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2020_Luzes-ApostoloPulchrum

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Conta-se que, antes das batalhas, eles passavam a noite<br />

no alto das montanhas bebendo e cantando para se adestrarem<br />

para o combate. Ao amanhecer, desciam em hordas<br />

silvando, uivando como bichos, com uma parte do corpo<br />

nua e toda pintada, tendo amarrados por cima da cabeça<br />

crânios de animais. Era o uso da força no que ela tem de<br />

mais hediondo e brutal. Enquanto os homens desciam as<br />

encostas da montanha, as mulheres ficavam em cima, bebendo<br />

e cantando canções guerreiras para estimulá-los.<br />

Os funcionários do Império Romano fugiam todos para o<br />

Sul, onde os bárbaros ainda não tinham chegado. Havia, entretanto,<br />

quem não fugisse: a Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana. Os padres e os bispos permaneceram em meio<br />

à barbárie e começaram a converter os bárbaros nos quais,<br />

após várias gerações de gente batizada, entrou a doçura de<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo. Desses bárbaros batizados nasceram<br />

os cavaleiros, herdeiros daquela força, daquele senso<br />

da luta, daquele gosto pelo combate e pela aventura que,<br />

quando bem entendidos, devem caracterizar o homem.<br />

Por outro lado, uma vez convertidos, esses guerreiros se<br />

tornaram verdadeiros artesãos da paz porque não empregavam<br />

a força para fazer mal, mas a fim de se defenderem<br />

do mal que os outros iam lhes fazer. E se promove a paz<br />

quem não faz mal a ninguém, também é um promotor da<br />

paz aquele que defende a ordem por meio da força, se necessário<br />

for. Pois se, como vimos, a paz é a tranquilidade<br />

da ordem, quando alguém luta para restabelecer a ordem e<br />

a tranquilidade está defendendo a paz. Assim, quando em<br />

seus castelos eles defendiam as suas populações, suas riquezas<br />

honestamente acumuladas e, sobretudo, o Santíssimo<br />

Sacramento, agiam enquanto guerreiros da paz.<br />

Sendo a paz um bem, deve ser amada com amor maior<br />

do que a paixão desregrada com que o celerado se entrega<br />

ao mal; eles precisariam ser ardentíssimos defensores<br />

da paz, guerreiros mais ferozes no combate pelo bem<br />

do que os outros eram na luta pelo mal.<br />

O perfil moral do cavaleiro...<br />

Vai surgindo, assim, a figura do cavaleiro: um guerreiro<br />

tremendo, que metia medo no adversário, mas sem ódio<br />

individual. O verdadeiro cavaleiro católico não podia matar<br />

por ódio pessoal. São Bernardo diz na regra dos Templários,<br />

da qual ele foi o autor, que o cavaleiro deve ser sereno<br />

e sem ódio individual, sem nenhuma dessas paixões<br />

que degradam tanto o homem quando ele fica com os furores<br />

do egoísmo; mas precisa ser terrível para fazer prevalecer<br />

a ordem que o Criador quer na Terra, os direitos<br />

de Deus contestados.<br />

Por isso o cavaleiro, terror dos maus, é um encanto dos<br />

bons. Termina a batalha, o cavaleiro volta para o seu castelo,<br />

sua presença é a alegria de todos, porque ele afaga, é<br />

bom, não é vaidoso, recebe as homenagens que lhe são devidas,<br />

mas tem gosto de exaltar o valor dos outros: “Aquele<br />

combateu muito bem... Fulano, você foi um herói, eu lhe<br />

dou um título e tal parte de minhas terras...” Recompensas<br />

aceitas pelos outros, não por egoísmo, mas por encantamento.<br />

“Como é bom o senhor! Como ele é generoso!<br />

Como é grande! Que encanto sua presença no castelo! Lá<br />

fora ele era o terror, aqui é a flor do castelo!”<br />

Então aparece outro lado do cavaleiro: herói por amor a<br />

Deus, piedoso antes de tudo. Acaba a batalha, ele entra na<br />

capela do castelo, ajoelha-se e dá graças por ter escapado<br />

ileso. Agradece, sobretudo, por ter conseguido afugentar o<br />

bárbaro ou o maometano e levar à vitória os fiéis, fazendo<br />

brilhar a glória de Deus sobre o adversário. Diante de uma<br />

imagem de Nossa Senhora, ele reza especialmente agrade-<br />

Samuel Holanda<br />

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