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50ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Domingos Pascoal

De onde vem tanta

violência?

Aracaju SE BR

Formado em Filosofia e Ciências Jurídicas e pós-graduado em Gestão de Pessoas, Advogado, Jornalista e ocupante

da cadeira nº 17 da Academia Sergipana de Letras. Membro da Associação Cearense de Escritores - ACE

De onde vem tanta violência? Muitos já têm

feito esta pergunta. E aí, hão de indagar: e por que

você está fazendo-a novamente?

Sinceramente? Não sei. Talvez baseado na

afirmativa de que a pergunta suscita dúvida, causa

expectativa, cria probabilidades, gera esperanças,

faz pensar e provoca movimento; ou talvez, por

constatar que as grandes evoluções da humanidade

aconteceram a partir de perguntas simples e objetivas.

Não são apenas as respostas que impulsionam

o conhecimento, pois elas não existiriam sem

as perguntas. Concluo, deste modo, que o determinante

é a pergunta, e não a resposta. Logo, talvez

por isso, quase sempre, inicio os meus textos com

uma indagação.

Quanto a esta inquirição que foi feita acima,

concordo que é um pouquinho difícil respondê-la

com precisão. De onde vem a violência que impera

entre nós? Por que somos violentos? A resposta que

nos parece mais óbvia, pois é aquela que permeia

o nosso ambiente social é: de que somos violentos,

porque somos animais, agimos, muitas vezes por

instinto como eles − afirmamos isto com o dedo

inquisidor apontando para os outros, os chamados

animais irracionais como se eles fossem a justificativa

para nossos atos. A meu ver, nós, homens,

é quem somos os agentes e os pacientes de toda

esta bestialidade, e não os pobres dos irracionais.

Ou seja, nós, seres com razão, seres pensantes,

achamos que a nossa violência vem dos bichos,

dos brutos, dos selvagens. Existem até sinônimos

da palavra violência relacionando-a diretamente

com os pobres e indefesos que habitam as nossas

selvas. Por exemplo, quando queremos justificar os

nossos exageros, as nossas violências, dizemos que

aquilo foi horrível, animalesco, animalejos, foi uma

atitude animália; aquilo foi uma bruteza, uma brutalidade,

uma feridade, uma fereza, ou ferocidade

e, por fim, ação de selvagem: uma selvageria.

Todas essas palavras, com sentido pejorativo,

determinem as nossas atrocidades, a nossa truculência,

nossa violência. São aquelas palavras e

seus derivativos que nós usamos para qualificar

aqueles que, diferentemente de nós, não têm o

dom da razão.

Será que aqueles, os chamados irracionais,

são verdadeiramente violentos ou apenas se defendem?

São violentos ou apenas atacam se têm

fome? Procedem assim pelo instinto, por necessidade

ou por autoproteção? Será que agem com violência

de modo gratuito, como fazemos nós, ditos

civilizados e racionais. Quero dizer que os animais,

por

mais brabos que sejam só usam do expediente

da “violência” para se defender e para sobreviver?

Por acaso já viram algum animal matar por matar?

Repito, a não ser para se alimentar ou para se defender.

O homem, ao contrário, mata somente por

matar. Concluo, por isso, que não é do irracional

que vem a violência. Ela tem outra origem, muito

mais próxima de nós do que pensamos. Aliás, a

violência vem de nós mesmos; somos nós − e não

os pobres e indefesos.

Só para refletirmos mais ainda, faço outra

pergunta: “Seria possível enumerar a quantidade

de violências que praticamos todo dia, entre nós

mesmos, em nossos relacionamentos, em nossas

casas, nas ruas, em nossos trabalhos?” Por mais

que nos policiemos, de vez em quando escapa um

pouco de “bílis” e alguém sai machucado. No que

diz respeito à nossa escola primeira, o nosso lar,

por sorte nas famílias mais bem-estruturadas há

um tímido cuidado, e, por isso, minimiza-se um

pouco. Porém pensemos naqueles, ricos ou pobres,

que às vezes nem lar têm nos porões do desamor

e da ignorância? Ali, moram juntos, têm filhos e

constroem a violência e os violentos do amanhã.

Lamento concluir que somos nós, e não os irracionais,

os responsáveis por tanta violência neste

mundo.

42 Atração_ fevereiro de 2022

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