RCIA - ED. 136 - NOVEMBRO 2016
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Tios de Paulo de Freitas: Júlio, Mário, Abel (pai), Ernesto José de Freitas, Arlindo,<br />
Elisa e Zulmira<br />
Última reunião da família Freitas<br />
Andrada. Teve 10 filhos: Júlio de Freitas<br />
Filho, Maria, Abel (meu pai), Isabel, Ernesto,<br />
Mário, Elisa, José, Arlindo e Zulmira.<br />
Segundo meu tio José de Freitas<br />
(Zeca) os moradores mais antigos de<br />
Bueno, que se tem notícias foi a família<br />
Cruz. Antes de abrir a empresa de<br />
ônibus em Araraquara, possuíam uma<br />
área bem extensa circunvizinha da vila.<br />
Esta área foi vendida para a Estrada de<br />
Ferro Araraquara, o antigo horto florestal,<br />
que se transformou em assentamento<br />
da reforma agrária atualmente.<br />
Posteriormente vieram as famílias Freitas,<br />
Trovati, Farias, Ferreira, Aranha,<br />
Barbosa e outras. Meu avô juntamente<br />
com essas famílias foram os primeiros<br />
habitantes de Bueno de Andrada, que<br />
na época se chamava Ibitirí.<br />
Ibitirí era então um pequeno povoado<br />
constituído pelas primeiras casas.<br />
Com o passar do tempo foi mudado o<br />
nome da vila para Itaquerê, e finalmente<br />
para Bueno de Andrada, em definitivo.<br />
O nome foi dado em homenagem à<br />
um engenheiro da estrada de ferro que<br />
estava sendo construída.<br />
O meu avô Júlio de Freitas foi um<br />
precursor exponencial na origem de<br />
Bueno. Ele deu sua contribuição histórica<br />
para a Vila. Montou um comércio<br />
forte em gêneros alimentícios. Fornecia<br />
todas as fazendas da região. A economia<br />
na época era o café predominantemente.<br />
A Baguassú foi uma das<br />
maiores, senão a maior produtora dessa<br />
cultura. Para tal empregava muitas<br />
famílias de colonos que cuidavam da<br />
plantação, colheita, secagem e benefício<br />
dos grãos.<br />
Ainda hoje existe parte daquelas<br />
instalações muito deterioradas: o pátio<br />
destinado a secagem do café, o depósito<br />
que se guardava e beneficiava a safra.<br />
Naturalmente a maior parte dessa<br />
estrutura cafeeira foi consumida pelo<br />
tempo, e viraram escombros.<br />
O café produzido era carregado e<br />
transportado pela ferrovia recém-construída.<br />
As primeiras composições eram<br />
puxadas pelas locomotivas a vapor, que<br />
percorriam os trilhos de bitola estreita.<br />
A famosa “Maria Fumaça” levava<br />
acoplado junto à máquina enegrecida<br />
pela fumaça, um vagonete igualmente<br />
preto carregado de lenha. Além do<br />
maquinista, existia o foguista que abastecia<br />
a locomotiva, jogando lenha na<br />
caldeira que produzia o vapor, que era<br />
o combustível propulsor da máquina.<br />
A fumaça produzida exalava um cheiro<br />
característico que impregnava o ar de<br />
forma inconfundível.<br />
A mais de meio século atrás havia<br />
um carregamento de lenha em Bueno.<br />
O chamado “lenheiro” era uma extensão<br />
limitada de linha férrea onde ficavam<br />
as gôndolas a serem carregadas.<br />
Cerca de oito a dez gôndolas recebiam<br />
o transporte de lenha trazida pelos caminhões.<br />
A maioria eram toras de eucalipto.<br />
Produzidas e cortadas no horto<br />
florestal. Quando o carregamento dessa<br />
madeira estava completo era levado<br />
e eram trazidas novas gôndolas vazias.<br />
Outra fonte de renda das fazendas<br />
era a pecuária. Eu, ainda menino, acompanhei<br />
muitas passagens de boiadas<br />
dentro da vila. O gado sempre composto<br />
por numerosas cabeças marchavam<br />
ruidosas, guiados pelos estalos de chicotes<br />
dos vaqueiros e ao som vibrante<br />
dos berrantes. Em poucos minutos só<br />
sobravam as marcas de patas no solo,<br />
muito estrume bovino espalhado pelo<br />
chão e uma densa poeira vermelha que<br />
demorava a assentar.<br />
Essa atividade financeira também<br />
contou intensamente com o transporte<br />
ferroviário. Recordo nitidamente do embarcadouro<br />
de gado muito bem construído<br />
com as madeiras perfeitamente<br />
encaixadas e parafusadas, pintadas<br />
com uma mistura preta de tinta e pixe.<br />
O gado era embarcado em gaiolas próprias<br />
para o transporte. Elas eram perfiladas<br />
junto ao embarcadouro até que<br />
entrassem todas as novilhas.<br />
A fazenda Baguassú também criava<br />
o gado, mas não era para o abate. O<br />
gado leiteiro era muito produtivo e o leite<br />
tirado das vacas era armazenado em<br />
latões e transladado para os laticínios<br />
também via ferrovia.<br />
Nessa época já havia sido mudada<br />
a medida da bitola dos trilhos, e a “Maria<br />
Fumaça” deu lugar a locomotivas<br />
maiores e mais modernas.<br />
A empresa responsável pela ampliação<br />
da bitola larga, a abertura dos cortes<br />
e terraplenagem da nova ferrovia foi<br />
a Camango/Correia. Depois de um longo<br />
tempo, a obra foi entregue em prol do<br />
progresso regional e estadual. Nascia a<br />
Ferrovia Araraquarense antiga (efa).<br />
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