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Os impulsos da criação
foram intermitentes,
e o facto de nunca
ter exposto foi muito
vantajoso. Permitiume
ir corrigindo
muitas vezes obras
do passado e,
dessa forma, ir
aperfeiçoando coisas
que entretanto
deixaram de fazer
sentido
Pessoalmente apercebi-me da tua vocação
e produção artística numa viagem
que ambos fizemos ao Laos e Birmânia há
uma mão cheia de anos. E foi para mim
uma grata surpresa descobrir um artista
plástico com uma vertente tão criativa,
tão rica e diversificada. Quando é que
te apercebeste da tua vocação e de que
forma a desenvolveste e evoluiste para
chegarmos ao ponto de hoje termos um
museu como o MAMMA com tantas peças
da tua autoria?
- Difícil definir o primeiro impulso para as
artes. Tenho que recuar no tempo (In Illo
Tempore) e identificar enquanto estudante
de Economia na universidade de Coimbra,
nos anos 80. Aí nasceu uma sementeira determinante,
na minha formação enquanto
homem de cultura e sensível às temáticas
artísticas. Havia um ambiente académico absolutamente
rico e propício para potenciar a
minha criatividade. As Tertúlias os Saraus as
Serenatas, eram uma constante e contribuíram
seguramente para a minha formação
artística. Cheguei a ter aulas de pintura no
Centro de Artes Plásticas de Coimbra. Belos
tempos intensamente vividos. Fiz parte
da Comissão Central da Queima das Fitas…
Curiosamente, já na Madeira, cheguei a integrar
o Grupo de Fados de Coimbra, onde
cantei três temas num CD … Outras paixões.
As artes ditas de cavalete, foram mais recentes,
Desde a viragem do milénio, 2004, que
comecei a desenhar e a pintar, e foi muito
importante o apoio do meu amigo artista,
Wolf Dieter Kurhem . Nos primeiros desenhos
usei o pastel. “Rui, tens jeito!” disse-me
o meu compadre. Na verdade, sempre fui
muito interessado e curioso nos detalhes
criativos, nas diferentes artes, na simbologia
e nas mensagens associadas, na comunicação
dos conceitos. Tecnicamente fui claramente
um autodidata e através de um processo
de descoberta permanente, comecei a
fazer caminho e construindo uma (possível)
obra. No início, tudo não passava de um sonho
e poder expor em Museus estava no patamar
da fantasia. O estatuto de artista não
era uma obsessão, apenas encarava tudo
isto como um hobbie, e falava muito pouco
sobre o que produzia. A parte das leituras
foi, e é, muito importante para os conteúdos
das minhas obras. Há muitos anos que faço
crescer a minha biblioteca e sou um apaixonado
pelos livros. Vivo e durmo no meio dos
livros. Os livros são uma das minhas fontes
de inspiração e que alimentam o meu génio
criativo. Os impulsos da criação foram intermitentes,
e o facto de nunca ter exposto foi
muito vantajoso. Permitiu me ir corrigindo
muitas vezes obras do passado e dessa forma
ir aperfeiçoando coisas que entretanto
deixaram de fazer sentido. O MAMMA foi
um milagre que me permitiu dar sentido a
quase tudo o que criei. As “instalações” surgiram
quase todas durante a construção do
museu. Incrível! Em dois anos e meio arrumei
mais de 15 e ainda criei algo mais. Não
devo esquecer todos os incentivos que recebi,
e foram muitos. Desde logo a família,
especialmente a minha Mãe e no Museu o
meu Pai. Muitos amigos estiveram ao meu
lado e durante a obra, os técnicos foram
inescedíveis!. O meu reconhecimento para
todos eles!
Sei também que és uma pessoa com mundo,
com muito mundo aliás. Assim como
és portador de uma enorme curiosidade
e riqueza de conhecimentos que vais
acumulando ao longo das geografias. De
que forma te preparas para uma viagem
e até que ponto as viagens que tens feito
influenciam a tua obra artística?
- Depende do tipo de Viagem, mas geralmente
gosto de estudar exaustivamente o
destino, nos seus vários parâmetros. Às vezes
integro grupos, cuja tarefa fica mais facilitada,
pois quase sempre há amigos que
trabalham ao detalhe as viagem, e aí, confio
e sigo o roteiro proposto. Às vezes, consigo
dar a minha escapadela fora do programa,
porque amigo não empata amigo. Se revisitar
algum local, gosto de passar os olhos nos
apontamentos que costumo fazer, é sempre
bom um refresh e a memória agradece.
Também já fiz algumas viagens em que pouco
sabia do que iria encontrar, mas essa não
é a regra. Já não carrego tanto na ida e muito
menos no regresso. O problema dos livros a
mais que sempre levo. As Viagens vão muito
para além da visita aos museus. É importante
descobrir a cultura genuína dos diferentes
povos. Os seus mercados, o seu artesanato,
a sua forma de comunicar, a sua música, os
seus escritores, os seus costumes em geral.
Adoro fazer amizades por onde passo e faço
questão de as cultivar ao longo dos anos.
A minha principal companhia nas Viagens
é a máquina fotográfica. Hoje evoluiu para
os sofisticados smartphone. A fotografia é
uma paixão de sempre e que uso como importante
suporte de informação, ilustração,
O MAMMA tem como um
dos objetivos criar
uma nova pandemia
através da Arte:
a Criatividade
saber setembro 2021
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