RCIA - EDIÇÃO 168 - JULHO 19
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Penha e Baiano Faito<br />
gum, numa curva que antecedia uma<br />
distância média de alta velocidade,<br />
vim fazendo o balé que imitava os<br />
grandes pilotos, a redução firme de<br />
marchas e freios muito fortes, corpo<br />
fora da motocicleta em pêndulo abusado<br />
e roda traseira que foi se desgarrando<br />
no asfalto me levando ao chão,<br />
carregando comigo o carburador diferenciado,<br />
instalado lateralmente, que<br />
na queda se desprendeu do bloco do<br />
motor, pondo fim de prova para mim,<br />
encerrando ali meu sonho de vitória.<br />
No ano seguinte, já em <strong>19</strong>75, vitima<br />
de outro acidente ainda mais grave,<br />
não vim mais para correr, e sim<br />
humildemente para aprender, pois<br />
nutria ainda as esperanças de algum<br />
dia voltar a pilotar, só assistindo e em<br />
um circuito novo, diferente daquele<br />
ao redor da Igreja de São Benedito,<br />
das versões anteriores.<br />
Nesta hora tive uma das maiores<br />
lições de humildade, própria dos<br />
grandes campeões. Acompanhando<br />
Penha (José da Penha Moreira), bicampeão<br />
Paulista da categoria e por<br />
sua sugestão, fizemos uma volta de<br />
reconhecimento da pista, fazendo<br />
uma caminhada de observação no<br />
que me sugeriu de limparmos um<br />
pequeno trecho, situação que nunca,<br />
nos melhores sonhos teria imaginado,<br />
de acompanhar um campeão com<br />
uma vassoura limpando uma área de<br />
escape. Sua observação para mim foi<br />
de que, na primeira volta, com certeza<br />
muitos pilotos chegariam juntos<br />
naquele local e era preventivo pensar<br />
em uma saída diferente de todos.<br />
Caminhamos lentamente até aquela<br />
esquina e de posse de uma vassoura<br />
para cada um, de forma paciente,<br />
varremos aquele cantinho inóspito.<br />
– “Se precisar é aqui que vou passar<br />
na hora do aperto”.<br />
Penha de complexão física muito<br />
leve, mecânico perfeccionista<br />
extraordinário que era, tinha em sua<br />
motocicleta um motor muito potente<br />
e ajustado, com muitas e muitas horas<br />
de trabalho e aperfeiçoamento,<br />
conseguindo com isso uma maravilhosa<br />
retomada de curva e manutenção<br />
de bom ritmo de corrida, pois<br />
sua italianinha Mondial era cercada<br />
de todos os detalhes, com o motor<br />
trabalhando sempre muito bem tanto<br />
em baixa como em alta rotação. A<br />
mesma possuía também carenagem,<br />
Diogo Faito<br />
o que lhe proporcionava quebrando o<br />
vento frontal, alguns Km a mais em<br />
velocidade final. Suspensão traseira<br />
redesenhada com amortecedores<br />
hidráulicos e de molas e ainda freio<br />
duplo dianteiro, recurso por demais<br />
apreciado aos grandes pilotos em<br />
suas estratégias vitoriosas, o que<br />
lhe dava o favoritismo para vencer a<br />
prova.<br />
Na caminhada a pé, um repórter<br />
esportivo local lhe perguntou: -<br />
“Como pensa vencer aqui?” e ele na<br />
sua santa ingenuidade respondeu:<br />
- “Correndo devagar”, o que foi motivo<br />
de chacota do entrevistador, que<br />
imediatamente retirou o microfone<br />
da direção de sua boca e foi embora<br />
sarcasticamente. A expressão “Correr<br />
devagar”, que eu só vim a entender<br />
com o tempo, significava para ele nas<br />
primeiras voltas, ter calma, paciência,<br />
não se arriscar tanto e nem à toa, esperando<br />
para ver como ia ser o ritmo<br />
da prova e depois focar no que realmente<br />
interessava.<br />
Terminada a prova com mais uma<br />
brilhante vitória sua, entre abraços e<br />
comemorações de todos nós, fomos<br />
novamente interrompidos pelo repórter,<br />
que agitado perguntou: -“Como é<br />
vencer aqui?” -“Correndo devagar....<br />
Correndo devagar.... Correndo devagar...<br />
seu babaca.” e risos para todos<br />
os lados.<br />
Velhos Tempos Belos Dias<br />
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