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RCIA - ED. 136 - NOVEMBRO 2016

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terem nascido e crescido no meio da<br />

graxa. Andavam pra caramba, donos<br />

de uma técnica refinada, pilotos arrojados,<br />

tinham ainda outras qualidades:<br />

detalhistas, conferiam tudo, checavam<br />

tudo, queriam tudo do melhor, perfeccionistas<br />

e acertavam como poucos os<br />

seus equipamentos. Eu não, somente<br />

um menino sonhador, encantado com a<br />

oportunidade da companhia de ambos.<br />

Aceleramos do primeiro para o segundo<br />

balão, a Suzuki pulou na frente, depois<br />

a Marck 1 e, finalmente eu, por último.<br />

Chegamos juntinhos na entrada do segundo<br />

balão (C.T.A.), nesta ordem, tão<br />

próximos que metidamente cheguei a<br />

colocar a roda dianteira de minha motocicleta<br />

entre as duas que iam lado a<br />

lado, absolutamente deitadas, na minha<br />

frente. No segundo anterior, em<br />

quinta marcha, no fim da reta, reduzi<br />

firmemente na entrada para a quarta<br />

e terceira marcha, movimento sincronizado<br />

de câmbio e freios mantendo a<br />

rotação na casa dos 8 mil giros. Com<br />

bastante suavidade, fui inclinando meu<br />

corpo, primeiro para a direita levando<br />

o meu peito e braço direito pra frente,<br />

depois no início da curva, comecei a<br />

deitar, buscando o centro de gravidade,<br />

jogando todo o resto do corpo para<br />

a esquerda, e comecei a contornar o<br />

grande balão, já acelerando de novo<br />

para colocar quarta marcha para a<br />

direita e, finalmente, quinta na saída<br />

Box do Moto Clube Araraquara em Interlagos-SP<br />

distante, uns cinquenta<br />

metros da<br />

curva, que acabávamos<br />

de contornar.<br />

Foi um barulho<br />

ensurdecedor,<br />

ensandecido. Para<br />

quem é amante de<br />

corridas, parecia<br />

uma orquestra totalmente<br />

afinada,<br />

entre movimento<br />

de pêndulos, marchas,<br />

óleo Castrol,<br />

gasolina azul octanada<br />

e sons, bálsamos<br />

para os ouvidos<br />

de amantes da<br />

velocidade. Cada<br />

um de nós, do seu<br />

jeito, tirando tudo<br />

que o motor e espaço<br />

podiam proporcionar.<br />

Descemos<br />

o retão de volta, rumo ao primeiro<br />

balão. Marcha com marcha, roda com<br />

roda, som sobre som, a Suzuki abrindo<br />

um pouco da Marck 1 e em seguida a<br />

Marck 3, um orgasmo imenso, até a entrada<br />

de volta do primeiro balão. Fiquei<br />

por último no resultado, mas penso que<br />

a partir daquele dia, nunca mais fui o<br />

mesmo, me senti um deles, do time, o<br />

caçula, o menos experiente, ali, junto,<br />

vivenciando com meus ídolos o sonho<br />

Penha, Rogério, Edivilmo, Benê, Evaldo Salerno e José Manoel Sampaio<br />

(Pinho), com a moto Yamaha TD2-B (500 Milhas de Interlagos)<br />

de criança. Senti que o mundo que imaginara<br />

pra mim, desde a tenra idade,<br />

quando me deliciava em ver e ouvir as<br />

lambretinhas do Zezé Braghini, e do Gildo<br />

Scarpa, estava tão perto e palpável,<br />

que eu mesmo me dei o status de piloto<br />

(que talvez nunca tenha sido).<br />

Desaceleramos entre as ruas<br />

Gonçalves Dias e Nove de Julho e fomos<br />

embora. Descemos a rua 3, e calmamente<br />

cada um foi para sua casa,<br />

como o sol que também se retirava,<br />

sem qualquer explicação, sem qualquer<br />

comentário. Depois, à noite fomos<br />

no Cine Plaza, depois pra segunda-feira<br />

e, depois para a vida. Passados tantos<br />

anos, ainda grandes amigos e meus<br />

eternos ídolos, acho que ambos não<br />

têm a menor lembrança disso tudo, e<br />

ainda não sabem da importância que o<br />

fato representou para mim, para minha<br />

vida, pro meu futuro, e, principalmente<br />

por terem proporcionado um daqueles<br />

momentos impagáveis, que todos nós<br />

temos e que estão eternizados, dentro<br />

do nosso coração.<br />

Nota: isso foi entre o fim de<br />

1973 e o começo de 1974, eu tinha 16<br />

anos, a Fonte Luminosa não tinha o balão<br />

da Rua 2, a gente podia estacionar<br />

no lado esquerdo tanto indo como vindo<br />

e, éramos muito, mais muito felizes<br />

e nem sabíamos.<br />

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