L+D 81
Edição 2º semestre
Edição 2º semestre
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R$25,00<br />
CASA ZISSOU (SÃO PAULO)<br />
FLUXOS DE PENSAMENTOS | RICHEMONT (SÃO PAULO) | RESTAURANTE KOTORI (SÃO PAULO) | RESIDÊNCIA<br />
FAZENDA MORRO ALTO (SÃO PAULO) | ESTÚDIO JAC LEIRNER (SÃO PAULO) | FOTO LUZ FOTO: MAÍRA ACAYABA
LED Lighting Solutions<br />
Dot<br />
Line
SUMÁRIO<br />
2˚ semestre 2021<br />
edição <strong>81</strong><br />
46<br />
50<br />
56<br />
62<br />
66<br />
74<br />
82<br />
8<br />
¿QUÉ PASA?<br />
46<br />
FLUXOS DE PENSAMENTOS<br />
Ensaio de Diana Joels<br />
50<br />
RICHEMONT<br />
56<br />
62<br />
66<br />
74<br />
82<br />
CASA ZISSOU<br />
São cinco os sentidos?<br />
RESTAURANTE KOTORI<br />
Imersão em cenários luminosos<br />
RESIDÊNCIA FAZENDA MORRO ALTO<br />
Casa, galeria, natureza e harmonia<br />
ESTÚDIO JAC LEIRNER<br />
Visita ao Atelier de Jac Leirner<br />
FOTO LUZ FOTO<br />
Maíra Acayaba<br />
4
EDITORIAL<br />
CAPA<br />
Iluminação: Foco Luz & Desenho<br />
Foto: André Klotz<br />
PUBLISHER<br />
Thiago Gaya<br />
EDITOR-CHEFE<br />
Orlando Marques<br />
EDITORA<br />
Débora Torii<br />
AOS POUCOS<br />
Aos poucos os espaços voltam a ser ocupados. O dia a dia ganha cores,<br />
sorrisos, calor, abraços. Aos poucos retomamos mesmo que nada mais seja<br />
como antes.<br />
Neste espírito trazemos nesta edição o segundo ensaio da lighting<br />
designer e educadora Diana Joels, “Fluxos de Pensamentos” – o mesmo<br />
nome dado ao bate-papo aberto realizado como desdobramento de seu<br />
primeiro ensaio, publicado na edição 80 da <strong>L+D</strong>, e que provocou novos fluxos<br />
e pensamentos.<br />
Essa energia de renovação também nos inspirou a convidar a equipe da<br />
LD Studio para contar, no ¿Qué Pasa? duplo, um pouco sobre os bastidores<br />
do projeto para a renovação do teatro do Hotel Belmond Copacabana Palace,<br />
recém reinaugurado.<br />
Apresentamos também o projeto de iluminação da Foco Luz & Desenho<br />
para a loja de colchões Zissou, capa desta edição; o escritório da Richemont<br />
em São Paulo, iluminado pelo Estúdio Carlos Fortes; o restaurante Kotori, com<br />
projeto de iluminação do Castilha Iluminação; a residência na Fazenda Morro<br />
Alto, no interior de São Paulo, iluminada pelo studio ix; e o relato da visita ao<br />
Estúdio Jac Leirner, com projeto de iluminação assinado por franco+berriel.<br />
Esta edição da <strong>L+D</strong> circula concomitantemente à realização do<br />
LEDforum.21, em formato digital. Esperamos que em 2022 possamos nos<br />
reunir pessoalmente.<br />
O retorno acontece aos poucos, mas a expectativa é perene.<br />
DIAGRAMAÇÃO<br />
Maria Fraga<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
Thais Moro<br />
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />
Débora Torii, Diana Joels, Diogo de Oliveira,<br />
Emilia Ramos, Equipe LD Studio, Fernanda<br />
Carvalho, Gilberto Franco, Orlando Marques<br />
REVISÃO<br />
Débora Tamayose<br />
CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />
Márcio Silva<br />
T 11 3062.2622<br />
PUBLICADA POR<br />
Lumière Mídia<br />
Rua Catalunha, 350, 05329-030<br />
São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />
www.editoralumiere.com.br<br />
Boa leitura!<br />
6<br />
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¿QUÉ PASA?<br />
BIOCÊNTRICO<br />
TORN<br />
GAP<br />
© 2021 Olafur Eliasson, Mark Niedermann, Pati Grabowicz.<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K<br />
8<br />
A Fundação Beyeler apresentou em Base, na Suíça, a<br />
primeira instalação in situ do artista Olafur Eliasson, intitulada<br />
Life. O trabalho une o espaço do museu, o parque onde está<br />
localizado, a paisagem urbana e a natureza de tal forma que<br />
se apresenta como algo que se desenvolve constantemente,<br />
gerando um diálogo entre todas essas esferas e esmaecendo a<br />
separação entre cultura e natureza.<br />
“Nos últimos anos, tenho cada vez mais me interessado nos<br />
esforços para considerar a vida não de uma perspectiva centrada<br />
no ser humano, mas de uma perspectiva ampla e biocêntrica.<br />
Eu me peguei transformando substantivos em verbos – quando<br />
analiso minha exposição, tento fazer uma árvore, por exemplo –<br />
a fim de tomar consciência de perspectivas que vão além do que<br />
nós, humanos, podemos imaginar adequadamente.”<br />
Life é o modo de o artista abrir mão do controle sobre as<br />
obras de arte e passá-lo, de certa forma, aos visitantes humanos<br />
e aos não humanos, incluindo plantas, microrganismos, clima<br />
etc. Em outras instalações, esses elementos são mantidos<br />
isolados das obras de arte para não danificá-las. Aqui não há<br />
como separá-los. (O.M.)<br />
Atelier Jac Leirner<br />
Lighting Design: Franco + Berriel lighting design<br />
Arquitetura: MMBBB Arquitetura<br />
Fotografia: Nelson Kon<br />
@omega_light<br />
www.omegalight.com.br
¿QUÉ PASA?<br />
BELEZAS APAGADAS<br />
NIX-M T-FLEX<br />
projetor orientável para trilho<br />
eletrificado, led IRC≥92 é uma<br />
característica do nosso padrão de<br />
fornecimento.<br />
Letícia Poyares, Lucas Schwab e Amanda Silveira<br />
fotografia Leonardo Finotti<br />
CCBB - Exposição “A Terceira”<br />
São Paulo<br />
Marcia de Moraes, artista plástica<br />
Estúdio Carlos Fortes<br />
apoio Lightsource<br />
SIGMA<br />
sistema de perfil para acabamento<br />
e iluminação de sanca.<br />
BETA<br />
A lighting designer e artista baiana Priscila Pacheco transitou<br />
nos últimos anos entre Brasil e Chile, em escritórios e escolas<br />
de arquitetura e iluminação, e atualmente cursa mestrado em<br />
Arte e Design para o Espaço Público na Universidade do Porto,<br />
em Portugal.<br />
Desse curso surgiu o desafio de criar um projeto artístico<br />
em área pública. O desafio maior, no entanto, viria a seguir: a<br />
pandemia da covid-19 alastrada pelo mundo, o Brasil entre os<br />
líderes mundiais de mortes por milhão de habitantes, muitas<br />
evitáveis, e a população dividida por uma severa crise ética e<br />
coletiva, vivendo um luto disforme.<br />
Como criar qualquer coisa nesse contexto? Como se<br />
contrapor à paralisia diante da crise, diante da morte? Como<br />
sublinhar o fato de que cada perda significa afetos, memórias e<br />
relações interrompidas?<br />
Dessas angústias surgiu a obra, uma instalação performativa<br />
que usa a luz do fogo para ativar memórias afetivas e lançar luz<br />
sobre as vidas perdidas, para ser montada em espaço público,<br />
coletivo e compartilhado como o sentimento que o trabalho<br />
provoca, de dor pelas mortes em massa dos mais vulneráveis,<br />
uma a uma.<br />
A instalação consiste em cem lanternas de vidro e vela que<br />
refletem no chão, ao redor, palavras que nomeiam as relações<br />
entre os mortos e os que ficam.<br />
Irmão. Mãe. Amigo. Avó...<br />
Cada chama será apagada durante a performance, tendo<br />
seu oxigênio cortado, em uma referência à respiração.<br />
O trabalho foi apresentado em junho deste ano, na<br />
Praça Cívica de Vila Nova de Gaia, ao entardecer, ao som da<br />
canção “Lágrimas negras”, de Jorge Mautner, que diz: “Belezas<br />
são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas<br />
pelo sofrimento”. (D.O.)<br />
fotografia Maíra Acayaba<br />
perfil com difusor para fita led.<br />
VEGA-LINE-D<br />
pendente linear com iluminação<br />
difusa downlight.<br />
Escritório Richemont do Brasil<br />
São Paulo<br />
Cafcalas Estúdio<br />
Estúdio Carlos Fortes<br />
10<br />
São Paulo SP Brasil www.lightsource.com.br @lightsource_lighting
por Studio Luxion<br />
James Newton<br />
Uma peça portátil e com diferenciais<br />
marcantes: a luz pode ser controlada<br />
através da mobilidade de sua cúpula,<br />
revelando e alterando sua forma,<br />
tornando a luminária uma<br />
coluna iluminada.<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ABADIA DE BATH<br />
A história de abadia beneditina de Bath, situada na Inglaterra,<br />
remonta ao século VI, mas o edifício com a aparência que tem<br />
hoje data do século XV. Em 2021, o mais recente restauro desse<br />
que é um dos principais exemplos da arquitetura gótica inglesa<br />
foi concluído, em um projeto com custo próximo a 20 milhões<br />
de euros.<br />
Além de abrigar os fiéis com conforto e segurança<br />
renovados, o projeto de restauro e de iluminação abre a abadia<br />
para usos mais flexíveis, como turismo e eventos. Para isso, foi<br />
instalado um sistema de aquecimento hidráulico, baseado em<br />
princípios sustentáveis, sob o piso do edifício.<br />
O projeto de iluminação, a cargo do escritório Michael Grubb<br />
Studio, ao mesmo tempo que destaca os elementos históricos da<br />
arquitetura, possibilita os novos usos, com cenas diversas para<br />
eventos, sem perder a atmosfera de devoção própria da catedral.<br />
Nos níveis mais altos, pontos de luz situados logo abaixo das<br />
janelas destacam os ornamentos: coroas e abóbadas em forma<br />
de leque, que são a marca dessa abadia. No nível intermediário, a<br />
iluminação sublinha os adornos em pedra de Bath. Monumentos<br />
e tumbas ganham luz específica para suas formas, assim como<br />
o lustre vitoriano, atualizado com LED. Todo o sistema de<br />
iluminação é controlado digitalmente e permite operar cada<br />
lâmpada, uma a uma. (D.O.)<br />
12 @luxion_<br />
www.luxion.com.br<br />
contato@luxion.com.br
Marcella Campa<br />
¿QUÉ PASA?<br />
CHÁ E CENA<br />
A casa de chá e padaria théATRE reúne o chá e o teatro não<br />
apenas em seu nome, mas também no projeto do espaço. A<br />
casa, localizada em Xangai, China, foi projetada pelo escritório<br />
Ramoprimo, em uma área relativamente pequena: 50 m 2 de loja,<br />
mais 60 m 2 de área externa.<br />
Os elementos cenográficos começam no forro, preenchido<br />
por uma escultura de lâminas de aço em curva. O que o espaço<br />
da loja não oferece em área compensa em altura, em três<br />
níveis: o mais alto abriga o elemento escultórico, inspirado no<br />
movimento da água do chá e intensificado pelo caráter reflexivo<br />
do material, sensível à luz e às cores; o médio, com cozinha<br />
aberta cujos principais materiais são aço e cerâmica, simula um<br />
laboratório, no qual precisão e limpeza podem ser observados<br />
durante o processo de elaboração das massas; já o nível mais<br />
baixo é onde fica o salão, na mesma linguagem de cores e<br />
texturas, mas com acréscimo do mármore azulado, cuja textura<br />
granulada confere efeitos diversos de acordo com a variação<br />
da luz. Um pátio completa o ambiente da loja, inspirado nos<br />
terraços das fazendas de chá. (D.O.)<br />
14
¿QUÉ PASA?<br />
ENTRE REINOS<br />
O restaurante de frutos do mar XU JI (Land Kylin), com área<br />
de 1.256 m 2 , projeto do escritório de arquitetura Daxiang, fica<br />
em Changsha, na província de Hunan, China.<br />
No entanto, o partido desse projeto é esmaecer as fronteiras<br />
entre espaço e tempo, Oriente e Ocidente, realidade e fantasia,<br />
sono, sonho e vigília. Como em uma densa floresta, em que não<br />
se consegue distinguir claramente os elementos, o restaurante<br />
sugere um percurso imersivo, com experiências diversas<br />
vivenciadas por meio do design. Das atmosferas. Da iluminação.<br />
Localizado no quarto andar do W Hotel, a entrada da casa<br />
surge ladeada por pilastras que simulam troncos, iluminados por<br />
baixo e envoltos em luz azul, vinda da grande tela de LED, em que<br />
se projetam imagens marinhas, no centro do espaço. Os percursos<br />
possíveis para a adega, o bar, as salas de chá e outras salas<br />
ocorrem como narrativas, e parece ser esta a ideia: ambientes<br />
discursivos. O mobiliário é usado como suporte para pontos<br />
de luz difusa, de cores suaves, acoplados nele, o que favorece a<br />
experiência dos clientes: difusa, fragmentada, misteriosa. (D.O.)<br />
Chuan He, Haha Lu.<br />
16
divulgação<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESTAÇÃO P&B<br />
A estação de metrô Rotes Rathaus foi inaugurada em Berlim,<br />
Alemanha, com projeto do arquiteto Oliver Collignon e projeto<br />
de iluminação do escritório Licht Kunst Licht. Foram dez anos<br />
desde os primeiros planos até a abertura do equipamento, e<br />
o que se nota é a integração técnica do resultado construtivo<br />
com as soluções de iluminação. Em 2010, antes de o LED<br />
ganhar o mercado, esse foi o recurso sugerido, o que superou as<br />
expectativas na finalização, em virtude dos avanços tecnológicos<br />
do LED na última década.<br />
O partido arquitetônico foi claridade, amplidão e elegância,<br />
obtidos no contraste entre piso branco reluzente, colunas<br />
claras e paredes pretas, também com textura sensível à luz.<br />
O hall da plataforma, com 140 m de comprimento, tem uma<br />
escada rolante para acesso, e a iluminação marca a entrada no<br />
hall e as plataformas.<br />
Os pontos de luz por toda a estação foram inseridos com<br />
precisão no forro e calculados com base em seu reflexo nas<br />
superfícies do edifício, visando ao conforto visual dos usuários.<br />
Voltagens e angulações foram calibradas a partir das diferentes<br />
alturas do espaço. Nas extremidades das plataformas, de pédireito<br />
baixo, os pontos de luz foram inseridos no piso, em<br />
pares. (D.O.)<br />
Projeto da arquiteta Larissa Gomes - Casa Cor PR 2021<br />
18
Design, inovação e tecnologia<br />
em iluminação desde 1974.<br />
¿QUÉ PASA?<br />
FÍSICO DIGITAL<br />
20<br />
Lagranja design<br />
XAPO é um banco inteiramente digital, com serviços para<br />
criptomoedas. Para abrigar sua sede física principal, o escritório<br />
de arquitetura catalão Lagranja adaptou instalações militares<br />
inglesas do século XIX, na parte histórica de Gibraltar, vizinha<br />
às muralhas fortificadas da cidade, em meio ao agito urbano. O<br />
projeto de iluminação foi executado pelo escritório reMM.<br />
A sede da empresa ocupa área de 800 m 2 , entre os arcos<br />
estruturais das antigas instalações em pedra calcária e teto<br />
ainda com as vigas de madeira originais, material que foi todo<br />
restaurado. A manutenção dos materiais originais confere ao<br />
ambiente um clima de cofre de banco antigo, em referência<br />
quase irônica ao negócio da XAPO.<br />
Na entrada, o pé-direito baixo é compensado por espelhos<br />
d’água que ladeiam a circulação e ajudam a iluminar o espaço<br />
subterrâneo com seu reflexo durante o dia. À noite, iluminação<br />
cruzada de laser destaca os espelhos e a área de recepção, à<br />
vista do público. Paredes e elementos estruturais e de circulação<br />
são iluminados de modo a ganhar destaque e, ao mesmo tempo,<br />
manter a atmosfera original dos antigos quartéis. (D.O.)<br />
www.lightdesign.com.br<br />
St Marche – SP<br />
Arquitetura Espaço Novo Projeto luminotécnico Mingrone Iluminação Fotografia Ricardo Basseti
Tom Lee<br />
Perfecting light<br />
for a luminous<br />
future.<br />
¿QUÉ PASA?<br />
FRESHFIELDS BRUCKHAUS DERINGER,<br />
POR 18 DEGREES<br />
O escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus Deringer<br />
transferiu recentemente sua sede para o edifício 100 Bishopsgate,<br />
no centro financeiro de Londres, Inglaterra, complexo conhecido<br />
pela eficiência energética e pelas políticas alinhadas com<br />
agendas sustentáveis.<br />
O projeto de iluminação do escritório 18 Degrees trabalhou<br />
em estreita colaboração com os arquitetos de interiores ID:SR.<br />
Assim, o projeto foi planejado para minimizar o impacto<br />
ambiental e proporcionar bem-estar aos ocupantes. Equipamentos<br />
de LED de baixo consumo e os controles associados ajudaram o<br />
projeto a alcançar a classificação de sustentabilidade BREEAM<br />
22<br />
Excelence e a SKA Gold. Os novos interiores resultaram em uma<br />
economia de energia de 30% em comparação com a sede anterior.<br />
A iluminação procurou atender a diversas faixas etárias e<br />
preferências, bem como proporcionar acesso à luz natural, de<br />
modo a garantir uma transição visual suave entre os ambientes.<br />
“Foi uma honra trabalhar em um projeto tão importante e<br />
emocionante. Foi uma combinação fantástica entre diversos<br />
atores que tornou esse projeto um sucesso: um cliente<br />
informado, uma gestão de projeto inteligente, uma equipe de<br />
design ampla e criativa e uma equipe de construção”, disse<br />
Christopher Knowlton, diretor do escritório 18 Degrees. (O.M.)<br />
Desenvolvemos avanços na qualidade<br />
da luz LED para alcançar resultados<br />
extraordinários em uma ampla gama<br />
de aplicações. Nossas soluções óticas<br />
de última geração são ferramentas<br />
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LEDiL ® é uma marca registrada da LEDiL Oy na<br />
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O projeto do escritório Sirius Lighting Office para o edifício<br />
Toranomon Hills Business Tower em Tóquio, Japão, recebeu o<br />
prêmio Radiance for Excellence in Lighting Design concedido<br />
pelo IALD Awards deste ano.<br />
O ambiente do edifício de escritórios procurou funcionar ao<br />
mesmo tempo como espaço de motivação para colaboradores e<br />
espaço de apreciação, para todo tipo de visitante.<br />
O projeto de iluminação teve o desafio de harmonizar com a<br />
luz natural, em área ampla de circulação composta de vegetação,<br />
fontes de água e obras de arte. Os revestimentos foram<br />
cuidadosamente iluminados para evitar reflexos excessivos e,<br />
ao mesmo tempo, destacar as texturas, por meio de pontos de<br />
luz inseridos no piso ou no forro.<br />
Sistemas de controle garantem a transição orgânica da cena<br />
de luz diurna para a cena noturna, calma e com cores amenas.<br />
Na fachada e na área de acesso ao edifício, a iluminação se dá<br />
por linhas horizontais que ora conduzem os visitantes à entrada,<br />
ora, nos níveis mais altos, criam animação em referência às<br />
pinturas japonesas com nanquim. (D.O.)<br />
Gravações persolizadas<br />
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¿QUÉ PASA?<br />
MEMORIAL<br />
CENOGRAFADO<br />
Divulgação<br />
O projeto de iluminação do escritório L’Observatoire<br />
International para o Memorial Dwight D. Eisenhower, em<br />
Washington, Estados Unidos, foi um dos contemplados com o<br />
Merit Award na premiação do IALD deste ano.<br />
O projeto de iluminação incide sobre o edifício, as áreas de<br />
circulação e outras abertas à rua. As intervenções demarcam<br />
as linhas do edifício e do passeio, sua tridimensionalidade,<br />
definindo espacialmente o monumento urbano e conferindo<br />
sensação de interioridade ao espaço aberto. Ao iluminar<br />
desde baixo o mobiliário urbano e desde dentro equipamentos<br />
de apoio, como corrimãos, a circulação ganha destaque.<br />
A fachada do memorial é tomada por uma estrutura plana<br />
de aço que mede 122 m de comprimento e traz imagens<br />
abstratas da costa do Normandia, em referência à região da<br />
França em que se deu o desfecho da Segunda Guerra Mundial,<br />
sob o comando de Eisenhower, em 1944. Cada fio que compõe a<br />
imagem é iluminado desde baixo, acendendo cada contorno do<br />
desenho, feito cenário. (D.O.)<br />
26
Kai Piippo<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TRADIÇÃO E EFICIÊNCIA<br />
Um dos parques públicos mais antigos de Estocolmo, capital<br />
da Suécia, o Kungsträdgården ganhou nova iluminação pelas<br />
mãos da equipe do Light Bureau. As novas luminárias fazem uma<br />
releitura contemporânea da iluminação tradicional de parques<br />
e substituem os antigos postes, dotados de globos equipados<br />
com lâmpadas nuas de vapor metálico, com iluminação difusa<br />
e ofuscante.<br />
Compostas de dois cilindros concêntricos com acabamento<br />
em cobre, as luminárias contam com acendimento em duas<br />
etapas: no final da tarde, ainda sob a presença da luz natural,<br />
o módulo de luz cálida e indireta do cilindro interno se acende,<br />
tornando presentes as lanternas na paisagem do parque;<br />
durante os 30 minutos seguintes, a iluminação direta do módulo<br />
externo se intensifica gradualmente, iluminando as circulações e<br />
as copas das árvores.<br />
O sistema de controle cria uma ponte suave entre a<br />
claridade do dia e a escuridão da noite e contribui para<br />
a redução de aproximadamente 50% no consumo energético<br />
da iluminação do parque, decorrente também da substituição<br />
por módulos de LED. O conceito final do projeto levou sete<br />
anos para ser definido e implantado e demandou a realização<br />
de inúmeros protótipos e testes, acompanhados de perto pelo<br />
cliente (a municipalidade de Estocolmo) e por especialistas em<br />
patrimônio histórico. (D.T.)<br />
28
w<br />
Noshe<br />
¿QUÉ PASA?<br />
KUNSTHAUS ZÜRICH<br />
O novo edifício da ampliação do Museu de Zurique,<br />
finalizado no ano passado, tem arquitetura do escritório alemão<br />
David Chipperfield Architects Berlin e projeto de iluminação do<br />
escritório suíço Matí Lighting Design.<br />
O conceito do projeto de arquitetura é motivado pela<br />
implantação de um volume de geometria acessível, com forma<br />
inspirada por uma escola vizinha, de 1842, ao norte do terreno.<br />
Os ambientes internos são organizados como uma casa, com<br />
cômodos de diferentes tamanhos, orientações, materialidade e<br />
luz, conferindo-lhes personalidade.<br />
Desenvolvido em colaboração com os arquitetos, o conceito<br />
do projeto de iluminação definiu uma paleta enxuta de efeitos<br />
luminosos e luminárias que permitisse apresentar a arte das<br />
com versatilidade. (O.M.)<br />
APRESENTAMOS ATHENA<br />
O sistema de controle de iluminação dinâmico que traz<br />
a magia da luz aos momentos do dia a dia<br />
Solução flexível, simples e tudo-em-um para controlar qualquer fonte<br />
de luz com cortinas inteligentes<br />
30
SMAR architecture, quatrecaps.<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TORRE DE LUZ<br />
Os arquitetos Fernando Jerez e Belen Perez de Juan, do<br />
escritório SMAR Architecture Studio, foram os vencedores do<br />
concurso mundial para a Torre de Luz de San Jose, Califórnia,<br />
no coração do Vale do Silício. O projeto pretende simbolizar a<br />
inovação da região e atrair turismo e negócios para a cidade,<br />
ao mesmo tempo que presta homenagem a San Jose Electric<br />
Light Tower, uma estrutura construída em 18<strong>81</strong> para celebrar a<br />
chegada da eletricidade à cidade,<br />
Batizada de Breeze of Innovation, a estrutura é composta de<br />
mil hastes criadas para balançar ao vento, gerando eletricidade<br />
para iluminá-la durante a noite.<br />
“Nosso objetivo foi capturar a magia em constante mudança<br />
do Vale do Silício e criar uma conexão com a comunidade de<br />
San Jose”, disse Fernando Jerez. (O.M.)<br />
32
Ziling Wang<br />
Yang Shi<br />
¿QUÉ PASA?<br />
WANG JING MEMORIAL HALL<br />
Yang Shi<br />
O Wang Jing Memorial Hall foi construído em homenagem<br />
ao acadêmico Wang Jing (1337-1408) na aldeia de Wang,<br />
localizada na província de Zhejiang, na China, onde o mestre<br />
nasceu. Usado também como espaço para as atividades<br />
da comunidade, o projeto do escritório chinês DnA_Design<br />
and Architecture se encaixa organicamente às construções<br />
existentes da vila, adquirindo um caráter linear.<br />
Tomando partido desse desenho, o memorial apresenta, em<br />
forma de percurso, 17 cenas esculpidas em pedra que ilustram<br />
a vida de Wang. Quase sem aberturas em suas fachadas, o<br />
edifício conta com acesso à iluminação natural através das<br />
claraboias posicionadas sobre cada uma das 17 imagens. Os<br />
lighting designers do One Lighting Associates, em parceria<br />
com a escola de arquitetura da Tsinghua University, incluíram<br />
também equipamentos para iluminação artificial em cada um<br />
dos vãos das claraboias, provendo o espaço com iluminação<br />
geral e mimetizando a iluminação natural das esculturas à noite.<br />
As fontes de luz ocultas contribuem para a criação de uma<br />
atmosfera meditativa e contemplativa no interior do espaço.<br />
Vistas do terraço – que também é acessível aos<br />
visitantes –, as claraboias refletem parte dessa luz, criando<br />
um efeito sutil de “brasa”, que remete ao caráter espiritual<br />
do memorial. (D.T.)<br />
EXTENDLIT<br />
Sistema de iluminação simples, direto e linear, suspenso somente pelas extremidades. Composto por uma tira ultrafina e<br />
resistente de aço inox, usando uma fonte de luz fita LED para uma luz contínua. Possibilidade de até 25 metros de extensão,<br />
a sua aplicação pode ser de parede a parede ou do teto ao piso, tanto para iluminação direta ou indireta.<br />
34<br />
www.lemca.com.br
¿QUÉ PASA?<br />
CENTENAS E<br />
MILHARES<br />
O parque linear The Tide, às margens do rio Tamisa, é palco<br />
da mais recente instalação da artista Liz West, feita a convite<br />
da comunidade de Greenwich Peninsula, região da cidade de<br />
Londres, Inglaterra, em crescente valorização e modernização.<br />
Hundreds and Thousands envolveu 700 metros lineares<br />
das balaustradas de vidro do parque com milhares de faixas<br />
coloridas ondulantes, que se comportam como relógios de sol,<br />
permitindo aos visitantes interagir e acompanhar o movimento<br />
da luz natural ao longo dos dias e das estações por meio de seus<br />
reflexos e suas sombras.<br />
A artista teve como inspirações a proximidade do parque<br />
do meridiano de Greenwich e a fluidez dos percursos dos<br />
visitantes: maneiras diversas de vivenciar a instalação, em<br />
caminhos e passarelas. “A visualização da obra ao longo do<br />
caminho proporciona aos visitantes uma experiência rica e<br />
caleidoscópica, que, espero, possa desencadear sentimentos<br />
de bem-estar e alegria”, conta West, que selecionou a paleta<br />
de cores buscando justamente encorajar associações e<br />
memórias positivas.<br />
A instalação simboliza um encontro físico e metafórico entre<br />
cores e pessoas, o que intensifica sua experiência espacial (D.T.).<br />
Charles Emerson<br />
36
©Nacása & Partners Inc./Courtesy of Fondation d’entreprise Hermès<br />
¿QUÉ PASA?<br />
AS CORES DE<br />
JULIO LE PARC<br />
Les Couleurs en Jeu é a primeira exibição solo no Japão do<br />
artista argentino Julio Le Parc, em cartaz até o final de novembro<br />
na galeria Le Forum, sede da Fondation d’entreprise Hermès<br />
(braço artístico e educacional da maison francesa) no distrito<br />
de Ginza, Tóquio.<br />
Radicado na França desde 1958, Le Parc foi um dos<br />
precursores das artes ópticas e cinéticas, encorajando a<br />
amplificação de uma abordagem experimental da arte, sempre<br />
permeada por seu viés político e questionador. Após uma fase<br />
de pinturas monocromáticas, o artista embarcou em uma longa<br />
série de obras geométricas e vibrantes, buscando, por meio do<br />
uso de 14 cores concebidas por ele, explorar diferentes efeitos<br />
e sensações, como ritmo, contraste, variação, vertigem e<br />
movimento.<br />
A exibição da Maison Hermès Ginza tem foco justamente no<br />
uso das cores na vasta obra do artista, a começar pela fachada<br />
de tijolos de vidro do edifício que sedia a galeria – projetado por<br />
Renzo Piano –, tomada pela intervenção La Longue Marche ,<br />
composta de 1.421 peças coloridas de PVC.<br />
Também são exibidos aos visitantes alguns dos<br />
emblemáticos móbiles suspensos criados por Le Parc, feitos<br />
de milhares de peças metálicas ou de acrílico , além de<br />
algumas pinturas de sua fase monocromática . (D.T.)<br />
38
LUMINACRIL<br />
Tecnologia em Iluminação<br />
+55114616-5858/4243-6162<br />
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RGBW<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TRANSPARÊNCIAS ACESAS<br />
Luminária RGBW com<br />
32W - 40°<br />
Nitto Denko é uma empresa japonesa criada em 1918 que<br />
se dedica, entre outras atividades, ao desenvolvimento de<br />
materiais de alta performance. Na Semana de Design de Milão<br />
2021, a empresa participa pela primeira vez e apresenta uma<br />
tecnologia inovadora, a RAYCREA, com a exposição Search<br />
for Light, em consonância com sua missão de criar valor para<br />
clientes por meio da inovação.<br />
Em parceria de criação com o lighting designer japonês<br />
Kaoru Mende, do escritório Lighting Planners Associates<br />
– LPA, RAYCREA apresenta-se como uma possível direção<br />
de mudança na indústria de iluminação. Trata-se de uma<br />
tecnologia de controle de luz que abre possibilidades de<br />
linguagem: uma película sobre vidro ou acrílico com LED nas<br />
extremidades permite que a superfície acenda. Sem limite de<br />
comprimento. Com controle de intensidade. Com manutenção<br />
da transparência. Em superfícies planas ou curvas. (D.O.)<br />
Obra Centro Comercial do Castelo<br />
Arquiteto Gustavo Buzelim<br />
Lighting designer Lumani Dani Meireles<br />
Fotos Jean Assis<br />
40
JUNTOS!<br />
Divulgação<br />
¿QUÉ PASA?<br />
SAMBA-M POR<br />
SHIRO KURAMATA<br />
A ideia original para Samba-M surgiu em 1988, no<br />
vernissage da exposição In-Spiration, quando o renomado<br />
designer japonês Shiro Kuramata (1934-1991) surpreendeu os<br />
convidados, incluindo Ron Arad e Zaha Hadid, ao colocar uma<br />
luz vermelha brilhante em sua taça de champanhe. Com esse<br />
gesto lúdico e performático, Kuramata afirmava que o design<br />
tem lugar entre os objetos e a arte.<br />
Samba-M está sendo reeditada pelo fabricante japonês<br />
de luminárias Ambientec e foi lançado em 2021 no Salone del<br />
Mobile, em Milão, Itália. A luminária, que funciona com bateria,<br />
foi produzida em camada dupla de vidro fino e integrada com<br />
LED vermelho, que muda de tom com o toque. (O.M.)<br />
18 e 19 de agosto de 2022<br />
Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />
São Paulo | Brasil<br />
Semana da Luz 2022<br />
Daan Roosegaarde<br />
Holanda<br />
Confira os palestrantes<br />
já confirmados:<br />
Prof. Jan Blieske<br />
Alemanha<br />
Mary-Anne Kyriakou<br />
Austrália / Alemanha<br />
Ricardo Hofstadter<br />
Uruguai<br />
Rafael Leão<br />
Brasil | EUA<br />
Wim aan de Stegge<br />
Holanda | India<br />
42<br />
Inscrições abertas<br />
ledforum.com.br<br />
@ledforum<br />
#ledforum22
¿QUÉ PASA?<br />
TEATRO DO HOTEL BELMOND<br />
COPACABANA PALACE<br />
Mauro Samagaio<br />
É um enorme privilégio fazer parte do renascimento do teatro<br />
do Hotel Belmond Copacabana Palace, que ficou fechado desde<br />
1994. Principalmente neste momento em que equipamentos<br />
culturais como esse são tão importantes para assegurar nossa<br />
sanidade como indivíduos pensantes e criativos.<br />
É mais privilégio ainda participar de uma equipe colaborativa,<br />
composta do cliente e de profissionais da arquitetura, dos<br />
interiores, da programação visual, da iluminação, da automação,<br />
das instalações, do gerenciamento e da execução, que trabalhou<br />
apaixonadamente para trazer de volta esse ícone carioca.<br />
Nossa contribuição foi atuar silenciosamente, procurando<br />
revelar com muita sutileza a joia criada pela arquitetura, trazendo<br />
toques de personalidade, com luminárias desenhadas a quatro<br />
mãos com a arquitetura.<br />
Com muita emoção, convidamos todos a experimentar o<br />
nosso trabalho, ainda a ser desvendado pelo público, assim que<br />
for possível!<br />
O espetáculo precisa continuar! (Equipe LD Studio)<br />
44 45
FLUXOS DE<br />
PENSAMENTOS<br />
Texto, ilustração e fotos:<br />
Diana Joels<br />
“Num presente em que precisamos urgentemente nos<br />
entender como parte da natureza e genuinamente deixar de<br />
buscar na tecnologia soluções para problemas gerados pela<br />
própria tecnologia, não vejo assunto mais relevante à nossa<br />
profissão do que a luz natural.” Esse foi o mote para a finalização<br />
do ensaio que escrevi para a <strong>L+D</strong> 80. Nessa frase há implícita<br />
uma concepção do termo “humanidade”. Ao escrever na<br />
primeira pessoa do plural, a quem me referia? Quem somos os<br />
que “precisamos nos entender como parte da natureza”?<br />
Certamente somos uma parcela de humanos que o “guru”<br />
de muitos de nós Ailton Krenak define como aqueles que<br />
estamos nos dirigindo para determinado lugar, numa ideia<br />
prospectiva de progresso, e nesse caminhar deixando de lado<br />
tudo o que não interessa. Ainda de acordo com Krenak, esse<br />
“tudo que deixamos de lado” denomina-se sub-humanidade. E<br />
inclui muitos humanos.<br />
Eu não pretendo aqui escrever um ensaio sobre tema tão<br />
amplo e tão profundo, até porque não seria capaz, tampouco<br />
este seria o lugar. No entanto, qualquer reflexão sobre o<br />
presente nos conduz à reflexão sobre o próprio conceito de<br />
humanidade e, consequentemente, à ideia de insustentabilidade<br />
do Antropoceno – termo usado por cientistas para denominar<br />
esse período em que vivemos, para o qual não há consenso<br />
sobre quando se iniciou –, marcado pelo impacto determinante<br />
e dominante das atividades humanas sobre o planeta.<br />
Como nos ensina outro guru, Davi Kopenawa Yanomami, o<br />
resultado do inevitável colapso resultante dos impactos da ação<br />
humana sobre a Terra não será a extinção do planeta em si, que<br />
é sábio e sobrevivente, mas sim o fim da tal humanidade, nesse<br />
caso com a inclusão da sub-humanidade.<br />
Estou compartilhando este fluxo de pensamentos para<br />
admitir uma encruzilhada ideológica com que deparei em meus<br />
próprios pensamentos recentemente: a insustentabilidade do<br />
Antropoceno versus a essência do DESIGN, como “abordagem<br />
de um problema a partir dos mais diversos pontos de vista<br />
possíveis e relevantes (multidisciplinaridade e integralidade)<br />
com o objetivo de desenvolver uma solução em que o usuário/<br />
experienciador esteja no centro da equação (humanista)”.<br />
Eu me pergunto até que ponto a defesa do design como<br />
disciplina humanista, com o usuário no centro da equação, que<br />
abordei no último ensaio (sim, constrangida, assumo que as<br />
aspas anteriores são uma autorreferência), é coerente com o<br />
entendimento de que não podemos mais sustentar um modelo<br />
em que os humanos estejam no centro de nada.<br />
IMAGENS<br />
1 Ilustração para a turma de meu filho do 1º ano do ensino<br />
fundamental, após um bate-papo na escola sobre as cidades à<br />
noite, dentro de projeto pedagógico sobre cidades sustentáveis.<br />
2 Panorâmica: Luz essencial. Monte Claro, Trajano de Moraes,<br />
Rio de Janeiro.<br />
3 GEDDES, Linda. Chasing the Sun: How the Science of Sunlight<br />
Shapes Our Bodies and Minds. 1ª Edição. Nova York, EUA:<br />
Pegasus Books, 2019.<br />
4 ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. A queda do céu. 1ª<br />
Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2015<br />
5 HANH, Thich Nhat. Love letter to the earth. 2ª Edição.<br />
Berkeley, EUA: Paralax Press, 2013<br />
6 COCCIA, Emanuele. Metamorfoses. 1ª Edição. Rio de Janeiro:<br />
Dantes Editora, 2020.<br />
7 KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2ª Edição.<br />
São Paulo: Companhia das Letras, 2020<br />
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. 1ª Edição. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 2020.<br />
8 RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite. 1ª Edição. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 2019.<br />
9 KËHÍRI, Tõrãmü; PÃRÕKUMU, Umusï. Antes o mundo não<br />
existia. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2019.<br />
10 ZAJONC, Arthur. Catching the Light: The Entwined History<br />
of Light and Mind. 2ª Edição. Nova York, EUA: Oxford University<br />
Press, 1995.<br />
Essa encruzilhada é quase retórica, pois o futuro que<br />
dela emerge depende de uma humanidade que não se separe<br />
da natureza nem exclua povos e seres. Acredito, sim, numa<br />
compatibilização entre as escalas do fazer que garanta a<br />
manutenção do foco da experiência no usuário em harmonia com a<br />
urgência de um novo paradigma metodológico, necessariamente<br />
regenerativo. Será denominado Design Ecocêntrico?<br />
Sustentável, além de um termo cansado e muitas vezes<br />
vazio, já não dá conta. Mesmo que um projeto ou um produto<br />
seja verdadeira e amplamente sustentável, estará em deficit<br />
globalmente, pois chegamos a um ponto do impacto em que<br />
precisamos não apenas não deixar uma pegada de destruição,<br />
mas também regenerar.<br />
Nos sistemas de produção de alimento, esse modelo já existe<br />
e foi batizado de sintrópico, em referência ao princípio de sintropia,<br />
caracterizado na ciência por integração, equilíbrio organizacional<br />
e preservação de energia no ambiente. A partir da agricultura<br />
sintrópica ou agroflorestal, é possível hoje produzirmos alimentos<br />
e simultaneamente promovermos a regeneração da terra, das<br />
águas, dos microclimas, dos ecossistemas. A agrofloresta,<br />
sistematizada e difundida pelo suíço radicado na Bahia Ernst<br />
Götsch, inspira-se na dinâmica natural dos ecossistemas<br />
virgens para o manejo regenerativo da Terra, acelerando os<br />
processos de sucessão e gerando alimentos de forma ecológica<br />
e economicamente viável, inclusive do ponto de vista da escala.<br />
46 47
Nota dos Editores<br />
As capas dos livros que ilustram este ensaio, são sugestões de<br />
leitura que inspiraram os fluxos de pensamentos do texto da autora.<br />
Será então “Design Sintrópico” o nome e o caminho do<br />
paradigma metodológico que necessitamos desenvolver?<br />
Assim como na agricultura, nos inspiraremos em dinâmicas<br />
naturais para reorganizar nossa abordagem na atividade protejual?<br />
Se em meu último ensaio “Em louvor do Design” compartilhei<br />
a sistematização de muitas questões de forma objetiva e discuti<br />
caminhos a partir de sólidas certezas, o presente ensaio abraça<br />
o espírito de fluxo de pensamentos que se seguiu ao primeiro e<br />
vem carregado de muitas perguntas e algumas ideias coletadas<br />
na busca por respostas.<br />
Na minha forma de pensar, não resta dúvida que o caminho<br />
é olhar para as origens. É na ancestralidade que encontraremos<br />
o análogo aos “ecossistemas virgens” no campo do design.<br />
Não por acaso, até onde eu conheço, na visão ancestral de<br />
todas as culturas do planeta, a relação homem-natureza é<br />
indissociável, como fica evidente no lindo e objetivo livro Love<br />
letter to the Earth, do ativista pela paz e mestre budista Thich<br />
Nhat Hanh.<br />
Recuperando o tripé da essência do DESIGN como<br />
abordagem que abarca integralmente um problema na busca<br />
de solução com foco na experiência humana: se precisamos<br />
urgentemente enfatizar a dimensão ecológica do aspecto<br />
humanista, a multidisciplinaridade e a natureza integral são<br />
fundamentais para essa re-definição em si.<br />
O design existe para sistematizar diferenças (não para<br />
construí-las) e, para tal, necessita gerar muitas perguntas, de<br />
forma que o projeto no fim de um longo processo seja o conjunto<br />
de respostas simples que dão conta ao máximo daquelas<br />
complexas perguntas.<br />
O entendimento sistêmico é, portanto, um desdobramento<br />
natural da essência integral do design e certamente nos ajudará<br />
a expandir ainda mais nossas atitudes e reflexões em nosso<br />
fazer profissional e cotidiano, se aplicarmos esse entendimento<br />
para além de nossos projetos em si. Vamos lá?<br />
É um fato que nos últimos 20 anos está havendo uma<br />
revolução científica no campo da cronobiologia. Como<br />
todos sabemos, a biologia circadiana tem sido aplicada pela<br />
Nasa, pelas Forças Armadas americanas e por atletas de alta<br />
performance, assim como sistemas de iluminação artificial<br />
inspirados pelos ciclos circadianos têm sido utilizados em<br />
hospitais, escolas e espaços corporativos, para acelerar a<br />
recuperação de pacientes, potencializar o foco de estudantes e<br />
o rendimento de trabalhadores, respectivamente.<br />
De acordo com Linda Geddes, jornalista inglesa especialista<br />
em ciências, biologia, medicina e tecnologia, o que temos<br />
testemunhado no campo científico atualmente é uma cada<br />
vez mais clara e profunda compreensão da nossa vital relação<br />
biológica com o sol.<br />
A ciência contemporânea nos fornece dados e fatos que<br />
explicitam quão fundamental é essa relação. A indústria se<br />
apropria de parte desses dados para produzir tecnologia<br />
alinhada com essas “descobertas”.<br />
Esse entendimento, no entanto, é também natural e<br />
ancestral. Na História, nas religiões e nas mitologias, há<br />
inúmeros simbolismos em torno da figura do sol. Nossos<br />
ancestrais não apenas reverenciavam o sol de uma perspectiva<br />
espiritual, como tinham consciência de seus benefícios para<br />
a saúde. Romanos, gregos, egípcios e babilônios – para falar<br />
dos povos antigos que temos muito bem documentados no<br />
Ocidente –, todos reconheciam as propriedades curativas do sol.<br />
Há diversos registros nesse sentido, como o enorme solário que<br />
havia no centro de tratamento que Hipócrates, conhecido como<br />
pai da medicina moderna, tinha na ilha grega de Kos.<br />
Da mesma forma que Hipócrates pregava que se<br />
observassem as variações das estações para ajustes de<br />
comportamentos e hábitos na Grécia Antiga, em uma mesaredonda<br />
online a que assisti no ano passado sobre luz e<br />
saúde, Anna Wirz-Justice, Ph.D. e professora emérita no<br />
Centro de Cronobiologia da Universidade de Basel, advogou<br />
pela necessidade de nos conectarmos com a natureza e nos<br />
permitirmos viver as estações com suas especificidades. Ela<br />
propôs a dissolução das barreiras entre espaços internos e<br />
espaços externos como estratégia de melhoria da qualidade<br />
de vida a partir dos conhecimentos da cronobiologia aplicados<br />
à arquitetura. Finalmente, sugeriu que a cronobiologia fosse<br />
rebatizada de “cronoecologia”.<br />
Claramente, nosso “Design Eco-cêntrico” ou “Design<br />
Sintrópico” não se baseará num retorno às cavernas, para<br />
estabelecimento de uma relação mais saudável com a luz. No<br />
entanto, sem dúvida, abraçará o reconhecimento de que tanto o<br />
excesso de luz artificial à noite como a abstinência de luz solar<br />
durante o dia têm implicações negativas para a vida. No fim das<br />
contas, trata-se de reconhecer que evoluímos em uma Terra<br />
redonda que gira em torno de seu eixo inclinado, produzindo os<br />
dias e as noites, e precisamos urgentemente nos reconectarmos<br />
com esses extremos. Tão básicos.<br />
Para além de nos reconectarmos com a natureza, acredito<br />
que, numa perspectiva ecológica, precisamos nos reconectar<br />
com a nossa natureza ancestral. Com orgulho, citei aqui<br />
pensadores contemporâneos indígenas brasileiros, os que<br />
mais leio atualmente, mas não consegui fugir de Hipócrates,<br />
representando as culturas antigas que mais estudei na<br />
minha formação escolar. Sim, me faltam referências sólidas<br />
dos povos originários de nossa terra, apesar de saber que<br />
está nos conhecimentos desses povos o caminho para o<br />
desenvolvimento do tal paradigma que nos norteará na aplicação<br />
de novas tecnologias e adventos decorrentes dos mais recentes<br />
desenvolvimentos científicos de forma sistêmica e sintrópica.<br />
Neste sentido, quero finalizar com uma provocação. No<br />
Clube de leitura do Women in Lighting Brasil, decidimos ler um<br />
texto chamado “Pytun Jera - Desabrochar da Noite”, transcrição<br />
de uma fala do líder indígena Carlos Papá Mirim, publicado em<br />
forma de caderno, pela editora Dantes. Dentre muitas outras<br />
coisas, Carlos Papá diz que o escuro é uma energia muito forte e,<br />
sendo energia feminina, o escuro é a mãe do Universo. Em uma<br />
retrospectiva dos termos que sua língua utiliza para nomear<br />
elementos da natureza, menciona água, terra, ar, árvore, sangue<br />
e o escuro, responsável por todo o Universo. Simultaneamente,<br />
eu estava fazendo uma outra leitura que me levou ao Cântico do<br />
Irmão Sol, em que São Francisco de Assis elenca como criaturas:<br />
o sol, a lua e as estrelas, a água, a terra, o vento e o fogo. Me<br />
chamou muito a atenção esse contraponto entre o escuro como<br />
mãe do Universo e o fogo como a luz que espanta o escuro na<br />
ausência do sol.<br />
Sem entrar no mérito de qualquer questão religiosa, essa<br />
dualidade me parece explicitar a necessidade de expandirmos<br />
nossos conhecimentos mais basais e aprendermos,<br />
aprofundarmos e incorporarmos a visão de mundo de<br />
nossos povos originários à nossa cultura, inclusive em nosso<br />
entendimento da luz. E da escuridão.<br />
48 49
RICHEMONT<br />
Texto: Orlando Marques<br />
Fotos: Maíra Acayaba<br />
Richemont é uma empresa suíça de artigos de luxo do<br />
conglomerado de negócios fundada pelo magnata sul-africano<br />
Anton Rupert. A empresa é dona de diversas marcas, incluindo<br />
Piaget, Van Cleef & Arpels, Chloé, Baume & Mercier, Alaïa,<br />
entre outras.<br />
Em São Paulo, a Richemont abriu escritório de representação<br />
de duas de suas marcas, a alemã Montblanc e a francesa Cartier,<br />
que tem, dentre suas maiores criações, o relógio Santos, de 1906,<br />
o primeiro relógio de pulso da marca, feito a pedido do aviador<br />
brasileiro Santos Dumont para ver as horas durante o voo.<br />
O projeto de arquitetura da sede das marcas foi desenvolvido<br />
pelo escritório Gingaa Estúdio, de Alexandre Cafcalas, e o<br />
projeto de iluminação é do escritório Estúdio Carlos Fortes, do<br />
arquiteto Carlos Fortes.<br />
Os mesmos princípios de simplicidade e praticidade<br />
aplicados no relógio Santos são observados nos projetos dos<br />
arquitetos. Os espaços são marcados por acabamentos naturais,<br />
madeira e mármore e detalhes de iluminação integrados no<br />
tecido da arquitetura.<br />
A recepção é destacada por nichos verticais iluminados, de<br />
piso a teto, distribuídos esparsamente, que desaparecem em<br />
outro nicho luminoso, na linha do forro. O balcão da recepção,<br />
um prisma retangular de mármore, é sublinhado por iluminação<br />
indireta que destaca o piso de madeira, sendo iluminado por<br />
arranjo de pendentes tubulares de latão.<br />
Os nichos verticais da recepção possuem perfil de LED com<br />
difusor translúcido, 9,6 W/m, 912 lm/m, 3.000 K, escondidos<br />
em ambos os lados dos nichos. Na linha do forro, o sistema<br />
compostos de perfil estrutural de borda infinita abriga perfis de<br />
LED com difusor translúcido, 10,8 W/m, 1.200 lm/m e 2.700 K.<br />
50 51
52 53
O layout dos espaços corporativos é segmentado em<br />
dois ambientes, cada qual para o uso de uma marca. A paleta<br />
de acabamentos segue com tonalidades sóbrias e mobiliário de<br />
linhas simples e ortogonais. Nas áreas de staff, o desenho do<br />
forro, de nuvens acústicas suspensas sob a laje, é ordenado pela<br />
distribuição das bancadas de trabalho. Intercalados entre elas e<br />
diretamente sobre as bancadas, pendentes lineares as iluminam<br />
de maneira difusa e uniforme.<br />
Nas salas executivas e de reuniões, alinhadas em toda<br />
a extensão do staff, as paredes do fundo foram destacadas<br />
por detalhe de iluminação indireta, e os planos de trabalho,<br />
por luminárias embutidas com fonte luminosa recuada ou por<br />
pendentes decorativos. As salas de reuniões maiores seguem os<br />
princípios dos demais ambientes, com iluminação para destaque<br />
das paredes, por meio de sancas, luminárias embutidas e<br />
pendentes decorativos.<br />
Nas áreas de descanso e copa, luminárias pendentes<br />
de diferentes diâmetros flutuam sob a laje com instalações<br />
aparentes, pintados na cor da Richemont. Sobre as mesas altas<br />
da copa e do break room, pendentes decorativos de meia esferas<br />
luminosas completam o projeto.<br />
RICHEMONT<br />
São Paulo<br />
Projeto de iluminação:<br />
Estúdio Carlos Fortes<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Gingaa Estúdio<br />
Fornecedores:<br />
Ana Neute (Itens Collections),<br />
Lightsource, Lumini, Luxion e Stella<br />
As salas de reuniões são iluminadas por luminárias embutidas<br />
no forro 12,5 W, 38°, 974 lm, 2.700 K, iluminação periférica<br />
na linha do forro, por meio de sancas para iluminação difusa,<br />
semelhante à das salas da recepção, e pendentes decorativos.<br />
Na sala de staff, sistema linear pendente de LED com 2.240 mm<br />
de comprimento, 68 W, 5.808 lm, 3.000K.<br />
Nas áreas de descanso foram especificadas luminárias circulares<br />
com 600 mm, 800 mm e 1.200 mm de diâmetro e 5.040 lm,<br />
10.080 lm, 16.800 lm de fluxo, respectivamente, e 3.000 K.<br />
54 55
SÃO CINCO<br />
OS SENTIDOS?<br />
Texto: Diogo de Oliveira<br />
Fotos: André Klotz<br />
A loja de colchões Zissou abriu recentemente nos Jardins,<br />
em São Paulo, e trouxe algumas direções para questões centrais<br />
do nosso tempo. Qual é a função de uma loja física em tempos<br />
de comércio eletrônico e de medidas de distanciamento social.<br />
Como oferecer ao cliente envolvimento com a marca, vivido<br />
apenas presencialmente e com o produto. Como a experiência<br />
do sono e do sonho nos conecta com a natureza, com nossa<br />
realidade sensorial e metabólica, com o autocuidado e com<br />
nossa saúde. E finalmente, como os projetos de arquitetura e<br />
de iluminação lidam com essas questões na produção de um<br />
espaço–experiência.<br />
56 57
Um pouco como uma das etapas do sono, não tão acessível,<br />
no fundo do pavimento térreo há um quarto reservado “para<br />
sonhar”: uma instalação imersiva de luz, realizada em parceria<br />
com o coletivo de arte Modular Dreams, que é composta de<br />
colchão, som e piso de palha contra o carpete, o que resume a<br />
intenção do projeto e da experiência com a marca.<br />
Nos percursos de experiência dos clientes pela loja estão<br />
expostos produtos derivados dos colchões, além das camas<br />
dispostas para que o público se deite e aprecie suas densidades.<br />
A vista do teto faz parte da fruição, com retângulos de papelão<br />
ou luminárias de acrílico, no mesmo formato.<br />
A LOJA<br />
Em uma casa típica da região, um sobrado singelo que,<br />
assim como os vizinhos, já serviu um dia de residência familiar,<br />
o espaço foi organizado pelo escritório de arquitetura Estúdio<br />
Guto Requena, baseado em percursos de experiência de clientes,<br />
um a um. Entramos sem sapatos, o primeiro sinal do partido do<br />
projeto: o apelo sensorial ampliado.<br />
As cores da marca organizam a divisão dos dois espaços à<br />
primeira vista: o pavimento térreo é pintado do piso às paredes<br />
na cor coral, e o superior e o teto, em azul. Os revestimentos, no<br />
entanto, acentuam o contraste de tons: o coral no carpete e nas<br />
caixas de papelão desniveladas de parte das paredes; e o azul nas<br />
caixas de papelão até cobrir todo o teto. Papelão, vale lembrar,<br />
como as caixas em que os colchões chegarão à casa dos clientes.<br />
São apresentados na loja dois tipos de colchão: o coral e o blue.<br />
Logo na entrada, a primeira cama, do tipo coral, está ali<br />
para que o cliente deixe seu peso ao deitar comunicar sobre<br />
a densidade das camadas do colchão. E a posição deitada é<br />
também contemplada no campo de visão, com a extensa<br />
composição de retângulos ora de papelão, ora de luminárias<br />
de teto.<br />
Uma escada branca nos eleva ao mezanino azul, onde está o<br />
colchão do tipo blue, e novos ângulos deitados de visão podem<br />
ser apreciados, agora mais próximos das composições do forro<br />
e com acesso à vista mais ampla do conjunto da loja.<br />
No percurso, os produtos derivados dos colchões seguem<br />
o mesmo apelo aos sentidos: travesseiros, fronhas com suas<br />
camadas e seus tecidos, aromas de ambiente, tudo ao alcance<br />
das mãos e da face.<br />
58 59
A ILUMINAÇÃO<br />
O projeto de iluminação executado pelo escritório Foco Luz<br />
& Desenho atendeu a três desafios principais: prazo curto, custo<br />
restrito e inovação ampliada.<br />
Os objetivos eram dar o devido destaque tanto aos produtos<br />
que são carros-chefes da marca, as camas, quanto às mesas<br />
de atendimento, o que foi alcançado por meio de luminárias<br />
pontuais; e produzir iluminação difusa, em consonância com o<br />
conforto dos percursos de experiência dos clientes.<br />
A iluminação difusa parte de alguns recursos principais:<br />
linhas minimalistas de perfis de LED sobrepostos ao forro que<br />
direcionam os clientes desde a entrada da loja até o fundo dela (e<br />
ao Quarto para sonhar); iluminação linear integrada nos volumes<br />
retangulares das paredes; luminárias retangulares nas mesmas<br />
dimensões no teto, também de perfil de LED, aqui embutido no<br />
acrílico branco; nichos iluminados por perfis de LED embutidos<br />
na parte superior dos expositores; e, finalmente, a escada, cuja<br />
iluminação vem de perfis integrados nos corrimãos.<br />
SENTIDOS<br />
Desse modo, os percursos conduzidos pelos consultores<br />
de experiência na Casa Zissou tornaram-se possíveis pelas<br />
arquiteturas física e de iluminação, atualizando os sentidos do<br />
varejo e a relação de clientes com a marca e de produtos com a<br />
natureza dos clientes. Com sua fisiologia. Com seu metabolismo.<br />
A iluminação em perfis de LED integrados nos corrimãos da<br />
escada é um dos recursos para produzir luz difusa e confortável.<br />
No Quarto para sonhar, uma instalação imersiva resume a<br />
intenção do projeto e da experiência com a marca.<br />
CASA ZISSOU<br />
São Paulo<br />
Projeto de iluminação:<br />
Foco Luz & Desenho<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Estúdio Guto Requena<br />
Instalação ‘Quarto para sonhar’:<br />
Modular Dreams<br />
Cenografia e obra:<br />
GTM Cenografia<br />
Fornecedores:<br />
LD Arti<br />
60 61
Quem passa pela Rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros,<br />
São Paulo, quase não percebe uma água de telhado feita de<br />
tábuas enegrecidas e justapostas, cobrindo a discreta entrada<br />
do restaurante Kotori.<br />
Inaugurado em fevereiro deste ano, o local teve sua<br />
ambientação baseada numa ideia de “imersão no imaginário<br />
cultural do Japão”, nas palavras do arquiteto Guile Amadeu,<br />
um dos autores do projeto. Conjuntos de peças em pinus,<br />
amarradas e encaixadas entre si conforme a técnica japonesa,<br />
são montados como cenários num palco. O washi, papel<br />
especial feito de fibras dos arbustos Kozo, Gampi e Mitsumata,<br />
foi também inspiração para o desenho de alguns elementos<br />
de fechamento do mobiliário do salão, incorporando a ideia de<br />
leveza dessa técnica milenar.<br />
Mas é a luz o outro elemento importante da composição<br />
dos interiores, seja ao valorizar as superfícies desse jogo de<br />
armar, seja se infiltrando através do papel washi, ou mesmo<br />
atendendo à expressa demanda do proprietário e chef<br />
Thiago Bañares, de manter os pratos dos clientes facilmente<br />
fotografáveis, conforme explica o arquiteto Marcos Castilha,<br />
lighting designer desse projeto.<br />
IMERSÃO EM<br />
CENÁRIOS LUMINOSOS<br />
Na página anterior, perfis de LED 4,8 W/m, 2.700 K, IRC > 80<br />
iluminam os painéis inclinados em madeira. Atrás dos sarrafos,<br />
uma barra de LED 800 lm/m, 2.700 K, IRC > 80, dimerizável<br />
ilumina de baixo para cima.<br />
Abaixo, a entrada do estabelecimento.<br />
Texto: Gilberto Franco<br />
Fotos: Rubens Kato<br />
62 63
Logo à entrada vemos um pequeno salão com duas mesas<br />
e um conjunto de pendentes de papel plissado, dando boasvindas<br />
aos clientes. À direita, um balcão defronte ao vidro da<br />
fachada abriga os primeiros comensais, que podem desfrutar a<br />
vista externa. Em seguida, o sushi bar, composto de um balcão<br />
em “U”, coberto por duas fileiras de prateleiras, e de onde já se<br />
pode avistar o salão maior, este coberto por uma interessante<br />
estrutura de planos em “V” invertido, tudo sempre em madeira<br />
pinus. O fundo do lote abriga a cozinha, exposta aos clientes,<br />
bem como as demais áreas operacionais.<br />
Sobre o balcão da fachada, um perfilado metálico abriga<br />
microprojetores teatrais com luz para baixo, que garantem<br />
a iluminação do tampo. Já as prateleiras sobre o sushi bar<br />
iluminam umas às outras, sempre da mais baixa para a mais alta,<br />
por meio de barras de LED apontadas para cima e nunca visíveis.<br />
As prateleiras inferiores, por sua vez, recebem luminárias de<br />
espessura mínima incrustadas na madeira, destinadas a iluminar<br />
o tampo do balcão do bar.<br />
No salão do fundo, os “V” invertidos são iluminados por<br />
iluminação indireta, formando um delicado conjunto luminoso.<br />
O recurso de se utilizar fontes de luz lineares aninhadas na<br />
própria madeira é, aliás, um tema encontrado ao longo de todos<br />
os cenários. Nos vértices, um microprojetor de teatro igual ao já<br />
descrito garante a iluminação – e a boa foto – dos pratos servidos.<br />
No sentido horário: além da iluminação indireta, microprojetores<br />
do tipo “cênico”, para lâmpadas MR16 7 W, 15°, 3.000 K,<br />
IRC > 80, dimerizáveis iluminam os tampos de mesa, tornando<br />
os pratos “instagramáveis”.<br />
Luminárias difusas 2 W, 120 lm, 3.000 K embutidas na<br />
marcenaria iluminam balcão e prateleiras. Perfis de LED<br />
4,8 W/m 2.700 K, IRC > 80 iluminam a frente do balcão. Os<br />
quadros foram intencionalmente deixados sem luz. Toda a<br />
iluminação é dimerizada manualmente, variando de intensidade<br />
entre o almoço e o jantar.<br />
As paredes laterais, que têm na parte superior um painel<br />
de papel washi, estruturado por sarrafos verticais de madeira,<br />
recebem iluminação backlight de uma barra de LED. Abaixo<br />
dessa estrutura, as obras de arte são percebidas apenas pela<br />
luz refletida do ambiente, o que as deixa livres de clarões ou<br />
sombras indesejadas. Os interstícios que separam os diferentes<br />
cenários são sempre complementados por perfilados que<br />
sustentam microprojetores, ora iluminando o piso com fachos<br />
mais abertos, ora focados em pontos de interesse.<br />
Ao fundo, a cozinha – exposta aos clientes – constitui-se de<br />
uma ilha central com coifa e reflete “todo o processo de concepção<br />
do chef”, nas palavras de Guile. Uma linha de luminárias em “O”<br />
em 3.000 K em torno dessa coifa traduz essa clareza funcional.<br />
Todo o conjunto foi dimerizado, de forma a permitir a<br />
adequação aos diferentes momentos do dia, sejam almoços<br />
movimentados, sejam jantares tardios.<br />
RESTAURANTE KOTORI<br />
São Paulo<br />
Projeto de iluminação:<br />
Castilha Iluminação<br />
Marcos Castilha (arquiteto titular)<br />
Brenda Lelli (arquiteta coordenadora)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Coletivo de Arquitetos<br />
Arquiteto Guile Amadeu e Rodrigo<br />
Lacerda (arquitetos titulares)<br />
Luna Viana (arquiteta coordenadora)<br />
Cliente:<br />
Thiago Bañares<br />
Fornecedores:<br />
Finder, Interligh, Ledplus, Mecalux,<br />
Mel Kawahara e Stella<br />
64 65
CASA, GALERIA, NATUREZA<br />
E HARMONIA<br />
Texto: Débora Torii | Fotos: Maíra Acayaba<br />
Se todos os projetos fluíssem assim tão bem...<br />
Quando o lighting designer Guinter Parschalk foi convidado<br />
por um cliente amigo de longa data para mais um projeto,<br />
não imaginava que a experiência seria tão rica e prazerosa. O<br />
projeto de iluminação para a nova residência de férias da família<br />
na Fazenda Morro Alto, no interior de São Paulo, tinha tudo<br />
para ser complexo: a parceria inédita com o arquiteto Alfredo<br />
Barbosa, autor do projeto; o programa extenso, que incluía um<br />
estúdio de música, uma cozinha industrial e uma biblioteca,<br />
relacionados às áreas de atuação dos três filhos do proprietário<br />
(música, gastronomia e administração); uma vasta coleção<br />
de obras de arte a ser exposta por toda a casa – incluindo nas<br />
áreas externas – e, por fim, o desejo de que fosse um projeto<br />
sustentável e energeticamente eficiente.<br />
Deu tudo certo. E a integração entre todas as equipes de<br />
projeto, incluindo a designer de interiores Lucia Ravache e o<br />
paisagista Luciano Fiaschi, foi essencial para o bom resultado.<br />
A confiança do cliente no trabalho de Guinter e da equipe do<br />
escritório studioix, do qual é titular, também fez toda a diferença.<br />
Praticamente com carta branca em mãos, os lighting designers<br />
puderam aplicar soluções não convencionais para esse tipo de<br />
projeto, como o uso de equipamentos com tecnologia branco<br />
dinâmico, para controle da temperatura de cor nas áreas sociais,<br />
e a iluminação RGB no home theater.<br />
A linguagem limpa da arquitetura favorece a integração com<br />
a natureza por meio das aberturas amplas e dos extensos<br />
panos de vidro.<br />
A iluminação sutil do paisagismo no entorno imediato da<br />
casa contribui com sua inserção na paisagem da fazenda.<br />
66 67
A premissa da sustentabilidade – motivada pelo perfil<br />
ambientalista de um dos filhos do proprietário – evoluiu para o<br />
desejo de certificar o projeto por meio do Selo Aqua, levando a<br />
equipe do studioix à realização de cálculos luminotécnicos de<br />
praticamente todos os ambientes da residência, o que também<br />
não é um procedimento comum para essa tipologia de projeto.<br />
Além da eficiência energética, outro elemento determinante<br />
para a escolha dos equipamentos de iluminação das áreas<br />
sociais foi a materialidade do forro, constituído de ripas de<br />
madeira com diferentes tonalidades, seções e espaçamentos.<br />
Os lighting designers optaram por uma linha de equipamentos<br />
miniaturizados, que se encaixasse no menor espaçamento<br />
existente e oferecesse variedade em opções de fachos e fluxos<br />
luminosos. Ainda assim, foram necessários ajustes finos in loco,<br />
para evitar a ocorrência de sombras ou manchas por causa da<br />
configuração irregular do forro.<br />
As áreas sociais da residência foram iluminadas<br />
predominantemente por projetores miniaturizados com<br />
LED 6 W, 50˚, 2.700 K, embutidos entre as ripas de madeira<br />
do forro. Em alguns ambientes optou-se por equipamentos com<br />
tecnologia tunable white, com temperatura de cor ajustável<br />
entre 2.700 K e 5.700 K.<br />
Para o destaque das obras de arte foram utilizados projetores<br />
orientáveis fixados em trilhos eletrificados, aplicados entre ripas.<br />
68 69
O projeto de arquitetura é marcado pela estrutura metálica<br />
esbelta e pelos amplos beirais de madeira, priorizando a<br />
conexão com a natureza por meio da predominância dos planos<br />
de vidro – o que também favorece a ventilação natural dos<br />
ambientes. Dessa forma, o cuidado com a iluminação do espaço<br />
externo foi essencial, de forma a criar vistas agradáveis durante<br />
a noite, porém sem destoar da escuridão natural da paisagem do<br />
restante da fazenda, ao fundo.<br />
A linguagem limpa da arquitetura permite que as obras<br />
de arte sejam as protagonistas. A vasta coleção de pinturas,<br />
esculturas, mobiliário e outros itens predominantemente<br />
brasileiros – incluindo três “cavaletes de cristal” originais do<br />
Masp – levou à escolha de sistemas de iluminação flexíveis,<br />
como projetores orientáveis em locais estratégicos, para<br />
ambientes em que as obras seriam definidas somente após a<br />
conclusão do projeto.<br />
O terreno contava originalmente com uma grande quantidade<br />
de pedras e rochas de grande porte que foram incorporadas<br />
ao projeto de arquitetura e ao de paisagismo.<br />
Dentre as inúmeras obras de arte em exibição, diversas<br />
luminárias decorativas compõem os interiores da residência.<br />
Um dos destaques é o pendente-escultura Coordinates,<br />
criado pelo designer Michael Anastassiades para a Flos.<br />
A configuração da peça instalada na sala de jantar foi<br />
desenhada especialmente pelo próprio designer para esse<br />
projeto, adaptada para a aplicação – até então inédita – em<br />
um ambiente residencial.<br />
70 71
RESIDÊNCIA FAZENDA<br />
MORRO ALTO<br />
São Paulo<br />
Acima, a escultura 30-45, criada por Guinter Parschalk, cujo<br />
título apresenta os ângulos de rotação da chapa espelhada de<br />
aço inox fixada dentro do espelho d’água.<br />
À direita, a escultura de mármore inspirada na lua, cujo relevo<br />
foi ressaltado por meio de dois projetores orientáveis com LED<br />
de facho concentrado, dotados de filtros para diferenciar suas<br />
temperaturas de cor.<br />
Projeto de iluminação:<br />
studio ix<br />
Guinter Parschalk (arquiteto titular)<br />
Thais Longhini Barbeiro<br />
(arquiteta coordenadora)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Alfredo Barbosa Arquitetura e Urbanismo<br />
Alfredo Barbosa (arquiteto titular)<br />
Projeto de interiores:<br />
Lucia Ravache Arquitetura e Interiores<br />
Lucia Ravache (arquiteta titular)<br />
Projeto de paisagismo:<br />
LF Arquitetura Paisagística<br />
Luciano Fiaschi (arquiteto titular)<br />
Execução:<br />
Atai Engenharia<br />
Certificação:<br />
Inovatech Engenharia<br />
Automação:<br />
Steluti Engenharia<br />
Execução escultura 30-45:<br />
Móveis Fenix<br />
Fornecedores:<br />
Dimlux (DCW éditions), e:light<br />
(Artemide, Davide Groppi, Embraluz,<br />
Erco, Flos, Foscarini, Moooi, Tensoflex,<br />
Vibia), Fasa Fibra Ótica, Lightsource,<br />
Lutron, Luxion, Osvaldo Matos (iGuzzini,<br />
O/M), Varuzza (Carl Thore)<br />
Algumas esculturas, no entanto, foram escolhidas<br />
previamente, como a escultura de mármore que remete à<br />
lua, iluminada por meio de dois projetores orientáveis com<br />
diferentes temperaturas de cor, com o objetivo de destacar o<br />
relevo da peça, simulando um efeito de luz e sombra por meio<br />
da diferença de cor da luz em sua superfície.<br />
Resgatando o início de sua vida profissional como artista<br />
plástico, o próprio Guinter assina uma das esculturas exibidas<br />
na área externa da residência. A obra 30-45 remete à ideia de<br />
movimento por meio de uma grande placa revestida de aço<br />
inox espelhado, cravejada no espelho d’água, que reflete o<br />
movimento do sol e das nuvens ao longo do dia.<br />
72 73
VISITA AO ATELIER<br />
DE JAC LEIRNER<br />
Texto: Emilia Ramos e Fernanda Carvalho<br />
Fotos: Nelson Kon<br />
Foi uma visita para conhecer o trabalho de iluminação de Gil<br />
Franco para o ateliê de Jac.<br />
A artista Jac Leirner é conhecida por seu trabalho meticuloso,<br />
quase obsessivo, de coleções de coisas peculiares e particulares.<br />
Era noite. Na chegada, abriu-se a porta de ferro grande da<br />
calçada, e entramos em um ambiente com piso escuro de pedra<br />
iluminado apenas pelas sobras de luz da rua. Uma segunda<br />
porta se abriu para outro ambiente, branco.<br />
No pé-direito duplo do galpão, uma linha que estrutura dois<br />
efeitos luminosos: luz indireta linear banhando a cobertura<br />
metálica e luz direta, por meio de projetores em trilho<br />
eletrificado, reforçando os planos de trabalho e banhando<br />
as paredes.<br />
74 75
Ficamos um tempo no espaço, criado como um grande galpão<br />
único, com telhado metálico de duas águas, descentralizado,<br />
com um shed que ventila e ilumina naturalmente. Não tivemos<br />
a oportunidade de ver o espaço banhado pela luz natural. Esse<br />
lugar branco abriga um móvel-ambiente-mezanino de madeira.<br />
Exploramos o móvel, observando de perto, de longe, por dentro,<br />
por cima, contando e encontrando detalhes. Lembrava o interior<br />
de um avião, talvez pelos carrinhos “roubados” e apropriados pela<br />
artista, ou talvez pelo desenho detalhado dos usos planejados.<br />
Perguntamos a Jac o que ela queria daquele espaço, e ela<br />
sorriu. Disse que era tudo o que queria, estava feliz com o seu<br />
espaço, e a luz era exatamente como imaginou. Era perceptível<br />
na fala de Jac uma confiança linda no trabalho do amigo Gil.<br />
Contou-nos que o ateliê é lugar de trabalho e de receber gente.<br />
E foi exatamente isso que aconteceu.<br />
Ficamos ali sentados, conversando da vida e envolvidos<br />
pela luz calma e, ao mesmo tempo, curiosa. Os objetos,<br />
meticulosamente criados e colocados na parede, não tinham<br />
sombras definidas; pareciam flutuar na luz. Ficamos acolhidos<br />
e à vontade ali.<br />
O galpão branco recebe luz em toda a sua casca, e os<br />
elementos da ocupação interna – móvel-mezanino, mesa<br />
de trabalho e outros mobiliários – estão soltos no espaço. A<br />
luz difusa e homogênea contribui para essa flutuação, sem<br />
enfatizar nenhum dos elementos.<br />
Foi uma surpresa: ao entrar, vimos a luz. Simples. Sofisticada.<br />
Delicada.<br />
Um veludo de luz clara com poucos brilhos e destaques.<br />
Invisível, escondida atrás das estruturas do telhado, e integrada<br />
às terças de aço, iluminando o teto e o ar. Tudo foi resolvido em<br />
um ponto do corte. “Tudo aqui é clareza, a luz é muito clara, a<br />
arquitetura é muito clara. E isso de resolver tudo de um ponto só<br />
é muito minha cara!”, fala Gil.<br />
Uma linha de luz linear direta complementa a iluminação na<br />
parte de cima do móvel-mezanino. O encontro entre os três<br />
efeitos de luz no teto é equilibrado, integrando os espaços.<br />
A colocação dos equipamentos de luz e dos demais elementos<br />
de instalações no teto é bem resolvida. Não há competição<br />
ou interferência visual de um elemento sobre o outro. São<br />
independentes e autônomos.<br />
76 77
Acima, o belo contraste entre o branco e o preto, a luz e a<br />
sombra.<br />
Ao lado, vemos como Gil resolveu de forma extremamente<br />
simples a luz dos ambientes.<br />
Na conversa, que passou por assuntos dos mais diversos,<br />
Gil nos contava que a luz foi criada para integrar o espaço, e não<br />
para aparecer. Os ângulos da peça linear foram meticulosamente<br />
desenhados para a justa inclinação… Tudo tem uma incrível<br />
precisão. Mas ele mesmo pareceu surpreso ao ver o resultado de<br />
seu projeto de luz, contornando as obras de forma tão mágica.<br />
Um dia desses ouvimos de um amigo arquiteto que “luz tem<br />
opinião”, e aqui ela parece estar totalmente à vontade, decidindo<br />
seus caminhos.<br />
Foi um prazer conhecer a luz de Gil para Jac.<br />
Sob o móvel-mezanino, uma única linha preserva a fresta entre<br />
o móvel e a parede e deixa a aba de madeira livre, ressaltando a<br />
laje em balanço. Dessa posição, ilumina a circulação e espaços<br />
de apoio de forma direta e difusa.<br />
78 79
ESTÚDIO JAC LEIRNER<br />
São Paulo<br />
Projeto de iluminação:<br />
franco+berriel<br />
Gilberto Franco e Livia Berriel<br />
(arquiteto e arquiteta titulares)<br />
Gabriela Pera (arquiteta coordenadora)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
MMBB<br />
Marta Moreira (arquiteta titular)<br />
Cliente:<br />
Jac Leirner<br />
Fornecedores:<br />
Interlight e Omega Light<br />
80 <strong>81</strong>
FOTO LUZ FOTO<br />
MAÍRA ACAYABA<br />
Escolhi esta foto pois a iluminação é protagonista na imagem.<br />
Procuro sempre fazer enquadramentos frontais, a fim de não<br />
distorcer os ambientes e centralizar motivos importantes, como<br />
a bancada de mármore, nesse caso.<br />
Sempre trabalho na temperatura de cor da imagem e<br />
também retiro elementos que criam ruídos e podem desviar<br />
o olhar do que importa: o que é o projeto em si. Nesse caso,<br />
retirei uma barreira acrílica para a proteção contra a covid-19<br />
e os alarmes de incêndio.<br />
Um dos desafios para a realização desta imagem foi bloquear<br />
a porta automática de vidro da entrada, para que eu pudesse me<br />
posicionar de frente para a bancada.<br />
Utilizei uma câmera Canon EOS 5D Mark IV, objetiva<br />
17 mm, Tilt Shift.<br />
Maíra Acayaba, 1980, vive e trabalha em São Paulo.<br />
Ao longo dos últimos 15 anos, construiu um sólido trabalho<br />
como fotógrafa de arquitetura brasileira. A preocupação com o<br />
enquadramento formal, a perspectiva de um ponto de fuga e a<br />
eliminação de qualquer ruído para que permaneça o elemento<br />
arquitetônico principal dão a tônica ao seu trabalho.<br />
É convidada a ministrar cursos e palestras em universidades,<br />
no Sesc e em museus, como o Masp. Em 2016, publicou o<br />
livro Bold and Bright – casas brasileiras, pela editora inglesa<br />
Ryland Peters & Small.<br />
Publicou o guia online de arquitetura em São Paulo SP2014.<br />
net, que foi apresentado na X Bienal de Arquitetura, com o<br />
Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich).<br />
Seu trabalho pode ser acompanhado em diversas publicações<br />
nacionais e internacionais, revistas e livros, em websites e em<br />
exposições pelo mundo.<br />
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