar, nas<br />
cidades de Maputo e Recife (e em ambas fez moradia, ou seja,<br />
estabeleceu uma forma de olhar que, certamente, se distingue do<br />
arruar do turista), Márcia faz confluir tempos e espaços, faz nascer<br />
uma imagem que não está mais fixa visual e temporalmente. Não<br />
olhamos para essas fotografias e nos interrogamos sobre o tempo,<br />
pois elas serão o nosso agora, elas (re)nascerão no nosso olhar de<br />
espectador. Tampouco elas se fixam em Maputo ou em Recife,<br />
uma vez que são capazes de nos levar para outros espaços, reais ou imaginários, conhecidos ou<br />
desconhecidos. Maputo e Recife coincidem em diversos momentos da narrativa criada por Márcia<br />
nesta seleção de fotografias.<br />
A narradora (ou seria a fotógrafa?) nos convida a criar um caminho, um trajeto, nosso, a partir<br />
desses vestígios fotográficos com os quais nos regala. Essas imagens nos libertam o olhar ao passo<br />
que elas nos olham e nos fazem refletir: O que essas fotografias esperam de mim como espectador?<br />
Eu penso que uma fotografia não espera nada do espectador. Na verdade, acredito que nenhuma<br />
arte espera algo do espectador, nós é que pensamos sobre isso porque esperamos muito das coisas<br />
e porque sempre buscamos dar sentido às coisas do mundo por “esperar algo de”. Uma fotografia<br />
está ali, apenas possibilitando um encontro – ou encontros, já que quando as olhamos novamente,<br />
possivelmente elas já nos “dizem” outras coisas – e, de um encontro, nunca saímos da mesma forma<br />
que chegamos.<br />
Enfim, coube a mim apresentar essa narrativa dos fluxos em duas cidades proposta por Márcia, mas<br />
creio que tudo o que eu consegui expressar aqui tenha sido muito pouco em comparação aos tempos<br />
e lugares que essas fotografias me levaram e, com certeza, ainda me levarão sempre que retomálas.<br />
Sei que é difícil entrar num barco e se deixar levar pelo rio, mas você pode remar também e<br />
escolher por onde e como seguir os fluxos. Às margens, Márcia nos convida deixar nossos vestígios<br />
dessa aventura.<br />
Boa vi(s)agem!<br />
<strong>UNICAPHOTO</strong><br />
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