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2020_Luzes-ApostoloPulchrum

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sem. O cavaleiro era o homem<br />

virgem que se casava com a dama<br />

virgem; Cavalaria e virgindade<br />

eram complementares. A<br />

força dele era a do homem casto,<br />

puro, não a do cafajeste frequentador<br />

de botequins.<br />

No cavaleiro reluziam, com<br />

o brilho do aço, todas as qualidades<br />

do verdadeiro católico.<br />

Tanto quanto me lembre, os<br />

meus primeiros encontros com<br />

a Cavalaria foram saboreando<br />

esta palavra, e compreendendo<br />

que ela era como uma misteriosa<br />

pedra preciosa que não brilhava<br />

com a luz vinda de fora,<br />

mas com um fulgor proveniente<br />

de dentro. As palavras “Cavalaria”<br />

e “cavaleiro” pareciam-me<br />

ter em si mesmas uma beleza,<br />

uma dignidade, uma distinção<br />

extraordinárias. Eram como um<br />

brilhante ou um rubi que rutilava<br />

por si mesmo.<br />

Nos remotos anos de minha<br />

infância, usava-se a palavra<br />

“cavalheiro” um pouco mais do que hoje, e ela teve um<br />

importante papel em minha formação. Algumas vezes, recebi<br />

de minha governanta a recomendação de ser um cavalheiro.<br />

Por exemplo, fui educado junto com minha irmã e uma<br />

prima, e com certa frequência fazíamos passeios a pé para<br />

exercitar. As regras de educação, com vagos restos da<br />

Cavalaria, prescreviam que o cavalheiro deveria dar atenção<br />

e precedência à dama por esta ser mais frágil. E as<br />

duas meninas, às vezes, deixavam cair alguma coisa.<br />

Eu, perpetuamente distraído, começava por não notar<br />

aquele objeto jogado no chão. Primeira repreensão<br />

da Fräulein Mathilde: “Quem está com senhoras – imaginem<br />

menininhas de quatro, cinco anos... – deve prestar<br />

contínua atenção nelas para ver se não estão precisando<br />

de qualquer coisa. É assim que age um cavalheiro. Você<br />

não procedeu como um cavalheiro porque não estava<br />

com sua atenção fixa nelas para saber que cortesia deveria<br />

fazer. Agora vá e apanhe o objeto.”<br />

Eu pensava: “Vai me dar menos trabalho apanhar esse<br />

objeto do que brigar com essa alemã. Vou pegar para<br />

não ter amolação.” Pegava e dava para a menina que o<br />

tinha deixado cair. Mas a governanta continuava:<br />

“Não senhor, sorria! Na hora de entregar, precisa<br />

mostrar sua alegria por ter prestado serviço, sorria!”<br />

Cerco de Antioquia - Biblioteca Nacional, Paris, França<br />

Além disso, por<br />

vezes as crianças tendem<br />

a ser descuidadas<br />

quando estão à<br />

mesa, deixando cair<br />

comida, o que não é<br />

bonito. Quando isso<br />

se dava, logo vinha<br />

a recomendação:<br />

“Cavalheiro não deixa<br />

cair grãos de arroz, entretanto<br />

se acontece recolhe-<br />

-os não com seu dedo, mas<br />

com uma colher...” E assim<br />

tantas outras regras de<br />

educação. “Cavalaria” foi<br />

para mim uma palavra que<br />

tinha um som de ouro, mas<br />

batia como uma chicotada,<br />

e isso me fez extraordinariamente<br />

bem. v<br />

(Extraído de conferência<br />

de 26/5/1984)<br />

Jean Colombe (CC3.0)<br />

Flávio Lourenço<br />

Cavaleiro Templário<br />

Priaranza del Bierzo, Espanha<br />

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