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50ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por André Ricardo

Paulo de Tarso, Maria

Madalena e a questão

da prostituição

São Paulo SP BR

Doutor em sociologia pela USP, professor associado do Departamento de Sociologia da UFSCar,

integrante do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus e autor do e-book: “A veracidade e

conexões da obra Paulo e Estêvão”, disponível gratuitamente em: http://www.oconsolador.

com.br/editora/evoc.htm

No capítulo 20 do livro Boa Nova, psicografado por Francisco

Cândido Xavier, o espírito Humberto de Campos revela

que Maria Madalena era a mulher pecadora e anônima, que -

dentro da casa do fariseu Simão, na cidade de Naim - lavou em

lágrimas, ungiu com perfume e secou os pés de Jesus, usando

seus próprios cabelos (Lc 7, 33-50). Ela era, portanto, a prostituta

retratada no Evangelho de Lucas:

Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho

do Reino, não longe da vila principesca onde vivia

entregue a prazeres, em companhia de patrícios

romanos [grifo meu], e tomara-se de admiração pelo

Messias. (...) Decorrida uma noite de grandes meditações

e antes do famoso banquete em Naim, onde ela

ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos

perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila

conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se

a procurar o Messias, após muitas hesitações. Como a

receberia o Senhor, na residência de Simão [apóstolo Pedro]?

Seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o

abandono do lar e a vida de aventuras. Para todos, ela

era a mulher perdida [prostituta], que teria de encontrar

a lapidação na praça pública (Xavier, 2013, p. 128).

Já no capítulo 10 da segunda parte da obra Paulo e Estêvão

- ditada por Emmanuel e psicografada também por Chico

Xavier (2013, p. 466) - Paulo de Tarso se refere - com profundidade,

à prostituição condenando o machismo - ao se contrapor

à hipocrisia de quem o criticava pelo fato de ele recorrer a

Popeia Sabina (esposa do imperador Nero) para buscar, em

Roma, a libertação do, então, aprisionado apóstolo João Evangelista:

“Irmãos, é indispensável compreender que a derrocada

moral da mulher, quase sempre, vem da prostituição do homem

[grifo meu]”.

Mas o convertido de Damasco foi além. A cidade grega

de Corinto, onde ele formou comunidade cristã e viveu por quase

dois anos, tinha dois portos marítimos e, portanto, recebia

muitos estrangeiros 1 , contendo diversos templos, dentre eles

o dedicado à deusa da sexualidade Afrodite. Seu culto implicava

em relações sexuais, envolvendo cerca de mil prostitutas

cultuais, que, para serem identificadas na sociedade e como

forma de estigma, tinham a cabeça raspada 2 . Para que elas

pudessem também ser acolhidas e participar de reuniões na

comunidade cristã, sem serem identificadas e discriminadas,

Paulo de Tarso prescreveu e registrou na Primeira Carta aos

Coríntios (capítulo 11, versículos de 2 a 6) o uso do véu a todas

as mulheres da comunidade, algo que ele não fez em relação a

nenhuma outra igreja formada, dada a peculiaridade da cidade

grega. Isto evidencia o respeito do apóstolo dos gentios por

aquela marginalizada condição feminina, em consonância com

o excerto do livro Paulo e Estêvão, acima reproduzido.

Vale lembrar que, tanto Madalena quanto o tecelão de

Tarso foram discriminados pelos apóstolos, ela pela vida pregressa

de meretriz e ele por ter sido, efetivamente, assassino,

torturador e perseguidor de cristãos, ainda conforme a obra de

Emmanuel. Ambos foram também desacreditados após seus

respectivos encontros espirituais com Jesus, ela por ocasião da

ressurreição e ele após visão em Damasco. Os dois (ele muito

mais do que ela) se equivocaram e responderam por isso, abraçando

devotadamente o apostolado do Evangelho. Mostraramnos

que muito mais importante do que aquilo que cada pessoa

foi é o que ela se tornou. Tanto Maria de Magdala quanto Paulo

de Tarso, cada qual a seu modo, lidaram com a questão da

prostituição e têm muito a nos ensinar em prol da cristã eliminação

de preconceitos cultural e historicamente arraigados.

Referências bibliográficas:

XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo espírito Emmanuel.

45ª edição. Brasília, FEB, 2013.

_______. Boa nova. Pelo espírito Humberto de Campos. 37ª edição.

Brasília, FEB, 2013.

1 O fato de ser uma localidade portuária, cabe dizer, estimulava a prostituição.

2 Ver: https://reavivadosporsuapalavra.org/2015/03/25/o-uso-do-veu-corte-epintura-do-cabelo-1co-113-15/,

assim como: https://metamorfosecrista.wordpress.

com/tag/prostitutas-de-corinto/ e: https://leituraorante.comunidades.net/47-usodo-veu-e-cabelos-segundo-1-corintios-11.

Acesso: 28 de dezembro de 2021.

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