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Portrait of a Lady on Fire (2019)
Rafiki (2018)
Narratives of Lesbian
Existence in Egypt –
Coming to Terms with
Identities
de Christina Lindström
Narratives of Lesbian Existence in Egypt surge da
necessidade de estudar e analisar as vivências de
mulheres lésbicas no Médio Oriente, especialmente
no Egito, onde as identidades homossexuais são
consideradas inexistentes ou pecado, existindo uma
invisibilidade destas mulheres.
Lindström aborda o tema da homossexualidade
a partir de uma perspetiva de género, isto é, analisa apenas as
representações e as experiências de mulheres, pois no Egito as
imagens que existem destas mulheres são escassas ou bastante
discriminatórias.
Para suportar esta assunção de invisibilidade da
mulher lésbicas no médio oriente, são analisados diversos artigos ou
ensaios que tratam da temática da homossexualidade nesta região e
todos chegam a uma semelhante conclusão: a homossexualidade é
uma ocidentalização das identidades e é um pecado consciente.
Neste sentido, a autora entrevistou cinco mulheres
egípcias, que mantêm relações com mulheres, todas com educação
superior (ou a frequentar) e a viver na cidade do Cairo, são elas:
Khadidja, Negma, Sarah, Leila e Mariam. Todas estas fazem-se passar
por mulheres heterossexuais, devido ao medo de retaliações que
podem sofrer se revelarem a sua autêntica identidade.
As entrevistadas descrevem a perseguição e ódio que
mulheres lésbicas sofrem quando são expostas como homossexuais,
resultando em tentativas de expulsarem estas mulheres de
Universidades e internamentos forçosos em instituições mentais.
Em adição, as mulheres relatam também como as
suas mães reagiram à possibilidade das suas filhas
serem homossexuais, sendo que muitas entraram
em negação, descartando essa ideia, adotando
sempre atitudes bastante agressivas.
Este artigo, fornece um olhar
bastante realista daquilo que é ser-se uma
mulher lésbica numa civilização do médio
oriente, entendemos o medo e a invisibilidade,
de mulheres que vêm os seus direitos humanos
violados, oprimidas enquanto são forçadas a casar
para reprimir a sua verdadeira identidade.
Gisberta Salce Júnior,
mulher trans morta e violada
a 22 de Janeiro de 2006 no Porto
268-269 the wrong side
of heaven
“A ditadura tinha uma ideologia de género fortíssima
que nunca foi posta em causa”
entrevista a Lígia Amâncio
Manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres,
no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975.
forte! E foi muito eficiente. Eu pertenço a uma
geração em que essa ideologia era ensinada nos
manuais escolares. O Salazar tem discursos sobre
o que as mulheres devem ser. A Constituição
de 1933, no capítulo da igualdade dos cidadãos,
abre uma excepção para as mulheres devido
ao seu papel na família. Temos uma ditadura
com uma ideologia de género fortíssima que
nunca foi completamente posta em causa por
nenhuma acção da democracia. A democracia
nunca combateu activa e conscientemente essa
ideologia. (...) Não há nenhuma acção política que
combata a ideologia de género.
experiências, sororidade entre mulheres, respeito
pela voz das mulheres. Em contrapartida, tivemos
uma entrada facilitada das mulheres no mercado
de trabalho pela própria Guerra Colonial. Nos
outros países, a entrada das mulheres no mundo
do trabalho é uma reivindicação do movimento
feminista. O movimento da primeira vaga tinhase
focado no acesso ao voto. O da segunda vaga
foca-se no acesso ao emprego. Em Portugal não
foi preciso. Não havia homens, tinham emigrado,
estavam na guerra, portanto as mulheres tiveram
que ir trabalhar.
A socióloga Lígia Amâncio diz que em
Portugal ninguém se habituou a debater
as desigualdades sociais baseadas no
sexo, na etnicidade. “É por isso que
estamos com o problema sobre o
racismo, outra negação da sociedade
portuguesa”. Apesar de ter esperança
nas novas gerações, mais desprendidas
em relação à “mordaça” existente
na sociedade, admite que as coisas
ainda piorem “por conta da invasão da
extrema-direita”.
O Caso Português
“Wrong Side of Heaven” da banda Five Finger
Death Punch consolida em si a ideia dos
“brandos costumes” ao qual Portugal sempre se
procurou associar.
Somos um país amável e extremamente acolhedor para
os estrangeiros, contudo, não deve ser nunca apagado ou
coberto o nosso passado obscuro e dissimulado.
Nunca tivemos um movimento
feminista forte?
O século XXI pode ser o século das
mulheres? Houve uma altura que se falava
muito do pós-feminismo…
As Carquejeiras: As Escravas do Porto (2019)
Na primeira
vaga, tivemos, mas toda a
gente já se esqueceu. E nos
anos seguintes é diluída
na luta antifascista. Depois
da dissolução do Conselho
Nacional das Mulheres
Portuguesas, da prisão
da Maria Lamas, aqueles
anos 40/50 são anos de
aniquilação, já ninguém
pensava no feminismo, era
preciso era combater a
ditadura. Isso compreendese
perfeitamente.
Agora não há nada colectivo
para analisar, é tudo individual. E como é tudo
individual, tudo depende da minha vontade, da
sua vontade... Essa é uma característica de uma
época que explica bem a ausência de feminismo.
O feminismo, como qualquer outro movimento
social, vive de um sentimento de mobilização
colectiva. Aqui em Portugal temos outra agravante:
nos outros países, os anglo-saxónicos, a própria
Itália e a França, tiveram movimentos feministas
importantes na segunda vaga e nós não tivemos.
Segunda vaga? Está a falar dos anos 60...
Mas como se explica que
haja poucos movimentos
feministas em Portugal?
É que a
ideologia de género da
ditadura era muito, muito
Nós tivemos uma primeira vaga
importante (...) , mas na segunda vaga estamos
em plena Guerra Colonial, era impossível. Uma
sociedade em guerra não pode ter feminismo. A
preocupação das mulheres naquela altura era com
os pais, os irmãos e os maridos. Essa ausência
de experiência histórica do feminismo também
nos deixou alguns défices, nomeadamente de