R$25,00
CASA ZISSOU (SÃO PAULO)
FLUXOS DE PENSAMENTOS | RICHEMONT (SÃO PAULO) | RESTAURANTE KOTORI (SÃO PAULO) | RESIDÊNCIA
FAZENDA MORRO ALTO (SÃO PAULO) | ESTÚDIO JAC LEIRNER (SÃO PAULO) | FOTO LUZ FOTO: MAÍRA ACAYABA
LED Lighting Solutions
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SUMÁRIO
2˚ semestre 2021
edição 81
46
50
56
62
66
74
82
8
¿QUÉ PASA?
46
FLUXOS DE PENSAMENTOS
Ensaio de Diana Joels
50
RICHEMONT
56
62
66
74
82
CASA ZISSOU
São cinco os sentidos?
RESTAURANTE KOTORI
Imersão em cenários luminosos
RESIDÊNCIA FAZENDA MORRO ALTO
Casa, galeria, natureza e harmonia
ESTÚDIO JAC LEIRNER
Visita ao Atelier de Jac Leirner
FOTO LUZ FOTO
Maíra Acayaba
4
EDITORIAL
CAPA
Iluminação: Foco Luz & Desenho
Foto: André Klotz
PUBLISHER
Thiago Gaya
EDITOR-CHEFE
Orlando Marques
EDITORA
Débora Torii
AOS POUCOS
Aos poucos os espaços voltam a ser ocupados. O dia a dia ganha cores,
sorrisos, calor, abraços. Aos poucos retomamos mesmo que nada mais seja
como antes.
Neste espírito trazemos nesta edição o segundo ensaio da lighting
designer e educadora Diana Joels, “Fluxos de Pensamentos” – o mesmo
nome dado ao bate-papo aberto realizado como desdobramento de seu
primeiro ensaio, publicado na edição 80 da L+D, e que provocou novos fluxos
e pensamentos.
Essa energia de renovação também nos inspirou a convidar a equipe da
LD Studio para contar, no ¿Qué Pasa? duplo, um pouco sobre os bastidores
do projeto para a renovação do teatro do Hotel Belmond Copacabana Palace,
recém reinaugurado.
Apresentamos também o projeto de iluminação da Foco Luz & Desenho
para a loja de colchões Zissou, capa desta edição; o escritório da Richemont
em São Paulo, iluminado pelo Estúdio Carlos Fortes; o restaurante Kotori, com
projeto de iluminação do Castilha Iluminação; a residência na Fazenda Morro
Alto, no interior de São Paulo, iluminada pelo studio ix; e o relato da visita ao
Estúdio Jac Leirner, com projeto de iluminação assinado por franco+berriel.
Esta edição da L+D circula concomitantemente à realização do
LEDforum.21, em formato digital. Esperamos que em 2022 possamos nos
reunir pessoalmente.
O retorno acontece aos poucos, mas a expectativa é perene.
DIAGRAMAÇÃO
Maria Fraga
PROJETO GRÁFICO
Thais Moro
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO
Débora Torii, Diana Joels, Diogo de Oliveira,
Emilia Ramos, Equipe LD Studio, Fernanda
Carvalho, Gilberto Franco, Orlando Marques
REVISÃO
Débora Tamayose
CIRCULAÇÃO E MARKETING
Márcio Silva
T 11 3062.2622
PUBLICADA POR
Lumière Mídia
Rua Catalunha, 350, 05329-030
São Paulo SP, T 11 3062.2622
www.editoralumiere.com.br
Boa leitura!
6
experience room: avenida dos tajurás, 152 cidade jardim são paulo | 11.3062 7525 | goelight.com.br
¿QUÉ PASA?
BIOCÊNTRICO
TORN
GAP
© 2021 Olafur Eliasson, Mark Niedermann, Pati Grabowicz.
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
8
A Fundação Beyeler apresentou em Base, na Suíça, a
primeira instalação in situ do artista Olafur Eliasson, intitulada
Life. O trabalho une o espaço do museu, o parque onde está
localizado, a paisagem urbana e a natureza de tal forma que
se apresenta como algo que se desenvolve constantemente,
gerando um diálogo entre todas essas esferas e esmaecendo a
separação entre cultura e natureza.
“Nos últimos anos, tenho cada vez mais me interessado nos
esforços para considerar a vida não de uma perspectiva centrada
no ser humano, mas de uma perspectiva ampla e biocêntrica.
Eu me peguei transformando substantivos em verbos – quando
analiso minha exposição, tento fazer uma árvore, por exemplo –
a fim de tomar consciência de perspectivas que vão além do que
nós, humanos, podemos imaginar adequadamente.”
Life é o modo de o artista abrir mão do controle sobre as
obras de arte e passá-lo, de certa forma, aos visitantes humanos
e aos não humanos, incluindo plantas, microrganismos, clima
etc. Em outras instalações, esses elementos são mantidos
isolados das obras de arte para não danificá-las. Aqui não há
como separá-los. (O.M.)
Atelier Jac Leirner
Lighting Design: Franco + Berriel lighting design
Arquitetura: MMBBB Arquitetura
Fotografia: Nelson Kon
@omega_light
www.omegalight.com.br
¿QUÉ PASA?
BELEZAS APAGADAS
NIX-M T-FLEX
projetor orientável para trilho
eletrificado, led IRC≥92 é uma
característica do nosso padrão de
fornecimento.
Letícia Poyares, Lucas Schwab e Amanda Silveira
fotografia Leonardo Finotti
CCBB - Exposição “A Terceira”
São Paulo
Marcia de Moraes, artista plástica
Estúdio Carlos Fortes
apoio Lightsource
SIGMA
sistema de perfil para acabamento
e iluminação de sanca.
BETA
A lighting designer e artista baiana Priscila Pacheco transitou
nos últimos anos entre Brasil e Chile, em escritórios e escolas
de arquitetura e iluminação, e atualmente cursa mestrado em
Arte e Design para o Espaço Público na Universidade do Porto,
em Portugal.
Desse curso surgiu o desafio de criar um projeto artístico
em área pública. O desafio maior, no entanto, viria a seguir: a
pandemia da covid-19 alastrada pelo mundo, o Brasil entre os
líderes mundiais de mortes por milhão de habitantes, muitas
evitáveis, e a população dividida por uma severa crise ética e
coletiva, vivendo um luto disforme.
Como criar qualquer coisa nesse contexto? Como se
contrapor à paralisia diante da crise, diante da morte? Como
sublinhar o fato de que cada perda significa afetos, memórias e
relações interrompidas?
Dessas angústias surgiu a obra, uma instalação performativa
que usa a luz do fogo para ativar memórias afetivas e lançar luz
sobre as vidas perdidas, para ser montada em espaço público,
coletivo e compartilhado como o sentimento que o trabalho
provoca, de dor pelas mortes em massa dos mais vulneráveis,
uma a uma.
A instalação consiste em cem lanternas de vidro e vela que
refletem no chão, ao redor, palavras que nomeiam as relações
entre os mortos e os que ficam.
Irmão. Mãe. Amigo. Avó...
Cada chama será apagada durante a performance, tendo
seu oxigênio cortado, em uma referência à respiração.
O trabalho foi apresentado em junho deste ano, na
Praça Cívica de Vila Nova de Gaia, ao entardecer, ao som da
canção “Lágrimas negras”, de Jorge Mautner, que diz: “Belezas
são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas
pelo sofrimento”. (D.O.)
fotografia Maíra Acayaba
perfil com difusor para fita led.
VEGA-LINE-D
pendente linear com iluminação
difusa downlight.
Escritório Richemont do Brasil
São Paulo
Cafcalas Estúdio
Estúdio Carlos Fortes
10
São Paulo SP Brasil www.lightsource.com.br @lightsource_lighting
por Studio Luxion
James Newton
Uma peça portátil e com diferenciais
marcantes: a luz pode ser controlada
através da mobilidade de sua cúpula,
revelando e alterando sua forma,
tornando a luminária uma
coluna iluminada.
¿QUÉ PASA?
ABADIA DE BATH
A história de abadia beneditina de Bath, situada na Inglaterra,
remonta ao século VI, mas o edifício com a aparência que tem
hoje data do século XV. Em 2021, o mais recente restauro desse
que é um dos principais exemplos da arquitetura gótica inglesa
foi concluído, em um projeto com custo próximo a 20 milhões
de euros.
Além de abrigar os fiéis com conforto e segurança
renovados, o projeto de restauro e de iluminação abre a abadia
para usos mais flexíveis, como turismo e eventos. Para isso, foi
instalado um sistema de aquecimento hidráulico, baseado em
princípios sustentáveis, sob o piso do edifício.
O projeto de iluminação, a cargo do escritório Michael Grubb
Studio, ao mesmo tempo que destaca os elementos históricos da
arquitetura, possibilita os novos usos, com cenas diversas para
eventos, sem perder a atmosfera de devoção própria da catedral.
Nos níveis mais altos, pontos de luz situados logo abaixo das
janelas destacam os ornamentos: coroas e abóbadas em forma
de leque, que são a marca dessa abadia. No nível intermediário, a
iluminação sublinha os adornos em pedra de Bath. Monumentos
e tumbas ganham luz específica para suas formas, assim como
o lustre vitoriano, atualizado com LED. Todo o sistema de
iluminação é controlado digitalmente e permite operar cada
lâmpada, uma a uma. (D.O.)
12 @luxion_
www.luxion.com.br
contato@luxion.com.br
Marcella Campa
¿QUÉ PASA?
CHÁ E CENA
A casa de chá e padaria théATRE reúne o chá e o teatro não
apenas em seu nome, mas também no projeto do espaço. A
casa, localizada em Xangai, China, foi projetada pelo escritório
Ramoprimo, em uma área relativamente pequena: 50 m 2 de loja,
mais 60 m 2 de área externa.
Os elementos cenográficos começam no forro, preenchido
por uma escultura de lâminas de aço em curva. O que o espaço
da loja não oferece em área compensa em altura, em três
níveis: o mais alto abriga o elemento escultórico, inspirado no
movimento da água do chá e intensificado pelo caráter reflexivo
do material, sensível à luz e às cores; o médio, com cozinha
aberta cujos principais materiais são aço e cerâmica, simula um
laboratório, no qual precisão e limpeza podem ser observados
durante o processo de elaboração das massas; já o nível mais
baixo é onde fica o salão, na mesma linguagem de cores e
texturas, mas com acréscimo do mármore azulado, cuja textura
granulada confere efeitos diversos de acordo com a variação
da luz. Um pátio completa o ambiente da loja, inspirado nos
terraços das fazendas de chá. (D.O.)
14
¿QUÉ PASA?
ENTRE REINOS
O restaurante de frutos do mar XU JI (Land Kylin), com área
de 1.256 m 2 , projeto do escritório de arquitetura Daxiang, fica
em Changsha, na província de Hunan, China.
No entanto, o partido desse projeto é esmaecer as fronteiras
entre espaço e tempo, Oriente e Ocidente, realidade e fantasia,
sono, sonho e vigília. Como em uma densa floresta, em que não
se consegue distinguir claramente os elementos, o restaurante
sugere um percurso imersivo, com experiências diversas
vivenciadas por meio do design. Das atmosferas. Da iluminação.
Localizado no quarto andar do W Hotel, a entrada da casa
surge ladeada por pilastras que simulam troncos, iluminados por
baixo e envoltos em luz azul, vinda da grande tela de LED, em que
se projetam imagens marinhas, no centro do espaço. Os percursos
possíveis para a adega, o bar, as salas de chá e outras salas
ocorrem como narrativas, e parece ser esta a ideia: ambientes
discursivos. O mobiliário é usado como suporte para pontos
de luz difusa, de cores suaves, acoplados nele, o que favorece a
experiência dos clientes: difusa, fragmentada, misteriosa. (D.O.)
Chuan He, Haha Lu.
16
divulgação
¿QUÉ PASA?
ESTAÇÃO P&B
A estação de metrô Rotes Rathaus foi inaugurada em Berlim,
Alemanha, com projeto do arquiteto Oliver Collignon e projeto
de iluminação do escritório Licht Kunst Licht. Foram dez anos
desde os primeiros planos até a abertura do equipamento, e
o que se nota é a integração técnica do resultado construtivo
com as soluções de iluminação. Em 2010, antes de o LED
ganhar o mercado, esse foi o recurso sugerido, o que superou as
expectativas na finalização, em virtude dos avanços tecnológicos
do LED na última década.
O partido arquitetônico foi claridade, amplidão e elegância,
obtidos no contraste entre piso branco reluzente, colunas
claras e paredes pretas, também com textura sensível à luz.
O hall da plataforma, com 140 m de comprimento, tem uma
escada rolante para acesso, e a iluminação marca a entrada no
hall e as plataformas.
Os pontos de luz por toda a estação foram inseridos com
precisão no forro e calculados com base em seu reflexo nas
superfícies do edifício, visando ao conforto visual dos usuários.
Voltagens e angulações foram calibradas a partir das diferentes
alturas do espaço. Nas extremidades das plataformas, de pédireito
baixo, os pontos de luz foram inseridos no piso, em
pares. (D.O.)
Projeto da arquiteta Larissa Gomes - Casa Cor PR 2021
18
Design, inovação e tecnologia
em iluminação desde 1974.
¿QUÉ PASA?
FÍSICO DIGITAL
20
Lagranja design
XAPO é um banco inteiramente digital, com serviços para
criptomoedas. Para abrigar sua sede física principal, o escritório
de arquitetura catalão Lagranja adaptou instalações militares
inglesas do século XIX, na parte histórica de Gibraltar, vizinha
às muralhas fortificadas da cidade, em meio ao agito urbano. O
projeto de iluminação foi executado pelo escritório reMM.
A sede da empresa ocupa área de 800 m 2 , entre os arcos
estruturais das antigas instalações em pedra calcária e teto
ainda com as vigas de madeira originais, material que foi todo
restaurado. A manutenção dos materiais originais confere ao
ambiente um clima de cofre de banco antigo, em referência
quase irônica ao negócio da XAPO.
Na entrada, o pé-direito baixo é compensado por espelhos
d’água que ladeiam a circulação e ajudam a iluminar o espaço
subterrâneo com seu reflexo durante o dia. À noite, iluminação
cruzada de laser destaca os espelhos e a área de recepção, à
vista do público. Paredes e elementos estruturais e de circulação
são iluminados de modo a ganhar destaque e, ao mesmo tempo,
manter a atmosfera original dos antigos quartéis. (D.O.)
www.lightdesign.com.br
St Marche – SP
Arquitetura Espaço Novo Projeto luminotécnico Mingrone Iluminação Fotografia Ricardo Basseti
Tom Lee
Perfecting light
for a luminous
future.
¿QUÉ PASA?
FRESHFIELDS BRUCKHAUS DERINGER,
POR 18 DEGREES
O escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus Deringer
transferiu recentemente sua sede para o edifício 100 Bishopsgate,
no centro financeiro de Londres, Inglaterra, complexo conhecido
pela eficiência energética e pelas políticas alinhadas com
agendas sustentáveis.
O projeto de iluminação do escritório 18 Degrees trabalhou
em estreita colaboração com os arquitetos de interiores ID:SR.
Assim, o projeto foi planejado para minimizar o impacto
ambiental e proporcionar bem-estar aos ocupantes. Equipamentos
de LED de baixo consumo e os controles associados ajudaram o
projeto a alcançar a classificação de sustentabilidade BREEAM
22
Excelence e a SKA Gold. Os novos interiores resultaram em uma
economia de energia de 30% em comparação com a sede anterior.
A iluminação procurou atender a diversas faixas etárias e
preferências, bem como proporcionar acesso à luz natural, de
modo a garantir uma transição visual suave entre os ambientes.
“Foi uma honra trabalhar em um projeto tão importante e
emocionante. Foi uma combinação fantástica entre diversos
atores que tornou esse projeto um sucesso: um cliente
informado, uma gestão de projeto inteligente, uma equipe de
design ampla e criativa e uma equipe de construção”, disse
Christopher Knowlton, diretor do escritório 18 Degrees. (O.M.)
Desenvolvemos avanços na qualidade
da luz LED para alcançar resultados
extraordinários em uma ampla gama
de aplicações. Nossas soluções óticas
de última geração são ferramentas
para criar luz que melhora o
bem-estar, funcionalidade, segurança
e sustentabilidade. Juntos
com nossos clientes e
parceiros, fomentamos
o fortalecimento do
BRAND VIDEO ecossistema da iluminação.
LEDiL ® é uma marca registrada da LEDiL Oy na
União Europeia, nos E.U.A. e outros países.
¿QUÉ PASA?
INTERNO – EXTERNO
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ALISSE
Divulgação
Botões touch
Elegantes botões
retroiluminados
Acabamento feito a mão
Usinado e finalizado
artesanalmente
O projeto do escritório Sirius Lighting Office para o edifício
Toranomon Hills Business Tower em Tóquio, Japão, recebeu o
prêmio Radiance for Excellence in Lighting Design concedido
pelo IALD Awards deste ano.
O ambiente do edifício de escritórios procurou funcionar ao
mesmo tempo como espaço de motivação para colaboradores e
espaço de apreciação, para todo tipo de visitante.
O projeto de iluminação teve o desafio de harmonizar com a
luz natural, em área ampla de circulação composta de vegetação,
fontes de água e obras de arte. Os revestimentos foram
cuidadosamente iluminados para evitar reflexos excessivos e,
ao mesmo tempo, destacar as texturas, por meio de pontos de
luz inseridos no piso ou no forro.
Sistemas de controle garantem a transição orgânica da cena
de luz diurna para a cena noturna, calma e com cores amenas.
Na fachada e na área de acesso ao edifício, a iluminação se dá
por linhas horizontais que ora conduzem os visitantes à entrada,
ora, nos níveis mais altos, criam animação em referência às
pinturas japonesas com nanquim. (D.O.)
Gravações persolizadas
Sua experiência ainda
mais pessoal
24
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¿QUÉ PASA?
MEMORIAL
CENOGRAFADO
Divulgação
O projeto de iluminação do escritório L’Observatoire
International para o Memorial Dwight D. Eisenhower, em
Washington, Estados Unidos, foi um dos contemplados com o
Merit Award na premiação do IALD deste ano.
O projeto de iluminação incide sobre o edifício, as áreas de
circulação e outras abertas à rua. As intervenções demarcam
as linhas do edifício e do passeio, sua tridimensionalidade,
definindo espacialmente o monumento urbano e conferindo
sensação de interioridade ao espaço aberto. Ao iluminar
desde baixo o mobiliário urbano e desde dentro equipamentos
de apoio, como corrimãos, a circulação ganha destaque.
A fachada do memorial é tomada por uma estrutura plana
de aço que mede 122 m de comprimento e traz imagens
abstratas da costa do Normandia, em referência à região da
França em que se deu o desfecho da Segunda Guerra Mundial,
sob o comando de Eisenhower, em 1944. Cada fio que compõe a
imagem é iluminado desde baixo, acendendo cada contorno do
desenho, feito cenário. (D.O.)
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Kai Piippo
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
¿QUÉ PASA?
TRADIÇÃO E EFICIÊNCIA
Um dos parques públicos mais antigos de Estocolmo, capital
da Suécia, o Kungsträdgården ganhou nova iluminação pelas
mãos da equipe do Light Bureau. As novas luminárias fazem uma
releitura contemporânea da iluminação tradicional de parques
e substituem os antigos postes, dotados de globos equipados
com lâmpadas nuas de vapor metálico, com iluminação difusa
e ofuscante.
Compostas de dois cilindros concêntricos com acabamento
em cobre, as luminárias contam com acendimento em duas
etapas: no final da tarde, ainda sob a presença da luz natural,
o módulo de luz cálida e indireta do cilindro interno se acende,
tornando presentes as lanternas na paisagem do parque;
durante os 30 minutos seguintes, a iluminação direta do módulo
externo se intensifica gradualmente, iluminando as circulações e
as copas das árvores.
O sistema de controle cria uma ponte suave entre a
claridade do dia e a escuridão da noite e contribui para
a redução de aproximadamente 50% no consumo energético
da iluminação do parque, decorrente também da substituição
por módulos de LED. O conceito final do projeto levou sete
anos para ser definido e implantado e demandou a realização
de inúmeros protótipos e testes, acompanhados de perto pelo
cliente (a municipalidade de Estocolmo) e por especialistas em
patrimônio histórico. (D.T.)
28
w
Noshe
¿QUÉ PASA?
KUNSTHAUS ZÜRICH
O novo edifício da ampliação do Museu de Zurique,
finalizado no ano passado, tem arquitetura do escritório alemão
David Chipperfield Architects Berlin e projeto de iluminação do
escritório suíço Matí Lighting Design.
O conceito do projeto de arquitetura é motivado pela
implantação de um volume de geometria acessível, com forma
inspirada por uma escola vizinha, de 1842, ao norte do terreno.
Os ambientes internos são organizados como uma casa, com
cômodos de diferentes tamanhos, orientações, materialidade e
luz, conferindo-lhes personalidade.
Desenvolvido em colaboração com os arquitetos, o conceito
do projeto de iluminação definiu uma paleta enxuta de efeitos
luminosos e luminárias que permitisse apresentar a arte das
com versatilidade. (O.M.)
APRESENTAMOS ATHENA
O sistema de controle de iluminação dinâmico que traz
a magia da luz aos momentos do dia a dia
Solução flexível, simples e tudo-em-um para controlar qualquer fonte
de luz com cortinas inteligentes
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SMAR architecture, quatrecaps.
¿QUÉ PASA?
TORRE DE LUZ
Os arquitetos Fernando Jerez e Belen Perez de Juan, do
escritório SMAR Architecture Studio, foram os vencedores do
concurso mundial para a Torre de Luz de San Jose, Califórnia,
no coração do Vale do Silício. O projeto pretende simbolizar a
inovação da região e atrair turismo e negócios para a cidade,
ao mesmo tempo que presta homenagem a San Jose Electric
Light Tower, uma estrutura construída em 1881 para celebrar a
chegada da eletricidade à cidade,
Batizada de Breeze of Innovation, a estrutura é composta de
mil hastes criadas para balançar ao vento, gerando eletricidade
para iluminá-la durante a noite.
“Nosso objetivo foi capturar a magia em constante mudança
do Vale do Silício e criar uma conexão com a comunidade de
San Jose”, disse Fernando Jerez. (O.M.)
32
Ziling Wang
Yang Shi
¿QUÉ PASA?
WANG JING MEMORIAL HALL
Yang Shi
O Wang Jing Memorial Hall foi construído em homenagem
ao acadêmico Wang Jing (1337-1408) na aldeia de Wang,
localizada na província de Zhejiang, na China, onde o mestre
nasceu. Usado também como espaço para as atividades
da comunidade, o projeto do escritório chinês DnA_Design
and Architecture se encaixa organicamente às construções
existentes da vila, adquirindo um caráter linear.
Tomando partido desse desenho, o memorial apresenta, em
forma de percurso, 17 cenas esculpidas em pedra que ilustram
a vida de Wang. Quase sem aberturas em suas fachadas, o
edifício conta com acesso à iluminação natural através das
claraboias posicionadas sobre cada uma das 17 imagens. Os
lighting designers do One Lighting Associates, em parceria
com a escola de arquitetura da Tsinghua University, incluíram
também equipamentos para iluminação artificial em cada um
dos vãos das claraboias, provendo o espaço com iluminação
geral e mimetizando a iluminação natural das esculturas à noite.
As fontes de luz ocultas contribuem para a criação de uma
atmosfera meditativa e contemplativa no interior do espaço.
Vistas do terraço – que também é acessível aos
visitantes –, as claraboias refletem parte dessa luz, criando
um efeito sutil de “brasa”, que remete ao caráter espiritual
do memorial. (D.T.)
EXTENDLIT
Sistema de iluminação simples, direto e linear, suspenso somente pelas extremidades. Composto por uma tira ultrafina e
resistente de aço inox, usando uma fonte de luz fita LED para uma luz contínua. Possibilidade de até 25 metros de extensão,
a sua aplicação pode ser de parede a parede ou do teto ao piso, tanto para iluminação direta ou indireta.
34
www.lemca.com.br
¿QUÉ PASA?
CENTENAS E
MILHARES
O parque linear The Tide, às margens do rio Tamisa, é palco
da mais recente instalação da artista Liz West, feita a convite
da comunidade de Greenwich Peninsula, região da cidade de
Londres, Inglaterra, em crescente valorização e modernização.
Hundreds and Thousands envolveu 700 metros lineares
das balaustradas de vidro do parque com milhares de faixas
coloridas ondulantes, que se comportam como relógios de sol,
permitindo aos visitantes interagir e acompanhar o movimento
da luz natural ao longo dos dias e das estações por meio de seus
reflexos e suas sombras.
A artista teve como inspirações a proximidade do parque
do meridiano de Greenwich e a fluidez dos percursos dos
visitantes: maneiras diversas de vivenciar a instalação, em
caminhos e passarelas. “A visualização da obra ao longo do
caminho proporciona aos visitantes uma experiência rica e
caleidoscópica, que, espero, possa desencadear sentimentos
de bem-estar e alegria”, conta West, que selecionou a paleta
de cores buscando justamente encorajar associações e
memórias positivas.
A instalação simboliza um encontro físico e metafórico entre
cores e pessoas, o que intensifica sua experiência espacial (D.T.).
Charles Emerson
36
©Nacása & Partners Inc./Courtesy of Fondation d’entreprise Hermès
¿QUÉ PASA?
AS CORES DE
JULIO LE PARC
Les Couleurs en Jeu é a primeira exibição solo no Japão do
artista argentino Julio Le Parc, em cartaz até o final de novembro
na galeria Le Forum, sede da Fondation d’entreprise Hermès
(braço artístico e educacional da maison francesa) no distrito
de Ginza, Tóquio.
Radicado na França desde 1958, Le Parc foi um dos
precursores das artes ópticas e cinéticas, encorajando a
amplificação de uma abordagem experimental da arte, sempre
permeada por seu viés político e questionador. Após uma fase
de pinturas monocromáticas, o artista embarcou em uma longa
série de obras geométricas e vibrantes, buscando, por meio do
uso de 14 cores concebidas por ele, explorar diferentes efeitos
e sensações, como ritmo, contraste, variação, vertigem e
movimento.
A exibição da Maison Hermès Ginza tem foco justamente no
uso das cores na vasta obra do artista, a começar pela fachada
de tijolos de vidro do edifício que sedia a galeria – projetado por
Renzo Piano –, tomada pela intervenção La Longue Marche ,
composta de 1.421 peças coloridas de PVC.
Também são exibidos aos visitantes alguns dos
emblemáticos móbiles suspensos criados por Le Parc, feitos
de milhares de peças metálicas ou de acrílico , além de
algumas pinturas de sua fase monocromática . (D.T.)
38
LUMINACRIL
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ECLIPSE
RGBW
¿QUÉ PASA?
TRANSPARÊNCIAS ACESAS
Luminária RGBW com
32W - 40°
Nitto Denko é uma empresa japonesa criada em 1918 que
se dedica, entre outras atividades, ao desenvolvimento de
materiais de alta performance. Na Semana de Design de Milão
2021, a empresa participa pela primeira vez e apresenta uma
tecnologia inovadora, a RAYCREA, com a exposição Search
for Light, em consonância com sua missão de criar valor para
clientes por meio da inovação.
Em parceria de criação com o lighting designer japonês
Kaoru Mende, do escritório Lighting Planners Associates
– LPA, RAYCREA apresenta-se como uma possível direção
de mudança na indústria de iluminação. Trata-se de uma
tecnologia de controle de luz que abre possibilidades de
linguagem: uma película sobre vidro ou acrílico com LED nas
extremidades permite que a superfície acenda. Sem limite de
comprimento. Com controle de intensidade. Com manutenção
da transparência. Em superfícies planas ou curvas. (D.O.)
Obra Centro Comercial do Castelo
Arquiteto Gustavo Buzelim
Lighting designer Lumani Dani Meireles
Fotos Jean Assis
40
JUNTOS!
Divulgação
¿QUÉ PASA?
SAMBA-M POR
SHIRO KURAMATA
A ideia original para Samba-M surgiu em 1988, no
vernissage da exposição In-Spiration, quando o renomado
designer japonês Shiro Kuramata (1934-1991) surpreendeu os
convidados, incluindo Ron Arad e Zaha Hadid, ao colocar uma
luz vermelha brilhante em sua taça de champanhe. Com esse
gesto lúdico e performático, Kuramata afirmava que o design
tem lugar entre os objetos e a arte.
Samba-M está sendo reeditada pelo fabricante japonês
de luminárias Ambientec e foi lançado em 2021 no Salone del
Mobile, em Milão, Itália. A luminária, que funciona com bateria,
foi produzida em camada dupla de vidro fino e integrada com
LED vermelho, que muda de tom com o toque. (O.M.)
18 e 19 de agosto de 2022
Tivoli Mofarrej Conference Hotel
São Paulo | Brasil
Semana da Luz 2022
Daan Roosegaarde
Holanda
Confira os palestrantes
já confirmados:
Prof. Jan Blieske
Alemanha
Mary-Anne Kyriakou
Austrália / Alemanha
Ricardo Hofstadter
Uruguai
Rafael Leão
Brasil | EUA
Wim aan de Stegge
Holanda | India
42
Inscrições abertas
ledforum.com.br
@ledforum
#ledforum22
¿QUÉ PASA?
TEATRO DO HOTEL BELMOND
COPACABANA PALACE
Mauro Samagaio
É um enorme privilégio fazer parte do renascimento do teatro
do Hotel Belmond Copacabana Palace, que ficou fechado desde
1994. Principalmente neste momento em que equipamentos
culturais como esse são tão importantes para assegurar nossa
sanidade como indivíduos pensantes e criativos.
É mais privilégio ainda participar de uma equipe colaborativa,
composta do cliente e de profissionais da arquitetura, dos
interiores, da programação visual, da iluminação, da automação,
das instalações, do gerenciamento e da execução, que trabalhou
apaixonadamente para trazer de volta esse ícone carioca.
Nossa contribuição foi atuar silenciosamente, procurando
revelar com muita sutileza a joia criada pela arquitetura, trazendo
toques de personalidade, com luminárias desenhadas a quatro
mãos com a arquitetura.
Com muita emoção, convidamos todos a experimentar o
nosso trabalho, ainda a ser desvendado pelo público, assim que
for possível!
O espetáculo precisa continuar! (Equipe LD Studio)
44 45
FLUXOS DE
PENSAMENTOS
Texto, ilustração e fotos:
Diana Joels
“Num presente em que precisamos urgentemente nos
entender como parte da natureza e genuinamente deixar de
buscar na tecnologia soluções para problemas gerados pela
própria tecnologia, não vejo assunto mais relevante à nossa
profissão do que a luz natural.” Esse foi o mote para a finalização
do ensaio que escrevi para a L+D 80. Nessa frase há implícita
uma concepção do termo “humanidade”. Ao escrever na
primeira pessoa do plural, a quem me referia? Quem somos os
que “precisamos nos entender como parte da natureza”?
Certamente somos uma parcela de humanos que o “guru”
de muitos de nós Ailton Krenak define como aqueles que
estamos nos dirigindo para determinado lugar, numa ideia
prospectiva de progresso, e nesse caminhar deixando de lado
tudo o que não interessa. Ainda de acordo com Krenak, esse
“tudo que deixamos de lado” denomina-se sub-humanidade. E
inclui muitos humanos.
Eu não pretendo aqui escrever um ensaio sobre tema tão
amplo e tão profundo, até porque não seria capaz, tampouco
este seria o lugar. No entanto, qualquer reflexão sobre o
presente nos conduz à reflexão sobre o próprio conceito de
humanidade e, consequentemente, à ideia de insustentabilidade
do Antropoceno – termo usado por cientistas para denominar
esse período em que vivemos, para o qual não há consenso
sobre quando se iniciou –, marcado pelo impacto determinante
e dominante das atividades humanas sobre o planeta.
Como nos ensina outro guru, Davi Kopenawa Yanomami, o
resultado do inevitável colapso resultante dos impactos da ação
humana sobre a Terra não será a extinção do planeta em si, que
é sábio e sobrevivente, mas sim o fim da tal humanidade, nesse
caso com a inclusão da sub-humanidade.
Estou compartilhando este fluxo de pensamentos para
admitir uma encruzilhada ideológica com que deparei em meus
próprios pensamentos recentemente: a insustentabilidade do
Antropoceno versus a essência do DESIGN, como “abordagem
de um problema a partir dos mais diversos pontos de vista
possíveis e relevantes (multidisciplinaridade e integralidade)
com o objetivo de desenvolver uma solução em que o usuário/
experienciador esteja no centro da equação (humanista)”.
Eu me pergunto até que ponto a defesa do design como
disciplina humanista, com o usuário no centro da equação, que
abordei no último ensaio (sim, constrangida, assumo que as
aspas anteriores são uma autorreferência), é coerente com o
entendimento de que não podemos mais sustentar um modelo
em que os humanos estejam no centro de nada.
IMAGENS
1 Ilustração para a turma de meu filho do 1º ano do ensino
fundamental, após um bate-papo na escola sobre as cidades à
noite, dentro de projeto pedagógico sobre cidades sustentáveis.
2 Panorâmica: Luz essencial. Monte Claro, Trajano de Moraes,
Rio de Janeiro.
3 GEDDES, Linda. Chasing the Sun: How the Science of Sunlight
Shapes Our Bodies and Minds. 1ª Edição. Nova York, EUA:
Pegasus Books, 2019.
4 ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. A queda do céu. 1ª
Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2015
5 HANH, Thich Nhat. Love letter to the earth. 2ª Edição.
Berkeley, EUA: Paralax Press, 2013
6 COCCIA, Emanuele. Metamorfoses. 1ª Edição. Rio de Janeiro:
Dantes Editora, 2020.
7 KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2ª Edição.
São Paulo: Companhia das Letras, 2020
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. 1ª Edição. São Paulo:
Companhia das Letras, 2020.
8 RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite. 1ª Edição. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019.
9 KËHÍRI, Tõrãmü; PÃRÕKUMU, Umusï. Antes o mundo não
existia. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2019.
10 ZAJONC, Arthur. Catching the Light: The Entwined History
of Light and Mind. 2ª Edição. Nova York, EUA: Oxford University
Press, 1995.
Essa encruzilhada é quase retórica, pois o futuro que
dela emerge depende de uma humanidade que não se separe
da natureza nem exclua povos e seres. Acredito, sim, numa
compatibilização entre as escalas do fazer que garanta a
manutenção do foco da experiência no usuário em harmonia com a
urgência de um novo paradigma metodológico, necessariamente
regenerativo. Será denominado Design Ecocêntrico?
Sustentável, além de um termo cansado e muitas vezes
vazio, já não dá conta. Mesmo que um projeto ou um produto
seja verdadeira e amplamente sustentável, estará em deficit
globalmente, pois chegamos a um ponto do impacto em que
precisamos não apenas não deixar uma pegada de destruição,
mas também regenerar.
Nos sistemas de produção de alimento, esse modelo já existe
e foi batizado de sintrópico, em referência ao princípio de sintropia,
caracterizado na ciência por integração, equilíbrio organizacional
e preservação de energia no ambiente. A partir da agricultura
sintrópica ou agroflorestal, é possível hoje produzirmos alimentos
e simultaneamente promovermos a regeneração da terra, das
águas, dos microclimas, dos ecossistemas. A agrofloresta,
sistematizada e difundida pelo suíço radicado na Bahia Ernst
Götsch, inspira-se na dinâmica natural dos ecossistemas
virgens para o manejo regenerativo da Terra, acelerando os
processos de sucessão e gerando alimentos de forma ecológica
e economicamente viável, inclusive do ponto de vista da escala.
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Nota dos Editores
As capas dos livros que ilustram este ensaio, são sugestões de
leitura que inspiraram os fluxos de pensamentos do texto da autora.
Será então “Design Sintrópico” o nome e o caminho do
paradigma metodológico que necessitamos desenvolver?
Assim como na agricultura, nos inspiraremos em dinâmicas
naturais para reorganizar nossa abordagem na atividade protejual?
Se em meu último ensaio “Em louvor do Design” compartilhei
a sistematização de muitas questões de forma objetiva e discuti
caminhos a partir de sólidas certezas, o presente ensaio abraça
o espírito de fluxo de pensamentos que se seguiu ao primeiro e
vem carregado de muitas perguntas e algumas ideias coletadas
na busca por respostas.
Na minha forma de pensar, não resta dúvida que o caminho
é olhar para as origens. É na ancestralidade que encontraremos
o análogo aos “ecossistemas virgens” no campo do design.
Não por acaso, até onde eu conheço, na visão ancestral de
todas as culturas do planeta, a relação homem-natureza é
indissociável, como fica evidente no lindo e objetivo livro Love
letter to the Earth, do ativista pela paz e mestre budista Thich
Nhat Hanh.
Recuperando o tripé da essência do DESIGN como
abordagem que abarca integralmente um problema na busca
de solução com foco na experiência humana: se precisamos
urgentemente enfatizar a dimensão ecológica do aspecto
humanista, a multidisciplinaridade e a natureza integral são
fundamentais para essa re-definição em si.
O design existe para sistematizar diferenças (não para
construí-las) e, para tal, necessita gerar muitas perguntas, de
forma que o projeto no fim de um longo processo seja o conjunto
de respostas simples que dão conta ao máximo daquelas
complexas perguntas.
O entendimento sistêmico é, portanto, um desdobramento
natural da essência integral do design e certamente nos ajudará
a expandir ainda mais nossas atitudes e reflexões em nosso
fazer profissional e cotidiano, se aplicarmos esse entendimento
para além de nossos projetos em si. Vamos lá?
É um fato que nos últimos 20 anos está havendo uma
revolução científica no campo da cronobiologia. Como
todos sabemos, a biologia circadiana tem sido aplicada pela
Nasa, pelas Forças Armadas americanas e por atletas de alta
performance, assim como sistemas de iluminação artificial
inspirados pelos ciclos circadianos têm sido utilizados em
hospitais, escolas e espaços corporativos, para acelerar a
recuperação de pacientes, potencializar o foco de estudantes e
o rendimento de trabalhadores, respectivamente.
De acordo com Linda Geddes, jornalista inglesa especialista
em ciências, biologia, medicina e tecnologia, o que temos
testemunhado no campo científico atualmente é uma cada
vez mais clara e profunda compreensão da nossa vital relação
biológica com o sol.
A ciência contemporânea nos fornece dados e fatos que
explicitam quão fundamental é essa relação. A indústria se
apropria de parte desses dados para produzir tecnologia
alinhada com essas “descobertas”.
Esse entendimento, no entanto, é também natural e
ancestral. Na História, nas religiões e nas mitologias, há
inúmeros simbolismos em torno da figura do sol. Nossos
ancestrais não apenas reverenciavam o sol de uma perspectiva
espiritual, como tinham consciência de seus benefícios para
a saúde. Romanos, gregos, egípcios e babilônios – para falar
dos povos antigos que temos muito bem documentados no
Ocidente –, todos reconheciam as propriedades curativas do sol.
Há diversos registros nesse sentido, como o enorme solário que
havia no centro de tratamento que Hipócrates, conhecido como
pai da medicina moderna, tinha na ilha grega de Kos.
Da mesma forma que Hipócrates pregava que se
observassem as variações das estações para ajustes de
comportamentos e hábitos na Grécia Antiga, em uma mesaredonda
online a que assisti no ano passado sobre luz e
saúde, Anna Wirz-Justice, Ph.D. e professora emérita no
Centro de Cronobiologia da Universidade de Basel, advogou
pela necessidade de nos conectarmos com a natureza e nos
permitirmos viver as estações com suas especificidades. Ela
propôs a dissolução das barreiras entre espaços internos e
espaços externos como estratégia de melhoria da qualidade
de vida a partir dos conhecimentos da cronobiologia aplicados
à arquitetura. Finalmente, sugeriu que a cronobiologia fosse
rebatizada de “cronoecologia”.
Claramente, nosso “Design Eco-cêntrico” ou “Design
Sintrópico” não se baseará num retorno às cavernas, para
estabelecimento de uma relação mais saudável com a luz. No
entanto, sem dúvida, abraçará o reconhecimento de que tanto o
excesso de luz artificial à noite como a abstinência de luz solar
durante o dia têm implicações negativas para a vida. No fim das
contas, trata-se de reconhecer que evoluímos em uma Terra
redonda que gira em torno de seu eixo inclinado, produzindo os
dias e as noites, e precisamos urgentemente nos reconectarmos
com esses extremos. Tão básicos.
Para além de nos reconectarmos com a natureza, acredito
que, numa perspectiva ecológica, precisamos nos reconectar
com a nossa natureza ancestral. Com orgulho, citei aqui
pensadores contemporâneos indígenas brasileiros, os que
mais leio atualmente, mas não consegui fugir de Hipócrates,
representando as culturas antigas que mais estudei na
minha formação escolar. Sim, me faltam referências sólidas
dos povos originários de nossa terra, apesar de saber que
está nos conhecimentos desses povos o caminho para o
desenvolvimento do tal paradigma que nos norteará na aplicação
de novas tecnologias e adventos decorrentes dos mais recentes
desenvolvimentos científicos de forma sistêmica e sintrópica.
Neste sentido, quero finalizar com uma provocação. No
Clube de leitura do Women in Lighting Brasil, decidimos ler um
texto chamado “Pytun Jera - Desabrochar da Noite”, transcrição
de uma fala do líder indígena Carlos Papá Mirim, publicado em
forma de caderno, pela editora Dantes. Dentre muitas outras
coisas, Carlos Papá diz que o escuro é uma energia muito forte e,
sendo energia feminina, o escuro é a mãe do Universo. Em uma
retrospectiva dos termos que sua língua utiliza para nomear
elementos da natureza, menciona água, terra, ar, árvore, sangue
e o escuro, responsável por todo o Universo. Simultaneamente,
eu estava fazendo uma outra leitura que me levou ao Cântico do
Irmão Sol, em que São Francisco de Assis elenca como criaturas:
o sol, a lua e as estrelas, a água, a terra, o vento e o fogo. Me
chamou muito a atenção esse contraponto entre o escuro como
mãe do Universo e o fogo como a luz que espanta o escuro na
ausência do sol.
Sem entrar no mérito de qualquer questão religiosa, essa
dualidade me parece explicitar a necessidade de expandirmos
nossos conhecimentos mais basais e aprendermos,
aprofundarmos e incorporarmos a visão de mundo de
nossos povos originários à nossa cultura, inclusive em nosso
entendimento da luz. E da escuridão.
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RICHEMONT
Texto: Orlando Marques
Fotos: Maíra Acayaba
Richemont é uma empresa suíça de artigos de luxo do
conglomerado de negócios fundada pelo magnata sul-africano
Anton Rupert. A empresa é dona de diversas marcas, incluindo
Piaget, Van Cleef & Arpels, Chloé, Baume & Mercier, Alaïa,
entre outras.
Em São Paulo, a Richemont abriu escritório de representação
de duas de suas marcas, a alemã Montblanc e a francesa Cartier,
que tem, dentre suas maiores criações, o relógio Santos, de 1906,
o primeiro relógio de pulso da marca, feito a pedido do aviador
brasileiro Santos Dumont para ver as horas durante o voo.
O projeto de arquitetura da sede das marcas foi desenvolvido
pelo escritório Gingaa Estúdio, de Alexandre Cafcalas, e o
projeto de iluminação é do escritório Estúdio Carlos Fortes, do
arquiteto Carlos Fortes.
Os mesmos princípios de simplicidade e praticidade
aplicados no relógio Santos são observados nos projetos dos
arquitetos. Os espaços são marcados por acabamentos naturais,
madeira e mármore e detalhes de iluminação integrados no
tecido da arquitetura.
A recepção é destacada por nichos verticais iluminados, de
piso a teto, distribuídos esparsamente, que desaparecem em
outro nicho luminoso, na linha do forro. O balcão da recepção,
um prisma retangular de mármore, é sublinhado por iluminação
indireta que destaca o piso de madeira, sendo iluminado por
arranjo de pendentes tubulares de latão.
Os nichos verticais da recepção possuem perfil de LED com
difusor translúcido, 9,6 W/m, 912 lm/m, 3.000 K, escondidos
em ambos os lados dos nichos. Na linha do forro, o sistema
compostos de perfil estrutural de borda infinita abriga perfis de
LED com difusor translúcido, 10,8 W/m, 1.200 lm/m e 2.700 K.
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O layout dos espaços corporativos é segmentado em
dois ambientes, cada qual para o uso de uma marca. A paleta
de acabamentos segue com tonalidades sóbrias e mobiliário de
linhas simples e ortogonais. Nas áreas de staff, o desenho do
forro, de nuvens acústicas suspensas sob a laje, é ordenado pela
distribuição das bancadas de trabalho. Intercalados entre elas e
diretamente sobre as bancadas, pendentes lineares as iluminam
de maneira difusa e uniforme.
Nas salas executivas e de reuniões, alinhadas em toda
a extensão do staff, as paredes do fundo foram destacadas
por detalhe de iluminação indireta, e os planos de trabalho,
por luminárias embutidas com fonte luminosa recuada ou por
pendentes decorativos. As salas de reuniões maiores seguem os
princípios dos demais ambientes, com iluminação para destaque
das paredes, por meio de sancas, luminárias embutidas e
pendentes decorativos.
Nas áreas de descanso e copa, luminárias pendentes
de diferentes diâmetros flutuam sob a laje com instalações
aparentes, pintados na cor da Richemont. Sobre as mesas altas
da copa e do break room, pendentes decorativos de meia esferas
luminosas completam o projeto.
RICHEMONT
São Paulo
Projeto de iluminação:
Estúdio Carlos Fortes
Projeto de arquitetura:
Gingaa Estúdio
Fornecedores:
Ana Neute (Itens Collections),
Lightsource, Lumini, Luxion e Stella
As salas de reuniões são iluminadas por luminárias embutidas
no forro 12,5 W, 38°, 974 lm, 2.700 K, iluminação periférica
na linha do forro, por meio de sancas para iluminação difusa,
semelhante à das salas da recepção, e pendentes decorativos.
Na sala de staff, sistema linear pendente de LED com 2.240 mm
de comprimento, 68 W, 5.808 lm, 3.000K.
Nas áreas de descanso foram especificadas luminárias circulares
com 600 mm, 800 mm e 1.200 mm de diâmetro e 5.040 lm,
10.080 lm, 16.800 lm de fluxo, respectivamente, e 3.000 K.
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SÃO CINCO
OS SENTIDOS?
Texto: Diogo de Oliveira
Fotos: André Klotz
A loja de colchões Zissou abriu recentemente nos Jardins,
em São Paulo, e trouxe algumas direções para questões centrais
do nosso tempo. Qual é a função de uma loja física em tempos
de comércio eletrônico e de medidas de distanciamento social.
Como oferecer ao cliente envolvimento com a marca, vivido
apenas presencialmente e com o produto. Como a experiência
do sono e do sonho nos conecta com a natureza, com nossa
realidade sensorial e metabólica, com o autocuidado e com
nossa saúde. E finalmente, como os projetos de arquitetura e
de iluminação lidam com essas questões na produção de um
espaço–experiência.
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Um pouco como uma das etapas do sono, não tão acessível,
no fundo do pavimento térreo há um quarto reservado “para
sonhar”: uma instalação imersiva de luz, realizada em parceria
com o coletivo de arte Modular Dreams, que é composta de
colchão, som e piso de palha contra o carpete, o que resume a
intenção do projeto e da experiência com a marca.
Nos percursos de experiência dos clientes pela loja estão
expostos produtos derivados dos colchões, além das camas
dispostas para que o público se deite e aprecie suas densidades.
A vista do teto faz parte da fruição, com retângulos de papelão
ou luminárias de acrílico, no mesmo formato.
A LOJA
Em uma casa típica da região, um sobrado singelo que,
assim como os vizinhos, já serviu um dia de residência familiar,
o espaço foi organizado pelo escritório de arquitetura Estúdio
Guto Requena, baseado em percursos de experiência de clientes,
um a um. Entramos sem sapatos, o primeiro sinal do partido do
projeto: o apelo sensorial ampliado.
As cores da marca organizam a divisão dos dois espaços à
primeira vista: o pavimento térreo é pintado do piso às paredes
na cor coral, e o superior e o teto, em azul. Os revestimentos, no
entanto, acentuam o contraste de tons: o coral no carpete e nas
caixas de papelão desniveladas de parte das paredes; e o azul nas
caixas de papelão até cobrir todo o teto. Papelão, vale lembrar,
como as caixas em que os colchões chegarão à casa dos clientes.
São apresentados na loja dois tipos de colchão: o coral e o blue.
Logo na entrada, a primeira cama, do tipo coral, está ali
para que o cliente deixe seu peso ao deitar comunicar sobre
a densidade das camadas do colchão. E a posição deitada é
também contemplada no campo de visão, com a extensa
composição de retângulos ora de papelão, ora de luminárias
de teto.
Uma escada branca nos eleva ao mezanino azul, onde está o
colchão do tipo blue, e novos ângulos deitados de visão podem
ser apreciados, agora mais próximos das composições do forro
e com acesso à vista mais ampla do conjunto da loja.
No percurso, os produtos derivados dos colchões seguem
o mesmo apelo aos sentidos: travesseiros, fronhas com suas
camadas e seus tecidos, aromas de ambiente, tudo ao alcance
das mãos e da face.
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A ILUMINAÇÃO
O projeto de iluminação executado pelo escritório Foco Luz
& Desenho atendeu a três desafios principais: prazo curto, custo
restrito e inovação ampliada.
Os objetivos eram dar o devido destaque tanto aos produtos
que são carros-chefes da marca, as camas, quanto às mesas
de atendimento, o que foi alcançado por meio de luminárias
pontuais; e produzir iluminação difusa, em consonância com o
conforto dos percursos de experiência dos clientes.
A iluminação difusa parte de alguns recursos principais:
linhas minimalistas de perfis de LED sobrepostos ao forro que
direcionam os clientes desde a entrada da loja até o fundo dela (e
ao Quarto para sonhar); iluminação linear integrada nos volumes
retangulares das paredes; luminárias retangulares nas mesmas
dimensões no teto, também de perfil de LED, aqui embutido no
acrílico branco; nichos iluminados por perfis de LED embutidos
na parte superior dos expositores; e, finalmente, a escada, cuja
iluminação vem de perfis integrados nos corrimãos.
SENTIDOS
Desse modo, os percursos conduzidos pelos consultores
de experiência na Casa Zissou tornaram-se possíveis pelas
arquiteturas física e de iluminação, atualizando os sentidos do
varejo e a relação de clientes com a marca e de produtos com a
natureza dos clientes. Com sua fisiologia. Com seu metabolismo.
A iluminação em perfis de LED integrados nos corrimãos da
escada é um dos recursos para produzir luz difusa e confortável.
No Quarto para sonhar, uma instalação imersiva resume a
intenção do projeto e da experiência com a marca.
CASA ZISSOU
São Paulo
Projeto de iluminação:
Foco Luz & Desenho
Projeto de arquitetura:
Estúdio Guto Requena
Instalação ‘Quarto para sonhar’:
Modular Dreams
Cenografia e obra:
GTM Cenografia
Fornecedores:
LD Arti
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Quem passa pela Rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros,
São Paulo, quase não percebe uma água de telhado feita de
tábuas enegrecidas e justapostas, cobrindo a discreta entrada
do restaurante Kotori.
Inaugurado em fevereiro deste ano, o local teve sua
ambientação baseada numa ideia de “imersão no imaginário
cultural do Japão”, nas palavras do arquiteto Guile Amadeu,
um dos autores do projeto. Conjuntos de peças em pinus,
amarradas e encaixadas entre si conforme a técnica japonesa,
são montados como cenários num palco. O washi, papel
especial feito de fibras dos arbustos Kozo, Gampi e Mitsumata,
foi também inspiração para o desenho de alguns elementos
de fechamento do mobiliário do salão, incorporando a ideia de
leveza dessa técnica milenar.
Mas é a luz o outro elemento importante da composição
dos interiores, seja ao valorizar as superfícies desse jogo de
armar, seja se infiltrando através do papel washi, ou mesmo
atendendo à expressa demanda do proprietário e chef
Thiago Bañares, de manter os pratos dos clientes facilmente
fotografáveis, conforme explica o arquiteto Marcos Castilha,
lighting designer desse projeto.
IMERSÃO EM
CENÁRIOS LUMINOSOS
Na página anterior, perfis de LED 4,8 W/m, 2.700 K, IRC > 80
iluminam os painéis inclinados em madeira. Atrás dos sarrafos,
uma barra de LED 800 lm/m, 2.700 K, IRC > 80, dimerizável
ilumina de baixo para cima.
Abaixo, a entrada do estabelecimento.
Texto: Gilberto Franco
Fotos: Rubens Kato
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Logo à entrada vemos um pequeno salão com duas mesas
e um conjunto de pendentes de papel plissado, dando boasvindas
aos clientes. À direita, um balcão defronte ao vidro da
fachada abriga os primeiros comensais, que podem desfrutar a
vista externa. Em seguida, o sushi bar, composto de um balcão
em “U”, coberto por duas fileiras de prateleiras, e de onde já se
pode avistar o salão maior, este coberto por uma interessante
estrutura de planos em “V” invertido, tudo sempre em madeira
pinus. O fundo do lote abriga a cozinha, exposta aos clientes,
bem como as demais áreas operacionais.
Sobre o balcão da fachada, um perfilado metálico abriga
microprojetores teatrais com luz para baixo, que garantem
a iluminação do tampo. Já as prateleiras sobre o sushi bar
iluminam umas às outras, sempre da mais baixa para a mais alta,
por meio de barras de LED apontadas para cima e nunca visíveis.
As prateleiras inferiores, por sua vez, recebem luminárias de
espessura mínima incrustadas na madeira, destinadas a iluminar
o tampo do balcão do bar.
No salão do fundo, os “V” invertidos são iluminados por
iluminação indireta, formando um delicado conjunto luminoso.
O recurso de se utilizar fontes de luz lineares aninhadas na
própria madeira é, aliás, um tema encontrado ao longo de todos
os cenários. Nos vértices, um microprojetor de teatro igual ao já
descrito garante a iluminação – e a boa foto – dos pratos servidos.
No sentido horário: além da iluminação indireta, microprojetores
do tipo “cênico”, para lâmpadas MR16 7 W, 15°, 3.000 K,
IRC > 80, dimerizáveis iluminam os tampos de mesa, tornando
os pratos “instagramáveis”.
Luminárias difusas 2 W, 120 lm, 3.000 K embutidas na
marcenaria iluminam balcão e prateleiras. Perfis de LED
4,8 W/m 2.700 K, IRC > 80 iluminam a frente do balcão. Os
quadros foram intencionalmente deixados sem luz. Toda a
iluminação é dimerizada manualmente, variando de intensidade
entre o almoço e o jantar.
As paredes laterais, que têm na parte superior um painel
de papel washi, estruturado por sarrafos verticais de madeira,
recebem iluminação backlight de uma barra de LED. Abaixo
dessa estrutura, as obras de arte são percebidas apenas pela
luz refletida do ambiente, o que as deixa livres de clarões ou
sombras indesejadas. Os interstícios que separam os diferentes
cenários são sempre complementados por perfilados que
sustentam microprojetores, ora iluminando o piso com fachos
mais abertos, ora focados em pontos de interesse.
Ao fundo, a cozinha – exposta aos clientes – constitui-se de
uma ilha central com coifa e reflete “todo o processo de concepção
do chef”, nas palavras de Guile. Uma linha de luminárias em “O”
em 3.000 K em torno dessa coifa traduz essa clareza funcional.
Todo o conjunto foi dimerizado, de forma a permitir a
adequação aos diferentes momentos do dia, sejam almoços
movimentados, sejam jantares tardios.
RESTAURANTE KOTORI
São Paulo
Projeto de iluminação:
Castilha Iluminação
Marcos Castilha (arquiteto titular)
Brenda Lelli (arquiteta coordenadora)
Projeto de arquitetura e interiores:
Coletivo de Arquitetos
Arquiteto Guile Amadeu e Rodrigo
Lacerda (arquitetos titulares)
Luna Viana (arquiteta coordenadora)
Cliente:
Thiago Bañares
Fornecedores:
Finder, Interligh, Ledplus, Mecalux,
Mel Kawahara e Stella
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CASA, GALERIA, NATUREZA
E HARMONIA
Texto: Débora Torii | Fotos: Maíra Acayaba
Se todos os projetos fluíssem assim tão bem...
Quando o lighting designer Guinter Parschalk foi convidado
por um cliente amigo de longa data para mais um projeto,
não imaginava que a experiência seria tão rica e prazerosa. O
projeto de iluminação para a nova residência de férias da família
na Fazenda Morro Alto, no interior de São Paulo, tinha tudo
para ser complexo: a parceria inédita com o arquiteto Alfredo
Barbosa, autor do projeto; o programa extenso, que incluía um
estúdio de música, uma cozinha industrial e uma biblioteca,
relacionados às áreas de atuação dos três filhos do proprietário
(música, gastronomia e administração); uma vasta coleção
de obras de arte a ser exposta por toda a casa – incluindo nas
áreas externas – e, por fim, o desejo de que fosse um projeto
sustentável e energeticamente eficiente.
Deu tudo certo. E a integração entre todas as equipes de
projeto, incluindo a designer de interiores Lucia Ravache e o
paisagista Luciano Fiaschi, foi essencial para o bom resultado.
A confiança do cliente no trabalho de Guinter e da equipe do
escritório studioix, do qual é titular, também fez toda a diferença.
Praticamente com carta branca em mãos, os lighting designers
puderam aplicar soluções não convencionais para esse tipo de
projeto, como o uso de equipamentos com tecnologia branco
dinâmico, para controle da temperatura de cor nas áreas sociais,
e a iluminação RGB no home theater.
A linguagem limpa da arquitetura favorece a integração com
a natureza por meio das aberturas amplas e dos extensos
panos de vidro.
A iluminação sutil do paisagismo no entorno imediato da
casa contribui com sua inserção na paisagem da fazenda.
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A premissa da sustentabilidade – motivada pelo perfil
ambientalista de um dos filhos do proprietário – evoluiu para o
desejo de certificar o projeto por meio do Selo Aqua, levando a
equipe do studioix à realização de cálculos luminotécnicos de
praticamente todos os ambientes da residência, o que também
não é um procedimento comum para essa tipologia de projeto.
Além da eficiência energética, outro elemento determinante
para a escolha dos equipamentos de iluminação das áreas
sociais foi a materialidade do forro, constituído de ripas de
madeira com diferentes tonalidades, seções e espaçamentos.
Os lighting designers optaram por uma linha de equipamentos
miniaturizados, que se encaixasse no menor espaçamento
existente e oferecesse variedade em opções de fachos e fluxos
luminosos. Ainda assim, foram necessários ajustes finos in loco,
para evitar a ocorrência de sombras ou manchas por causa da
configuração irregular do forro.
As áreas sociais da residência foram iluminadas
predominantemente por projetores miniaturizados com
LED 6 W, 50˚, 2.700 K, embutidos entre as ripas de madeira
do forro. Em alguns ambientes optou-se por equipamentos com
tecnologia tunable white, com temperatura de cor ajustável
entre 2.700 K e 5.700 K.
Para o destaque das obras de arte foram utilizados projetores
orientáveis fixados em trilhos eletrificados, aplicados entre ripas.
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O projeto de arquitetura é marcado pela estrutura metálica
esbelta e pelos amplos beirais de madeira, priorizando a
conexão com a natureza por meio da predominância dos planos
de vidro – o que também favorece a ventilação natural dos
ambientes. Dessa forma, o cuidado com a iluminação do espaço
externo foi essencial, de forma a criar vistas agradáveis durante
a noite, porém sem destoar da escuridão natural da paisagem do
restante da fazenda, ao fundo.
A linguagem limpa da arquitetura permite que as obras
de arte sejam as protagonistas. A vasta coleção de pinturas,
esculturas, mobiliário e outros itens predominantemente
brasileiros – incluindo três “cavaletes de cristal” originais do
Masp – levou à escolha de sistemas de iluminação flexíveis,
como projetores orientáveis em locais estratégicos, para
ambientes em que as obras seriam definidas somente após a
conclusão do projeto.
O terreno contava originalmente com uma grande quantidade
de pedras e rochas de grande porte que foram incorporadas
ao projeto de arquitetura e ao de paisagismo.
Dentre as inúmeras obras de arte em exibição, diversas
luminárias decorativas compõem os interiores da residência.
Um dos destaques é o pendente-escultura Coordinates,
criado pelo designer Michael Anastassiades para a Flos.
A configuração da peça instalada na sala de jantar foi
desenhada especialmente pelo próprio designer para esse
projeto, adaptada para a aplicação – até então inédita – em
um ambiente residencial.
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RESIDÊNCIA FAZENDA
MORRO ALTO
São Paulo
Acima, a escultura 30-45, criada por Guinter Parschalk, cujo
título apresenta os ângulos de rotação da chapa espelhada de
aço inox fixada dentro do espelho d’água.
À direita, a escultura de mármore inspirada na lua, cujo relevo
foi ressaltado por meio de dois projetores orientáveis com LED
de facho concentrado, dotados de filtros para diferenciar suas
temperaturas de cor.
Projeto de iluminação:
studio ix
Guinter Parschalk (arquiteto titular)
Thais Longhini Barbeiro
(arquiteta coordenadora)
Projeto de arquitetura:
Alfredo Barbosa Arquitetura e Urbanismo
Alfredo Barbosa (arquiteto titular)
Projeto de interiores:
Lucia Ravache Arquitetura e Interiores
Lucia Ravache (arquiteta titular)
Projeto de paisagismo:
LF Arquitetura Paisagística
Luciano Fiaschi (arquiteto titular)
Execução:
Atai Engenharia
Certificação:
Inovatech Engenharia
Automação:
Steluti Engenharia
Execução escultura 30-45:
Móveis Fenix
Fornecedores:
Dimlux (DCW éditions), e:light
(Artemide, Davide Groppi, Embraluz,
Erco, Flos, Foscarini, Moooi, Tensoflex,
Vibia), Fasa Fibra Ótica, Lightsource,
Lutron, Luxion, Osvaldo Matos (iGuzzini,
O/M), Varuzza (Carl Thore)
Algumas esculturas, no entanto, foram escolhidas
previamente, como a escultura de mármore que remete à
lua, iluminada por meio de dois projetores orientáveis com
diferentes temperaturas de cor, com o objetivo de destacar o
relevo da peça, simulando um efeito de luz e sombra por meio
da diferença de cor da luz em sua superfície.
Resgatando o início de sua vida profissional como artista
plástico, o próprio Guinter assina uma das esculturas exibidas
na área externa da residência. A obra 30-45 remete à ideia de
movimento por meio de uma grande placa revestida de aço
inox espelhado, cravejada no espelho d’água, que reflete o
movimento do sol e das nuvens ao longo do dia.
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VISITA AO ATELIER
DE JAC LEIRNER
Texto: Emilia Ramos e Fernanda Carvalho
Fotos: Nelson Kon
Foi uma visita para conhecer o trabalho de iluminação de Gil
Franco para o ateliê de Jac.
A artista Jac Leirner é conhecida por seu trabalho meticuloso,
quase obsessivo, de coleções de coisas peculiares e particulares.
Era noite. Na chegada, abriu-se a porta de ferro grande da
calçada, e entramos em um ambiente com piso escuro de pedra
iluminado apenas pelas sobras de luz da rua. Uma segunda
porta se abriu para outro ambiente, branco.
No pé-direito duplo do galpão, uma linha que estrutura dois
efeitos luminosos: luz indireta linear banhando a cobertura
metálica e luz direta, por meio de projetores em trilho
eletrificado, reforçando os planos de trabalho e banhando
as paredes.
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Ficamos um tempo no espaço, criado como um grande galpão
único, com telhado metálico de duas águas, descentralizado,
com um shed que ventila e ilumina naturalmente. Não tivemos
a oportunidade de ver o espaço banhado pela luz natural. Esse
lugar branco abriga um móvel-ambiente-mezanino de madeira.
Exploramos o móvel, observando de perto, de longe, por dentro,
por cima, contando e encontrando detalhes. Lembrava o interior
de um avião, talvez pelos carrinhos “roubados” e apropriados pela
artista, ou talvez pelo desenho detalhado dos usos planejados.
Perguntamos a Jac o que ela queria daquele espaço, e ela
sorriu. Disse que era tudo o que queria, estava feliz com o seu
espaço, e a luz era exatamente como imaginou. Era perceptível
na fala de Jac uma confiança linda no trabalho do amigo Gil.
Contou-nos que o ateliê é lugar de trabalho e de receber gente.
E foi exatamente isso que aconteceu.
Ficamos ali sentados, conversando da vida e envolvidos
pela luz calma e, ao mesmo tempo, curiosa. Os objetos,
meticulosamente criados e colocados na parede, não tinham
sombras definidas; pareciam flutuar na luz. Ficamos acolhidos
e à vontade ali.
O galpão branco recebe luz em toda a sua casca, e os
elementos da ocupação interna – móvel-mezanino, mesa
de trabalho e outros mobiliários – estão soltos no espaço. A
luz difusa e homogênea contribui para essa flutuação, sem
enfatizar nenhum dos elementos.
Foi uma surpresa: ao entrar, vimos a luz. Simples. Sofisticada.
Delicada.
Um veludo de luz clara com poucos brilhos e destaques.
Invisível, escondida atrás das estruturas do telhado, e integrada
às terças de aço, iluminando o teto e o ar. Tudo foi resolvido em
um ponto do corte. “Tudo aqui é clareza, a luz é muito clara, a
arquitetura é muito clara. E isso de resolver tudo de um ponto só
é muito minha cara!”, fala Gil.
Uma linha de luz linear direta complementa a iluminação na
parte de cima do móvel-mezanino. O encontro entre os três
efeitos de luz no teto é equilibrado, integrando os espaços.
A colocação dos equipamentos de luz e dos demais elementos
de instalações no teto é bem resolvida. Não há competição
ou interferência visual de um elemento sobre o outro. São
independentes e autônomos.
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Acima, o belo contraste entre o branco e o preto, a luz e a
sombra.
Ao lado, vemos como Gil resolveu de forma extremamente
simples a luz dos ambientes.
Na conversa, que passou por assuntos dos mais diversos,
Gil nos contava que a luz foi criada para integrar o espaço, e não
para aparecer. Os ângulos da peça linear foram meticulosamente
desenhados para a justa inclinação… Tudo tem uma incrível
precisão. Mas ele mesmo pareceu surpreso ao ver o resultado de
seu projeto de luz, contornando as obras de forma tão mágica.
Um dia desses ouvimos de um amigo arquiteto que “luz tem
opinião”, e aqui ela parece estar totalmente à vontade, decidindo
seus caminhos.
Foi um prazer conhecer a luz de Gil para Jac.
Sob o móvel-mezanino, uma única linha preserva a fresta entre
o móvel e a parede e deixa a aba de madeira livre, ressaltando a
laje em balanço. Dessa posição, ilumina a circulação e espaços
de apoio de forma direta e difusa.
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ESTÚDIO JAC LEIRNER
São Paulo
Projeto de iluminação:
franco+berriel
Gilberto Franco e Livia Berriel
(arquiteto e arquiteta titulares)
Gabriela Pera (arquiteta coordenadora)
Projeto de arquitetura:
MMBB
Marta Moreira (arquiteta titular)
Cliente:
Jac Leirner
Fornecedores:
Interlight e Omega Light
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FOTO LUZ FOTO
MAÍRA ACAYABA
Escolhi esta foto pois a iluminação é protagonista na imagem.
Procuro sempre fazer enquadramentos frontais, a fim de não
distorcer os ambientes e centralizar motivos importantes, como
a bancada de mármore, nesse caso.
Sempre trabalho na temperatura de cor da imagem e
também retiro elementos que criam ruídos e podem desviar
o olhar do que importa: o que é o projeto em si. Nesse caso,
retirei uma barreira acrílica para a proteção contra a covid-19
e os alarmes de incêndio.
Um dos desafios para a realização desta imagem foi bloquear
a porta automática de vidro da entrada, para que eu pudesse me
posicionar de frente para a bancada.
Utilizei uma câmera Canon EOS 5D Mark IV, objetiva
17 mm, Tilt Shift.
Maíra Acayaba, 1980, vive e trabalha em São Paulo.
Ao longo dos últimos 15 anos, construiu um sólido trabalho
como fotógrafa de arquitetura brasileira. A preocupação com o
enquadramento formal, a perspectiva de um ponto de fuga e a
eliminação de qualquer ruído para que permaneça o elemento
arquitetônico principal dão a tônica ao seu trabalho.
É convidada a ministrar cursos e palestras em universidades,
no Sesc e em museus, como o Masp. Em 2016, publicou o
livro Bold and Bright – casas brasileiras, pela editora inglesa
Ryland Peters & Small.
Publicou o guia online de arquitetura em São Paulo SP2014.
net, que foi apresentado na X Bienal de Arquitetura, com o
Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich).
Seu trabalho pode ser acompanhado em diversas publicações
nacionais e internacionais, revistas e livros, em websites e em
exposições pelo mundo.
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