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50ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Dra. Telma Mª S Machado

Difração, obediência

e resignação

Aracaju SE BR

Diretora de Comunicação da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), Graduada em Ciências Biológicas e

em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de Sergipe, Mestre em Filosofia,

Difração é um termo conhecido da Física, o qual pode ser

definido como a capacidade da onda de contornar obstáculos,

ou seja, quando ela se choca com um obstáculo que possui uma

abertura com dimensões comparáveis a seu comprimento, as

partes da Professor

onda que passam pelo espaço aberto alargam-se e

atingem as regiões opostas ao obstáculo

Gonçalo

1 .

Em relação à onda sonora, a seguinte contextualização

auxilia a compreensão de quão interessante é essa ocorrência:

“duas pessoas separadas por uma parede. Sabendo que a difração

ocorre Ferreira com os fenômenos Melondulatórios podemos prever

que é possível as duas pessoas dialogarem perfeitamente, pois

as ondas sonoras contornam o obstáculo e chegam aos ouvidos

da outra pessoa” 2 .

Conforme foi dito acima, a difração ocorre com qualquer tipo

de onda. A propriedade desses movimentos ondulatórios foi estudada

em 1803, pelo cientista Thomas Young, que logrou, por

meio de um experimento, demonstrar que a luz é um movimento

ondulatório que também sofre difração, ao fazer com que

feixes de luz passassem por uma pequena e estreita abertura e,

com um anteparo localizado do outro lado, viu que não aparecia

somente uma linha reta, mas um conjunto de várias faixas com

diferentes intensidades. 3

Muitos termos afetos aos vários ramos da ciência podem ser

utilizados metaforicamente para auxiliar a compreender alguns

sentimentos. E a difração é uma deles, eis que o ser humano

somente evolui à medida que não se deixa paralisar pelos obstáculos/desafios

do percurso, obtendo e espargindo luz, mesmo

que seja por uma mera fresta, tal como se observou no comportamento

das ondas luminosas no experimento.

A Doutrina Espírita, por esclarecer com precisão irrepreensível

a gênese e a finalidade do sofrimento, inclusive quanto

a ser consequência inafastável das nossas ações, recompõe a

esperança de que sempre é tempo para a autoiluminação, não

obstante a provisoriedade de sombras densas que ocultam, mas

não removem a luz para a qual todos caminhamos inexoravelmente.

No item 4 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo,

intitulado “Bem-Aventurados os Aflitos”, encontra-se a

explanação de que as vicissitudes da vida promanam de duas

fontes bem diferentes: umas têm causa na vida presente; outras

remontam a existências anteriores. Mas, no item 9 do mesmo

capítulo, há a ponderação de que não se pode crer que todo

sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma

determinada falta, uma vez que muitas vezes são simples provas

buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o

seu progresso. 4

Há de se indagar, então, de que forma, em nossa jornada

evolutiva, a difração atuará metaforicamente. Ou seja, como não

nos deixarmos inibir, aprisionar e anular diante da dor, talvez o

obstáculo mais temido pelos humanos?

No capítulo IX, item 8, também de O Evangelho Segundo

o Espiritismo, sob o título “Obediência e resignação”, aprendemos

que essas duas virtudes são companheiras da doçura,

muito ativas, embora haja quem as confunda com negação de

sentimento e de vontade, o que denota ausência de compreensão

sobre a riqueza de sentimentos que elas refletem. É que a

“obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento

do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam

o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair” 5 . A

razão e o “coração”, conjuntamente, proporcionam a reflexão

sobre as causas dos sofrimentos que visitam o nosso percurso e

permitem-nos reconhecer que o amor a Deus, a si e ao próximo

é a mais eficaz estratégia para vencer os desafios existenciais.

Nas experiências citadas nos primeiros parágrafos deste artigo,

viu-se que, pela difração, as paredes não impedem que

ouçamos e sejamos ouvidos e nem que se tenha uma plêiade de

faixas de luz, com intensidades diversas, mesmo que passando

por uma diminuta abertura. Se abrirmos, ainda que minimamente,

os ouvidos e olhos do Espírito, ouviremos sons antes i-

naudíveis e veremos alguns espectros de luz que as nossas sombras

escondiam. Persistindo nessa decisão, a audição e a visão,

cada vez mais apuradas, nortearão passos resolutos ao encontro

do nosso desiderato de deuses, sal da terra e luz do mundo.

1 JÚNIOR, Joab Silas da Silva. O que é difração?. Brasil Escola. Disponível em: https://

brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-difracao.htm. Acesso em 29 de maio de

2021.

2 Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/o-fenomeno-difracao.

htm>. Data do acesso: 29 mai. 2021.

3 Idem.

4 Capítulo V, item 9 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

5 Capítulo IX, item 8 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

28 Atração_ fevereiro de 2022

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