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SCMedia News | Revista | Setembro 2021

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Set’ <strong>2021</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

25<br />

A operação<br />

da Água do Fastio<br />

O E-commerce na China<br />

A importância<br />

do procurement<br />

digital<br />

Terá o retalho<br />

pouco sex-appeal?<br />

BLUEPHARMA<br />

Evoluir é o melhor remédio


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

editorial<br />

Depois da tempestade<br />

“Ninguém experimenta a profundidade do rio com os dois pés.”<br />

Provérbio Africano<br />

A disrupção das cadeias de abastecimento<br />

e o estrangulamento dos fluxos logísticos<br />

estão a provocar a paralisação das produções<br />

industriais um pouco por todo mundo, e têm<br />

sido as grandes forças de bloqueio para o tão<br />

ambicionado regresso aos dias normais.<br />

<strong>2021</strong> está a ser o ano de todos os desafios<br />

para as cadeias de abastecimento e para os<br />

seus profissionais. Falta de matéria-primas<br />

e de componentes, aumento dos custos<br />

energéticos e dos combustíveis, longos atrasos<br />

no transporte, filas de navios em espera nos<br />

principais portos mundiais, contentores e valor<br />

dos fretes a preços exorbitantes… a lista de<br />

tudo o que se tem abatido sobre as cadeias de<br />

abastecimento ao longo deste ano é quase tão<br />

extensa como as supply chains globais.<br />

É praticamente impossível escapar ao tema<br />

e não falar sobre escassez, aumento de custos<br />

e até possibilidades de desabastecimento,<br />

mas é igualmente fundamental não alimentar<br />

inseguranças e medos, que acabam por se<br />

traduzir num avolumar de dificuldades, a<br />

juntar a todos os outros combates e desafios<br />

de quem está no meio da tempestade.<br />

É que como muito bem reflectia por estes<br />

dias Pedro Pimentel, da Centromarca, num<br />

artigo de opinião: “As tempestades, como<br />

outros fenómenos naturais, podem ter uma<br />

estética própria. Inclusive uma beleza algo<br />

tétrica. Podem até ter efeitos regeneradores<br />

posteriores e ser a razão de inovações e<br />

oportunidades subsequentes. Mas nunca são<br />

perfeitas…”.<br />

Por isso, deixemos de lado os atributos e<br />

a anatomia da tempestade e olhemos para o<br />

essencial.<br />

E o essencial é que estamos a falar de<br />

empresas e profissionais que têm uma<br />

capacidade extraordinária de apresentar<br />

soluções suportadas por competência,<br />

capacidade de gestão, controlo e execução.<br />

O essencial é que as tempestades são o<br />

ambiente natural dos logísticos que, com<br />

muita paciência, perseverança e eficiência<br />

de processos põem ordem no caos. O<br />

essencial é procurar antecipar os caminhos da<br />

recuperação da economia e pôr a oferta e a<br />

procura novamente nos eixos.<br />

O essencial, num momento em que os<br />

partidos políticos nos presentearam com uma<br />

crise política que não serve a ninguém, é não<br />

esquecermos que o mundo continua a girar e<br />

que depois da tempestade…


4<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

#8 #22 #35<br />

índice<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Indústria automóvel - Exportação<br />

de componentes ainda em queda 6<br />

logística<br />

A operação da Água do Fastio 8<br />

Bluepharma:<br />

Evoluir é o melhor remédio 16<br />

O E-commerce na China 22<br />

procurement<br />

A importância de um processo<br />

de procurement digital 35<br />

6 boas práticas para optimizar<br />

o processo de compras 38<br />

O valor do procurement para lá da<br />

pandemia 42<br />

intralogística<br />

ZØR - Nova identidade, mesmos<br />

princípios, mais objectivos 46<br />

Carrefour Brasil implementa WMS em<br />

modo SaaS 48<br />

tecnologias<br />

Automação e Transformação:<br />

Duas faces da mesma moeda chamada<br />

Digital 50<br />

Uma loja futurista em navegador<br />

anónimo 54


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

transportes<br />

carreira<br />

#54 #66<br />

Potenciar a transformação digital<br />

dos transitários 60<br />

Afeganistão: Bem me quer, mal me quer! 63<br />

Terá o retalho em Portugal pouco sex-appeal? 66<br />

O que eu aprendi sobre a gestão remota de<br />

equipas (parte 3/3) 74<br />

JANELA DA APAT<br />

No centro da mudança.. 76<br />

o mundo é redondo<br />

Ideas worth spreading TEDWomen 2017,<br />

“O dom e o poder da coragem emocional” 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Events Support & Project Manager _<br />

Rita Pinto<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao novo Acordo Ortográfico


6<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

-7,9%<br />

Ago <strong>2021</strong> vs Ago 2019<br />

-4,9%<br />

Jan-Ago 21 vs Jan-Ago 19<br />

Indústria automóvel<br />

Exportação de<br />

componentes<br />

ainda em queda<br />

De acordo com a AFIA (Associação de<br />

Fabricantes para a Indústria Automóvel) as<br />

exportações de componentes automóveis<br />

fixaram-se nos 518 milhões de euros, o que<br />

representa uma descida de 7,9% durante o mês<br />

de Agosto e quando comparada com o mesmo<br />

período de 2019.<br />

Ao analisar as vendas ao exterior,<br />

relativamente aos primeiros oito meses deste<br />

ano, verifica-se que as exportações apenas<br />

estiveram acima do nível verificado em 2019,<br />

durante os meses de Fevereiro e Março.<br />

Assim, e quando se refere ao acumulado<br />

até ao último mês de Agosto, as exportações<br />

de componentes automóveis reflectem um<br />

decréscimo de 4,9%, em relação ao mesmo<br />

período de 2019, atingindo nesta altura os<br />

6.056 milhões de euros.<br />

Em termos de países de destino das<br />

exportações, de Janeiro a Agosto de<br />

<strong>2021</strong>, e face ao mesmo período de 2019,<br />

Espanha mantém-se no topo com vendas<br />

de 1.727milhões de euros (+3,2%), seguida<br />

da Alemanha com 1.235 milhões de euros<br />

(-8,4%), em terceiro lugar surge a França com<br />

um registo de 727 milhões de euros (-20,7%)<br />

e, por último, o Reino Unido que totaliza 293<br />

milhões de euros (-46,7%).<br />

No total, estes 4 países concentram 66%<br />

das exportações portuguesas de componentes<br />

automóveis.<br />

Um pouco por todo o mundo, a falta de<br />

chips e componentes electrónicos continua a<br />

ser apontada como uma das principais causas<br />

de problemas nas cadeias de abastecimento,<br />

o que tem levado a que os fabricantes<br />

interrompam temporariamente a sua<br />

laboração. Outras situações como a pandemia<br />

de Covid-19, que continua com níveis muito<br />

elevados em alguns países, e o Brexit (as<br />

exportações para o Reino Unido caíram 46,7%)<br />

são outras causas apontadas.<br />

No entanto, o comportamento das<br />

exportações para Espanha (principal cliente<br />

dos componentes automóveis fabricados em<br />

Portugal, com uma quota de 28,5%), que estão<br />

acima do nível pré-pandemia, uma vez que as<br />

exportações para este país aumentaram 3,2%<br />

quando comparadas com o período de Janeiro<br />

a Agosto de 2019. •


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8<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Água do Fastio


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Fábio Santos<br />

“Estamos no meio<br />

da natureza, temos<br />

a obrigação de<br />

preservar toda a<br />

área envolvente”<br />

O bem mais essencial à vida é a água. Sem<br />

ela, nada existiria e, talvez por isso, é tão bem<br />

guardada pela natureza. Escondida pela<br />

beleza natural da Serra do Gerês, em Terras<br />

de Bouro, e protegida pela Nossa Senhora do<br />

Fastio, está a fonte da Água do Fastio. Pode<br />

nem acreditar em superstições, mas a verdade<br />

é que desde que é explorada nunca apresentou<br />

qualquer tipo de contaminação.<br />

Sabe aquela água transparente, cristalina<br />

que o faz pensar em sítios exóticos e<br />

mesmo paradisíacos? Pois existe em<br />

Portugal. O nosso país também tem estas<br />

coisas maravilhosas para nos oferecer. Este<br />

local em particular está bem protegido pela<br />

natureza e pela central de enchimento da<br />

Água do Fastio.<br />

Pode até considerar que a acção humana<br />

está a ser prejudicial ao planeta, mas a<br />

empresa pertencente ao Grupo Areeiro não só<br />

não prejudica como também protege o meio<br />

envolvente. E a prova é que desde 1979 nunca<br />

tiveram um caso de água contaminada.<br />

Tudo começou na nascente<br />

Apesar de a exploração ter começado<br />

mais tarde, a história da Água do Fastio<br />

remonta há cerca de 100 anos, quando em<br />

1922 foi publicada em Diário da República<br />

a primeira autorização do Governo para a<br />

exploração desta água, dois anos depois do<br />

reconhecimento deste recurso como sendo uma<br />

água mineral natural. Na época, houve uma<br />

exploração desta água, vendida apenas nas<br />

farmácias e também exportada para o Brasil.<br />

A lenda conta que, como não havia estrada, a<br />

água era transportada em potes por mulheres<br />

locais que iam até à nascente e os levavam<br />

de volta para a aldeia na cabeça. Reza ainda a<br />

história que as mesmas deixaram de ir buscar<br />

a água à nascente, por ser muito longe, e<br />

passaram a encher os potes no ribeiro, o que<br />

desacreditou o produto.<br />

A construção e montagem da oficina de<br />

engarrafamento iniciou-se apenas em 1976,<br />

e três anos depois aparece no mercado a<br />

Água do Fastio em garrafas de PVC 1,5L e de<br />

vidro 0,25L e 0,5L. Ao longo dos anos tem-se<br />

diferenciado das restantes concorrentes de<br />

diversas maneiras, e juntando a vontade à<br />

capacidade de inovar, tornaram-se pioneiros em<br />

diversas áreas, começando pela mais comum: a<br />

garrafa de água de plástico. Foram os primeiros<br />

a passar das garrafas de PVC para o PET.<br />

A partir daí foram surgindo formatos<br />

inovadores, como o garrafão de seis litros, o<br />

formato familiar de 2,5 litros (ideal para a porta<br />

do frigorífico), a garrafa de um litro, a Fastio<br />

GO, um formato que se adapta melhor às mãos,<br />

e que procura incentivar a prática desportiva e<br />

a importância de beber água, e as mais recentes<br />

garrafas Fastio Barbie e Fastio Hot Wheels,<br />

dirigidas a um público mais infantil e que, tal<br />

como a Fastio GO, também procura incentivar<br />

que este público beba mais água.


10<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

O percurso até à foz<br />

Como neste espaço mantêm stocks mínimos,<br />

tudo começa com os pedidos dos clientes.<br />

Celso González, director de produção, explica<br />

que à quarta-feira recebem os pedidos das<br />

suas empresas de distribuição para serem<br />

entregues durante a semana seguinte. No caso<br />

das grandes superfícies, os principais clientes<br />

da Água do Fastio, estas fazem os pedidos ao<br />

dia, com uma antecedência de 48 horas. “Eu<br />

sei o que tenho de entregar para a semana na<br />

nossa distribuidora, no nosso armazém, nos<br />

nossos agentes, mas não sei o que me vão pedir<br />

as grandes superfícies. Temos uma previsão,<br />

mais ou menos, mas não sei quanto é”, explica<br />

o responsável.<br />

Recebidos os pedidos, é iniciado todo<br />

o processo, desde o fabrico da garrafa ou<br />

garrafão até ao seu enchimento. Os recipientes<br />

são moldados a alta pressão através das pré-<br />

-formas PET e alocados para serem<br />

armazenados em silos até irem para a linha<br />

de enchimento. Assim que chega a altura são<br />

posicionados e enchidos com a água que veio<br />

directamente da nascente, ou de quatro outros<br />

pontos de captação, e que foi posteriormente<br />

armazenada nos reservatórios. Terminado este<br />

processo de enchimento, chega o momento<br />

de colocar as suas cápsulas e rótulos, e de<br />

um marcador laser identificar o produto. Aqui<br />

termina o processo individual, mas para a<br />

logística é apenas o começo.<br />

Para formar os packs há ainda todo<br />

o processo de criação das caixas, de<br />

encaixotamento e finalização. Segue-se<br />

o processo de envolvimento das caixas,<br />

dependendo se o produto são garrafas ou<br />

garrafões passa, ou não, pelo processo de<br />

colocação de pegas seguido da paletização.


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

Por fim, uma máquina envolve toda a palete,<br />

é colocada uma etiqueta para garantir a<br />

rastreabilidade do lote e esta está pronta a ir<br />

para o armazém de produto acabado.<br />

A partir daí as paletes estão prontas para<br />

a recolha. Apesar de se encontrarem na<br />

Serra do Gerês, Celso González não sente<br />

que existam dificuldades no acesso à central<br />

de enchimento, mesmo via camião. Embora<br />

o espaço não seja abundante, conseguem<br />

ter até três camiões a carregar produto em<br />

simultâneo, sendo necessário agendar com<br />

antecedência a hora do carregamento de<br />

modo a que consigam gerir esses tempos<br />

internamente, e no Verão chegam a carregar<br />

25 a 30 camiões por dia.<br />

O local é o que é, não há<br />

espaço. De um lado<br />

temos a serra,<br />

do outro<br />

lado temos<br />

o rio, não<br />

há para<br />

onde ir<br />

Celso González


12<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Armazenamento e<br />

rastreabilidade<br />

Caso tenham espaço, trabalham a 100%, mas<br />

isso nem sempre acontece, pois o que existe<br />

na central de enchimento é pouco. “O local é<br />

o que é, não há espaço. De um lado temos a<br />

serra, do outro lado temos o rio, não há para<br />

onde ir”, explica Celso González. O local mais<br />

próximo que têm para armazenagem situase<br />

a 35 quilómetros, em Braga, e pertence<br />

à distribuidora, o que lhes dá algum apoio<br />

logístico. Os armazéns das suas distribuidoras,<br />

localizados na Maia, em Braga, Caldas da<br />

Rainha e Lisboa, contam com stock para uma<br />

semana.<br />

Por se tratar de água, não têm problemas de<br />

armazenamento de longa duração, pois desde<br />

que se cumpram as regras de armazenamento<br />

– respeitando as temperaturas e os níveis de<br />

exposição solar - a água permanecerá própria<br />

para consumo por muito tempo.<br />

Para garantir a qualidade da água que está a<br />

ser captada, de hora a hora são feitas análises<br />

laboratoriais a todas as linhas, e semanalmente<br />

é ainda feita uma análise microbiológica num<br />

laboratório externo. Assim, caso seja necessário<br />

recuperar um lote, graças aos cuidados que<br />

têm com o rastreamento, feito no processo de<br />

embalamento, é possível retirá-lo do mercado.<br />

Alguns dos clientes da Água do Fastio<br />

pertenciam ao canal HORECA, e com os fechos<br />

e limitações impostas durante a pandemia para<br />

este sector, as linhas de produção pararam<br />

completamente durante muito tempo. Ano e<br />

meio depois do seu início ainda estão a retomar.<br />

Durante esta época o garrafão foi o formato<br />

preferido, seguindo-se as garrafas de 1,5 litros.<br />

O vidro e as garrafas pequenas pararam por<br />

completo. “Tive semanas em que punha a<br />

linha a trabalhar em seco, só para as máquinas<br />

rodarem, porque não havia nada para encher.<br />

Quase quatro meses em que a linha só estava<br />

a trabalhar para manutenção”, explica Celso<br />

González.<br />

Houve apenas três casos de COVID-19 em<br />

colaboradores, mas todos casos externos e<br />

controlados atempadamente, o que fez com<br />

que não tivessem de parar, mas o responsável<br />

admite que foi necessário reduzir a duração dos<br />

turnos.


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

Da natureza<br />

para o consumidor<br />

“O nosso objectivo é levar a água até ao<br />

consumidor sem qualquer adulteração do<br />

produto. Tal como é recolhida na natureza,<br />

é engarrafada e disponibilizada ao cliente”,<br />

comenta Domingo Pérez González, responsável<br />

de qualidade e administrador da Água do Fastio.<br />

Devido a estas limitações naturais do produto e<br />

a não quererem adulterar as suas propriedades,<br />

não há muitas opções de inovação, sem<br />

ser ao nível da embalagem. “Em termos de<br />

produto não temos nada a fazer”, reforça o<br />

administrador, “não queremos, por opção,<br />

entrar nas designadas águas com sabores, nem<br />

nas águas funcionais, nem produtos acessórios<br />

à marca Fastio”.<br />

Relativamente às preocupações ambientais,<br />

o responsável exemplifica alguns casos, que<br />

passam pelo design do PET, pela redução do<br />

peso das embalagens, pela disponibilidade de<br />

taras retornáveis em vidro e pela redução de<br />

água utilizada para a lavagem. “Os materiais<br />

que utilizamos são 100% recicláveis. Todos.<br />

Seja o vidro, seja o PET, seja o próprio papel<br />

dos rótulos”, comenta Domingo Pérez González,<br />

explicando que para os rótulos optaram pelo<br />

papel pois a alternativa do polipropileno, ao<br />

estar em contacto com o PET, iria contaminar a<br />

embalagem, e isso levaria a que esta deixasse<br />

de poder ser reciclável. O administrador aponta<br />

que a rotulagem é um dos próximos passos que<br />

irão dar ao nível da sustentabilidade.<br />

O nosso objectivo é vender a<br />

Água do Fastio e levá-la até<br />

ao consumidor sem qualquer<br />

adulteração do produto<br />

Domingo Pérez González


14<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Os<br />

materiais que<br />

utilizamos são<br />

100% recicláveis.<br />

Todos. Seja o vidro, seja o<br />

PET, seja o próprio papel<br />

dos rótulos<br />

Domingo Pérez<br />

González<br />

“Estamos no meio da natureza, temos a<br />

obrigação de preservar toda a área envolvente”,<br />

afirma Domingo Pérez González.<br />

Sobre o espaço, destaca que “somos apenas<br />

uma oficina de engarrafamento, praticamente.<br />

O que fazemos é produzir, encher, lavar e<br />

capsular garrafas, e metê-las num camião para<br />

levar ao mercado”. Mesmo ao nível da infra-<br />

-estrutura, minimizam o impacto natural com<br />

a ajuda de uma ETAR, para o tratamento de<br />

resíduos industriais, como detergentes.<br />

Em termos logísticos, Domingo Pérez<br />

González admite que “uma das grandes<br />

dificuldades, e aquilo que nós gostaríamos de<br />

ter no Fastio, era uma espécie de entreposto<br />

logístico”, mas que não seria um projecto viável<br />

apenas para água, pois os custos são muito<br />

elevados e as margens, comparativamente,<br />

muito baixas. “É possível fazer no caso dos<br />

distribuidores porque trabalham com outras<br />

bebidas, mas no caso da água é muito difícil”,<br />

explica.<br />

“Em termos logísticos o desafio da Fastio<br />

é este: a logística da produção para a carga”,<br />

conclui o responsável.<br />

Os desafios são imensos, especialmente ao<br />

terem responsabilidades não só alimentares<br />

como ainda de preservação da natureza e<br />

sociais. Se é fácil? Segundo contam, não é. Mas<br />

talvez Nossa Senhora do Fastio esteja a dar<br />

uma mãozinha. Afinal, uma mão lava a outra. •


SCM Supply Chain Magazine 15


16<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Bluepharma<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Bluepharma<br />

Evoluir é<br />

o melhor<br />

remédio<br />

São muitos os planos que a Bluepharma<br />

desenhou para o futuro. Ampliação das<br />

actuais instalações em São Martinho do<br />

Bispo, construção de uma nova fábrica em<br />

Eiras e a criação do Bluepharma Park, que<br />

será o maior parque tecnológico do cluster<br />

farmacêutico a nível nacional; estão no<br />

horizonte da farmacêutica para a próxima<br />

década. O seu presidente, Paulo Barradas<br />

Rebelo, contou-nos os pormenores.


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

Vamos então conhecer os projectos que a<br />

Bluepharma tem no horizonte e que em<br />

termos de investimento rondam os 200<br />

milhões de euros.<br />

Em São Martinho do Bispo as obras de<br />

ampliação iniciaram-se no primeiro semestre<br />

de <strong>2021</strong>. Aqui, a logística terá uma área<br />

de cerca de 20% da unidade industrial que<br />

corresponderá, sensivelmente, a 1.500 metros<br />

quadrados. Já na fábrica de Eiras, que deverá<br />

estar pronta no final deste ano, a área alocada à<br />

logística é de cerca de 1.200 metros quadrados,<br />

sendo que “é mais pequena porque esta é<br />

uma unidade industrial state-of-the-art, para<br />

a produção de formas sólidas orais potentes,<br />

ou seja, são medicamentos produzidos<br />

em pequenas séries, mas com alto valor<br />

acrescentado”, afirma Paulo Barradas Rebelo. O<br />

presidente avançou também que a Bluepharma<br />

terá uma plataforma logística em Cernache,<br />

com cerca de 7.000 metros quadrados.<br />

A Bluepharma é uma empresa em constante<br />

crescimento. De 2019 para 2020, aumentou o<br />

portefólio com novos lançamentos e produções<br />

maiores, tendo registado um crescimento<br />

de 28% que levou a empresa a necessitar de<br />

espaço de armazenamento. Alocaram uma área<br />

significativa a um pré-grossista para o efeito e,<br />

no futuro, irão transferir para a nova plataforma<br />

logística, em Cernache, “modernizada e com<br />

recurso a um sistema de armazenamento<br />

de medicamentos totalmente robotizado e<br />

automatizado”, confirma o responsável.<br />

Visão estratégica<br />

Estes investimentos em novos projectos<br />

resultam da visão da empresa em inovar, mas<br />

não é apenas em Portugal que esta visão<br />

assenta. Passa pela internacionalização.<br />

“Costumamos dizer que investimos para<br />

inovar, e inovamos para internacionalizar”,<br />

conta-nos, destacando que a consolidação das<br />

relações com empresas estrangeiras foi muito<br />

importante para atingir este objectivo, pois<br />

“Portugal é um país pequeno, e a Bluepharma<br />

só teria sucesso se tivesse a capacidade de<br />

vender lá fora”. Neste momento, a Bluepharma<br />

tem relações comerciais com 230 clientes, em<br />

mais de 140 países.<br />

Outro dos princípios a que Bluepharma se<br />

predispõe é acelerar a sua consolidação. “Nos<br />

próximos 10 anos temos de ter mais capacidade<br />

produtiva e mais medicamentos para vender.<br />

Não vamos perder de vista a investigação e<br />

desenvolvimento porque acreditamos que é o<br />

futuro”, garante o presidente.<br />

Costumamos dizer<br />

que investimos<br />

para inovar, e<br />

inovamos para<br />

internacionalizar<br />

Paulo Barradas Rebelo


18<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Quanto à logística e supply chain, Paulo<br />

Barradas Rebelo confirma que são prioridades<br />

para a Bluepharma. “Aliás, a logística hoje<br />

é uma das preocupações de quem decide,<br />

nomeadamente dos líderes europeus que<br />

tiveram este primeiro ensinamento com a<br />

pandemia, pelo facto de o paracetamol estar<br />

em risco de não chegar às nossas farmácias e<br />

aos doentes que dele precisavam”, refere.<br />

Desta forma, o presidente da Bluepharma<br />

diz haver um entendimento europeu para<br />

a necessidade de se criarem cadeias de<br />

fornecimento mais curtas. “Isto é uma<br />

esperança para o espaço europeu e um sinal de<br />

que temos de trabalhar porque somos muito<br />

competitivos a fazê-lo”.<br />

Paulo Barradas Rebelo<br />

Rumo à fábrica “paper free”<br />

O futuro da indústria farmacêutica passará<br />

pela digitalização, pela indústria 4.0. Este é o<br />

entendimento de Paulo Barradas Rebelo, e é<br />

por estarem atentos à evolução que esta nova<br />

realidade já está em curso na Bluepharma.<br />

Neste momento, este processo está em curso<br />

e a fazer-se em pequenos quick-wins. Assim,<br />

estão a “identificar pequenos processos onde<br />

possa haver melhoria” em que a digitalização<br />

seja implementada, mas dentro de alguns<br />

pressupostos, nomeadamente dos custos de<br />

contexto da actividade.<br />

hoje consideramos que temos<br />

uma empresa tecnolgicamente evoluída, que permite<br />

aos nossos colaboradores trabalhar com alguns dos<br />

sistemas mais sofisticados do mercado


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Um dos objectivos da empresa é criar uma<br />

fábrica ‘paper free’. “É um objectivo disponibilizar<br />

aos clientes auditorias com toda a informação,<br />

de forma transparente, permanente e virtual,<br />

criando confiança, conforto e minimizando a<br />

pegada carbónica. A transparência cria confiança,<br />

e a confiança é a base do negócio”, refere o<br />

presidente da Bluepharma.<br />

Por outro lado, pretendem cada vez mais<br />

monitorizar a fábrica, aplicando as “melhores<br />

práticas de gestão no que toca à qualidade,<br />

eficiência e performance”.<br />

Quanto aos sistemas de informação, Paulo<br />

Barradas Rebelo afirma que têm feito “um<br />

investimento grande em sistemas altamente<br />

sofisticados”. Desta forma, há 20 anos que<br />

adquiriram o Sistema ERP da SAP, tendo<br />

evoluído para um conjunto de módulos e de<br />

desenvolvimentos, nomeadamente, o algoritmo<br />

para a área do planeamento, cockpits para<br />

várias áreas de controlo e gestão da fábrica,<br />

entre outros. Para além deste sistema, a<br />

Bluepharma implementou o Salesforce na área<br />

de CRM (gestão de clientes), o VEEVA, o sistema<br />

de qualidade e documentação escolhido, e<br />

ainda o SuccessFactors na área dos recursos<br />

humanos.<br />

“Sentindo que ainda há um longo caminho<br />

a percorrer, a Bluepharma não tem perdido<br />

tempo, e hoje consideramos que temos uma<br />

empresa tecnolgicamente evoluída, que<br />

permite aos nossos colaboradores trabalhar<br />

com alguns dos sistemas mais sofisticados do<br />

mercado”, salienta o presidente da Bluepharma.


20<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Optimismo q.b.<br />

Enquanto parte integrante do sector da<br />

saúde, a Bluepharma, como tantas outras<br />

empresas da indústria farmacêutica, teve<br />

um papel determinante durante a pandemia,<br />

nomeadamente nos meses de confinamento, no<br />

abastecimento de medicamentos à população.<br />

Durante este período, a empresa teve<br />

três preocupações maiores. A primeira foi<br />

salvaguardar a saúde dos funcionários.<br />

“Andámos sempre à frente das decisões<br />

políticas, o que nos deu uma grande vantagem,<br />

que foi a confiança de todos os trabalhadores<br />

porque estávamos a tomar decisões que viriam<br />

a ser regulamentadas pelo poder político”,<br />

lembra Paulo Barradas Rebelo. A segunda<br />

preocupação foi não fechar os processos.<br />

“Não podíamos deixar de chegar com os<br />

medicamentos a quem deles precisavam.<br />

Os medicamentos são produtos essenciais,<br />

e por isso nunca parámos de produzir”,<br />

refere. A terceira prendeu-se com as cadeias<br />

de abastecimento, nomeadamente com a<br />

possibilidade de pararem por falta de matéria-<br />

-prima e também pelo risco de os<br />

equipamentos industriais recentemente<br />

adquiridos sofrerem atrasos. “Felizmente,<br />

mas com custos acrescidos, conseguimos que<br />

nunca nos faltasse matéria-prima para produzir,<br />

nunca falhámos com o abastecimento de<br />

medicamentos ao mercado.”<br />

Não podíamos deixar<br />

de chegar com os<br />

medicamentos a quem<br />

deles precisavam. Os<br />

medicamentos são produtos<br />

essenciais, e por isso nunca<br />

parámos de produzir<br />

Paulo Barradas Rebelo<br />

Paulo Barradas Rebelo considera-se um<br />

“optimista com os pés bem assentes no chão”,<br />

quanto à evolução deste sector que “vive do<br />

conhecimento e da inovação”. Deste modo,<br />

no pós-pandemia “a humanidade olha para<br />

a ciência e para a ciência farmacêutica com<br />

muita esperança. Portanto, eu não podia estar<br />

mais optimista em relação ao sector”, revela.<br />

Contudo, alerta para o previsível aumento dos<br />

custos de distribuição, nomeadamente com o<br />

aumento dos custos energéticos: “as matériasprimas<br />

são cada vez mais escassas e mais caras<br />

e a regulamentação é cada vez mais exigente”.<br />

“Encontramo-nos numa fase de escalada de<br />

custos e num mercado de preços condicionado<br />

pelo poder político. O que pode dificultar<br />

o normal abastecimento de medicamentos<br />

a todos os que deles precisam”, destaca o<br />

presidente da Bluepharma. •


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22<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Mercados<br />

O e-commerce<br />

na China<br />

Em <strong>2021</strong>,<br />

as vendas<br />

do comércio<br />

eletrónico na<br />

China devem atingir<br />

os 2.100 mil milhões de<br />

dólares, segundo o mais<br />

recente estudo de mercado<br />

desenvolvido pela GlobalData.<br />

De acordo com a eMarketer, este<br />

valor corresponderá a um aumento de<br />

21 por cento face a 2020, muito acima do<br />

crescimento de 4 por cento estimado para os<br />

canais de venda presenciais do país.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

Autores: João Falardo, delegado AICEP em Pequim<br />

Filipe Sequeira, técnico AICEP em Pequim<br />

Até 2024, os mesmos analistas apontam a<br />

meta dos 3.000 mil milhões de dólares<br />

em vendas realizadas nos canais de venda<br />

eletrónicos da China. Em 2019, ano de prépandemia,<br />

o valor das vendas eletrónicas a<br />

retalho no país rondaram os 1.640 mil milhões<br />

de dólares. Como se não fosse suficiente, os<br />

valores económicos associados ao comércio<br />

eletrónico do país não ficam por aqui.<br />

O e-commerce na China, que foi<br />

recentemente estimulado pelo impacto<br />

económico da COVID-19, teve como principal<br />

ponto de partida a fundação do Grupo Alibaba<br />

em 1999 e posteriormente o lançamento da<br />

plataforma Taobao em 2003. Inicialmente<br />

criada com o intuito de conectar pequenos<br />

comerciantes com fornecedores chineses,<br />

as potencialidades da plataforma Taobao,<br />

desenvolvida pela Alibaba, atraíram desde logo<br />

a atenção das grandes empresas chinesas, que<br />

se associaram a este canal de vendas Business-<br />

-to-Business (B2B).<br />

Com o crescimento económico da população<br />

chinesa, o foco do comércio eletrónico<br />

alastrou-se paralelamente ao segmento<br />

Business-to-Consumer (B2C), permitindo<br />

o surgimento de novas empresas, como a<br />

Jingdong.com, que inaugurou a sua primeira<br />

plataforma de comércio eletrónico em 2004, e<br />

a redefinição da estratégia do Grupo Alibaba,<br />

que lançou a sua primeira plataforma dedicada<br />

ao consumidor final em 2008.<br />

Empresas como a Alibaba e a Jingdong.<br />

com foram pioneiras na recolha de novas<br />

oportunidades de negócio associadas aos<br />

canais de venda eletrónicos chineses, incutindo<br />

gradualmente no seio da população chinesa,<br />

com algum poder de compra, novos hábitos<br />

de consumo que hoje ocupam o quotidiano de<br />

todas as faixas etárias do país, transformando<br />

igualmente as atividades económicas do tecido<br />

empresarial a nível doméstico e internacional.<br />

Com 989 milhões de utilizadores de internet<br />

ativos até ao final de 2020 (China Internet<br />

Network Information Center), a China é<br />

atualmente responsável por mais de metade<br />

do comércio eletrónico B2C realizado em todo<br />

o mundo (Global Ecommerce 2020 – Insider<br />

Intelligence eMarketer). De acordo com a<br />

mesma fonte, a contribuição deste canal de<br />

vendas para a totalidade das vendas a retalho<br />

realizadas na China aumentou de 20 por cento<br />

em 2016, para 44 por cento em 2020. Este<br />

valor contrasta com as contribuições de 27,5<br />

e 14,5 por cento observadas nos mercados<br />

do Reino Unido e Estados Unidos da América,<br />

respetivamente (World Economic Forum –<br />

E-Commerce Growth is Fastest in China).


24<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

a China é atualmente<br />

responsável por mais<br />

de metade do comércio<br />

eletrónico B2C realizado<br />

em todo o mundo<br />

A internacionalização das empresas<br />

portuguesas, vista como motor fundamental<br />

para o desenvolvimento do tecido económico<br />

e comercial português, enfrentou desafios<br />

ímpares em 2020 provocados pela pandemia<br />

mundial de SARS-CoV-2, que vieram não só<br />

transformar temporariamente o panorama<br />

comercial internacional, como induzir<br />

mudanças estruturais nos procedimentos<br />

negociais com os parceiros internacionais e<br />

nas suas interações com os consumidores.<br />

Os meios digitais, que até aqui se assumiam<br />

como relevantes para o desenvolvimento de<br />

estratégias de internacionalização adaptadas<br />

à realidade moderna, desempenharam durante<br />

o período de adaptação e pós-pandemia um<br />

papel determinante para a sobrevivência no<br />

panorama internacional de muitas empresas<br />

nacionais.<br />

Este contexto, que requereu uma atenção<br />

redobrada no segmento B2C, tornou-se mais<br />

familiar para as empresas com atividades<br />

enquadradas no segmento B2B, que<br />

inevitavelmente adotaram novas ferramentas<br />

digitais para o desenvolvimento das suas<br />

atividades, como a adesão a plataformas<br />

digitais de matchmaking empresarial e a<br />

participação em feiras e exposições de cariz<br />

digital. Não obstante, foi nos bens de consumo<br />

que este novo ímpeto se fez sentir de forma<br />

mais acentuada, especialmente nos mercados<br />

mais robustos que alimentaram a recuperação<br />

económica mundial que se fez sentir muito<br />

gradualmente a partir do segundo semestre do<br />

ano transato.<br />

Neste cenário, o mercado chinês<br />

testemunhou a robustez e resiliência que<br />

o caracterizam: a segunda maior economia<br />

mundial encerrou o ano de 2020 com um<br />

crescimento de 2,3 por cento do seu PIB,<br />

recuperando notavelmente da quebra de<br />

6,8 por cento registada durante o primeiro<br />

trimestre daquele ano pelo Bureau Nacional de<br />

Estatísticas da China. Esta tendência mantevese<br />

durante os primeiros meses de <strong>2021</strong>. O<br />

setor terciário do país recupera e acompanha<br />

a recuperação mais rapidamente que o setor


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

industrial e que as exportações chinesas,<br />

levando o Fundo Monetário Internacional (FMI)<br />

a estimar um crescimento de 8,1 por cento do<br />

PIB chinês durante o corrente ano, acima dos<br />

5,5 por cento estimados para o crescimento da<br />

economia mundial.<br />

Também durante o primeiro trimestre de<br />

<strong>2021</strong> os dados do Ministério do Comércio da<br />

China (MOFCOM) indicaram um crescimento de<br />

29,9 por cento do comércio eletrónico a retalho<br />

do país, com as vendas realizadas por este<br />

canal a ascenderem aos 434,5 mil milhões de<br />

dólares.<br />

Portugal tem igualmente beneficiado desta<br />

recuperação sentida no maior mercado asiático,<br />

com as exportações de bens nacionais para o<br />

mercado chinês a aumentarem 64 por cento<br />

durante os primeiros cinco meses de <strong>2021</strong>,<br />

por comparação com o período homólogo<br />

de 2020, conforme dados oficiais divulgados<br />

pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).<br />

Este momento económico ganha ainda maior<br />

relevância uma vez que as exportações<br />

nacionais para este mercado, observadas entre<br />

janeiro e maio do ano corrente, aumentaram<br />

18,3 por cento face ao mesmo período de 2019,<br />

ano que antecedeu a pandemia de SARS-CoV-2.<br />

A China e o e-commerce são por estas razões<br />

dois conceitos cada vez mais importantes para<br />

o tecido empresarial português, indissociáveis<br />

entre si, que requerem da parte das empresas<br />

portuguesas e de entidades institucionais,<br />

como a AICEP, uma dedicação prioritária, que<br />

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26<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

A China e o e-commerce são dois conceitos<br />

Em 2020, a AICEP firmou um acordo de<br />

cooperação com a segunda maior plataforma<br />

de comércio eletrónico do país, a JD.com, que<br />

enquadrou a abertura do primeiro marketplace<br />

português na China, numa primeira fase<br />

dedicado ao comércio eletrónico de vinhos<br />

portugueses. Igualmente, encontra-se<br />

em desenvolvimento uma parceria com o<br />

grupo económico Alibaba, o maior operador<br />

de e-commerce da China, que consiste<br />

num programa agregador de produtos<br />

agroalimentares portugueses nas suas<br />

principais plataformas: Tmall e Taobao.<br />

Do mesmo modo, o desempenho destes<br />

canais de venda chineses, perpetuado em<br />

grande parte pelos grupos económicos Alibaba<br />

e JD.com, não tem passado despercebido por<br />

parte das empresas portuguesas. Em 2018,<br />

momento em que a AICEP iniciou um processo<br />

de monitorização frequente das principais<br />

plataformas de comércio eletrónico da China,<br />

em coordenação com as suas delegações em<br />

Pequim, Xangai e Cantão, a oferta de produtos<br />

portugueses neste canal de vendas era escasso<br />

em quantidade e diversidade, cingindo-se de<br />

um modo geral à venda de um leque reduzido<br />

de marcas de vinho do porto e cerveja. Esta<br />

realidade alterou-se substancialmente neste<br />

meio tempo, com o cabaz de oferta a alargar-se<br />

hoje a produtos nacionais do setor fileira-casa,<br />

de higiene e conforto, agroalimentar e bebidas,<br />

como o café, azeite, conservas, águas e um<br />

leque mais alargado de marcas e tipos de vinho<br />

e cervejas, mas também vestuário, calçado e<br />

produtos de limpeza.<br />

cada vez mais importantes para o<br />

tecido empresarial<br />

português<br />

Comércio eletrónico<br />

tradicional<br />

e transfronteiriço<br />

O comércio eletrónico na China continua a<br />

atrair um número crescente de pequenas,<br />

médias e grandes empresas, devido aos<br />

menores custos de entrada no mercado<br />

associados a esta modalidade, nomeadamente<br />

no que respeita ao menor capital investido<br />

e aos recursos humanos necessários à sua<br />

execução.<br />

De igual modo, trata-se de um canal que<br />

permite às empresas alargar o seu leque de<br />

clientes, pelo maior alcance concedido por este<br />

canal, que se estende a praticamente todo o<br />

território chinês, incluindo as suas regiões mais<br />

rurais. Estas regiões têm sido alvo de um forte<br />

investimento associado a estas atividades, que<br />

são vistas como o motor de desenvolvimento<br />

económico sustentável da China, concedendo-<br />

-lhes ainda a possibilidade de alavancar a sua<br />

transição para os canais de venda presenciais<br />

do país, mediante o aumento do poder<br />

negocial junto de potenciais importadores<br />

e distribuidores chineses e mediante a<br />

performance alcançada pela venda dos seus<br />

produtos nos canais digitais.


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

Por defeito, o comércio eletrónico de<br />

produtos importados no mercado chinês<br />

obedece ao Sistema Geral de Supervisão<br />

do Comércio. Ao abrigo deste sistema, a<br />

importação de bens, concretizada por parte<br />

de importadores locais que administram<br />

marketplaces nas principais plataformas<br />

digitais chinesas, requere a apresentação<br />

obrigatória de licenças de importação e o<br />

cumprimento dos demais requisitos associados<br />

ao processo de desalfandegamento.<br />

A importação de bens pelo método<br />

tradicional requer ao país exportador<br />

aspetos adicionais de acesso ao mercado,<br />

como a existência de protocolos bilaterais<br />

entre as autoridades competentes dos dois<br />

países e o cumprimento dos requisitos de<br />

rotulagem chineses. Este aspeto aplica-se às<br />

atividades de importação de bens alimentares<br />

como proteína animal, produtos lácteos e<br />

produtos agroalimentares com baixo grau<br />

de transformação. Para estas categoria de<br />

produtos, frequentemente referida como<br />

“produtos de alto risco”, é igualmente<br />

exido o registo prévio do produtor junto<br />

da Administração Geral das Alfândegas da<br />

China (GACC). Em contexto semelhante, mais<br />

produtos, para além dos bens agroalimentares,<br />

como os cosméticos, produtos de saúde e bem-<br />

-estar, medicamentos e dispositivos médicos,<br />

requerem a obtenção prévia de determinadas<br />

licenças e autorizações à sua entrada no<br />

mercado chinês. Aplicam-se igualmente, neste<br />

método, tarifas de importação, impostos<br />

sobre o valor acrescentado e, em determinado<br />

contexto, impostos sobre o consumo de<br />

produtos como vinhos, outras bebidas<br />

alcoólicas e cosméticos de gama alta.<br />

Em 2013, as autoridades chinesas deram<br />

os primeiros passos no sentido de regular<br />

e promover uma modalidade alternativa de<br />

comércio pelos canais digitais, em resposta à<br />

explosão do comércio eletrónico no país. Com<br />

o aumento do volume de encomendas no setor<br />

B2C, nomeadamente de pequenas parcelas,<br />

acompanhando o enriquecimento das classes<br />

média e alta do país e consequente crescente<br />

apetência por produtos importados de<br />

qualidade, a regulação do comércio eletrónico<br />

transfronteiriço veio auxiliar as atividades<br />

alfandegárias e de regulação do mercado, à<br />

medida que o Sistema Geral de Supervisão do<br />

Comércio se revelava demasiado oneroso para<br />

este tipo de transações comerciais.<br />

O comércio eletrónico na China continua a atrair<br />

um número crescente de pequenas, médias e grandes<br />

empresas, devido aos menores custos de entrada no<br />

mercado


28<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Conhecido como “cross-border e-commerce”<br />

ou comércio eletrónico transfronteiriço, esta<br />

modalidade é tratada pelas autoridades como<br />

importação de artigos para uso pessoal,<br />

beneficiando de um regime preferencial à<br />

importação: ausência de tarifas alfandegárias,<br />

redução de 70 por cento do IVA e imposto<br />

especial sobre consumo para um limite anual<br />

de compras no valor de 26 mil yuans por<br />

consumidor e cinco mil yuans por transação.<br />

Neste modelo, os impostos associados à<br />

compra e consumo são comportados pelo<br />

consumidor final, estando as plataformas de<br />

e-commerce chinesas e as empresas que atuam<br />

como terceira parte encarregues da cobrança<br />

de impostos.<br />

Embora seja possível expedir encomendas<br />

a partir de Portugal com destino à China, no<br />

âmbito do comércio eletrónico transfronteiriço,<br />

dado tratar-se de uma transação entre dois<br />

países, o mesmo não se apresenta como a<br />

circunstância mais adequada aos hábitos de<br />

consumo chineses. O prazo médio de entregas<br />

no país não ultrapassa os três dias, sendo<br />

inclusivamente possível receber encomendas<br />

no próprio dia, mediante a proximidade do<br />

comprador à sede da plataforma eletrónica e<br />

o inventário existente. A título de exemplo, a<br />

plataforma JD.com realiza entregas no próprio<br />

dia na capital da China, Pequim, dando resposta<br />

a um dos fatores de decisão mais importantes<br />

por parte destes consumidores: a rapidez e a<br />

conveniência das entregas.<br />

Por este motivo, o modelo de negócio mais<br />

utilizado pelas empresas que aderem a esta<br />

modalidade consiste na cooperação com<br />

entrepostos alfandegários autorizados para o<br />

efeito, estabelecidos em zonas piloto dedicadas<br />

ao comércio eletrónico transfronteiriço,<br />

armazenando inventários em território chinês.<br />

Os produtos apenas são declarados à medida<br />

que são encomendados pelo consumidor<br />

final, não estando formalmente armazenados<br />

em território chinês. Estas zonas piloto, que<br />

operam à semelhança das zonas de livre<br />

comércio, encontram-se distribuídas por 30<br />

províncias, municípios e regiões autónomas<br />

do país, num total de 105 zonas. A título<br />

de curiosidade, a primeira zona com estas<br />

características foi criada em Hangzhou, em<br />

2015, cidade que alberga a sede da Alibaba.<br />

Assim, as mercadorias são entregues<br />

em pequenas parcelas à medida que são<br />

encomendadas. Cada vez que é efetuada uma<br />

encomenda, o operador da plataforma de<br />

e-commerce e o fornecedor de serviços locais<br />

autorizado, também conhecido como terceira<br />

parte, devidamente conectados com o sistema<br />

eletrónico das autoridades alfandegárias<br />

chinesas, procedem à declaração alfandegária<br />

de cada parcela em tempo real.<br />

Embora seja possível<br />

expedir encomendas a<br />

partir de Portugal com destino à China, no âmbito do<br />

comércio eletrónico transfronteiriço, dado tratar-se de<br />

uma transação entre dois países, o mesmo não se apresenta<br />

como a circunstância mais adequada aos hábitos de<br />

consumo chineses


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

Desta forma, o comércio eletrónico<br />

transfronteiriço envolve os seguintes atores<br />

principais:<br />

• Empresas exportadoras (cross-border<br />

e-commerce enterprises) que vendem produtos<br />

importados do estrangeiro ao consumidor<br />

final chinês, através desta modalidade. São as<br />

detentoras dos bens até à sua expedição para o<br />

consumidor final;<br />

• Operadores de comércio eletrónico<br />

transfronteiriço (cross-border e-commerce<br />

platforms), que se encontram registados na<br />

China, providenciam web space, espaços<br />

virtuais de negócios, regras de transação<br />

e execução de pagamentos, anúncios<br />

informativos e outros serviços destinados aos<br />

consumidores e empresas exportadoras, para<br />

transações e estabelecimento de sistemas de<br />

rede que permitam a condução de transações<br />

independentes entre as partes envolvidas;<br />

• Fornecedores de serviços locais (domestic<br />

service providers), também conhecidos<br />

como terceiras partes, consistem em<br />

entidades registadas na China, contratadas<br />

por empresas exportadoras para fornecer<br />

serviços de declaração, pagamento, logística,<br />

armazenamento, entre outros. Possuem<br />

qualificações para o efeito, fornecem<br />

informação direta sobre pagamentos, logística<br />

e armazenamento às autoridades alfandegárias,<br />

aceitam a supervisão da autoridades<br />

alfandegárias e autoridades reguladoras<br />

do mercado e assumem responsabilidades<br />

correspondentes;<br />

• Consumidores: compradores locais de<br />

produtos importados pela via do comércio<br />

eletrónico transfronteiriço.<br />

Não obstante das medidas preferenciais<br />

do comércio eletrónico transfronteiriço, com<br />

destaque para a redução da carga fiscal que<br />

incide sobre os operadores, importa ressalvar<br />

que esta modalidade poderá apresentar<br />

benefícios limitados para determinadas<br />

categorias de produtos. Trata-se de um<br />

modelo que pode envolver custos logísticos<br />

acrescidos, na medida em que as empresas<br />

exportadoras são responsáveis por cobrir<br />

os custos associados ao armazenamento de<br />

mercadorias, bem como os custos do serviço<br />

de agenciamento fornecidos pelos entrepostos<br />

alfandegários estabelecidos nas zonas de livre<br />

comércio.<br />

Na mesma medida, este modelo pode<br />

compreender inventários parados sem<br />

garantia de venda da sua totalidade, condição<br />

particularmente influente no comércio de<br />

bens perecíveis e com tempo de prateleira<br />

mais reduzido. Além disso, é mais competitivo<br />

para produtos comercializados com relativa<br />

frequência e em maior volume, reduzindo<br />

os riscos associados à perecibilidade dos<br />

inventários sob a responsabilidade do<br />

exportador.<br />

Partindo do exemplo dos produtos<br />

portugueses comercializados nas plataformas<br />

eletrónicas chinesas, constata-se que os<br />

produtos comercializados pelo modelo de<br />

comércio eletrónico transfronteiriço dizem<br />

respeito a produtos não perecíveis, de marcas<br />

como a Renova e Benamor. Por sua vez, os<br />

vinhos e cerveja produzidos em Portugal são<br />

ainda, na sua grande maioria, comercializados<br />

pelo método tradicional.


30<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Legislação nos canais<br />

de venda eletrónicos<br />

O crescimento do comércio eletrónico<br />

tem beneficiado as empresas aderentes,<br />

promovendo a sua internacionalização,<br />

alargando o seu espectro de clientes e<br />

potenciando o seu volume de vendas. Importa<br />

notar, contudo, que o aumento do volume de<br />

transações, à distância de um simples clique,<br />

propicia o aumento de infrações relacionadas<br />

com direitos de propriedade intelectual.<br />

Ao longo da última década, a China tem<br />

realizado uma reforma mais abrangente sobre<br />

as várias legislações regulamentares, com<br />

vista a incrementar o ambiente de negócios do<br />

país, com enfoque na legislação sobre marcas<br />

registadas, na legislação sobre os direitos<br />

de propriedade intelectual e na legislação<br />

sobre patentes. Encontra-se, de igual modo,<br />

a ser delineado um novo projeto de lei sobre<br />

proteção de segredos comerciais e anti<br />

monopólio.<br />

Em agosto de 2017, a China estabeleceu o<br />

primeiro tribunal exclusivamente dedicado a<br />

casos judiciais relacionados com atividades<br />

conduzidas na internet na cidade de Hangzhou,<br />

ao qual se seguiu a criação de dois tribunais<br />

com estas características nas cidades de<br />

Pequim e Cantão.<br />

A 31 de agosto de 2018, o Conselho<br />

de Estado da China promulgou<br />

a primeira legislação sobre<br />

comércio eletrónico, entrando<br />

esta em vigor a 1 de janeiro de<br />

2019<br />

A 31 de agosto de 2018, o Conselho de<br />

Estado da China promulgou a primeira<br />

legislação sobre comércio eletrónico, entrando<br />

esta em vigor a 1 de janeiro de 2019. Esta<br />

legislação passou a dar resposta às atividades<br />

do comércio eletrónico no país, respeitantes à<br />

realização e execução de contratos, resolução<br />

de disputas, responsabilidades legais, bem<br />

como proteção e cumprimento dos direitos de<br />

propriedade intelectual, estipulando direitos<br />

e deveres dos seus atuantes. O comércio<br />

eletrónico transfronteiriço é igualmente<br />

abrangido por esta legislação, aplicável<br />

às plataformas operadoras e fornecedores<br />

de serviços. A legislação não tem efeitos<br />

extraterritoriais, pelo que as empresas<br />

exportadoras não se encontram sob o seu<br />

alcance direto.<br />

As melhorias introduzidas pelas reformas<br />

da legislação chinesa têm permitido avanços<br />

administrativos que permitem às empresas<br />

estrangeiras reclamar os seus direitos no<br />

mercado, verificando-se um número crescente<br />

de processos judiciais decorridos no país,<br />

que tendem a favor dos titulares de direitos<br />

de propriedade intelectual. Ainda assim,<br />

o crescimento exponencial do comércio<br />

eletrónico tem contribuído igualmente para o<br />

aumento dos casos de infração, com empresas<br />

e indivíduos a tirarem partido das lacunas<br />

dos modelos de negócio das plataformas de<br />

comércio eletrónico para infringirem direitos<br />

de propriedade intelectual pelo princípio de<br />

má-fé. Denota-se, igualmente, a crescente<br />

sofisticação dos infratores na aplicação destes<br />

casos específicos de má-fé, com o objetivo de<br />

confundir os consumidores.<br />

A resolução de disputas desta natureza,<br />

através dos mecanismos disponibilizados pelas<br />

plataformas de comércio eletrónico da China,<br />

com a supervisão da China National Intellectual


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Property Administration (CNIPA) não é, por<br />

vezes, óbvia, requerendo a apresentação de<br />

documentação administrativa, o que dificulta<br />

as diligências iniciadas pelos titulares de<br />

direitos, como por exemplo a necessidade de<br />

apresentar documentação traduzida para o<br />

idioma mandarim devidamente reconhecida<br />

pelos serviços autenticadores da Embaixada da<br />

República Popular da China no país de origem<br />

do reclamante. O acesso a estes serviços<br />

encontra-se temporariamente limitado devido<br />

aos constrangimentos impostos pela pandemia<br />

nas atividades realizadas pelas representações<br />

diplomáticas dos vários países, ao qual a China<br />

não é exceção.<br />

Recomenda-se, deste modo, às empresas já<br />

presentes nestes canais de venda eletrónicos,<br />

bem como àquelas que pretendem aderir<br />

a esta modalidade comercial, a análise<br />

prévia dos mecanismos de resolução de<br />

disputas oferecidos pelas plataformas<br />

de comércio eletrónico e a compilação<br />

antecipada da documentação solicitada por<br />

estes mecanismos, procurando prevenir<br />

contratempos. O registo de direitos de<br />

propriedade intelectual é indispensável no<br />

acesso ao mercado chinês.<br />

Atualmente, decorre, com o financiamento<br />

da Comissão Europeia, o projeto “China IP SME<br />

Help Desk”, desenvolvido com o propósito<br />

de apoiar as PME europeias em atividades<br />

relacionadas com direitos de propriedade<br />

intelectual na China, através da produção de<br />

conteúdos informativos e aconselhamento<br />

especializado, o qual se encontra igualmente<br />

ao dispor das empresas nacionais.<br />

CONNOSCO


32<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

As maiores empresas de<br />

e-commerce chinesas<br />

De acordo com o estudo de mercado “China<br />

Most Valubale E-commerce Companies 2020”,<br />

conduzido pela Hurun China, o ranking das<br />

principais empresas de comércio eletrónico da<br />

China assumiu, em 2020, a seguinte estrutura,<br />

por ordem de valor de mercado:<br />

Jingdong.com<br />

7.490 mil milhões de yuan<br />

Criada em 1998, iniciou atividades<br />

económicas com recurso a meios<br />

eletrónicos em 2004, concentrando-se<br />

atualmente na venda de produtos da gama<br />

média e alta. Reúne cerca de 400 milhões<br />

de utilizadores.<br />

Alibaba<br />

41.090 mil milhões de yuans<br />

Após mais de 20 anos de desenvolvimento,<br />

sob os desígnios do fundador Jack Ma, a<br />

Alibaba possui atualmente mais de 960<br />

milhões de consumidores ativos em todo o<br />

mundo, sendo detentora das plataformas<br />

de comércio eletrónico Taobao e Tmall.<br />

Meituan Dianping<br />

9.190 mil milhões de yuans<br />

Fundada na capital de Pequim, em<br />

2010, consiste atualmente na principal<br />

plataforma de serviços de entrega de<br />

refeições, compras de bilhetes no setor de<br />

entretenimento, partilha de bicicletas, entre<br />

outros, liderando o comércio eletrónico de<br />

serviços prestados localmente. Em 2020,<br />

registou transações realizadas por 450<br />

milhões de utilizadores.<br />

Pinduoduo<br />

7.280 mil milhões de yuans<br />

A Pinduoduo foi fundada em 2015 e tem<br />

registado um rápido desenvolvimento<br />

através de um modelo de negócios<br />

que combina o social com o comércio<br />

eletrónico. Tornou-se numa das três<br />

principais empresas de comércio eletrónico<br />

na China, em termos de vendas realizadas,<br />

com 600 milhões de utilizadores ativos,<br />

sendo apenas superada pela Alibaba.<br />

Didi Chuxing<br />

3.600 mil milhões de yuans<br />

Consiste numa plataforma de prestação de<br />

serviços de transporte, servindo mais de<br />

550 milhões de usuários. Com 600 milhões<br />

de utilizadores ativos e cerca de 13 mil<br />

trabalhadores, realizou, em 2020, uma<br />

média diária de 60 milhões de viagens,<br />

a nível mundial, oferecendo serviços no<br />

Panamá, Rússia, Peru, Nova Zelândia,<br />

República Dominicana e Argentina, para<br />

além da China.


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

A CARREGAR...<br />

... e desta vez não estamos a falar de contentores.<br />

FIQUE ATENTO!<br />

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34<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Conselhos úteis<br />

• Como primeiro passo de adesão ao<br />

comércio eletrónico na China, as empresas<br />

exportadoras devem analisar vantagens<br />

e desvantagens dos modelos de negócio<br />

aplicados neste canal de vendas, e prestar<br />

particular atenção ao fornecedor de serviços<br />

com o qual estabelecem cooperação, neste caso<br />

as empresas atuantes como terceiras partes.<br />

Tratando-se de uma opção viável e facilitadora<br />

para a maioria das PME, um número crescente<br />

de empresas estrangeiras opta por estabelecer<br />

sucursais na China, por cooperação com<br />

cidadãos locais familiarizados com as atividades<br />

da empresa, que possuem um conhecimento<br />

mais alargado e maior proximidade com o<br />

mercado chinês. Nestes casos, as sucursais<br />

estabelecidas no mercado (foreign invested<br />

enterprises - FIE), com as devidas autorizações,<br />

podem realizar as atividades de outra forma ao<br />

encargo de fornecedores de serviço, garantindo<br />

um maior controlo sobre inventários e margens<br />

praticadas pelas mesmas;<br />

• A entrada nos canais eletrónicos da<br />

China requere investimentos em marketing<br />

e comunicação devido à forte concorrência<br />

existente, sendo habitual que os distribuidores<br />

locais solicitem apoios financeiros, com o<br />

objetivo de realizar campanhas de comunicação<br />

que concedam maior visibilidade aos produtos<br />

nos algoritmos das plataformas de comércio<br />

eletrónico chinesas;<br />

• Noutro contexto, a pandemia COVID-19<br />

veio impor desafios adicionais para as empresas<br />

exportadoras, como a impossibilidade dos<br />

empresários portugueses se deslocarem à<br />

China, limitando os trabalhos de promoção<br />

neste mercado, nomeadamente a participação<br />

em feiras setoriais de maior relevo e o<br />

acompanhamento de clientes chineses, bem<br />

como o acompanhamento de atividades<br />

associadas ao comércio eletrónico. Por este<br />

motivo, aconselham-se as empresas nacionais a<br />

apostarem nos canais de comunicação digitais,<br />

promovendo reuniões online com contrapartes<br />

chinesas, a participação em edições online<br />

de feiras e webinars setoriais e a aposta nos<br />

canais de venda eletrónicos do país, seguindo<br />

o modelo que melhor corresponda à sua<br />

estratégia;<br />

• Não obstante, devem ser redobrados os<br />

cuidados associados à utilização de plataformas<br />

digitais como meios para a condução de<br />

negócios e a celebração de contratos,<br />

alertando-se para a necessidade de recorrer aos<br />

mecanismos formais ao dispor das empresas,<br />

evitando a título de exemplo firmar acordos e<br />

deliberações com base em mensagens trocadas<br />

em plataformas digitais, como o WeChat. Por<br />

causa dos atuais constrangimentos ao nível<br />

da mobilidade internacional, um número<br />

crescente de empresários nacionais e chineses<br />

contactam a partir desta plataforma. Apesar<br />

disso, as comunicações realizadas por esta via<br />

apresentam uma validade limitada em caso de<br />

resolução de disputas judiciais. •<br />

Fonte: Artigo originalmente publicado na “Portugal Global” N.º 145


procurement<br />

35<br />

O potencial da<br />

tecnologia<br />

Texto: Ana Paiva<br />

A importância<br />

de um processo<br />

de procurement<br />

digital<br />

A tecnologia na área do procurement é uma<br />

realidade que ainda não foi propriamente<br />

abraçada por muitas empresas. Cláudio<br />

Cardoso, public sector director da Everis NTT<br />

Data Portugal, explica-nos quais os desafios<br />

que a área do procurement enfrenta<br />

actualmente, o potencial da digitalização<br />

nos processos de compras, e a realidade de<br />

Portugal face a este tema.<br />

Quais são os actuais problemas da área de<br />

procurement?<br />

Cláudio Cardoso > Vivemos um período<br />

ímpar da nossa História. Se é verdade que a<br />

pandemia e o confinamento vieram aumentar<br />

as dificuldades nas áreas do procurement,<br />

pondo-as a descoberto, e, assim, acentuar<br />

alguns problemas das organizações que não<br />

estavam preparadas, e não se prepararam,<br />

para os novos métodos de trabalho. Também<br />

é inegável que vieram potenciar o recurso a<br />

novas soluções e o investimento nas mesmas<br />

numa corrida contra o tempo, tentando<br />

acompanhar uma realidade emergente,<br />

exigente e urgente.


36<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

A diversidade de necessidades de compras<br />

por parte de uma organização é cada vez maior<br />

e, dependendo da sua dimensão, abrange áreas<br />

tão distintas como Recursos Humanos, Negócio,<br />

Sistemas de Informação, Comunicação, ou<br />

Qualidade e Ambiente, entre outras. Cada vez<br />

mais o factor tempo é crucial num processo<br />

aquisitivo bem como o conhecimento do<br />

próprio processo, que nem sempre é igual e, é<br />

fértil em excepções, mas também é esperado<br />

que as áreas de compras sejam diligentes e que<br />

a compra vá ao encontro das expectativas de<br />

quem lança uma necessidade – seja do ponto<br />

de vista da qualidade do bem/serviço seja do<br />

ponto de vista do fornecedor.<br />

Por essa razão, as organizações que não<br />

têm um verdadeiro processo de procurement<br />

digital e inteligente provocam nas várias<br />

áreas um sentimento de frustração, cada vez<br />

mais com pessoas menos habilitadas, sendo<br />

obrigadas ao preenchimento da mesma<br />

informação de forma repetida, necessidade<br />

de acesso a diferentes sistemas, ausência<br />

de comunicação e envolvimento durante o<br />

processo e dependência de terceiros para o<br />

acompanhamento de processos. São estes<br />

os desafios que quem trabalha numa área de<br />

compras se vê obrigado a gerir no seu dia-a-dia.<br />

Que soluções podem ajudar a resolvê-los?<br />

> Só com o investimento e aposta em<br />

soluções totalmente digitais e integradas<br />

é possível conseguir que os processos<br />

de compras sejam mais ágeis, flexíveis e<br />

coerentes. Soluções que também promovam<br />

um clima de participação, levando a que todos<br />

os intervenientes possam contribuir com<br />

informação e ser parte integrante no processo<br />

do início ao fim: desde a identificação da<br />

necessidade até à execução do contrato.<br />

Só com o investimento<br />

e aposta em soluções<br />

totalmente digitais e<br />

integradas é possível<br />

conseguir que os processos<br />

de compras sejam mais ágeis,<br />

flexíveis e coerentes<br />

Quatro pilares basilares suportam toda<br />

a cadeia de compras e devem ser tidos<br />

em consideração durante o investimento<br />

em novas soluções: desmaterialização de<br />

processos, integração de sistemas, segurança/<br />

transparência e elasticidade dos dados, e<br />

recurso a automatização para aceleração de<br />

procedimentos mais administrativos.<br />

Impõe-se, por isso, uma verdadeira<br />

transformação digital dos processos de<br />

compras, para que se tornem cada vez mais<br />

integrados, ágeis, transparentes e eficientes<br />

para que, por um lado, os fornecedores<br />

continuem a atrair os grandes compradores,<br />

mas também para que os grandes compradores<br />

continuem a atrair os melhores fornecedores,<br />

conseguindo, assim, maximizar o objectivo<br />

da compra: reduzir os custos, aumentar a<br />

qualidade e melhorar a satisfação dos vários<br />

intervenientes.<br />

Cada vez mais as áreas de compras assumem<br />

um papel central e decisivo dentro de uma<br />

organização. Por essa razão, há que investir nas<br />

soluções internas, não as encarando como um<br />

custo, mas sim como investimento, capacitando<br />

as áreas de compras (suporte interno) com<br />

soluções integradas de gestão e de apoio à<br />

decisão.


Quais as tecnologias com maior grau<br />

de adopção no sector e quais as que serão<br />

tendência num futuro próximo?<br />

> Nas últimas décadas temos assistido a um<br />

investimento em tecnologias ERP (Enterprise<br />

Resource Planning) para suportar os processos<br />

de compras das grandes organizações. Esta<br />

opção tem por base a facilidade de aquisição<br />

de novos módulos, num sistema já implantado<br />

para outros propósitos: financeiro e recursos<br />

humanos. Esta aposta tem-se vindo a verificar<br />

cada vez mais insuficiente, tornando o processo<br />

de compras pouco ágil e de difícil integração<br />

com outros sistemas de informação. Com<br />

uma economia cada vez mais competitiva,<br />

imprevisível e volátil, a adopção de novas<br />

tecnologias é um garante para o sucesso. A<br />

evolução tecnológica é constante e todos os<br />

dias surgem novas tecnologias disruptivas.<br />

Importa, assim, avaliar quais os benefícios que<br />

se podem retirar de cada uma delas.<br />

Um recente estudo do Banco Mundial<br />

descreve quais as tecnologias mais disruptivas<br />

para as compras públicas e que podem ter um<br />

impacto significativo na função estratégica<br />

das compras públicas para os governos e para<br />

a sociedade em geral. Destaco as tecnologias<br />

mais emergentes que começam a surgir nesta<br />

área e que certamente se consolidarão num<br />

futuro próximo: computação na nuvem (cloud<br />

computing), inteligência artificial, robotização<br />

de processos (Robotic Process Automation –<br />

RPA) e Blockchain.<br />

Com uma economia cada vez mais<br />

competitiva, imprevisível e volátil,<br />

a adopção de novas tecnologias é<br />

um garante para o sucesso<br />

Quais as diferenças entre a realidade local e<br />

a realidade global?<br />

Neste ponto importa distinguir duas<br />

realidades na área das compras: entidades<br />

públicas e empresas privadas. Com a alteração<br />

ao Código dos Contratos Públicos, ocorrida<br />

em 2008, Portugal adoptou uma abordagem<br />

de e-procurement para todas as entidades<br />

públicas, exigindo-se que todas as aquisições<br />

sejam feitas através de meios electrónicos,<br />

recorrendo a plataformas privadas, onde é<br />

possível realizar parte do ciclo de vida do<br />

processo de compras online (pré-contratual).<br />

Neste capítulo, Portugal conseguiu um<br />

avanço substancial, face a outros estados-<br />

-membros da União Europeia atingindo<br />

algumas metas relevantes, nomeadamente no<br />

que toca à redução da carga administrativa,<br />

de irregularidades processuais e maior<br />

transparência. Não obstante esta evolução,<br />

o ciclo de vida do processo de compras é<br />

bastante mais alargado e a utilização deste<br />

tipo de plataformas não resolve per si a<br />

necessidade de gestão do processo como um<br />

todo em todas as fases do seu ciclo de vida,<br />

a interoperabilidade com outros sistemas,<br />

a possibilidade de analisar os dados ou a<br />

criação de automatismos, entre outros. No<br />

entanto, e embora se reconheçam os avanços<br />

e a evolução relativamente àqueles que eram<br />

os procedimentos anteriores, a verdade é<br />

que Portugal tem ainda um longo caminho<br />

a percorrer e que exige um ainda maior<br />

investimento na área do e-procurement, tanto<br />

a nível público como privado, posicionando-<br />

-nos de forma que possamos competir ao mais<br />

alto nível de exigência que a área das compras<br />

exige. •


Paulo Gonçalves, project manager, Inovflow<br />

38<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

procurement<br />

Gestão eficiente<br />

6 boas<br />

práticas para<br />

otimizar o<br />

processo de<br />

compras<br />

Sabia que os custos<br />

de aquisição de bens<br />

necessários à produção e<br />

ao funcionamento de uma<br />

empresa representam em<br />

média mais de 50% do total<br />

das suas receitas?<br />

Para rentabilizar e assegurar a<br />

sustentabilidade do negócio, é fundamental<br />

garantir uma gestão eficiente e rigorosa do<br />

processo de compras, pois a diferença entre<br />

comprar bem e mal faz toda a diferença no<br />

resultado final.<br />

Em primeiro lugar, há que interiorizar que<br />

as compras deixaram de ser uma mera função<br />

operativa que apenas visa suprir necessidades e<br />

servir outros departamentos, e passaram a ser<br />

uma função estratégica com impacto direto no<br />

negócio.<br />

Para otimizá-la, é preciso adotar uma atitude<br />

proativa e ter consciência de que as decisões<br />

influenciam, positiva ou negativamente, todas<br />

as áreas da empresa.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

A padronização e automatização de<br />

processos, com fluxos e responsabilidades<br />

bem definidos, dão uma preciosa ajuda<br />

para responder cabalmente a uma série de<br />

perguntas críticas:<br />

• O que é preciso comprar?<br />

• Quais os fornecedores de confiança que<br />

garantem a melhor relação qualidade-preço-<br />

-prazo de acordo com os requisitos e normas<br />

internas?<br />

• Como estão os stocks, existem na<br />

quantidade adequada e quando é necessário<br />

processar novas encomendas?<br />

• Os destinatários das compras estão<br />

satisfeitos?<br />

• Os bens comprados desempenham bem<br />

o seu propósito?<br />

• Os utilizadores tiram partido na sua<br />

plenitude?<br />

• Se forem matérias-primas, garantem<br />

o nível de excelência preconizado para o<br />

produto final?<br />

A gestão de compras é uma atividade que<br />

deve promover o aumento da eficiência, a<br />

organização e redução do ciclo e dos custos<br />

de aquisição, a qualidade dos produtos<br />

e serviços prestados, a rentabilidade e a<br />

vantagem competitiva das empresas.<br />

É sempre possível<br />

fazer melhor<br />

Para que o responsável pelas compras coordene<br />

e monitorize bem o seu fluxo contínuo e<br />

corresponda às necessidades existentes e<br />

futuras, é necessário conhecer plenamente a<br />

empresa, a sua oferta e o seu mercado.<br />

Comprar bem implica garantir os timings,<br />

comparar e negociar preços, analisar a previsão<br />

de vendas, assegurar a qualidade, comprar nas<br />

quantidades certas face à procura expectável e<br />

conseguir boas condições de pagamento.<br />

O processo de compras pode assim ser mais<br />

eficiente e contribuir de forma clara para a<br />

rentabilização do negócio através:<br />

1. Da melhor identificação das<br />

necessidades da empresa<br />

A análise e a identificação em tempo útil das<br />

necessidades de compra devem ser uma prática<br />

corrente nas empresas que pretendem melhorar a<br />

gestão de compras.<br />

Neste ponto, torna-se imprescindível conhecer<br />

exatamente a gama de produtos, o prazo e a<br />

quantidade necessária para garantir os stocks<br />

ideais.<br />

2. Da escolha criteriosa dos<br />

fornecedores<br />

No processo de escolha dos fornecedores, é preciso<br />

ser rigoroso, dando especial atenção não só aos<br />

preços, mas também à qualidade dos produtos e<br />

ao cumprimento dos prazos de entrega.<br />

Uma cadeia de abastecimento forte é meio<br />

caminho andado para que a gestão seja mais fácil<br />

e eficiente.<br />

Os bons relacionamentos, em que impera a<br />

confiança e a disponibilidade, são cruciais para a<br />

realização de boas compras.


40<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

3. De uma correta avaliação de<br />

propostas<br />

Depois de solicitadas e recebidas as propostas<br />

dos fornecedores, estas deverão ser centralizadas<br />

e apresentadas num mapa comparativo, no qual<br />

constem todas as variáveis da consulta e se cruzem<br />

as ofertas dos vários fornecedores, para encontrar<br />

a melhor solução face ao que ficou definido como<br />

requisitos.<br />

4. Da rentabilização das<br />

compras<br />

Analisar quais os bens que permitem rentabilizar<br />

a compra se por exemplo forem adquiridos<br />

numa grande encomenda, se a adjudicação for<br />

antecipada, se existir um prazo de pagamento<br />

mais rápido ou se forem agregados num único<br />

fornecedor, beneficiando de descontos e<br />

promoções adicionais.<br />

5. Da melhor formação dos<br />

colaboradores<br />

O domínio de competências como práticas de<br />

gestão, técnicas de negociação, análise de dados,<br />

relação interpessoal, entre outros, é muito<br />

importante para quem trabalha com compras.<br />

Ao terem as qualificações necessárias e serem<br />

continuamente valorizados e qualificados, os<br />

colaboradores são mais eficientes nas suas funções<br />

com ganhos para todos.<br />

6. Da utilização de tecnologia<br />

Todos os passos associados à gestão de compras<br />

podem ser otimizados e automatizados através da<br />

utilização de plataformas tecnológicas.<br />

Organizar e centralizar as informações de<br />

fornecedores, produtos, stocks, aprovações,<br />

gastos, necessidades, cotações e encomendas<br />

tornam o trabalho mais eficaz, rápido e simples.<br />

Com as tarefas manuais reduzidas ao mínimo e o<br />

controlo rigoroso assegurado pelas ferramentas<br />

de Procurement (devidamente integradas com o<br />

ERP existente), os colaboradores podem focar-se<br />

em ações de efetivo valor acrescentado como o<br />

planeamento, a implementação e a monitorização<br />

da estratégia de compras:<br />

• Analisar a cada momento os indicadores de<br />

negócio;<br />

• Procurar os melhores fornecedores para cada<br />

situação;<br />

• Negociar as propostas da melhor forma e<br />

conseguir o rácio certo de stocks.<br />

Uma solução de e-procurement permite aceder<br />

facilmente aos insights que realmente interessam<br />

e tomar decisões fundamentadas e atempadas, em<br />

qualquer altura e em qualquer lugar.<br />

Reunidas numa mesma fórmula, estas<br />

seis boas práticas permitirão às empresas<br />

melhorarem significativamente os seus<br />

processos de compras, garantindo que<br />

se afirmam no mercado com diferenças<br />

competitivas ao nível da agilidade, eficiência,<br />

rigor e racionalização dos custos. •


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42<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

procurement<br />

O papel do CPO<br />

Tradução e adaptação: Fábio Santos<br />

Muito mais<br />

que um<br />

navio<br />

O texto original foi publicado no blog<br />

internacional sobre procurement e supply<br />

chain Spend Matters, e o seu autor, Alex<br />

Klein, COO e co-fundador da Ef ficio<br />

Consulting explica muito bem o que vive<br />

um profissional de procurement no seu<br />

dia-a-dia: a habitual estrada é substituída<br />

por um vasto mar, o nosso carro é trocado<br />

pelo instável navio e aquela brisa simpática<br />

que passa pela janela torna-se numa forte<br />

tempestade. O risco torna-se uma realidade<br />

e não é qualquer um que navega neste<br />

oceano de incerteza e volatilidade.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

O ponto sem retorno<br />

Quando a pandemia apertou os travões<br />

das cadeias de abastecimento em todo<br />

o mundo no ano passado, ficou claro<br />

que empresas tinham as suas operações em<br />

ordem e quais, infelizmente, não tinham. Num<br />

contexto económico desafiante de orçamentos<br />

mais apertados, restrições à oferta e uma<br />

rede global em declínio, aqueles com cadeias<br />

de abastecimento robustas conseguiram<br />

aproveitar uma vantagem competitiva<br />

sobre os seus concorrentes mal preparados,<br />

deixando-os para trás na poeira.<br />

No meio deste caos, e anteriormente<br />

negligenciada a favor dos aspectos mais<br />

sexys da gestão da cadeia de abastecimento,<br />

a função de procurement emergiu finalmente<br />

das sombras — forçada à ribalta para enfrentar<br />

os desafios que a cadeia de abastecimento<br />

tinha em mãos. As normas existentes da<br />

cadeia de abastecimento foram postas em<br />

causa à medida que a turbulência em torno<br />

dos acontecimentos do início de 2020 expôs<br />

descuidos e vulnerabilidades, e o procurement<br />

estava na linha da frente para ultrapassar isso.<br />

Alex Klein<br />

Enquanto nós, oxalá, emergimos do outro lado<br />

de muitos destes eventos, as empresas não<br />

podem fazer com que as coisas voltem a ser<br />

como eram. Se o procurement e o cargo de<br />

CPO são necessários para os piores momentos,<br />

então imaginem como poderiam prosperar nos<br />

melhores. As organizações mais bem-sucedidas<br />

de hoje sabem-no, e isso vê-se.<br />

É por isso que o cargo de CPO deve ter uma<br />

influência mais ampla. Para uma organização<br />

mais ampla, o procurement - durante muito<br />

tempo - tem sido visto e tratado como uma<br />

função de back-office. Sem ser demasiado<br />

técnico, isto deve-se, em grande parte, ao<br />

facto de, pelo valor facial, não ser uma parte<br />

excitante ou sedutora do negócio. É visto<br />

como o culminar do esforço administrativo e,<br />

posteriormente, sofreu por fazer parte de um<br />

círculo vicioso que não tem a plataforma para<br />

provar o seu valor, e, portanto, não consegue<br />

flectir os músculos o suficiente para ganhar um<br />

pedestal mais proeminente.<br />

Foi preciso uma influência externa para<br />

destacar as ineficiências ou riscos existentes<br />

que tinham sido negligenciados em favor<br />

de benefícios acima referidos, tais como a<br />

globalização ou modelos de um fornecedor<br />

eficazes em termos de custos. Em sinal, 2020-<br />

<strong>2021</strong> serviu mais do que apenas uma influência<br />

externa. Juntamente com o COVID, o Reino<br />

Unido também tem vindo a lidar com um novo<br />

cenário internacional, fruto do Brexit. Além<br />

disso, o recente bloqueio do Canal do Suez<br />

também confirmou a necessidade de optimizar<br />

as cadeias de abastecimento em preparação<br />

para mais eventos de cisne negro que possam<br />

surgir. Especialmente para os fabricantes, a<br />

actual escassez global de chips tem vindo<br />

a ser mais um caso para o abastecimento


44<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

diversificado ou próximo do litoral. O esforço<br />

de vacinação COVID no meio da ascensão das<br />

variantes foi ainda outro problema.<br />

Acrescentar valor<br />

Estes tempos mais complicados provaram<br />

que o procurement é mais que um adereço<br />

secundário, e certamente mais que um navio<br />

para as tempestades marítimas. É uma enorme<br />

alavanca de rentabilidade, seja qual for a<br />

meteorologia. Afinal, o procurement representa<br />

entre 50% e 80% dos custos de uma empresa,<br />

dependendo da indústria. E a maior parte<br />

das poupanças extraídas destas despesas<br />

vão directamente para o fundo em termos de<br />

valor global. O procurement tem mostrado<br />

ter o potencial de aumentar o EBITDA de uma<br />

organização por 30% ou mais.<br />

Isto faz sentido, se pensar sobre isso.<br />

O gasto externo não é linear. É uma rede.<br />

O procurement pertence a tudo, desde o<br />

abastecimento do escritório a materiais<br />

em bruto, manutenção, equipamento,<br />

energia, transporte, marketing, IT e mais.<br />

Enquanto função, o procurement abrange<br />

unidades de negócio, geografias e linhas de<br />

orçamento. Ainda assim, tem sido visto como<br />

um administrativo dado. Uma necessidade<br />

imutável.<br />

Na realidade, e o que as organizações<br />

esperam agora perceber, é se a verdadeira<br />

optimização do canal de procurement reverte<br />

para potenciais refinamentos em 40 ou mais<br />

categorias, vias e canais.<br />

O sangue do negócio<br />

Por muito tempo, o procurement sentou-<br />

-se no coração da empresa, sem qualquer<br />

reconhecimento de que é realmente o<br />

sangue da empresa. As organizações esperam<br />

estabelecer mais controlo, visão, variabilidade<br />

e robustez nos seus numerosos canais de<br />

despesas, é hora de fazer o coração bater com<br />

maior visibilidade e som.<br />

Para a maioria, esta reavaliação do papel<br />

e importância de um CPO vai requerer uma<br />

mudança cultural e de mindset. Por muitos<br />

anos, o procurement se mante-ve passivo,<br />

alcançando o que era necessário e bloqueando<br />

a ideia de que precisava de melhorar enquanto<br />

uma disciplina já funcional. As organizações<br />

tinham, pensavam elas, alcançado a<br />

melhor prática. Ainda assim, permitir estas<br />

oportunidades de melhoria passar, num<br />

mercado que pede uma maior agilidade,<br />

resiliência e eficiência, pode apenas ser descrito<br />

como uma “má melhor prática”.<br />

É por esta razão que o posicionamento<br />

e alavancagem do procurement enquanto<br />

competência importante e condutor de valor<br />

é mais que apenas um ajuste técnico ou<br />

uma mudança da proeminência do CPO. O<br />

procurement precisa de apoio ao longo de<br />

toda a organização para garantir o sucesso da<br />

transacção – suporte ao nível das pessoas e<br />

das skills, ferramentas e tecnologia. Apenas<br />

com esta mudança de mindset, e com o<br />

investimento necessário numa nova cultura de<br />

compras, a verdadeira influência e impacto do<br />

CPO irá ser concretizada. •<br />

Nunca antes fora<br />

necessário fazer tanto e em tão pouco tempo


Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Um grande grupo.<br />

www.grupoconstant.com


46<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

Rebranding<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: ZØR<br />

Nova identidade,<br />

mesmos valores,<br />

mais objectivos<br />

Anteriormente conhecida como App<br />

Thermal Chain Innovation, a empresa<br />

da Maia chama-se agora ZØR. A<br />

par da nova identidade, pretende<br />

manter os mesmos princípios de<br />

sustentabilidade e apostar ainda mais<br />

na internacionalização.<br />

A<br />

nova ZØR acredita que o rebranding<br />

e a nova designação irão permitirlhe<br />

um posicionamento mais global,<br />

apresentando-se como “o parceiro que resolve<br />

qualquer desafio da cadeia térmica, de forma<br />

inovadora e tendo em conta as tendências<br />

futuras – sustentabilidade, digitalização,<br />

informação de dados e inteligência artificial”,<br />

refere a empresa, acrescentado que a nova<br />

marca “reflecte o reforço do mindset da<br />

empresa: global, inovadora e voltada para a<br />

consultoria através da oferta de serviços que<br />

permitem chegar, para cada cliente, à solução<br />

única, exacta e precisa que cada situação<br />

exige”.


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

À SCM, Manuel Pizarro, CEO da ZØR, explica<br />

que apesar de a pandemia não ter sido uma<br />

causa directa para esta mudança de identidade,<br />

este foi um período que levou a empresa a<br />

reflectir no caminho que pretendiam fazer “e,<br />

no nosso caso, queremos ser mais inovadores,<br />

mais sustentáveis e mais globais”. Assim, a<br />

alteração de nome surge numa altura “em<br />

que sentimos a necessidade de simplificar a<br />

nossa marca para que possamos transmitir<br />

a nossa energia e a nossa ambição, e para<br />

que possamos posicionar-nos no mercado<br />

internacional com mais clareza e foco”, afirma.<br />

Inovar nas soluções<br />

A sustentabilidade tem um papel importante<br />

nas soluções que a empresa constrói, uma vez<br />

que “um dos principais problemas ambientais<br />

que as empresas enfrentam está relacionado<br />

com os seus processos logísticos. A quantidade<br />

de plástico e outros materiais que são utilizados<br />

(muitas vezes uma única vez) é aterradora<br />

– apenas cerca de 14% das embalagens de<br />

plástico são recicladas globalmente. Com<br />

o crescimento das operações logísticas, a<br />

preocupação com a sustentabilidade tem de<br />

ser prioritária para todas as organizações”.<br />

A capacidade de reutilizar materiais é um<br />

princípio da ZØR e “já está presente há<br />

bastante tempo”, refere Manuel Pizarro,<br />

acrescentando que “é claramente necessário<br />

inovar as soluções apresentadas para que toda<br />

a cadeia de valor possa contribuir para uma<br />

maior sustentabilidade do nosso planeta”. A<br />

reutilização de materiais é um “eixo essencial”<br />

para a operação da empresa, uma vez que<br />

causa menos desperdício, menos utilização de<br />

materiais de uso único e permite a economia<br />

circular. “Com o crescimento da população e<br />

do consumo, é necessário valorizar cada vez<br />

mais o que se denomina por ‘Zero Waste’, e<br />

especialmente evitar o desperdício de bens<br />

essenciais como os alimentos e medicamentos”,<br />

alerta o CEO.<br />

Além dos produtos e do seu tratamento,<br />

uma maior visibilidade e transparência entre<br />

todos os elos, e uma gestão mais eficiente<br />

e optimizada também são exemplos do que<br />

é ser sustentável, segundo Manuel Pizarro.<br />

“Como uma empresa focada em ajudar os<br />

nossos clientes a dar resposta aos desafios<br />

que enfrentam, faz parte do nosso processo<br />

olhar para os desafios de uma forma integrada<br />

e recomendar soluções que permitam maior<br />

eficiência e que permitam que todos os<br />

intervenientes tenham plena noção do impacto<br />

que estão a ter no nosso planeta”, acrescenta.<br />

Desígnio global<br />

Esta mudança está a par da aposta da empresa<br />

na internacionalização, apesar de não ser um<br />

factor desconhecido para a ZØR, uma vez<br />

que já têm, até à data, projectos nos cinco<br />

continentes.<br />

Actualmente estão a tentar penetrar noutros<br />

mercados através do projecto ZØR Forward,<br />

que estabelece parceiros em vários países e,<br />

através do conhecimento e acesso a testes<br />

de laboratório proporcionados pela empresa,<br />

conseguem recomendar as melhores soluções<br />

de embalagem a quem delas necessita, neste<br />

caso as da ZØR. De acordo com o CEO estão<br />

a apostar na presença em países como Suíça,<br />

Dinamarca e França, por exemplo, “porque<br />

se queremos de facto ter um mundo mais<br />

sustentável, mais digital e mais inovador, não<br />

podemos focar-nos apenas no nosso país. Este<br />

esforço deve ser conjunto, juntando todos os<br />

players da cadeia de valor, por todo o mundo”,<br />

justifica. •


48<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

Modelo central de<br />

gestão<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Carrefour<br />

Brasil<br />

implementa<br />

WMS em modo<br />

SaaS<br />

O Carrefour já utiliza as soluções da<br />

Generix Group há alguns anos em vários<br />

países do mundo. Agora, o Carrefour<br />

Brasil selecionou a solução WMS em<br />

modo SaaS para a gestão dos seus<br />

armazéns, a ser implementada em todos<br />

os centros de distribuição do Grupo<br />

Carrefour em todo o país, com o objectivo<br />

de aumentar a sua competitividade como<br />

líder no mercado brasileiro.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

Nos próximos 10 meses, esta implementação<br />

da Generix Group ocorrerá em 12 centros<br />

de distribuição do Carrefour distribuídos<br />

pelo Brasil, incluindo o maior do país e um dos<br />

maiores do mundo, com mais de 94 mil metros<br />

quadrados.<br />

Tendo em conta que o Brasil é o segundo<br />

maior mercado depois de França, o país de<br />

origem da Carrefour, esta pode ser considerada<br />

uma decisão estratégica para o grupo. Por esse<br />

motivo, o projecto já foi pensado em melhorias,<br />

expansões e novas funcionalidades a curto/<br />

médio-prazo.<br />

A solução WMS em modo SaaS permitirá ao<br />

Carrefour criar um modelo central de gestão<br />

para toda a rede de centros de distribuição.<br />

Em comunicado, a empresa francesa refere<br />

que este modelo visa trazer mais agilidade<br />

para a melhoria contínua na reformulação da<br />

rede logística, e que esta uniformização irá<br />

facilitar a evolução dos armazéns existentes,<br />

ou a abertura de novos, e permitir a automação<br />

dos processos de cada centro de distribuição<br />

através da rede.<br />

As novas funcionalidades da solução deverão<br />

permitir o crescimento do desempenho com a<br />

utilização de novos algoritmos para interliving<br />

e slotting. Além disso, a solução tem ainda<br />

o módulo labor management para facilitar<br />

a monitorização. O projecto inclui ainda a<br />

implementação da solução Generix Datapower<br />

que irá garantir uma utilização extensiva de<br />

tecnologias de Big Data e análise de dados para<br />

benefício das operações do Carrefour.<br />

Marcelo Lopes, director de supply chain do<br />

Carrefour Brasil, afirma que “a migração das<br />

nossas soluções para SaaS abre as portas do<br />

Carrefour Brasil e mundo para a completa<br />

digitalização da supply chain. Isto irá permitir<br />

optimizar as nossas operações com a elevada<br />

flexibilidade e escalabilidade da solução WMS<br />

da Generix Group, que nos acompanha há<br />

muitos anos em todo o mundo. Além disso, a<br />

expansão para novas funcionalidades, como<br />

slotting e triangulação, por exemplo, num<br />

futuro próximo é muito mais simples”.<br />

Por sua vez, Julien Boisnet, chief sales<br />

officer da Generix Group, refere que “a nossa<br />

parceria com o Carrefour é de longa data<br />

e ficamos muito satisfeitos por continuar a<br />

apoiar o grupo nas suas evoluções de mercado,<br />

fornecendo soluções altamente escaláveis e<br />

que acompanham este crescimento, através do<br />

WMS e Datapower. Este grande passo responde<br />

à estratégia global do Carrefour de migrar para<br />

a cloud”. •<br />

A solução WMS em modo SaaS<br />

permitirá ao Carrefour criar<br />

um modelo central de gestão<br />

para toda a rede de centros de<br />

distribuição


50<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Tecnologias<br />

Automação e<br />

transformação<br />

as duas faces da mesma<br />

moeda chamada Digital<br />

Automatizar ou transformar: o que estaremos nós a fazer nas nossas<br />

empresas? A diferença existe: numa apenas simplificamos processos,<br />

noutra vamos muito mais além. Pedro Hugo Rocha, global procurement<br />

director center of excellence and contract manufacturing do Grupo<br />

Campari, explica, a título opinativo pessoal, qual é essa distinção e quais<br />

os processos associados a cada uma.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Transformação digital. Expressão<br />

potencialmente candidata à mais<br />

procurada no Google em <strong>2021</strong>. Já<br />

andava muito na moda, mas com<br />

o Plano de Recuperação para a<br />

Europa, formalizou-se como um<br />

pilar fundamental do plano<br />

europeu.<br />

Na minha opinião, a<br />

parte mais importante<br />

da expressão é a palavra<br />

transformação. Quando falamos<br />

em transformação digital nas nossas<br />

empresas, estamos realmente a falar<br />

em transformar?<br />

Há tempos encontrei uma forma que me<br />

parece bastante simples de organizar o tema,<br />

e com isso organizar também a forma como<br />

comunico e como estabeleço prioridades. Deixo<br />

aqui a minha contribuição.<br />

Se estamos a implementar tecnologia<br />

para melhorar processos existentes, com o<br />

intuito de os tornar mais eficientes, então<br />

verdadeiramente não estamos a transformar.<br />

Quando muito, estamos a automatizar,<br />

simplificar, desburocratizar, encurtar tempos de<br />

resposta, eliminar papel, etc. Para o efeito da<br />

explicação, vou usar o termo automatizar para<br />

me referir a esta ideia.<br />

Por outro lado, se estamos a implementar<br />

tecnologia digital para criar novos modelos<br />

de negócio e novas revenue streams, novas<br />

formas de interagir com o cliente e de<br />

entregar valor ao cliente, tirando partido das<br />

infinitas possibilidades criadas pela ubiquitous<br />

connectivity (isto é, toda a gente ligada a redes<br />

móveis a toda a hora e com o telemóvel na<br />

mão), então na minha perspectiva estamos<br />

realmente a transformar.<br />

Pedro Hugo Rocha<br />

Esta distinção pode<br />

parecer um preciosismo.<br />

Mas é importante fazer a<br />

separação porque na minha<br />

opinião as estratégias a adoptar<br />

são bastante diferentes.<br />

Automatizar<br />

A utilização de tecnologia para melhorar<br />

processos é algo que está connosco há mais de<br />

30 anos. Lembra-se do conceito de Business<br />

Process Re-engineering? Remonta ao início da<br />

década de 90. Este conceito procura optimizar<br />

processos de negócio, muitas vezes recorrendo<br />

a tecnologia para tornar os processos mais<br />

eficientes. A mensagem-chave é que todas as<br />

empresas devem perseguir obsessivamente<br />

a optimização de processos, e a tecnologia<br />

está extensamente disponível e com provas<br />

dadas. Na minha opinião, as empresas nao têm<br />

outra opção, têm que executar e rapidamente.<br />

Caso contrário, perderão competitividade<br />

no mercado e de forma acelerada. Utilizar<br />

tecnologia digital para optimizar processos<br />

tem como consequência, na maioria dos casos<br />

práticos, a redução de custos directos ou<br />

indirectos, portanto a melhoria do bottom-line.<br />

Muitas vezes, o efeito destas tecnologias é algo<br />

que os nossos clientes finais não chegam a<br />

percepcionar.


52<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Transformar<br />

Transformação digital é muito mais do que<br />

automatizar, desburocratizar, simplificar.<br />

Verdadeiramente, transformação digital<br />

começa com um processo que nada tem a ver<br />

com bits e bytes. Começa com a observação<br />

do cliente ou consumidor (customer-centric),<br />

cujas expectativas estão em transformação.<br />

É um exercício de humildade e de abertura,<br />

de desafio ao status quo, de aceitar que<br />

as forças vivas do sector em que a nossa<br />

empresa opera estão em mudança constante.<br />

É um exercício de fora para dentro. Dando<br />

como garantido o princípio da ubiquitous<br />

connectivity, a oportunidade a explorar é<br />

a seguinte: de que forma é que as nossas<br />

empresas podem chegar ao cliente pelas<br />

vias digitais (telemóvel, tablets, PCs), criando<br />

um canal directo de relacionamento com o<br />

cliente, e potencialmente utilizando esse canal<br />

digital para o cliente fazer directamente a<br />

compra, o pagamento ou a devolução? Indo<br />

mais longe, podemos concretizar a entrega<br />

do nosso serviço pelo canal digital, como<br />

acontece com as empresas de video-streaming<br />

ou com o e-banking? Podemos acrescentar<br />

valor, dando a possibilidade ao cliente de<br />

personalizar o artigo que quer comprar?<br />

Portanto, com transformação digital falamos<br />

de inovação 360º, não apenas da inovação<br />

de produtos e serviços, mas também da<br />

transformação de modelos de negócio, de<br />

cadeias de abastecimento, e de reinventar<br />

os nossos produtos e serviços com base nos<br />

insights gerados pelos clientes que, como<br />

sabemos, ficam facilmente acessíveis quando<br />

eles usam os canais digitais. É nesta área de<br />

inovação 360º que eu considero que a palavra<br />

transformação está muito bem aplicada.<br />

É elementar reconhecer o que o cliente<br />

valorizava há dez anos é muito diferente do<br />

que o cliente valoriza hoje, muito por força dos<br />

avanços no universo a que chamamos digital.<br />

Isto aplica-se a B2C mas também a B2B. A meu<br />

ver, é essencial dar como garantido o princípio<br />

da ubiquitous connectivity. Os critérios da<br />

conveniência na experiência da compra e<br />

do curto tempo de entrega são hoje muito<br />

valorizados. Basta olhar para o caso Amazon.<br />

Portanto, dando por certo que os clientes estão<br />

sempre ligados a redes móveis, a pergunta<br />

é: como posso reinventar o meu modelo de<br />

negócio para captar essa oportunidade e<br />

continuar a ser relevante para o cliente?<br />

Para concluir, o leitor poderá estar a<br />

perguntar: tendo recursos limitados, dedico-<br />

-me a automatizar ou a transformar? Há<br />

circunstâncias específicas que poderão levar<br />

a resposta exclusivamente para um ou para o<br />

outro. Mas no geral, a resposta é: deve fazer as<br />

duas e andar rapidamente.<br />

Automatizar é condição necessária de<br />

sobrevivência pela via do bottom-line. Isto<br />

é, se não automatizar o que é passível de ser<br />

automatizado, mais tarde ou mais cedo terá<br />

concorrentes no seu sector com estruturas<br />

de custo mais optimizadas, isto é, com maior<br />

rentabilidade. A sua empresa ficará em<br />

desvantagem competitiva. É um processo que<br />

poderá ser mais ou menos rápido, dependendo<br />

da velocidade com que as empresas do seu<br />

sector estão a implementar tecnologias<br />

para optimizar e automatizar processos. Um<br />

exemplo dessas tecnologias é a Robotic Process<br />

Automation (RPA).


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

Transformar é verdadeiramente onde se<br />

prepara o futuro de forma mais impactante.<br />

Penso que é aqui que se joga o futuro de<br />

muitos sectores ditos tradicionais, que têm<br />

sido transformados, ou estão em vias de o<br />

ser, por empresas nascidas digitais. O ponto-<br />

-chave é permanecer relevante para o cliente<br />

através de inovação 360º, com um enfoque<br />

forte no cliente que está always connected.<br />

Por inovação 360º, entenda-se a inovação em<br />

produtos e serviços, mas também a inovação<br />

nos modelos de negócio e canais de entrega<br />

dos bens e serviços, a inovação na experiência<br />

da compra que acontece cada vez mais num<br />

telemóvel ou num tablet. Devemos aceitar<br />

que o cliente está sempre ligado a uma rede<br />

móvel, tem um telemóvel na mão e é cada vez<br />

O ponto-chave é<br />

permanecer relevante<br />

para o cliente através<br />

de inovação 360º, com<br />

um enfoque forte no<br />

cliente que está always<br />

connected<br />

mais digital-savy. As expectativas mudaram:<br />

o cliente quer conveniência, personalização e<br />

rapidez na entrega. Se não gostar do produto,<br />

quer devolver com um click e vêm buscar a<br />

casa. •<br />

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54<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Tecnologias<br />

Hitachi Vantara<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Daniela Moço<br />

Uma loja<br />

futurista em<br />

navegador<br />

anónimo<br />

Já ouviu certamente falar das lojas sem caixas<br />

registadoras que estão a correr o mundo,<br />

mas já imaginou ir às compras sem ser<br />

necessário qualquer tipo de scan aos códigos<br />

de barras dos artigos, e ao sair o valor ser<br />

automaticamente descontado da sua conta?<br />

Então acrescente a isso a anonimidade total<br />

do cliente e uma análise detalhada de todo<br />

o seu percurso e comportamento em loja e<br />

tem aí uma tecnologia revolucionária. E é<br />

portuguesa!


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

A<br />

nova tecnologia da Hitachi Vantara foi<br />

desenvolvida em Portugal e está muito à<br />

frente do seu tempo. Combinando várias<br />

tecnologias diferentes, consegue identificar<br />

cada cliente e cada produto que ele retira<br />

da prateleira, sem nunca comprometer a<br />

identidade da pessoa, pois não existe sequer<br />

uma câmara para reconhecimento. Para a<br />

tecnologia, o cliente é apenas um número,<br />

para a protecção de dados, a tecnologia é o<br />

futuro.<br />

Tudo começou há cerca de um ano e meio.<br />

Um cliente da tecnológica tinha iniciado a<br />

sua aventura nas lojas autónomas e, após um<br />

projecto que não foi bem sucedido, colocou o<br />

desafio à Hitachi Vantara, com quem já estava<br />

a trabalhar num conceito de comportamento<br />

em loja.<br />

Em colaboração com um parceiro, montaram<br />

um conceito que combina várias tecnologias,<br />

uma própria, a LIDAR (Light Detection<br />

and Ranging), utilizada para perceber o<br />

comportamento da pessoa dentro do espaço<br />

físico, o que ela faz, por onde passa, onde pára<br />

e em que toca; e uma do parceiro, de prateleiras<br />

inteligentes, e que através de balanças de<br />

alta precisão e de algoritmos de Inteligência<br />

Artificial (IA) conseguem reconhecer objectos<br />

retirados ou repostos.<br />

Da esquerda para a direita: Jorge Antunes, Paulo Valério<br />

Conseguimos saber se a<br />

pessoa está a interagir<br />

com uma prateleira ou<br />

não, e com um objecto ou<br />

não, dentro do espaço<br />

Paulo Valério<br />

Uma solução “invisível”<br />

A proposta feita ao cliente foi composta<br />

predominantemente por estas duas<br />

tecnologias, mas aberta a qualquer<br />

equipamento inteligente. “Com essa informação<br />

correlacionamos os dados provenientes dos<br />

vários sistemas, e então gerimos o seu cesto<br />

virtual”, explica Paulo Valério, director de<br />

Inovação da Hitachi Vantara Portugal, “aquela<br />

experiência que nós temos de website, em<br />

que eu tenho o meu cesto e vou clicando e<br />

adicionando, transpomos isso totalmente para<br />

dentro do conceito de loja física utilizando<br />

tecnologias com um custo muito menor do que<br />

com câmaras”.


56<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

As tecnologias que tipicamente têm surgido<br />

no mercado envolvem essa imagem real, o<br />

que “tem o seu custo”, aponta o responsável,<br />

referindo-se à privacidade de informação e<br />

uma maior necessidade de processamento<br />

de informação em vídeo. Ao contrário desses<br />

métodos, esta solução transmite poucos<br />

kilobits de informação, enquanto os sistemas<br />

de vídeo transmitem cerca de 2 megabits de<br />

informação por segundo.<br />

“O que a nossa tecnologia LIDAR<br />

disponibiliza no final depende de uma posição<br />

X e Y da pessoa no seu espaço”, explica, Paulo<br />

Valério. Através dos feixes laser a tecnologia<br />

reconstrói o espaço tridimensional, e com<br />

o algoritmo de IA reconhece o padrão dos<br />

pontos, faz a distinção entre pessoa e objecto,<br />

identifica-a, e a partir daí toda a informação<br />

existente baseia-se nas coordenadas X e Y.<br />

Para além da localização espacial da pessoa<br />

na loja, a mesma tecnologia LIDAR é utilizada<br />

ainda noutro contexto: para acompanhar a<br />

posição das mãos. “Conseguimos saber se a<br />

pessoa está a interagir com uma prateleira<br />

ou não, e com um objecto ou não, dentro do<br />

espaço. Co-relacionando X e Y, o tempo, as<br />

mãos, a informação das prateleiras ou dos<br />

equipamentos inteligentes, eu consigo afirmar<br />

com elevada percentagem de confiança que é<br />

aquela pessoa, que pôs algo no seu cesto e que<br />

tem esse artigo para pagar”.<br />

De modo a identificar esse objecto contam<br />

com a tecnologia do parceiro, das prateleiras<br />

inteligentes. “O nosso parceiro trabalha com<br />

qualquer tipo de prateleiras”, afirma Paulo<br />

Valério, podendo mesmo adaptar prateleiras<br />

já existentes na loja a esta tecnologia, “são<br />

balanças que são colocadas em cada uma delas,<br />

e essas balanças com Inteligência Artificial<br />

conseguem a precisão do peso do objecto, a<br />

sua identificação e de que posição da prateleira<br />

foi retirado”.<br />

A questão de privacidade de dados que hoje<br />

tanto preocupa os consumidores é eliminada,<br />

pois tudo o que os sensores captam transmite-<br />

-se para uma silhueta verde, semelhante às do<br />

filme “Matrix”.<br />

Acesso ao cesto virtual<br />

Ao entrar no espaço, a pessoa apresenta<br />

um cartão de fidelidade da loja para lhe<br />

ser concedido o acesso, nunca sendo essa<br />

informação transmitida para a solução e apenas<br />

para a empresa raiz. “Do ponto de vista da<br />

solução eu não sei quem é, só sei que entrou<br />

lá dentro, e a loja diz-me que a pessoa 1/2/3,<br />

foi autorizada”, explica Paulo Valério, sendo<br />

apenas necessária uma validação da própria<br />

loja e nunca sendo essa informação transmitida<br />

à solução.


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

Do ponto de vista da solução eu<br />

não sei quem é, só sei que entrou<br />

lá dentro, e a loja diz-me que a<br />

pessoa 1/2/3, foi autorizada<br />

Paulo Valério<br />

Neste momento de validação, o cliente<br />

pode ainda decidir aceder à loja com um cesto<br />

virtual colectivo e ir em família ou com amigos,<br />

e todas as compras feitas irão para o mesmo<br />

cesto virtual. À saída, a pessoa poderá verificar<br />

o seu cesto numa habitual caixa de self-check<br />

out e confirmar os artigos antes de abandonar o<br />

espaço, e caso não tenha um cartão associado<br />

ao que forneceu à entrada, pode pagar nestas<br />

máquinas. “Nós não vamos substituir o sistema<br />

de backoffice do lojista. Nós vamos integrar<br />

totalmente com esse sistema de backoffice”,<br />

explica Jorge Antunes.<br />

Uma análise completa<br />

ao stock<br />

Para o lojista há ainda a vantagem de<br />

conseguir controlar os stocks em tempo real,<br />

pois essa informação está disponível e pode<br />

ser consultada no momento, podendo este ir<br />

repondo quando for necessário, ou até evoluir<br />

para um abastecimento Just In Time.<br />

Ao nível do rastreamento também é possível<br />

fazer uma situação de controlo de stock<br />

interno, ou seja, quem está a fazer a reposição<br />

tem uma lista de artigos para retirar do<br />

armazém e não pode ser nem mais, nem menos,<br />

nem sequer o errado, ou será emitido um<br />

alerta de erro no dispositivo de picking. Nesta<br />

situação, no entanto, existe uma identificação<br />

do colaborador para controlo interno.<br />

A análise dos dados também permite<br />

identificar algo que o lojista não conseguiria<br />

perceber tão bem de outra forma: a taxa de<br />

rejeição de um produto. Ou seja, é possível ver<br />

em detalhe o comportamento do cliente ao<br />

nível da análise do produto, por exemplo, em<br />

quais agarra para comparar, e qual devolve à<br />

prateleira.<br />

Esta análise de produto também permite<br />

fazer uma outra observação, pois o sistema<br />

permite ver o percurso do cliente em loja, e que<br />

produtos vai buscar depois. “Nós conseguimos<br />

perceber como é que o cliente constrói o seu<br />

cesto”, afirma Jorge Antunes, director da Hitachi<br />

Vantara Portugal, destacando essa importância<br />

de dados para as empresas. O responsável<br />

também comenta que esta é uma vantagem<br />

face à análise da informação “solta” de um talão<br />

de compra final, pois permite compreender<br />

não só o que a pessoa levou, mas também<br />

o que procurou levar também. Para além<br />

disso, através da ordem em que o carrinho foi<br />

construído também é possível ver que produtos<br />

o lembraram de outros e o fizeram voltar atrás<br />

para ir buscar.


58<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Nós conseguimos perceber<br />

como é que o cliente constrói<br />

o seu cesto<br />

Jorge Antunes<br />

Solução prestes a maturar<br />

Jorge Antunes conta que estão a desenvolver<br />

uma outra solução complementar através de<br />

uma solução de um cliente. Visto que a solução<br />

torna a loja autónoma, deixa de existir um<br />

colaborador junto da zona das frutas e dos<br />

legumes para auxiliar o cliente a escolher,<br />

por exemplo, um melão. Através do sensor<br />

desse cliente, o consumidor poderá apontar o<br />

sensor para o produto e este irá identificar se<br />

o produto está ou não pronto para consumo, e<br />

se ainda não estiver, quando estará. “Com este<br />

tipo de sensorização, nós conseguimos entregar<br />

uma qualidade de serviço extremamente<br />

diferenciada para o cliente final”, defende.<br />

“Esta é uma perspectiva”, aponta, “também<br />

podemos utilizar estes sensores para avaliar<br />

o estado de maturação dos frescos que temos<br />

dentro da loja para ver se eles ainda devem<br />

continuar lá ou se devem ser substituídos,<br />

e aí impacta na cadeia de abastecimento<br />

porque serão<br />

os fornecedores<br />

desses produtos<br />

que têm que lá ir<br />

buscá-los a tempo<br />

de eles ainda o<br />

poderem reutilizar<br />

para um outro<br />

negócio qualquer, e<br />

consequentemente<br />

vamos impactar<br />

directamente<br />

na cadeia de<br />

abastecimento,<br />

entrando aqui na economia circular”.<br />

Paulo Valério destaca ainda que “o nosso<br />

intuito não é retirar empregos às pessoas,<br />

é abrir novos espaços em locais onde<br />

normalmente não seria viável”, e dá o exemplo<br />

de postos de carregamento ou estádios.<br />

Devido à sua complexidade, e para facilitar<br />

toda a análise associada, o ideal é inserir esta<br />

tecnologia de loja autónoma num contexto de<br />

loja pequena ou média, e ao criar espaços onde<br />

normalmente não seria viável instalar um ponto<br />

de venda estão a ser gerados novos empregos,<br />

nomeadamente ao nível da logística, da<br />

reposição de loja, data analytics, entre outros.<br />

Aproveitando o facto de serem lojas mais<br />

pequenas e mais facilmente distribuídas, Jorge<br />

Antunes não exclui a possibilidade de serem<br />

utilizadas enquanto pontos de e-commerce<br />

para entregas mais rápidas aos consumidores,<br />

e por serem autónomas podem ser facilmente<br />

aplicadas num contexto de loja 24/7.<br />

O modelo já está em funcionamento em<br />

países como Japão, E.U.A. ou Israel, e os<br />

resultados apresentados estão a ser positivos. O<br />

futuro passa por esta antecipação e adaptação<br />

ao que serão as próximas tendências, e este é<br />

um exemplo de que Portugal não fica atrás do<br />

resto do mundo. •


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

está a chegar uma das alturas<br />

mais caóticas para a sua empresa<br />

prepare-se para a peak season<br />

www.randstad.pt/peak-season/


60<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

transporte<br />

Aliança estratégica<br />

Texto: Dora Assis<br />

Potenciar a<br />

transformação<br />

digital dos<br />

transitários<br />

A Cargofive e a MAEIL formaram uma<br />

aliança tecnológica para revolucionar<br />

o mundo das cotações de frete<br />

marítimo, com a digitalização dos<br />

processos de pricing para transitários.<br />

É a transformação digital a ganhar<br />

velocidade de cruzeiro numa actividade<br />

em muitos casos bastante conservadora.


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

A<br />

indústria do transporte marítimo<br />

internacional é uma das maiores e mais<br />

importantes do mundo, e movimenta<br />

anualmente 150 milhões de contentores com<br />

80% da carga global movimentada e fica por<br />

isso claro que ela é parte fundamental da<br />

economia global. Porém, apesar da dimensão e<br />

importância deste sector, este processo ainda<br />

continua a ser realizado de forma tradicional:<br />

offline e manualmente, com uso de papel,<br />

e-mail, e sem informação estruturada.<br />

A complexa gestão de fretes dos armadores,<br />

com longas folhas de Excel, documentos em<br />

formato PDF e centenas de e-mails, deixa<br />

este trabalho manual para os transitários, que<br />

consome muitos recursos e tempo, em que<br />

diminui a eficiência das empresas e a incerteza<br />

sobre os preços dos armadores, para garantir<br />

que estão actualizados.<br />

Tempo é dinheiro<br />

Imaginar que todo o processo de procurement<br />

de transporte marítimo pode ser simplificado<br />

com a utilização duma plataforma digital que<br />

automatiza a gestão de tarifas e contratos,<br />

através dum algoritmo inteligente, é entrar<br />

num novo mundo que elimina aos transitários<br />

longas horas de trabalho, tempo perdido e, por<br />

consequência, dinheiro.<br />

É aqui que a Cargofive e a MAEIL intervêm,<br />

no intuito de simplificar a tarefa a partir de um<br />

processo e uma plataforma inovadores para o<br />

sector.<br />

Uma equipa de profissionais da indústria<br />

e empreendedores de tecnologia formam a<br />

Cargofive, uma startup de sucesso, apoiada<br />

pela Nova SBE, Techstars, e Shilling VC. Trata-<br />

-se de uma plataforma que simplifica a gestão<br />

de tarifas para fretes marítimos, integrando<br />

Trata-se de uma<br />

plataforma que simplifica<br />

a gestão de tarifas<br />

para fretes marítimos,<br />

integrando os preços<br />

em tempo real com os<br />

principais armadores do<br />

mercado e convertendo<br />

rapidamente as<br />

informações num formato<br />

simples e padronizado<br />

os preços em tempo real com os principais<br />

armadores do mercado e convertendo<br />

rapidamente as informações num formato<br />

simples e padronizado.<br />

Isto permite um processo de cotação<br />

totalmente automatizado e melhora a<br />

visibilidade de preços num mercado que,<br />

convém lembrar, está em constante flutuação<br />

(flagrante e muito agudizada no período de<br />

pandemia).<br />

Transparência e visibilidade<br />

Com todos os fretes marítimos, custos locais e<br />

cotações armazenadas numa única plataforma,<br />

os transitários podem ter total transparência<br />

e visibilidade sobre as suas actividades<br />

comerciais, principalmente em preços, margem<br />

de lucro e desempenho da equipa de vendas.<br />

Todas as informações são armazenadas num<br />

só lugar, deixando para trás a busca exaustiva<br />

entre diferentes arquivos, em diferentes<br />

formatos e diferentes plataformas.


62<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Sebastian Cazajus, co-fundador e CEO da<br />

Cargofive, resume e destaca a importância<br />

da digitalização por parte desta indústria:<br />

“Vivemos num mundo digital. Desde a reserva<br />

de um voo, pedido de uma refeição e à compra<br />

de praticamente qualquer coisa, tudo é feito<br />

desde um computador ou smartphone. Rápido,<br />

fácil e conveniente tornou-se um padrão que,<br />

francamente, é muito difícil de dispensar. O<br />

transporte de contentores também precisa<br />

fazer parte deste mundo digital, mas procurar<br />

uma cotação ou reservar um embarque pode<br />

levar dias”.<br />

Os transitários que<br />

desejam permanecer<br />

competitivos num<br />

mundo pós-COVID-19<br />

devem acelerar a<br />

sua transformação<br />

digital<br />

Melhorar a experiência<br />

do cliente<br />

No entender do responsável da Cargofive<br />

“os transitários que desejam permanecer<br />

competitivos num mundo pós-COVID-19<br />

devem acelerar a sua transformação digital<br />

e digitalizar toda a experiência do cliente.<br />

Isso significa melhorar os processos, desde a<br />

cotação, reserva, até a visibilidade e análise dos<br />

embarques.”<br />

A outra parceira desta aliança estratégica é a<br />

tecnológica Maeil, especializada em software<br />

de gestão de transportes para a supply chain<br />

e integração de ERP para pequenas e médias<br />

empresas, onde já conta com mais de duas<br />

décadas de experiência.<br />

Agora, com esta aliança, a digitalização da<br />

actividade transitária fica facilitada já que<br />

conseguem integrar o TMS com a solução<br />

da Cargofive e implementar uma solução<br />

desenhada especialmente para a actividade,<br />

que compreende e optimiza os seus processos,<br />

tanto internos como comerciais.<br />

Nesta revolução que está em curso, a<br />

verdade é que os transitários que desejam<br />

manter-se competitivos no mercado têm que<br />

abraçar a mudança e apanhar já este comboio<br />

da transformação digital, que não espera por<br />

ninguém. •


63<br />

transporte<br />

Afeganistão<br />

Texto: Henrique Germano Cardador,<br />

corporate strategy analyst Europe & Africa<br />

Bem me quer,<br />

mal me quer!<br />

A política da China em relação aos Talibã<br />

nem sempre é entendida nos países<br />

ocidentais, mas reflecte as ambições que a<br />

primeira tem em relação ao BRI (Belt and<br />

Road Initiative) na Ásia central e no sul. O<br />

que esperar desta relação Pequim/Cabul?<br />

Qual o papel do Afeganistão? Henrique<br />

Germano Cardador partilha a sua visão<br />

sobre o tema.<br />

O<br />

Afeganistão é uma região com notoriedade<br />

geoestratégica significativa desde o<br />

século I a.c. com a antiga rota da seda.<br />

Hoje, em pleno século XXI a nova rota da<br />

seda “One Belt One Road” continua a colocar<br />

o Afeganistão num tabuleiro geoestratégico<br />

interessantíssimo, com a fronteira com a<br />

China a ser um ponto quente na relação dos<br />

vizinhos, ou não fosse existir um rastilho<br />

chamado “Uyghur”. A China tem muitas razões<br />

para não abrir mão do território da província<br />

da XinJiang, pois é uma província gigantesca,<br />

faz fronteira com vários países (Mongólia,<br />

Afeganistão, Índia, Cazaquistão, Quirguistão,<br />

Tajiquistão e Paquistão), é uma região rica em<br />

recursos naturais como sal, ouro, gás natural e<br />

petróleo que representa 60% da economia da<br />

região, tem 24 milhões de habitantes, em que<br />

46% são Uyghur, 40% Han e outros, a religião<br />

é o Islão.


64<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Henrique Cardador<br />

A região<br />

referente<br />

ao povo<br />

“Uyghur”<br />

tem mais<br />

afinidades com<br />

o Paquistão ou<br />

com o Afeganistão<br />

do que com a China,<br />

mas a disputa territorial terminou no século<br />

XVIII. XinJiang tenta a sua independência<br />

constantemente, até nas questões mais<br />

simples como o fuso horário, pois é diferente<br />

da restante China, com menos duas horas para<br />

as escolas, lojas e hospitais e mais duas horas<br />

para os transportes públicos.<br />

Segundo Martin Jacques, jornalista britânico<br />

e autor do livro “When China Rules the<br />

World”, após o 9/11 o governo central Chinês<br />

identificou esta província como sendo um<br />

potencial problema para a segurança nacional<br />

chinesa e, por esse motivo, triplicou os<br />

sistemas de segurança na província.<br />

Para o projeto “One Belt One Road”, a<br />

segurança e controlo desta região fronteiriça<br />

é vital para garantir o sucesso da iniciativa,<br />

uma vez que 70% dos comboios para a Europa<br />

saem precisamente desta fronteira, por isso foi<br />

autorizada a construção de 7.000 esquadras em<br />

toda a região, na qual está inserido o controlo<br />

do Afeganistão, cuja segurança não poderia<br />

ser garantida por uma superpotência rival que<br />

recusou integrar o projeto “One Belt One Road”.<br />

Quanto ao tratar-se de um tabuleiro<br />

geoestratégico, esta região está repleta de<br />

tensões. A China e a Índia têm um ódio de<br />

estimação, e a Índia e o Paquistão também<br />

não têm relações cordiais. E a China amplia<br />

a sua área de intervenção no Paquistão, o<br />

estado paquistanês reforça constantemente<br />

a segurança nas regiões com milhares de<br />

soldados. Do lado chinês, a cautela securitária<br />

também é grande pois este corredor China-<br />

-Paquistão é um dos mais sensíveis da<br />

iniciativa “One Belt One Road”, uma vez que<br />

liga precisamente a província de XinJiang -<br />

Kashgar ao porto de Gwadar. E desta forma a<br />

China isola a Índia. O Paquistão também tem<br />

os seus interesses na região e, ao que consta,<br />

foi o próprio que esteve na génese da criação<br />

dos estudantes de teologia, até porque o<br />

Afeganistão não era muçulmano, mas sim de<br />

influências Budistas e Hindus.<br />

Dividir para reinar<br />

Toda esta instabilidade é histórica, muito por<br />

força do velho ditado “dividir para reinar”,<br />

porque, por um lado o território não tem muito<br />

para oferecer e tem uma população constituída<br />

por tribos, por outro o território, pelo jogo de<br />

poderes estratégicos externos, cada vez que<br />

nele entra uma superpotência, a superpotência<br />

rival faz oposição em apoios constantes a tribos<br />

rivais, gerando a discórdia, propositadamente.<br />

Não seria difícil de imaginar um Afeganistão<br />

desenvolvido, independente, criador de<br />

riqueza, e a cereja no topo do bolo, com<br />

uma posição geoestratégica incontornável.<br />

Teríamos como resultado um território forte,<br />

basta lembrarmos-nos que as redes sociais<br />

foram inundadas de fotos de jovens senhoras<br />

a passearem nas ruas da capital Afegã<br />

com trajes ocidentais, muitas das fotos são<br />

efetivamente verdadeiras e correspondem ao<br />

período mais negro da história da Europa. Nos<br />

anos 30 e 40 a Europa estava mergulhada em


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

ditaduras e o Afeganistão apresentava níveis<br />

de desenvolvimento extraordinários, existindo<br />

liberdade para as mulheres, liberdade de<br />

associativismo, níveis de ensino livres para as<br />

mulheres, assembleia, governo e, imagine-se,<br />

eleições livres assentes numa Constituição.<br />

Revolução ideológica<br />

Este desenvolvimento foi empreendido<br />

pelo Rei Xá, um homem apaixonado pela<br />

antiguidade clássica, com formação intelectual<br />

e académica de raízes europeias e que<br />

procurou colocar o Afeganistão no mapa como<br />

um farol de desenvolvimento e pensamento<br />

livre de inspiração francesa e grega em pleno<br />

médio oriente. Como sabemos este percurso<br />

de desenvolvimento foi interrompido nos anos<br />

80, momento em que existe um paradoxo<br />

histórico como tantos outros. É o momento<br />

em que os estudantes de teologia são criados<br />

e incentivados em território vizinho, com o<br />

apoio dos EUA, e infiltram-se na sociedade<br />

pachtuns, de forma a fazer uma revolução<br />

ideológica. O resultado é demais conhecido.<br />

Quando lemos sobre governos de<br />

estados que não encaixam nos critérios<br />

das democracias ao estilo ocidental, existe<br />

sempre um ponto em comum: o momento em<br />

que caem! Espero que a China não esteja a<br />

cometer um erro estratégico irreversível com<br />

o pretexto do sucesso do projeto “One Belt<br />

One Road”, ao estender a sua influência no<br />

Afeganistão.<br />

Como diz o historiador Rui Ramos, “o<br />

Afeganistão não é um cemitério de impérios.”•<br />

18049 Toyota Empilhadores Traigo 80 170x115mm_a.pdf 1 21/10/<strong>2021</strong> 16:29


66<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

carreira<br />

Evento Randstad<br />

Terá o retalho em Portugal<br />

pouco sex-appeal?<br />

Na sequência do estudo Empower Brand Research, da<br />

Randstad, foram analisados mais em detalhe alguns<br />

sectores. Um deles foi o retalho, onde se procurou<br />

fazer uma análise ao sector, perceber tendências e a<br />

atractividade que o mesmo tem em Portugal.<br />

Os resultados do estudo revelam que ao<br />

nível da proposta de valor percepcionada<br />

(EVP) pelos trabalhadores, o retalho<br />

encontra-se no top 3 a nível europeu, mas os<br />

dados apontam para uma grande disparidade<br />

quando comparado com o mesmo sector<br />

em Portugal. Enquanto nos restantes países<br />

europeus o sector se encontra em primeiro<br />

lugar ao nível da saúde financeira, no nosso<br />

país este critério desce para a 6ª classificação,<br />

e a queda acentua-se ainda mais quando<br />

vemos que ao nível da boa reputação, lá fora,<br />

este se encontra no 2º lugar, e em Portugal<br />

em 16º.


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

Sobre a pandemia, o estudo faz<br />

notar que na Europa o retalho se<br />

encontra em 3º lugar no critério<br />

“COVID-19 local de trabalho<br />

seguro”, mas os portugueses<br />

classificaram que este se encontra<br />

apenas em 8º lugar.<br />

Ao nível de awareness, este<br />

sector encontra-se na segunda<br />

posição mais alta, atrás da<br />

distribuição. No entanto,<br />

por oposição, ao nível da<br />

atractividade, o sector do retalho<br />

encontra-se no 15º lugar, sendo<br />

um dos que apresenta uma menor<br />

taxa de atractividade, superada<br />

negativamente apenas pelos transportes,<br />

distribuição e restaurantes e catering. A IKEA<br />

foi considerada a empresa mais atraente para<br />

trabalhar, mas tal como apontou o Randstad<br />

Empower Brand Research <strong>2021</strong>, estes níveis<br />

no nosso país ainda estão muito aquém das<br />

expectativas.<br />

Neste momento, utilizado para a<br />

apresentação dos dados referentes ao retalho<br />

e de exposição das realidades de diferentes<br />

empresas do sector, estiveram presentes<br />

Susana Silva, directora de pessoas do El<br />

Corte Inglés, Joaquim de Almeida, director de<br />

recursos humanos da Fnac Portugal, Cláudio<br />

Valente, country people and culture manager<br />

da IKEA, e Pedro Empis, director de outsourcing<br />

da Randstad Portugal.<br />

A SCM procurou abordar os próprios<br />

envolvidos neste momento de debate e<br />

perceber um pouco mais sobre as realidades<br />

que estas empresas enfrentam, não tendo<br />

apenas obtido resposta por parte da Fnac<br />

Portugal.<br />

El Corte Inglés<br />

Susana Silva começa por apontar que no El<br />

Corte Inglés sentem que a escola não incentiva<br />

os alunos a seguirem uma carreira no retalho,<br />

e como tal, tem de partir da própria empresa<br />

tornar esta profissão mais atractiva. “Apesar<br />

desta atractividade estar melhor do que em<br />

anos anteriores, ainda está muito desfasada de<br />

outros sectores”, revela, “claramente o sector<br />

do retalho tem de encontrar formas de se<br />

diferenciar e conquistar um espaço único como<br />

empregador de referência”.<br />

Uma das ideias defendidas durante a<br />

conversa foi que em Portugal ainda se associa<br />

muito a carreira no retalho ao trabalho de<br />

caixa, e nesse sentido Susana Silva explica<br />

que o trabalho de promoção tem de se iniciar<br />

“dando a conhecer a área do retalho, junto<br />

das instituições do ensino superior, centros<br />

de formação e ensino técnico e profissional”,<br />

e defende que “a participação em feiras de<br />

emprego e programas de estágio aliciantes são<br />

outro modelo de atracção”.


68<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Claramente o sector do<br />

retalho tem de encontrar<br />

formas de se diferenciar<br />

e conquistar um espaço<br />

único como empregador de<br />

referência<br />

Susana Silva<br />

Face à crescente preocupação dos<br />

consumidores com as práticas das empresas,<br />

Susana Silva considera importante que as<br />

próprias empresas demonstrem de forma<br />

consistente “as boas práticas que utilizam,<br />

quer através da divulgação das possibilidades<br />

de carreira, quer através da apresentação de<br />

metodologias de selecção orientadas para a<br />

detecção de potencial”.<br />

Em oposição, a retenção de talento é outra<br />

questão importante para o El Corte Inglés, e<br />

restantes empresas do sector, em parte pela<br />

própria dificuldade em atrair novos talentos.<br />

“Existem vários colaboradores detentores de<br />

talento e capacidade de inovação e progressão,<br />

com um know how que é crucial para as<br />

empresas, onde acrescentam muito valor”,<br />

conta Susana Silva, “o desafio da retenção<br />

de talento é de criar medidas internas onde<br />

consigamos conceder mais autonomia,<br />

valorização, investindo na qualidade de vida,<br />

oferecendo as melhores condições de trabalho<br />

e investindo na satisfação dos colaboradores”.<br />

Numa dessas estratégias de manter as<br />

pessoas consigo, o El Corte Inglés apostou<br />

na aproximação das pessoas que estavam<br />

isoladas, procurando manter o contacto e a<br />

proximidade com os colaboradores. Susana<br />

Silva conta que “foi lançado um plano de<br />

webinars e workshops remotos cujos oradores<br />

envolveram colaboradores da empresa, além<br />

de especialistas convidados provenientes de<br />

instituições parceiras e outros”, e que ainda<br />

mantêm estas actividades.<br />

“Valorizamos as nossas pessoas ao convidá-<br />

-las para liderar estas sessões, promovendo<br />

a sua autonomia, responsabilização e<br />

reconhecimento”, comenta ainda a responsável,<br />

acrescentando que “esta medida foi muito bem<br />

aceite pelas nossas pessoas”.<br />

A aproximação aos colaboradores foi<br />

facilitada, pois no final de 2019, ainda antes da<br />

propagação da pandemia, a empresa lançou um<br />

portal de comunicação. Quando esta chegou,<br />

o portal já se encontrava em plena utilização,<br />

e a utilização destes canais de comunicação<br />

interna permitiram à empresa chegar a tempo<br />

real a todos os colaboradores e de forma<br />

simultânea. “A transparência na informação<br />

que era divulgada foi essencial para ter as<br />

pessoas do nosso lado”, comenta Susana Silva,<br />

“as actividades desenvolvidas promoveram a


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

união entre os colaboradores, quer seja através<br />

de mensagens institucionais, quer através de<br />

outro tipo de conteúdo mais lúdico que ocupou<br />

a mente das nossas pessoas nessa fase”.<br />

Durante a pandemia houve ainda casos<br />

de mobilidade interna devido a um número<br />

elevado de ausências, fosse por necessidade de<br />

prestar apoio aos filhos ou por isolamento por<br />

doença do colaborador, tendo sido aplicadas<br />

várias medidas e posto em marcha planos de<br />

substituição.<br />

“Reforçámos o nosso canal de comunicação<br />

e tivemos de forma quase imediata um<br />

conjunto de pessoas que se disponibilizou a<br />

ajudar nas áreas críticas, identificadas como<br />

supermercado, logística e canal online”, conclui<br />

Susana Silva, “nunca me esquecerei do espírito<br />

de equipa que se criou nesses dias difíceis,<br />

onde todos se uniram para uma causa maior”.<br />

IKEA<br />

Por parte da retalhista sueca, Cláudio Valente<br />

considera que, ao nível da maturidade<br />

digital do retalho ainda existe um caminho<br />

a percorrer, mas que a pandemia veio mudar<br />

a forma como as pessoas interagem com as<br />

marcas, e “isso criou uma oportunidade para<br />

todas as empresas, nomeadamente com o<br />

desenvolvimento de canais digitais mais fortes”.<br />

A IKEA foi distinguida como a empresa mais<br />

atractiva para trabalhar no sector do retalho,<br />

e o responsável destaca que isso é um reflexo<br />

da cultura e dos valores da empresa. “O nosso<br />

grande objectivo tem sido sempre apoiar as<br />

pessoas a ultrapassar este período mais crítico<br />

e fortalecer o sentimento de união, apesar de<br />

não estarmos todos juntos”, defendeu Cláudio<br />

Valente.<br />

“Consideramos que o que nos diferencia na<br />

IKEA e nos permite trabalhar a nossa cultura<br />

da melhor forma é agirmos e pensarmos como<br />

uma família, inspirando as pessoas também a<br />

dedicar tempo a elas próprias, fazerem o que<br />

gostam e a aproveitar as suas casas”.<br />

Uma das crenças da IKEA é que as pessoas<br />

e o negócio devem andar sempre juntos, e<br />

Cláudio Valente explica que a atractividade da<br />

empresa vem do estímulo que dão aos seus<br />

colaboradores para seguirem as suas paixões,<br />

dando-lhes liberdade para experimentarem<br />

novas funções e continuarem a crescer nas<br />

áreas que adoram. “Existem muitas formas<br />

de crescer, depende sempre da própria<br />

pessoa e do que pretende”, e acrescenta<br />

que consideram que o desenvolvimento<br />

do negócio anda de mãos dadas com o<br />

desenvolvimento pessoal das pessoas.<br />

De forma a desmistificar a ideia de trabalho<br />

“de caixa” associado ao retalho, o responsável<br />

revela que a pandemia veio confirmar que<br />

existem vários trabalhos internos que podem<br />

ser realizados a partir de casa, pois dependem<br />

mais de um computador que propriamente da<br />

loja, como são os casos dos recursos humanos,<br />

marketing, apoio ao cliente, comunicação ou<br />

design de interiores, entre outros. “Contudo,<br />

as diferentes áreas das nossas lojas são<br />

essenciais para o desenvolvimento do negócio<br />

IKEA, e procuramos oferecer diferentes


70<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

oportunidades de crescimento para todos os<br />

colaboradores”, explica.<br />

Considera que “todas as posições na IKEA são<br />

valorizadas de igual forma”, mas ao contrário<br />

do que se possa pensar, “o colaborador de<br />

caixas é o último (e às vezes o único!) contacto<br />

com o nosso cliente. E por isso, a sua função é<br />

essencial para que a experiência de quem nos<br />

visita seja a melhor possível”.<br />

Ao entrarem para a retalhista, os<br />

colaboradores têm planos de carreira<br />

personalizados, que vão sendo actualizados<br />

e acompanhados regularmente pelo seu<br />

responsável directo. “Cada pessoa é única<br />

e, portanto, cada plano é adaptado ao<br />

desenvolvimento e objectivos futuros dentro da<br />

IKEA”.<br />

Este pensamento vai no seguimento da ideia<br />

de que não apenas a experiência de consumidor<br />

é importante, mas também a de colaborador.<br />

Conta que procuram sempre criar um dia-a-dia<br />

melhor para o maior número de pessoas, e que<br />

isso começa com as suas próprias, orientandoos<br />

no objectivo de serem uma organização de<br />

pessoas, para pessoas.<br />

“O nosso objectivo passa sempre por garantir<br />

que as nossas pessoas têm as melhores<br />

condições para trabalhar e que conseguem ter<br />

um equilíbrio entre a sua vida profissional e<br />

pessoal”, comenta Cláudio Valente.<br />

Como tal, procuraram melhorar a qualidade<br />

de vida dos seus colaboradores apostando em<br />

vantagens como benefícios sociais; seguro<br />

de saúde e de vida para os permanentes;<br />

restaurante com preços reduzidos; serviço<br />

médico nas lojas; ajuda de nascimento<br />

e possibilidade de estender a licença de<br />

maternidade/paternidade em dois meses, para<br />

além de poderem contar com um desconto<br />

em artigos IKEA. Também criaram vários<br />

programas ao nível do apoio psicológico e<br />

pessoal, adaptaram os seus programas de<br />

liderança ao contexto de pandemia, apostaram<br />

em formações digitais, e apoiaram os<br />

colaboradores com kits para trabalho remoto.<br />

Ao nível da gestão interna foi necessária<br />

uma grande aposta na comunicação interna, de<br />

modo a que todos estivessem a par de tudo o<br />

que estava a acontecer. “Sabemos que a gestão<br />

de pessoas é um grande desafio e, durante uma


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

fase tão atípica como uma pandemia global que<br />

provocou instabilidade e distanciamento físico,<br />

foi muito importante ter uma abordagem ainda<br />

mais humana e transmitir, em todas as etapas,<br />

confiança e segurança”, realça Cláudio Valente.<br />

“Procurámos, desde início, reforçar os canais<br />

de comunicação com os nossos colaboradores,<br />

mantendo a transparência em todos os pontos<br />

de contacto e tentando ao máximo esclarecer<br />

as dúvidas e inseguranças que iam surgindo”,<br />

comenta o responsável.<br />

Este reforço na comunicação foi importante,<br />

pois rapidamente se deu “o encerramento<br />

temporário das lojas físicas e a transformação<br />

inesperada e imediata para um negócio quase<br />

100% digital”, o que implicou uma grande<br />

resiliência e uma aposta nos skills próprios<br />

das pessoas, adaptando-se de forma muito<br />

rápida às exigências desta nova realidade.<br />

Graças a isso, alguns colaboradores ficaram<br />

inclusive qualificados para desempenharem<br />

funções para as quais não estavam preparados<br />

anteriormente.<br />

“Nenhuma destas competências que nós<br />

desenvolvemos à data de hoje podemos dizer<br />

que foi apenas para o momento. Acredito<br />

que elas vieram para ficar e vão-nos ajudar,<br />

inclusive, a trabalharmos este tema da<br />

requalificação sem ser um grande elefante na<br />

sala”, comenta Cláudio Valente.<br />

Uma das necessidades apresentadas logo<br />

no início da pandemia pelos colaboradores foi<br />

a maior flexibilidade laboral, e nesse sentido<br />

“começámos a desenvolver um projecto-piloto<br />

com um bom equilíbrio entre o trabalho nos<br />

nossos escritórios / espaço de reuniões e em<br />

casa”. No entanto, o teletrabalho aparenta<br />

ter vindo para ficar, e esse é outro desafio da<br />

empresa: “alimentar a cultura da empresa com<br />

as equipas a trabalhar à distância”, e Cláudio<br />

Valente considera que isso se possa vir a<br />

reflectir na retenção de talento.<br />

Cada pessoa é única<br />

e, portanto, cada<br />

plano é adaptado ao<br />

desenvolvimento e<br />

objectivos futuros<br />

dentro da IKEA<br />

Cláudio Valente<br />

“Ainda relacionado com os novos modelos<br />

de trabalho, acreditamos que as empresas<br />

terão, cada vez mais, de procurar responder<br />

à exigência de um maior equilíbrio entre<br />

a vida profissional e pessoal”, defende o<br />

responsável, apontando que com a pandemia<br />

e a necessidade de se manterem em casa,<br />

as pessoas redefiniram as suas prioridades e<br />

passaram a valorizar as suas vidas pessoais e o<br />

tempo que passam em casa e em família.<br />

“Acreditamos que o futuro do trabalho vai<br />

exigir cada vez mais criatividade, colaboração,<br />

interacção, inovação e partilha”, conclui Cláudio<br />

Valente.


72<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

Randstad<br />

Face aos baixos resultados, comparativamente<br />

com o resto da Europa, procurámos então<br />

perceber junto de Pedro Empis como pode<br />

o retalho promover esta atractividade do<br />

sector. O responsável começa por apontar que<br />

“o retalho evoluiu muito do ponto de vista<br />

tecnológico e é necessário comunicar essa<br />

transformação para atrair talento”.<br />

Nesse sentido considera que “os grandes<br />

retalhistas em Portugal irão querer manter<br />

esta tendência e garantir que, nas suas<br />

políticas de atracção e retenção de talento, o<br />

employer branding tem um lugar de destaque”,<br />

tornando assim os seus colaboradores nos<br />

primeiros embaixadores para trazer novos<br />

perfis para as suas empresas.<br />

Por outro lado, também defende a ideia<br />

apontada por Susana Silva de que esta<br />

informação deve ser transmitida desde mais<br />

cedo, e que as próprias escolas podem ter<br />

um papel mais activo na promoção deste<br />

sector e na mudança de mentalidades dos<br />

futuros profissionais, e oferecendo uma oferta<br />

formativa cada vez mais adequada.<br />

Embora as pessoas associem muito o<br />

retalho ao trabalho “de caixa” e em loja, Pedro<br />

Empis explica que para além destes trabalhos<br />

presenciais e de contacto presencial com o<br />

cliente, “praticamente todos” os trabalhos<br />

podem ser feitos em teletrabalho, pois<br />

“existem todas as funções de suporte, como<br />

as relacionadas com inovação, tecnologia,<br />

apoio a canais remotos, planeamento,<br />

financeira, entre outros”. Por vezes até os<br />

próprios colaboradores em modelo presencial<br />

conseguem alternar com o remoto, “porque<br />

Claramente o sector do<br />

retalho tem de encontrar<br />

formas de se diferenciar<br />

e conquistar um espaço<br />

único como empregador de<br />

referência<br />

Pedro Empis<br />

com as alterações aos hábitos de consumo,<br />

parte do trabalho presencial migrou para<br />

soluções à distância, pois uma parte importante<br />

das vendas passou a ser realizada digitalmente<br />

ou ao telefone”.<br />

Com isto foi ainda necessário reforçar a<br />

comunicação interna, devido à dispersão das<br />

pessoas e ao próprio período de pandemia. “As<br />

empresas que tinham já um modelo instituído,<br />

com a tecnologia adequada beneficiaram disso,<br />

e as restantes fizeram um enorme esforço para<br />

rapidamente disporem de soluções que lhes<br />

permitissem estar junto dos seus colaboradores<br />

e comunicar atempadamente todas as<br />

alterações”, explica.<br />

O retalho foi um dos principais impactados<br />

com esta situação, pois “precisou de se adaptar<br />

a novas regras de abertura, modelos híbridos,<br />

procedimentos de higiene e segurança, bem<br />

como de actualização sobre a oferta comercial,<br />

que em muitos casos, foi também alterada com<br />

grande frequência”. Nesse sentido, “pode dizerse<br />

que o desafio foi ultrapassado, pois é aceite<br />

transversalmente que os níveis de engagement<br />

nas empresas que o medem com regularidade<br />

subiu bastante ao longo do período mais<br />

crítico”.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

Foi necessário que as empresas saíssem<br />

da sua zona de conforto, mas como aponta<br />

Pedro Empis, “sair da zona de conforto traz<br />

sempre benefícios”, apesar de a mudança<br />

ser das tarefas mais difíceis para as pessoas.<br />

“A transformação forçada teve esse papel<br />

importante de desafiar um conjunto de crenças,<br />

que, por pura necessidade, as empresas<br />

se viram obrigadas a provar erradas ou<br />

exageradas”, defendeu ainda o profissional da<br />

Randstad.<br />

“Isso mostrou às pessoas que era possível<br />

fazerem e aprenderem outras tarefas, que era<br />

possível colaborar à distância, que era possível<br />

comunicar mais vezes e com mais abrangência<br />

e, bastante importante para o futuro, veio<br />

também mostrar que certas actividades<br />

beneficiam muito da presença física”, comenta<br />

Pedro Empis, apontando que isto deverá guiar<br />

as empresas na elaboração dos seus futuros<br />

modelos de trabalho.<br />

Apesar de o retalho já estar em<br />

transformação desde antes da pandemia,<br />

com a mudança de paradigma de um modelo<br />

transaccional para uma lógica experiencial,<br />

este foi um passo importante para a mudança,<br />

tanto de modelo como de mentalidade.<br />

Pedro Empis aponta ainda o fenómeno<br />

de Revenge Shopping, que teve de ser<br />

acompanhado pelos retalhistas de modo a<br />

tirarem partido das visitas físicas aos seus<br />

espaços, pois “se os clientes podem comprar<br />

online, mas escolhem vir a uma loja é porque<br />

querem experimentar e ter contacto com a<br />

marca e os seus produtos”.<br />

“O fim dos balcões visou precisamente<br />

colocar o cliente no centro da acção, dando-<br />

-lhe acesso a todo o espaço, abrindo caminho<br />

para novos modelos de atendimento e<br />

acompanhamento dos clientes”, conclui o<br />

responsável. •


74<br />

SETEMBRO <strong>2021</strong><br />

carreira<br />

Texto: Claúdia Brito, EMEA distribution<br />

director da McCormick & Company<br />

Os desafios do<br />

trabalho remoto<br />

O<br />

que<br />

eu aprendi<br />

sobre a gestão<br />

de equipas<br />

remotas<br />

Parte 3<br />

A experiência vivida durante<br />

a pandemia pela autora<br />

que, como tantos outros<br />

profissionais, abraçou o<br />

desafio de gerir pessoas que<br />

estão longe.<br />

Para fazer face a cada desafio específico<br />

duma equipa remota, o plano de acção<br />

a implementar deve obviamente ser<br />

integrado com os elementos habituais de<br />

criação e desenvolvimento duma equipa de<br />

trabalho. Aqui refiro apenas as relacionadas<br />

com as áreas específicas e críticas no contexto<br />

de trabalho remoto: tecnologia, disciplina,<br />

relacionamentos e cultura de empresa.<br />

Etapa 1 - Tecnologia<br />

Normalmente, o primeiro passo para<br />

estabelecer uma equipa remota (depois das<br />

etapas comuns a equipas presenciais) consiste<br />

em implementar ferramentas ou plataformas<br />

virtuais de comunicação. A escolhida deve<br />

permitir trocar mensagens escritas em tempo<br />

real, escrever documentos em conjunto,<br />

efectuar vídeo-conferências, organizar numa<br />

área comum os calendários individuais, agendas<br />

e resumos de reuniões, cronogramas de<br />

projectos, listas de acções dinâmicas, workflow<br />

e arquivos em geral.


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

É preciso que os meios nunca sejam<br />

considerados fins em si mesmo, ou seja,<br />

o email, skype ou o whatsapp não podem<br />

escravizar os seus utilizadores e tem de haver<br />

regras respeitadoras do tempo privado de cada<br />

um. O telefone continua a ser um meio de<br />

comunicação essencial e privilegiado quando<br />

há algo a debater ou clarificar, até porque a voz<br />

humana transmite muitas pistas essenciais ao<br />

entendimento da mensagem.<br />

Etapa 2 – Disciplina<br />

A comunicação em equipas virtuais obriga<br />

a maior disciplina e também a maior<br />

transparência. Os objectivos da equipa devem<br />

ser continuamente reafirmados, as regras de<br />

interacção entre os membros devem ser claras<br />

e os seus papéis bem definidos desde o início.<br />

Deve haver um fórum pré-estabelecido, em<br />

que todos participam para comunicar quaisquer<br />

mudanças ou reafirmar o que se mantém<br />

quando, por exemplo, as circunstâncias mudam.<br />

Seja qual for o sistema usado, o objectivo<br />

deve ser evitar a todo o custo o isolamento<br />

dos trabalhadores remotos. É igualmente<br />

essencial estabelecer mecanismos de feedback<br />

imediato e claro, sob pena de toda a estrutura<br />

remota ruir por falta de alinhamento quanto ao<br />

desempenho dos membros da equipa.<br />

O esforço nesta etapa é sobretudo de<br />

planeamento e alinhamento, é muito<br />

importante que lhe seja dedicado o tempo<br />

necessário e que se volte atrás para discutir<br />

e esclarecer os procedimentos de trabalho,<br />

em caso de dúvidas. É útil documentá-los, até<br />

porque sempre que um novo elemento se junta<br />

à equipa é preciso que seja treinado em todas<br />

estas regras.<br />

Etapa 3 – Relacionamentos<br />

Uma vez as ferramentas necessárias e<br />

respectivas regras implementadas para a<br />

comunicação formal, tem de haver um especial<br />

cuidado com a comunicação informal. Esta<br />

começa na primeira reunião de equipa, que<br />

deve ser efectuada assim que a equipa é<br />

constituída e deve ser presencial (pelo menos<br />

uma vez por ano os membros da equipa devem<br />

encontrar-se). Devem ser planeados momentos<br />

de interacção semanal, um-para-um e em<br />

equipa, que dêem seguimento aos momentos<br />

pouco frequentes (mensais, trimestrais ou<br />

semestrais) de encontros cara-a-cara.<br />

A liderança da equipa, formal ou informal,<br />

deve assegurar-se que há um fluxo de<br />

informação entre os membros, que estes<br />

partilham aquilo que os preocupa e<br />

importa. A confiança tem de ser alimentada<br />

continuamente com os sentimentos de empatia<br />

que se geram entre as pessoas.<br />

Etapa 4 - Cultura<br />

Para que uma equipa remota funcione a longo<br />

prazo, têm de ser encontradas alternativas<br />

potentes ao encontro diário para alinhar os<br />

valores e os princípios de todos. Deve ser<br />

acarinhado o sentido de pertença de cada um,<br />

à equipa e à empresa. O ideal são momentos<br />

cara-a-cara, muito bem planeados e focados<br />

naquilo que só se consegue fazer quando<br />

estamos reunidos (por exemplo jogos e<br />

actividades de conhecimento uns dos outros), a<br />

tal comunicação não verbal que nos permitirá<br />

“preencher os vazios” quando estivermos a<br />

centenas de quilómetros uns dos outros. •


76<br />

À janela da APAT<br />

António Nabo Martins<br />

Presidente Executivo<br />

No centro da mudança<br />

Dia 29 e 30 de outubro aconteceu o Congresso da APAT. Finalmente e de forma<br />

presencial foram discutidos assuntos prementes e muito relevantes para a actividade<br />

transitária. O que se está a passar em todo o mundo com as trocas comerciais<br />

internacionais e respectivo transporte é deveras assustador e não tem fim à vista.<br />

Os desafios imensos e transversais, a<br />

necessidade de cumprimento de metas<br />

ambientais, a transformação digital em<br />

curso e necessidade constante e firme de fazer<br />

chegar a todo o momento, e a todo o lado, todo<br />

o tipo de produtos, provoca algum sentimento<br />

de frustração quando vemos outros players do<br />

sector a querer usurpar indevidamente o lugar<br />

de outros em vez de procurarem ser parceiros.<br />

As parcerias constroem-se em pilares de<br />

confiança e não assentes em “montinhos de<br />

areia”, que só são bons “quando a maré está<br />

baixa”. Se estamos na linha da frente desta<br />

batalha, ou seja, na fronteira que é contestada<br />

por várias forças num mesmo “teatro de<br />

operações” então também temos de estar na<br />

frente da batalha da mudança.<br />

Entretanto, ficámos a saber que as pessoas<br />

também já são consideradas factores de<br />

competitividade para as empresas. O que me<br />

espanta é porque é que só agora se chega a<br />

essa conclusão, quando todos já sabemos que<br />

a inteligência emocional supera quase sempre<br />

qualquer outro tipo de inteligência.<br />

Estamos perante uma transição daquilo que<br />

podemos chamar a logística “tradicional” tal e<br />

qual como ela é, para uma outra fase que será<br />

uma logística completamente diferente. Com<br />

clientes mais exigentes, mais personalizados,<br />

compras de menor dimensão, mas em maior<br />

número, logo maior diversidade e dispersão<br />

dos locais de aquisição e recolha e dos locais<br />

de entrega, mas com profissionais mais<br />

competentes, mais habilitados, mais disponíveis<br />

e mais flexíveis.<br />

E, depois, ouvimos certos experts afirmar que<br />

estes contratempos da cadeia de abastecimento<br />

se desvanecerão rapidamente, ou referindo<br />

simultaneamente que “este não será um<br />

problema durante o próximo ano em absoluto…”<br />

e “…esta é a pior parte. Creio que os grandes<br />

sistemas de transporte se ajustarão como<br />

fizeram as empresas” (JPMorgan). Eu também<br />

acredito que os sistemas de transporte se<br />

adaptarão, mas sinceramente não acredito que<br />

seja durante 2022.


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Sempre as pessoas<br />

Entre a ordem e o caos<br />

Na verdade, o que assistimos hoje é a um<br />

desarranjo permanente da cadeia e sabemos<br />

que “a ordem e desordem dependem<br />

da organização da logística” (Sun Tzu –<br />

Arte da Guerra). Ora assistimos a filas e<br />

“estacionamento” de navios, tanto nos<br />

continentes americano como asiático e ao<br />

desalinhamento completo de todo um sistema<br />

que não sendo perfeito decorria dentro de<br />

muita normalidade.<br />

Há cerca de um mês, para o jornal Público,<br />

referi que o mundo parecia que precisava de<br />

parar dois meses e voltar a partir do zero.<br />

Entretanto, deveríamos todos sentar-nos,<br />

conversar, encontrar consensos e perceber<br />

o que todos e cada um deveria fazer para<br />

ultrapassar este problema. Claro que era uma<br />

“imagem”, mas parece que fazia mesmo falta<br />

ter acontecido. Nada melhorou, antes pelo<br />

contrário. Tudo parece ainda pior. Não estamos<br />

a conseguir ultrapassar esta guerra com arte.<br />

Estando esta “guerra” ao rubro, eis que surge<br />

a notícia de que há armadores a recusarem-<br />

-se a trabalhar com transitários, exigindo-lhes<br />

compromissos que deveriam ser dos donos das<br />

cargas, mas também encontrando formas mais<br />

ou menos criativas para empurrar o transitário<br />

para fora da cadeia.<br />

Fica assim claro que, mais uma vez, as pessoas<br />

vão fazer a diferença. Ou seja, todos queremos<br />

pagar menos, mas também todos queremos<br />

conhecer quem está do lado de lá, porque é<br />

esta pessoa que nos dá garantia e conforto na<br />

eventualidade de algo correr mal. Sim, porque<br />

um dia vai correr mal e nesse dia o sistema<br />

informático não está do lado de lá para atender<br />

e ajudar.<br />

Como digo muitas vezes, comparando, hoje,<br />

há muitas plataformas de viagens e turismo<br />

no online, mas continuam a existir e a crescer<br />

as agências de viagens, onde a inteligência<br />

emocional estará muito mais presente,<br />

para nos fazerem viajar emocionalmente e<br />

confortavelmente, olhando nos olhos, sorrindo<br />

e com toda a humanidade do mundo.<br />

Então! o clima atual apresenta desafios<br />

colossais para as empresas em todo o mundo,<br />

e o futuro é incerto. De crise em crise - saúde<br />

global, ciberataques, instabilidade política,<br />

guerras comerciais e um negócio, talvez, mais<br />

regional - os transitários estão plenamente<br />

conscientes de como dar resposta à mudança.<br />

Ainda, entretanto, a China pára fábricas por<br />

motivo do consumo energético. Até parece<br />

fazer sentido. Para quê produzir, senão há<br />

capacidade de transportar? Coincidência? Talvez<br />

sim, talvez não. Não podemos seguramente<br />

dizer que, qualquer semelhança com a vida real<br />

é mera coincidência. •


78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“O dom e o poder da coragem emocional”<br />

Susan David, 9 milhões de visualizações, 2017<br />

A ideia convencional de que as emoções são boas ou más, positivas ou negativas, é rígida. E a rigidez face<br />

à complexidade é tóxica, como o prova a nossa história, por exemplo no apartheid ou na forma como<br />

temos lidado com a destruição ambiental do nosso planeta. A negação dos sentimentos e a tirania da falsa<br />

positividade têm um poder destrutivo. Em contrapartida, a agilidade emocional permite a resiliência e o<br />

florescimento do ser humano.<br />

A beleza da vida é inseparável da sua<br />

fragilidade. Contudo, as pessoas frequentemente<br />

não navegam esta fragilidade com sucesso,<br />

como mostra a devastação causada pela doença<br />

da depressão no mundo civilizado. Numa<br />

actualidade dominada pela economia, política<br />

e tecnologia, a tendência dos seres humanos é<br />

enfrentarem cada vez mais rigidamente as suas<br />

emoções. Por um lado, focam-se obsessivamente<br />

nos sentimentos interiores, viciados em terem<br />

razão ou vitimizando-se. Por outro, reprimem<br />

o que sentem, pondo de lado tudo o que não<br />

é considerado legítimo sentir. Contudo, ao<br />

ignorarmos as nossas emoções, estas amplificamse<br />

e dominam-nos.<br />

Quando as pessoas lhe dizem que preferem<br />

não sentir, Susan David fala-lhes então dos<br />

“objectivos de pessoas mortas”, as únicas que<br />

nunca se desapontam, nem têm sentimentos<br />

inconvenientes. Só os mortos não têm stress,<br />

corações partidos nem experienciam o<br />

desapontamento do falhanço. O desconforto<br />

emocional é o preço de admissão para uma vida<br />

com sentido.<br />

Susan David explica que as emoções são na<br />

realidade dados, intrinsecamente úteis, que nos<br />

permitem identificar os nossos valores. Quanto<br />

mais precisas são as palavras que descrevem<br />

o que sentimos, mais esta informação nos<br />

pode ajudar. Algo que nos deixa indiferentes<br />

emocionalmente não tem importância para<br />

nós, portanto os nossos sentimentos estão a<br />

comunicar connosco e dar-nos indicações sobre o<br />

caminho a seguir. Mas somos nós que escolhemos<br />

o nosso caminho, não devemos deixar que as<br />

emoções nos dominem. A felicidade é o resultado<br />

de lidar com o mundo tal como ele é, não como<br />

gostaríamos que fosse. A agilidade emocional<br />

é, portanto, a capacidade de reconhecermos as<br />

nossas emoções com curiosidade, compaixão e a<br />

coragem de alinharmos as nossas acções com os<br />

nossos valores.<br />

Quando, por exemplo no mundo do trabalho, é<br />

dada às pessoas a autorização de sentirem a sua<br />

verdade emocional, a dedicação, a criatividade<br />

e a inovação prosperam. A diversidade humana<br />

não está apenas no seu exterior, está também no<br />

interior de cada um.<br />

“Sawubona” é uma saudação em zulu, traduzida<br />

como “olá”, mas significando realmente “eu vejo-te<br />

e reconheço a tua existência”. Não pode haver<br />

forma mais adequada de nos relacionarmos, uns<br />

com os outros e com as nossas emoções.<br />

Susan David é sul-africana e doutorada em Psicologia<br />

pela Universidade de Melbourne, com uma pósgraduação<br />

em emoções pela Universidade de Yale. O<br />

seu livro “Agilidade Emocional” foi um “bestseller” do<br />

The Wall Street Journal, e o conceito que veicula foi<br />

considerada a melhor ideia de gestão do ano em 2016,<br />

pela Harvard Business School.


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