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<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
mouros, dos hunos e outros bárbaros. Portanto, assim<br />
esboroado, tinha ainda que oferecer resistência a essas<br />
hordas de invasores.<br />
Consequentemente, os homens mais poderosos começaram<br />
a construir, em torno de suas terras, muralhas para<br />
abrigar sua família, seus trabalhadores, seu gado, suas<br />
colheitas e, sobretudo, a capela com o Santíssimo Sacramento,<br />
imagens e relíquias. Quando ouviam falar que, de<br />
longe, vinha o adversário, todos se refugiavam atrás das<br />
muralhas, de onde passavam a combater o inimigo.<br />
À medida que o invasor encontrava em seu caminho<br />
essas fortificações, ia se tornando enfraquecido. Ainda<br />
quando não fosse esmagado diretamente, avançava mais<br />
ou menos como um touro cada vez mais crivado de banderillas.<br />
Em determinado momento, ele caía e morria.<br />
Era um modo jeitoso de cada proprietário, defendendo a<br />
si e aos seus, proteger a todos.<br />
Constituiu-se, assim, uma situação singular: o proprietário<br />
rural, que era como um fazendeiro de hoje, ficou<br />
com a incumbência de construir as muralhas e dirigir<br />
a guerra. Por conseguinte, deveria dar o exemplo sendo<br />
o guerreiro por excelência que ia montado a cavalo,<br />
de espada em punho; o mais corajoso tinha de ser ele.<br />
Depois, vinham seus filhos e sua parentela. Só mais para<br />
trás estavam os camponeses. Porque os primeiros do<br />
lugar deveriam ser os primeiros na luta e no sacrifício.<br />
Desta maneira, estabeleceu-se uma espécie de identificação<br />
pela qual a classe dos proprietários rurais era<br />
a dos guerreiros, dispostos a dar a vida por aqueles a<br />
quem governavam. Sendo pequenos “reis” locais, eles<br />
compunham a nobreza – o barão, o conde, o marquês –<br />
sob a direção de outro “rei” maior, que era o duque, o<br />
qual, por sua vez, estava sob as ordens do rei propriamente<br />
dito. Constituía-se, assim, a hierarquia feudal.<br />
Havia, portanto, uma classe dos homens mais ricos,<br />
poderosos e nobres, que eram também os mais corajosos<br />
e guerreiros, aos quais os outros deviam obediência,<br />
mas os primeiros tinham uma dedicação como raras vezes<br />
um pai possui em relação a seu filho. Era o equilíbrio<br />
social estabelecido, com uma sabedoria extraordinária,<br />
em função das condições militares e políticas do tempo.<br />
Guerreiros descendentes de bárbaros,<br />
mas civilizados pela ação da Igreja<br />
Esses guerreiros eram descendentes de bárbaros como,<br />
por exemplo, os germanos, cujo perfil os romanos deixaram<br />
descrito para a História. Eram tipos louros de olhos<br />
azuis, mas como quase todos sofriam de oftalmia, aquele<br />
azul ficava banhado num mar de sangue das oftalmias mal<br />
curadas, o que, juntamente com a melena loura suja, mal<br />
cuidada, caída para trás, lhes davam um aspecto monstruoso.<br />
Avançavam brandindo armas e se despejando em cima<br />
das populações com uma ferocidade medonha, matando os<br />
homens, despedaçando os cadáveres, quebrando objetos e<br />
monumentos preciosos, tomando conta das cidades e reduzindo<br />
os romanos moleirões a servos, de maneira que eles<br />
– imundos e broncos – ficavam mandando nos homens cultos,<br />
finos, numa inversão completa de valores.<br />
Project Gutenberg (CC3.0)<br />
Gabriel K.<br />
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