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do Corpo sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo estão<br />
apresentadas com um tal realismo e de modo<br />
tão brutal, que o instinto de conservação do homem<br />
clama com aquilo, tem a tendência a fugir e<br />
achar que não é arte representar um horror daqueles<br />
de um modo tão horripilante.<br />
Esse é um primeiro impulso que deve ser<br />
dominado porque é uma ingratidão. Tal será<br />
que, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo sofrido<br />
tudo o que padeceu por nós, não queiramos<br />
sequer olhar para o Corpo chagado<br />
d’Ele porque isso pode nos desagradar.<br />
Como um primeiro impulso se compreende,<br />
pois é uma reação quase física. Porém,<br />
haveria ingratidão em consentir nesse impulso.<br />
Além de ingratidão é uma falta de<br />
respeito sem nome!<br />
Compreende-se, então, que o escultor tenha chegado<br />
a esculpir de modo tão terrivelmente realista essa imagem,<br />
a qual pareceu-me ser uma escultura espanhola,<br />
com aquele realismo próprio das imagens sobre a Paixão<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que deveria datar de<br />
fins do século XVIII, mais provavelmente do século XIX.<br />
Soube depois que ela se encontra no Canadá.<br />
Consideremos, nas seguintes fotos, alguns aspectos<br />
dessa imagem.<br />
Algumas coisas me agradam extraordinariamente<br />
nessa figura. A primeira delas que me chama mais a<br />
atenção é o olhar profundamente pensativo, meditativo.<br />
Tenho visto incontáveis crucifixos em que Nosso Senhor<br />
parece abismado – aliás, santamente – na consideração<br />
da sua própria dor, e onde o artista procura atrair<br />
a atenção para os sofrimentos do Divino Crucificado a<br />
fim de provocar compaixão. Nesses crucifixos o próprio<br />
olhar do Redentor, muito legitimamente, parece perguntar:<br />
“Pelo menos nesta dor, tu não tens pena de Mim?”<br />
Porém, aqui eu interpreto o olhar de outra maneira. É<br />
bem verdade que a dor está presente. É o olhar de uma<br />
Pessoa que sofre intensamente, mas, por cima da dor,<br />
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