SCMedia News | Revista | Setembro 2021
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Set’ <strong>2021</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
25<br />
A operação<br />
da Água do Fastio<br />
O E-commerce na China<br />
A importância<br />
do procurement<br />
digital<br />
Terá o retalho<br />
pouco sex-appeal?<br />
BLUEPHARMA<br />
Evoluir é o melhor remédio
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
Dora Assis<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
editorial<br />
Depois da tempestade<br />
“Ninguém experimenta a profundidade do rio com os dois pés.”<br />
Provérbio Africano<br />
A disrupção das cadeias de abastecimento<br />
e o estrangulamento dos fluxos logísticos<br />
estão a provocar a paralisação das produções<br />
industriais um pouco por todo mundo, e têm<br />
sido as grandes forças de bloqueio para o tão<br />
ambicionado regresso aos dias normais.<br />
<strong>2021</strong> está a ser o ano de todos os desafios<br />
para as cadeias de abastecimento e para os<br />
seus profissionais. Falta de matéria-primas<br />
e de componentes, aumento dos custos<br />
energéticos e dos combustíveis, longos atrasos<br />
no transporte, filas de navios em espera nos<br />
principais portos mundiais, contentores e valor<br />
dos fretes a preços exorbitantes… a lista de<br />
tudo o que se tem abatido sobre as cadeias de<br />
abastecimento ao longo deste ano é quase tão<br />
extensa como as supply chains globais.<br />
É praticamente impossível escapar ao tema<br />
e não falar sobre escassez, aumento de custos<br />
e até possibilidades de desabastecimento,<br />
mas é igualmente fundamental não alimentar<br />
inseguranças e medos, que acabam por se<br />
traduzir num avolumar de dificuldades, a<br />
juntar a todos os outros combates e desafios<br />
de quem está no meio da tempestade.<br />
É que como muito bem reflectia por estes<br />
dias Pedro Pimentel, da Centromarca, num<br />
artigo de opinião: “As tempestades, como<br />
outros fenómenos naturais, podem ter uma<br />
estética própria. Inclusive uma beleza algo<br />
tétrica. Podem até ter efeitos regeneradores<br />
posteriores e ser a razão de inovações e<br />
oportunidades subsequentes. Mas nunca são<br />
perfeitas…”.<br />
Por isso, deixemos de lado os atributos e<br />
a anatomia da tempestade e olhemos para o<br />
essencial.<br />
E o essencial é que estamos a falar de<br />
empresas e profissionais que têm uma<br />
capacidade extraordinária de apresentar<br />
soluções suportadas por competência,<br />
capacidade de gestão, controlo e execução.<br />
O essencial é que as tempestades são o<br />
ambiente natural dos logísticos que, com<br />
muita paciência, perseverança e eficiência<br />
de processos põem ordem no caos. O<br />
essencial é procurar antecipar os caminhos da<br />
recuperação da economia e pôr a oferta e a<br />
procura novamente nos eixos.<br />
O essencial, num momento em que os<br />
partidos políticos nos presentearam com uma<br />
crise política que não serve a ninguém, é não<br />
esquecermos que o mundo continua a girar e<br />
que depois da tempestade…
4<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
#8 #22 #35<br />
índice<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Indústria automóvel - Exportação<br />
de componentes ainda em queda 6<br />
logística<br />
A operação da Água do Fastio 8<br />
Bluepharma:<br />
Evoluir é o melhor remédio 16<br />
O E-commerce na China 22<br />
procurement<br />
A importância de um processo<br />
de procurement digital 35<br />
6 boas práticas para optimizar<br />
o processo de compras 38<br />
O valor do procurement para lá da<br />
pandemia 42<br />
intralogística<br />
ZØR - Nova identidade, mesmos<br />
princípios, mais objectivos 46<br />
Carrefour Brasil implementa WMS em<br />
modo SaaS 48<br />
tecnologias<br />
Automação e Transformação:<br />
Duas faces da mesma moeda chamada<br />
Digital 50<br />
Uma loja futurista em navegador<br />
anónimo 54
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
transportes<br />
carreira<br />
#54 #66<br />
Potenciar a transformação digital<br />
dos transitários 60<br />
Afeganistão: Bem me quer, mal me quer! 63<br />
Terá o retalho em Portugal pouco sex-appeal? 66<br />
O que eu aprendi sobre a gestão remota de<br />
equipas (parte 3/3) 74<br />
JANELA DA APAT<br />
No centro da mudança.. 76<br />
o mundo é redondo<br />
Ideas worth spreading TEDWomen 2017,<br />
“O dom e o poder da coragem emocional” 78<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede, Administração e Redacção_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direcção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Directora_<br />
Dora Assis<br />
Redacção_<br />
Ana Paiva, Fábio Santos<br />
Projecto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
Daniela Moço<br />
Events Support & Project Manager _<br />
Rita Pinto<br />
Direcção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
NPC _<br />
514707143<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.<br />
Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />
anterior ao novo Acordo Ortográfico
6<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
-7,9%<br />
Ago <strong>2021</strong> vs Ago 2019<br />
-4,9%<br />
Jan-Ago 21 vs Jan-Ago 19<br />
Indústria automóvel<br />
Exportação de<br />
componentes<br />
ainda em queda<br />
De acordo com a AFIA (Associação de<br />
Fabricantes para a Indústria Automóvel) as<br />
exportações de componentes automóveis<br />
fixaram-se nos 518 milhões de euros, o que<br />
representa uma descida de 7,9% durante o mês<br />
de Agosto e quando comparada com o mesmo<br />
período de 2019.<br />
Ao analisar as vendas ao exterior,<br />
relativamente aos primeiros oito meses deste<br />
ano, verifica-se que as exportações apenas<br />
estiveram acima do nível verificado em 2019,<br />
durante os meses de Fevereiro e Março.<br />
Assim, e quando se refere ao acumulado<br />
até ao último mês de Agosto, as exportações<br />
de componentes automóveis reflectem um<br />
decréscimo de 4,9%, em relação ao mesmo<br />
período de 2019, atingindo nesta altura os<br />
6.056 milhões de euros.<br />
Em termos de países de destino das<br />
exportações, de Janeiro a Agosto de<br />
<strong>2021</strong>, e face ao mesmo período de 2019,<br />
Espanha mantém-se no topo com vendas<br />
de 1.727milhões de euros (+3,2%), seguida<br />
da Alemanha com 1.235 milhões de euros<br />
(-8,4%), em terceiro lugar surge a França com<br />
um registo de 727 milhões de euros (-20,7%)<br />
e, por último, o Reino Unido que totaliza 293<br />
milhões de euros (-46,7%).<br />
No total, estes 4 países concentram 66%<br />
das exportações portuguesas de componentes<br />
automóveis.<br />
Um pouco por todo o mundo, a falta de<br />
chips e componentes electrónicos continua a<br />
ser apontada como uma das principais causas<br />
de problemas nas cadeias de abastecimento,<br />
o que tem levado a que os fabricantes<br />
interrompam temporariamente a sua<br />
laboração. Outras situações como a pandemia<br />
de Covid-19, que continua com níveis muito<br />
elevados em alguns países, e o Brexit (as<br />
exportações para o Reino Unido caíram 46,7%)<br />
são outras causas apontadas.<br />
No entanto, o comportamento das<br />
exportações para Espanha (principal cliente<br />
dos componentes automóveis fabricados em<br />
Portugal, com uma quota de 28,5%), que estão<br />
acima do nível pré-pandemia, uma vez que as<br />
exportações para este país aumentaram 3,2%<br />
quando comparadas com o período de Janeiro<br />
a Agosto de 2019. •
R F id<br />
ESPECIALISTAS EM SOLUÇÕES DE<br />
LOGÍSTICA E PRODUÇÃO<br />
VOICE PICKING<br />
Solução de RFid com<br />
ligação ERP, MRP, WMS<br />
Solução multimodal que<br />
pode coabitar com leitor<br />
código de barras ou RFid<br />
Tag’s<br />
RFID<br />
Solução de RFid com<br />
ligação ERP, MRP, WMS<br />
CÓDIGO DE BARRAS<br />
Terminais/PDA<br />
Tablets<br />
Scanners e impressoras<br />
Etiquetas e Ribbons<br />
+351 215 885 556<br />
+351 220 931 713<br />
comercial@identprint.com
8<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
logística<br />
Água do Fastio
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: Fábio Santos<br />
“Estamos no meio<br />
da natureza, temos<br />
a obrigação de<br />
preservar toda a<br />
área envolvente”<br />
O bem mais essencial à vida é a água. Sem<br />
ela, nada existiria e, talvez por isso, é tão bem<br />
guardada pela natureza. Escondida pela<br />
beleza natural da Serra do Gerês, em Terras<br />
de Bouro, e protegida pela Nossa Senhora do<br />
Fastio, está a fonte da Água do Fastio. Pode<br />
nem acreditar em superstições, mas a verdade<br />
é que desde que é explorada nunca apresentou<br />
qualquer tipo de contaminação.<br />
Sabe aquela água transparente, cristalina<br />
que o faz pensar em sítios exóticos e<br />
mesmo paradisíacos? Pois existe em<br />
Portugal. O nosso país também tem estas<br />
coisas maravilhosas para nos oferecer. Este<br />
local em particular está bem protegido pela<br />
natureza e pela central de enchimento da<br />
Água do Fastio.<br />
Pode até considerar que a acção humana<br />
está a ser prejudicial ao planeta, mas a<br />
empresa pertencente ao Grupo Areeiro não só<br />
não prejudica como também protege o meio<br />
envolvente. E a prova é que desde 1979 nunca<br />
tiveram um caso de água contaminada.<br />
Tudo começou na nascente<br />
Apesar de a exploração ter começado<br />
mais tarde, a história da Água do Fastio<br />
remonta há cerca de 100 anos, quando em<br />
1922 foi publicada em Diário da República<br />
a primeira autorização do Governo para a<br />
exploração desta água, dois anos depois do<br />
reconhecimento deste recurso como sendo uma<br />
água mineral natural. Na época, houve uma<br />
exploração desta água, vendida apenas nas<br />
farmácias e também exportada para o Brasil.<br />
A lenda conta que, como não havia estrada, a<br />
água era transportada em potes por mulheres<br />
locais que iam até à nascente e os levavam<br />
de volta para a aldeia na cabeça. Reza ainda a<br />
história que as mesmas deixaram de ir buscar<br />
a água à nascente, por ser muito longe, e<br />
passaram a encher os potes no ribeiro, o que<br />
desacreditou o produto.<br />
A construção e montagem da oficina de<br />
engarrafamento iniciou-se apenas em 1976,<br />
e três anos depois aparece no mercado a<br />
Água do Fastio em garrafas de PVC 1,5L e de<br />
vidro 0,25L e 0,5L. Ao longo dos anos tem-se<br />
diferenciado das restantes concorrentes de<br />
diversas maneiras, e juntando a vontade à<br />
capacidade de inovar, tornaram-se pioneiros em<br />
diversas áreas, começando pela mais comum: a<br />
garrafa de água de plástico. Foram os primeiros<br />
a passar das garrafas de PVC para o PET.<br />
A partir daí foram surgindo formatos<br />
inovadores, como o garrafão de seis litros, o<br />
formato familiar de 2,5 litros (ideal para a porta<br />
do frigorífico), a garrafa de um litro, a Fastio<br />
GO, um formato que se adapta melhor às mãos,<br />
e que procura incentivar a prática desportiva e<br />
a importância de beber água, e as mais recentes<br />
garrafas Fastio Barbie e Fastio Hot Wheels,<br />
dirigidas a um público mais infantil e que, tal<br />
como a Fastio GO, também procura incentivar<br />
que este público beba mais água.
10<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
O percurso até à foz<br />
Como neste espaço mantêm stocks mínimos,<br />
tudo começa com os pedidos dos clientes.<br />
Celso González, director de produção, explica<br />
que à quarta-feira recebem os pedidos das<br />
suas empresas de distribuição para serem<br />
entregues durante a semana seguinte. No caso<br />
das grandes superfícies, os principais clientes<br />
da Água do Fastio, estas fazem os pedidos ao<br />
dia, com uma antecedência de 48 horas. “Eu<br />
sei o que tenho de entregar para a semana na<br />
nossa distribuidora, no nosso armazém, nos<br />
nossos agentes, mas não sei o que me vão pedir<br />
as grandes superfícies. Temos uma previsão,<br />
mais ou menos, mas não sei quanto é”, explica<br />
o responsável.<br />
Recebidos os pedidos, é iniciado todo<br />
o processo, desde o fabrico da garrafa ou<br />
garrafão até ao seu enchimento. Os recipientes<br />
são moldados a alta pressão através das pré-<br />
-formas PET e alocados para serem<br />
armazenados em silos até irem para a linha<br />
de enchimento. Assim que chega a altura são<br />
posicionados e enchidos com a água que veio<br />
directamente da nascente, ou de quatro outros<br />
pontos de captação, e que foi posteriormente<br />
armazenada nos reservatórios. Terminado este<br />
processo de enchimento, chega o momento<br />
de colocar as suas cápsulas e rótulos, e de<br />
um marcador laser identificar o produto. Aqui<br />
termina o processo individual, mas para a<br />
logística é apenas o começo.<br />
Para formar os packs há ainda todo<br />
o processo de criação das caixas, de<br />
encaixotamento e finalização. Segue-se<br />
o processo de envolvimento das caixas,<br />
dependendo se o produto são garrafas ou<br />
garrafões passa, ou não, pelo processo de<br />
colocação de pegas seguido da paletização.
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
Por fim, uma máquina envolve toda a palete,<br />
é colocada uma etiqueta para garantir a<br />
rastreabilidade do lote e esta está pronta a ir<br />
para o armazém de produto acabado.<br />
A partir daí as paletes estão prontas para<br />
a recolha. Apesar de se encontrarem na<br />
Serra do Gerês, Celso González não sente<br />
que existam dificuldades no acesso à central<br />
de enchimento, mesmo via camião. Embora<br />
o espaço não seja abundante, conseguem<br />
ter até três camiões a carregar produto em<br />
simultâneo, sendo necessário agendar com<br />
antecedência a hora do carregamento de<br />
modo a que consigam gerir esses tempos<br />
internamente, e no Verão chegam a carregar<br />
25 a 30 camiões por dia.<br />
O local é o que é, não há<br />
espaço. De um lado<br />
temos a serra,<br />
do outro<br />
lado temos<br />
o rio, não<br />
há para<br />
onde ir<br />
Celso González
12<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Armazenamento e<br />
rastreabilidade<br />
Caso tenham espaço, trabalham a 100%, mas<br />
isso nem sempre acontece, pois o que existe<br />
na central de enchimento é pouco. “O local é<br />
o que é, não há espaço. De um lado temos a<br />
serra, do outro lado temos o rio, não há para<br />
onde ir”, explica Celso González. O local mais<br />
próximo que têm para armazenagem situase<br />
a 35 quilómetros, em Braga, e pertence<br />
à distribuidora, o que lhes dá algum apoio<br />
logístico. Os armazéns das suas distribuidoras,<br />
localizados na Maia, em Braga, Caldas da<br />
Rainha e Lisboa, contam com stock para uma<br />
semana.<br />
Por se tratar de água, não têm problemas de<br />
armazenamento de longa duração, pois desde<br />
que se cumpram as regras de armazenamento<br />
– respeitando as temperaturas e os níveis de<br />
exposição solar - a água permanecerá própria<br />
para consumo por muito tempo.<br />
Para garantir a qualidade da água que está a<br />
ser captada, de hora a hora são feitas análises<br />
laboratoriais a todas as linhas, e semanalmente<br />
é ainda feita uma análise microbiológica num<br />
laboratório externo. Assim, caso seja necessário<br />
recuperar um lote, graças aos cuidados que<br />
têm com o rastreamento, feito no processo de<br />
embalamento, é possível retirá-lo do mercado.<br />
Alguns dos clientes da Água do Fastio<br />
pertenciam ao canal HORECA, e com os fechos<br />
e limitações impostas durante a pandemia para<br />
este sector, as linhas de produção pararam<br />
completamente durante muito tempo. Ano e<br />
meio depois do seu início ainda estão a retomar.<br />
Durante esta época o garrafão foi o formato<br />
preferido, seguindo-se as garrafas de 1,5 litros.<br />
O vidro e as garrafas pequenas pararam por<br />
completo. “Tive semanas em que punha a<br />
linha a trabalhar em seco, só para as máquinas<br />
rodarem, porque não havia nada para encher.<br />
Quase quatro meses em que a linha só estava<br />
a trabalhar para manutenção”, explica Celso<br />
González.<br />
Houve apenas três casos de COVID-19 em<br />
colaboradores, mas todos casos externos e<br />
controlados atempadamente, o que fez com<br />
que não tivessem de parar, mas o responsável<br />
admite que foi necessário reduzir a duração dos<br />
turnos.
SCM Supply Chain Magazine 13<br />
Da natureza<br />
para o consumidor<br />
“O nosso objectivo é levar a água até ao<br />
consumidor sem qualquer adulteração do<br />
produto. Tal como é recolhida na natureza,<br />
é engarrafada e disponibilizada ao cliente”,<br />
comenta Domingo Pérez González, responsável<br />
de qualidade e administrador da Água do Fastio.<br />
Devido a estas limitações naturais do produto e<br />
a não quererem adulterar as suas propriedades,<br />
não há muitas opções de inovação, sem<br />
ser ao nível da embalagem. “Em termos de<br />
produto não temos nada a fazer”, reforça o<br />
administrador, “não queremos, por opção,<br />
entrar nas designadas águas com sabores, nem<br />
nas águas funcionais, nem produtos acessórios<br />
à marca Fastio”.<br />
Relativamente às preocupações ambientais,<br />
o responsável exemplifica alguns casos, que<br />
passam pelo design do PET, pela redução do<br />
peso das embalagens, pela disponibilidade de<br />
taras retornáveis em vidro e pela redução de<br />
água utilizada para a lavagem. “Os materiais<br />
que utilizamos são 100% recicláveis. Todos.<br />
Seja o vidro, seja o PET, seja o próprio papel<br />
dos rótulos”, comenta Domingo Pérez González,<br />
explicando que para os rótulos optaram pelo<br />
papel pois a alternativa do polipropileno, ao<br />
estar em contacto com o PET, iria contaminar a<br />
embalagem, e isso levaria a que esta deixasse<br />
de poder ser reciclável. O administrador aponta<br />
que a rotulagem é um dos próximos passos que<br />
irão dar ao nível da sustentabilidade.<br />
O nosso objectivo é vender a<br />
Água do Fastio e levá-la até<br />
ao consumidor sem qualquer<br />
adulteração do produto<br />
Domingo Pérez González
14<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Os<br />
materiais que<br />
utilizamos são<br />
100% recicláveis.<br />
Todos. Seja o vidro, seja o<br />
PET, seja o próprio papel<br />
dos rótulos<br />
Domingo Pérez<br />
González<br />
“Estamos no meio da natureza, temos a<br />
obrigação de preservar toda a área envolvente”,<br />
afirma Domingo Pérez González.<br />
Sobre o espaço, destaca que “somos apenas<br />
uma oficina de engarrafamento, praticamente.<br />
O que fazemos é produzir, encher, lavar e<br />
capsular garrafas, e metê-las num camião para<br />
levar ao mercado”. Mesmo ao nível da infra-<br />
-estrutura, minimizam o impacto natural com<br />
a ajuda de uma ETAR, para o tratamento de<br />
resíduos industriais, como detergentes.<br />
Em termos logísticos, Domingo Pérez<br />
González admite que “uma das grandes<br />
dificuldades, e aquilo que nós gostaríamos de<br />
ter no Fastio, era uma espécie de entreposto<br />
logístico”, mas que não seria um projecto viável<br />
apenas para água, pois os custos são muito<br />
elevados e as margens, comparativamente,<br />
muito baixas. “É possível fazer no caso dos<br />
distribuidores porque trabalham com outras<br />
bebidas, mas no caso da água é muito difícil”,<br />
explica.<br />
“Em termos logísticos o desafio da Fastio<br />
é este: a logística da produção para a carga”,<br />
conclui o responsável.<br />
Os desafios são imensos, especialmente ao<br />
terem responsabilidades não só alimentares<br />
como ainda de preservação da natureza e<br />
sociais. Se é fácil? Segundo contam, não é. Mas<br />
talvez Nossa Senhora do Fastio esteja a dar<br />
uma mãozinha. Afinal, uma mão lava a outra. •
SCM Supply Chain Magazine 15
16<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
logística<br />
Bluepharma<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: Bluepharma<br />
Evoluir é<br />
o melhor<br />
remédio<br />
São muitos os planos que a Bluepharma<br />
desenhou para o futuro. Ampliação das<br />
actuais instalações em São Martinho do<br />
Bispo, construção de uma nova fábrica em<br />
Eiras e a criação do Bluepharma Park, que<br />
será o maior parque tecnológico do cluster<br />
farmacêutico a nível nacional; estão no<br />
horizonte da farmacêutica para a próxima<br />
década. O seu presidente, Paulo Barradas<br />
Rebelo, contou-nos os pormenores.
SCM Supply Chain Magazine 17<br />
Vamos então conhecer os projectos que a<br />
Bluepharma tem no horizonte e que em<br />
termos de investimento rondam os 200<br />
milhões de euros.<br />
Em São Martinho do Bispo as obras de<br />
ampliação iniciaram-se no primeiro semestre<br />
de <strong>2021</strong>. Aqui, a logística terá uma área<br />
de cerca de 20% da unidade industrial que<br />
corresponderá, sensivelmente, a 1.500 metros<br />
quadrados. Já na fábrica de Eiras, que deverá<br />
estar pronta no final deste ano, a área alocada à<br />
logística é de cerca de 1.200 metros quadrados,<br />
sendo que “é mais pequena porque esta é<br />
uma unidade industrial state-of-the-art, para<br />
a produção de formas sólidas orais potentes,<br />
ou seja, são medicamentos produzidos<br />
em pequenas séries, mas com alto valor<br />
acrescentado”, afirma Paulo Barradas Rebelo. O<br />
presidente avançou também que a Bluepharma<br />
terá uma plataforma logística em Cernache,<br />
com cerca de 7.000 metros quadrados.<br />
A Bluepharma é uma empresa em constante<br />
crescimento. De 2019 para 2020, aumentou o<br />
portefólio com novos lançamentos e produções<br />
maiores, tendo registado um crescimento<br />
de 28% que levou a empresa a necessitar de<br />
espaço de armazenamento. Alocaram uma área<br />
significativa a um pré-grossista para o efeito e,<br />
no futuro, irão transferir para a nova plataforma<br />
logística, em Cernache, “modernizada e com<br />
recurso a um sistema de armazenamento<br />
de medicamentos totalmente robotizado e<br />
automatizado”, confirma o responsável.<br />
Visão estratégica<br />
Estes investimentos em novos projectos<br />
resultam da visão da empresa em inovar, mas<br />
não é apenas em Portugal que esta visão<br />
assenta. Passa pela internacionalização.<br />
“Costumamos dizer que investimos para<br />
inovar, e inovamos para internacionalizar”,<br />
conta-nos, destacando que a consolidação das<br />
relações com empresas estrangeiras foi muito<br />
importante para atingir este objectivo, pois<br />
“Portugal é um país pequeno, e a Bluepharma<br />
só teria sucesso se tivesse a capacidade de<br />
vender lá fora”. Neste momento, a Bluepharma<br />
tem relações comerciais com 230 clientes, em<br />
mais de 140 países.<br />
Outro dos princípios a que Bluepharma se<br />
predispõe é acelerar a sua consolidação. “Nos<br />
próximos 10 anos temos de ter mais capacidade<br />
produtiva e mais medicamentos para vender.<br />
Não vamos perder de vista a investigação e<br />
desenvolvimento porque acreditamos que é o<br />
futuro”, garante o presidente.<br />
Costumamos dizer<br />
que investimos<br />
para inovar, e<br />
inovamos para<br />
internacionalizar<br />
Paulo Barradas Rebelo
18<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Quanto à logística e supply chain, Paulo<br />
Barradas Rebelo confirma que são prioridades<br />
para a Bluepharma. “Aliás, a logística hoje<br />
é uma das preocupações de quem decide,<br />
nomeadamente dos líderes europeus que<br />
tiveram este primeiro ensinamento com a<br />
pandemia, pelo facto de o paracetamol estar<br />
em risco de não chegar às nossas farmácias e<br />
aos doentes que dele precisavam”, refere.<br />
Desta forma, o presidente da Bluepharma<br />
diz haver um entendimento europeu para<br />
a necessidade de se criarem cadeias de<br />
fornecimento mais curtas. “Isto é uma<br />
esperança para o espaço europeu e um sinal de<br />
que temos de trabalhar porque somos muito<br />
competitivos a fazê-lo”.<br />
Paulo Barradas Rebelo<br />
Rumo à fábrica “paper free”<br />
O futuro da indústria farmacêutica passará<br />
pela digitalização, pela indústria 4.0. Este é o<br />
entendimento de Paulo Barradas Rebelo, e é<br />
por estarem atentos à evolução que esta nova<br />
realidade já está em curso na Bluepharma.<br />
Neste momento, este processo está em curso<br />
e a fazer-se em pequenos quick-wins. Assim,<br />
estão a “identificar pequenos processos onde<br />
possa haver melhoria” em que a digitalização<br />
seja implementada, mas dentro de alguns<br />
pressupostos, nomeadamente dos custos de<br />
contexto da actividade.<br />
hoje consideramos que temos<br />
uma empresa tecnolgicamente evoluída, que permite<br />
aos nossos colaboradores trabalhar com alguns dos<br />
sistemas mais sofisticados do mercado
SCM Supply Chain Magazine 19<br />
Um dos objectivos da empresa é criar uma<br />
fábrica ‘paper free’. “É um objectivo disponibilizar<br />
aos clientes auditorias com toda a informação,<br />
de forma transparente, permanente e virtual,<br />
criando confiança, conforto e minimizando a<br />
pegada carbónica. A transparência cria confiança,<br />
e a confiança é a base do negócio”, refere o<br />
presidente da Bluepharma.<br />
Por outro lado, pretendem cada vez mais<br />
monitorizar a fábrica, aplicando as “melhores<br />
práticas de gestão no que toca à qualidade,<br />
eficiência e performance”.<br />
Quanto aos sistemas de informação, Paulo<br />
Barradas Rebelo afirma que têm feito “um<br />
investimento grande em sistemas altamente<br />
sofisticados”. Desta forma, há 20 anos que<br />
adquiriram o Sistema ERP da SAP, tendo<br />
evoluído para um conjunto de módulos e de<br />
desenvolvimentos, nomeadamente, o algoritmo<br />
para a área do planeamento, cockpits para<br />
várias áreas de controlo e gestão da fábrica,<br />
entre outros. Para além deste sistema, a<br />
Bluepharma implementou o Salesforce na área<br />
de CRM (gestão de clientes), o VEEVA, o sistema<br />
de qualidade e documentação escolhido, e<br />
ainda o SuccessFactors na área dos recursos<br />
humanos.<br />
“Sentindo que ainda há um longo caminho<br />
a percorrer, a Bluepharma não tem perdido<br />
tempo, e hoje consideramos que temos uma<br />
empresa tecnolgicamente evoluída, que<br />
permite aos nossos colaboradores trabalhar<br />
com alguns dos sistemas mais sofisticados do<br />
mercado”, salienta o presidente da Bluepharma.
20<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Optimismo q.b.<br />
Enquanto parte integrante do sector da<br />
saúde, a Bluepharma, como tantas outras<br />
empresas da indústria farmacêutica, teve<br />
um papel determinante durante a pandemia,<br />
nomeadamente nos meses de confinamento, no<br />
abastecimento de medicamentos à população.<br />
Durante este período, a empresa teve<br />
três preocupações maiores. A primeira foi<br />
salvaguardar a saúde dos funcionários.<br />
“Andámos sempre à frente das decisões<br />
políticas, o que nos deu uma grande vantagem,<br />
que foi a confiança de todos os trabalhadores<br />
porque estávamos a tomar decisões que viriam<br />
a ser regulamentadas pelo poder político”,<br />
lembra Paulo Barradas Rebelo. A segunda<br />
preocupação foi não fechar os processos.<br />
“Não podíamos deixar de chegar com os<br />
medicamentos a quem deles precisavam.<br />
Os medicamentos são produtos essenciais,<br />
e por isso nunca parámos de produzir”,<br />
refere. A terceira prendeu-se com as cadeias<br />
de abastecimento, nomeadamente com a<br />
possibilidade de pararem por falta de matéria-<br />
-prima e também pelo risco de os<br />
equipamentos industriais recentemente<br />
adquiridos sofrerem atrasos. “Felizmente,<br />
mas com custos acrescidos, conseguimos que<br />
nunca nos faltasse matéria-prima para produzir,<br />
nunca falhámos com o abastecimento de<br />
medicamentos ao mercado.”<br />
Não podíamos deixar<br />
de chegar com os<br />
medicamentos a quem<br />
deles precisavam. Os<br />
medicamentos são produtos<br />
essenciais, e por isso nunca<br />
parámos de produzir<br />
Paulo Barradas Rebelo<br />
Paulo Barradas Rebelo considera-se um<br />
“optimista com os pés bem assentes no chão”,<br />
quanto à evolução deste sector que “vive do<br />
conhecimento e da inovação”. Deste modo,<br />
no pós-pandemia “a humanidade olha para<br />
a ciência e para a ciência farmacêutica com<br />
muita esperança. Portanto, eu não podia estar<br />
mais optimista em relação ao sector”, revela.<br />
Contudo, alerta para o previsível aumento dos<br />
custos de distribuição, nomeadamente com o<br />
aumento dos custos energéticos: “as matériasprimas<br />
são cada vez mais escassas e mais caras<br />
e a regulamentação é cada vez mais exigente”.<br />
“Encontramo-nos numa fase de escalada de<br />
custos e num mercado de preços condicionado<br />
pelo poder político. O que pode dificultar<br />
o normal abastecimento de medicamentos<br />
a todos os que deles precisam”, destaca o<br />
presidente da Bluepharma. •
Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, NAC - 2º Piso, Lugar do Quintanilho, 2660-421 São Julião do Tojal<br />
+351 219 927 400 - geral@simab.pt - Visite-nos em www.simab.pt
22<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
logística<br />
Mercados<br />
O e-commerce<br />
na China<br />
Em <strong>2021</strong>,<br />
as vendas<br />
do comércio<br />
eletrónico na<br />
China devem atingir<br />
os 2.100 mil milhões de<br />
dólares, segundo o mais<br />
recente estudo de mercado<br />
desenvolvido pela GlobalData.<br />
De acordo com a eMarketer, este<br />
valor corresponderá a um aumento de<br />
21 por cento face a 2020, muito acima do<br />
crescimento de 4 por cento estimado para os<br />
canais de venda presenciais do país.
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
Autores: João Falardo, delegado AICEP em Pequim<br />
Filipe Sequeira, técnico AICEP em Pequim<br />
Até 2024, os mesmos analistas apontam a<br />
meta dos 3.000 mil milhões de dólares<br />
em vendas realizadas nos canais de venda<br />
eletrónicos da China. Em 2019, ano de prépandemia,<br />
o valor das vendas eletrónicas a<br />
retalho no país rondaram os 1.640 mil milhões<br />
de dólares. Como se não fosse suficiente, os<br />
valores económicos associados ao comércio<br />
eletrónico do país não ficam por aqui.<br />
O e-commerce na China, que foi<br />
recentemente estimulado pelo impacto<br />
económico da COVID-19, teve como principal<br />
ponto de partida a fundação do Grupo Alibaba<br />
em 1999 e posteriormente o lançamento da<br />
plataforma Taobao em 2003. Inicialmente<br />
criada com o intuito de conectar pequenos<br />
comerciantes com fornecedores chineses,<br />
as potencialidades da plataforma Taobao,<br />
desenvolvida pela Alibaba, atraíram desde logo<br />
a atenção das grandes empresas chinesas, que<br />
se associaram a este canal de vendas Business-<br />
-to-Business (B2B).<br />
Com o crescimento económico da população<br />
chinesa, o foco do comércio eletrónico<br />
alastrou-se paralelamente ao segmento<br />
Business-to-Consumer (B2C), permitindo<br />
o surgimento de novas empresas, como a<br />
Jingdong.com, que inaugurou a sua primeira<br />
plataforma de comércio eletrónico em 2004, e<br />
a redefinição da estratégia do Grupo Alibaba,<br />
que lançou a sua primeira plataforma dedicada<br />
ao consumidor final em 2008.<br />
Empresas como a Alibaba e a Jingdong.<br />
com foram pioneiras na recolha de novas<br />
oportunidades de negócio associadas aos<br />
canais de venda eletrónicos chineses, incutindo<br />
gradualmente no seio da população chinesa,<br />
com algum poder de compra, novos hábitos<br />
de consumo que hoje ocupam o quotidiano de<br />
todas as faixas etárias do país, transformando<br />
igualmente as atividades económicas do tecido<br />
empresarial a nível doméstico e internacional.<br />
Com 989 milhões de utilizadores de internet<br />
ativos até ao final de 2020 (China Internet<br />
Network Information Center), a China é<br />
atualmente responsável por mais de metade<br />
do comércio eletrónico B2C realizado em todo<br />
o mundo (Global Ecommerce 2020 – Insider<br />
Intelligence eMarketer). De acordo com a<br />
mesma fonte, a contribuição deste canal de<br />
vendas para a totalidade das vendas a retalho<br />
realizadas na China aumentou de 20 por cento<br />
em 2016, para 44 por cento em 2020. Este<br />
valor contrasta com as contribuições de 27,5<br />
e 14,5 por cento observadas nos mercados<br />
do Reino Unido e Estados Unidos da América,<br />
respetivamente (World Economic Forum –<br />
E-Commerce Growth is Fastest in China).
24<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
a China é atualmente<br />
responsável por mais<br />
de metade do comércio<br />
eletrónico B2C realizado<br />
em todo o mundo<br />
A internacionalização das empresas<br />
portuguesas, vista como motor fundamental<br />
para o desenvolvimento do tecido económico<br />
e comercial português, enfrentou desafios<br />
ímpares em 2020 provocados pela pandemia<br />
mundial de SARS-CoV-2, que vieram não só<br />
transformar temporariamente o panorama<br />
comercial internacional, como induzir<br />
mudanças estruturais nos procedimentos<br />
negociais com os parceiros internacionais e<br />
nas suas interações com os consumidores.<br />
Os meios digitais, que até aqui se assumiam<br />
como relevantes para o desenvolvimento de<br />
estratégias de internacionalização adaptadas<br />
à realidade moderna, desempenharam durante<br />
o período de adaptação e pós-pandemia um<br />
papel determinante para a sobrevivência no<br />
panorama internacional de muitas empresas<br />
nacionais.<br />
Este contexto, que requereu uma atenção<br />
redobrada no segmento B2C, tornou-se mais<br />
familiar para as empresas com atividades<br />
enquadradas no segmento B2B, que<br />
inevitavelmente adotaram novas ferramentas<br />
digitais para o desenvolvimento das suas<br />
atividades, como a adesão a plataformas<br />
digitais de matchmaking empresarial e a<br />
participação em feiras e exposições de cariz<br />
digital. Não obstante, foi nos bens de consumo<br />
que este novo ímpeto se fez sentir de forma<br />
mais acentuada, especialmente nos mercados<br />
mais robustos que alimentaram a recuperação<br />
económica mundial que se fez sentir muito<br />
gradualmente a partir do segundo semestre do<br />
ano transato.<br />
Neste cenário, o mercado chinês<br />
testemunhou a robustez e resiliência que<br />
o caracterizam: a segunda maior economia<br />
mundial encerrou o ano de 2020 com um<br />
crescimento de 2,3 por cento do seu PIB,<br />
recuperando notavelmente da quebra de<br />
6,8 por cento registada durante o primeiro<br />
trimestre daquele ano pelo Bureau Nacional de<br />
Estatísticas da China. Esta tendência mantevese<br />
durante os primeiros meses de <strong>2021</strong>. O<br />
setor terciário do país recupera e acompanha<br />
a recuperação mais rapidamente que o setor
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
industrial e que as exportações chinesas,<br />
levando o Fundo Monetário Internacional (FMI)<br />
a estimar um crescimento de 8,1 por cento do<br />
PIB chinês durante o corrente ano, acima dos<br />
5,5 por cento estimados para o crescimento da<br />
economia mundial.<br />
Também durante o primeiro trimestre de<br />
<strong>2021</strong> os dados do Ministério do Comércio da<br />
China (MOFCOM) indicaram um crescimento de<br />
29,9 por cento do comércio eletrónico a retalho<br />
do país, com as vendas realizadas por este<br />
canal a ascenderem aos 434,5 mil milhões de<br />
dólares.<br />
Portugal tem igualmente beneficiado desta<br />
recuperação sentida no maior mercado asiático,<br />
com as exportações de bens nacionais para o<br />
mercado chinês a aumentarem 64 por cento<br />
durante os primeiros cinco meses de <strong>2021</strong>,<br />
por comparação com o período homólogo<br />
de 2020, conforme dados oficiais divulgados<br />
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).<br />
Este momento económico ganha ainda maior<br />
relevância uma vez que as exportações<br />
nacionais para este mercado, observadas entre<br />
janeiro e maio do ano corrente, aumentaram<br />
18,3 por cento face ao mesmo período de 2019,<br />
ano que antecedeu a pandemia de SARS-CoV-2.<br />
A China e o e-commerce são por estas razões<br />
dois conceitos cada vez mais importantes para<br />
o tecido empresarial português, indissociáveis<br />
entre si, que requerem da parte das empresas<br />
portuguesas e de entidades institucionais,<br />
como a AICEP, uma dedicação prioritária, que<br />
não tem sido descurada.<br />
Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />
Red is<br />
making<br />
things<br />
easier<br />
Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />
encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />
A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />
seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />
informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />
facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />
encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />
físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />
A pallet is red, red is a pallet
26<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
A China e o e-commerce são dois conceitos<br />
Em 2020, a AICEP firmou um acordo de<br />
cooperação com a segunda maior plataforma<br />
de comércio eletrónico do país, a JD.com, que<br />
enquadrou a abertura do primeiro marketplace<br />
português na China, numa primeira fase<br />
dedicado ao comércio eletrónico de vinhos<br />
portugueses. Igualmente, encontra-se<br />
em desenvolvimento uma parceria com o<br />
grupo económico Alibaba, o maior operador<br />
de e-commerce da China, que consiste<br />
num programa agregador de produtos<br />
agroalimentares portugueses nas suas<br />
principais plataformas: Tmall e Taobao.<br />
Do mesmo modo, o desempenho destes<br />
canais de venda chineses, perpetuado em<br />
grande parte pelos grupos económicos Alibaba<br />
e JD.com, não tem passado despercebido por<br />
parte das empresas portuguesas. Em 2018,<br />
momento em que a AICEP iniciou um processo<br />
de monitorização frequente das principais<br />
plataformas de comércio eletrónico da China,<br />
em coordenação com as suas delegações em<br />
Pequim, Xangai e Cantão, a oferta de produtos<br />
portugueses neste canal de vendas era escasso<br />
em quantidade e diversidade, cingindo-se de<br />
um modo geral à venda de um leque reduzido<br />
de marcas de vinho do porto e cerveja. Esta<br />
realidade alterou-se substancialmente neste<br />
meio tempo, com o cabaz de oferta a alargar-se<br />
hoje a produtos nacionais do setor fileira-casa,<br />
de higiene e conforto, agroalimentar e bebidas,<br />
como o café, azeite, conservas, águas e um<br />
leque mais alargado de marcas e tipos de vinho<br />
e cervejas, mas também vestuário, calçado e<br />
produtos de limpeza.<br />
cada vez mais importantes para o<br />
tecido empresarial<br />
português<br />
Comércio eletrónico<br />
tradicional<br />
e transfronteiriço<br />
O comércio eletrónico na China continua a<br />
atrair um número crescente de pequenas,<br />
médias e grandes empresas, devido aos<br />
menores custos de entrada no mercado<br />
associados a esta modalidade, nomeadamente<br />
no que respeita ao menor capital investido<br />
e aos recursos humanos necessários à sua<br />
execução.<br />
De igual modo, trata-se de um canal que<br />
permite às empresas alargar o seu leque de<br />
clientes, pelo maior alcance concedido por este<br />
canal, que se estende a praticamente todo o<br />
território chinês, incluindo as suas regiões mais<br />
rurais. Estas regiões têm sido alvo de um forte<br />
investimento associado a estas atividades, que<br />
são vistas como o motor de desenvolvimento<br />
económico sustentável da China, concedendo-<br />
-lhes ainda a possibilidade de alavancar a sua<br />
transição para os canais de venda presenciais<br />
do país, mediante o aumento do poder<br />
negocial junto de potenciais importadores<br />
e distribuidores chineses e mediante a<br />
performance alcançada pela venda dos seus<br />
produtos nos canais digitais.
SCM Supply Chain Magazine 27<br />
Por defeito, o comércio eletrónico de<br />
produtos importados no mercado chinês<br />
obedece ao Sistema Geral de Supervisão<br />
do Comércio. Ao abrigo deste sistema, a<br />
importação de bens, concretizada por parte<br />
de importadores locais que administram<br />
marketplaces nas principais plataformas<br />
digitais chinesas, requere a apresentação<br />
obrigatória de licenças de importação e o<br />
cumprimento dos demais requisitos associados<br />
ao processo de desalfandegamento.<br />
A importação de bens pelo método<br />
tradicional requer ao país exportador<br />
aspetos adicionais de acesso ao mercado,<br />
como a existência de protocolos bilaterais<br />
entre as autoridades competentes dos dois<br />
países e o cumprimento dos requisitos de<br />
rotulagem chineses. Este aspeto aplica-se às<br />
atividades de importação de bens alimentares<br />
como proteína animal, produtos lácteos e<br />
produtos agroalimentares com baixo grau<br />
de transformação. Para estas categoria de<br />
produtos, frequentemente referida como<br />
“produtos de alto risco”, é igualmente<br />
exido o registo prévio do produtor junto<br />
da Administração Geral das Alfândegas da<br />
China (GACC). Em contexto semelhante, mais<br />
produtos, para além dos bens agroalimentares,<br />
como os cosméticos, produtos de saúde e bem-<br />
-estar, medicamentos e dispositivos médicos,<br />
requerem a obtenção prévia de determinadas<br />
licenças e autorizações à sua entrada no<br />
mercado chinês. Aplicam-se igualmente, neste<br />
método, tarifas de importação, impostos<br />
sobre o valor acrescentado e, em determinado<br />
contexto, impostos sobre o consumo de<br />
produtos como vinhos, outras bebidas<br />
alcoólicas e cosméticos de gama alta.<br />
Em 2013, as autoridades chinesas deram<br />
os primeiros passos no sentido de regular<br />
e promover uma modalidade alternativa de<br />
comércio pelos canais digitais, em resposta à<br />
explosão do comércio eletrónico no país. Com<br />
o aumento do volume de encomendas no setor<br />
B2C, nomeadamente de pequenas parcelas,<br />
acompanhando o enriquecimento das classes<br />
média e alta do país e consequente crescente<br />
apetência por produtos importados de<br />
qualidade, a regulação do comércio eletrónico<br />
transfronteiriço veio auxiliar as atividades<br />
alfandegárias e de regulação do mercado, à<br />
medida que o Sistema Geral de Supervisão do<br />
Comércio se revelava demasiado oneroso para<br />
este tipo de transações comerciais.<br />
O comércio eletrónico na China continua a atrair<br />
um número crescente de pequenas, médias e grandes<br />
empresas, devido aos menores custos de entrada no<br />
mercado
28<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Conhecido como “cross-border e-commerce”<br />
ou comércio eletrónico transfronteiriço, esta<br />
modalidade é tratada pelas autoridades como<br />
importação de artigos para uso pessoal,<br />
beneficiando de um regime preferencial à<br />
importação: ausência de tarifas alfandegárias,<br />
redução de 70 por cento do IVA e imposto<br />
especial sobre consumo para um limite anual<br />
de compras no valor de 26 mil yuans por<br />
consumidor e cinco mil yuans por transação.<br />
Neste modelo, os impostos associados à<br />
compra e consumo são comportados pelo<br />
consumidor final, estando as plataformas de<br />
e-commerce chinesas e as empresas que atuam<br />
como terceira parte encarregues da cobrança<br />
de impostos.<br />
Embora seja possível expedir encomendas<br />
a partir de Portugal com destino à China, no<br />
âmbito do comércio eletrónico transfronteiriço,<br />
dado tratar-se de uma transação entre dois<br />
países, o mesmo não se apresenta como a<br />
circunstância mais adequada aos hábitos de<br />
consumo chineses. O prazo médio de entregas<br />
no país não ultrapassa os três dias, sendo<br />
inclusivamente possível receber encomendas<br />
no próprio dia, mediante a proximidade do<br />
comprador à sede da plataforma eletrónica e<br />
o inventário existente. A título de exemplo, a<br />
plataforma JD.com realiza entregas no próprio<br />
dia na capital da China, Pequim, dando resposta<br />
a um dos fatores de decisão mais importantes<br />
por parte destes consumidores: a rapidez e a<br />
conveniência das entregas.<br />
Por este motivo, o modelo de negócio mais<br />
utilizado pelas empresas que aderem a esta<br />
modalidade consiste na cooperação com<br />
entrepostos alfandegários autorizados para o<br />
efeito, estabelecidos em zonas piloto dedicadas<br />
ao comércio eletrónico transfronteiriço,<br />
armazenando inventários em território chinês.<br />
Os produtos apenas são declarados à medida<br />
que são encomendados pelo consumidor<br />
final, não estando formalmente armazenados<br />
em território chinês. Estas zonas piloto, que<br />
operam à semelhança das zonas de livre<br />
comércio, encontram-se distribuídas por 30<br />
províncias, municípios e regiões autónomas<br />
do país, num total de 105 zonas. A título<br />
de curiosidade, a primeira zona com estas<br />
características foi criada em Hangzhou, em<br />
2015, cidade que alberga a sede da Alibaba.<br />
Assim, as mercadorias são entregues<br />
em pequenas parcelas à medida que são<br />
encomendadas. Cada vez que é efetuada uma<br />
encomenda, o operador da plataforma de<br />
e-commerce e o fornecedor de serviços locais<br />
autorizado, também conhecido como terceira<br />
parte, devidamente conectados com o sistema<br />
eletrónico das autoridades alfandegárias<br />
chinesas, procedem à declaração alfandegária<br />
de cada parcela em tempo real.<br />
Embora seja possível<br />
expedir encomendas a<br />
partir de Portugal com destino à China, no âmbito do<br />
comércio eletrónico transfronteiriço, dado tratar-se de<br />
uma transação entre dois países, o mesmo não se apresenta<br />
como a circunstância mais adequada aos hábitos de<br />
consumo chineses
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
Desta forma, o comércio eletrónico<br />
transfronteiriço envolve os seguintes atores<br />
principais:<br />
• Empresas exportadoras (cross-border<br />
e-commerce enterprises) que vendem produtos<br />
importados do estrangeiro ao consumidor<br />
final chinês, através desta modalidade. São as<br />
detentoras dos bens até à sua expedição para o<br />
consumidor final;<br />
• Operadores de comércio eletrónico<br />
transfronteiriço (cross-border e-commerce<br />
platforms), que se encontram registados na<br />
China, providenciam web space, espaços<br />
virtuais de negócios, regras de transação<br />
e execução de pagamentos, anúncios<br />
informativos e outros serviços destinados aos<br />
consumidores e empresas exportadoras, para<br />
transações e estabelecimento de sistemas de<br />
rede que permitam a condução de transações<br />
independentes entre as partes envolvidas;<br />
• Fornecedores de serviços locais (domestic<br />
service providers), também conhecidos<br />
como terceiras partes, consistem em<br />
entidades registadas na China, contratadas<br />
por empresas exportadoras para fornecer<br />
serviços de declaração, pagamento, logística,<br />
armazenamento, entre outros. Possuem<br />
qualificações para o efeito, fornecem<br />
informação direta sobre pagamentos, logística<br />
e armazenamento às autoridades alfandegárias,<br />
aceitam a supervisão da autoridades<br />
alfandegárias e autoridades reguladoras<br />
do mercado e assumem responsabilidades<br />
correspondentes;<br />
• Consumidores: compradores locais de<br />
produtos importados pela via do comércio<br />
eletrónico transfronteiriço.<br />
Não obstante das medidas preferenciais<br />
do comércio eletrónico transfronteiriço, com<br />
destaque para a redução da carga fiscal que<br />
incide sobre os operadores, importa ressalvar<br />
que esta modalidade poderá apresentar<br />
benefícios limitados para determinadas<br />
categorias de produtos. Trata-se de um<br />
modelo que pode envolver custos logísticos<br />
acrescidos, na medida em que as empresas<br />
exportadoras são responsáveis por cobrir<br />
os custos associados ao armazenamento de<br />
mercadorias, bem como os custos do serviço<br />
de agenciamento fornecidos pelos entrepostos<br />
alfandegários estabelecidos nas zonas de livre<br />
comércio.<br />
Na mesma medida, este modelo pode<br />
compreender inventários parados sem<br />
garantia de venda da sua totalidade, condição<br />
particularmente influente no comércio de<br />
bens perecíveis e com tempo de prateleira<br />
mais reduzido. Além disso, é mais competitivo<br />
para produtos comercializados com relativa<br />
frequência e em maior volume, reduzindo<br />
os riscos associados à perecibilidade dos<br />
inventários sob a responsabilidade do<br />
exportador.<br />
Partindo do exemplo dos produtos<br />
portugueses comercializados nas plataformas<br />
eletrónicas chinesas, constata-se que os<br />
produtos comercializados pelo modelo de<br />
comércio eletrónico transfronteiriço dizem<br />
respeito a produtos não perecíveis, de marcas<br />
como a Renova e Benamor. Por sua vez, os<br />
vinhos e cerveja produzidos em Portugal são<br />
ainda, na sua grande maioria, comercializados<br />
pelo método tradicional.
30<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Legislação nos canais<br />
de venda eletrónicos<br />
O crescimento do comércio eletrónico<br />
tem beneficiado as empresas aderentes,<br />
promovendo a sua internacionalização,<br />
alargando o seu espectro de clientes e<br />
potenciando o seu volume de vendas. Importa<br />
notar, contudo, que o aumento do volume de<br />
transações, à distância de um simples clique,<br />
propicia o aumento de infrações relacionadas<br />
com direitos de propriedade intelectual.<br />
Ao longo da última década, a China tem<br />
realizado uma reforma mais abrangente sobre<br />
as várias legislações regulamentares, com<br />
vista a incrementar o ambiente de negócios do<br />
país, com enfoque na legislação sobre marcas<br />
registadas, na legislação sobre os direitos<br />
de propriedade intelectual e na legislação<br />
sobre patentes. Encontra-se, de igual modo,<br />
a ser delineado um novo projeto de lei sobre<br />
proteção de segredos comerciais e anti<br />
monopólio.<br />
Em agosto de 2017, a China estabeleceu o<br />
primeiro tribunal exclusivamente dedicado a<br />
casos judiciais relacionados com atividades<br />
conduzidas na internet na cidade de Hangzhou,<br />
ao qual se seguiu a criação de dois tribunais<br />
com estas características nas cidades de<br />
Pequim e Cantão.<br />
A 31 de agosto de 2018, o Conselho<br />
de Estado da China promulgou<br />
a primeira legislação sobre<br />
comércio eletrónico, entrando<br />
esta em vigor a 1 de janeiro de<br />
2019<br />
A 31 de agosto de 2018, o Conselho de<br />
Estado da China promulgou a primeira<br />
legislação sobre comércio eletrónico, entrando<br />
esta em vigor a 1 de janeiro de 2019. Esta<br />
legislação passou a dar resposta às atividades<br />
do comércio eletrónico no país, respeitantes à<br />
realização e execução de contratos, resolução<br />
de disputas, responsabilidades legais, bem<br />
como proteção e cumprimento dos direitos de<br />
propriedade intelectual, estipulando direitos<br />
e deveres dos seus atuantes. O comércio<br />
eletrónico transfronteiriço é igualmente<br />
abrangido por esta legislação, aplicável<br />
às plataformas operadoras e fornecedores<br />
de serviços. A legislação não tem efeitos<br />
extraterritoriais, pelo que as empresas<br />
exportadoras não se encontram sob o seu<br />
alcance direto.<br />
As melhorias introduzidas pelas reformas<br />
da legislação chinesa têm permitido avanços<br />
administrativos que permitem às empresas<br />
estrangeiras reclamar os seus direitos no<br />
mercado, verificando-se um número crescente<br />
de processos judiciais decorridos no país,<br />
que tendem a favor dos titulares de direitos<br />
de propriedade intelectual. Ainda assim,<br />
o crescimento exponencial do comércio<br />
eletrónico tem contribuído igualmente para o<br />
aumento dos casos de infração, com empresas<br />
e indivíduos a tirarem partido das lacunas<br />
dos modelos de negócio das plataformas de<br />
comércio eletrónico para infringirem direitos<br />
de propriedade intelectual pelo princípio de<br />
má-fé. Denota-se, igualmente, a crescente<br />
sofisticação dos infratores na aplicação destes<br />
casos específicos de má-fé, com o objetivo de<br />
confundir os consumidores.<br />
A resolução de disputas desta natureza,<br />
através dos mecanismos disponibilizados pelas<br />
plataformas de comércio eletrónico da China,<br />
com a supervisão da China National Intellectual
SCM Supply Chain Magazine 31<br />
Property Administration (CNIPA) não é, por<br />
vezes, óbvia, requerendo a apresentação de<br />
documentação administrativa, o que dificulta<br />
as diligências iniciadas pelos titulares de<br />
direitos, como por exemplo a necessidade de<br />
apresentar documentação traduzida para o<br />
idioma mandarim devidamente reconhecida<br />
pelos serviços autenticadores da Embaixada da<br />
República Popular da China no país de origem<br />
do reclamante. O acesso a estes serviços<br />
encontra-se temporariamente limitado devido<br />
aos constrangimentos impostos pela pandemia<br />
nas atividades realizadas pelas representações<br />
diplomáticas dos vários países, ao qual a China<br />
não é exceção.<br />
Recomenda-se, deste modo, às empresas já<br />
presentes nestes canais de venda eletrónicos,<br />
bem como àquelas que pretendem aderir<br />
a esta modalidade comercial, a análise<br />
prévia dos mecanismos de resolução de<br />
disputas oferecidos pelas plataformas<br />
de comércio eletrónico e a compilação<br />
antecipada da documentação solicitada por<br />
estes mecanismos, procurando prevenir<br />
contratempos. O registo de direitos de<br />
propriedade intelectual é indispensável no<br />
acesso ao mercado chinês.<br />
Atualmente, decorre, com o financiamento<br />
da Comissão Europeia, o projeto “China IP SME<br />
Help Desk”, desenvolvido com o propósito<br />
de apoiar as PME europeias em atividades<br />
relacionadas com direitos de propriedade<br />
intelectual na China, através da produção de<br />
conteúdos informativos e aconselhamento<br />
especializado, o qual se encontra igualmente<br />
ao dispor das empresas nacionais.<br />
CONNOSCO
32<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
As maiores empresas de<br />
e-commerce chinesas<br />
De acordo com o estudo de mercado “China<br />
Most Valubale E-commerce Companies 2020”,<br />
conduzido pela Hurun China, o ranking das<br />
principais empresas de comércio eletrónico da<br />
China assumiu, em 2020, a seguinte estrutura,<br />
por ordem de valor de mercado:<br />
Jingdong.com<br />
7.490 mil milhões de yuan<br />
Criada em 1998, iniciou atividades<br />
económicas com recurso a meios<br />
eletrónicos em 2004, concentrando-se<br />
atualmente na venda de produtos da gama<br />
média e alta. Reúne cerca de 400 milhões<br />
de utilizadores.<br />
Alibaba<br />
41.090 mil milhões de yuans<br />
Após mais de 20 anos de desenvolvimento,<br />
sob os desígnios do fundador Jack Ma, a<br />
Alibaba possui atualmente mais de 960<br />
milhões de consumidores ativos em todo o<br />
mundo, sendo detentora das plataformas<br />
de comércio eletrónico Taobao e Tmall.<br />
Meituan Dianping<br />
9.190 mil milhões de yuans<br />
Fundada na capital de Pequim, em<br />
2010, consiste atualmente na principal<br />
plataforma de serviços de entrega de<br />
refeições, compras de bilhetes no setor de<br />
entretenimento, partilha de bicicletas, entre<br />
outros, liderando o comércio eletrónico de<br />
serviços prestados localmente. Em 2020,<br />
registou transações realizadas por 450<br />
milhões de utilizadores.<br />
Pinduoduo<br />
7.280 mil milhões de yuans<br />
A Pinduoduo foi fundada em 2015 e tem<br />
registado um rápido desenvolvimento<br />
através de um modelo de negócios<br />
que combina o social com o comércio<br />
eletrónico. Tornou-se numa das três<br />
principais empresas de comércio eletrónico<br />
na China, em termos de vendas realizadas,<br />
com 600 milhões de utilizadores ativos,<br />
sendo apenas superada pela Alibaba.<br />
Didi Chuxing<br />
3.600 mil milhões de yuans<br />
Consiste numa plataforma de prestação de<br />
serviços de transporte, servindo mais de<br />
550 milhões de usuários. Com 600 milhões<br />
de utilizadores ativos e cerca de 13 mil<br />
trabalhadores, realizou, em 2020, uma<br />
média diária de 60 milhões de viagens,<br />
a nível mundial, oferecendo serviços no<br />
Panamá, Rússia, Peru, Nova Zelândia,<br />
República Dominicana e Argentina, para<br />
além da China.
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
A CARREGAR...<br />
... e desta vez não estamos a falar de contentores.<br />
FIQUE ATENTO!<br />
LOGÍSTICA<br />
CONTRATUAL<br />
TRANSPORTE<br />
MARÍTIMO<br />
TRANSPORTE<br />
AÉREO<br />
TRANSPORTE<br />
TERRESTRE<br />
PROJETOS<br />
ESPECIAIS<br />
DESPACHOS<br />
ADUANEIROS<br />
CONSULTORIA<br />
CONSULTE-NOS e conheça uma Solução de TRANSPORTES E LOGÍSTICA totalmente ajustada ao Seu Negócio.<br />
comercial@olicargo.com | www.olicargo.com |
34<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Conselhos úteis<br />
• Como primeiro passo de adesão ao<br />
comércio eletrónico na China, as empresas<br />
exportadoras devem analisar vantagens<br />
e desvantagens dos modelos de negócio<br />
aplicados neste canal de vendas, e prestar<br />
particular atenção ao fornecedor de serviços<br />
com o qual estabelecem cooperação, neste caso<br />
as empresas atuantes como terceiras partes.<br />
Tratando-se de uma opção viável e facilitadora<br />
para a maioria das PME, um número crescente<br />
de empresas estrangeiras opta por estabelecer<br />
sucursais na China, por cooperação com<br />
cidadãos locais familiarizados com as atividades<br />
da empresa, que possuem um conhecimento<br />
mais alargado e maior proximidade com o<br />
mercado chinês. Nestes casos, as sucursais<br />
estabelecidas no mercado (foreign invested<br />
enterprises - FIE), com as devidas autorizações,<br />
podem realizar as atividades de outra forma ao<br />
encargo de fornecedores de serviço, garantindo<br />
um maior controlo sobre inventários e margens<br />
praticadas pelas mesmas;<br />
• A entrada nos canais eletrónicos da<br />
China requere investimentos em marketing<br />
e comunicação devido à forte concorrência<br />
existente, sendo habitual que os distribuidores<br />
locais solicitem apoios financeiros, com o<br />
objetivo de realizar campanhas de comunicação<br />
que concedam maior visibilidade aos produtos<br />
nos algoritmos das plataformas de comércio<br />
eletrónico chinesas;<br />
• Noutro contexto, a pandemia COVID-19<br />
veio impor desafios adicionais para as empresas<br />
exportadoras, como a impossibilidade dos<br />
empresários portugueses se deslocarem à<br />
China, limitando os trabalhos de promoção<br />
neste mercado, nomeadamente a participação<br />
em feiras setoriais de maior relevo e o<br />
acompanhamento de clientes chineses, bem<br />
como o acompanhamento de atividades<br />
associadas ao comércio eletrónico. Por este<br />
motivo, aconselham-se as empresas nacionais a<br />
apostarem nos canais de comunicação digitais,<br />
promovendo reuniões online com contrapartes<br />
chinesas, a participação em edições online<br />
de feiras e webinars setoriais e a aposta nos<br />
canais de venda eletrónicos do país, seguindo<br />
o modelo que melhor corresponda à sua<br />
estratégia;<br />
• Não obstante, devem ser redobrados os<br />
cuidados associados à utilização de plataformas<br />
digitais como meios para a condução de<br />
negócios e a celebração de contratos,<br />
alertando-se para a necessidade de recorrer aos<br />
mecanismos formais ao dispor das empresas,<br />
evitando a título de exemplo firmar acordos e<br />
deliberações com base em mensagens trocadas<br />
em plataformas digitais, como o WeChat. Por<br />
causa dos atuais constrangimentos ao nível<br />
da mobilidade internacional, um número<br />
crescente de empresários nacionais e chineses<br />
contactam a partir desta plataforma. Apesar<br />
disso, as comunicações realizadas por esta via<br />
apresentam uma validade limitada em caso de<br />
resolução de disputas judiciais. •<br />
Fonte: Artigo originalmente publicado na “Portugal Global” N.º 145
procurement<br />
35<br />
O potencial da<br />
tecnologia<br />
Texto: Ana Paiva<br />
A importância<br />
de um processo<br />
de procurement<br />
digital<br />
A tecnologia na área do procurement é uma<br />
realidade que ainda não foi propriamente<br />
abraçada por muitas empresas. Cláudio<br />
Cardoso, public sector director da Everis NTT<br />
Data Portugal, explica-nos quais os desafios<br />
que a área do procurement enfrenta<br />
actualmente, o potencial da digitalização<br />
nos processos de compras, e a realidade de<br />
Portugal face a este tema.<br />
Quais são os actuais problemas da área de<br />
procurement?<br />
Cláudio Cardoso > Vivemos um período<br />
ímpar da nossa História. Se é verdade que a<br />
pandemia e o confinamento vieram aumentar<br />
as dificuldades nas áreas do procurement,<br />
pondo-as a descoberto, e, assim, acentuar<br />
alguns problemas das organizações que não<br />
estavam preparadas, e não se prepararam,<br />
para os novos métodos de trabalho. Também<br />
é inegável que vieram potenciar o recurso a<br />
novas soluções e o investimento nas mesmas<br />
numa corrida contra o tempo, tentando<br />
acompanhar uma realidade emergente,<br />
exigente e urgente.
36<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
A diversidade de necessidades de compras<br />
por parte de uma organização é cada vez maior<br />
e, dependendo da sua dimensão, abrange áreas<br />
tão distintas como Recursos Humanos, Negócio,<br />
Sistemas de Informação, Comunicação, ou<br />
Qualidade e Ambiente, entre outras. Cada vez<br />
mais o factor tempo é crucial num processo<br />
aquisitivo bem como o conhecimento do<br />
próprio processo, que nem sempre é igual e, é<br />
fértil em excepções, mas também é esperado<br />
que as áreas de compras sejam diligentes e que<br />
a compra vá ao encontro das expectativas de<br />
quem lança uma necessidade – seja do ponto<br />
de vista da qualidade do bem/serviço seja do<br />
ponto de vista do fornecedor.<br />
Por essa razão, as organizações que não<br />
têm um verdadeiro processo de procurement<br />
digital e inteligente provocam nas várias<br />
áreas um sentimento de frustração, cada vez<br />
mais com pessoas menos habilitadas, sendo<br />
obrigadas ao preenchimento da mesma<br />
informação de forma repetida, necessidade<br />
de acesso a diferentes sistemas, ausência<br />
de comunicação e envolvimento durante o<br />
processo e dependência de terceiros para o<br />
acompanhamento de processos. São estes<br />
os desafios que quem trabalha numa área de<br />
compras se vê obrigado a gerir no seu dia-a-dia.<br />
Que soluções podem ajudar a resolvê-los?<br />
> Só com o investimento e aposta em<br />
soluções totalmente digitais e integradas<br />
é possível conseguir que os processos<br />
de compras sejam mais ágeis, flexíveis e<br />
coerentes. Soluções que também promovam<br />
um clima de participação, levando a que todos<br />
os intervenientes possam contribuir com<br />
informação e ser parte integrante no processo<br />
do início ao fim: desde a identificação da<br />
necessidade até à execução do contrato.<br />
Só com o investimento<br />
e aposta em soluções<br />
totalmente digitais e<br />
integradas é possível<br />
conseguir que os processos<br />
de compras sejam mais ágeis,<br />
flexíveis e coerentes<br />
Quatro pilares basilares suportam toda<br />
a cadeia de compras e devem ser tidos<br />
em consideração durante o investimento<br />
em novas soluções: desmaterialização de<br />
processos, integração de sistemas, segurança/<br />
transparência e elasticidade dos dados, e<br />
recurso a automatização para aceleração de<br />
procedimentos mais administrativos.<br />
Impõe-se, por isso, uma verdadeira<br />
transformação digital dos processos de<br />
compras, para que se tornem cada vez mais<br />
integrados, ágeis, transparentes e eficientes<br />
para que, por um lado, os fornecedores<br />
continuem a atrair os grandes compradores,<br />
mas também para que os grandes compradores<br />
continuem a atrair os melhores fornecedores,<br />
conseguindo, assim, maximizar o objectivo<br />
da compra: reduzir os custos, aumentar a<br />
qualidade e melhorar a satisfação dos vários<br />
intervenientes.<br />
Cada vez mais as áreas de compras assumem<br />
um papel central e decisivo dentro de uma<br />
organização. Por essa razão, há que investir nas<br />
soluções internas, não as encarando como um<br />
custo, mas sim como investimento, capacitando<br />
as áreas de compras (suporte interno) com<br />
soluções integradas de gestão e de apoio à<br />
decisão.
Quais as tecnologias com maior grau<br />
de adopção no sector e quais as que serão<br />
tendência num futuro próximo?<br />
> Nas últimas décadas temos assistido a um<br />
investimento em tecnologias ERP (Enterprise<br />
Resource Planning) para suportar os processos<br />
de compras das grandes organizações. Esta<br />
opção tem por base a facilidade de aquisição<br />
de novos módulos, num sistema já implantado<br />
para outros propósitos: financeiro e recursos<br />
humanos. Esta aposta tem-se vindo a verificar<br />
cada vez mais insuficiente, tornando o processo<br />
de compras pouco ágil e de difícil integração<br />
com outros sistemas de informação. Com<br />
uma economia cada vez mais competitiva,<br />
imprevisível e volátil, a adopção de novas<br />
tecnologias é um garante para o sucesso. A<br />
evolução tecnológica é constante e todos os<br />
dias surgem novas tecnologias disruptivas.<br />
Importa, assim, avaliar quais os benefícios que<br />
se podem retirar de cada uma delas.<br />
Um recente estudo do Banco Mundial<br />
descreve quais as tecnologias mais disruptivas<br />
para as compras públicas e que podem ter um<br />
impacto significativo na função estratégica<br />
das compras públicas para os governos e para<br />
a sociedade em geral. Destaco as tecnologias<br />
mais emergentes que começam a surgir nesta<br />
área e que certamente se consolidarão num<br />
futuro próximo: computação na nuvem (cloud<br />
computing), inteligência artificial, robotização<br />
de processos (Robotic Process Automation –<br />
RPA) e Blockchain.<br />
Com uma economia cada vez mais<br />
competitiva, imprevisível e volátil,<br />
a adopção de novas tecnologias é<br />
um garante para o sucesso<br />
Quais as diferenças entre a realidade local e<br />
a realidade global?<br />
Neste ponto importa distinguir duas<br />
realidades na área das compras: entidades<br />
públicas e empresas privadas. Com a alteração<br />
ao Código dos Contratos Públicos, ocorrida<br />
em 2008, Portugal adoptou uma abordagem<br />
de e-procurement para todas as entidades<br />
públicas, exigindo-se que todas as aquisições<br />
sejam feitas através de meios electrónicos,<br />
recorrendo a plataformas privadas, onde é<br />
possível realizar parte do ciclo de vida do<br />
processo de compras online (pré-contratual).<br />
Neste capítulo, Portugal conseguiu um<br />
avanço substancial, face a outros estados-<br />
-membros da União Europeia atingindo<br />
algumas metas relevantes, nomeadamente no<br />
que toca à redução da carga administrativa,<br />
de irregularidades processuais e maior<br />
transparência. Não obstante esta evolução,<br />
o ciclo de vida do processo de compras é<br />
bastante mais alargado e a utilização deste<br />
tipo de plataformas não resolve per si a<br />
necessidade de gestão do processo como um<br />
todo em todas as fases do seu ciclo de vida,<br />
a interoperabilidade com outros sistemas,<br />
a possibilidade de analisar os dados ou a<br />
criação de automatismos, entre outros. No<br />
entanto, e embora se reconheçam os avanços<br />
e a evolução relativamente àqueles que eram<br />
os procedimentos anteriores, a verdade é<br />
que Portugal tem ainda um longo caminho<br />
a percorrer e que exige um ainda maior<br />
investimento na área do e-procurement, tanto<br />
a nível público como privado, posicionando-<br />
-nos de forma que possamos competir ao mais<br />
alto nível de exigência que a área das compras<br />
exige. •
Paulo Gonçalves, project manager, Inovflow<br />
38<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
procurement<br />
Gestão eficiente<br />
6 boas<br />
práticas para<br />
otimizar o<br />
processo de<br />
compras<br />
Sabia que os custos<br />
de aquisição de bens<br />
necessários à produção e<br />
ao funcionamento de uma<br />
empresa representam em<br />
média mais de 50% do total<br />
das suas receitas?<br />
Para rentabilizar e assegurar a<br />
sustentabilidade do negócio, é fundamental<br />
garantir uma gestão eficiente e rigorosa do<br />
processo de compras, pois a diferença entre<br />
comprar bem e mal faz toda a diferença no<br />
resultado final.<br />
Em primeiro lugar, há que interiorizar que<br />
as compras deixaram de ser uma mera função<br />
operativa que apenas visa suprir necessidades e<br />
servir outros departamentos, e passaram a ser<br />
uma função estratégica com impacto direto no<br />
negócio.<br />
Para otimizá-la, é preciso adotar uma atitude<br />
proativa e ter consciência de que as decisões<br />
influenciam, positiva ou negativamente, todas<br />
as áreas da empresa.
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
A padronização e automatização de<br />
processos, com fluxos e responsabilidades<br />
bem definidos, dão uma preciosa ajuda<br />
para responder cabalmente a uma série de<br />
perguntas críticas:<br />
• O que é preciso comprar?<br />
• Quais os fornecedores de confiança que<br />
garantem a melhor relação qualidade-preço-<br />
-prazo de acordo com os requisitos e normas<br />
internas?<br />
• Como estão os stocks, existem na<br />
quantidade adequada e quando é necessário<br />
processar novas encomendas?<br />
• Os destinatários das compras estão<br />
satisfeitos?<br />
• Os bens comprados desempenham bem<br />
o seu propósito?<br />
• Os utilizadores tiram partido na sua<br />
plenitude?<br />
• Se forem matérias-primas, garantem<br />
o nível de excelência preconizado para o<br />
produto final?<br />
A gestão de compras é uma atividade que<br />
deve promover o aumento da eficiência, a<br />
organização e redução do ciclo e dos custos<br />
de aquisição, a qualidade dos produtos<br />
e serviços prestados, a rentabilidade e a<br />
vantagem competitiva das empresas.<br />
É sempre possível<br />
fazer melhor<br />
Para que o responsável pelas compras coordene<br />
e monitorize bem o seu fluxo contínuo e<br />
corresponda às necessidades existentes e<br />
futuras, é necessário conhecer plenamente a<br />
empresa, a sua oferta e o seu mercado.<br />
Comprar bem implica garantir os timings,<br />
comparar e negociar preços, analisar a previsão<br />
de vendas, assegurar a qualidade, comprar nas<br />
quantidades certas face à procura expectável e<br />
conseguir boas condições de pagamento.<br />
O processo de compras pode assim ser mais<br />
eficiente e contribuir de forma clara para a<br />
rentabilização do negócio através:<br />
1. Da melhor identificação das<br />
necessidades da empresa<br />
A análise e a identificação em tempo útil das<br />
necessidades de compra devem ser uma prática<br />
corrente nas empresas que pretendem melhorar a<br />
gestão de compras.<br />
Neste ponto, torna-se imprescindível conhecer<br />
exatamente a gama de produtos, o prazo e a<br />
quantidade necessária para garantir os stocks<br />
ideais.<br />
2. Da escolha criteriosa dos<br />
fornecedores<br />
No processo de escolha dos fornecedores, é preciso<br />
ser rigoroso, dando especial atenção não só aos<br />
preços, mas também à qualidade dos produtos e<br />
ao cumprimento dos prazos de entrega.<br />
Uma cadeia de abastecimento forte é meio<br />
caminho andado para que a gestão seja mais fácil<br />
e eficiente.<br />
Os bons relacionamentos, em que impera a<br />
confiança e a disponibilidade, são cruciais para a<br />
realização de boas compras.
40<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
3. De uma correta avaliação de<br />
propostas<br />
Depois de solicitadas e recebidas as propostas<br />
dos fornecedores, estas deverão ser centralizadas<br />
e apresentadas num mapa comparativo, no qual<br />
constem todas as variáveis da consulta e se cruzem<br />
as ofertas dos vários fornecedores, para encontrar<br />
a melhor solução face ao que ficou definido como<br />
requisitos.<br />
4. Da rentabilização das<br />
compras<br />
Analisar quais os bens que permitem rentabilizar<br />
a compra se por exemplo forem adquiridos<br />
numa grande encomenda, se a adjudicação for<br />
antecipada, se existir um prazo de pagamento<br />
mais rápido ou se forem agregados num único<br />
fornecedor, beneficiando de descontos e<br />
promoções adicionais.<br />
5. Da melhor formação dos<br />
colaboradores<br />
O domínio de competências como práticas de<br />
gestão, técnicas de negociação, análise de dados,<br />
relação interpessoal, entre outros, é muito<br />
importante para quem trabalha com compras.<br />
Ao terem as qualificações necessárias e serem<br />
continuamente valorizados e qualificados, os<br />
colaboradores são mais eficientes nas suas funções<br />
com ganhos para todos.<br />
6. Da utilização de tecnologia<br />
Todos os passos associados à gestão de compras<br />
podem ser otimizados e automatizados através da<br />
utilização de plataformas tecnológicas.<br />
Organizar e centralizar as informações de<br />
fornecedores, produtos, stocks, aprovações,<br />
gastos, necessidades, cotações e encomendas<br />
tornam o trabalho mais eficaz, rápido e simples.<br />
Com as tarefas manuais reduzidas ao mínimo e o<br />
controlo rigoroso assegurado pelas ferramentas<br />
de Procurement (devidamente integradas com o<br />
ERP existente), os colaboradores podem focar-se<br />
em ações de efetivo valor acrescentado como o<br />
planeamento, a implementação e a monitorização<br />
da estratégia de compras:<br />
• Analisar a cada momento os indicadores de<br />
negócio;<br />
• Procurar os melhores fornecedores para cada<br />
situação;<br />
• Negociar as propostas da melhor forma e<br />
conseguir o rácio certo de stocks.<br />
Uma solução de e-procurement permite aceder<br />
facilmente aos insights que realmente interessam<br />
e tomar decisões fundamentadas e atempadas, em<br />
qualquer altura e em qualquer lugar.<br />
Reunidas numa mesma fórmula, estas<br />
seis boas práticas permitirão às empresas<br />
melhorarem significativamente os seus<br />
processos de compras, garantindo que<br />
se afirmam no mercado com diferenças<br />
competitivas ao nível da agilidade, eficiência,<br />
rigor e racionalização dos custos. •
LISBOA . PORTO . PRAIA . LUANDA . MAPUTO . SÃO TOMÉ . ACCRA<br />
CAPE TOWN . ROTTERDAM . SÃO PAULO . LONDON . MILAN<br />
+351 933 100 044 . info@sevways.cloud . Visite-nos em TheShippingERP.com<br />
Temos o Cloud ERP do<br />
transporte marítimo<br />
que o seu negócio<br />
precisa.<br />
PORTS & SHIPPING<br />
A transformação digital é um desafio ao seu alcance, comece com uma solução de<br />
gestão cloud, desenhada e desenvolvida especificamente para o sector dos transportes<br />
marítimos, shipping lines, transitários, agências de navegação, armazenagem, distribuição<br />
e-commerce. Informação em tempo real, dos comerciais às operações, das vendas à<br />
contabilidade, das finanças à gestão de topo, tudo integrado, seguro, transparente,<br />
simples e disponível onde e como quiser, para si e para os seus parceiros.<br />
SOLUÇÃO CLOUD PARA TODA A EMPRESA<br />
ERP integrado e simplificado<br />
CRM, Vendas, Operações, Documentação, Tesouraria,<br />
Contabilidade, Analítica, EDI, WebServices, Portal de<br />
Clientes, Mobile App<br />
Reporting e Business Intelligence integrado<br />
Interface User Friendly<br />
Acessível e sem a complexidade<br />
típica de um ERP<br />
Gestão transversal de todo o<br />
negócio com simplificação de<br />
processos integrados de gestão<br />
Uma única fonte de dados com<br />
informação para tomada de<br />
decisão<br />
Focus no serviço prestado ao<br />
Cliente<br />
Uma solução de gestão integrada que lhe permite...<br />
Integrar front e back office com<br />
ganhos significativos de<br />
produtividade<br />
Avançar para a<br />
internacionalização e obter visão<br />
consolidada do seu negócio<br />
Controlar em tempo-real o<br />
desempenho da sua empresa<br />
e tomar decisões<br />
Ajustar a solução à<br />
especificidade do seu negócio
42<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
procurement<br />
O papel do CPO<br />
Tradução e adaptação: Fábio Santos<br />
Muito mais<br />
que um<br />
navio<br />
O texto original foi publicado no blog<br />
internacional sobre procurement e supply<br />
chain Spend Matters, e o seu autor, Alex<br />
Klein, COO e co-fundador da Ef ficio<br />
Consulting explica muito bem o que vive<br />
um profissional de procurement no seu<br />
dia-a-dia: a habitual estrada é substituída<br />
por um vasto mar, o nosso carro é trocado<br />
pelo instável navio e aquela brisa simpática<br />
que passa pela janela torna-se numa forte<br />
tempestade. O risco torna-se uma realidade<br />
e não é qualquer um que navega neste<br />
oceano de incerteza e volatilidade.
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
O ponto sem retorno<br />
Quando a pandemia apertou os travões<br />
das cadeias de abastecimento em todo<br />
o mundo no ano passado, ficou claro<br />
que empresas tinham as suas operações em<br />
ordem e quais, infelizmente, não tinham. Num<br />
contexto económico desafiante de orçamentos<br />
mais apertados, restrições à oferta e uma<br />
rede global em declínio, aqueles com cadeias<br />
de abastecimento robustas conseguiram<br />
aproveitar uma vantagem competitiva<br />
sobre os seus concorrentes mal preparados,<br />
deixando-os para trás na poeira.<br />
No meio deste caos, e anteriormente<br />
negligenciada a favor dos aspectos mais<br />
sexys da gestão da cadeia de abastecimento,<br />
a função de procurement emergiu finalmente<br />
das sombras — forçada à ribalta para enfrentar<br />
os desafios que a cadeia de abastecimento<br />
tinha em mãos. As normas existentes da<br />
cadeia de abastecimento foram postas em<br />
causa à medida que a turbulência em torno<br />
dos acontecimentos do início de 2020 expôs<br />
descuidos e vulnerabilidades, e o procurement<br />
estava na linha da frente para ultrapassar isso.<br />
Alex Klein<br />
Enquanto nós, oxalá, emergimos do outro lado<br />
de muitos destes eventos, as empresas não<br />
podem fazer com que as coisas voltem a ser<br />
como eram. Se o procurement e o cargo de<br />
CPO são necessários para os piores momentos,<br />
então imaginem como poderiam prosperar nos<br />
melhores. As organizações mais bem-sucedidas<br />
de hoje sabem-no, e isso vê-se.<br />
É por isso que o cargo de CPO deve ter uma<br />
influência mais ampla. Para uma organização<br />
mais ampla, o procurement - durante muito<br />
tempo - tem sido visto e tratado como uma<br />
função de back-office. Sem ser demasiado<br />
técnico, isto deve-se, em grande parte, ao<br />
facto de, pelo valor facial, não ser uma parte<br />
excitante ou sedutora do negócio. É visto<br />
como o culminar do esforço administrativo e,<br />
posteriormente, sofreu por fazer parte de um<br />
círculo vicioso que não tem a plataforma para<br />
provar o seu valor, e, portanto, não consegue<br />
flectir os músculos o suficiente para ganhar um<br />
pedestal mais proeminente.<br />
Foi preciso uma influência externa para<br />
destacar as ineficiências ou riscos existentes<br />
que tinham sido negligenciados em favor<br />
de benefícios acima referidos, tais como a<br />
globalização ou modelos de um fornecedor<br />
eficazes em termos de custos. Em sinal, 2020-<br />
<strong>2021</strong> serviu mais do que apenas uma influência<br />
externa. Juntamente com o COVID, o Reino<br />
Unido também tem vindo a lidar com um novo<br />
cenário internacional, fruto do Brexit. Além<br />
disso, o recente bloqueio do Canal do Suez<br />
também confirmou a necessidade de optimizar<br />
as cadeias de abastecimento em preparação<br />
para mais eventos de cisne negro que possam<br />
surgir. Especialmente para os fabricantes, a<br />
actual escassez global de chips tem vindo<br />
a ser mais um caso para o abastecimento
44<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
diversificado ou próximo do litoral. O esforço<br />
de vacinação COVID no meio da ascensão das<br />
variantes foi ainda outro problema.<br />
Acrescentar valor<br />
Estes tempos mais complicados provaram<br />
que o procurement é mais que um adereço<br />
secundário, e certamente mais que um navio<br />
para as tempestades marítimas. É uma enorme<br />
alavanca de rentabilidade, seja qual for a<br />
meteorologia. Afinal, o procurement representa<br />
entre 50% e 80% dos custos de uma empresa,<br />
dependendo da indústria. E a maior parte<br />
das poupanças extraídas destas despesas<br />
vão directamente para o fundo em termos de<br />
valor global. O procurement tem mostrado<br />
ter o potencial de aumentar o EBITDA de uma<br />
organização por 30% ou mais.<br />
Isto faz sentido, se pensar sobre isso.<br />
O gasto externo não é linear. É uma rede.<br />
O procurement pertence a tudo, desde o<br />
abastecimento do escritório a materiais<br />
em bruto, manutenção, equipamento,<br />
energia, transporte, marketing, IT e mais.<br />
Enquanto função, o procurement abrange<br />
unidades de negócio, geografias e linhas de<br />
orçamento. Ainda assim, tem sido visto como<br />
um administrativo dado. Uma necessidade<br />
imutável.<br />
Na realidade, e o que as organizações<br />
esperam agora perceber, é se a verdadeira<br />
optimização do canal de procurement reverte<br />
para potenciais refinamentos em 40 ou mais<br />
categorias, vias e canais.<br />
O sangue do negócio<br />
Por muito tempo, o procurement sentou-<br />
-se no coração da empresa, sem qualquer<br />
reconhecimento de que é realmente o<br />
sangue da empresa. As organizações esperam<br />
estabelecer mais controlo, visão, variabilidade<br />
e robustez nos seus numerosos canais de<br />
despesas, é hora de fazer o coração bater com<br />
maior visibilidade e som.<br />
Para a maioria, esta reavaliação do papel<br />
e importância de um CPO vai requerer uma<br />
mudança cultural e de mindset. Por muitos<br />
anos, o procurement se mante-ve passivo,<br />
alcançando o que era necessário e bloqueando<br />
a ideia de que precisava de melhorar enquanto<br />
uma disciplina já funcional. As organizações<br />
tinham, pensavam elas, alcançado a<br />
melhor prática. Ainda assim, permitir estas<br />
oportunidades de melhoria passar, num<br />
mercado que pede uma maior agilidade,<br />
resiliência e eficiência, pode apenas ser descrito<br />
como uma “má melhor prática”.<br />
É por esta razão que o posicionamento<br />
e alavancagem do procurement enquanto<br />
competência importante e condutor de valor<br />
é mais que apenas um ajuste técnico ou<br />
uma mudança da proeminência do CPO. O<br />
procurement precisa de apoio ao longo de<br />
toda a organização para garantir o sucesso da<br />
transacção – suporte ao nível das pessoas e<br />
das skills, ferramentas e tecnologia. Apenas<br />
com esta mudança de mindset, e com o<br />
investimento necessário numa nova cultura de<br />
compras, a verdadeira influência e impacto do<br />
CPO irá ser concretizada. •<br />
Nunca antes fora<br />
necessário fazer tanto e em tão pouco tempo
Outsourcing Logístico<br />
Serviços<br />
Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />
Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />
Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />
Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />
Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />
Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />
Um grande grupo.<br />
www.grupoconstant.com
46<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
intralogística<br />
Rebranding<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: ZØR<br />
Nova identidade,<br />
mesmos valores,<br />
mais objectivos<br />
Anteriormente conhecida como App<br />
Thermal Chain Innovation, a empresa<br />
da Maia chama-se agora ZØR. A<br />
par da nova identidade, pretende<br />
manter os mesmos princípios de<br />
sustentabilidade e apostar ainda mais<br />
na internacionalização.<br />
A<br />
nova ZØR acredita que o rebranding<br />
e a nova designação irão permitirlhe<br />
um posicionamento mais global,<br />
apresentando-se como “o parceiro que resolve<br />
qualquer desafio da cadeia térmica, de forma<br />
inovadora e tendo em conta as tendências<br />
futuras – sustentabilidade, digitalização,<br />
informação de dados e inteligência artificial”,<br />
refere a empresa, acrescentado que a nova<br />
marca “reflecte o reforço do mindset da<br />
empresa: global, inovadora e voltada para a<br />
consultoria através da oferta de serviços que<br />
permitem chegar, para cada cliente, à solução<br />
única, exacta e precisa que cada situação<br />
exige”.
SCM Supply Chain Magazine 47<br />
À SCM, Manuel Pizarro, CEO da ZØR, explica<br />
que apesar de a pandemia não ter sido uma<br />
causa directa para esta mudança de identidade,<br />
este foi um período que levou a empresa a<br />
reflectir no caminho que pretendiam fazer “e,<br />
no nosso caso, queremos ser mais inovadores,<br />
mais sustentáveis e mais globais”. Assim, a<br />
alteração de nome surge numa altura “em<br />
que sentimos a necessidade de simplificar a<br />
nossa marca para que possamos transmitir<br />
a nossa energia e a nossa ambição, e para<br />
que possamos posicionar-nos no mercado<br />
internacional com mais clareza e foco”, afirma.<br />
Inovar nas soluções<br />
A sustentabilidade tem um papel importante<br />
nas soluções que a empresa constrói, uma vez<br />
que “um dos principais problemas ambientais<br />
que as empresas enfrentam está relacionado<br />
com os seus processos logísticos. A quantidade<br />
de plástico e outros materiais que são utilizados<br />
(muitas vezes uma única vez) é aterradora<br />
– apenas cerca de 14% das embalagens de<br />
plástico são recicladas globalmente. Com<br />
o crescimento das operações logísticas, a<br />
preocupação com a sustentabilidade tem de<br />
ser prioritária para todas as organizações”.<br />
A capacidade de reutilizar materiais é um<br />
princípio da ZØR e “já está presente há<br />
bastante tempo”, refere Manuel Pizarro,<br />
acrescentando que “é claramente necessário<br />
inovar as soluções apresentadas para que toda<br />
a cadeia de valor possa contribuir para uma<br />
maior sustentabilidade do nosso planeta”. A<br />
reutilização de materiais é um “eixo essencial”<br />
para a operação da empresa, uma vez que<br />
causa menos desperdício, menos utilização de<br />
materiais de uso único e permite a economia<br />
circular. “Com o crescimento da população e<br />
do consumo, é necessário valorizar cada vez<br />
mais o que se denomina por ‘Zero Waste’, e<br />
especialmente evitar o desperdício de bens<br />
essenciais como os alimentos e medicamentos”,<br />
alerta o CEO.<br />
Além dos produtos e do seu tratamento,<br />
uma maior visibilidade e transparência entre<br />
todos os elos, e uma gestão mais eficiente<br />
e optimizada também são exemplos do que<br />
é ser sustentável, segundo Manuel Pizarro.<br />
“Como uma empresa focada em ajudar os<br />
nossos clientes a dar resposta aos desafios<br />
que enfrentam, faz parte do nosso processo<br />
olhar para os desafios de uma forma integrada<br />
e recomendar soluções que permitam maior<br />
eficiência e que permitam que todos os<br />
intervenientes tenham plena noção do impacto<br />
que estão a ter no nosso planeta”, acrescenta.<br />
Desígnio global<br />
Esta mudança está a par da aposta da empresa<br />
na internacionalização, apesar de não ser um<br />
factor desconhecido para a ZØR, uma vez<br />
que já têm, até à data, projectos nos cinco<br />
continentes.<br />
Actualmente estão a tentar penetrar noutros<br />
mercados através do projecto ZØR Forward,<br />
que estabelece parceiros em vários países e,<br />
através do conhecimento e acesso a testes<br />
de laboratório proporcionados pela empresa,<br />
conseguem recomendar as melhores soluções<br />
de embalagem a quem delas necessita, neste<br />
caso as da ZØR. De acordo com o CEO estão<br />
a apostar na presença em países como Suíça,<br />
Dinamarca e França, por exemplo, “porque<br />
se queremos de facto ter um mundo mais<br />
sustentável, mais digital e mais inovador, não<br />
podemos focar-nos apenas no nosso país. Este<br />
esforço deve ser conjunto, juntando todos os<br />
players da cadeia de valor, por todo o mundo”,<br />
justifica. •
48<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
intralogística<br />
Modelo central de<br />
gestão<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Carrefour<br />
Brasil<br />
implementa<br />
WMS em modo<br />
SaaS<br />
O Carrefour já utiliza as soluções da<br />
Generix Group há alguns anos em vários<br />
países do mundo. Agora, o Carrefour<br />
Brasil selecionou a solução WMS em<br />
modo SaaS para a gestão dos seus<br />
armazéns, a ser implementada em todos<br />
os centros de distribuição do Grupo<br />
Carrefour em todo o país, com o objectivo<br />
de aumentar a sua competitividade como<br />
líder no mercado brasileiro.
SCM Supply Chain Magazine 49<br />
Nos próximos 10 meses, esta implementação<br />
da Generix Group ocorrerá em 12 centros<br />
de distribuição do Carrefour distribuídos<br />
pelo Brasil, incluindo o maior do país e um dos<br />
maiores do mundo, com mais de 94 mil metros<br />
quadrados.<br />
Tendo em conta que o Brasil é o segundo<br />
maior mercado depois de França, o país de<br />
origem da Carrefour, esta pode ser considerada<br />
uma decisão estratégica para o grupo. Por esse<br />
motivo, o projecto já foi pensado em melhorias,<br />
expansões e novas funcionalidades a curto/<br />
médio-prazo.<br />
A solução WMS em modo SaaS permitirá ao<br />
Carrefour criar um modelo central de gestão<br />
para toda a rede de centros de distribuição.<br />
Em comunicado, a empresa francesa refere<br />
que este modelo visa trazer mais agilidade<br />
para a melhoria contínua na reformulação da<br />
rede logística, e que esta uniformização irá<br />
facilitar a evolução dos armazéns existentes,<br />
ou a abertura de novos, e permitir a automação<br />
dos processos de cada centro de distribuição<br />
através da rede.<br />
As novas funcionalidades da solução deverão<br />
permitir o crescimento do desempenho com a<br />
utilização de novos algoritmos para interliving<br />
e slotting. Além disso, a solução tem ainda<br />
o módulo labor management para facilitar<br />
a monitorização. O projecto inclui ainda a<br />
implementação da solução Generix Datapower<br />
que irá garantir uma utilização extensiva de<br />
tecnologias de Big Data e análise de dados para<br />
benefício das operações do Carrefour.<br />
Marcelo Lopes, director de supply chain do<br />
Carrefour Brasil, afirma que “a migração das<br />
nossas soluções para SaaS abre as portas do<br />
Carrefour Brasil e mundo para a completa<br />
digitalização da supply chain. Isto irá permitir<br />
optimizar as nossas operações com a elevada<br />
flexibilidade e escalabilidade da solução WMS<br />
da Generix Group, que nos acompanha há<br />
muitos anos em todo o mundo. Além disso, a<br />
expansão para novas funcionalidades, como<br />
slotting e triangulação, por exemplo, num<br />
futuro próximo é muito mais simples”.<br />
Por sua vez, Julien Boisnet, chief sales<br />
officer da Generix Group, refere que “a nossa<br />
parceria com o Carrefour é de longa data<br />
e ficamos muito satisfeitos por continuar a<br />
apoiar o grupo nas suas evoluções de mercado,<br />
fornecendo soluções altamente escaláveis e<br />
que acompanham este crescimento, através do<br />
WMS e Datapower. Este grande passo responde<br />
à estratégia global do Carrefour de migrar para<br />
a cloud”. •<br />
A solução WMS em modo SaaS<br />
permitirá ao Carrefour criar<br />
um modelo central de gestão<br />
para toda a rede de centros de<br />
distribuição
50<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Tecnologias<br />
Automação e<br />
transformação<br />
as duas faces da mesma<br />
moeda chamada Digital<br />
Automatizar ou transformar: o que estaremos nós a fazer nas nossas<br />
empresas? A diferença existe: numa apenas simplificamos processos,<br />
noutra vamos muito mais além. Pedro Hugo Rocha, global procurement<br />
director center of excellence and contract manufacturing do Grupo<br />
Campari, explica, a título opinativo pessoal, qual é essa distinção e quais<br />
os processos associados a cada uma.
SCM Supply Chain Magazine 51<br />
Transformação digital. Expressão<br />
potencialmente candidata à mais<br />
procurada no Google em <strong>2021</strong>. Já<br />
andava muito na moda, mas com<br />
o Plano de Recuperação para a<br />
Europa, formalizou-se como um<br />
pilar fundamental do plano<br />
europeu.<br />
Na minha opinião, a<br />
parte mais importante<br />
da expressão é a palavra<br />
transformação. Quando falamos<br />
em transformação digital nas nossas<br />
empresas, estamos realmente a falar<br />
em transformar?<br />
Há tempos encontrei uma forma que me<br />
parece bastante simples de organizar o tema,<br />
e com isso organizar também a forma como<br />
comunico e como estabeleço prioridades. Deixo<br />
aqui a minha contribuição.<br />
Se estamos a implementar tecnologia<br />
para melhorar processos existentes, com o<br />
intuito de os tornar mais eficientes, então<br />
verdadeiramente não estamos a transformar.<br />
Quando muito, estamos a automatizar,<br />
simplificar, desburocratizar, encurtar tempos de<br />
resposta, eliminar papel, etc. Para o efeito da<br />
explicação, vou usar o termo automatizar para<br />
me referir a esta ideia.<br />
Por outro lado, se estamos a implementar<br />
tecnologia digital para criar novos modelos<br />
de negócio e novas revenue streams, novas<br />
formas de interagir com o cliente e de<br />
entregar valor ao cliente, tirando partido das<br />
infinitas possibilidades criadas pela ubiquitous<br />
connectivity (isto é, toda a gente ligada a redes<br />
móveis a toda a hora e com o telemóvel na<br />
mão), então na minha perspectiva estamos<br />
realmente a transformar.<br />
Pedro Hugo Rocha<br />
Esta distinção pode<br />
parecer um preciosismo.<br />
Mas é importante fazer a<br />
separação porque na minha<br />
opinião as estratégias a adoptar<br />
são bastante diferentes.<br />
Automatizar<br />
A utilização de tecnologia para melhorar<br />
processos é algo que está connosco há mais de<br />
30 anos. Lembra-se do conceito de Business<br />
Process Re-engineering? Remonta ao início da<br />
década de 90. Este conceito procura optimizar<br />
processos de negócio, muitas vezes recorrendo<br />
a tecnologia para tornar os processos mais<br />
eficientes. A mensagem-chave é que todas as<br />
empresas devem perseguir obsessivamente<br />
a optimização de processos, e a tecnologia<br />
está extensamente disponível e com provas<br />
dadas. Na minha opinião, as empresas nao têm<br />
outra opção, têm que executar e rapidamente.<br />
Caso contrário, perderão competitividade<br />
no mercado e de forma acelerada. Utilizar<br />
tecnologia digital para optimizar processos<br />
tem como consequência, na maioria dos casos<br />
práticos, a redução de custos directos ou<br />
indirectos, portanto a melhoria do bottom-line.<br />
Muitas vezes, o efeito destas tecnologias é algo<br />
que os nossos clientes finais não chegam a<br />
percepcionar.
52<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Transformar<br />
Transformação digital é muito mais do que<br />
automatizar, desburocratizar, simplificar.<br />
Verdadeiramente, transformação digital<br />
começa com um processo que nada tem a ver<br />
com bits e bytes. Começa com a observação<br />
do cliente ou consumidor (customer-centric),<br />
cujas expectativas estão em transformação.<br />
É um exercício de humildade e de abertura,<br />
de desafio ao status quo, de aceitar que<br />
as forças vivas do sector em que a nossa<br />
empresa opera estão em mudança constante.<br />
É um exercício de fora para dentro. Dando<br />
como garantido o princípio da ubiquitous<br />
connectivity, a oportunidade a explorar é<br />
a seguinte: de que forma é que as nossas<br />
empresas podem chegar ao cliente pelas<br />
vias digitais (telemóvel, tablets, PCs), criando<br />
um canal directo de relacionamento com o<br />
cliente, e potencialmente utilizando esse canal<br />
digital para o cliente fazer directamente a<br />
compra, o pagamento ou a devolução? Indo<br />
mais longe, podemos concretizar a entrega<br />
do nosso serviço pelo canal digital, como<br />
acontece com as empresas de video-streaming<br />
ou com o e-banking? Podemos acrescentar<br />
valor, dando a possibilidade ao cliente de<br />
personalizar o artigo que quer comprar?<br />
Portanto, com transformação digital falamos<br />
de inovação 360º, não apenas da inovação<br />
de produtos e serviços, mas também da<br />
transformação de modelos de negócio, de<br />
cadeias de abastecimento, e de reinventar<br />
os nossos produtos e serviços com base nos<br />
insights gerados pelos clientes que, como<br />
sabemos, ficam facilmente acessíveis quando<br />
eles usam os canais digitais. É nesta área de<br />
inovação 360º que eu considero que a palavra<br />
transformação está muito bem aplicada.<br />
É elementar reconhecer o que o cliente<br />
valorizava há dez anos é muito diferente do<br />
que o cliente valoriza hoje, muito por força dos<br />
avanços no universo a que chamamos digital.<br />
Isto aplica-se a B2C mas também a B2B. A meu<br />
ver, é essencial dar como garantido o princípio<br />
da ubiquitous connectivity. Os critérios da<br />
conveniência na experiência da compra e<br />
do curto tempo de entrega são hoje muito<br />
valorizados. Basta olhar para o caso Amazon.<br />
Portanto, dando por certo que os clientes estão<br />
sempre ligados a redes móveis, a pergunta<br />
é: como posso reinventar o meu modelo de<br />
negócio para captar essa oportunidade e<br />
continuar a ser relevante para o cliente?<br />
Para concluir, o leitor poderá estar a<br />
perguntar: tendo recursos limitados, dedico-<br />
-me a automatizar ou a transformar? Há<br />
circunstâncias específicas que poderão levar<br />
a resposta exclusivamente para um ou para o<br />
outro. Mas no geral, a resposta é: deve fazer as<br />
duas e andar rapidamente.<br />
Automatizar é condição necessária de<br />
sobrevivência pela via do bottom-line. Isto<br />
é, se não automatizar o que é passível de ser<br />
automatizado, mais tarde ou mais cedo terá<br />
concorrentes no seu sector com estruturas<br />
de custo mais optimizadas, isto é, com maior<br />
rentabilidade. A sua empresa ficará em<br />
desvantagem competitiva. É um processo que<br />
poderá ser mais ou menos rápido, dependendo<br />
da velocidade com que as empresas do seu<br />
sector estão a implementar tecnologias<br />
para optimizar e automatizar processos. Um<br />
exemplo dessas tecnologias é a Robotic Process<br />
Automation (RPA).
SCM Supply Chain Magazine 53<br />
Transformar é verdadeiramente onde se<br />
prepara o futuro de forma mais impactante.<br />
Penso que é aqui que se joga o futuro de<br />
muitos sectores ditos tradicionais, que têm<br />
sido transformados, ou estão em vias de o<br />
ser, por empresas nascidas digitais. O ponto-<br />
-chave é permanecer relevante para o cliente<br />
através de inovação 360º, com um enfoque<br />
forte no cliente que está always connected.<br />
Por inovação 360º, entenda-se a inovação em<br />
produtos e serviços, mas também a inovação<br />
nos modelos de negócio e canais de entrega<br />
dos bens e serviços, a inovação na experiência<br />
da compra que acontece cada vez mais num<br />
telemóvel ou num tablet. Devemos aceitar<br />
que o cliente está sempre ligado a uma rede<br />
móvel, tem um telemóvel na mão e é cada vez<br />
O ponto-chave é<br />
permanecer relevante<br />
para o cliente através<br />
de inovação 360º, com<br />
um enfoque forte no<br />
cliente que está always<br />
connected<br />
mais digital-savy. As expectativas mudaram:<br />
o cliente quer conveniência, personalização e<br />
rapidez na entrega. Se não gostar do produto,<br />
quer devolver com um click e vêm buscar a<br />
casa. •<br />
Building<br />
the future<br />
together.<br />
Lisboa<br />
Telf.: +351 213 187 100<br />
Fax: 351 213 187 109<br />
E-mail: apatlis@apat.pt<br />
Porto<br />
Telf.: +351 229 962 329<br />
Fax: 351 229 964 241<br />
E-mail: apatnorte@apat.pt<br />
www.apat.pt
54<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Tecnologias<br />
Hitachi Vantara<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: Daniela Moço<br />
Uma loja<br />
futurista em<br />
navegador<br />
anónimo<br />
Já ouviu certamente falar das lojas sem caixas<br />
registadoras que estão a correr o mundo,<br />
mas já imaginou ir às compras sem ser<br />
necessário qualquer tipo de scan aos códigos<br />
de barras dos artigos, e ao sair o valor ser<br />
automaticamente descontado da sua conta?<br />
Então acrescente a isso a anonimidade total<br />
do cliente e uma análise detalhada de todo<br />
o seu percurso e comportamento em loja e<br />
tem aí uma tecnologia revolucionária. E é<br />
portuguesa!
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
A<br />
nova tecnologia da Hitachi Vantara foi<br />
desenvolvida em Portugal e está muito à<br />
frente do seu tempo. Combinando várias<br />
tecnologias diferentes, consegue identificar<br />
cada cliente e cada produto que ele retira<br />
da prateleira, sem nunca comprometer a<br />
identidade da pessoa, pois não existe sequer<br />
uma câmara para reconhecimento. Para a<br />
tecnologia, o cliente é apenas um número,<br />
para a protecção de dados, a tecnologia é o<br />
futuro.<br />
Tudo começou há cerca de um ano e meio.<br />
Um cliente da tecnológica tinha iniciado a<br />
sua aventura nas lojas autónomas e, após um<br />
projecto que não foi bem sucedido, colocou o<br />
desafio à Hitachi Vantara, com quem já estava<br />
a trabalhar num conceito de comportamento<br />
em loja.<br />
Em colaboração com um parceiro, montaram<br />
um conceito que combina várias tecnologias,<br />
uma própria, a LIDAR (Light Detection<br />
and Ranging), utilizada para perceber o<br />
comportamento da pessoa dentro do espaço<br />
físico, o que ela faz, por onde passa, onde pára<br />
e em que toca; e uma do parceiro, de prateleiras<br />
inteligentes, e que através de balanças de<br />
alta precisão e de algoritmos de Inteligência<br />
Artificial (IA) conseguem reconhecer objectos<br />
retirados ou repostos.<br />
Da esquerda para a direita: Jorge Antunes, Paulo Valério<br />
Conseguimos saber se a<br />
pessoa está a interagir<br />
com uma prateleira ou<br />
não, e com um objecto ou<br />
não, dentro do espaço<br />
Paulo Valério<br />
Uma solução “invisível”<br />
A proposta feita ao cliente foi composta<br />
predominantemente por estas duas<br />
tecnologias, mas aberta a qualquer<br />
equipamento inteligente. “Com essa informação<br />
correlacionamos os dados provenientes dos<br />
vários sistemas, e então gerimos o seu cesto<br />
virtual”, explica Paulo Valério, director de<br />
Inovação da Hitachi Vantara Portugal, “aquela<br />
experiência que nós temos de website, em<br />
que eu tenho o meu cesto e vou clicando e<br />
adicionando, transpomos isso totalmente para<br />
dentro do conceito de loja física utilizando<br />
tecnologias com um custo muito menor do que<br />
com câmaras”.
56<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
As tecnologias que tipicamente têm surgido<br />
no mercado envolvem essa imagem real, o<br />
que “tem o seu custo”, aponta o responsável,<br />
referindo-se à privacidade de informação e<br />
uma maior necessidade de processamento<br />
de informação em vídeo. Ao contrário desses<br />
métodos, esta solução transmite poucos<br />
kilobits de informação, enquanto os sistemas<br />
de vídeo transmitem cerca de 2 megabits de<br />
informação por segundo.<br />
“O que a nossa tecnologia LIDAR<br />
disponibiliza no final depende de uma posição<br />
X e Y da pessoa no seu espaço”, explica, Paulo<br />
Valério. Através dos feixes laser a tecnologia<br />
reconstrói o espaço tridimensional, e com<br />
o algoritmo de IA reconhece o padrão dos<br />
pontos, faz a distinção entre pessoa e objecto,<br />
identifica-a, e a partir daí toda a informação<br />
existente baseia-se nas coordenadas X e Y.<br />
Para além da localização espacial da pessoa<br />
na loja, a mesma tecnologia LIDAR é utilizada<br />
ainda noutro contexto: para acompanhar a<br />
posição das mãos. “Conseguimos saber se a<br />
pessoa está a interagir com uma prateleira<br />
ou não, e com um objecto ou não, dentro do<br />
espaço. Co-relacionando X e Y, o tempo, as<br />
mãos, a informação das prateleiras ou dos<br />
equipamentos inteligentes, eu consigo afirmar<br />
com elevada percentagem de confiança que é<br />
aquela pessoa, que pôs algo no seu cesto e que<br />
tem esse artigo para pagar”.<br />
De modo a identificar esse objecto contam<br />
com a tecnologia do parceiro, das prateleiras<br />
inteligentes. “O nosso parceiro trabalha com<br />
qualquer tipo de prateleiras”, afirma Paulo<br />
Valério, podendo mesmo adaptar prateleiras<br />
já existentes na loja a esta tecnologia, “são<br />
balanças que são colocadas em cada uma delas,<br />
e essas balanças com Inteligência Artificial<br />
conseguem a precisão do peso do objecto, a<br />
sua identificação e de que posição da prateleira<br />
foi retirado”.<br />
A questão de privacidade de dados que hoje<br />
tanto preocupa os consumidores é eliminada,<br />
pois tudo o que os sensores captam transmite-<br />
-se para uma silhueta verde, semelhante às do<br />
filme “Matrix”.<br />
Acesso ao cesto virtual<br />
Ao entrar no espaço, a pessoa apresenta<br />
um cartão de fidelidade da loja para lhe<br />
ser concedido o acesso, nunca sendo essa<br />
informação transmitida para a solução e apenas<br />
para a empresa raiz. “Do ponto de vista da<br />
solução eu não sei quem é, só sei que entrou<br />
lá dentro, e a loja diz-me que a pessoa 1/2/3,<br />
foi autorizada”, explica Paulo Valério, sendo<br />
apenas necessária uma validação da própria<br />
loja e nunca sendo essa informação transmitida<br />
à solução.
SCM Supply Chain Magazine 57<br />
Do ponto de vista da solução eu<br />
não sei quem é, só sei que entrou<br />
lá dentro, e a loja diz-me que a<br />
pessoa 1/2/3, foi autorizada<br />
Paulo Valério<br />
Neste momento de validação, o cliente<br />
pode ainda decidir aceder à loja com um cesto<br />
virtual colectivo e ir em família ou com amigos,<br />
e todas as compras feitas irão para o mesmo<br />
cesto virtual. À saída, a pessoa poderá verificar<br />
o seu cesto numa habitual caixa de self-check<br />
out e confirmar os artigos antes de abandonar o<br />
espaço, e caso não tenha um cartão associado<br />
ao que forneceu à entrada, pode pagar nestas<br />
máquinas. “Nós não vamos substituir o sistema<br />
de backoffice do lojista. Nós vamos integrar<br />
totalmente com esse sistema de backoffice”,<br />
explica Jorge Antunes.<br />
Uma análise completa<br />
ao stock<br />
Para o lojista há ainda a vantagem de<br />
conseguir controlar os stocks em tempo real,<br />
pois essa informação está disponível e pode<br />
ser consultada no momento, podendo este ir<br />
repondo quando for necessário, ou até evoluir<br />
para um abastecimento Just In Time.<br />
Ao nível do rastreamento também é possível<br />
fazer uma situação de controlo de stock<br />
interno, ou seja, quem está a fazer a reposição<br />
tem uma lista de artigos para retirar do<br />
armazém e não pode ser nem mais, nem menos,<br />
nem sequer o errado, ou será emitido um<br />
alerta de erro no dispositivo de picking. Nesta<br />
situação, no entanto, existe uma identificação<br />
do colaborador para controlo interno.<br />
A análise dos dados também permite<br />
identificar algo que o lojista não conseguiria<br />
perceber tão bem de outra forma: a taxa de<br />
rejeição de um produto. Ou seja, é possível ver<br />
em detalhe o comportamento do cliente ao<br />
nível da análise do produto, por exemplo, em<br />
quais agarra para comparar, e qual devolve à<br />
prateleira.<br />
Esta análise de produto também permite<br />
fazer uma outra observação, pois o sistema<br />
permite ver o percurso do cliente em loja, e que<br />
produtos vai buscar depois. “Nós conseguimos<br />
perceber como é que o cliente constrói o seu<br />
cesto”, afirma Jorge Antunes, director da Hitachi<br />
Vantara Portugal, destacando essa importância<br />
de dados para as empresas. O responsável<br />
também comenta que esta é uma vantagem<br />
face à análise da informação “solta” de um talão<br />
de compra final, pois permite compreender<br />
não só o que a pessoa levou, mas também<br />
o que procurou levar também. Para além<br />
disso, através da ordem em que o carrinho foi<br />
construído também é possível ver que produtos<br />
o lembraram de outros e o fizeram voltar atrás<br />
para ir buscar.
58<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Nós conseguimos perceber<br />
como é que o cliente constrói<br />
o seu cesto<br />
Jorge Antunes<br />
Solução prestes a maturar<br />
Jorge Antunes conta que estão a desenvolver<br />
uma outra solução complementar através de<br />
uma solução de um cliente. Visto que a solução<br />
torna a loja autónoma, deixa de existir um<br />
colaborador junto da zona das frutas e dos<br />
legumes para auxiliar o cliente a escolher,<br />
por exemplo, um melão. Através do sensor<br />
desse cliente, o consumidor poderá apontar o<br />
sensor para o produto e este irá identificar se<br />
o produto está ou não pronto para consumo, e<br />
se ainda não estiver, quando estará. “Com este<br />
tipo de sensorização, nós conseguimos entregar<br />
uma qualidade de serviço extremamente<br />
diferenciada para o cliente final”, defende.<br />
“Esta é uma perspectiva”, aponta, “também<br />
podemos utilizar estes sensores para avaliar<br />
o estado de maturação dos frescos que temos<br />
dentro da loja para ver se eles ainda devem<br />
continuar lá ou se devem ser substituídos,<br />
e aí impacta na cadeia de abastecimento<br />
porque serão<br />
os fornecedores<br />
desses produtos<br />
que têm que lá ir<br />
buscá-los a tempo<br />
de eles ainda o<br />
poderem reutilizar<br />
para um outro<br />
negócio qualquer, e<br />
consequentemente<br />
vamos impactar<br />
directamente<br />
na cadeia de<br />
abastecimento,<br />
entrando aqui na economia circular”.<br />
Paulo Valério destaca ainda que “o nosso<br />
intuito não é retirar empregos às pessoas,<br />
é abrir novos espaços em locais onde<br />
normalmente não seria viável”, e dá o exemplo<br />
de postos de carregamento ou estádios.<br />
Devido à sua complexidade, e para facilitar<br />
toda a análise associada, o ideal é inserir esta<br />
tecnologia de loja autónoma num contexto de<br />
loja pequena ou média, e ao criar espaços onde<br />
normalmente não seria viável instalar um ponto<br />
de venda estão a ser gerados novos empregos,<br />
nomeadamente ao nível da logística, da<br />
reposição de loja, data analytics, entre outros.<br />
Aproveitando o facto de serem lojas mais<br />
pequenas e mais facilmente distribuídas, Jorge<br />
Antunes não exclui a possibilidade de serem<br />
utilizadas enquanto pontos de e-commerce<br />
para entregas mais rápidas aos consumidores,<br />
e por serem autónomas podem ser facilmente<br />
aplicadas num contexto de loja 24/7.<br />
O modelo já está em funcionamento em<br />
países como Japão, E.U.A. ou Israel, e os<br />
resultados apresentados estão a ser positivos. O<br />
futuro passa por esta antecipação e adaptação<br />
ao que serão as próximas tendências, e este é<br />
um exemplo de que Portugal não fica atrás do<br />
resto do mundo. •
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
está a chegar uma das alturas<br />
mais caóticas para a sua empresa<br />
prepare-se para a peak season<br />
www.randstad.pt/peak-season/
60<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
transporte<br />
Aliança estratégica<br />
Texto: Dora Assis<br />
Potenciar a<br />
transformação<br />
digital dos<br />
transitários<br />
A Cargofive e a MAEIL formaram uma<br />
aliança tecnológica para revolucionar<br />
o mundo das cotações de frete<br />
marítimo, com a digitalização dos<br />
processos de pricing para transitários.<br />
É a transformação digital a ganhar<br />
velocidade de cruzeiro numa actividade<br />
em muitos casos bastante conservadora.
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
A<br />
indústria do transporte marítimo<br />
internacional é uma das maiores e mais<br />
importantes do mundo, e movimenta<br />
anualmente 150 milhões de contentores com<br />
80% da carga global movimentada e fica por<br />
isso claro que ela é parte fundamental da<br />
economia global. Porém, apesar da dimensão e<br />
importância deste sector, este processo ainda<br />
continua a ser realizado de forma tradicional:<br />
offline e manualmente, com uso de papel,<br />
e-mail, e sem informação estruturada.<br />
A complexa gestão de fretes dos armadores,<br />
com longas folhas de Excel, documentos em<br />
formato PDF e centenas de e-mails, deixa<br />
este trabalho manual para os transitários, que<br />
consome muitos recursos e tempo, em que<br />
diminui a eficiência das empresas e a incerteza<br />
sobre os preços dos armadores, para garantir<br />
que estão actualizados.<br />
Tempo é dinheiro<br />
Imaginar que todo o processo de procurement<br />
de transporte marítimo pode ser simplificado<br />
com a utilização duma plataforma digital que<br />
automatiza a gestão de tarifas e contratos,<br />
através dum algoritmo inteligente, é entrar<br />
num novo mundo que elimina aos transitários<br />
longas horas de trabalho, tempo perdido e, por<br />
consequência, dinheiro.<br />
É aqui que a Cargofive e a MAEIL intervêm,<br />
no intuito de simplificar a tarefa a partir de um<br />
processo e uma plataforma inovadores para o<br />
sector.<br />
Uma equipa de profissionais da indústria<br />
e empreendedores de tecnologia formam a<br />
Cargofive, uma startup de sucesso, apoiada<br />
pela Nova SBE, Techstars, e Shilling VC. Trata-<br />
-se de uma plataforma que simplifica a gestão<br />
de tarifas para fretes marítimos, integrando<br />
Trata-se de uma<br />
plataforma que simplifica<br />
a gestão de tarifas<br />
para fretes marítimos,<br />
integrando os preços<br />
em tempo real com os<br />
principais armadores do<br />
mercado e convertendo<br />
rapidamente as<br />
informações num formato<br />
simples e padronizado<br />
os preços em tempo real com os principais<br />
armadores do mercado e convertendo<br />
rapidamente as informações num formato<br />
simples e padronizado.<br />
Isto permite um processo de cotação<br />
totalmente automatizado e melhora a<br />
visibilidade de preços num mercado que,<br />
convém lembrar, está em constante flutuação<br />
(flagrante e muito agudizada no período de<br />
pandemia).<br />
Transparência e visibilidade<br />
Com todos os fretes marítimos, custos locais e<br />
cotações armazenadas numa única plataforma,<br />
os transitários podem ter total transparência<br />
e visibilidade sobre as suas actividades<br />
comerciais, principalmente em preços, margem<br />
de lucro e desempenho da equipa de vendas.<br />
Todas as informações são armazenadas num<br />
só lugar, deixando para trás a busca exaustiva<br />
entre diferentes arquivos, em diferentes<br />
formatos e diferentes plataformas.
62<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Sebastian Cazajus, co-fundador e CEO da<br />
Cargofive, resume e destaca a importância<br />
da digitalização por parte desta indústria:<br />
“Vivemos num mundo digital. Desde a reserva<br />
de um voo, pedido de uma refeição e à compra<br />
de praticamente qualquer coisa, tudo é feito<br />
desde um computador ou smartphone. Rápido,<br />
fácil e conveniente tornou-se um padrão que,<br />
francamente, é muito difícil de dispensar. O<br />
transporte de contentores também precisa<br />
fazer parte deste mundo digital, mas procurar<br />
uma cotação ou reservar um embarque pode<br />
levar dias”.<br />
Os transitários que<br />
desejam permanecer<br />
competitivos num<br />
mundo pós-COVID-19<br />
devem acelerar a<br />
sua transformação<br />
digital<br />
Melhorar a experiência<br />
do cliente<br />
No entender do responsável da Cargofive<br />
“os transitários que desejam permanecer<br />
competitivos num mundo pós-COVID-19<br />
devem acelerar a sua transformação digital<br />
e digitalizar toda a experiência do cliente.<br />
Isso significa melhorar os processos, desde a<br />
cotação, reserva, até a visibilidade e análise dos<br />
embarques.”<br />
A outra parceira desta aliança estratégica é a<br />
tecnológica Maeil, especializada em software<br />
de gestão de transportes para a supply chain<br />
e integração de ERP para pequenas e médias<br />
empresas, onde já conta com mais de duas<br />
décadas de experiência.<br />
Agora, com esta aliança, a digitalização da<br />
actividade transitária fica facilitada já que<br />
conseguem integrar o TMS com a solução<br />
da Cargofive e implementar uma solução<br />
desenhada especialmente para a actividade,<br />
que compreende e optimiza os seus processos,<br />
tanto internos como comerciais.<br />
Nesta revolução que está em curso, a<br />
verdade é que os transitários que desejam<br />
manter-se competitivos no mercado têm que<br />
abraçar a mudança e apanhar já este comboio<br />
da transformação digital, que não espera por<br />
ninguém. •
63<br />
transporte<br />
Afeganistão<br />
Texto: Henrique Germano Cardador,<br />
corporate strategy analyst Europe & Africa<br />
Bem me quer,<br />
mal me quer!<br />
A política da China em relação aos Talibã<br />
nem sempre é entendida nos países<br />
ocidentais, mas reflecte as ambições que a<br />
primeira tem em relação ao BRI (Belt and<br />
Road Initiative) na Ásia central e no sul. O<br />
que esperar desta relação Pequim/Cabul?<br />
Qual o papel do Afeganistão? Henrique<br />
Germano Cardador partilha a sua visão<br />
sobre o tema.<br />
O<br />
Afeganistão é uma região com notoriedade<br />
geoestratégica significativa desde o<br />
século I a.c. com a antiga rota da seda.<br />
Hoje, em pleno século XXI a nova rota da<br />
seda “One Belt One Road” continua a colocar<br />
o Afeganistão num tabuleiro geoestratégico<br />
interessantíssimo, com a fronteira com a<br />
China a ser um ponto quente na relação dos<br />
vizinhos, ou não fosse existir um rastilho<br />
chamado “Uyghur”. A China tem muitas razões<br />
para não abrir mão do território da província<br />
da XinJiang, pois é uma província gigantesca,<br />
faz fronteira com vários países (Mongólia,<br />
Afeganistão, Índia, Cazaquistão, Quirguistão,<br />
Tajiquistão e Paquistão), é uma região rica em<br />
recursos naturais como sal, ouro, gás natural e<br />
petróleo que representa 60% da economia da<br />
região, tem 24 milhões de habitantes, em que<br />
46% são Uyghur, 40% Han e outros, a religião<br />
é o Islão.
64<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Henrique Cardador<br />
A região<br />
referente<br />
ao povo<br />
“Uyghur”<br />
tem mais<br />
afinidades com<br />
o Paquistão ou<br />
com o Afeganistão<br />
do que com a China,<br />
mas a disputa territorial terminou no século<br />
XVIII. XinJiang tenta a sua independência<br />
constantemente, até nas questões mais<br />
simples como o fuso horário, pois é diferente<br />
da restante China, com menos duas horas para<br />
as escolas, lojas e hospitais e mais duas horas<br />
para os transportes públicos.<br />
Segundo Martin Jacques, jornalista britânico<br />
e autor do livro “When China Rules the<br />
World”, após o 9/11 o governo central Chinês<br />
identificou esta província como sendo um<br />
potencial problema para a segurança nacional<br />
chinesa e, por esse motivo, triplicou os<br />
sistemas de segurança na província.<br />
Para o projeto “One Belt One Road”, a<br />
segurança e controlo desta região fronteiriça<br />
é vital para garantir o sucesso da iniciativa,<br />
uma vez que 70% dos comboios para a Europa<br />
saem precisamente desta fronteira, por isso foi<br />
autorizada a construção de 7.000 esquadras em<br />
toda a região, na qual está inserido o controlo<br />
do Afeganistão, cuja segurança não poderia<br />
ser garantida por uma superpotência rival que<br />
recusou integrar o projeto “One Belt One Road”.<br />
Quanto ao tratar-se de um tabuleiro<br />
geoestratégico, esta região está repleta de<br />
tensões. A China e a Índia têm um ódio de<br />
estimação, e a Índia e o Paquistão também<br />
não têm relações cordiais. E a China amplia<br />
a sua área de intervenção no Paquistão, o<br />
estado paquistanês reforça constantemente<br />
a segurança nas regiões com milhares de<br />
soldados. Do lado chinês, a cautela securitária<br />
também é grande pois este corredor China-<br />
-Paquistão é um dos mais sensíveis da<br />
iniciativa “One Belt One Road”, uma vez que<br />
liga precisamente a província de XinJiang -<br />
Kashgar ao porto de Gwadar. E desta forma a<br />
China isola a Índia. O Paquistão também tem<br />
os seus interesses na região e, ao que consta,<br />
foi o próprio que esteve na génese da criação<br />
dos estudantes de teologia, até porque o<br />
Afeganistão não era muçulmano, mas sim de<br />
influências Budistas e Hindus.<br />
Dividir para reinar<br />
Toda esta instabilidade é histórica, muito por<br />
força do velho ditado “dividir para reinar”,<br />
porque, por um lado o território não tem muito<br />
para oferecer e tem uma população constituída<br />
por tribos, por outro o território, pelo jogo de<br />
poderes estratégicos externos, cada vez que<br />
nele entra uma superpotência, a superpotência<br />
rival faz oposição em apoios constantes a tribos<br />
rivais, gerando a discórdia, propositadamente.<br />
Não seria difícil de imaginar um Afeganistão<br />
desenvolvido, independente, criador de<br />
riqueza, e a cereja no topo do bolo, com<br />
uma posição geoestratégica incontornável.<br />
Teríamos como resultado um território forte,<br />
basta lembrarmos-nos que as redes sociais<br />
foram inundadas de fotos de jovens senhoras<br />
a passearem nas ruas da capital Afegã<br />
com trajes ocidentais, muitas das fotos são<br />
efetivamente verdadeiras e correspondem ao<br />
período mais negro da história da Europa. Nos<br />
anos 30 e 40 a Europa estava mergulhada em
SCM Supply Chain Magazine 65<br />
ditaduras e o Afeganistão apresentava níveis<br />
de desenvolvimento extraordinários, existindo<br />
liberdade para as mulheres, liberdade de<br />
associativismo, níveis de ensino livres para as<br />
mulheres, assembleia, governo e, imagine-se,<br />
eleições livres assentes numa Constituição.<br />
Revolução ideológica<br />
Este desenvolvimento foi empreendido<br />
pelo Rei Xá, um homem apaixonado pela<br />
antiguidade clássica, com formação intelectual<br />
e académica de raízes europeias e que<br />
procurou colocar o Afeganistão no mapa como<br />
um farol de desenvolvimento e pensamento<br />
livre de inspiração francesa e grega em pleno<br />
médio oriente. Como sabemos este percurso<br />
de desenvolvimento foi interrompido nos anos<br />
80, momento em que existe um paradoxo<br />
histórico como tantos outros. É o momento<br />
em que os estudantes de teologia são criados<br />
e incentivados em território vizinho, com o<br />
apoio dos EUA, e infiltram-se na sociedade<br />
pachtuns, de forma a fazer uma revolução<br />
ideológica. O resultado é demais conhecido.<br />
Quando lemos sobre governos de<br />
estados que não encaixam nos critérios<br />
das democracias ao estilo ocidental, existe<br />
sempre um ponto em comum: o momento em<br />
que caem! Espero que a China não esteja a<br />
cometer um erro estratégico irreversível com<br />
o pretexto do sucesso do projeto “One Belt<br />
One Road”, ao estender a sua influência no<br />
Afeganistão.<br />
Como diz o historiador Rui Ramos, “o<br />
Afeganistão não é um cemitério de impérios.”•<br />
18049 Toyota Empilhadores Traigo 80 170x115mm_a.pdf 1 21/10/<strong>2021</strong> 16:29
66<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
carreira<br />
Evento Randstad<br />
Terá o retalho em Portugal<br />
pouco sex-appeal?<br />
Na sequência do estudo Empower Brand Research, da<br />
Randstad, foram analisados mais em detalhe alguns<br />
sectores. Um deles foi o retalho, onde se procurou<br />
fazer uma análise ao sector, perceber tendências e a<br />
atractividade que o mesmo tem em Portugal.<br />
Os resultados do estudo revelam que ao<br />
nível da proposta de valor percepcionada<br />
(EVP) pelos trabalhadores, o retalho<br />
encontra-se no top 3 a nível europeu, mas os<br />
dados apontam para uma grande disparidade<br />
quando comparado com o mesmo sector<br />
em Portugal. Enquanto nos restantes países<br />
europeus o sector se encontra em primeiro<br />
lugar ao nível da saúde financeira, no nosso<br />
país este critério desce para a 6ª classificação,<br />
e a queda acentua-se ainda mais quando<br />
vemos que ao nível da boa reputação, lá fora,<br />
este se encontra no 2º lugar, e em Portugal<br />
em 16º.
SCM Supply Chain Magazine 67<br />
Sobre a pandemia, o estudo faz<br />
notar que na Europa o retalho se<br />
encontra em 3º lugar no critério<br />
“COVID-19 local de trabalho<br />
seguro”, mas os portugueses<br />
classificaram que este se encontra<br />
apenas em 8º lugar.<br />
Ao nível de awareness, este<br />
sector encontra-se na segunda<br />
posição mais alta, atrás da<br />
distribuição. No entanto,<br />
por oposição, ao nível da<br />
atractividade, o sector do retalho<br />
encontra-se no 15º lugar, sendo<br />
um dos que apresenta uma menor<br />
taxa de atractividade, superada<br />
negativamente apenas pelos transportes,<br />
distribuição e restaurantes e catering. A IKEA<br />
foi considerada a empresa mais atraente para<br />
trabalhar, mas tal como apontou o Randstad<br />
Empower Brand Research <strong>2021</strong>, estes níveis<br />
no nosso país ainda estão muito aquém das<br />
expectativas.<br />
Neste momento, utilizado para a<br />
apresentação dos dados referentes ao retalho<br />
e de exposição das realidades de diferentes<br />
empresas do sector, estiveram presentes<br />
Susana Silva, directora de pessoas do El<br />
Corte Inglés, Joaquim de Almeida, director de<br />
recursos humanos da Fnac Portugal, Cláudio<br />
Valente, country people and culture manager<br />
da IKEA, e Pedro Empis, director de outsourcing<br />
da Randstad Portugal.<br />
A SCM procurou abordar os próprios<br />
envolvidos neste momento de debate e<br />
perceber um pouco mais sobre as realidades<br />
que estas empresas enfrentam, não tendo<br />
apenas obtido resposta por parte da Fnac<br />
Portugal.<br />
El Corte Inglés<br />
Susana Silva começa por apontar que no El<br />
Corte Inglés sentem que a escola não incentiva<br />
os alunos a seguirem uma carreira no retalho,<br />
e como tal, tem de partir da própria empresa<br />
tornar esta profissão mais atractiva. “Apesar<br />
desta atractividade estar melhor do que em<br />
anos anteriores, ainda está muito desfasada de<br />
outros sectores”, revela, “claramente o sector<br />
do retalho tem de encontrar formas de se<br />
diferenciar e conquistar um espaço único como<br />
empregador de referência”.<br />
Uma das ideias defendidas durante a<br />
conversa foi que em Portugal ainda se associa<br />
muito a carreira no retalho ao trabalho de<br />
caixa, e nesse sentido Susana Silva explica<br />
que o trabalho de promoção tem de se iniciar<br />
“dando a conhecer a área do retalho, junto<br />
das instituições do ensino superior, centros<br />
de formação e ensino técnico e profissional”,<br />
e defende que “a participação em feiras de<br />
emprego e programas de estágio aliciantes são<br />
outro modelo de atracção”.
68<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Claramente o sector do<br />
retalho tem de encontrar<br />
formas de se diferenciar<br />
e conquistar um espaço<br />
único como empregador de<br />
referência<br />
Susana Silva<br />
Face à crescente preocupação dos<br />
consumidores com as práticas das empresas,<br />
Susana Silva considera importante que as<br />
próprias empresas demonstrem de forma<br />
consistente “as boas práticas que utilizam,<br />
quer através da divulgação das possibilidades<br />
de carreira, quer através da apresentação de<br />
metodologias de selecção orientadas para a<br />
detecção de potencial”.<br />
Em oposição, a retenção de talento é outra<br />
questão importante para o El Corte Inglés, e<br />
restantes empresas do sector, em parte pela<br />
própria dificuldade em atrair novos talentos.<br />
“Existem vários colaboradores detentores de<br />
talento e capacidade de inovação e progressão,<br />
com um know how que é crucial para as<br />
empresas, onde acrescentam muito valor”,<br />
conta Susana Silva, “o desafio da retenção<br />
de talento é de criar medidas internas onde<br />
consigamos conceder mais autonomia,<br />
valorização, investindo na qualidade de vida,<br />
oferecendo as melhores condições de trabalho<br />
e investindo na satisfação dos colaboradores”.<br />
Numa dessas estratégias de manter as<br />
pessoas consigo, o El Corte Inglés apostou<br />
na aproximação das pessoas que estavam<br />
isoladas, procurando manter o contacto e a<br />
proximidade com os colaboradores. Susana<br />
Silva conta que “foi lançado um plano de<br />
webinars e workshops remotos cujos oradores<br />
envolveram colaboradores da empresa, além<br />
de especialistas convidados provenientes de<br />
instituições parceiras e outros”, e que ainda<br />
mantêm estas actividades.<br />
“Valorizamos as nossas pessoas ao convidá-<br />
-las para liderar estas sessões, promovendo<br />
a sua autonomia, responsabilização e<br />
reconhecimento”, comenta ainda a responsável,<br />
acrescentando que “esta medida foi muito bem<br />
aceite pelas nossas pessoas”.<br />
A aproximação aos colaboradores foi<br />
facilitada, pois no final de 2019, ainda antes da<br />
propagação da pandemia, a empresa lançou um<br />
portal de comunicação. Quando esta chegou,<br />
o portal já se encontrava em plena utilização,<br />
e a utilização destes canais de comunicação<br />
interna permitiram à empresa chegar a tempo<br />
real a todos os colaboradores e de forma<br />
simultânea. “A transparência na informação<br />
que era divulgada foi essencial para ter as<br />
pessoas do nosso lado”, comenta Susana Silva,<br />
“as actividades desenvolvidas promoveram a
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
união entre os colaboradores, quer seja através<br />
de mensagens institucionais, quer através de<br />
outro tipo de conteúdo mais lúdico que ocupou<br />
a mente das nossas pessoas nessa fase”.<br />
Durante a pandemia houve ainda casos<br />
de mobilidade interna devido a um número<br />
elevado de ausências, fosse por necessidade de<br />
prestar apoio aos filhos ou por isolamento por<br />
doença do colaborador, tendo sido aplicadas<br />
várias medidas e posto em marcha planos de<br />
substituição.<br />
“Reforçámos o nosso canal de comunicação<br />
e tivemos de forma quase imediata um<br />
conjunto de pessoas que se disponibilizou a<br />
ajudar nas áreas críticas, identificadas como<br />
supermercado, logística e canal online”, conclui<br />
Susana Silva, “nunca me esquecerei do espírito<br />
de equipa que se criou nesses dias difíceis,<br />
onde todos se uniram para uma causa maior”.<br />
IKEA<br />
Por parte da retalhista sueca, Cláudio Valente<br />
considera que, ao nível da maturidade<br />
digital do retalho ainda existe um caminho<br />
a percorrer, mas que a pandemia veio mudar<br />
a forma como as pessoas interagem com as<br />
marcas, e “isso criou uma oportunidade para<br />
todas as empresas, nomeadamente com o<br />
desenvolvimento de canais digitais mais fortes”.<br />
A IKEA foi distinguida como a empresa mais<br />
atractiva para trabalhar no sector do retalho,<br />
e o responsável destaca que isso é um reflexo<br />
da cultura e dos valores da empresa. “O nosso<br />
grande objectivo tem sido sempre apoiar as<br />
pessoas a ultrapassar este período mais crítico<br />
e fortalecer o sentimento de união, apesar de<br />
não estarmos todos juntos”, defendeu Cláudio<br />
Valente.<br />
“Consideramos que o que nos diferencia na<br />
IKEA e nos permite trabalhar a nossa cultura<br />
da melhor forma é agirmos e pensarmos como<br />
uma família, inspirando as pessoas também a<br />
dedicar tempo a elas próprias, fazerem o que<br />
gostam e a aproveitar as suas casas”.<br />
Uma das crenças da IKEA é que as pessoas<br />
e o negócio devem andar sempre juntos, e<br />
Cláudio Valente explica que a atractividade da<br />
empresa vem do estímulo que dão aos seus<br />
colaboradores para seguirem as suas paixões,<br />
dando-lhes liberdade para experimentarem<br />
novas funções e continuarem a crescer nas<br />
áreas que adoram. “Existem muitas formas<br />
de crescer, depende sempre da própria<br />
pessoa e do que pretende”, e acrescenta<br />
que consideram que o desenvolvimento<br />
do negócio anda de mãos dadas com o<br />
desenvolvimento pessoal das pessoas.<br />
De forma a desmistificar a ideia de trabalho<br />
“de caixa” associado ao retalho, o responsável<br />
revela que a pandemia veio confirmar que<br />
existem vários trabalhos internos que podem<br />
ser realizados a partir de casa, pois dependem<br />
mais de um computador que propriamente da<br />
loja, como são os casos dos recursos humanos,<br />
marketing, apoio ao cliente, comunicação ou<br />
design de interiores, entre outros. “Contudo,<br />
as diferentes áreas das nossas lojas são<br />
essenciais para o desenvolvimento do negócio<br />
IKEA, e procuramos oferecer diferentes
70<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
oportunidades de crescimento para todos os<br />
colaboradores”, explica.<br />
Considera que “todas as posições na IKEA são<br />
valorizadas de igual forma”, mas ao contrário<br />
do que se possa pensar, “o colaborador de<br />
caixas é o último (e às vezes o único!) contacto<br />
com o nosso cliente. E por isso, a sua função é<br />
essencial para que a experiência de quem nos<br />
visita seja a melhor possível”.<br />
Ao entrarem para a retalhista, os<br />
colaboradores têm planos de carreira<br />
personalizados, que vão sendo actualizados<br />
e acompanhados regularmente pelo seu<br />
responsável directo. “Cada pessoa é única<br />
e, portanto, cada plano é adaptado ao<br />
desenvolvimento e objectivos futuros dentro da<br />
IKEA”.<br />
Este pensamento vai no seguimento da ideia<br />
de que não apenas a experiência de consumidor<br />
é importante, mas também a de colaborador.<br />
Conta que procuram sempre criar um dia-a-dia<br />
melhor para o maior número de pessoas, e que<br />
isso começa com as suas próprias, orientandoos<br />
no objectivo de serem uma organização de<br />
pessoas, para pessoas.<br />
“O nosso objectivo passa sempre por garantir<br />
que as nossas pessoas têm as melhores<br />
condições para trabalhar e que conseguem ter<br />
um equilíbrio entre a sua vida profissional e<br />
pessoal”, comenta Cláudio Valente.<br />
Como tal, procuraram melhorar a qualidade<br />
de vida dos seus colaboradores apostando em<br />
vantagens como benefícios sociais; seguro<br />
de saúde e de vida para os permanentes;<br />
restaurante com preços reduzidos; serviço<br />
médico nas lojas; ajuda de nascimento<br />
e possibilidade de estender a licença de<br />
maternidade/paternidade em dois meses, para<br />
além de poderem contar com um desconto<br />
em artigos IKEA. Também criaram vários<br />
programas ao nível do apoio psicológico e<br />
pessoal, adaptaram os seus programas de<br />
liderança ao contexto de pandemia, apostaram<br />
em formações digitais, e apoiaram os<br />
colaboradores com kits para trabalho remoto.<br />
Ao nível da gestão interna foi necessária<br />
uma grande aposta na comunicação interna, de<br />
modo a que todos estivessem a par de tudo o<br />
que estava a acontecer. “Sabemos que a gestão<br />
de pessoas é um grande desafio e, durante uma
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
fase tão atípica como uma pandemia global que<br />
provocou instabilidade e distanciamento físico,<br />
foi muito importante ter uma abordagem ainda<br />
mais humana e transmitir, em todas as etapas,<br />
confiança e segurança”, realça Cláudio Valente.<br />
“Procurámos, desde início, reforçar os canais<br />
de comunicação com os nossos colaboradores,<br />
mantendo a transparência em todos os pontos<br />
de contacto e tentando ao máximo esclarecer<br />
as dúvidas e inseguranças que iam surgindo”,<br />
comenta o responsável.<br />
Este reforço na comunicação foi importante,<br />
pois rapidamente se deu “o encerramento<br />
temporário das lojas físicas e a transformação<br />
inesperada e imediata para um negócio quase<br />
100% digital”, o que implicou uma grande<br />
resiliência e uma aposta nos skills próprios<br />
das pessoas, adaptando-se de forma muito<br />
rápida às exigências desta nova realidade.<br />
Graças a isso, alguns colaboradores ficaram<br />
inclusive qualificados para desempenharem<br />
funções para as quais não estavam preparados<br />
anteriormente.<br />
“Nenhuma destas competências que nós<br />
desenvolvemos à data de hoje podemos dizer<br />
que foi apenas para o momento. Acredito<br />
que elas vieram para ficar e vão-nos ajudar,<br />
inclusive, a trabalharmos este tema da<br />
requalificação sem ser um grande elefante na<br />
sala”, comenta Cláudio Valente.<br />
Uma das necessidades apresentadas logo<br />
no início da pandemia pelos colaboradores foi<br />
a maior flexibilidade laboral, e nesse sentido<br />
“começámos a desenvolver um projecto-piloto<br />
com um bom equilíbrio entre o trabalho nos<br />
nossos escritórios / espaço de reuniões e em<br />
casa”. No entanto, o teletrabalho aparenta<br />
ter vindo para ficar, e esse é outro desafio da<br />
empresa: “alimentar a cultura da empresa com<br />
as equipas a trabalhar à distância”, e Cláudio<br />
Valente considera que isso se possa vir a<br />
reflectir na retenção de talento.<br />
Cada pessoa é única<br />
e, portanto, cada<br />
plano é adaptado ao<br />
desenvolvimento e<br />
objectivos futuros<br />
dentro da IKEA<br />
Cláudio Valente<br />
“Ainda relacionado com os novos modelos<br />
de trabalho, acreditamos que as empresas<br />
terão, cada vez mais, de procurar responder<br />
à exigência de um maior equilíbrio entre<br />
a vida profissional e pessoal”, defende o<br />
responsável, apontando que com a pandemia<br />
e a necessidade de se manterem em casa,<br />
as pessoas redefiniram as suas prioridades e<br />
passaram a valorizar as suas vidas pessoais e o<br />
tempo que passam em casa e em família.<br />
“Acreditamos que o futuro do trabalho vai<br />
exigir cada vez mais criatividade, colaboração,<br />
interacção, inovação e partilha”, conclui Cláudio<br />
Valente.
72<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
Randstad<br />
Face aos baixos resultados, comparativamente<br />
com o resto da Europa, procurámos então<br />
perceber junto de Pedro Empis como pode<br />
o retalho promover esta atractividade do<br />
sector. O responsável começa por apontar que<br />
“o retalho evoluiu muito do ponto de vista<br />
tecnológico e é necessário comunicar essa<br />
transformação para atrair talento”.<br />
Nesse sentido considera que “os grandes<br />
retalhistas em Portugal irão querer manter<br />
esta tendência e garantir que, nas suas<br />
políticas de atracção e retenção de talento, o<br />
employer branding tem um lugar de destaque”,<br />
tornando assim os seus colaboradores nos<br />
primeiros embaixadores para trazer novos<br />
perfis para as suas empresas.<br />
Por outro lado, também defende a ideia<br />
apontada por Susana Silva de que esta<br />
informação deve ser transmitida desde mais<br />
cedo, e que as próprias escolas podem ter<br />
um papel mais activo na promoção deste<br />
sector e na mudança de mentalidades dos<br />
futuros profissionais, e oferecendo uma oferta<br />
formativa cada vez mais adequada.<br />
Embora as pessoas associem muito o<br />
retalho ao trabalho “de caixa” e em loja, Pedro<br />
Empis explica que para além destes trabalhos<br />
presenciais e de contacto presencial com o<br />
cliente, “praticamente todos” os trabalhos<br />
podem ser feitos em teletrabalho, pois<br />
“existem todas as funções de suporte, como<br />
as relacionadas com inovação, tecnologia,<br />
apoio a canais remotos, planeamento,<br />
financeira, entre outros”. Por vezes até os<br />
próprios colaboradores em modelo presencial<br />
conseguem alternar com o remoto, “porque<br />
Claramente o sector do<br />
retalho tem de encontrar<br />
formas de se diferenciar<br />
e conquistar um espaço<br />
único como empregador de<br />
referência<br />
Pedro Empis<br />
com as alterações aos hábitos de consumo,<br />
parte do trabalho presencial migrou para<br />
soluções à distância, pois uma parte importante<br />
das vendas passou a ser realizada digitalmente<br />
ou ao telefone”.<br />
Com isto foi ainda necessário reforçar a<br />
comunicação interna, devido à dispersão das<br />
pessoas e ao próprio período de pandemia. “As<br />
empresas que tinham já um modelo instituído,<br />
com a tecnologia adequada beneficiaram disso,<br />
e as restantes fizeram um enorme esforço para<br />
rapidamente disporem de soluções que lhes<br />
permitissem estar junto dos seus colaboradores<br />
e comunicar atempadamente todas as<br />
alterações”, explica.<br />
O retalho foi um dos principais impactados<br />
com esta situação, pois “precisou de se adaptar<br />
a novas regras de abertura, modelos híbridos,<br />
procedimentos de higiene e segurança, bem<br />
como de actualização sobre a oferta comercial,<br />
que em muitos casos, foi também alterada com<br />
grande frequência”. Nesse sentido, “pode dizerse<br />
que o desafio foi ultrapassado, pois é aceite<br />
transversalmente que os níveis de engagement<br />
nas empresas que o medem com regularidade<br />
subiu bastante ao longo do período mais<br />
crítico”.
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
Foi necessário que as empresas saíssem<br />
da sua zona de conforto, mas como aponta<br />
Pedro Empis, “sair da zona de conforto traz<br />
sempre benefícios”, apesar de a mudança<br />
ser das tarefas mais difíceis para as pessoas.<br />
“A transformação forçada teve esse papel<br />
importante de desafiar um conjunto de crenças,<br />
que, por pura necessidade, as empresas<br />
se viram obrigadas a provar erradas ou<br />
exageradas”, defendeu ainda o profissional da<br />
Randstad.<br />
“Isso mostrou às pessoas que era possível<br />
fazerem e aprenderem outras tarefas, que era<br />
possível colaborar à distância, que era possível<br />
comunicar mais vezes e com mais abrangência<br />
e, bastante importante para o futuro, veio<br />
também mostrar que certas actividades<br />
beneficiam muito da presença física”, comenta<br />
Pedro Empis, apontando que isto deverá guiar<br />
as empresas na elaboração dos seus futuros<br />
modelos de trabalho.<br />
Apesar de o retalho já estar em<br />
transformação desde antes da pandemia,<br />
com a mudança de paradigma de um modelo<br />
transaccional para uma lógica experiencial,<br />
este foi um passo importante para a mudança,<br />
tanto de modelo como de mentalidade.<br />
Pedro Empis aponta ainda o fenómeno<br />
de Revenge Shopping, que teve de ser<br />
acompanhado pelos retalhistas de modo a<br />
tirarem partido das visitas físicas aos seus<br />
espaços, pois “se os clientes podem comprar<br />
online, mas escolhem vir a uma loja é porque<br />
querem experimentar e ter contacto com a<br />
marca e os seus produtos”.<br />
“O fim dos balcões visou precisamente<br />
colocar o cliente no centro da acção, dando-<br />
-lhe acesso a todo o espaço, abrindo caminho<br />
para novos modelos de atendimento e<br />
acompanhamento dos clientes”, conclui o<br />
responsável. •
74<br />
SETEMBRO <strong>2021</strong><br />
carreira<br />
Texto: Claúdia Brito, EMEA distribution<br />
director da McCormick & Company<br />
Os desafios do<br />
trabalho remoto<br />
O<br />
que<br />
eu aprendi<br />
sobre a gestão<br />
de equipas<br />
remotas<br />
Parte 3<br />
A experiência vivida durante<br />
a pandemia pela autora<br />
que, como tantos outros<br />
profissionais, abraçou o<br />
desafio de gerir pessoas que<br />
estão longe.<br />
Para fazer face a cada desafio específico<br />
duma equipa remota, o plano de acção<br />
a implementar deve obviamente ser<br />
integrado com os elementos habituais de<br />
criação e desenvolvimento duma equipa de<br />
trabalho. Aqui refiro apenas as relacionadas<br />
com as áreas específicas e críticas no contexto<br />
de trabalho remoto: tecnologia, disciplina,<br />
relacionamentos e cultura de empresa.<br />
Etapa 1 - Tecnologia<br />
Normalmente, o primeiro passo para<br />
estabelecer uma equipa remota (depois das<br />
etapas comuns a equipas presenciais) consiste<br />
em implementar ferramentas ou plataformas<br />
virtuais de comunicação. A escolhida deve<br />
permitir trocar mensagens escritas em tempo<br />
real, escrever documentos em conjunto,<br />
efectuar vídeo-conferências, organizar numa<br />
área comum os calendários individuais, agendas<br />
e resumos de reuniões, cronogramas de<br />
projectos, listas de acções dinâmicas, workflow<br />
e arquivos em geral.
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
É preciso que os meios nunca sejam<br />
considerados fins em si mesmo, ou seja,<br />
o email, skype ou o whatsapp não podem<br />
escravizar os seus utilizadores e tem de haver<br />
regras respeitadoras do tempo privado de cada<br />
um. O telefone continua a ser um meio de<br />
comunicação essencial e privilegiado quando<br />
há algo a debater ou clarificar, até porque a voz<br />
humana transmite muitas pistas essenciais ao<br />
entendimento da mensagem.<br />
Etapa 2 – Disciplina<br />
A comunicação em equipas virtuais obriga<br />
a maior disciplina e também a maior<br />
transparência. Os objectivos da equipa devem<br />
ser continuamente reafirmados, as regras de<br />
interacção entre os membros devem ser claras<br />
e os seus papéis bem definidos desde o início.<br />
Deve haver um fórum pré-estabelecido, em<br />
que todos participam para comunicar quaisquer<br />
mudanças ou reafirmar o que se mantém<br />
quando, por exemplo, as circunstâncias mudam.<br />
Seja qual for o sistema usado, o objectivo<br />
deve ser evitar a todo o custo o isolamento<br />
dos trabalhadores remotos. É igualmente<br />
essencial estabelecer mecanismos de feedback<br />
imediato e claro, sob pena de toda a estrutura<br />
remota ruir por falta de alinhamento quanto ao<br />
desempenho dos membros da equipa.<br />
O esforço nesta etapa é sobretudo de<br />
planeamento e alinhamento, é muito<br />
importante que lhe seja dedicado o tempo<br />
necessário e que se volte atrás para discutir<br />
e esclarecer os procedimentos de trabalho,<br />
em caso de dúvidas. É útil documentá-los, até<br />
porque sempre que um novo elemento se junta<br />
à equipa é preciso que seja treinado em todas<br />
estas regras.<br />
Etapa 3 – Relacionamentos<br />
Uma vez as ferramentas necessárias e<br />
respectivas regras implementadas para a<br />
comunicação formal, tem de haver um especial<br />
cuidado com a comunicação informal. Esta<br />
começa na primeira reunião de equipa, que<br />
deve ser efectuada assim que a equipa é<br />
constituída e deve ser presencial (pelo menos<br />
uma vez por ano os membros da equipa devem<br />
encontrar-se). Devem ser planeados momentos<br />
de interacção semanal, um-para-um e em<br />
equipa, que dêem seguimento aos momentos<br />
pouco frequentes (mensais, trimestrais ou<br />
semestrais) de encontros cara-a-cara.<br />
A liderança da equipa, formal ou informal,<br />
deve assegurar-se que há um fluxo de<br />
informação entre os membros, que estes<br />
partilham aquilo que os preocupa e<br />
importa. A confiança tem de ser alimentada<br />
continuamente com os sentimentos de empatia<br />
que se geram entre as pessoas.<br />
Etapa 4 - Cultura<br />
Para que uma equipa remota funcione a longo<br />
prazo, têm de ser encontradas alternativas<br />
potentes ao encontro diário para alinhar os<br />
valores e os princípios de todos. Deve ser<br />
acarinhado o sentido de pertença de cada um,<br />
à equipa e à empresa. O ideal são momentos<br />
cara-a-cara, muito bem planeados e focados<br />
naquilo que só se consegue fazer quando<br />
estamos reunidos (por exemplo jogos e<br />
actividades de conhecimento uns dos outros), a<br />
tal comunicação não verbal que nos permitirá<br />
“preencher os vazios” quando estivermos a<br />
centenas de quilómetros uns dos outros. •
76<br />
À janela da APAT<br />
António Nabo Martins<br />
Presidente Executivo<br />
No centro da mudança<br />
Dia 29 e 30 de outubro aconteceu o Congresso da APAT. Finalmente e de forma<br />
presencial foram discutidos assuntos prementes e muito relevantes para a actividade<br />
transitária. O que se está a passar em todo o mundo com as trocas comerciais<br />
internacionais e respectivo transporte é deveras assustador e não tem fim à vista.<br />
Os desafios imensos e transversais, a<br />
necessidade de cumprimento de metas<br />
ambientais, a transformação digital em<br />
curso e necessidade constante e firme de fazer<br />
chegar a todo o momento, e a todo o lado, todo<br />
o tipo de produtos, provoca algum sentimento<br />
de frustração quando vemos outros players do<br />
sector a querer usurpar indevidamente o lugar<br />
de outros em vez de procurarem ser parceiros.<br />
As parcerias constroem-se em pilares de<br />
confiança e não assentes em “montinhos de<br />
areia”, que só são bons “quando a maré está<br />
baixa”. Se estamos na linha da frente desta<br />
batalha, ou seja, na fronteira que é contestada<br />
por várias forças num mesmo “teatro de<br />
operações” então também temos de estar na<br />
frente da batalha da mudança.<br />
Entretanto, ficámos a saber que as pessoas<br />
também já são consideradas factores de<br />
competitividade para as empresas. O que me<br />
espanta é porque é que só agora se chega a<br />
essa conclusão, quando todos já sabemos que<br />
a inteligência emocional supera quase sempre<br />
qualquer outro tipo de inteligência.<br />
Estamos perante uma transição daquilo que<br />
podemos chamar a logística “tradicional” tal e<br />
qual como ela é, para uma outra fase que será<br />
uma logística completamente diferente. Com<br />
clientes mais exigentes, mais personalizados,<br />
compras de menor dimensão, mas em maior<br />
número, logo maior diversidade e dispersão<br />
dos locais de aquisição e recolha e dos locais<br />
de entrega, mas com profissionais mais<br />
competentes, mais habilitados, mais disponíveis<br />
e mais flexíveis.<br />
E, depois, ouvimos certos experts afirmar que<br />
estes contratempos da cadeia de abastecimento<br />
se desvanecerão rapidamente, ou referindo<br />
simultaneamente que “este não será um<br />
problema durante o próximo ano em absoluto…”<br />
e “…esta é a pior parte. Creio que os grandes<br />
sistemas de transporte se ajustarão como<br />
fizeram as empresas” (JPMorgan). Eu também<br />
acredito que os sistemas de transporte se<br />
adaptarão, mas sinceramente não acredito que<br />
seja durante 2022.
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
Sempre as pessoas<br />
Entre a ordem e o caos<br />
Na verdade, o que assistimos hoje é a um<br />
desarranjo permanente da cadeia e sabemos<br />
que “a ordem e desordem dependem<br />
da organização da logística” (Sun Tzu –<br />
Arte da Guerra). Ora assistimos a filas e<br />
“estacionamento” de navios, tanto nos<br />
continentes americano como asiático e ao<br />
desalinhamento completo de todo um sistema<br />
que não sendo perfeito decorria dentro de<br />
muita normalidade.<br />
Há cerca de um mês, para o jornal Público,<br />
referi que o mundo parecia que precisava de<br />
parar dois meses e voltar a partir do zero.<br />
Entretanto, deveríamos todos sentar-nos,<br />
conversar, encontrar consensos e perceber<br />
o que todos e cada um deveria fazer para<br />
ultrapassar este problema. Claro que era uma<br />
“imagem”, mas parece que fazia mesmo falta<br />
ter acontecido. Nada melhorou, antes pelo<br />
contrário. Tudo parece ainda pior. Não estamos<br />
a conseguir ultrapassar esta guerra com arte.<br />
Estando esta “guerra” ao rubro, eis que surge<br />
a notícia de que há armadores a recusarem-<br />
-se a trabalhar com transitários, exigindo-lhes<br />
compromissos que deveriam ser dos donos das<br />
cargas, mas também encontrando formas mais<br />
ou menos criativas para empurrar o transitário<br />
para fora da cadeia.<br />
Fica assim claro que, mais uma vez, as pessoas<br />
vão fazer a diferença. Ou seja, todos queremos<br />
pagar menos, mas também todos queremos<br />
conhecer quem está do lado de lá, porque é<br />
esta pessoa que nos dá garantia e conforto na<br />
eventualidade de algo correr mal. Sim, porque<br />
um dia vai correr mal e nesse dia o sistema<br />
informático não está do lado de lá para atender<br />
e ajudar.<br />
Como digo muitas vezes, comparando, hoje,<br />
há muitas plataformas de viagens e turismo<br />
no online, mas continuam a existir e a crescer<br />
as agências de viagens, onde a inteligência<br />
emocional estará muito mais presente,<br />
para nos fazerem viajar emocionalmente e<br />
confortavelmente, olhando nos olhos, sorrindo<br />
e com toda a humanidade do mundo.<br />
Então! o clima atual apresenta desafios<br />
colossais para as empresas em todo o mundo,<br />
e o futuro é incerto. De crise em crise - saúde<br />
global, ciberataques, instabilidade política,<br />
guerras comerciais e um negócio, talvez, mais<br />
regional - os transitários estão plenamente<br />
conscientes de como dar resposta à mudança.<br />
Ainda, entretanto, a China pára fábricas por<br />
motivo do consumo energético. Até parece<br />
fazer sentido. Para quê produzir, senão há<br />
capacidade de transportar? Coincidência? Talvez<br />
sim, talvez não. Não podemos seguramente<br />
dizer que, qualquer semelhança com a vida real<br />
é mera coincidência. •
78<br />
O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />
“O dom e o poder da coragem emocional”<br />
Susan David, 9 milhões de visualizações, 2017<br />
A ideia convencional de que as emoções são boas ou más, positivas ou negativas, é rígida. E a rigidez face<br />
à complexidade é tóxica, como o prova a nossa história, por exemplo no apartheid ou na forma como<br />
temos lidado com a destruição ambiental do nosso planeta. A negação dos sentimentos e a tirania da falsa<br />
positividade têm um poder destrutivo. Em contrapartida, a agilidade emocional permite a resiliência e o<br />
florescimento do ser humano.<br />
A beleza da vida é inseparável da sua<br />
fragilidade. Contudo, as pessoas frequentemente<br />
não navegam esta fragilidade com sucesso,<br />
como mostra a devastação causada pela doença<br />
da depressão no mundo civilizado. Numa<br />
actualidade dominada pela economia, política<br />
e tecnologia, a tendência dos seres humanos é<br />
enfrentarem cada vez mais rigidamente as suas<br />
emoções. Por um lado, focam-se obsessivamente<br />
nos sentimentos interiores, viciados em terem<br />
razão ou vitimizando-se. Por outro, reprimem<br />
o que sentem, pondo de lado tudo o que não<br />
é considerado legítimo sentir. Contudo, ao<br />
ignorarmos as nossas emoções, estas amplificamse<br />
e dominam-nos.<br />
Quando as pessoas lhe dizem que preferem<br />
não sentir, Susan David fala-lhes então dos<br />
“objectivos de pessoas mortas”, as únicas que<br />
nunca se desapontam, nem têm sentimentos<br />
inconvenientes. Só os mortos não têm stress,<br />
corações partidos nem experienciam o<br />
desapontamento do falhanço. O desconforto<br />
emocional é o preço de admissão para uma vida<br />
com sentido.<br />
Susan David explica que as emoções são na<br />
realidade dados, intrinsecamente úteis, que nos<br />
permitem identificar os nossos valores. Quanto<br />
mais precisas são as palavras que descrevem<br />
o que sentimos, mais esta informação nos<br />
pode ajudar. Algo que nos deixa indiferentes<br />
emocionalmente não tem importância para<br />
nós, portanto os nossos sentimentos estão a<br />
comunicar connosco e dar-nos indicações sobre o<br />
caminho a seguir. Mas somos nós que escolhemos<br />
o nosso caminho, não devemos deixar que as<br />
emoções nos dominem. A felicidade é o resultado<br />
de lidar com o mundo tal como ele é, não como<br />
gostaríamos que fosse. A agilidade emocional<br />
é, portanto, a capacidade de reconhecermos as<br />
nossas emoções com curiosidade, compaixão e a<br />
coragem de alinharmos as nossas acções com os<br />
nossos valores.<br />
Quando, por exemplo no mundo do trabalho, é<br />
dada às pessoas a autorização de sentirem a sua<br />
verdade emocional, a dedicação, a criatividade<br />
e a inovação prosperam. A diversidade humana<br />
não está apenas no seu exterior, está também no<br />
interior de cada um.<br />
“Sawubona” é uma saudação em zulu, traduzida<br />
como “olá”, mas significando realmente “eu vejo-te<br />
e reconheço a tua existência”. Não pode haver<br />
forma mais adequada de nos relacionarmos, uns<br />
com os outros e com as nossas emoções.<br />
Susan David é sul-africana e doutorada em Psicologia<br />
pela Universidade de Melbourne, com uma pósgraduação<br />
em emoções pela Universidade de Yale. O<br />
seu livro “Agilidade Emocional” foi um “bestseller” do<br />
The Wall Street Journal, e o conceito que veicula foi<br />
considerada a melhor ideia de gestão do ano em 2016,<br />
pela Harvard Business School.
Outsourcing<br />
Há mais de 20 anos<br />
a entregar resultados!<br />
» Recrutamos e gerimos equipas especializadas<br />
» Desenhamos e otimizamos processos<br />
» Máxima flexibilidade de custos e dimensionamento<br />
» Uma equipa especializada ao seu dispor<br />
» Cobertura de serviços a nível Nacional<br />
Especialistas<br />
na Gestão de<br />
Equipas e Processos<br />
Sales & Marketing<br />
Industrial & Logística<br />
CCS & BPO<br />
Office, IT & Serviços Gerais<br />
SAIBA MAIS em www.adecco.pt 707 233 226