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Entrevista:<br />
Presidente da ABGD, sobre os avanços da geração distribuída de energia<br />
ENERGIA SUSTENTÁVEL<br />
AS VANTAGENS DO CAVACO DE<br />
MADEIRA, UMA BIOMASSA COM<br />
ALTO PODER ENERGÉTICO<br />
INVESTIMENTO<br />
PIRÂMIDE SOLAR É INSTALADA<br />
EM ANTIGO ATERRO SANITÁRIO<br />
INOVAÇÃO<br />
EMPRESA DE SANEAMENTO INVESTE<br />
NA GERAÇÃO DE BIOGÁS
SUMÁRIO<br />
06 | EDITORIAL<br />
O avanço da energia<br />
sustentável<br />
08 | CARTAS<br />
10 | NOTAS<br />
20 | ENTREVISTA<br />
26 | PRINCIPAL<br />
30 | INVESTIMENTO<br />
Capital sustentável<br />
34 | INOVAÇÃO<br />
Esgoto vira energia<br />
38 | TECNOLOGIA<br />
Investimento em energia solar<br />
42 | ARTIGO<br />
48 | AGENDA<br />
50 | OPINIÃO<br />
Etanol, RenovaBio e captura de<br />
carbono em biorrefinarias: o<br />
tripé para emissões neutras<br />
04 www.REVISTABIOMAIS.com.br
EDITORIAL<br />
A foto da capa é da Enebra Energia,<br />
empresa que está contribuindo<br />
para o crescimento no setor de<br />
cavaco para biomassa.<br />
O AVANÇO DA<br />
ENERGIA SUSTENTÁVEL<br />
A<br />
edição da Revista REFERÊNCIA BIOMAIS traz como reportagem principal o crescente mercado<br />
do aproveitamento de cavaco para biomassa no país. O crescimento da geração distribuída<br />
de energia é o tema da entrevista exclusiva com o presidente da ABGD (Associação<br />
Brasileira de Geração Distribuída), Guilherme Chrispim, que atua há 8 anos na área e fala sobre<br />
os avanços e desafios do setor. A edição também traz reportagens especiais sobre os investimentos<br />
em energia renovável feitos pela Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) e pela prefeitura de<br />
Curitiba (PR), que inaugurou recentemente, a Pirâmide Solar do Caximba, além de informações sobre a<br />
área de biomassa e bioenergia. Uma ótima leitura!<br />
EXPEDIENTE<br />
ANO X - EDIÇÃO 56 - ABRIL 2023<br />
Diretor Comercial<br />
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(fabiomachado@revistabiomais.com.br)<br />
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energias limpas e alternativas, produtores de resíduos para<br />
geração e cogeração de energia, instituições de pesquisa,<br />
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entidades de classe e demais públicos, direta e/ou indiretamente<br />
ligados ao segmento. A REVISTA BIOMAIS não se<br />
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proibídas sem autorização escrita dos titulares dos<br />
direitos autorais, exceto para fins didáticos.<br />
06 www.REVISTABIOMAIS.com.br
CARTAS<br />
CARBONO NEUTRO<br />
A JOTA EDITORA está de parabéns, tentando buscar cada vez mais a sustentabilidade.<br />
Lucas Marques - Curitiba (PR)<br />
Foto: divulgação<br />
ARTIGO<br />
Em longo prazo essa geração de energia pode ser muito útil, até para a sustentabilidade, dando um novo rumo para o lixo.<br />
João Novakoski - Desterro (PB)<br />
ENTREVISTA<br />
Muito legal essa entrevista, podemos ver que é uma pessoa que tem muito conhecimento falando, passa muita<br />
confiança.<br />
Wesley Matos - Rio de Janeiro (RJ)<br />
PRINCIPAL<br />
Interessante essa ideia do aproveitamento de biomassa, pois muitas empresas não<br />
sabem o que fazer com os resíduos e acaba virando um empecilho para a indústria.<br />
Gabriel Liang - Blumenau (SC)<br />
Foto: divulgação<br />
www.revistabiomais.com.br<br />
na<br />
mí<br />
energia<br />
biomassa<br />
dia informação<br />
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Publicações Técnicas da JOTA EDITORA<br />
08 www.REVISTABIOMAIS.com.br
NOTAS<br />
CRESCIMENTO DO MERCADO DE PELLETIZAÇÃO<br />
O Congresso do Pinus Sul Brasil e<br />
a TechForestry – III Feira de Tecnologia<br />
para Indústria da Madeira e Floresta,<br />
que aconteceu no final de março, no<br />
Centroserra Convention Center, em<br />
Lages (SC), reuniu importantes empresas<br />
do setor. A Gell Techno Solutions,<br />
empresa pioneira em tecnologia robusta<br />
e na solução turkney foi uma das<br />
participantes do evento que teve como<br />
foco principal a atualização tecnológica<br />
do plantio ao processamento do pinus,<br />
além de discutir a evolução da espécie<br />
no sul do Brasil, e incentivar o fomento<br />
e o plantio, com tecnologia para maior<br />
produtividade florestal. A realização do<br />
congresso foi considerada um marco<br />
para motivar o setor e fortalecer as<br />
indústrias do ramo madeireiro. Equipamentos<br />
de pelletização expostos pela<br />
Gell Techno Solutions na feira foram<br />
uma das atrações. “Todo e qualquer<br />
subproduto tem seu gap econômico, mas o<br />
pellet, hoje, é um co-produto no mercado.<br />
O Brasil hoje já figura-se no mapa mundi.<br />
O volume produzido em 2022 foi de 1,3<br />
milhões de toneladas e a estimativa para<br />
2023 é de uma produção de 2 milhões de<br />
toneladas de pellets”, projetou Joel Rosa,<br />
diretor da Gell Techno Solutions. O equipamento<br />
da empresa fornece uniformização<br />
da granulometria, e a partir desse processo<br />
tem a transformação da biomassa, que é<br />
a pelletizadora. “É um mercado que vem<br />
crescendo. Hoje são 60 empresas pelletizadoras<br />
registradas no Brasil. Realmente é<br />
um mercado ascendente, já se tratando de<br />
uma comodities, com o apelo ecológico que<br />
o pelletes têm hoje. Isso é uma tendência.<br />
Estamos onde, no cenário com valor agregado,<br />
a matéria-prima está estabilizada e o<br />
produto está sendo consumido e o pellet<br />
entra na recomposição de caixa. Trabalhamos<br />
em um subproduto agregando valor<br />
e transformando em co-produto, e isso é<br />
interesse hoje para o investidor”, salientou<br />
Joel Rosa. A Gell Techno Solutions tem uma<br />
linha completa de máquinas para biomassa<br />
sendo referência no setor.<br />
Fotos: REFERÊNCIA<br />
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NOTAS<br />
INVESTIMENTO EM ALTO MAR<br />
Com 7,5 mil km (quilômetros) de costa litorânea, o Brasil tem grande potencial para ampliar a geração de energia<br />
eólica em alto mar, chamada offshore. O sistema de energia eólica offshore é a fonte de energia limpa e renovável que<br />
aproveita a força do vento que sopra em alto mar. Para explorar ao máximo esse recurso, são desenvolvidas megaestruturas<br />
assentadas sobre o leito marinho. O coordenador de gestão de geradores da Trinity Energias Renováveis, Gustavo<br />
Moraes, afirma que as hélices por meio do sistema offshore alcançam uma velocidade maior e mais constante devido<br />
à inexistência de barreiras, diferente da modalidade onshore, em terra. “As máquinas, os aerogeradores, nos projetos<br />
onshore, as mais recentes chegam a até potências próximas do 6 MW a 8 MW (megawatt), cada um dos aerogeradores.<br />
Quando a gente levar isso para o offshore, a gente consegue trabalhar com potências muito maiores, na faixa dos<br />
12 MW. Tem máquina mais recente que chega até 15 MW”, explica Gustavo. Os ventos que sopram na costa brasileira<br />
são propícios para a instalação da energia eólica offshore. Com o objetivo de zerar as emissões de GEE (gases do efeito<br />
estufa) até 2050, a Petrobras já tem o planejamento estratégico para implementação de energia eólica offshore entre os<br />
anos de 2023 e 2027. Os estudos aprofundados das áreas já estão sendo feitos. Testes em parceria com os Senai do Rio<br />
Grande do Norte e de Santa Catarina estão sendo desenvolvidos. A ideia é que as estruturas de geração de energia pelo<br />
mecanismo sejam montadas perto das plataformas de petróleo já existentes em locais próximos à costa. Como explica<br />
o economista especialista em gestão de negócios Rica Mello: “O Brasil acaba ficando em uma posição muito privilegiada,<br />
como uma das, provavelmente, duas ou três maiores potências de energia eólica do mundo. E na energia eólica<br />
offshore ainda, por ter essa costa tão grande, por já ter essas plataformas de petróleo, por já ter uma certa infraestrutura<br />
próxima dos lugares onde seriam colocadas de energia eólica. Isso faz com que a gente tenha um potencial enorme,<br />
não só de produzir energia para o nosso país, mas também para exportar essa energia”, aponta Rica.<br />
Foto: divulgação<br />
12 www.REVISTABIOMAIS.com.br
NOTAS<br />
Foto: divulgação<br />
ITAIPU BINACIONAL QUITA DÍVIDA<br />
A Itaipu Binacional quitou no final do mês de fevereiro as últimas parcelas da dívida contraída para a construção da hidrelétrica,<br />
e assim tornou-se uma empresa amortizada. Os últimos pagamentos foram destinados à Eletrobras e ao BNDES (Banco Nacional de<br />
Desenvolvimento Econômico e Social) e somaram US$ 115 milhões. Com 20 unidades geradoras e 14 mil MW (megawatts) de potência<br />
instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, 2,9 bilhões<br />
de MWh. Nos últimos 12 meses, foi responsável por 8,6% do suprimento de eletricidade do Brasil e 86,3% do Paraguai. O valor da dívida<br />
contraída para o empreendimento hidrelétrico de Itaipu foi de US$ 63,3 bilhões, recurso empregado para que toda a infraestrutura<br />
necessária pudesse sair do papel, incluindo desapropriação de terras, construção de casas e pagamento das empreiteiras. Desse<br />
total, US$ 35,4 bilhões foram pagos a título de amortização de empréstimos e financiamentos e US$ 27,9 bilhões como encargos<br />
financeiros. Os governos do Brasil e do Paraguai desembolsaram o valor necessário para compor o capital social da empresa, de US$<br />
100 milhões, metade de cada país. Com a quitação da dívida abre-se caminho para a renegociação do Anexo C do Tratado de Itaipu,<br />
que estabelece as bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade da usina. As negociações vão envolver os governos<br />
do Brasil e do Paraguai e devem começar em agosto deste ano.<br />
14 www.REVISTABIOMAIS.com.br
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NOTAS<br />
BRASIL ENTRE OS MAIORES DE ENERGIA SOLAR<br />
Com base em dados da IRENA (Agência Internacional de Energias Renováveis), o Brasil entrou, pela primeira vez,<br />
na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada da fonte solar fotovoltaica. O país encerrou 2022<br />
com 24GW (gigawatts) de potência operacional solar e assumiu, de forma inédita, a oitava colocação no ranking<br />
internacional. Os dados consideram a somatória das grandes usinas solares com os sistemas de geração própria<br />
solar de pequeno e médio portes, em telhados e fachadas de edifícios e também em pequenos terrenos, com base<br />
na potência total acumulada ao final de 2022. De acordo com o mapeamento, a oitava colocação do Brasil é fruto<br />
dos cerca de 10 GW adicionados no ano de 2022. Com isso, apenas no ano passado, o setor solar atraiu mais de R$<br />
45,7 bilhões de novos investimentos, crescimento de 64% em relação aos valores financeiros acumulados até o final<br />
de 2021 no país. Ao analisar a capacidade instalada acumulada da tecnologia solar entre 2021 e 2022, o Brasil subiu<br />
cinco posições no ranking mundial da fonte fotovoltaica no período, saindo da 13ª colocação em 2021 para a oitava<br />
em 2022. O ranking é liderado pela China (392 GW), seguida pelos EUA (Estados Unidos da América) - 111 GW -,<br />
Japão (78,8 GW), Alemanha (66,5 GW) e Índia (62,8 GW).<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K<br />
Foto: divulgação<br />
16 www.REVISTABIOMAIS.com.br
NOTAS<br />
MATO GROSSO SE CONSOLIDA NA<br />
PRODUÇÃO DE ETANOL<br />
O Estado do Mato Grosso se consolida cada vez mais<br />
como um dos principais produtores de etanol do país e<br />
já ocupa o terceiro lugar no ranking de maior fabricante<br />
do biocombustível, ficando atrás apenas de São Paulo e<br />
Goiás. Para a próxima safra, a estimativa é que sejam gerados<br />
5,3 bilhões de litros, o que representa o aumento<br />
de mais de um bilhão de litros em relação ao produzido<br />
na última colheita. Atualmente, segundo dados apresentados<br />
pelas indústrias de bioenergia do Estado, cerca<br />
de 75% da produção de etanol do Mato Grosso é de<br />
milho. Na safra passada foram registrados 3,2 bilhões,<br />
sendo que a previsão é de que este número alcance<br />
o patamar de 4,2 bilhões de litros na safra 2023/2024.<br />
Quanto ao etanol de cana-de-açúcar, foram 1,075 bilhão<br />
de litros produzidos e, para a próxima safra, o esperado<br />
é de 1,1 bilhão de litros. Os dados, conforme o vice-governador<br />
Otaviano Pivetta, são surpreendentes. “O que<br />
aconteceu de 2015 a 2022 foi nada mais do que crescer dez vezes a produção de etanol. O Estado está acompanhando e procurando<br />
facilitar em tudo que é seu papel, além de criar condições para que novos investimos se estabeleçam.”<br />
Foto: divulgação<br />
Foto: divulgação<br />
NOVAS USINAS ENTRAM EM OPERAÇÃO<br />
A matriz elétrica brasileira fechou o primeiro trimestre de 2023 com uma expansão de 2.746,5 MW (megawatts) – o dobro do<br />
crescimento de 1.367 MW verificado no mesmo período de 2022. Até 31 de março, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)<br />
registrou a entrada em operação comercial<br />
de 82 usinas, sendo 44 eólicas (1.485 MW), 23<br />
solares fotovoltaicas (920,2 MW), 10 termelétricas<br />
(278,1 MW), quatro pequenas centrais<br />
hidrelétricas (59,8 MW) e uma central geradora<br />
hidrelétrica (3,4 MW). Plantas solares e<br />
eólicas representam, juntas, 87,6% da capacidade<br />
instalada no ano. As usinas com operação<br />
iniciada este ano estão localizadas em<br />
treze Estados de quatro regiões brasileiras.<br />
Em ordem decrescente, apresentam maiores<br />
resultados até o momento os Estados de Minas<br />
Gerais (827,7 MW), Rio Grande do Norte<br />
(666,4), Bahia (501,6 MW) e Piauí (276,4 MW).<br />
Conforme dados do SIGA (Sistema de Informações<br />
de Geração da ANEEL) o Brasil somou<br />
191.323,9 MW de potência fiscalizada até 31<br />
de março, desse total em operação, 83,6%<br />
das usinas são consideradas renováveis.<br />
18 www.REVISTABIOMAIS.com.br
Nova planta produzindo Pellets com<br />
biomassa de casca de arroz
ENTREVISTA<br />
Foto: divulgação<br />
ENTREVISTA<br />
GUILHERME<br />
CHRISPIM<br />
Formação: formado em Economia pela<br />
Universidade Federal de Juiz de Fora<br />
(MG). Mestre em Administração de<br />
Empresas pelo MADE (RJ). Há 8 anos atua<br />
no mercado de energias renováveis e<br />
eficiência energética com experiências em<br />
mercados e empresas do Brasil, América<br />
Latina e Europa.<br />
Cargo: presidente executivo da ABGD<br />
(Associação Brasileira de Geração<br />
Distribuída)<br />
O CRESCIMENTO DA<br />
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA<br />
A<br />
ABGD completa 8 anos de atuação em setembro de 2023. Apesar de pouco tempo, a associação<br />
já fez muito pelo setor e continua investindo em iniciativas para fomentar e expandir a GD<br />
(geração distribuída) de energia no país. Em janeiro de 2022, Guilherme Chrispim, foi eleito<br />
para assumir a presidência executiva da ABGD para o período de 2022-2023. Antes, entre 2020<br />
e 2021, já havia presidido o conselho da associação. Com mais de 25 anos de experiência de mercado, principalmente<br />
na área comercial de empresas nacionais e multinacionais, nesta entrevista exclusiva para a Revista<br />
REFERÊNCIA BIOMAIS, Guilherme fala das ações da ABGD, sobre o crescimento da geração distribuída<br />
que neste ano deve acrescentar cerca de 8 GW (gigawatts) de potência instalada no sistema, e os desafios<br />
colocados pela nova regulamentação, que instituiu o marco legal da micro e minigeração de energia.<br />
20 www.REVISTABIOMAIS.com.br
Como surgiu a ABGD?<br />
A ABGD nasceu em 2015. E porque ela<br />
nasceu? Já havia a Absolar (Associação Brasileira<br />
da Energia Solar Fotovoltaica), que faz 10 anos<br />
em 2023. Só que a Absolar não olhava para o<br />
telhado com placas fotovoltaicas, para o pequeno<br />
produtor de energia. Ela tem um olhar para<br />
grandes projetos, como a associação da eólica<br />
olha para as usinas eólicas. Na época tinha mais<br />
usinas de energia fotovoltaica do que placas<br />
nos telhados de casas, empresas, comércios. A<br />
geração distribuída se sentia órfã e um grupo<br />
de empresários resolveu criar a ABGD. Mas a GD<br />
(geração distribuída), como conceito e aplicabilidade,<br />
nasce efetivamente em 7 de abril de 2012<br />
quando é validado pela ANEEL (Agência Nacional<br />
de Energia Elétrica) a resolução 482. Não estou<br />
dizendo sobre o sistema fotovoltaico, pois já existiam<br />
módulos de fotovoltaico nessa data. Com<br />
a resolução, foi criada a base para o que a gente<br />
conhece hoje como GD. Em 2015 veio a resolução<br />
687, importante, porque abriu ainda mais a<br />
possibilidade para GD no Brasil.<br />
Como explicar a potência instalada pela<br />
GD no sistema elétrico brasileiro em tão pouco<br />
tempo?<br />
Acho interessante, um marco de 10 anos de<br />
GD que completou em 2022. Do início da GD em<br />
2012 até 2017, na metade do caminho, ao longo<br />
de 5 anos tinha acumulado 240 MW (megawatts).<br />
Foram 5 anos para a GD chegar em 240 MW e nos<br />
outros 5 anos, de 2017 até 2022 chegamos em<br />
18 GW. Não sei nem explicar. Hoje, os 5 primeiros<br />
anos a gente faz em uma semana em GD. É<br />
muita coisa. Aí a gente vê, que hora que a chave<br />
virou? Acho que em 2018 começa a ter números<br />
que impactavam. Foi 2 GW (gigawatts) de GD ao<br />
longo do ano, e daí foram 3 anos consecutivos de<br />
crescimento. A GD foi a fonte que mais colocou<br />
potência no sistema elétrico brasileiro. Em 2022<br />
se somar todas as fontes renováveis não dá o que<br />
a GD colocou: quase 8 GW. A energia solar é hoje<br />
a segunda fonte de potência no Brasil e é por<br />
conta dos telhados com placas fotovoltaicas, da<br />
empresa, do microempreendedor, principalmente.<br />
Na sua avaliação qual foi o incentivo para<br />
crescer a GD no Brasil?<br />
É natural que no início se gerava menos energia,<br />
com menos conhecimento e número menor<br />
de fornecedores. Hoje se tornou mais acessível,<br />
barateou. A crise energética no radar, o discurso<br />
em prol de energias renováveis, energia limpa,<br />
colaborou para o crescimento. E outro ponto fundamental<br />
foi o setor financeiro. Quando o setor<br />
financeiro entrou no jogo fez muita diferença. Em<br />
geral se leva 4 anos, 5 anos para pagar uma instalação,<br />
então, quando abriu financiamento, teve<br />
uma enxurrada de projetos, dinheiro emprestado,<br />
ficou mais barato para investir, isso ajudou<br />
a expansão. Em 2022 caiu um pouco. O ano de<br />
2021 foi de muito crescimento. A GD colocou 4<br />
GW no sistema, colocou 10% mais que a eólica, e<br />
56% dos sistemas fotovoltaicos foram financiados.<br />
Já em 2022, a GD colocou 7,4 GW, mas somente<br />
22% do sistema foi financiado, então houve uma<br />
redução significativa. A taxa de juros começou<br />
a ficar mais alta, a inadimplência de uma forma<br />
geral aumentou, o financiamento é um ponto<br />
crítico, seja para o distribuidor, para o fabricante.<br />
É uma cadeia e o custo financeiro começou a ficar<br />
alto, mas ainda há crescimento.<br />
Recentemente a ANEEL regulamentou a<br />
micro e minigeração distribuída por meio da<br />
lei 14.300/2022. Para ABGD, quais os principais<br />
A GD foi a fonte que<br />
mais colocou potência<br />
no sistema elétrico<br />
brasileiro. A energia solar<br />
é hoje a segunda fonte de<br />
potência no Brasil<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
21
ENTREVISTA<br />
benefícios para o setor com esta regulamentação?<br />
Particularmente acho que a ANEEL errou na<br />
forma, ela trouxe nova discussão, que na verdade<br />
era para ela ter apaziguado. A lei foi promulgada<br />
em 7 de janeiro de 2022, depois de muita<br />
conversa, se chegou em uma lei de consenso e<br />
ficaram alguns pontos para serem definidos pela<br />
agência reguladora, no caso ANEEL, que ia dizer<br />
como ia ser, mas já tinha ali um ponto de partida.<br />
Eles trouxeram alguns elementos novos que nos<br />
surpreenderam.<br />
Poderia explicar os pontos mais críticos?<br />
No caso do B Optante, por exemplo. Tá na lei,<br />
é regra. Antes tinha que cumprir um requisito,<br />
agora tem que cumprir três requisitos para poder<br />
ser B Optante, porque a ANEEL determinou. Já é<br />
um erro grave, e mais, isso vai funcionar mesmo<br />
para quem, quando fez o seu projeto lá atrás, e<br />
optou por ser B Optante. Agora ele vai ter que<br />
mudar característica do projeto que ele fez. Aí não<br />
dá. Porque quando a pessoa fez o investimento a<br />
regra não era essa. A pessoa pode até fazer essa<br />
loucura daqui para frente. Mas a ANEEL disse que<br />
agora vai ser assim. Quem quiser ser B Optante<br />
tem que se enquadrar. Vai ter questionamento. A<br />
judicialização na própria ANEEL e nas distribuidoras.<br />
Porque, como falei, compra-se um carro com<br />
determinada característica, e de repente falam:<br />
carro com carburador não pode andar mais. A lei<br />
tem que ser tipo não pode fabricar mais, porque<br />
quando comprei não tinha essa regra e mudar a<br />
regra depois de estabelecida é ruim.<br />
Quais seriam outras questões que a ANEEL<br />
não apaziguou com a nova norma?<br />
Outra questão é agora taxar também a microgeração,<br />
outro ponto que acho um absurdo.<br />
A força da GD está na microgeração, 85% da<br />
potência de 18 GW hoje, vem do telhadinho, da<br />
mercearia, da padaria, do agronegócio pequeno.<br />
E agora vai pagar demanda contratada. As<br />
pessoas que geram sua própria energia na hora<br />
que fizer a troca com a rede de distribuição ela<br />
vai ter que pagar essa demanda. Ela vai ter que<br />
pagar a energia que ela manda para rede e o que<br />
pega de volta, porque eles estão entendendo<br />
que a pessoa tá usando a rede para mandar e<br />
pegar de volta. Isso já tinha sido apaziguado que<br />
é adequado pagar só o fio B mas não pagar para<br />
mandar e pegar de volta. Acho errado, porque<br />
há um beneficio enorme para a distribuidora. Por<br />
exemplo, hoje entrego para a distribuidora mais<br />
de 55% do que consumo, estou juntando crédito,<br />
pode ser que use um dia ou não. Acontece que<br />
essa energia que disponibilizei para a distribuidora,<br />
ela vendeu para o meu vizinho a preço cheio,<br />
ou seja, ela não fez investimento nenhum, zero,<br />
ela usou uma energia que é minha, tudo bem, a<br />
regra é essa mesmo, só que a pessoa se apropriou<br />
desse recurso agora para me devolver um dia,<br />
porque tem que devolver. Mas pode ser que eu<br />
mude, se mudar para outra distribuidora, não<br />
consigo levar o crédito. Com quem fica o crédito?<br />
Com a pessoa. Não tenho nem a possibilidade de<br />
dizer, olha dá meu crédito para o meu vizinho.<br />
Não, essa energia que gerei e entreguei para a<br />
distribuidora fica presa à unidade consumidora.<br />
Acho que houve um desequilíbrio. Acho que<br />
viram esse crescimento da GD, é um crescimento<br />
que impressiona, e estão tentando achar uma<br />
forma de diminuir este crescimento.<br />
Faltou clareza na nova norma?<br />
Com relação a divisão de usinas conseguiu<br />
apaziguar, cada distribuidora criou um critério<br />
para entender o que era divisão de usina. Mas não<br />
há clareza sobre o limite de potência. Em Minas<br />
A ANEEL fala que é<br />
a favor da GD, fez<br />
uma resolução boa<br />
lá atrás, mas agora,<br />
com a nova resolução<br />
pode vir a ter<br />
questionamentos<br />
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ENTREVISTA<br />
Gerais, por exemplo, tinha limite de potência de<br />
5 MW, agora mudou para até 3 MW. Dai surgem<br />
questões como: pode pegar usina de 100 MW<br />
e dividir para poder ficar no limite para ter os<br />
benefícios da GD? Não, não pode fazer isso. Pode<br />
ter uma usina de 3 MW do lado da outra? Pode.<br />
De quem é uma, e de quem é a outra? Não tem<br />
critério objetivo. O impacto energético, tem esses<br />
desafios, o sentimento nosso é que o discurso é<br />
diferente da prática. A ANEEL fala que é a favor<br />
da GD, fez uma resolução boa lá atrás, mas agora,<br />
com a nova resolução pode vir a ter questionamentos.<br />
A ABGD possui várias ações para fomentar<br />
o setor. Falta esclarecimentos sobre a GD para<br />
a sociedade de uma forma geral?<br />
Nesse chapéu da associação a gente tem<br />
alguns propósitos que precisam ser desenvolvidos,<br />
precisam ser feitos, porque tem muitas<br />
dúvidas com relação a GD como, por exemplo, se<br />
precisa de bateria, se vai esquentar a água, se a<br />
distribuidora vai permitir que gere minha própria<br />
energia. Não cabe à distribuidora permitir, tem a<br />
lei da ANNEL, que permite e regulamenta. Então<br />
fomos para rua explicar. É um desafio ainda hoje<br />
contar como funciona a GD. Uma das ações é o<br />
Road Show que na primeira edição rodou 32 mil<br />
km (quilômetros), foram mais de 1.600h (horas)<br />
de curso de capacitação, mais de 60 cidades, 4<br />
mil pessoas passaram pelo curso. Outro exemplo<br />
é o programa setorial de qualidade, lançado este<br />
ano, e é fundamental também. Porque lá no início<br />
não tinha tantos fornecedores de módulos, de<br />
inversores, de cabos, eram poucos, o mercado naturalmente<br />
cresceu e chamou atenção, em volume<br />
o Brasil deve ser o quarto mercado hoje. Eram<br />
poucas marcas, de repente tem 80, 70 marcas de<br />
inversores e dai tem de tudo, de marcas reconhecidas<br />
e outras desconhecidas. E o discurso comercial<br />
de que é tudo igual, mas tem muita diferença<br />
entre um e outro. Por isso criamos uma forma de<br />
validar isso, de checar esse equipamento. Porque<br />
estamos expondo as pessoas a risco. A própria<br />
ABGD News, é uma plataforma que a gente criou<br />
também para informar o mercado que pode ser<br />
acessada pelo nosso site (www.abgd.com.br).<br />
A ABGD criou recentemente o Conselho<br />
Empresarial. Qual o objetivo deste conselho?<br />
Este projeto do Conselho Empresarial foi para<br />
aproveitar o potencial de pessoas da associação<br />
e que vive o mercado dia a dia, seja o fabricante<br />
de carro, a empresa de equipamento, o empreendedor<br />
que desenvolve projetos maiores.<br />
São pessoas que vivem o mercado e a ideia foi<br />
trazê-los, com alguma periodicidade, presencial e<br />
uma vez híbrida, para que possam trazer a visão<br />
delas de negócios e ouvir os problemas, pois é<br />
uma das diretrizes de uma associação também<br />
fomentar negócios, ajudar que as empresas<br />
possam fazer negócios, ouvir quem está vivendo<br />
o setor. Se o setor não falar, a gente não vai saber<br />
dos problemas.<br />
Qual expectativa para o futuro da GD?<br />
O desafio da transição energética está apresentado<br />
para todos nós, tem uma hora que pode<br />
reduzir a expansão, mas a questão é que esse<br />
conceito de gerar sua própria energia, o conceito<br />
é muito forte. Cedo ou tarde as pessoas vão ter<br />
isso, o mercado vai achar um jeito. A tendência é<br />
estar cada vez mais eletrificado, com mais aparelhos<br />
elétricos. Mobilidade e geração vão andar de<br />
mãos dadas. As distribuidoras, acho que algumas<br />
já perceberam isso, estão tentando alongar esse<br />
sofrimento. Hoje deveriam oferecer mais serviços,<br />
pensar em como participar deste negócio, mas<br />
estão tentando manter o status quo.<br />
É um desafio ainda<br />
hoje contar como<br />
funciona a GD. Se<br />
o setor não falar, a<br />
gente não vai saber<br />
dos problemas<br />
24 www.REVISTABIOMAIS.com.br
Você sabia que<br />
facas bem<br />
afiadas garantem:<br />
• Qualidade no cavaco<br />
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26 www.REVISTABIOMAIS.com.br
CAVACO DE<br />
MADEIRA<br />
BIOMASSA COM ALTO PODER<br />
ENERGÉTICO E BAIXO CUSTO<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
P<br />
odemos dizer que as grandes plantações de<br />
pinus e eucalipto se tornaram uma espécie<br />
de florestas de energia, devido a utilização de<br />
seus resíduos que contribuem para a redução<br />
de CO2 (gás carbônico) na atmosfera. O cavaco de<br />
madeira é um desses produtos que tem ganhado o<br />
mercado. Eficiente produtor de energia e com fácil<br />
armazenamento, o cavaco de madeira é uma biomassa<br />
que tem sido muito utilizada para gerar energia<br />
térmica em diferentes indústrias, por meio da queima<br />
em caldeira.<br />
Com baixo custo de mercado, alta produtividade<br />
em gerar energia para caldeiras e ainda sendo um<br />
material sustentável, o cavaco de madeira se tornou<br />
um importante combustível nestes tempos em que<br />
reduzir a emissão de CO2 e praticar ações mais sustentáveis<br />
tem se tornado cada vez mais importante.<br />
Devido a quantidade de energia liberada em sua<br />
queima, que pode ser resumida em calor, o cavaco é<br />
utilizado como combustível nas fornalhas das caldeiras,<br />
que produzem vapor em alta pressão e temperatura,<br />
alimentando turbogeradores e produzindo<br />
energia elétrica de forma eficiente e com baixo custo<br />
operacional.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
27
PRINCIPAL<br />
COMO SE OBTÉM<br />
O cavaco é gerado por meio da trituração em picadores<br />
de faca e/ou martelos, resíduos de serrarias, e<br />
ponteiras de árvores de eucalipto, pinus, acácia-negra,<br />
entre outras espécies. A partir da colheita de florestas<br />
destinadas ao mercado madeireiro e de reflorestamento<br />
é retirado após a derrubada das árvores e a<br />
separação em toras, que são por sua vez picadas e<br />
transformadas em cavaco.<br />
Para se obter cavaco de madeira de qualidade é<br />
preciso se atentar ao tipo de corte, ao tronco granulometria<br />
e quantidade de insumos, como galhos e<br />
folhas. E ainda observar o período de secagem, que,<br />
normalmente, deve ser entre quatro a seis meses,<br />
sem ramos e folhas, antes do seu destroçamento ou<br />
picagem.<br />
Este tipo de biomassa é cultivado em larga escala<br />
nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, e colabora<br />
para a redução do uso de florestas nativas, além<br />
de contribuir também com a geração de empregos e a<br />
diversificação das fontes energéticas locais.<br />
Dessa forma, o cavaco de madeira se torna uma<br />
das fontes energéticas mais eficientes e baratas no<br />
momento para geração de energia.<br />
TIPOS DE CAVACO<br />
Podemos dizer que existem três tipos de cavaco<br />
de madeira que se diferenciam pela produção e umidade<br />
que carregam:<br />
• No tipo I, o cavaco de madeira é feito pela trituração<br />
de galhos, folhas, cascas, copas de árvores e até<br />
árvores inteiras. Devido às diferentes partes inseridas,<br />
esse material possui umidade próxima a 50%, podendo<br />
influenciar no valor de venda. Seu destino, geralmente,<br />
são as caldeiras de médio e grandes indústrias,<br />
a fim de gerar combustível.<br />
"Esperamos um<br />
crescimento de 40% de<br />
faturamento, comparado<br />
ao exercício passado"<br />
Guilherme Henrique Araújo Elias,<br />
sócio da Enebra Energia<br />
28<br />
www.REVISTABIOMAIS.com.br
Foto: Vinícius Mutão<br />
• O tipo II, é resultado do processo da madeira na<br />
serraria, utilizando de pedaços pequenos de madeira,<br />
madeiras tortas, lascas, costaneiras e outros restos.<br />
Nesse caso, devido a sua porcentagem menor de<br />
umidade, entre 40% e 50%, seu uso está relacionado a<br />
combustível de caldeiras pequenas.<br />
• Já o tipo III, o cavaco de madeira é formado pelo<br />
corte da madeira das árvores. Para sua produção, são<br />
utilizados pedaços de madeira, toras sem ramos e<br />
folhas para chegar a um produto final com 30% de<br />
umidade. Dessa forma, sua utilização será feita por<br />
caldeiras de edifícios residenciais e comerciais.<br />
VANTAGENS DO CAVACO<br />
Com tamanhos variáveis entre 5 mm e 50 mm<br />
(milímetros) de pedaço de madeira, o cavaco proporciona<br />
fácil armazenamento. Ele pode ser colocado em<br />
silos ou em pilhas ao ar livre, sem necessidade de um<br />
local específico.<br />
Outra vantagem é a economia financeira do uso<br />
do cavaco de madeira, uma vez que ele possui valor<br />
bruto menor do que outro tipo de combustível para<br />
caldeiras. Além disso, vale sempre ressaltar que o uso<br />
do cavaco também é ecologicamente correto, já que<br />
utiliza do reaproveitamento de uma matéria natural,<br />
que seria descartada.<br />
MERCADO<br />
Uma empresa que está se destacando no mercado<br />
é a Enebra Energia, de Anápolis (GO). A empresa<br />
trabalha na produção de biomassa, seja por meio de<br />
espécie exótica (eucalipto/pinus), ou no reprocessamento<br />
do resíduo de supressão nativa legalizada.<br />
"A demanda de biomassa é crescente ante aos<br />
grandes projetos industriais consumidores em implantação.<br />
O atendimento de tal demanda exigirá a utilização<br />
de novos tipos de biomassa alternativos em razão<br />
da inexistência de maciço florestal compatível", aponta<br />
Guilherme Henrique Araújo Elias, sócio da empresa.<br />
Para o ano de 2023, a Enebra Energia espera uma<br />
perspectiva bastante relevante de mercado.<br />
"Esperamos um crescimento de 40% de faturamento,<br />
comparado ao exercício passado", projeta<br />
Guilherme.<br />
Importante, também destacar, a responsabilidade<br />
e o compromisso que a empresa possui no mercado.<br />
"Diferentemente da produção do cavaco de eucalipto,<br />
a operação de reaproveitamento dessa biomassa<br />
de supressão nativa é totalmente rastreada e fiscalizada<br />
em todas as suas etapas pela Secretaria do Meio<br />
Ambiente e todos os demais órgãos fiscalizatórios de<br />
manejo", explica Guilherme.<br />
Em uma comparação do resíduo de madeira<br />
reflorestada, a principal diferença se baseia nos custos<br />
de operação, que são muitas vezes superiores na<br />
supressão nativa e demanda de equipamentos muito<br />
mais robustos pela heterogeneidade de indivíduos,<br />
tratamento da sílica, ambiente adverso, dentre outros<br />
fatores. Tais características ainda inviabilizam a maior<br />
parte dos projetos existentes no país.<br />
VANTAGENS DO CAVACO DE MADEIRA:<br />
Fácil armazenamento;<br />
Baixo custo para gerar energia;<br />
Uso ecológico correto;<br />
Aproveitamento de sobra de resíduos.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA 29
INVESTIMENTO<br />
CAPITAL<br />
SUSTENTÁVEL<br />
FOTOS JOSÉ FERNANDO OGURA/SMCS E GILSON ABREU<br />
30 www.REVISTABIOMAIS.com.br
PIRÂMIDE SOLAR DO<br />
CAXIMBA É INSTALADA<br />
EM ANTIGO ATERRO<br />
SANITÁRIO E ENERGIA<br />
GERADA ATENDE<br />
222 UNIDADES DA<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
MUNICIPAL DE CURITIBA<br />
C<br />
om nome que faz referência ao bairro<br />
onde está localizada, a prefeitura de<br />
Curitiba (PR) inaugurou a Pirâmide Solar<br />
do Caximba. Trata-se de uma usina com<br />
cerca de 8,6 mil painéis fotovoltaicos instalados<br />
sobre um aterro sanitário desativado em 2010. É a<br />
primeira usina deste modelo da América Latina, e foi<br />
inaugurada no dia 29 de março, dia do aniversário<br />
da capital do Paraná.<br />
Com a geração de energia da Pirâmide distribuída<br />
na rede da Copel (Companhia Paranaense de<br />
Energia Elétrica), Curitiba vai suprir o equivalente a<br />
30% do consumo dos prédios públicos. Este número<br />
corresponde a R$ 2,6 milhões por ano de economia<br />
na fatura de energia.<br />
“O valor é suficiente para construir um Centro<br />
Municipal de Educação Infantil, para transformar<br />
aproximadamente 660m (metros) de ruas de saibro<br />
em ruas com pavimentação de boa qualidade e<br />
completa estrutura de drenagem ou, ainda, subsidiar<br />
mil refeições por dia, durante um ano e meio, do<br />
programa Mesa Solidária, que atende pessoas em<br />
situação de vulnerabilidade”, comentou o prefeito<br />
de Curitiba, Rafael Greca, durante a inauguração.<br />
“Estamos vendo um lugar que antes era passivo<br />
ambiental transformado em um ativo ambiental”,<br />
destacou o prefeito.<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
31
INVESTIMENTO<br />
PROJETO INOVADOR<br />
O empreendimento ocupa pouco mais de 100<br />
mil m2 (metros quadrados) de área do aterro, com<br />
quase 48 mil m2 de painéis. Ao todo, são cerca de 8,6<br />
mil módulos fotovoltaicos bifaciais, com uma potência<br />
instalada de 4,5 MW (megawatts) pico, gerando<br />
até 3,5 MW. São 222 unidades consumidoras que<br />
estão recebendo a energia gerada na Pirâmide Solar,<br />
por meio de compensação, através de uma rede de<br />
transmissão com 7 km (quilômetros) de extensão<br />
ligando a Pirâmide até a Subestação de Fazenda<br />
Rio Grande, município da Região Metropolitana de<br />
Curitiba.<br />
A Pirâmide Solar do Caximba faz parte do programa<br />
Curitiba Mais Energia, uma das estratégias<br />
da cidade para combater e mitigar as mudanças<br />
climáticas, por meio da produção de energia renovável,<br />
o que também resulta em economia aos cofres<br />
públicos.<br />
O programa contempla, ainda, painéis instalados<br />
em outros endereços da administração municipal,<br />
incluindo o Palácio 29 de Março, sede do governo<br />
municipal. A próxima etapa do Curitiba Mais<br />
Energia inclui sistemas fotovoltaicos nos telhados<br />
dos terminais de ônibus do Santa Cândida (465 kW<br />
- quilowatts) e Boqueirão (512 kW), com serviços em<br />
andamento; além do Terminal do Pinheirinho (925<br />
kW), com licitação em fase final e na Rodoferroviária<br />
de Curitiba. Com mais esses projetos, a prefeitura<br />
pretende suprir até 60% do consumo de energia dos<br />
prédios públicos do município.<br />
“Com a economia gerada na conta de luz, o<br />
projeto se paga em cerca de 10 anos, com um<br />
retorno financeiro bastante interessante e que pode<br />
ser aplicado nas outras necessidades do município”,<br />
explicou a secretária municipal do Meio Ambiente,<br />
Mariuza Dias. “Mas o mais importante é estarmos<br />
no caminho da chamada transição energética, que<br />
é tão necessária para diminuir a dependência dos<br />
combustíveis fósseis, reduzir a emissão dos GEE<br />
(gases de efeito estufa) e diminuir os efeitos das<br />
mudanças climáticas.”<br />
32 www.REVISTABIOMAIS.com.br
FINANCIAMENTO INTERNACIONAL<br />
Idealizado em 2012 por Rafael Greca, o projeto é<br />
uma colaboração do C40 Cities Climate Leadership<br />
Group e da Deutsche Gesellschaft für Internationale<br />
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, que apoia cidades<br />
no desenvolvimento de projetos para reduzir as<br />
emissões de gases e frear o aumento da temperatura<br />
global.<br />
O projeto da prefeitura recebeu investimentos<br />
de R$ 28 milhões através de um financiamento internacional.<br />
O programa recebeu financiamento do<br />
BMZ (Ministério Federal Alemão para o Desenvolvimento<br />
Econômico e Cooperação), pelo BEIS (Departamento<br />
de Negócios, Energia e Estratégia Industrial<br />
do Reino Unido) e pela USAID (Agência dos Estados<br />
Unidos para o Desenvolvimento Internacional).<br />
“Estarmos no caminho da<br />
chamada transição energética,<br />
que é tão necessária para<br />
diminuir a dependência dos<br />
combustíveis fósseis, reduzir<br />
a emissão dos gases de efeito<br />
estufa e diminuir os efeitos das<br />
mudanças climáticas”<br />
Mariuza Dias, secretária de Meio<br />
Ambiente de Curitiba<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
33
INOVAÇÃO<br />
ESGOTO<br />
VIRA ENERGIA<br />
34 www.REVISTABIOMAIS.com.br
INICIATIVA EM<br />
PESQUISA<br />
E INOVAÇÃO<br />
TEM GERADO<br />
ENERGIA ORIUNDA<br />
DO TRATAMENTO<br />
ANAERÓBICO<br />
DO ESGOTO<br />
DOMÉSTICO<br />
FOTOS DIVULGAÇÃO<br />
U<br />
m projeto desenvolvido pela Sanepar (Companhia<br />
de Saneamento do Paraná) concorreu ao prêmio<br />
Melhores do Biogás durante o V Fórum Sul Brasileiro<br />
de Biogás e Biometano, que aconteceu em Foz<br />
do Iguaçu (PR) em meados de abril. A participação foi um reconhecimento<br />
ao trabalho que a empresa vem desenvolvendo<br />
com diversas iniciativas associadas com o biogás de suas<br />
ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto), com o objetivo de<br />
ratificar seu potencial de recuperação de energia.<br />
A Sanepar concorreu na categoria Melhor Planta de<br />
Saneamento - Unidade Geradora de Biogás. A planta em<br />
questão foi a ETE Ouro Verde, localizada em Foz do Iguaçu<br />
e foi a primeira usina brasileira de geração distribuída de<br />
energia elétrica movida a biogás oriundo do tratamento<br />
anaeróbio de esgoto doméstico a ser cadastrada junto a<br />
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e também foi<br />
a primeira no país a aderir ao sistema de compensação de<br />
energia elétrica preconizado pelas Resoluções Normativas<br />
da ANEEL nº 482/12 e 687/15, como unidade microgeradora.<br />
PIONEIRA NA PESQUISA<br />
A ETE iniciou sua operação em 1997 e possui capacidade<br />
de atendimento de até 35 mil habitantes, podendo tratar até<br />
70 L/s de esgoto doméstico. Seu processo de tratamento do<br />
esgoto é constituído pelas etapas físicas de remoção de sólidos<br />
grosseiros com base em gradeamento e desarenação,<br />
REVISTA + BIOMASSA + ENERGIA<br />
35
INOVAÇÃO<br />
e pela etapa de degradação biológica em um RALF (reator<br />
anaeróbio de lodo fluidizado). A ETE Ouro Verde opera, atualmente,<br />
com uma eficiência de aproximadamente 75% na<br />
remoção da matéria orgânica. Um subproduto do processo<br />
anaeróbio de tratamento de esgoto é o biogás, cuja produção<br />
estimada é de 50 Nm3/dia. O biogás formado no RALF é<br />
captado em uma tubulação de PVC e forçado a passar por<br />
um filtro à base de limalha de ferro, onde é dessulfurizado.<br />
Após ser dessulfurizado, o biogás é guiado até um gasômetro<br />
cilíndrico horizontal com capacidade para armazenar até<br />
50 m³ (metros cúbicos).<br />
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA<br />
O consumo médio de energia elétrica da ETE Ouro Verde<br />
é de aproximadamente 0,8 MWh/mês (megawatts por hora,<br />
por mês). Estima-se que o sistema de geração distribuída<br />
pode produzir até 3,6 MWh/mês, disponibilizando um excedente<br />
de energia de cerca de 2,8 MWh/mês. Contudo, a ETE<br />
opera apenas em horário comercial, sob demandas específicas<br />
de projetos de pesquisa e inovação e, assim, entre os<br />
anos de 2020 e 2022, compensaram-se mais de 18,5 MWh de<br />
energia elétrica na localidade.<br />
Destaca-se, ainda, que a ETE possui um sistema híbrido<br />
de geração distribuída de energia elétrica composto por um<br />
motogerador à biogás, um sistema fotovoltaico (5 kwp) e<br />
duas microturbinas hidráulicas (2 kw) instaladas no emissário<br />
do efluente da estação. Trata-se, portanto, da primeira<br />
ETE do Brasil a implementar e a investigar tal arranjo, o qual<br />
é muito promissor na perspectiva dos microgrids.<br />
INVESTINDO EM INOVAÇÃO<br />
A ETE Ouro Verde tem sido ao longo dos anos referência<br />
de pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor de saneamento<br />
ambiental, notadamente por empregar conceitos<br />
“A Sanepar tem tradição na<br />
utilização do biogás e temos<br />
um potencial muito grande<br />
de aumentar esse uso devido<br />
ao grande volume de biogás<br />
que já produzimos. Isso traz<br />
benefícios ao meio ambiente<br />
e também contribuirá para<br />
a modicidade tarifária,<br />
como preconiza o marco do<br />
saneamento”<br />
Claudio Stabile, diretor-presidente da<br />
Sanepar<br />
contemporâneos voltados à economia circular e de baixo<br />
carbono e por possibilitar a geração de diretrizes replicáveis<br />
em plantas similares.<br />
A Sanepar tem o maior parque de reatores anaeróbios<br />
de esgoto doméstico do mundo, o que a torna com grande<br />
potencial de geração de energia a partir do biogás. “A Sanepar<br />
tem tradição na utilização do biogás e temos um potencial<br />
muito grande de aumentar esse uso devido ao grande<br />
volume de biogás que já produzimos. Isso traz benefícios<br />
ao meio ambiente e também contribuirá para a modicidade<br />
tarifária, como preconiza o marco do saneamento”, afirma o<br />
diretor-presidente da companhia, Claudio Stabile.<br />
Até 2024, a tecnologia de aproveitamento de biogás na<br />
geração de energia será utilizada em mais oito estações de<br />
esgoto da Sanepar, com financiamento já aprovado pelo<br />
banco alemão KfW.<br />
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ma fazenda pioneira na produção de açaí<br />
da região centro-oeste, localizada em zona<br />
rural de Sobradinho, cidade satélite de Brasília<br />
(DF), se antecipou aos riscos inerentes<br />
ao seu negócio e investiu em tecnologia que usa energia<br />
solar de maneira autônoma: o NHS QUAD Híbrido.<br />
O equipamento, que é o único produzido no Brasil, foi<br />
instalado pela C&T Estação Solar – um dos parceiros<br />
integradores da NHS. A energia é fundamental para<br />
manter o açaí na temperatura ideal de armazenamento<br />
e problemas com quedas ou oscilações de energia<br />
podem causar grandes perdas financeiras para os<br />
produtores.<br />
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COMO FUNCIONA O QUAD<br />
A energia solar depende da energia elétrica para<br />
funcionar quando falamos na modalidade on grid,<br />
mas o QUAD é tanto on grid quanto off grid, ou seja,<br />
ele injeta energia na rede elétrica e ainda conta com<br />
um backup de baterias para o armazenamento de<br />
energia solar. “Por se tratar de um sistema inteligente,<br />
o QUAD utiliza a energia solar para suprir as necessidades<br />
de energia elétrica do local e o excedente é armazenado<br />
em banco de baterias ou volta para a rede de<br />
distribuição gerando créditos que são revertidos em<br />
descontos na fatura de energia”, explica Fabio Moro,<br />
diretor comercial e de marketing da NHS.<br />
Os proprietários da Fazenda Bonança, Jairon<br />
Honório Cardoso e Agnes Ashiuchi Cardoso, testemunharam<br />
que o sistema de backup está funcionando<br />
de acordo com a expectativa deles. “Desligamos o<br />
disjuntor do padrão de entrada à noite e a fazenda<br />
apagou toda, ficando a casa da sede acesa onde está<br />
o maquinário da produção e os freezers de estoque<br />
do açaí. A troca da energia foi quase imperceptível.<br />
Para quem vive numa área rural isolada, o sistema<br />
"Por se tratar de um sistema inteligente, o QUAD utiliza a<br />
energia solar para suprir as necessidades de energia elétrica<br />
do local e o excedente é armazenado em banco de baterias<br />
ou volta para a rede de distribuição gerando créditos"<br />
Fabio Moro, diretor comercial e de marketing da NHS de Curitiba<br />
40 www.REVISTABIOMAIS.com.br
de backup automático faz uma grande diferença<br />
na segurança e na qualidade de vida”, comemora o<br />
proprietário. Além das cargas essenciais da residência<br />
e sua iluminação externa, o sistema solar foi instalado<br />
para alimentar as cargas que mantêm a conservação<br />
da produção de açaí. “Instalamos as baterias no banco,<br />
o conectamos no QUAD, fizemos as extensões de rede<br />
necessárias para as conexões das cargas essenciais e<br />
internet, colocamos o inversor na monitoração e testamos<br />
o funcionamento do sistema, que apresentou<br />
um desempenho excelente e conforme o projetado”,<br />
revela Miguel Cleto, engenheiro responsável da C&T<br />
Estação Solar.<br />
Para o projeto da Fazenda Bonança, foi escolhido<br />
um kit com um Inversor QUAD 5 kw (quilowatts) com<br />
10 módulos 545 Amerisolar, totalizando um sistema<br />
de 5,45 kWp operando com 20 baterias estacionárias<br />
de 12V totalizando 240V para uma autonomia de 14h<br />
(horas) para as cargas essenciais. “Os negócios que<br />
dependem da energia não podem ficar reféns das<br />
concessionárias e precisam buscar alternativas que garantam<br />
que o trabalho não pare”, lembra Fabio Moro.<br />
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Na Panucci as facas são produzidas com aços especialmente desenvolvidos para o setor<br />
madeireiro/florestal composto por alto teor de cromo gerando resistência ao desgaste.<br />
Além disso, ainda no tratamento térmico fazemos três processos de alívio de tensões<br />
evitando trincas e quebras, gerando ganho de produtividade e segurança ao cliente.<br />
Nossa missão é fornecer materiais de desgastes de qualidade reduzindo o custo dos<br />
nossos clientes, visando ser a maior e mais moderna fábrica de materiais de desgastes<br />
industriais atuando no setor de mineração, celulose e biomassa, tendo como principal<br />
foco, a ética, o compromisso e o respeito!
ARTIGO<br />
BIOMASSA DE<br />
DENDROCALAMUS GIGANTEUS<br />
COMO RECURSO<br />
BIOENERGÉTICO<br />
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GUSTAVO VARGAS DA SILVA<br />
DANIEL TAVARES DE FARIAS<br />
RODRIGO COLDEBELLA<br />
WANESSA LUNARDI WACHT<br />
CRISTIANE PEDRAZZI<br />
UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)
ARTIGO<br />
RESUMO<br />
B<br />
uscar alternativas sustentáveis para diversificar<br />
a matriz energética tornou-se uma meta a<br />
ser alcançada por todas as nações. A biomassa<br />
de bambu pode ser uma dessas alternativas<br />
por ser uma fonte de energia neutra em CO2 com a<br />
possibilidade de uso como combustível na forma sólida,<br />
líquida ou gasosa. Neste estudo objetivou-se avaliar o<br />
efeito da idade de 12 anos e 7 anos nas propriedades<br />
químicas e energéticas de colmos de Dendrocalamus<br />
giganteus. Para isso, foram determinados os teores de<br />
extrativos totais, de lignina, de materiais voláteis, de cinzas<br />
e de carbono fixo, além da densidade básica, poder<br />
calorífico superior e densidade energética dos colmos.<br />
Também foram realizadas as avaliações de rendimento<br />
gravimétrico do carvão vegetal e do licor pirolenhoso<br />
produzidos a partir da carbonização do material. Os<br />
bambus apresentaram boas propriedades químicas para<br />
fins energéticos. Os valores de teor de lignina, materiais<br />
voláteis, carbono fixo e cinzas foram semelhantes entre<br />
as idades. Entretanto, o poder calorífico líquido, densidade<br />
energética, rendimento gravimétrico do carvão vegetal<br />
e ácido pirolenhoso aumentaram com o aumento<br />
da idade, e os maiores valores foram verificados para os<br />
colmos com 12 anos. A espécie apresentou propriedades<br />
físico-químicas e energéticas, e atendem aos critérios<br />
de qualidade esperados para o aproveitamento dessa<br />
biomassa para produção de energia térmica.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O constante crescimento populacional traz consigo<br />
algumas demandas, como o aumento da necessidade de<br />
matrizes energéticas renováveis. A queima de combustíveis<br />
fósseis, que hoje é a maior fonte de energia do<br />
planeta, gera poluição e consequentemente mudanças<br />
climáticas em decorrência da emissão de gases de efeito<br />
estufa. Os danos ambientais e o esgotamento das fontes<br />
de combustíveis fósseis tornaram o desenvolvimento de<br />
energia sustentável uma temática complexa, holística<br />
e que considera crescimento econômico, sociedade e<br />
meio ambiente na transição para fontes alternativas de<br />
energia uma meta a ser alcançada pelas nações (Gunnarsdóttir<br />
et al., 2021). De acordo com a Agência Internacional<br />
de Energia (International Energy Agency, 2021), a<br />
transição de fontes de eletricidade não renováveis para<br />
fontes alternativas e renováveis acelerou em um ritmo<br />
inesperado no ano de 2020, e estima que haja uma<br />
expansão muito maior desse cenário após a pandemia<br />
da Covid-19 pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Dessas<br />
44 www.REVISTABIOMAIS.com.br
fontes renováveis de energia, a biomassa representa<br />
uma fonte de energia térmica usada em praticamente<br />
todos os setores, tornando-se uma alternativa para a diversificação<br />
da matriz energética mundial, diminuindo a<br />
dependência de combustíveis de origem fóssil (Aragão<br />
Pedrosso et al., 2018).<br />
Nesse sentido, o Brasil é destaque no uso de energias<br />
renováveis. Além de sua capacidade hídrica, apresenta<br />
alto potencial para outras fontes alternativas de energia,<br />
considerando sua extensa área territorial e clima favorável.<br />
É um país com excelentes condições edafoclimáticas<br />
que favorecem a produção de biomassa vegetal, com<br />
enorme vantagem, de não competir com a agricultura<br />
tradicional e sem divergências em relação aos impactos<br />
ambientais (Borges et al., 2016). Dentre as biomassas vegetais<br />
promissoras para energia, as espécies de bambu,<br />
devido às suas características químicas e morfológicas,<br />
seu crescimento rápido e elevada produção por unidade<br />
de área, torna essa gramínea uma ótima opção para<br />
geração de energia.
ARTIGO<br />
No Brasil, a produção anual<br />
de bambu é estimada em<br />
150 mil toneladas, cultivados<br />
em todas as regiões, sendo<br />
a biomassa cultivada nos<br />
Estados do Maranhão,<br />
Piauí, Pernambuco,<br />
Paraíba e Bahia destinada<br />
principalmente à geração<br />
de energia para o setor<br />
industrial, e celulose e papel<br />
para embalagens<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
O estudo foi realizado com amostras de bambu<br />
coletadas de duas touceiras distintas. Ambos os plantios<br />
não sofreram nenhum tipo de interferência ou manejo<br />
no seu ciclo. O bambuzal está localizado em uma<br />
propriedade rural familiar na cidade de Júlio de Castilho<br />
(RS), Brasil (29º13’47,5’’ S, 53º35’17,32’’ O). Com auxílio de<br />
motosserra, colmos com 12 e 7 anos, B12 e B7 respectivamente,<br />
foram selecionados e acondicionados em<br />
local seco, com ventilação natural durante o período de<br />
abril a dezembro de 2019. As amostras foram levadas ao<br />
LAQUIM (Laboratório de Química da Madeira) da UFSM<br />
(Universidade Federal de Santa Maria) e todos os colmos<br />
coletados foram seccionados com auxílio de serra circular<br />
e reduzidos a colmos com aproximadamente 5 cm<br />
(centímetros) de altura. A densidade básica foi determinada<br />
de acordo com o método de imersão em água,<br />
como descrito por Vidal (1984). Os colmos foram imersos<br />
em água até a completa saturação das fibras para obter<br />
o volume saturado pelo princípio e Arquimedes. Em<br />
seguida, a massa a 0% de umidade foi determinada<br />
secando as amostras em estufa a 105ºC (graus Celsius).<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A análise de variância mostrou que houve variação<br />
significativa para o percentual médio de extrativos totais,<br />
sendo observado valores médios de 13,40% e 16,50%<br />
para os colmos com 12 e 7 anos, respectivamente.<br />
Ainda, os maiores teores de extrativos totais foram<br />
obtidos nas análises dos colmos mais jovens, com 7 anos<br />
de idade. Resultados semelhantes foram encontrados<br />
por Marinho et al. (2012), que, ao analisarem amostras<br />
com idade entre 2 e 6 anos, verificaram redução do<br />
teor de extrativos totais com o incremento da idade,<br />
observando valores de 12,91% e 7,87% para colmos com<br />
2 e 6 anos, respectivamente. Vale et al. (2017) também<br />
verificaram a tendência de decréscimo no teor de<br />
extrativos totais para amostras de Bambusa vulgaris Var.<br />
vulgaris à medida que os colmos envelhecem, observando<br />
valores de 6,33%, 5,59% e 3,85% para as idades 1, 2 e<br />
3, respectivamente.<br />
CONCLUSÕES<br />
As propriedades químicas e energéticas de Dendrocalamus<br />
giganteus mostraram que essa biomassa é<br />
adequada para uso como recurso bioenergético, em sua<br />
forma in natura ou como carvão vegetal. Exibindo características<br />
semelhantes ou superiores a outras fontes de<br />
46 www.REVISTABIOMAIS.com.br
ecurso bioenergético encontradas na literatura, como<br />
o eucalipto, biomassa comercialmente utilizada como<br />
fonte de energia térmica. A biomassa constituída de colmos<br />
in natura com 12 anos apresentou teor de lignina,<br />
materiais voláteis, carbono fixo e cinzas semelhantes<br />
em relação aos colmos com 7 anos. Porém, os valores<br />
de densidade básica e densidade energética cresceram<br />
significativamente com o aumento da idade.<br />
A qualidade do carvão vegetal também tem variação<br />
em relação à idade dos colmos. O rendimento gravimétrico<br />
do carvão vegetal e ácido pirolenhoso foi mais elevado<br />
nos colmos com 12 anos; para o mesmo material<br />
também foi verificado os menores teores de umidade.<br />
Artigo completo: https://periodicos.ufsm.br/<br />
cienciaflorestal/article/view/67680/49479<br />
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AGENDA<br />
MAIO 2023<br />
E-WORLD<br />
Data: 23 a 25<br />
Local: Essen (Alemanha)<br />
Informações: https://www.e-world-essen.com/de/<br />
DESTAQUE<br />
JUNHO 2023<br />
ENASE (ENCONTRO NACIONAL DE<br />
AGENTES DO SETOR ELÉTRICO) 2023<br />
Data: 21 a 22<br />
Local: Rio de Janeiro (RJ)<br />
Informações: www.enase.com.br<br />
AGOSTO 2023<br />
FENASUCRO & AGROCANA<br />
Data: 15 a 18<br />
Local: Sertãozinho (SP)<br />
Informações: www.fenasucro.com.br<br />
OUTUBRO 2023<br />
CONFERÊNCIA BIODIESEL<br />
BRASIL 2023<br />
Data: 02 a 03<br />
Local: São Paulo (SP)<br />
Informações: https://conferencia.biodieselbr.com/2023/<br />
III EVENTO COGEN SUL<br />
Data: 11<br />
Local: Curitiba (PR)<br />
Informações: www.cogen.com.br/<br />
eventos/eventocogensul<br />
A Cogen (Associação da Indústria de Cogeração<br />
de Energia) promove em Curitiba (PR)<br />
a terceira edição do evento Cogen Sul, no dia<br />
11 de maio, das 8h às 13h. O evento conta com<br />
apoio da FIEP (Federação das Indústrias do Estado<br />
do Paraná) e Compagás. Será um momento<br />
para debater os desafios e oportunidades para o<br />
mercado paranaense de cogeração de gás.<br />
48 www.REVISTABIOMAIS.com.br
VEM AÍ!<br />
04 DE DEZEMBRO - CURITIBA (PR)<br />
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OPINIÃO<br />
Foto: divulgação<br />
O<br />
s relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel<br />
on Climate Change) já deixaram muito claro a<br />
relevância de se limitar o aquecimento global a<br />
1,5°C (graus Celsius) em comparação aos 2°C, de<br />
modo que possamos reduzir os riscos e impactos, tanto para os<br />
sistemas naturais, quanto para os antrópicos. E, para conseguir<br />
isto, teremos o enorme desafio de zerar as emissões líquidas de<br />
GEE (gases de efeito estufa) de fontes antropogênicas ao redor<br />
de 2050.<br />
A redução de emissões envolve diferentes medidas de mitigação,<br />
contemplando distintas combinações entre a redução<br />
da intensidade energética na economia e a descarbonização de<br />
fontes de energia. Mas, em todos os casos, parece inevitável utilizarmos<br />
alguma estratégia de remoção de CO2 da atmosfera. E<br />
quanto menos avançarmos na direção da redução de emissões,<br />
obviamente mais teremos que lançar mão de estratégias de<br />
remoção de CO2, como o reflorestamento, a captura e armazenamento<br />
geológico do carbono (CCS, carbon capture and<br />
storage) e a combinação do CCS com a bioenergia.<br />
Os cenários traçados pelo IPCC e pela Agência Internacional<br />
de Energia têm apontado que a bioenergia deverá ser uma importante<br />
aliada não só para as ações climáticas, como também<br />
para se alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável.<br />
Naturalmente estamos falando do uso moderno da biomassa,<br />
explorando resíduos e eficientes culturas dedicadas para a<br />
produção de uma diversidade de produtos, como combustíveis,<br />
eletricidade, alimentos, produtos químicos etc.<br />
O CO2 mais fácil de capturar é o gerado no processo de<br />
fermentação para a produção do etanol. Por se tratar de uma<br />
corrente de CO2 praticamente pura, o processo é muito mais<br />
simples, o que se traduz nos mais baixos custos de captura.<br />
Considerando os volumes atuais de produção de etanol anidro<br />
e hidratado no Brasil, estamos falando de um potencial de captura<br />
anual de mais de 20 milhões de toneladas de CO2 somente<br />
associado à fermentação.<br />
Nesse sentido, cabe aqui mencionar a relevância estratégica<br />
da política brasileira de biocombustíveis, conhecida como<br />
RenovaBio. Lançado em 2017, tendo como pano de fundo<br />
ETANOL, RENOVABIO E<br />
CAPTURA DE CARBONO EM<br />
BIORREFINARIAS: O TRIPÉ<br />
PARA EMISSÕES NEUTRAS<br />
os compromissos assumidos na Contribuição Nacionalmente<br />
Determinada no âmbito do Acordo de Paris, o RenovaBio<br />
visa à promoção da expansão dos biocombustíveis na matriz<br />
energética, assegurando previsibilidade para o mercado, ao<br />
mesmo tempo em que induz ganhos de eficiência energética<br />
e a mitigação das emissões de GEE na cadeia produtiva. Um<br />
aspecto que merece destaque é que a lei do RenovaBio prevê<br />
a aplicação de um bônus de até 20% sobre a nota de eficiência<br />
energético-ambiental quando comprovada a emissão negativa<br />
de GEE no ciclo de vida do biocombustível em relação ao seu<br />
substituto de origem fóssil.<br />
Ainda há um outro importante compartimento a ser<br />
explorado para o sequestro de carbono associado ao etanol: o<br />
solo. A maior parte da expansão recente da cana-de-açúcar se<br />
deu sobre áreas de pastagens, muitas das quais com níveis de<br />
degradação e com estoques de carbono no solo baixos. Neste<br />
processo de transição para a cultura da cana, maiores estoques<br />
são estabelecidos, representando um relevante sequestro de<br />
carbono. Para além da cana, esse fenômeno também pode ser<br />
explorado no sistema de produção do etanol de milho. Esse<br />
sistema se caracteriza principalmente por dois elementos: o uso<br />
do milho safrinha e do cavaco de eucalipto como combustível<br />
para as caldeiras. Novamente temos um grande potencial para<br />
sequestro de carbono no solo, especialmente através da tendência<br />
natural de estabelecimento de plantações de eucalipto<br />
nas áreas de pastagens.<br />
Ou seja, o Brasil tem a grande oportunidade de utilizar o<br />
etanol como um mecanismo não só de mitigação de emissões,<br />
mas também como promotor de sequestro de carbono. Mas,<br />
para que essa relação virtuosa se concretize, será essencial garantir<br />
um contexto político e regulatório apropriado, de modo<br />
que os projetos possam se estruturar de forma economicamente<br />
viável.<br />
Por Joaquim Seabra<br />
Professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica<br />
da Unicamp. Doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos com pósdoutorado<br />
em Biorefinery Analysis nos EUA (Estados Unidos da Ámerica)<br />
Foto: divulgação<br />
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