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RCIA - ED. 118 - MAIO 2015

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Luís Carlos<br />

Indignação<br />

A<br />

ssim que o<br />

defeso terminou<br />

fui pescar<br />

no Rio Paraná e<br />

lá fiquei durante uma<br />

semana com uma turma<br />

muito boa. Para<br />

quem não é do ramo,<br />

o defeso é a época<br />

em que a pesca fica<br />

proibida para que os<br />

peixes, com as chuvas<br />

que fazem subir os<br />

rios, possam se reproduzir.<br />

Uma semana de merecido descanso para<br />

quem estava estressado e de intenso ‘trabalho’<br />

para quem não fica mais assim. E enquanto se<br />

espera que o peixe morda a isca, a ‘preocupação’<br />

é concentrada: “Qual isca que ele quer?<br />

Aquele puxão será de uma piapara ou de uma<br />

piracanjuba? Será que tenho de trocar a linha<br />

ou o anzol? Aquele biguá está espantando os<br />

peixes. Tem dourado por perto! Nunca vi um<br />

pôr do sol assim, tão bonito. Merece ser fotografado”.<br />

E por aí vai.<br />

E ao fim do dia e depois de uma semana, os<br />

O envolvimento de políticos corruptos<br />

em conluio com poderosas empreiteiras,<br />

apropriando-se de vultosas quantias,<br />

de milhões e milhões de dólares, coisa<br />

jamais vista em nosso país, quiçá em<br />

todo mundo...<br />

pensamentos aflitivos ficam zerados e o pescador,<br />

de volta para casa, já está preparado para<br />

enfrentar a realidade. Na dura realidade que<br />

nós, brasileiros, já há algum tempo estamos<br />

vivendo, desde que foi estourado o dique do<br />

mar de lama da corrupção institucionalizada,<br />

das escamoteações dos problemas econômicos<br />

existentes, maquiados maquiavelicamente,<br />

tudo para a reconquista do poder federal e que<br />

agora estamos sendo obrigados a suportar,<br />

com o aumento da inflação, da energia elétrica,<br />

dos combustíveis, da cobrança de mais<br />

impostos escorchantes e exigindo-nos mais<br />

e maiores sacrifícios, principalmente da, até<br />

agora, paciente classe média.<br />

O envolvimento de políticos corruptos em conluio<br />

com poderosas empreiteiras, apropriando-se<br />

de vultosas quantias, de milhões e milhões de<br />

B<strong>ED</strong>RAN<br />

Sociólogo e articulista da Revista<br />

Comércio & Indústria de Araraquara<br />

dólares, coisa jamais<br />

vista em nosso país,<br />

quiçá em todo mundo;<br />

os escândalos<br />

do “mensalão”, do<br />

“petrolão”, dos misteriosos<br />

empréstimos do<br />

BNDES, dos milionários<br />

fundos de pensões<br />

nas mãos de pelegos;<br />

das delações premiadas,<br />

dos termos de<br />

leniência das empresas<br />

corruptoras, das prisões cinematográficas<br />

da Polícia Federal, das CPIs no Congresso Nacional<br />

onde calam-se despudoradamente os<br />

suspeitos na maior cara de pau; das corajosas<br />

denúncias do Ministério Público contra gente<br />

‘acima de qualquer suspeita’ e, principalmente,<br />

do Poder Judiciário, pelo intimorato juiz Moro,<br />

que está colocando na cadeia políticos, seus<br />

cúmplices e familiares, os quais nunca poderiam<br />

supor que isso iria acontecer um dia.<br />

Os poderes republicanos, Polícia, Ministério<br />

Público e Poder Judiciário, luzes de esperança<br />

que vêm do Paraná, trazidas para nós pelos<br />

corajosos servidores públicos, aos quase 90%<br />

do povo brasileiro, para que, brevemente, este<br />

imenso país possa mudar e todos nós, sem<br />

termos medo de ameaças, de intimidações ou<br />

de pressões de todo tipo, também possamos<br />

acreditar que os exploradores do povo possam<br />

ser julgados, condenados e mofarem na<br />

cadeia, como merecem.<br />

Perdoem-me os prezados leitores e queridas<br />

leitoras da Revista por este desabafo, por<br />

este registro de minha indignação, do qual,<br />

tenho certeza, é compartilhado pela imensa<br />

maioria dos cidadãos de bem, enojados em<br />

constatar a desfaçatez com que quadrilhas<br />

de bandidos, disfarçados de políticos, roubam,<br />

isso mesmo, roubam o nosso suado<br />

dinheiro, produto do honesto trabalho de<br />

nosso povo.<br />

Pois eu gostaria mesmo é de ter falado sobre<br />

pescaria. Mas como pensar nisso agora,<br />

nesse período conturbado em que estamos<br />

vivendo? Onde as grandes passeatas têm<br />

demonstrado a imensa revolta dos cidadãos<br />

de bem? Onde não se sabe mais quem<br />

governa? E se haverá um gesto nobre de uma<br />

renúncia ou uma defenestração legal através de<br />

um trabalhoso impeachment?<br />

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