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1982-As_CEBs_das-quais-muito-se-fala-pouco-se-sabe

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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ...<br />

<strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>,<br />

<strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />

- A TF P as descreve como são<br />

I<br />

Plinio Corrêa de Oliveira<br />

<strong>As</strong> metas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no contexto brasileiro<br />

II<br />

Gustavo Antonio Solimeo -<br />

Luiz Sérgio Solimeo<br />

Gêne<strong>se</strong>, organização, doutrina e ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>


HOJE: agitação em que estão<br />

envolvi<strong>das</strong> as <strong>CEBs</strong> ...<br />

AMANHÃ: "pega-fazendeiro"?<br />

Também pega-patrão, pega-patroa?<br />

(p. 193)


EDITORA VERA CRUZ LTDA.<br />

Rua Dr. Martinica Prado, 246<br />

O l 224 - São Paulo<br />

l.ª Edição, Agosto de l 982 -<br />

12.000 exemplares<br />

Composição e Impressão<br />

Artpress - Papéis e Artes Gráficas Ltda.<br />

Rua Garibaldi, 404 - São Paulo<br />

Fotos<br />

Serviço de Imprensa da TFP, Catolicismo, Agência Folhas,<br />

Caminho Editorial Ltda., Abril Press, Mu<strong>se</strong>u da Imagem e do<br />

Som e Tribuna da Bahia. Fotos da capa: TFP e Caminho<br />

Editorial Ltda.


Índice<br />

I<br />

<strong>As</strong> metas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no contexto brasileiro ...................... 13<br />

Introdução - A inércia <strong>das</strong> elites sociais brasileiras, embala<strong>das</strong><br />

pela alternativa otimismo-desalento - O pre<strong>se</strong>nte estudo, um<br />

convite à ação ....................................... .......... ........... ........ .......................... 15<br />

Capítulo I - Em nossa época de caos publicitário, o alcance do<br />

esclarecimento doutrinário da TFP junto ao grande público........ ... 33<br />

Capítulo II - O IV Poder (os Meios de Comunicação Social) e o<br />

V Poder (a CNBB) coligados para reformar o Brasil: reforma<br />

rural, ref arma urhana, ref arma empresarial ............................... ... .. 45<br />

Capítulo III - A intelecção def armada do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />

("cum Romano Pontifice", "cum Episcopo", "cum Parocho")<br />

favorece largamente a eficácia da ação reformista da CNBB ........... 61<br />

Capítulo IV - A Igreja no drama da autodemolição: quem são os<br />

artífices dessa autodemolição? - O papel da Sagrada Hierarquia<br />

- A Teologia da Libertação - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .......................................... 69


Capítulo V - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, potência emergente na política nacional,<br />

visam instrumentalizar o Estado a <strong>se</strong>rviço de sua cruzada <strong>se</strong>m Cruz<br />

- Por trás e por cima <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, a CN BB - Novo apelo aos<br />

Bispos e às elites silenciosos ...... ............ ... ....... ......... .................... .......... 79<br />

Conclusão - É possível resistir à ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>? ............................. 99<br />

II<br />

Gêne<strong>se</strong>, organização, doutrina e ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> .......... 105<br />

Aviso Preliminar ......................................................................................... 108<br />

Capítulo I - Fisionomia <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ......... 111<br />

l. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> são como os discos voadores: todo mundo <strong>fala</strong> delas, mas ninguém<br />

<strong>sabe</strong> o que são ............................................................... .............................. 113<br />

2. "Comunidades de Ba<strong>se</strong>: expressão inspirada no marxismo, equivalente a<br />

soviete" - V m movimento camaleônico que finge não existir . .......... ... .... 122<br />

Origem <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> .......................................... 125<br />

Uma deputada eleita pelas <strong>CEBs</strong> .. ....... ... ... .. ...... .... .. .. .. ..... ... ... ... ... ....... .. . 126<br />

Peritos dos Encontros Nacionais de <strong>CEBs</strong> e especialistas do movimento<br />

.......................!............................................................................. 127<br />

"Vê <strong>se</strong> temos cara de <strong>se</strong>minaristas!" ...................................................... 128<br />

3. Uma KGB religiosa?.- A ditadura <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>......... 129<br />

4. Como transformar o membro da CEB num revoltado - A conscientização<br />

um processo de "baldeação ideológica inadvertida" ... ........................ ....... 133<br />

- A fome não faz revolução, mas sim a conscientização ....... ... ... ... .... .. ... . 135<br />

Um discreto treinamento de ativistas ......................:.............................. 137<br />

- Ensinar per~untando, convencer sugerindo ..... ... ... ... ... .......... .. ...... .... .. ... 138


- "Antes de organizar uma revolução, é preciso aprender a organizar um<br />

pique-nique" .. ... .... .. .............. .. .. ..... ... .. ..... .. ........... .. ... ..... ... ....... .... .......... 140<br />

Capítulo li - A Teologia da Libertação, doutrina <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. - Sua meta: o comunismo. Sua filosofia:<br />

o marxismo. Sua estratégia: a luta de clas<strong>se</strong>s...... .. ................. ...... ....... 143<br />

/. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, a Teologia da Libertação posta em prática.................................. 145<br />

"O que propomos não é teologia no marxismo, mas marxismo na<br />

teologia" - Textos .. ................. .... .... ................................. .. ............... . 147<br />

O mito da "ciência" marxista................................................................ 150<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> criticam a Santa Igreja e pregam uma "Igreja-Nova" iguaÜtária,<br />

herética e subversiva - Textos .... .. ... .......... ... ............... .................... .... 153<br />

A nova religião da "Igreja-Nova": "O mau ladrão também é Deus!" -<br />

Textos.............. ... ....................... .. ... .. ..... ..... .. ...... .................... .. ........... ... 158<br />

Uma Igreja autogestionária, numa sociedade autogestionária ............... 160<br />

A desigualdade de clas<strong>se</strong>s decorre da vontade de Deus......................... 161<br />

D. José Maria Pires, corifeu do movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, proclama a prostituição<br />

como um verdadeiro <strong>se</strong>rviço de Deus!............................................. 163<br />

Capítulo III - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> em ação. - No campo. - Na periferia<br />

urbana. - Na fábrica. ............................................................................... 169<br />

l. Manipular palavras e conceitos, para justificar esbulhos e violências .......... 171<br />

2. Comissão Pastoral da Terra: "Somos a Igreja no meio rural, organizada<br />

en1 Comunidades de Ba<strong>se</strong>" ........ ... ............................. .. .... .... ... ... ... .. .......... ... 175<br />

A C PT prega a violência em prosa e verso ........... ............ ... ... ... ............. 177<br />

- "Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul - "Alto lá, esta terra<br />

tem dono!" ......... ........... ............. ... ................................ .......... .. .'... ......... 178<br />

3. Violência no campo-1 : Alagamar, teoria e prática da tensão social............. 179<br />

- Subversivos as<strong>se</strong>ssoram as <strong>CEBs</strong> .... .......................... ... ............. .. ... ... .... 183<br />

4. Vio l~ncia no campo-2: "Que tal revolução, ao invés de reforma?" .............. 185<br />

5. Violência no campo-3: Sangue na região <strong>das</strong> guerrilhas do PC do B -<br />

... E as águas do Araguaia continuam a tingir-<strong>se</strong> de vermelho ................... 187<br />

6. Violência no campo-4: "A forma concreta que toma a fé nas <strong>CEBs</strong>": as<br />

"operações pega-fazendeiro" .......... ............ .. ... ... .... ...... ...... .. ... .... .. ... ...... ... . 193


7. Reivindicar... Tensionar.. . Conscientizar .. . - Para conduzir os membros<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ao marxismo na prática ... .. ............. .... .. ... .. .... .. .......... ... ... ......... .. . 202<br />

8. - "Temos organizado invasões de terrenos ... " .. ............. ....... ........... .. .. .. ... 207<br />

- Lições para ocupar a terra alheia - A "Cartilha do pos<strong>se</strong>iro urbano" .... ... 213<br />

9. O Movimento Contra a Carestia, um dos "braços políticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ........... 214<br />

10. Onde fracassou o PC. triunfam as Comunidades de Ba<strong>se</strong>- Um novo sindicalismo<br />

de inspiração religiosa, animado pela Teologia da Libertação ............ 217<br />

- Sindicalistas ligados às <strong>CEBs</strong> de São Paulo .... ....... ... .................... .... .... 219<br />

1 J. Por trás <strong>das</strong> greves, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ............... .......... ... .. 222<br />

No ABC, os sindicalistas pertencem às <strong>CEBs</strong>. Mas não vivem dizendo... ... 223<br />

- <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, à esquerda do PCB ............. .................................. ... ............ 231<br />

Capítulo IV - <strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e a política ......... 233<br />

1. Uma concepção religiosa da política e política da religião ..................... ..... 235<br />

2. Pressão religiosa para fins eleitorais - A máquina política <strong>das</strong> CEBS .. .... 241<br />

- Células marxistas? - "Temos que correr o risco" .... .. ... ... ........ .... .. ... .... 248<br />

Bibliografia - Documentação ................ ................................................ 253


Plínio Corrêa de Oliveira<br />

Presid ente do Con<strong>se</strong>lho Nacional da<br />

Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade<br />

.4s C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />

- A TFP as descreve como são<br />

<strong>As</strong> metas <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> no contexto<br />

brasileiro


Em home<br />

dores d TFP<br />

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Segmentu numericamente<br />

imenso<br />

da populaçãu hrasileira<br />

E PROVÁVEL que, à míngua<br />

de estatísticas, nã o haja<br />

nenhum brasileiro que saiba qual<br />

<strong>se</strong>ja, em nosso País, o número que<br />

atingiriam, todos somados, os proprietários<br />

de imóveis urbanos e rurais,<br />

de empresários industriais e comerciais,<br />

de acionistas e de detentores de<br />

títulos públicos e privados, bem como<br />

de donas-de-casa <strong>se</strong>rvi<strong>das</strong> por domésticas.<br />

Para os efeitos do que <strong>se</strong> exporá a<br />

<strong>se</strong>guir, a es<strong>se</strong> número, já <strong>muito</strong> consideráve<br />

l, haveria que somar ainda os<br />

que, não participando embora de qualquer<br />

<strong>das</strong> categorias acima, vivem exclusivamente<br />

do trabalho de suas mentes.<br />

Do trabalho intelectual, tomado<br />

este último adjetivo em <strong>se</strong>ntido tão<br />

amplo, que chegas<strong>se</strong> a abranger não<br />

só os portadores de diplomas universitários,<br />

<strong>se</strong>cundários ou técnicos, mas<br />

até profissionais <strong>se</strong>m estudos de habi-<br />

litação definidos, que ganham <strong>se</strong>u pão<br />

mercê da argúcia ou da agilidade de<br />

<strong>se</strong>us espíritos, de <strong>se</strong>u <strong>se</strong>nso <strong>das</strong> realidades,<br />

ou da finura de <strong>se</strong>u trato: qualidades,<br />

to<strong>das</strong> estas, intelectuais a um<br />

ou outro título. A numerosa e indispensável<br />

clas<strong>se</strong> dos corretores de imóveis,<br />

de títulos ou valores, por exemplo.<br />

Por sua mera importância numérica,<br />

tão vasto conjunto de brasileiros<br />

pode constituir no País uma grande<br />

força. A força de todos aqueles cuja<br />

missão e cujos direitos naturais o socialismo<br />

visa minguar, solapar e aviltar.<br />

E contra os <strong>quais</strong> o comunismo<br />

desfecha o golpe supremo: quanto aos<br />

direitos, negando-os do modo mais<br />

radical, e quanto à missão, esmagando-a<br />

sob a bota da chamada ditadura<br />

.do prolerariado.<br />

Mais ainda do que pelo peso do<br />

número, es<strong>se</strong> <strong>se</strong>gmento social vale pela<br />

natural e óbvia influência <strong>das</strong> funções<br />

A lém de numeroso.<br />

altamente influe111e<br />

/6


Segurança obstinada<br />

que exerce. De tal forma que, <strong>se</strong> algum<br />

ukas<strong>se</strong> malfazejo reduzis<strong>se</strong> de um<br />

momento para outro ao trabalho braçal<br />

to<strong>das</strong> essas categorias de brasileiros,<br />

o País pararia, e logo depois<br />

despenharia pelos resvaladeiros de<br />

uma decadência precipitada.<br />

Ao país a que <strong>se</strong> extinguem as<br />

elites sucede, em <strong>pouco</strong> tempo, exatamente<br />

o mesmo que a um corpo do<br />

qual <strong>se</strong> corta a cabeça.<br />

O conhecimento dessa verdade, definido<br />

em uns e nebuloso em outros,<br />

mas vivo em todos os componentes<br />

dessas elites, explica pelo menos em<br />

parte o <strong>se</strong>ntimento de estabilidade profundo<br />

e obstinado que nelas deitou<br />

raiz. Tanto mais quanto essa derrubada<br />

apocalíptica só poderia provir de<br />

uma conjuração dos que lhes são inferiores<br />

na hierarquia social. Ou <strong>se</strong>ja, do<br />

número aliás tão maior dos que vivem<br />

do trabalho manual. Mas estes, a experiência<br />

qua<strong>se</strong> diária os faz ver tão<br />

pacatos, tão estavelmente instalados<br />

na sua condição, que, com efeito, uma<br />

ofensiva geral deles contra os proprietários<br />

e os trabalhadores intelectuais,<br />

a qua<strong>se</strong> todos <strong>se</strong> afigura hipóte<strong>se</strong><br />

longínqua, e talvez até quimérica.<br />

Contudo, es<strong>se</strong> profundo <strong>se</strong>ntimento<br />

de estabilidade coexiste contraditoriamente,<br />

em <strong>muito</strong>s dos que o<br />

experimentam, com uma impressão<br />

oposta. Impressão o mais <strong>das</strong> vezes<br />

indefinida também ela, a mudar a<br />

todo momento de intensidade, conforme<br />

as notícias de cada dia, ou<br />

simplesmente <strong>se</strong>gundo os mil pequenos<br />

fatos concretos da vida quotidiana.<br />

Porém, de qualquer forma, uma<br />

impressão que dispõe a alma a encarar<br />

como inevitável a hipóte<strong>se</strong> da vitória<br />

do comunismo em nosso País, desde<br />

que <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntem certas circunstân-<br />

17


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui/o <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Noções his1óricas<br />

superficiais que,<br />

sugerem derrolis- :<br />

mo<br />

c1as ao mesmo tempo imprevisíveis,<br />

mas em nada improváveis.<br />

• • •<br />

Para tal estado de espírito prepara<br />

um fundo de quadro fortemente<br />

sugestivo, decorrente de estudos de<br />

História sumários, feitos habitualmente<br />

nos cursos de <strong>se</strong>gundo grau. Deles<br />

emerge com falsa evidência a certeza<br />

de que a Revolução Francesa derrubou<br />

o trono dos Bourbons por força<br />

de uma incontenível conjugação de<br />

fatores. Entre estes, notadamente o<br />

an<strong>se</strong>io da maioria dos espíritos por<br />

uma ordem de coisas nova, modelada<br />

<strong>se</strong>gundo a trilogia Liberdade - Igualdade<br />

- Fraternidade. E porque todos<br />

es<strong>se</strong>s fatores também existiam, <strong>se</strong> bem<br />

que em estado ainda germinativo, nos<br />

outros paí<strong>se</strong>s da Europa, lograram os<br />

exércitos da República e de Bonaparte<br />

estender a qua<strong>se</strong> todo o Continente<br />

europeu as "conquistas" da Revolução<br />

Francesa.<br />

"A qua<strong>se</strong> todo o Continente", sim.<br />

E não todo ele. Porque impávida ficava<br />

a Rússia dos Romanof s. Mas a<br />

derrota sofrida por es<strong>se</strong> país na I<br />

Guerra Mundial encerrou os dias da<br />

monarquia absoluta no último país<br />

europeu em que esta forma de governo<br />

ainda tinha vigência.<br />

Como <strong>se</strong> <strong>sabe</strong> geralmente, derrubaram<br />

por terra o trono dos Roma-<br />

nofs fatores análogos aos que haviam<br />

abatido, em fins do século XVIII , o<br />

trono dos Bourbons. Mas tais fatores<br />

vinham carregados, na Revolução<br />

Russa, de um radicalismo ainda maior.<br />

E assim, ao contrário de <strong>se</strong>us antecessores<br />

france<strong>se</strong>s de .1789, não <strong>se</strong><br />

limitou o comunismo vitorioso à instauração<br />

da liberdade, da igualdade e<br />

da fraternidade (como ele as entende)<br />

no campo político, e apenas a meias no<br />

campo social, mas <strong>se</strong> atirou por inteiro<br />

no campo sócio-econômico, extinguindo<br />

virtualmente a família, abolindo a propriedade,<br />

e implantando a ditadura do<br />

proletariado.<br />

Vistos os fatos <strong>se</strong>gundo este prisma,<br />

verdadeiro em alguns aspectos e<br />

falso em outros ( 1 ), pareceria tão inevitável<br />

a vitória do comunismo no<br />

mundo de hoje, quanto teria sido o da<br />

Revolução Francesa nos séculos<br />

XVIII e XIX. E nada <strong>se</strong> afiguraria<br />

mais normal do que ver a Rússia<br />

soviética de<strong>se</strong>mpenhando, em favor<br />

da revolução igualitária do século XX,<br />

(1) Cfr. PuN10 CoRRl:A DE ÜLJ VEIR A, Revolução<br />

e Contra-Revolução, "Catolicismo", n. 0<br />

100, Parte 1, Cap. III, 5.<br />

Com o intuito de dar à pre<strong>se</strong>nte vista pa norâmica<br />

toda a concisão possível, o autor <strong>se</strong><br />

dispensou de menciona r as provas de muitas<br />

<strong>das</strong> a firmações aqui feitas, remetendo o leitor<br />

para obras em que tais provas sã o apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong>.<br />

Razão pela qual cita várias vezes livros<br />

que já publicou.<br />

18


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TF P as descreve como são<br />

papel análogo ao que de<strong>se</strong>mpenhara a<br />

França em prol do igualitarismo político<br />

no século XIX.<br />

Sempre nesta perspectiva, a América<br />

do Sul estaria mais "atrasada"<br />

nesta incontenível "evolução" rumo<br />

ao comunismo. Mas este <strong>se</strong> propagaria<br />

gradualmente a nosso Continente,<br />

como no restante do mundo.<br />

Prova deste deslize rumo ao comunismo<br />

- mais marcado na Europa do<br />

que na América - <strong>se</strong>riam as leis cada<br />

vez mais socialistas da generalidade<br />

dos paí<strong>se</strong>s do Velho Mundo. Prova<br />

mais recente de to<strong>das</strong>, palpitante de·<br />

atualidade, pelo menos até há <strong>pouco</strong>,<br />

<strong>se</strong>ria a vitória da coligação socialocomunista<br />

nas eleições francesas de<br />

maio-junho de 1981 (2).<br />

De pos<strong>se</strong> do poder na França, Mitterrand<br />

<strong>se</strong> pôs a expandir desde logo o<br />

socialismo autogestionário no mundo<br />

inteiro (3).<br />

Para o PS francês, a extinção do<br />

patronato e o estabelecimento da auto<br />

gestão é apenas um complemento -<br />

Miuerrand ante a<br />

História e a atualidade<br />

(2) A cri<strong>se</strong> polonesa de fins de 1981 e, em<br />

<strong>1982</strong>, a Guerra <strong>das</strong> Malvinas, as controvérsias<br />

sobre o gasoduto europeu, bem como o avivamento<br />

da guerra no Líbano, e mais recentemente<br />

a guerra entre o Irã e o Iraque, concorreram<br />

fortemente para desviar a atenção<br />

mundial do êxito eleitoral do Partido Socialista<br />

francês.<br />

Ao mesmo tempo, o insucesso acentuado<br />

dos socialistas e comunistas nas eleições cantonais<br />

francesas de março de <strong>1982</strong> e a concomitante<br />

onda de descontentamentos contra as<br />

reformas autogestionárias impostas à França,<br />

são outros tantos fatores que concorreram<br />

para empurrar para plano <strong>se</strong>cundário o noticiário<br />

que os grandes meios de comunicação<br />

social de todo o Ocidente vinham publicando<br />

sobre a situação francesa. O que minguou<br />

naturalmente a força de impacto internacional<br />

da propaganda do socialismo autogestionário<br />

propugnado pelo PS francês.<br />

A essas circunstâncias <strong>se</strong> acresceu outra.<br />

Até então, em escala internacional, o socialismo<br />

autogestionário ainda não fôra questionado<br />

em <strong>se</strong>us últimos fundamentos filosóficos.<br />

É inegável que a Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs<br />

intitulada O socialismo autogestionário: em<br />

vista do comunismo, barreira ou cabeça-deponte?<br />

(cfr. "Catolicismo", n. 0 373-374, janeiro-fevereiro<br />

de <strong>1982</strong>) e publicada a partir do<br />

dia 9 de dezembro de 1981 em 56 dentre os<br />

mais importantes jornais de 18 paí<strong>se</strong>s, abriu<br />

uma brecha no silêncio geral a tal respeito.<br />

Pondo em evidência a incompatibilidade do<br />

programa do PS francês com a doutrina tradicional<br />

do Supremo Magistério Eclesiástico,<br />

e questionando assim gravemente o sistema<br />

autogestionário, a Mensagem <strong>das</strong> treze<br />

TFPs concorreu para dissipar a "lua-de-mel"<br />

com a opinião pública, na qual <strong>se</strong> expandia<br />

tão favoravelmente o prestígio da autogestão.<br />

Nada disso impediu, entretanto, que o governo<br />

Mitterrand aproveitas<strong>se</strong> tal fa<strong>se</strong> de relativo<br />

recesso publicitário para ir impondo, <strong>se</strong>m<br />

excessivo ruído, novas reformas em <strong>se</strong>u país. E<br />

sobre o crescente movimento de oposições a<br />

essas reformas, os meios de comunicação social<br />

no mundo inteiro passaram a fazer inopinadamente<br />

silêncio qua<strong>se</strong> completo ...<br />

20


Parte l<br />

Introdução<br />

no âmbito interno <strong>das</strong> empresas ·- da<br />

extinção <strong>das</strong> monarquias no âmbito<br />

mais amplo do Estado (4).<br />

O chefe de Estado francês, <strong>se</strong>m<br />

embargo de múltiplos fatores contrários,<br />

<strong>se</strong> propõe a completar assim, nos<br />

paí<strong>se</strong>s que ainda não são comunistas,<br />

e já agora novamente a partir de Paris,<br />

a tarefa revolucionária mundial do socialismo<br />

autogestionário francês que Moscou<br />

não con<strong>se</strong>guiu até agora realizar (5).<br />

Em tudo isto, os lados de alma<br />

desalentados e pessimistas de tantos<br />

, (3) Cfr. PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, O Socialismo<br />

autogestionário: em vista do comunismo,<br />

barreira ou cabeça-de-ponte?, Mensagem<br />

<strong>das</strong> Sociedades de Defesa da Tradição, Família<br />

e Propriedade - TFPs - do Brasil, Argentina,<br />

Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia,<br />

Equador, Espanha, Estados Unidos, França,<br />

Portugal, Uruguai e Venezuela, "Catolicismo",<br />

n. 0 373-374, janeiro-fevereiro de <strong>1982</strong>, Cap. IV,<br />

pp. 39-40.<br />

(4) Diz um repre<strong>se</strong>ntante qualificado do<br />

PS francês: "Em nossas sociedades ocidentais,<br />

a democracia é mais ou menos tolerada por<br />

toda parte. Menos na empresa. O patrão, <strong>se</strong>ja<br />

ele um industrial independente ou um alto<br />

funcionário do Estado, con<strong>se</strong>rva em mãos os<br />

poderes es<strong>se</strong>nciais. Em detrimento de todos.<br />

.... A empresa é uma monarquia de estrutura<br />

piramidal. Em cada nível, o repre<strong>se</strong>ntante da<br />

hierarquia é todo-poderoso: suas decisões são<br />

inapeláveis. O trabalhador de ba<strong>se</strong> torna-<strong>se</strong> um<br />

homem <strong>se</strong>m poderes, que não tem direito nem<br />

à iniciativa nem à palavra" (PIERRE MAUROY,<br />

Héritiers de l'Avenir, Stock, Paris, 1977, p. 276<br />

• O Sr. François Mitterrand, Presidente da<br />

França, surgiu, em maio de 1981, em con<strong>se</strong>qüência<br />

do êxito eleitoral do PS que o guindou<br />

ao Poder, como a grande vedette do socialismo<br />

no mundo inteiro. E1111e vedetismo internacional<br />

desapareceu, e ele hoje nlo tem <strong>se</strong>nlo <strong>muito</strong><br />

pequenas po1111ibilidades para e irrediaçlo do<br />

socialismo autogestionério fora da França. E<br />

dentro de França, a "lua-de-mel" com e opinilo<br />

pública, na qual <strong>se</strong> expandia tio favoravelmente<br />

e eutogestlo, também <strong>se</strong> di1111ipou. Pare um e<br />

outro feto, concorreu poderosamente a Mensagem<br />

<strong>das</strong> treze TFPs. Mitterrand tem, pois,<br />

<strong>muito</strong> com que estar perplexo, como mostra<br />

a foto.<br />

- apud PUNIO CORRf:A DE ÜLI VEIRA, op. cit.,<br />

Nota 15, p. 15).<br />

(5) O comunismo tem também como meta<br />

a autogestão. Lê-<strong>se</strong> no preâmbulo da Constituição<br />

russa que "o objetivo supremo do Estado<br />

soviético é edificar a sociedade comunista<br />

<strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s, na qual <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolverá a autogestão<br />

social comunista" ( Constitución - Ley<br />

Fundamental - de la Un ión de Repúblicas<br />

Socialistas Soviéticas, de 7 de outubro de 1977,<br />

Editorial Progreso, Moscou, 1980, p. 5 -<br />

apud PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, op. cit., Nota<br />

36, pp. 32-33).<br />

21


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhe


Parre I<br />

Introdução<br />

Otimismo e desalento<br />

<strong>se</strong> conciliam<br />

a <strong>se</strong>rviço da inércia<br />

clusivamente pela "esquerda católica"<br />

são noticia<strong>das</strong> como temíveis investi<strong>das</strong><br />

de uma maré montante de indignação<br />

popular liderada por clérigos a<br />

quem as instâncias eclesiásticas superiores<br />

não podem ou não querem refrear.<br />

,<br />

Mas, de outro lado, esta agitação<br />

esquerdista tão noticiada, <strong>pouco</strong>s a<br />

notam no âmbito concreto de sua vida<br />

diária. Deste ângulo, ela parece mais<br />

um fantasma do que uma realidade.<br />

Tanto mais quanto as manifestações<br />

de rua a que esta agitação tem dado<br />

lugar apre<strong>se</strong>ntam <strong>se</strong>mpre diminuto<br />

número de participantes. Sintoma <strong>muito</strong><br />

significativo, que a maior parte dos<br />

noticiários de imprensa mal con<strong>se</strong>gue<br />

disfarçar.<br />

<strong>As</strong>sim, a zoeira publicitária dá do<br />

perigo comunista uma imagem que<br />

parece confirmar, por alguns lados, o<br />

fundo de quadro histórico correntemente<br />

aceito, e a tendência <strong>das</strong> elites<br />

ao desânimo. E, de outro lado, as<br />

ilusões otimistas dessas mesmas elites<br />

parecem confirma<strong>das</strong> pela experiência<br />

pessoal dos que as constituem.<br />

Curiosamente, es<strong>se</strong>s dois estados<br />

de ânimo - um otimista e <strong>se</strong>guro de<br />

que a catástrofe não virá, e o outro,<br />

desalentado e pessimista - coexistem<br />

<strong>se</strong>m choques no espírito da <strong>muito</strong><br />

grande maioria <strong>das</strong> eventuais, ou futuras,<br />

vítimas do socialismo e do comunismo.<br />

É que um e outro estado de<br />

animo convergem para justificar a a­<br />

centuada disposição dessas vítimas<br />

para a inércia. Conforme o noticiário<br />

dos jornais do dia, ou as circunstâncias<br />

concretas, às vezes bastante miú<strong>das</strong>,<br />

que marcam cada hora que passa,<br />

a mesma "vítima" eventual, ora justifica<br />

sua inação ante o perigo comunista,<br />

pensando, e dizendo, que é supérfluo<br />

reagir contra ele, de tão remoto<br />

que é, por enquanto; ora alega,<br />

pelo contrário, que a reação anti-socialista<br />

e anticomunista "não adianta",<br />

"não dá" para <strong>se</strong>r feita, porque o<br />

comunismo vem mesmo.<br />

Em um e outro caso, o que preocupa<br />

o burguês é justificar a <strong>se</strong>us olhos, e<br />

dos outros, a inércia na qual <strong>se</strong> apraz.<br />

A deleitável inércia de quem quer<br />

viver, mais do que tudo, para fruir a<br />

<strong>se</strong>gurança e a fartura de sua situação,<br />

ou satisfazer as apetências e as ambições<br />

infrenes, tão características da<br />

assim chamada sociedade de consumo.<br />

* * *<br />

A descrição desta situação psicológica,<br />

freqüente em nossas elites, sugere-a<br />

antes de tudo a ob<strong>se</strong>rvação<br />

corrente da realidade.<br />

Ademais, a TFP pôde confirmá-la<br />

recentemente com exemplos numerosos<br />

e concretos, colhidos em mais ou<br />

menos todo o território nacional, ao<br />

longo da campanha de suas caravanas<br />

Preciosa experiência<br />

da TFP confirma<br />

este quadro<br />

23


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Depois de percorrer o Brasil inteiro alertando os<br />

meios rurais contra os perigos da investida<br />

agro-reformista, os propagandistas da TF P fizeram<br />

uma grande divulgaçl o do livro Sou cat6-<br />

lico: posso sar contra a RBforma Agrária? em<br />

pleno centro de Sl o Paulo, no Viaduto do Chá.<br />

Em closB, na foto, um cooperador da TFP<br />

oferece o livro a duas <strong>se</strong>nhoras.<br />

em prol da venda do livro Sou católico:<br />

posso <strong>se</strong>r contra a Reforma A­<br />

grária? (6).<br />

Foi objetivo des<strong>se</strong> livro - aliás<br />

largamente alcançado - alertar quan-<br />

(6) PuN10 CoRRtA DE OLIVEIRA E CARLOS P A­<br />

rn1c10 DEL CAMPO, Editora Vera Cruz, São<br />

Paulo, 3.• ed., 1981, 360 pp.<br />

(7) Cfr. texto publicado pelas Edições Paulinas,<br />

Coleção Documentos ·da CNBB, n. 0 17,<br />

1980, 38 pp., transcrito na íntegra em Sou<br />

católico: posso <strong>se</strong>r contra a Ref arma Agrária?<br />

1<br />

to possível a clas<strong>se</strong> dos proprietários<br />

agrícolas contra o perigo de uma reforma<br />

agrária socialista e confiscatória,<br />

em favor da qual <strong>se</strong> fazia grande<br />

zoeira no país em con<strong>se</strong>qüência da<br />

publicação do documento Igreja e problemas<br />

da terra, aprovado pela 18.ª<br />

<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da CNBB, reunida ·<br />

em ltaici de 5 a 14 de fevereirÓ de<br />

1980 (7).<br />

Para . con<strong>se</strong>guir tal resultado, os<br />

dedicados propagandistas da TFP tiveram<br />

que <strong>se</strong> empenhar <strong>muito</strong> a fundo<br />

na campanha. Pois, freqüentemente, o<br />

estado de espírito que encontravam<br />

nos proprietários rurais correspondia<br />

ao aqui descrito. E só uma obra especialmente<br />

consagrada ao tema poderia<br />

informá-los adequadamente acerca dos<br />

perigos face aos <strong>quais</strong> <strong>se</strong> encontram,<br />

neles mobilizando assim, contra a investida<br />

agro-reformista, o espírito de<br />

24


Parte /<br />

/ I'\<br />

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··- ' "J .·{, ,,, ..,___<br />

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~=7c,;;;:;;;:,=.=:-;-:::=-~~=~~ --~--......-<br />

~ ~ ~ ;g-~ ~<br />

!111rod11çào<br />

A tomada da Bastilha no dia 14 de julho de 1789 é o grande·evento simbólico que assinala o inicio<br />

da Revolução Francesa. Nes<strong>se</strong> dia. Lula XVI registra em <strong>se</strong>u diério: "rien" (nada). Para o monarca<br />

francês. que acabou executado na guilhotina. nada aconteceu digno de nota nes<strong>se</strong> dia. É ele o<br />

slmbolo trágico <strong>das</strong> elites imprevidentes e dormentes, que não <strong>sabe</strong>m pugnar dentro da lei por<br />

<strong>se</strong>us direitos legltimos.<br />

Inércia <strong>das</strong> elites<br />

Jaz a/orça dos que<br />

a agridem<br />

iniciativa e de luta que as atividades<br />

rurais naturalmente formam no verdadeiro<br />

lavrador (8).<br />

* * *<br />

Na inércia da vítima está a força<br />

do agressor. O quadro aqui traçado<br />

faz ver que, dada a tão larga despreparação<br />

<strong>das</strong> elites responsáveis do Bra-<br />

(8) Tal tendência à inércia <strong>se</strong> mostrou <strong>muito</strong><br />

menos freqüente no Rio Grande do Sul e em<br />

Goiás.<br />

Manda a justiça acrescentar que a ampla<br />

difusão des<strong>se</strong> estado de espírito <strong>se</strong> explica, em<br />

boa parte, pelo fato de que contra ele, além da<br />

TFP, poucas vozes <strong>se</strong> têm feito ouvir.<br />

sil para enfrentar o socialismo e o<br />

comunismo, este, ainda que dispu<strong>se</strong>s<strong>se</strong><br />

de um poder pequeno, teria apreciáveis<br />

possibilidades de vencer. Pois a<br />

História ensina que o curso dos fatos<br />

des<strong>se</strong>rve <strong>se</strong>mpre aos que dormem. E<br />

por mais legítimos que <strong>se</strong>jam os direitos<br />

que tocam às elites, estes em nada<br />

as protegerão <strong>se</strong> elas <strong>se</strong> mantiverem<br />

inertes: "Dormientibus non succ~rit<br />

jus: o Direito não socorre aos que<br />

dormem".<br />

Acresce que a força de impacto da<br />

revolução social está longe de <strong>se</strong>r pequena.<br />

Ela consiste <strong>muito</strong> preponderantemente,<br />

no Brasil, como <strong>se</strong> mostrará<br />

a <strong>se</strong>guir, nas Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>).<br />

25


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Em contara com a<br />

realidade, a TFP<br />

analisa o Brasil<br />

Os aurores da Parre<br />

li do pre<strong>se</strong>nre<br />

volume<br />

A estas, qua<strong>se</strong> todos os meios de<br />

comunicação social costumam apre<strong>se</strong>ntar<br />

como um monstro de poder,<br />

próprio a desalentar os pessimistas ... e<br />

até os otimistas. A realidade dos fatos<br />

parece indicar, pelo contrário, que as<br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> não<br />

têm dentro do panorama nacional,<br />

<strong>se</strong>não as meras proporções de um<br />

perigo em crescimento, porém francamente<br />

contornável. O que <strong>se</strong>gura, por<br />

<strong>se</strong>u turno, no otimismo, os inertes.<br />

Mais um fator da contradição, a<br />

qual só pode inclinar nossas elites<br />

para a confusão, a dispersão ... a<br />

inércia!<br />

* * *<br />

Os resultados a que chegou o estudo<br />

sobre as <strong>CEBs</strong>, que a TFP agora<br />

oferece ao público, é bem diverso. Eles<br />

constituem um virtual convite à ação.<br />

Aqui denuncia<strong>das</strong>, rejeita<strong>das</strong>, combati<strong>das</strong>,<br />

essas organizações não terão<br />

meios de vencer.<br />

Mas há que lutar. Pois, como <strong>se</strong><br />

verá, elas já são bastante fortes para<br />

alcançar a vitória, caso nossas elites,<br />

desinforma<strong>das</strong>, continuem a deixar-<strong>se</strong><br />

embalar na confusa alternação entre<br />

otimismo e pessimismo.<br />

De tal trabalho de informação e<br />

esclarecimento, que des<strong>se</strong> ponto de<br />

vista <strong>se</strong> poderia qualificar como de<br />

salvação nacional, aceitaram de <strong>se</strong> in-<br />

cumbir dois soc10s da TFP já com<br />

larga folha de <strong>se</strong>rviços prestados à<br />

entidade, à qual consagraram por inteiro<br />

suas robustas inteligências, <strong>se</strong>u<br />

hábito do estudo e da reflexão, sua<br />

cultura e sua generosa dedicação.<br />

Não os prende à ordem sócio-econômica<br />

vigente qualquer interes<strong>se</strong> econômico.<br />

Não figuram na categoria dos<br />

proprietários, e <strong>se</strong>u valioso trabalho<br />

intelectual foi <strong>se</strong>mpre prestado à TFP<br />

com a singela contrapartida de que<br />

esta lhes as<strong>se</strong>gura simplesmente meios<br />

de subsistência suficientes.<br />

Para efetuar es<strong>se</strong> estudo, encontravam-<strong>se</strong><br />

os dois autores em condições<br />

especialmente favoráveis. De um<br />

lado, suas leituras de há <strong>muito</strong> . os<br />

vinham pondo ao corrente do pensamento<br />

do progressismo e do "esquerdismo<br />

católico", que constituem o próprio<br />

substrato doutrinário <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

definem as metas e inspiram, em considerável<br />

medida, os métodos destas.<br />

De outro lado, sua longa militância<br />

nas fileiras da TFP lhes havia acrescido<br />

aos conhecimentos colhidos em<br />

livro aquilo que livro nenhum poderia<br />

dar. Ou <strong>se</strong>ja, o conhecimento experimental<br />

do progressismo teológico e<br />

do "esquerdismo católico" em ação,<br />

cujas tendências e cujas táticas só a<br />

longa e acurada luta contra eles tão<br />

bem desvenda.<br />

Compulsando uma massa de documentos<br />

que não haveria exagero em<br />

26


Parte I<br />

Introdução<br />

Imponente massa<br />

d e documentos<br />

permite traçar um<br />

quadro geral <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong><br />

Objetivo da TFP<br />

ao difundir o pre<strong>se</strong>nte<br />

livro<br />

chamar de monumental, ordenandoos,<br />

analisando-os com penetrante a­<br />

cuidade, e articulando os vários aspectos<br />

fugidios que deles <strong>se</strong> desprendem,<br />

em uma larga e lúcida sínte<strong>se</strong>, puderam<br />

os dois autores traçar um quadro<br />

geral <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>, como elas existem e <strong>se</strong> expandem<br />

no Brasil, em <strong>1982</strong>, e que constitui<br />

a Parte II do pre<strong>se</strong>nte volume.<br />

Impresso o livro pelos bons préstimos<br />

da Editora Vera Cruz, a TFP <strong>se</strong><br />

dispõe agora a divulgá-lo pelo Brasil.<br />

* * *<br />

O objetivo de tal divulgação já foi<br />

enunciado. Consiste ele em alertar para<br />

o perigo do comunismo as clas<strong>se</strong>s<br />

que este visa derrubar. Para que,<br />

assim alerta<strong>das</strong>, afinal <strong>se</strong> articulem em<br />

torno de <strong>se</strong>us chefes naturais, com o<br />

objetivo de cortar o passo ao adversário<br />

que a inércia delas vem tornando<br />

perigoso. Só com isto, já elas reduzirão<br />

o perigo a suas verdadeiras . proporções.<br />

E terão assim condições para,<br />

com árduo empenho, o fazer refluir<br />

para as dimensões mínimas, abaixo<br />

<strong>das</strong> <strong>quais</strong> não poderá decair porque<br />

lhe são propícias numerosas circunstâncias<br />

do mundo contemporâneo.<br />

O Brasil poderá assim continuar<br />

sua trajetória histórica <strong>se</strong>m conhecer as<br />

discórdias, as agitações, os morticínios<br />

em que a guerra de clas<strong>se</strong>s tem<br />

submergido tantas nações ilustres, nem<br />

as longas déca<strong>das</strong> de sujeição a taci-<br />

Para traçar um quadro geral <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, os autores da Parte li deste livro<br />

tiveram que analisar imponente massa de documentos, compreendendo, além de um número<br />

incontável de notícias de jornal e revistas. a abundantíssima literatura publicada pelo movimento.<br />

- Na foto. parte <strong>das</strong> publicações sobre as <strong>CEBs</strong> e a Teologia da Libertaçlo compulsa<strong>das</strong>.<br />

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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> ja/a, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

O profeta Ezequiel, do Aleijadinho, no adro da<br />

igreja de Congonhas de Campo (Minas Gerais).<br />

- Essa magnifica obra da arte barroca brasileira,<br />

manifestaçl o eloqüente da fecundidade<br />

de engenho de nosso povo, é uma promessa do<br />

que o Brasil pode realizar no futuro, <strong>se</strong> for fiel<br />

às ralzes cristls de sua História e à luminosa<br />

misslo mundial que o aguarda no século XXI.<br />

turnas e estéreis ditaduras do "proletariado",<br />

que vêm submergindo crescente<br />

número de povos na degradação,<br />

na tristeza, na miséria.<br />

E, pelo contrário, afastado o perigo,<br />

nosso País, com as energias vivifica<strong>das</strong><br />

pela luta, <strong>se</strong> irá habilitando<br />

para a luminosa missão mundial que o<br />

aguarda no século XXI. Elevado ideal<br />

em que <strong>se</strong> irmanam o zelo pela Igreja e<br />

pela Cristandade, com o ardente anelo<br />

de uma cristã grandeza do Brasil.<br />

* * *<br />

O que acaba de <strong>se</strong>r dito poderia<br />

dar azo a uma objeção. A TFP estaria<br />

então promovendo, a <strong>se</strong>u modo, a<br />

luta dos que têm bens ou estudos<br />

contra os que não estudaram ou não<br />

têm bens, isto é, uma luta de clas<strong>se</strong>s?<br />

Nes<strong>se</strong> caso, a obra da TFP não <strong>se</strong>ria o<br />

contrário da que querem levar a cabo<br />

as <strong>CEBs</strong>. Pois estas ateiam a luta de<br />

clas<strong>se</strong>s dos que não têm ou não <strong>sabe</strong>m,<br />

contra os que <strong>sabe</strong>m e têm.<br />

Levando ambas as clas<strong>se</strong>s à luta entre<br />

si , TFP e <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>riam igualmente<br />

fa utoras des<strong>se</strong> confronto.<br />

A objeção pode impressionar espíritos<br />

superficiais. Porém ela não resiste<br />

a uma análi<strong>se</strong> objetiva dos fatos.<br />

Alertando e estimulando à reação<br />

as eventuais vítimas da agressão comunista,<br />

a TFP nem de longe tem em<br />

vista movê-las à contestação e à trans-<br />

\<br />

Tais objetivos são<br />

o contrário da luta<br />

de clas<strong>se</strong>s<br />

A TFP de<strong>se</strong>ja u­<br />

ma ordem social<br />

m odelada pela<br />

j ustiça e pela caridade<br />

28


Parte I<br />

lntrodw;iia<br />

gressão dos direitos reais dos trabalhadores,<br />

e <strong>muito</strong> menos à extinção -<br />

absurda - dessa clas<strong>se</strong>. Escrupulosamente<br />

fiel à doutrina tradicional dos<br />

Papas em matéria sócio-econômica, a<br />

entidade de<strong>se</strong>ja, pelo contrário, que<br />

cada vez mais <strong>se</strong>jam respeitados estes<br />

direitos, em uma ordem social modelada<br />

pela justiça e pela caridade, e por<br />

isto mesmo constituída de clas<strong>se</strong>s sociais<br />

distintas, hierárquicas e harmônicas<br />

(9).<br />

A reação que a TFP de<strong>se</strong>ja promover<br />

não ruma, portanto, para uma<br />

confrontação sangrenta, mas, pelo<br />

contrário, visa obviamente evitá-la.<br />

A TFP tem a inteira consciência de<br />

não estar contra a clas<strong>se</strong> dos trabalhadores<br />

manuais quando ela alerta os<br />

outros <strong>se</strong>gmentos da sociedade, mas<br />

sim contra os manejas da <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista<br />

de há <strong>muito</strong> encastoada<br />

no <strong>se</strong>io da Igreja ( 1 O), a qual<br />

só con<strong>se</strong>guiu até o momento levar<br />

A <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista encastoada no<br />

<strong>se</strong>io da Igreja lança os prosélitos que acaba de<br />

arregimentar, em agitações de rua que <strong>se</strong>rvem à<br />

luta de clas<strong>se</strong>s e à revolução social.<br />

consigo <strong>se</strong>tores ainda definidamente<br />

minoritários, de trabalhadores manuais.<br />

Esta <strong>se</strong>ita visa a própria extinção<br />

<strong>das</strong> clas<strong>se</strong>s sociais contra as <strong>quais</strong><br />

conspira. Se ela recruta simpatizantes<br />

em tais clas<strong>se</strong>s não é <strong>se</strong>não para que<br />

A <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista<br />

visa<br />

a extinção <strong>das</strong><br />

clas<strong>se</strong>s e a ditadura<br />

de um só laivo<br />

de opinião: os revoltados<br />

(9) Ver em Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra a<br />

Reforma Agrária?, p. 82, significativos textos<br />

pontifícios contendo a doutrina tradicional<br />

dos Papas sobre a hierarquia social, em oposição<br />

à doutrina marxista da luta de clas<strong>se</strong>s.<br />

( 1 O) O primeiro brado de alerta contra a<br />

<strong>se</strong>ita progressista-esquerdista foi dado no Brasil.<br />

pelo livro Em defesa da Ação Católica<br />

(PuNIO CoRRtA DE OuvEIRA, Editora Ave Maria,<br />

·são Paulo, 1943, 384 pp.), que foi objeto<br />

de uma expressiva carta de louvor escrita em<br />

nome do Papa Pio XII pelo Substituto da<br />

Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons. J. B.<br />

Montini, mais tarde Paulo VI.<br />

Sobre o assunto, ver também a magnífica<br />

Carta Pastoral sobre problemas do Apostolado<br />

Moderno - Com endo um Catecismo de<br />

verdades oportunas que <strong>se</strong> opõem a erros contemporâneos,<br />

de D. Antonio de Castro Mayer,<br />

antigo Bispo de Campos (Editora Boa Imprensa,<br />

Campos, 1953, 144 pp.).<br />

29


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

TFP<br />

CAMPANHA OE OOH,\TIVOS<br />

PAllA OS POBRES<br />

Além de sua obra de esclarecimento doutrinário, a TFP promove o congraçamento <strong>das</strong> clas<strong>se</strong>s<br />

sociais, coletando donativos nos bairros abastados e distribuindo-os nas favelas e bairros pobres.<br />

trabalhem dentro destas, a fim de mais<br />

rápida e mais inteiramente destruí-las.<br />

É em geral este o triste trabalho dos<br />

."inocentes úteis", dos "companheiros<br />

de viagem" e dos cripto-socialistas ou<br />

criptocomunistas, bem como dos "sapos"<br />

(11).<br />

E, sobretudo, a <strong>se</strong>ita progressistaesquerdista<br />

não visa estabelecer uma<br />

cooperação justa e harmônica entre os<br />

amigos da ordem em to<strong>das</strong> as clas<strong>se</strong>s<br />

sociais, como é ensinada pelos documentos<br />

tradicionais do Supremo Ma-<br />

gistério da Igreja. Pelo contrário, ela<br />

tem por meta a ditadura de um só<br />

laivo de opinião, os revoltados que<br />

existem de alto a baixo da estrutura<br />

social, entre os <strong>quais</strong> ela simula propagandisticamente<br />

só ver os "pobres".<br />

( 11) <strong>As</strong>sim chamados, na linguagem da<br />

TFP, os burgue<strong>se</strong>s endinheirados que blasonam<br />

de adotar uma posição anti-anticomunista,<br />

porém não comunista, mas que no fundo<br />

fazem - talvez <strong>muito</strong>s deles inadvertidamente<br />

- o jogo do comunismo.<br />

30


Parte I<br />

Introdução<br />

A tristemente famosa<br />

"conscientização"<br />

Como método, de início a <strong>se</strong>ita<br />

. ,procura a persuasão dos recrutas, pelo<br />

sofisma e pela chicana, a fim de constituir<br />

o primeiro núcleo de adeptos.<br />

Isto feito , ela inicia a ação, tendo<br />

como próximo passo a promoção de<br />

descontentamento (a tristemente famosa<br />

"conscientização"). Segue-<strong>se</strong> a<br />

ação do núcleo inicial, destinada a<br />

promover a agitação, os tumultos, e<br />

por fim o caos e a revolução social.<br />

Tudo bem ao contrário da ação eminentemente<br />

suasória e ordeira visada<br />

pela TFP, de modo ininterrupto, ao<br />

longo <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> de sua existência<br />

(12) .<br />

Em con<strong>se</strong>qüência, não há verda-/<br />

deiro paralelismo entre a ação comuna-progressista<br />

e esquerdista de um<br />

lado, e a da TFP de outro lado. Mas,<br />

pelo contrário, uma des<strong>se</strong>melhança absoluta,<br />

de espírito e de doutrinas, como<br />

de metas e de métodos.<br />

Ê nesta perspectiva que convém<br />

ver o pre<strong>se</strong>nte livro, que <strong>se</strong> alinha no<br />

que a História da reação anticomunista<br />

de nossos dias chamará a "Coleção<br />

TFP" (13).<br />

Des<strong>se</strong> melhança<br />

absoluta entre a<br />

ação da TFP e a<br />

da <strong>se</strong>ita comunaprogressista<br />

( 12) Meio século de epopéia anr icomunista,<br />

Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.ª<br />

ed., 1981, 472 pp.<br />

( 13) O grupo de amigos de que resultou em<br />

1960 a fundação da TFP, publicara anteriormente<br />

a essa data duas obras que são o ponto<br />

de partida histórico dessa coleção. A primeira<br />

já foi mencionada: Em defesa da Ação Católica,<br />

foi o grande divisor de águas entre os<br />

militantes católicos que deram origem à TFP,<br />

e os que começaram a propaganda do progressismo<br />

teológico e do esquerdismo sócio-econômico<br />

nos meios religiosos brasileiros. Seguiu<strong>se</strong>-lhe<br />

outro livro, Revolução e Contra-Revolução<br />

(PuN10 CoRRl:A DE OuvE1RA, Boa Imprensa,<br />

1959), o qual <strong>se</strong> constituiu definitivamente<br />

no fio condutor do pensamento de to<strong>das</strong><br />

as outras obras edita<strong>das</strong> pela entidade.<br />

Fundada em I 960 a TFP, foram publica<strong>das</strong><br />

diversas obras, que o leitor encontrará<br />

relaciona<strong>das</strong> no pre<strong>se</strong>nte volume.<br />

É ademais de <strong>se</strong> registrar aqui, com o apreço<br />

devido, a importante série de documentos pastorais<br />

de D. Antonio de Castro Mayer, até há<br />

<strong>pouco</strong> Bispo de Campos, difundidos igualmente<br />

pela TFP, e todos eles relacionados,<br />

imediata ou mediatamente, com a grande controvérsia<br />

(ver elenco de obras neste volume).<br />

Também D. Geraldo de Proença Sigaud,<br />

S.V.D ., antigo Arcebispo de Diamantina, publicou<br />

a Carta Pastoral sobre a <strong>se</strong>ita comunista,<br />

<strong>se</strong>us erros, sua ação revolucionária e os<br />

deveres dos católicos na hora pre<strong>se</strong>nte ("Catolicismo",<br />

n. 0 135, março de 1962; Editora Vera<br />

Cruz, São Paulo, 1963, 176 pp., 2 edições -<br />

Total: 26 mii exemplares), e o Catecismo Anticomunista<br />

("Catolicismo", n. 0 140, agosto de<br />

1962; Editora Vera Cruz, São Paulo, 1962, 48<br />

pp., 5 edições - Total: 122 mil exemplares),<br />

que a TFP difundiu largamente por todo o Brasil.<br />

A divulgação des<strong>se</strong>s importantes documentos<br />

episcopais não foi aliás só da TFP. Também<br />

trabalharam nela as circunscrições eclesiásticas<br />

dos referidos Prelados, como pessoas<br />

<strong>das</strong> relações deles em vários lugares do Brasil.<br />

31


•<br />

Capítulo I<br />

...<br />

~<br />

•<br />


.. -----<br />

. ...--­<br />

Em nossa épo<br />

'. ..<br />

..


A era da Propaganda<br />

e O M O extraordinário incremento<br />

da imprensa, abriu<strong>se</strong><br />

para a Humanidade, no ·século XIX,<br />

a era da Propaganda. Cada vez menos,<br />

os movimentos profundos dos povos<br />

nasceram de impulsos, tendências ou<br />

formais de<strong>se</strong>jos· concebidos nas cama<strong>das</strong><br />

profun<strong>das</strong> <strong>das</strong> psicologias nacionais.<br />

E, cada vez mais, os movimentos<br />

coletivos vêm <strong>se</strong>ndo induzidos, de fora<br />

para dentro, pela Propaganda .. Em outros<br />

termos, mais e mais os povos <strong>se</strong><br />

· foram tornando massas (1).<br />

No momento em que a excelência<br />

dos recursos psicológicos e técnicos<br />

chegava a uma perfeição que certamente<br />

Gutenberg nem <strong>se</strong>quer imaginava,<br />

Marconi deu ao mundo a rádiocomunicação.<br />

E quando esta <strong>se</strong> achava<br />

em franca via ascensional, apareceu,<br />

por sua vez, uma rival que haveria<br />

de reduzir fortemente a influência<br />

da imprensa e do rádio, monopolizando<br />

para si a liderança da propaganda<br />

política, ideológica, ou econômica. É<br />

a televisão. E vai <strong>se</strong> afirmando agora a<br />

Imprensa, rádio,<br />

TV: o que virá depois?<br />

( I) O processo é assim descrito por Pio XII:<br />

"O Estado não contém em si e não reúne<br />

mecanicamente num dado território uma aglomeração<br />

amorfa de indivíduos. Ele é, e na realidade<br />

deve <strong>se</strong>r, a unidade orgânica e organizadora<br />

de um verdadeiro povo.<br />

Povo e multidão amorfa, ou, como <strong>se</strong> costuma<br />

dizer, 'massa', são dois conceitos diversos. O<br />

povo vive e <strong>se</strong> move por vida própria; a massa é<br />

de si inerte, e não pode <strong>se</strong>r movida <strong>se</strong>não por<br />

fora. O povo vive da plenitude da vida dos<br />

homens que o compõem, cada um dos <strong>quais</strong> -<br />

em <strong>se</strong>u próprio posto e a <strong>se</strong>u próprio modo - é<br />

uma pessoa consciente <strong>das</strong> próprias responsabilidades<br />

e <strong>das</strong> próprias convicções. A massa,<br />

ao invés, espera o impulso defora.fáciljoguete<br />

nas mãos de quem quer que desfrute <strong>se</strong>us<br />

instintos ou impressões, pronta a <strong>se</strong>guir, vez por<br />

vez, hoje esta, amanhã aquela bandeira. Da<br />

34


Parte I<br />

Capítulo I<br />

cação <strong>se</strong> verifica igualmente no tocante<br />

à perfeição <strong>das</strong> comunicações. E<br />

também no gradual aprimoramento<br />

da sua já exímia capacidade de informar.<br />

Neste <strong>se</strong>ntido, a imprensa, o<br />

rádio e a televisão, todos em contínuo<br />

progresso, <strong>se</strong> completam de maneira a<br />

pôr à disposição do homem uma a­<br />

bundância de idéias e de imagens espantosa.<br />

Para informar, impressionar<br />

e persuadir o homem, atingiram es<strong>se</strong>s<br />

meios de comunicação um poder<br />

maior, em muitas circunstâncias, do<br />

Para inf armar, impressionar<br />

e persuadir,<br />

um poder<br />

maior do que os<br />

mais salie111es potentados<br />

do passado<br />

era da cibernética. Pode-<strong>se</strong> supor que<br />

esta última encerre o ciclo <strong>das</strong> grandes<br />

invenções a <strong>se</strong>rviço da Propaganda.<br />

Porém, à vista dos progressos da<br />

chamada transpsicologia, ainda nebulosos,<br />

insólitos e desconcertantes, é<br />

possível que novas formas de comunicação<br />

entre os homens conduzam a<br />

meios de propaganda ainda insuspeitáveis,<br />

ainda mais céleres, mais drásticos.<br />

Em uma palavra, mais terríveis ...<br />

A marcha ascensional que <strong>se</strong> nota<br />

na celeridade dos meios de comuniexuberância<br />

de vida de um verdadeiro povo a<br />

vida <strong>se</strong> difunde, abundante, rica, no Estado e<br />

em todos os <strong>se</strong>us órgãos, infundindo-lhes com<br />

vigor incessantemente renovado a consciência<br />

da própria responsabilidade, o verdadeiro <strong>se</strong>nso<br />

do bem comum. Da f orça elementar da<br />

massa, habilmente manejada e utilizada, o<br />

Estado pode também <strong>se</strong>rvir-<strong>se</strong>: nas mãos ambiciosas<br />

de um só ou de vários que as tendências<br />

egoísticas tenham agrupado artificialmente,<br />

o mesmo Estado pode, com apoio da massa,<br />

reduzida a não mais que uma simples máquina,<br />

impor <strong>se</strong>u arbítrio à parte melhor do<br />

verdadeiro povo: em con<strong>se</strong>qüência, o interes<strong>se</strong><br />

comum fica gra vemente e por largo tempo<br />

atingido e a f erida é bem freqüentemente de<br />

cura difícil" (Radiomensagem de Natal de<br />

1944, Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità<br />

Pio X II, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol.<br />

VI , pp. 238-239).<br />

35


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Poder público e<br />

Propaganda: interação<br />

que o dos mais salientes potentados<br />

do passado. Pois tais meios, sobretudo<br />

<strong>se</strong> conjugados a <strong>se</strong>rviço de uma<br />

mesma idéia, ou de um mesmo interes<strong>se</strong>,<br />

poderp influenciar mais o curso<br />

dos acontecimentos do que um monarca,<br />

um diplomata, um guerreiro,<br />

ou um filósofo.<br />

Tal o poder da Propaganda -<br />

ideológica, política ou simplesmente<br />

comercial - no respectivo campo.<br />

A Propaganda, em caminhada assim<br />

ascensional, produziu uma con<strong>se</strong>qüência<br />

óbvia, para a qual os meios de<br />

comunicação social <strong>pouco</strong> chamam a<br />

atenção, et pour cau<strong>se</strong>.<br />

* * *<br />

Ei-la. Dado que os movimentos<br />

<strong>das</strong> massas marcam hoje em dia os<br />

rumos para as nações, e os meios de<br />

comunicação social marcam os rumos<br />

<strong>das</strong> massas, no mundo contemporâneo<br />

cabe a es<strong>se</strong>s meios uma função<br />

rectrix, a qual, numa curiosa interação,<br />

<strong>se</strong> por um lado pode menos do<br />

que a soberania estatal, por outro lado<br />

pode <strong>muito</strong> mais do que ela. Pois os<br />

potentados da Propaganda exercem<br />

nas mentalidades da ba<strong>se</strong> ou da cúpula<br />

do mundo contemporâneo uma forma<br />

sui generis de poder, a qual tem<br />

algo de um "papado" laico.<br />

R óbvio que a comunicação social<br />

condiciona a fundo o Poder público,<br />

pois que <strong>se</strong> vai tornando cada vez mais<br />

difícil aos políticos galgarem o poder,<br />

exercê-lo e nele <strong>se</strong> manterem <strong>se</strong>m o<br />

apoio da Propaganda. Um ob<strong>se</strong>rvador<br />

acrescentaria que a Propaganda moderna<br />

exerce, além destas, uma forma<br />

de domínio sobre as massas, de natureza<br />

imponderável, incompletamente<br />

estudado, mas profundamente real. É<br />

um certo poder sugestivo e hipnótico,<br />

que va:i <strong>muito</strong> além da ação suasória<br />

da imprensa racionalista dos antigos<br />

tempos.<br />

A inter-relação entre Poder e Propaganda<br />

é óbvia nas democracias, em<br />

que tudo <strong>se</strong> decide por via de votações,<br />

e estas, por sua vez, são condiciona<strong>das</strong><br />

a fundo pela Propaganda.<br />

De outro lado, o Poder público, cada<br />

vez mais "social", e com isto cada vez<br />

mais próximo da onipotência, pode<br />

sujeitar a Propaganda a formas de<br />

pressão múltiplas, às <strong>quais</strong> só heróis e<br />

santos <strong>sabe</strong>m resistir. E estes <strong>se</strong> vão<br />

tornando cada vez mais raros em nosso<br />

mundo massificado (2).<br />

(2) Um exemplo ainda recente: a Mensagem<br />

<strong>das</strong> treze TFPs sobre o socialismo autogestionário<br />

francês, publicada <strong>se</strong>m maior dificuldade<br />

em 56 dentre os principais jornais de<br />

I 8 paí<strong>se</strong>s, não o pôde <strong>se</strong>r na França, ao que<br />

tudo indica, por pressões do governo socialocomunista<br />

- que entretanto procura apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong><br />

como bonachão e de "face humana" -<br />

sobre os <strong>se</strong>is maiores diários de Paris não<br />

36


~<br />

~<br />

~<br />

/<br />

/ ,,.<br />

/. ;<br />

,.,.<br />

.,<br />

A .Propaganda moderna exerce sobre 88 massas um certo poder sugestivo e hipnótico que vai<br />

<strong>muito</strong> além da açlo suasória da imprensa racionalista dos antigo11 tempo .<br />

,,,. ~<br />

-;:.


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A Propag anda<br />

nos regimes totalitários<br />

Capitalis m o e<br />

Propaganda<br />

Mas tais formas de pressão, e outras<br />

ainda, existem também nos regimes<br />

totalitários, nos <strong>quais</strong> o Estado <strong>se</strong><br />

apossa da Propaganda tiranicamente,<br />

e <strong>se</strong> transforma no propagandista de si<br />

mesmo. <strong>As</strong>sim, o póder político de<br />

Hitler foi filho da Propaganda. Mas<br />

ele a confiscou depois em <strong>se</strong>u proveito<br />

próprio. Onipotente para elevá-lo<br />

até às nuvens, a Propaganda teve de<br />

cair de joelhos ante ele, logo que esta<br />

elevação <strong>se</strong> consumou. E ele, desconfiado<br />

ante esta onipotência genuflexa,<br />

resolveu jugulá-la e devorá-la antes<br />

que ela, reerguida de sua episódica<br />

prostração, tomas<strong>se</strong> a iniciativa de<br />

jugular e devorar o monstro que tinha<br />

gerado.<br />

* * *<br />

Claro fica que a Propaganda, <strong>se</strong>mpre<br />

poderosa, raras vezes é autônoma.<br />

Pois, ou está nas mãos da iniciativa<br />

privada, ou do Estado.<br />

No caso concreto do Brasil, detém-na<br />

a iniciativa privada. E graças a<br />

Deus. Pois pior <strong>se</strong>ria que a detives<strong>se</strong> o<br />

Estado.<br />

declaradamente socialistas ou comunistas (cfr.<br />

PuN10 CoRR~A DE OuvEIRA, Na França: o punho<br />

estrangulando a rosa, Comunicado <strong>das</strong><br />

treze Sociedades de Defesa da Tradição, Famíli<br />

a e Propriedade, publicado em 30 jornais de<br />

14 paí<strong>se</strong>s. - Ver "Catolicismo", n. 0 376, abril<br />

de <strong>1982</strong>).<br />

Mas a iniciativa privada, no caso,<br />

existe sob a forma do macrocapitalismo,<br />

pois só a este é dado reunir os<br />

recursos necessários para manter um 1<br />

jornal, uma rádio, ou uma TV, em<br />

proporções de <strong>se</strong>nsibilizar o País inteiro.<br />

E máxime uma cadeia destes sistemas<br />

entrelaçados.<br />

Em con<strong>se</strong>qüência, qua<strong>se</strong> ninguém<br />

<strong>se</strong> pode beneficiar da Propaganda <strong>se</strong>m<br />

o apoio do macrocapitalismo.<br />

Experimentou-o duramente, no período<br />

de 1935 a 1960, o grupo de<br />

amigos do qual haveria de nascer a<br />

TFP. Para ele, todos os jornais estavam<br />

fechados. Se um ou outro con<strong>se</strong>ntia<br />

em publicar alguma notícia por<br />

ele pedida, essa saía qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre com<br />

dimensões e paginação que mais lhe<br />

traziam desprestígio que prestígio. <strong>As</strong><br />

livrarias - dóceis complementos <strong>das</strong><br />

grandes máquinas de propaganda a-<br />

tuais - <strong>se</strong> lhe aceitavam os livros, em<br />

geral <strong>pouco</strong> os expunham, e qua<strong>se</strong> não<br />

os vendiam. Fundada em 1960 a TFP,<br />

só <strong>muito</strong> aos <strong>pouco</strong>s esta situação<br />

sofreu modificação digna de registro,<br />

em alguns raros, e aliás prestigiosos,<br />

órgãos de imprensa.<br />

Dura experiência<br />

da TFP<br />

Mas, ao mesmo tempo, o macrocapitalismo<br />

publicitário, <strong>se</strong>mpre <strong>muito</strong><br />

aberto para to<strong>das</strong> as formas de<br />

propaganda esquerdista, também <strong>se</strong><br />

foi abrindo amplamente para sucessivos<br />

e espetaculares estrondos publicitl<br />

A<br />

38


Pane l<br />

Capitulo I<br />

--<br />

O fenômeno <strong>das</strong> "patrulhas ideológicas" - a denúncia de cuja existência agitou os meios de<br />

comunicação social anos atrás - n o é entretanto um fenômeno novo. Sentiu-lhe as con<strong>se</strong>qüências<br />

jé desde 1936, o grupo de amigos do qual haveria de nascer, em 1960, a TFP. Era como<br />

<strong>se</strong> uma "censura branca" impedis<strong>se</strong> de dar destaque a qualquer noticia sobre ele. Fundada a TFP,<br />

só <strong>muito</strong> aos <strong>pouco</strong>s essa situação sofreu alguma modificação digna de registro.<br />

O contato com a<br />

rua - <strong>As</strong> caravanas<br />

tários contra a TFP. Aos <strong>quais</strong> esta<br />

foi, a liás, resistindo i"mpávida.<br />

Decididamente, o macrocapitalismo<br />

publicitário, grosso modo considerado,<br />

<strong>se</strong> tem mostrado infenso à TFP.<br />

* * *<br />

Então a pergunta inevitavelmente<br />

<strong>se</strong> põe. Quais as possibilidades deste<br />

livro, que já nasce órfão de propaganda?<br />

Essas possibilidades <strong>se</strong>m dúvida<br />

não são tão grandes como de<strong>se</strong>járamos.<br />

Mas, em todo caso, as<strong>se</strong>guram<br />

ao livro uma repercussão <strong>muito</strong> ponderável.<br />

Mostra-o, aliás, a história de<br />

vários deles (3).<br />

(3) Cfr. Meio século de epopéia anticomunista,<br />

Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.ª ed.,<br />

1981.<br />

39


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> nwiw <strong>se</strong>.<strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descre ,·e como são<br />

Versando temas da<br />

mais viva atualidade,<br />

a TFP con<strong>se</strong>gue<br />

interessar<br />

largos <strong>se</strong>tores da<br />

opinião por temas<br />

doutrinários<br />

Os liv ros editados e difundidos<br />

pela TFP têm todos um caráter doutrinário.<br />

Mas os temas sobre que versam<br />

são <strong>se</strong>mpre de viva atualidade.<br />

Pois <strong>se</strong> relacionam com problemas<br />

sucessivamente preponderantes, da<br />

grande cri<strong>se</strong> processiva - a um tempo<br />

religiosa, cultural, social e econômica<br />

- pela qual vão passand o todos os<br />

paí<strong>se</strong>s católicos, nas últimas déca<strong>das</strong>.<br />

E entre eles o mais populoso e mais<br />

extenso, que é o Brasil.<br />

Em virtude dessa atualidade, torna-<strong>se</strong><br />

possível interessar por temas<br />

doutrinários - e de alto porte - os<br />

<strong>se</strong>tores populacionais ha bilitados a deles<br />

tomarem conhecimento, mas que<br />

até aqui a vida contemporânea, terrivelmente<br />

absorvente, manteve afastados<br />

de leituras tais.<br />

<strong>As</strong>sim, a oferta de livros, não ao<br />

público restrito que freq üenta as livrarias,<br />

mas ao grande público que <strong>se</strong><br />

encontra nas praças e vias públicas,<br />

nos locais de trabalho e nas residências,<br />

toma condições de viabil idade.<br />

Foi o que intuiu a TFP quando,<br />

ademais da boa cooperação que lhe<br />

proporcionou em 1960, para o contato<br />

com as livrarias, a empresa distribuidora<br />

Palácio do Livro, enviou caravanas<br />

de sócios e cooperadores a percorrerem<br />

todo o Brasil, oferecendo a obra<br />

Ref arm a Agrária - Questão de Consciência.<br />

Com isto, tornou-<strong>se</strong> o livro,<br />

em <strong>pouco</strong> tempo, um best-<strong>se</strong>ller nacional.<br />

De então para cá, o recurso às<br />

ca rava nas <strong>se</strong> aprimorou na T FP, a<br />

qual fez des<strong>se</strong> método de propaganda,<br />

<strong>As</strong> cara1•anas da<br />

TFP percorrem o<br />

Brasil de pom a a<br />

pomo<br />

Para furar o cerco do macrocapitalismo publicitário e levar a sua voz até os mais recônditos ri ncões<br />

do Pais, a T FP organizou um si stema de caravanas de propagandistas que percorrem constantemente<br />

as imensidões de nosso território, vendendo aa obras da ent idade diretamente ao público.<br />

Dai o enorme sucesso e as grandes t iragens <strong>das</strong> publicações da TFP.<br />

40


Parte I<br />

Recurso eficiente<br />

para furar o bloqueio<br />

do macrocapitalismo<br />

publicitário<br />

Partidos políticos<br />

e <strong>CEBs</strong><br />

o <strong>se</strong>u grande recurso face ao sistemático<br />

cerceamento que sofria do macrocapitalismo<br />

publicitário, afirmando<br />

assim o direito de manifestar <strong>se</strong>u pensamento,<br />

<strong>se</strong>m embargo <strong>das</strong> pressões<br />

dos poderosos, e da limitação de <strong>se</strong>us<br />

recursos financeiros ( 4 ).<br />

Daí, como já foi dito, a <strong>muito</strong><br />

apreciável tiragem <strong>das</strong> obras da<br />

TFP (5).<br />

* * *<br />

No momento em que as atenções<br />

do público <strong>se</strong> vão voltando cada vez<br />

mais para as <strong>CEBs</strong>, num panorama<br />

em que os partidos políticos legais e<br />

(4) <strong>As</strong> caravanas da TFP já percorreram,<br />

desde 1970 (quando tiveram início), 2.629.553<br />

km rodados, o que equivale a 65 voltas em<br />

torno da Terra, ou a qua<strong>se</strong> quatro viagens de<br />

ida e volta à Lua! No contato direto com o<br />

público em 14.142 visitas a cidades de porte<br />

grande, médio ou pequeno de todo o território<br />

nacional, foram vendidos pelos propagandistas<br />

da TFP cerca de 4.500.000 exemplares<br />

<strong>das</strong> diversas publicações edita<strong>das</strong> ou patrocina<strong>das</strong><br />

pela entidade.<br />

(5) Entre as páginas desve volume, o leitor<br />

encontrará a relação <strong>das</strong> obras difundi<strong>das</strong> pela<br />

TFP, com o respectivo número de edições e<br />

tiragens. Estas são impressionantes, da<strong>das</strong> as<br />

circunstâncias de nosso País de tão e tão<br />

poucas livrarias, no qual, excetua<strong>das</strong> as obras<br />

didáticas, os livros de que <strong>se</strong> tirem mais de 5<br />

mil exemplares são considerados como <strong>muito</strong><br />

difundidos.<br />

ilegais deixam ver <strong>se</strong>mpre mais a exigüidade<br />

de sua estatura e de <strong>se</strong>u sopro<br />

vital, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

estão <strong>se</strong>ndo vistas por crescente<br />

número de brasileiros como a potência<br />

eleitoral emergente, que nos grandes<br />

prélios deste ano dará rumo aos<br />

destinos do Brasil.<br />

<strong>As</strong>sim, é de esperar que considerável<br />

número de brasileiros <strong>se</strong> empenhe<br />

em <strong>sabe</strong>r o que são essas organizações.<br />

Para informá-los, os autores da<br />

Parte II do pre<strong>se</strong>nte livro foram colher<br />

os dados esclarecedores, por assim<br />

dizer dos próprios lábios delas, isto é,<br />

dos escritos em que elas <strong>se</strong> autodefinem<br />

para <strong>se</strong>us aderentes e para o<br />

público. Esta é, de longe, a principal<br />

fonte de suas informações. Completam-nas<br />

notícias de jornais e revistas<br />

inteiramente insuspeitos de distorcer<br />

os fatos em detrimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. E<br />

tudo isto de tal sorte que, a queixar-<strong>se</strong><br />

alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> do que<br />

aqui vem dito, poderiam os autores<br />

responder, com as palavras da Escritura:<br />

"De ore tua te judico: julgo-te<br />

<strong>se</strong>gundo as palavras de tua boca" (Lc.<br />

XIX, 22).<br />

Entidade es<strong>se</strong>ncialmente extrapartidária,<br />

de nenhum modo pretende<br />

a TFP favorecer ou combater, com<br />

este livro, qualquer partido ou grupo<br />

político. Pelo contrário, a todos ela<br />

presta indiscriminadamente <strong>se</strong>rviço<br />

quando os ajuda a conhecer com quem<br />

Capítulo /<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>: julga<strong>das</strong><br />

pelas palavras<br />

que elas m esmas<br />

proferem<br />

A atuação da TFP<br />

não tem qualquer<br />

intuito p olíticopartidário<br />

41


<strong>As</strong> C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

<strong>As</strong> operações "pega-fazendeiro"<br />

-<br />

"peg(J-parrão" -<br />

"pega-locador"<br />

<strong>se</strong> aliam, <strong>se</strong> <strong>se</strong> apoiarem nas <strong>CEBs</strong>, e a<br />

quem combatem, caso <strong>se</strong> coloquem na<br />

liça em campo oposto ao delas. E,<br />

talvez, o <strong>se</strong>rviço mais assinalado ela o<br />

preste a es<strong>se</strong>s eventuais aliados <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>. Pois em política, como em<br />

qualquer outro terreno, não raras vezes<br />

as alianças feitas <strong>se</strong>m as informações<br />

necessárias prejudicam a prazo<br />

médio ou longo - quando não a<br />

prazo imediato - mais do que <strong>muito</strong><br />

golpe rude do adversário. Mostra-o<br />

especialmente a História <strong>das</strong> grandes<br />

Revoluções.<br />

* * *<br />

E é uma verdadeira Revolução (no<br />

<strong>se</strong>ntido lato da palavra), com sérias<br />

possioilidades de <strong>se</strong> tornar <strong>muito</strong> grande,<br />

que as <strong>CEBs</strong> preparam. Já começam<br />

a ecoar nas profundidades de<br />

nossos <strong>se</strong>rtões os brados-slogans "pega-fazendeiro"<br />

( cfr. Parte II, Cap.<br />

111, 6). Está na linha de pensamento<br />

e de ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como na.<br />

linha de <strong>se</strong>u dinamismo "místico" e­<br />

xasperado, que a es<strong>se</strong>s brados <strong>se</strong> sigam<br />

ou <strong>se</strong> juntem, dentro de não<br />

<strong>muito</strong> tempo, os de "pega-patrão",<br />

"pega-patroa", "pega-locador", "pegadirigente".<br />

"Pega", enfim, todo mundo<br />

que agora dorme indolente um<br />

letargo profundo, embalado alternativamente<br />

pelo desalento e pelo otimismo.<br />

Segundo a doutrina da Igreja, a condição de<br />

freira, esposa de Jesus Cristo, é superior à da<br />

esposa e mie de familia. Nlo assim para as<br />

<strong>CEBs</strong>, que vêem com maus olhos o papel da<br />

freira tradicional. e preferem a freira guerrilheira,<br />

que pega o fuzil para participar de lutas<br />

de "libertação nacional", como na revolução<br />

sandiniste da Nicarágua.<br />

42


Parte I<br />

Capítulo I<br />

A s <strong>CEBs</strong> também<br />

atacam a família<br />

Aliás, não é só a propriedade que é<br />

duramente atacada pelas Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, mas também a instituição<br />

da família. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, como fica demonstrado<br />

na Parte II deste trabalho,<br />

subvertem a fundo esta instituição, e<br />

tendem à supressão dela por inutilidade.<br />

Com efeito, as <strong>CEBs</strong> proclamam<br />

como excelsa a missão que pode ter<br />

a prostituta ( cfr. Parte II, Cap.<br />

II, 2), superior até à da freira. Ora,<br />

<strong>se</strong> de um ladó a condição de freira,<br />

<strong>se</strong>gundo a doutrina da Igreja, é superior<br />

até a da esposa e mãe de família,<br />

e de outro lado a "oblação"que a mulher<br />

perdida faz de si mesma é mais completa<br />

que a <strong>das</strong> Religiosas, ela fica ipso<br />

facto num plano superior ao da mãe<br />

de família.<br />

Esta conclusão, contrária ao <strong>se</strong>nso<br />

moral de todos os povos, em todos os<br />

séculos, <strong>se</strong> coaduna bem com a doutrina<br />

socialista. Pois <strong>se</strong>, do ponto de<br />

vista do socialismo, a prostituta <strong>se</strong>rve<br />

à coletividade, ela é por assim dizer<br />

um patrimônio de todos. A esposa é<br />

ao mesmo tempo "proprietária" e<br />

"propriedade" do esposo. Ela constitui<br />

o bem, não da coletividade, mas<br />

tão-só de um indivíduo. E, como tal,<br />

deve desaparecer no mundo coletivista.<br />

Quiçá, quando estiverem <strong>se</strong>ndo de<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong><br />

as operações "pega-fazendeiro",<br />

"pega-patrão" etc., o Brasil<br />

ainda <strong>se</strong>ja forçado a pre<strong>se</strong>nciar a operação,<br />

quão mais censurável, "pegaespqsa".<br />

E é contra esta imensa e espantosa<br />

Revolução que o pre<strong>se</strong>nte livro previne.<br />

Dep ois da operaç<br />

ã o "" p ega-fa ­<br />

zendeiro", a operação<br />

'"pega-esposa<br />

".?<br />

43


,.,,<br />

l<br />

·Capítulo II t ~ \ - 1<br />

- -<br />

...


A CNBB<br />

A CONFERBNCIA Nacional<br />

dos Bispos do Brasil<br />

(CNBB), órgão instituído pela Santa<br />

Sé, no ano de 1952 - talvez como<br />

prenúncio <strong>das</strong> tendências à colegialidade,<br />

tãÓ pronuncia<strong>das</strong> no Concílio<br />

Vaticano II (1962-1965) - tem por<br />

fim coligar em todo o território nacio-­<br />

nal a ação dos Bispos diocesanos (em<br />

número de 233) e dos respectivos Bispos<br />

Coadjutores e Auxiliares em exercício<br />

(ao todo 55), bem como dos três<br />

Ordinários para os -fiéis de Ritos O-<br />

rientais (dados do Diretório Litúrgico<br />

de <strong>1982</strong>). Também fazem parte integrante<br />

da CNBB os 62 Bispos resignatários<br />

residentes no País, totalizando<br />

assim 353 Bispos com direito a voz e<br />

voto no organismo episcopal ( 1 ).<br />

Promove a CNBB uma imensa<br />

transformação soc10-econômica de<br />

<strong>se</strong>ntido <strong>muito</strong> marcadamente esquerdista.<br />

Constituem pontos capitais dessa<br />

reforma, a <strong>muito</strong>s títulos inquestionavelmente<br />

revolucionária, uma re-<br />

Sua obra revolucionária:<br />

as reformas<br />

( 1) Os Bispos resignatários só não podem<br />

votar nas deliberações de que <strong>se</strong> origine obrigação<br />

jurídica (c~r. Estatutos da Con_ferênéia<br />

Nacional dos Bispos do Bras1l, artigos 2. 0<br />

e 10).<br />

. (2) Cfr. PuN10 CoRRtA DE OuvEIRA E<br />

CARLOS PATR1c10 DEL CAMPO, Sou católico:<br />

posso <strong>se</strong>r contra a Reformá Agrária?, Editora<br />

Vera Cruz, São Paulo, terceira edição, página<br />

91.<br />

(3) Cfr. PuN10 CoRHA DE OuvEIRA E CAR­<br />

LOS PATR1c10 DEL CAMPO, Sou Católico: posso<br />

<strong>se</strong>r contra a Reforma Agrária?, Editora Vera<br />

Cruz, São Paulo, 3.ª ed ., p. 109.<br />

(4) É o que declara enfaticamente o Sr.<br />

Cardeal D. Vicente Scherer, antigo Arcebispo<br />

de Porto Alegre:<br />

"Os grandes proprietários, proclamamo-lo<br />

<strong>se</strong>m cessar, devem conformar-<strong>se</strong> com a redução<br />

dos <strong>se</strong>us haveres. A dis<strong>se</strong>minação da pro-<br />

46


Dobre de finados<br />

para a clas<strong>se</strong> dos<br />

fazendeiros ...<br />

modelação da estrutura fundiária rural<br />

do País. Tal remodelação tende,<br />

em última análi<strong>se</strong>, à divisão de to<strong>das</strong><br />

as propriedades rurais grandes e médias<br />

em propriedades com dimensão<br />

suficiente para que cada uma <strong>se</strong>ja<br />

integralmente trabalhada pelas mãos<br />

do respectivo proprietário e de sua<br />

família, no máximo com o auxílio<br />

estritamente esporádico de algum coadjuvante<br />

efêmero (2). O que importa<br />

num dobre de finados para a clas<strong>se</strong><br />

dos fazendeiros.<br />

Tanto mais que estes receberão, na<br />

melhor hipóte<strong>se</strong>, uma indenização nitidamente<br />

inferior ao pre<strong>se</strong>nte valor<br />

venal de suas propriedades (3), com<br />

o que terão de aceitar a degradação<br />

(no <strong>se</strong>ntido etimológico do termo) social<br />

con<strong>se</strong>qüente (4).<br />

A CNBB promete engajar-<strong>se</strong> também<br />

em uma reforma fundiária urbana<br />

que, a <strong>se</strong>r logicamente deduzida<br />

dos princípios norteadores da Reforma<br />

Agrária, deve abrir campo para<br />

duas medi<strong>das</strong> es<strong>se</strong>nciais: a extinção do<br />

. . . da clas<strong>se</strong> dos<br />

p roprie1áriosde<br />

imóveis urbanos<br />

priedade é um postulado fundamental de uma<br />

ordem social aceitável e justa" ("Correio do<br />

Povo", Porto Alegre, 3-1-62).<br />

"No <strong>se</strong>tor rural, entre as formas de distribuição<br />

da propriedade está em primeiro<br />

lugar a reforma agrária. . . . . Se nas desapropriações<br />

na ref arma agrária a compensação <strong>se</strong><br />

faz pelo valor real, em <strong>se</strong> tratando de latifúndios,<br />

continuará a mesma desigualdade de<br />

fortuna e ela <strong>se</strong> estenderá a outro <strong>se</strong>tor.fora do<br />

agrário, pela inversão do preço fabuloso obti-<br />

do em propriedades imobiliárias urbanas"<br />

("Correio do Povo", 12-11-68).<br />

O ilustre Purpurado, note-<strong>se</strong>, é uma <strong>das</strong><br />

figuras do Episcopado mais freqüentemente<br />

apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> como moderado. Muitos de <strong>se</strong>us<br />

admiradores timbram até em lhe dar o qu'!llificativo<br />

de "direitista", indefensável à vista<br />

destes e de outros textos do Prelado.<br />

Se essa é a moderação nas fileiras da<br />

CNBB, o leitor bem pode ver o que nela é o<br />

extremismo.<br />

47


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

inquilinato, em favor dos locatários<br />

transformados em proprietários dos<br />

espaços que ocupam, e uma redistribuição<br />

do espaço, de sorte que cada<br />

pessoa, empresa ou família, só ocupe a<br />

área arbitrada como vitalmente necessária<br />

pela repartição pública encarregada.<br />

De maneira que haja área construída<br />

suficiente para todos (5).<br />

.. . da clas<strong>se</strong> dos Não é difícil entrever que a CNBB<br />

empresários preconize ainda uma reforma empre-<br />

sarial análoga às reformas agrária e<br />

urbana que pleiteia.<br />

* * *<br />

Ü quadro que assim <strong>se</strong> patenteia<br />

aos olhos dos brasileiros causa espan- três Poderes ?.,<br />

to. Pois ele nos desvenda a situação de<br />

um Estado declarado implicitamente<br />

em situação de minoridade pela CN-<br />

BB. Isto é, de carência de <strong>sabe</strong>doria,<br />

M inoridade d os<br />

(5) No documento Igreja e problemas da<br />

terra, aprovado pela 18.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da<br />

CNBB, em 1980, o órgão episcopal tratava de<br />

modo específico da Reforma Agrária, e prometia<br />

para breve um outro estudo consagrado<br />

especialmente ao solo urbano. Entretanto, na<br />

19.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral, realizada em fe ve reiro<br />

de 198 1 ( quando <strong>se</strong> achava no prelo , pronto<br />

para sair, o livro Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra<br />

a Reforma Agrária?), o tema não foi tratado.<br />

Debateu-o a 20.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia, de 9 a 18 de<br />

fevereiro de <strong>1982</strong>, confirmando inteiramente<br />

os receios aqui enunciados e já manifestados<br />

no livro supra-citado (p. 100).<br />

O documento Solo urbano e ação pastoral<br />

(Coleção Documentos da CNBB, n. 0 23, Edições<br />

Paulinas, São Paulo, <strong>1982</strong>, 48 pp.), aprovado<br />

pelos Bispos brasileiros nessa ocasião,<br />

relativiza ao máximo o direito de propriedade,<br />

pondo em xeque o próprio título jurídico<br />

legítimo de propriedade e tentando justificar as<br />

ocupações e mes mo as invasões de terras: " No<br />

caso de muitas ocupações lentas e até nas<br />

'invasões', o título legítimo de propriedade,<br />

derivado e <strong>se</strong>cundário, deve <strong>se</strong>r j ulgado diante<br />

do direito fundamental e primário de morar,<br />

decorrente <strong>das</strong> necessidades vitais <strong>das</strong> pessoas<br />

humanas" (doe. cit., n. 0 79) . Ê <strong>muito</strong> significativo<br />

que o documento da CNBB ponha<br />

aspas na palavra "in vasões", como <strong>se</strong> não<br />

fos<strong>se</strong>m de fato in vasões! Sobre o que pe nsar<br />

destas, ver Parte II, Cap. III, 8.<br />

E, adiante, o documento continua: "Tendo<br />

pre<strong>se</strong>nte a lição de João Paulo li, <strong>se</strong>gundo [sic]<br />

a qual sobre toda propriedade particular pesa<br />

uma hipoteca social, concluimos que o direit o<br />

natural à moradia tem primazia sobre a lei<br />

positiva que preside à apropriação do solo.<br />

Apenas um título jurídico sobre uma propriedade<br />

não pode <strong>se</strong>r um valor absoluto, acima<br />

<strong>das</strong> necessidades humanas de pessoas que não<br />

têm onde instalar <strong>se</strong>u lar" (doe. cit. , n.º 84).<br />

Falar de falta de lugar para <strong>se</strong> instalar num<br />

país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados,<br />

60% dos <strong>quais</strong> inteiramente desocupados<br />

(terras devolutas), é realmente assombroso!<br />

Quanto tal relativização do direito de propriedade<br />

discrepa da doutrina tradicional da<br />

Igreja, é fácil ve r comparando-<strong>se</strong> com os bem<br />

conhecidos textos pontifícios sobre a matéria<br />

(cfr. PuN10 CoRR!'.A DE OuvEIRA E CARLOS PA­<br />

TR1c 10 DEL CAMPO, Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra<br />

a Reforma Agrária?, Editora Vera Cruz,<br />

48


Parte I<br />

Capítulo li<br />

Reunidos em ltaici, em fevereiro deste ano, os Bispos aprovam o documento Solo urbano e ação<br />

pastoral. que preconiza uma Reforma Urbana, irmã gêmea da Reforma Agréria socialista e<br />

confiscatória pleiteada no documento Igreja e problemas da terra.<br />

São Paulo, 3. ª cd., 198 1, pp. 156- 160; 180- 182).<br />

Mas o documento da CNBB, citando a<br />

Gaudium et Spes (n. 0 69), chega ao ponto de<br />

invocar o princípio de extrema necessid ade<br />

para as "pessoas que não têm onde instalar <strong>se</strong>u<br />

lar ": "Aquele, porém, que <strong>se</strong> encontrar em<br />

extrema necessidade, tem direito a tomar, dos<br />

bens dos outros, o que necessita" (doe. cit.,<br />

n. 0 83).<br />

Por isso, é preciso fazer "uma reforma urbana<br />

que leve a cidade à condição de um espaço<br />

de convivência solidária" (doe. cit., n. 0 99).<br />

O documento, entretanto, embora sugira<br />

uma série de med i<strong>das</strong> a curto prazo (tópicos<br />

119 a 130) não delineia os contornos concretos<br />

dessa Reforma Urba na. Mas ao constatar<br />

que ela "esbarra em diversos obstáculos jurídicos"<br />

(doe. cit., n. 0 99), preconiza um "Estatuto<br />

do Solo Urbano" símile do "Estatuto da<br />

Terra", cujo caráter socialista e confiscatório<br />

foi oportunamente denunciado · pela TFP ( cfr.<br />

Manifesto ao povo brasileiro sobre a Reforma<br />

Agrária, de 24 de dezembro de 1964, in Sou<br />

católico: posso <strong>se</strong>r contra a Reforma Agrária ?,<br />

pp. 239-244).<br />

Ao fazer es<strong>se</strong> precônio, o documento da<br />

CNBB <strong>se</strong> insurge até contra as atuais decisões<br />

da Magistratura, que continua aplica ndo o<br />

Código Civil promulgado em 1916: "De fato,<br />

nossa legislação que regula a pos<strong>se</strong> e uso do<br />

solo urbano revela uma profunda inadequação<br />

à realidade atual, inadequação ba<strong>se</strong>ada nwria<br />

superada. concepção do direito de propriedade,<br />

concepção privatista de um direito absoluto<br />

<strong>se</strong>m nenhuma responsabilidade social. É a<br />

concepção de nosso Código Civil, promulgado<br />

em 1916, quando o Brasil não chegava a ter 5<br />

milhões de pessoas como população urbana,<br />

mas concepção que predomina ainda nas decisões<br />

de nossa Magistratura, mesmo quando a<br />

própria Constituição de 1969 confirmou o<br />

principio da função social da propriedade (art.<br />

49


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A mesa que presidiu a 20.• <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da CNBB. em ltaici: D . Ivo Lorscheiter (centro). D.<br />

Clemente J. Carlos lsnard (esquerda). D . Luciano Mendes de Almeida (direita), respectivamente<br />

Presidente, Vice-Presidente e Secretário do organismo episcopal.<br />

160. Ili). Tal princípio, entretanto. que de<br />

certo modo foi explicitado na elaboração de<br />

um Estatuto da Terra Rural. paradoxalmente,<br />

num país que <strong>se</strong> urbaniza rapidamente, não<br />

levou ainda à promulgação de um Estatuto do<br />

Solo Urbano, que consta <strong>se</strong>r objeto de um<br />

projeto do governo" (doe. cit., n. 0 100).<br />

Se isto não <strong>se</strong> fizer, o documento acena<br />

com a revolução social: "A aceleração do<br />

processo de urbanização está transferindo para<br />

a cidade uma carga conflitual, que poderá<br />

assumir as dimensões de uma confrontação<br />

entre os <strong>muito</strong>s que têm <strong>pouco</strong> a perder e os<br />

<strong>pouco</strong>s que têm <strong>muito</strong> a perder" (doe. cit., n. º<br />

113). "Recusar-<strong>se</strong> ao trabalho por essas reformas,<br />

capazes de conduzir a uma mudança<br />

global da sociedade, significa, na prática, provocar<br />

a radicalização do processo de mudança"<br />

(doe. cit., n. 0 115).<br />

Mas não <strong>se</strong> pen<strong>se</strong> que os Bispos brasileiros<br />

que aprovaram o documento contentar-<strong>se</strong>-ão<br />

com meras refo rmas. Eles querem uma mudança<br />

global do sistema sócio-político-económico<br />

vigente: "A implementação <strong>das</strong> reformas<br />

necessárias não deve induzir à ilusão de que<br />

estas <strong>se</strong>jam suficientes. Para eliminar a situação<br />

de injustiça estrutural, importa visar a<br />

novos m odelos de organização da cidade, o<br />

que exige, por sua vez, mudança do m odelo<br />

sócio-político-econômico vigente" ( doe. cit.,<br />

n. 0 116).<br />

Qual é o sistema que os Bispos propõem<br />

para <strong>se</strong>r instaurado no lugar do atual? O documento<br />

não o diz. Será talvez um meio termo<br />

entre o sistema capitalista ocidental e o sistema<br />

comunista soviético. O socialismo autogestionário<br />

a pregoado por M itterrand, por exemplo<br />

... (cfr. Parte II, Cap. IV, 1 e 2).<br />

50


Parre I<br />

Capiwlo li<br />

Uma objeção em<br />

favor da CNBB<br />

de força e de poder para tomar conhecimento<br />

de <strong>se</strong>us próprios problemas,<br />

encontrar-lhes a solução e, por fim,<br />

resolvê-los efetivamente. Por isto, à<br />

CNBB caberia supletivamente fazê-lo.<br />

- "Fazê-lo"? Não haverá exagero<br />

na afirmação, uma vez que a CNBB<br />

não pretende impor a Reforma Agrária<br />

ex auctoritate propria, mas apela,<br />

pelo contrário, para os três Poderes<br />

do Estado, a fim de que a implantem?<br />

Onde então a usurpação de poderes<br />

que o órgão eclesiástico nacional por<br />

excelência estaria tendendo a praticar<br />

em relação ao Estado? Em que fica<br />

cerceado pela CNBB o exercício pleno.<br />

<strong>das</strong> atribuições conferi<strong>das</strong> pela Constii:uição<br />

aos três Poderes da Repú-<br />

blica, a <strong>sabe</strong>r, o Executivo, o Legislativo<br />

e o Judiciário?<br />

Na ordem da mera especulação<br />

jurídica, nada há que objetar a tal.<br />

Mas a ordem jurídica não contém em<br />

si toda a realidade dos fatos .<br />

Um exemplo, aliás apenas incompletamente<br />

adequado, o deixa ver<br />

bem. O poder dos órgãos de comunicação<br />

social sobre a opinião pública<br />

- proclamada como soberana pelos<br />

Estados modernos - é tal, que lhes<br />

confere uma larga participação na fixação<br />

dos rumos do país. Por isso,<br />

tomados em <strong>se</strong>u conjunto, têm eles<br />

sido cognominados, talvez não <strong>se</strong>m<br />

algum exagero, o IV Poder (6). Mas<br />

em tal designação é fácil perceber que<br />

O IV Poder: os<br />

Meios de Comunicação<br />

Social<br />

(6) Quem, parece, lançou no Brasi l a expressão<br />

foi o grande pensador católico Carlos<br />

de Laet, Presidente da Academia Brasileira de<br />

Letras, em conferência feita no dia 8 de maio<br />

de 1902, no Círculo Católico da Mocidade do<br />

Rio de Janeiro:<br />

"Tirania da imprensa! Sim, tirania da imprensa<br />

... Agora está lan çaâa a palavra, le mot<br />

est lancé ... Nescit vox missa reverti, não volta<br />

atrás o que já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, e remédio não tenho<br />

<strong>se</strong>não justificar a minha te<strong>se</strong>.<br />

Senhores, uma <strong>das</strong> grandes singularidades<br />

dos tempos atuais, é que os povos vivem a<br />

combater fantasmas de tiranias, e indiferentes<br />

às tiranias verdadeiras. <strong>As</strong> revoluções derribam<br />

m onarcas, que às vezes são magnânimos<br />

pastores de povos. Antigamente cortavam-lhes<br />

as cabeças, mas hoje nem <strong>se</strong>quer essa honra<br />

lhes fazem : contentam-<strong>se</strong> com despedi-los, fa-<br />

zam-nos embarcar a desoras, porque <strong>sabe</strong>m<br />

que já p oucos são os reis cônscios da sua<br />

missão providencial e do <strong>se</strong>u dever de resistência<br />

... Por outro lado, apregoa-<strong>se</strong> a tirania<br />

do capital; e, adversa a todo capitalista e a<br />

cada empresário, está uma turba fremente<br />

prestes a tumultuar, quando julga menoscabados<br />

os <strong>se</strong>us direitos ... E todavia, <strong>se</strong>nhores, o<br />

povo ainda não compreendeu que uma <strong>das</strong><br />

maiores tiranias que o conculcam é a da<br />

imprensa; e, longe de compreendê-lo. antes a<br />

reputa uma salvaguarda dos <strong>se</strong>us interes<strong>se</strong>s e a<br />

vindicatriz dos <strong>se</strong>us direitos. É contra este<br />

sofisma que ora me insurjo.<br />

Que é tirania, <strong>se</strong>nhores? Omnis definitio<br />

periculosa, diziam os escolásticos; mas creio<br />

não errar definindo tirania - o indebito e<br />

opressivo poder exercido por um, ou por<br />

<strong>pouco</strong>s, contra a grande maioria dos <strong>se</strong>us<br />

51


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A CNBB. o v Poder<br />

a parte da realidade, apanhada com<br />

viveza e agilmente expressa, é <strong>muito</strong><br />

maior do que a parte do exagero.<br />

Pode-<strong>se</strong> dizer que, a <strong>se</strong>u modo,<br />

existe incontestavelmente o IV Poder.<br />

A <strong>se</strong>u modo, também, a CNBB <strong>se</strong><br />

vai erigindo em um V Poder. Em<br />

razão do profundo espírito de fé reinante<br />

na imensa maioria dos brasileiros,<br />

do papel moderado, mas legítimo,<br />

exercido pela Igreja ao longo de toda<br />

a História do País, do enorme embasamento<br />

de instituições dos mais variados<br />

gêneros, bem como dos <strong>muito</strong>s<br />

haveres de que a Igreja dispõe, exerce<br />

ela sobre a opinião pública uma influência<br />

capaz de disputar galhardamente<br />

a primazia aos Meios de Comunicação<br />

Social. E, conforme <strong>se</strong>jam as<br />

circunstâncias, de lhes tomar vitoriosamente<br />

a dianteira.<br />

Nessas condições, desde que ela<br />

queira pesar de modo preponderante<br />

na fixação dos rumos nacionais, tem<br />

ela meios para fazê-lo. Ou, pelo menos,<br />

para tentar fazê-lo com fortes<br />

probabilidades de êxito.<br />

Isto, que é tão óbvio, ainda <strong>se</strong><br />

acentua, nos dias que passam, em<br />

virtude de uma circu·nstância que, por<br />

certo, atrairá fortemente a atenção<br />

dos futuros historiadores, <strong>se</strong> bem que<br />

pareça passar hoje mais ou menos<br />

despercebida às diversas elites tão profundamente<br />

postas em letargia.<br />

Tal circunstância consiste em que,<br />

por coincidência que não <strong>se</strong>ria fácil<br />

explicar, o IV Poder - o dos Meios<br />

de Comunicação Social - em última<br />

análi<strong>se</strong> passa por uma fa<strong>se</strong> de unanimidade<br />

impressionante. De modo geral,<br />

os impulsos dados à Nação pelos<br />

<strong>se</strong>us componentes sopram no mesmo<br />

<strong>se</strong>ntido. Se entre eles há variantes de<br />

matiz, estas habitualmente não redundam<br />

em polêmica tão rija e profunda<br />

que prejudique a convergência de todos<br />

numa mesma direção. Essa ob<strong>se</strong>r-<br />

Quandoo JVeo v<br />

Poder coincidem<br />

conterrâneos. Ora, esta definição maravilhosamente<br />

quadra ao chamado poder da imprensa.<br />

Sim, ela é o poder de <strong>pouco</strong>s sobre a massa<br />

popular. Contai o número imenso de homens<br />

que não figuram, que não podem figurar na<br />

imprensa, uns porque lhes faltam aptidões,<br />

outros por negação a es<strong>se</strong> gênero de atividade,<br />

outros porque não têm dinheiro ou relações que<br />

lhes abram as portas dos jornais; contai, por<br />

outra parte, o minguado número de jornalistas,<br />

- e dizei-me <strong>se</strong> não <strong>se</strong> trata de uma<br />

verdadeira oligarquia, do temeroso predomínio<br />

de um pugilo, de um grupinhq de hoinens<br />

sobre a qua<strong>se</strong> totalidade dos <strong>se</strong>us concidadãos.<br />

E que poder exerce es<strong>se</strong> grupo minúsculo?<br />

Enorme.<br />

A imprensa pode, efetivamente, influir no<br />

governo de um país, constituindo aquilo que já<br />

<strong>se</strong> chamou - o quarto poder do Estado " ( O<br />

frade estrangeiro e outros escritos, Edição da<br />

Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.<br />

1953, pp. 80-81).<br />

52


Parte I<br />

Capitulo ••<br />

vação poucas exceções teria a registrar.<br />

É certo que, nesta caminhada em<br />

conjunto, nem todos estão a igual<br />

distância da meta última. Enquanto<br />

nenhum - ou qua<strong>se</strong> tanto - faz<br />

oposição proporcionadamente afincada<br />

à contínua hipertrofia dos poderes<br />

do Estado, e <strong>muito</strong>s pelo contrário a<br />

favorecem, apenas alguns <strong>pouco</strong>s <strong>se</strong><br />

dizem de quando em vez anti-socialistas.<br />

Mas como o termo "socialismo"<br />

é dos mais ambíguos do vocabulário<br />

científico como do político, esta posição<br />

não impede que es<strong>se</strong>s mesmos órgãos<br />

fomentem, de um ou outro modo,<br />

a invasão contínua dos poderes do<br />

Estado na esfera privada. De onde<br />

decorre que vem <strong>se</strong>ndo deploravelmente<br />

insuficiente sua oposição a es<strong>se</strong><br />

fenômeno, o qual - <strong>muito</strong> notadamente<br />

a partir da Presidência do General<br />

Ernesto Gei<strong>se</strong>l - tomou proporções<br />

alarmantes (7).<br />

Ora, ruma genericamente no mesmo<br />

<strong>se</strong>ntido a CNBB, isto é, o V Poder.<br />

Os Meios de Comunicação Social têm sido<br />

denominados, talvez nlio <strong>se</strong>m algum exagero. o<br />

IV Poder, devido à sua capacidade de impressionar<br />

a opiniilo pública e assim influir sobre os<br />

destinos do Pais. Mas é fácil perceber que, em<br />

tal designação. a parte de realidade. apanhada<br />

coni viveza e agilmente expressa. é <strong>muito</strong> maior<br />

que a parte de exagero.<br />

(7) Em outubro de 1979, o Governo do<br />

General Figueiredo criou a Secretaria de Controle<br />

<strong>das</strong> Empresas Estatais (SEST), dependente<br />

da Secretaria do Planejamento. O objetivo<br />

da SEST era fazer um levantamento do<br />

complexo <strong>das</strong> empresas dÓ Estado e proceder a<br />

um efetivo controle dos respectivos orçamentos<br />

e planos de de<strong>se</strong>nvolvimento.<br />

Posteriormente, em julho de 1981, a Presidência<br />

da República baixou um decreto constituindo<br />

urna Comissão Ministerial para estu-<br />

53


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />


Parte l<br />

Capítulo li<br />

Pressão de cúpula<br />

do I V e do V Poder<br />

Pressão de ba<strong>se</strong><br />

algum modo <strong>se</strong> pode dizer que tudo os<br />

une, nada os <strong>se</strong>para (8).<br />

• • •<br />

Diante dessa impressionante coligação<br />

dos Poderes extra-oficiais mas<br />

efetivos, a pressão de cúpula sobre os<br />

três Poderes oficiais tem condições de<br />

êxito óbvias.<br />

A coligação de esforços do IV e V<br />

Poderes entrou por <strong>muito</strong> na produção<br />

do declínio da influência militar<br />

na V República, iniciada em 1964, e<br />

sobre a qual as eleições de novembro<br />

deste ano dirão <strong>se</strong> continuará a existir.<br />

Estas ob<strong>se</strong>rvações não incluem a­<br />

plauso nem censura. São mera constatação<br />

dos fatos. Introduzido o Brasil nas<br />

vias da abertura, e restaurado em qua<strong>se</strong><br />

toda a sua amplitude o poder do<br />

voto popular, competia aos Poderes<br />

extra-oficiais completar sua ação por<br />

meio de uma pressão de ba<strong>se</strong>. O IV<br />

Poder tem feito o possível para <strong>se</strong><br />

expandir, e assim <strong>se</strong> capacitar para<br />

realizar sua parte da tarefa. Mas, cumpre<br />

registrar, <strong>pouco</strong> está a <strong>se</strong>u alcance<br />

fazer ainda, para crescer nesta direção.<br />

Pelo contrário, ao V Poder sobravam<br />

<strong>muito</strong>s meios de expandir-<strong>se</strong>, a<br />

fim de agir sobre a opinião pública, e<br />

por meio desta sobre o eleitorado.<br />

Com o que realizaria, já agora de<br />

baixo para cima, sua pressão de ba<strong>se</strong><br />

sobre os três Poderes oficiais.<br />

O grande instrumento que vai <strong>se</strong>ndo<br />

posto em prática pela CNBB para<br />

isto são as Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>.<br />

* * *<br />

Diante de tão clara intervenção da<br />

CNBB em assuntos de competência<br />

(8) Não vai nesta ·descrição da pre<strong>se</strong>nte<br />

atitude do IV e V Poderes qualquer animadversão<br />

para com os Meios de Comunicação<br />

Social ou a CNBB enquanto tais. Vai, isto sim ,<br />

a manifestação de um profundo desacordo<br />

com os rumos que, consid erados em bl oco, e<br />

salvas ce rtas exceções, um e outro Poder vão<br />

<strong>se</strong>guindo no cumprimento de suas altas missões.<br />

Es<strong>se</strong> desacordo, aqui expresso em linguagem<br />

<strong>se</strong>rena e cortês, está ba<strong>se</strong>ado numa ob<strong>se</strong>r­<br />

·vação desinteressada e cristã da realidade nacional.<br />

E, ademais, <strong>se</strong> apóia em documentação<br />

opulenta, no que diga res peito às <strong>CEBs</strong>. Des<strong>se</strong><br />

modo, este livro não fa z <strong>se</strong>não ajudar o IV e o V<br />

Poder a verem a realidade.<br />

Caso um ou outro Poder <strong>se</strong> molestas<strong>se</strong> com<br />

quanto aqui fica dito, empreendend o, por e­<br />

xemplo, alguma campanha difamatória como<br />

vindita contra a TFP, deixaria pairar dúvid as<br />

sobre a autenticidade <strong>das</strong> co nvicções liberais e<br />

ecumênicas de que <strong>se</strong> desvanece. Pois o exercício<br />

do direito de discordar tem sid o o /eitm<br />

otiv de grande número de pronunciamentos<br />

de um e outro nos últimos anos. E <strong>se</strong>ria<br />

pasmoso que negas<strong>se</strong>m es<strong>se</strong> direito quando <strong>se</strong><br />

trata de discordar deles ...<br />

55


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

V<br />

Abandonando sua esfera própria que consiste<br />

em ensinar, governar e santificar - docere,<br />

regere et sanctificare - as almas, incontáveis<br />

membros da Hierarquia e do Clero <strong>se</strong> embrenham<br />

por problemas específicos da ordem temporal,<br />

cedendo gostosamente, para reivindicações<br />

dessa natureza, não só o adro dos templos,<br />

mas o próprio recinto sagrado.<br />

especificamente temporal, caberia perguntar<br />

em nome de que princípio, de<br />

que lei, ela o faz?<br />

De lei nenhuma, pois desde 1890 o<br />

Estado brasileiro é laico (9), e não vê<br />

na Igreja <strong>se</strong>não uma entidade privada,<br />

como tantas outras, e ipso facto destituída<br />

de qualquer função no campo<br />

do Direito Público, ainda que meramente<br />

supletiva ( 1 O).<br />

Mas acima de to<strong>das</strong> as normas<br />

legais paira um princípio: "Salus popu/i<br />

suprema !ex esto: que a salvação<br />

do povo <strong>se</strong>ja a suprema lei" (Lei <strong>das</strong><br />

XII Tábuas, cfr. Cícero, De legibus,<br />

III, 9). Se o país, falto de instituições<br />

ou de autoridades temporais adequa<strong>das</strong>,<br />

não encontras<strong>se</strong>, em uma gravíssima<br />

cri<strong>se</strong>, outro recurso <strong>se</strong>não voltar<strong>se</strong><br />

para a Igreja, esta não extravasaria<br />

da missão a ela confiada pelo Divino<br />

Fundador, atendendo ao apelo da nação,<br />

e <strong>se</strong> incumbindo - na menor<br />

Em nome de que<br />

p rin cípio, de que<br />

lei. a CNBBintervém<br />

em matéria<br />

especif icamente<br />

temporal?<br />

Violação da distinção<br />

entre Poder<br />

esp iritual e<br />

Poder temporal<br />

(9) A <strong>se</strong>paração da Igreja e do Estado foi<br />

estabelecida pelo Decreto II 9-A, do Governo<br />

Provisório, em 7 de janeiro de 1890. A Constituição<br />

de 24 de fevereiro de I 891 confirmou a<br />

<strong>se</strong>paração.<br />

( l O) Aqui é feita apenas uma constatação<br />

do fato. A doutrina da Igreja preconi za, entretanto,<br />

a união entre os dois Poderes, cujos<br />

frutos são descritos magnificamente por Leão<br />

XIII, na Encíclica lmmortale Dei, de 1. 0 de<br />

novembro de 1885: "Tempo houve em que a<br />

filosofia do Evangelho governava os Estados.<br />

Nessa época, a influência da <strong>sabe</strong>doria cristã e<br />

a sua virtude divina penetravam as leis, as<br />

instituições, os costumes dos povos, to<strong>das</strong> as<br />

categorias e to<strong>das</strong> as relações da sociedade<br />

civil. Então a Religião instituída por Jesus<br />

Cristo, solidamente estabelecida no grau de<br />

dignidade que lhe é devido, em toda parte era<br />

florescente, graças ao favor dos Príncipes e à<br />

proteção legitima dos Magistrados. Então o<br />

Sacerdócio e o Império estavam ligados entre<br />

si por uma feliz concórdia e pela permuta<br />

amistosa de bons oficias. Organizada assim, a<br />

sociedade civil deu frutos superiores a toda<br />

56


Pane l<br />

É indispensável<br />

perguntar <strong>se</strong> os fatos<br />

j ustificam essa<br />

intervenção<br />

medida possível, mas também em toda<br />

a medida do necessário - da direção<br />

da "res publica". Atitude toda ela<br />

flagrante e gravemente excecional, que<br />

só poderia durar o tempo estritamente<br />

necessário. Pois, por <strong>pouco</strong> que a<br />

Igreja excedes<strong>se</strong>, em tal caso, os limites<br />

mínimos de atuação e de duração<br />

há <strong>pouco</strong> mencionados, começaria a<br />

violar a distinção entre Poder espiritual<br />

e Poder temporal, instituída por<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo (11).<br />

Sem negar, portanto, a possibilidade<br />

histórica de uma situação crítica<br />

excecional que colocas<strong>se</strong> a CNBB na<br />

contingência de assumir tal encargo, é<br />

lícito, mais do que . isso, é indispensável,<br />

perguntar <strong>se</strong> tal é a pre<strong>se</strong>nte<br />

configuração dos fatos.<br />

Em termos mais incisivos, mas ante<br />

os <strong>quais</strong> não é possível recuar, é o<br />

caso de indagar <strong>se</strong> os três Poderes<br />

oficiais - Executivo, Legislativo e<br />

Judiciário - <strong>se</strong> encontram em tão<br />

avançado declínio que os dois Poderes<br />

extra-oficiais - os Meios de Comunicação<br />

Social e a CNBB (IV e V<br />

Poderes) - possam e até devam exercer,<br />

em relação a eles, papel análogo ao<br />

dos todo-poderosos prefeitos de palácio<br />

na França medieval, ante a dinastia<br />

merovíngia decadente. Como bem<br />

" .,,<br />

f/ST<br />

expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá,<br />

consignada com o está em inúmeros documentos<br />

que artificio algum dos adversários<br />

poderá corromper ou obscurecer" (Acta Sanctae<br />

Sedis, Typografia Polyglotta S.C. de<br />

Propaganda Fide, 1885, vai. XVIII , p. 169).<br />

Contrastand o com essa descrição, Mons.<br />

Angelo Dell'Acq ua, Substituto da Secretaria<br />

de Estado da Santa Sé, sublinha o fato de que<br />

"em con<strong>se</strong>qüência do agnosticismo religioso<br />

dos Estados" ficou "amortecido ou qua<strong>se</strong> perdido<br />

na sociedade moderna o <strong>se</strong>ntir da Igreja"<br />

(Carta ao Cardeal D. Carlos Carmelo de Vas-<br />

concellos Motta, então Arcebispo de São Paulo,<br />

a propósito do Dia Nacional de Ação de<br />

Graças de 1956).<br />

Sobre o assunto, ve r também PuN10 CoR­<br />

RtA DE ÜLIV EIRA, Acordo com o regime comunista:<br />

para a Igreja, esperan ça ou autodemo/ição.?,<br />

Editora Vera Cruz, São Paulo, 10.ª ed.,<br />

pp. 111-113.<br />

( 11) O tema <strong>das</strong> relações entre o Poder<br />

es piritual e o Poder temporal é la rgamente<br />

explanado no livro Sou católico: posso <strong>se</strong>r<br />

contra a Reforma Agrária ?, Cap. IV, pp. 67 a 75 .<br />

57


~<br />

\<br />

'<br />

O pre<strong>se</strong>nte livro é um apelo para que as elites em letargo despertem de <strong>se</strong>u sono e abram 011 olhos<br />

para a situaçlo em que abobadamente <strong>se</strong> vl o deixando enlear. Se nlo o fizerem, nlo restaré outro<br />

remédio <strong>se</strong>nlo pedir a Deus que tenha pena do Brasil. .. à vista do que possa acontecer. O sacrllego<br />

atentado contra e venerével Imagem de Nossa Senhora Aparecida, no dia 16 de maio de 1978,<br />

permanece como um aviso sombrio para o nosso Pais. A TFP foi <strong>das</strong> poucas organizações que<br />

tomou realmente a sério es<strong>se</strong> sinal, e promoveu uma peregrinaçlo de desagravo ao Santuério da<br />

Padroeira do Brasil.<br />

58


Parte I<br />

Capítulo li<br />

Tal situação de nenhum<br />

modo <strong>se</strong><br />

configura no Brasil<br />

atual<br />

O que podem fazer<br />

os três Poderes?<br />

Fechar as<br />

<strong>CEBs</strong>? Cercear a<br />

CNBB?<br />

<strong>se</strong> <strong>sabe</strong>, por detrás do diáfano velame<br />

do poder merovíngio em vias de extinção,<br />

era de fato o poder emergente dos<br />

prefeitos de palácio que decidia tudo.<br />

Tal situação de nenhum modo <strong>se</strong><br />

configura no Brasil atual. De sorte<br />

que a relação roi fainéant-prefeito de<br />

palácio só teria condições de <strong>se</strong> formar<br />

caso os detentores dos Poderes I, II e<br />

III qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong>m livremente resignar-<strong>se</strong> a<br />

uma passividade "merovíngia" diante<br />

da avançada dos Poderes IV e V.<br />

Mas - objetará alguém - o que<br />

podem os três Podere~ oficiais neste<br />

momento de convergência dos dois<br />

Poderes extra-oficiais? Fechar, por e­<br />

xemplo, as Comunidades de Ba<strong>se</strong>?<br />

Cercear a liberdade da CNBB e dos<br />

Meios de Comunicação Social?<br />

Tudo isso <strong>se</strong>ria pelo menos inábil e<br />

até contraproducente (12).<br />

(12) Cfr. PuNJO C oRR~A DE OuvEJR A, A<br />

Igreja ante a escalada da ameaça comunista -<br />

Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera<br />

Cruz, São Paulo, 4.ª ed., 1977, p. 82; PUNJO<br />

C ORR~A DE ÜUVE JRA E C ARLOS PATR JCJO DEL<br />

C AM PO, Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra a Ref<br />

orma Agrária?, Editora Vera Cruz, São Paulo,<br />

3.ª ed ., 198 1, p. 72.<br />

Bastará que as elites dirigentes do<br />

País despertem de <strong>se</strong>u letargo e abram<br />

os olhos para a situação, na qual<br />

abobadamente <strong>se</strong> vão deixando enlear,<br />

para que a fina <strong>se</strong>nsibilidade<br />

tática dos Poderes extra-oficiais os<br />

faça tomar outros rumos. E também<br />

para que os Poderes oficiais encontrem<br />

ambiente para <strong>se</strong> defender de<br />

modo cômodo, embora dentro da estrita<br />

conformidade com as leis vigentes.<br />

O pre<strong>se</strong>nte livro é um apelo para<br />

que abram os olhos as elites em letargo.<br />

E estas, em rigor de justiça, só<br />

podem ver nele um gesto de colaboração<br />

da TFP, um testemunho de<br />

apreço ao prestígio que elas têm junto<br />

ao País, e à nobre missão natural que<br />

lhes cabe no organismo social.<br />

Só poderá este livro desagradar<br />

aos que não queiram <strong>se</strong>r despertados<br />

de <strong>se</strong>u delicioso sonho. Ou, então, a<br />

quem não de<strong>se</strong>je que eles abram os<br />

olhos. Se estes últimos forem <strong>muito</strong>s,<br />

e con<strong>se</strong>guirem manter em letargo as<br />

elites nacionais, não restará outro remédio<br />

<strong>se</strong>não pedir a Deus que tenha<br />

pena do Brasil. ..<br />

Pois só Ele pode salvar uma nação<br />

cujas elites optam pelo sono.<br />

Que as elites despertem<br />

de <strong>se</strong>u letargo<br />

59


I<br />

entrRE curo<br />

CGC\'9Slõ.,<br />

Sent IRe cum ·<br />

R om~JJO Pont1~<br />

"<br />

rc-e,<br />

SentIR€ çum<br />

ep1scopo.<br />

. .<br />

~.<br />

belíssimas máximas.<br />

•<br />

A,té elas<br />

adem <strong>se</strong>r entendi<strong>das</strong> de modo de or


A intelecção def armada do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />

("cum Romano Pontífice", "cum Episcopo", "cum Parocho")<br />

favorece largamente<br />

a eficácia da<br />

ação reformista<br />

da CNBB


~<br />

Pressão de cúpula<br />

e pressão de ba<strong>se</strong><br />

<strong>se</strong> conjugam<br />

E NATURAL que um leitor<br />

embalado no letargo atrás<br />

descrito, <strong>se</strong> sinta em pre<strong>se</strong>nça de um<br />

como que pesadelo, ao ler os Capítulos<br />

anteriores. Pesadelo tanto mais<br />

desagradável quanto apre<strong>se</strong>nta desde<br />

logo, aos olhos dele, vários aspectos<br />

de óbvia verossimilhança com a realidade,<br />

no que toca à pressão de cúpula<br />

dos dois Poderes extra-oficiais sobre<br />

os três oficiais. Mas também de <strong>se</strong>nsí- ,<br />

vel inverossimilhança em <strong>muito</strong> do que<br />

foi dito sobre a pressão de ba<strong>se</strong> promovida<br />

pela CNBB atr~vés <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />

Com ef eíto, não é fácil imaginar<br />

que, simplesmente por meio <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

possa a CNBB levar a uma avançada<br />

geral contra o regime de propriedade<br />

atualmente em vigor, a imensa massa<br />

dos trabalhadores manuais do Brasil.<br />

E isto em tempo bastante curto para<br />

favorecer as grandes reformas sócioeconômicas<br />

cuja urgência o V Poder<br />

proclama com insistência.<br />

Demonstrar a viabilidade de tal<br />

tarefa é pois es<strong>se</strong>ncial para que, por<br />

sua vez, pareça viável o conjunto do<br />

plano reformista arvorado pelo V Poder,<br />

e o leitor sinta que não está diante<br />

de uma quimera. E assim reaja.<br />

Da demonstração disto <strong>se</strong> de<strong>se</strong>mpenharam<br />

Gustavo Antonio Solimeo<br />

e Luiz Sergio Solimeo com profundidade,<br />

acerto e esmero, como o leitor<br />

comprovará na Parte II do pre<strong>se</strong>nte<br />

trabalho. Aqui apenas toca dar uma<br />

vista sumária do contexto no qual <strong>se</strong> ·<br />

in<strong>se</strong>re a impressionante realidade descrita<br />

na Parte II, a fim de assim<br />

encaminhar o leitor para outras considerações<br />

ainda.<br />

* * *<br />

<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

são grupos recrutados o mais <strong>das</strong> vezes<br />

por elementos do Clero <strong>se</strong>cular e<br />

Provas: a Parte II<br />

do pre<strong>se</strong>nte trabalho<br />

62


A influência do<br />

Clero: o "<strong>se</strong>ntire<br />

cum Romano<br />

Pontífice"<br />

regular, por Ordens e Congregações<br />

religiosas femininas, entre os católicos<br />

mais atraídos pelo tema religioso, que<br />

precisamente por o <strong>se</strong>rem, <strong>se</strong> acercam<br />

sponte sua dos repre<strong>se</strong>ntantes qualificados<br />

da Igreja.<br />

A própria posição religiosa des<strong>se</strong>s<br />

fiéis os torna peculiarmente receptivos<br />

a todo ensinamento, a toda diretriz<br />

emanada da Autoridade eclesiástica.<br />

Compenetrados, a justo título, dos<br />

dogmas do Primado do Soberano<br />

Pontífice e da Infalibilidade Papal,<br />

definidos por Pio IX em 1870, no<br />

Concílio Vaticano I, a deficiente formação<br />

religiosa deles leva-os entretanto<br />

a atribuir a estes dogmas uma<br />

extensão que de fato eles não têm (1).<br />

(1) A Constituição Pastor Aeternus, do<br />

Concílio Vaticano 1, estabelece as condições<br />

necessárias para o exercício da infalibilidade<br />

nas definições pontifícias. O Papa é infalível<br />

"quando <strong>fala</strong> ex cathedra. isto é, quando, no<br />

uso de sua prerrogativa de Doutor e Pastor de<br />

rodos os cristãos, e por sua suprema autoridade<br />

apostólica, define a doutrina que em<br />

matéria de Fé e Moral deve <strong>se</strong>r sustentada por<br />

toda a Igreja" (DENZINGER-ÜMBERG, Enchiridion<br />

Symbolorum, Herder, Barcelona, ed. 24,<br />

1946, n. 0 1839).<br />

São quatro, porta nto, as condições necessárias<br />

para que haja um pronuncia mento infalível<br />

do Papa ( classificado por teólogos como<br />

Magistério Pontifício extraordinário):<br />

1. 0 ) que ó Papa fale como Doutor e Pastor<br />

universal;<br />

2. 0 ) que u<strong>se</strong> da plenitude de sua autoridade<br />

apostólica;<br />

3. 0 ) que manifeste a vontade de definir;<br />

4. 0 ) que trate de Fé e Moral.<br />

Faltando uma dessas quatro condições, o<br />

pronunciamento papal não é por si próprio<br />

infalível.<br />

Mas o ensinamento pontifício infalível pode<br />

dar-<strong>se</strong> ainda no Magi tério ordinário (isto é,<br />

o Magistério comum do Papa, em que cada<br />

pronunciamento não é de si infalível, como<br />

sucede geralmente nas Encíclicas, Alocuções<br />

etc.). <strong>As</strong>sim, quando uma larga série de Papas<br />

ensina a toda a Igreja, constantemente e por


Parte I<br />

Capítulo III<br />

"Sentire cum<br />

Episcopo", "<strong>se</strong>ntire<br />

cum Parocho"<br />

dade. Que, analogamente, todos os<br />

Bispos, na mais perfeita união com o<br />

Papa, não fazem <strong>se</strong>não acatar com a<br />

mais entusiasmada e perfeita meticu-<br />

Ademais, compenetrados, também a<br />

justo título, da santidade da Igreja,<br />

imaginam tais fiéis importar em ato de<br />

impiedade o simples admitir que o<br />

relacionamento entre o Papa e os Bispos,<br />

os Bispos e o Clero, e, de modo<br />

geral, o procedimento deste para com<br />

os fiéis, possa não corresponder <strong>muito</strong><br />

exatamente ao que <strong>se</strong>ria ideal.<br />

Daí decorre imaginarem eles que<br />

to<strong>das</strong> as intenções do Sumo Pontífice,<br />

todo o <strong>se</strong>u modo de considerar a realidade<br />

pre<strong>se</strong>nte, e todos os <strong>se</strong>us atos<br />

concretos <strong>se</strong> beneficiam da infalibililongo<br />

tempo, a mesma doutrina como integrante<br />

da Doutrina revelada, deve-<strong>se</strong> admitir a<br />

infalibilidade de ta l Magistério, pois, do contrá<br />

rio, induziria a Igreja em erro (cfr. J osEPH us<br />

A. DE ALDAMA S.J., Mariologia, in Sacrae<br />

Theologiae Summa, BAC, Matriti, 1961. vol.<br />

III , p. 41 8).<br />

Segundo a fórmula clássica de São Vicente<br />

de Lerins, o católico deve crer naquilo que foi<br />

ensinado <strong>se</strong>mpre, em todos os luga res e por<br />

todos: "quod <strong>se</strong>mper, quod ubique, quod ab<br />

omnibus". Pois falharia a assistênci a do Espírito<br />

Santo à Igreja <strong>se</strong> uina doutrina ensinada<br />

sob essas três condições pudes<strong>se</strong> <strong>se</strong>r falsa.<br />

Os teólogos enumeram ainda vários outros<br />

casos em que pode ocorrer um ensinamento<br />

infalível do Papa: as canonizações (<strong>se</strong>mpre), a<br />

Liturgia, as leis eclesiásti cas, a a provação de<br />

Regras de Ordens e Congregações religiosas.<br />

O que <strong>se</strong> diz do ensinamento pa pa l, a plica<strong>se</strong><br />

também ao ensinamento unâ nime dos Bispos<br />

em união com o Papa. <strong>As</strong>sim, o pronunciamento<br />

solene dos Bispos em união com o<br />

Papa - Magisrério Universal exrraordinário<br />

- é ta mbém por si próprio infalível. Entreta<br />

nto. no Magisrério Un iversal ordinário, isto<br />

é, no Magistério comum d os Bispos em união<br />

com o Pa pa, cada pronuncia mento não é de si<br />

infa lível.<br />

Ê possíve l que a lgum documento pontifício<br />

o u conciliar <strong>se</strong> oponha frontalmente a<br />

ensinamentos infalíve is do passado? Ê evidente<br />

que, <strong>se</strong> o novo pronuncia mento é ta mbém<br />

infa lível, ta l o posição não pode existir. Mas <strong>se</strong><br />

não o é, a utores de peso - como São Roberto<br />

Bellarmino, Suarez, Melchior Cano, Domingos<br />

Soto - encaram tal hipóte<strong>se</strong> como teologicamente<br />

possível. E é ma nifesto que o cató-<br />

1ico deveria então perma necer fiel à doutrina<br />

infalíve l. Essa hipóte<strong>se</strong> leva ria os estudiosos à<br />

questão multi-<strong>se</strong>cula r, em que <strong>se</strong> empenhara m<br />

es pecia lmente os ma io res teólogos dos Tempos<br />

Modernos, da poss ibilidade de um Papa herege<br />

(cfr. AR NA LDO V . XAVIER DA SILVEIRA, Qual<br />

a auroridade dourrinária dos documenros p onrifícios<br />

e conciliares?, "Catolicismo", n.ú 202.<br />

outubro de 1967).<br />

65


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A ré com o sacristão<br />

...<br />

losidade todos os ensinamentos e ordens<br />

emana<strong>das</strong> de Roma. E que o<br />

mesmo fazem os Sacerdotes em relação<br />

aos Bispos, e as Religiosas em<br />

relação aos Sacerdotes.<br />

Essa concepção, <strong>se</strong>m dúvida louvável<br />

quanto ao espírito de fé do qual<br />

procede, tem como recíproca que toda<br />

palavra de um Sacerdote, e até mesmo<br />

de uma Freira, deve <strong>se</strong>r acatada como<br />

<strong>se</strong> fos<strong>se</strong> da própria Igreja!<br />

Dessa maneira, a máxima santa e<br />

verdadeira do "<strong>se</strong>ntire cum Romano<br />

Pontífice" - maneira excelente de<br />

"<strong>se</strong>ntire cum Ecclesia" - é <strong>muito</strong> simplisticamente<br />

(simploriamente, talvez<br />

fos<strong>se</strong> melhor dizer) transposta para<br />

todo e qualquer ato pessoal do Papa.<br />

E depois, analogamente, para o escalão<br />

imediato: "<strong>se</strong>ntire cum Episcopo".<br />

E ainda para o escalão paroquial:<br />

"<strong>se</strong>ntire cum Parocho".<br />

"Sentire" até com o sacristão, dis<strong>se</strong><br />

certa vez um católico praticante, que<br />

exerce de modo idôneo uma função<br />

profissional de responsabilidade, tem<br />

traquejo da vida, e olhos para ver. ..<br />

* * *<br />

podem facilmente levá-los às posições<br />

ideológicas mais inespera<strong>das</strong>. E até às<br />

mais dissonantes com o que é o ensino<br />

tradicional e infalível da Santa Igreja<br />

(2).<br />

A ação normal do Clero vai de<br />

fato <strong>muito</strong> além dos simpáticos núcleos<br />

de fervorosos. Por meio de <strong>se</strong>rmões,<br />

da confissão, <strong>das</strong> múltiplas relações<br />

pessoais a que o exercício do Sacerdócio<br />

dá lugar, é-lhe possível influenciar<br />

uma quantidade indefinida de pessoas.<br />

E sua ação é ainda mais ampliada<br />

pelas escolas de todo grau, orfanatos,<br />

instituições de caridade e outras<br />

obras manti<strong>das</strong> e dirigi<strong>das</strong> pela Igreja.<br />

Em todo es<strong>se</strong> público, muitas pessoas<br />

há que, mais fervorosas ou menos,<br />

supõem entretanto que a plena fide-­<br />

lidade à Igreja consiste em praticar<br />

es<strong>se</strong>s três "<strong>se</strong>ntire" exatamente como<br />

acima descritos. O que, por sua vez,<br />

leva a que junto a um número <strong>muito</strong><br />

grande de pessoas, o prestígio da Igreja<br />

- certamente menor do que entre<br />

os fervorosos, mas nem por isto inexistente<br />

- possa <strong>se</strong>r instrumentalizado<br />

pela ação de um Sacerdote ou de<br />

Influência de amp<br />

litude indefinida<br />

Lurra o v Poder<br />

Com a imensa influência que es<strong>se</strong><br />

tríplice e hipertrofiado "<strong>se</strong>ntire" lhes<br />

confere sobre a maior parte dos mais<br />

ardorosos dentre <strong>se</strong>us fiéis , o Sacerdote<br />

ou a Religiosa inteiramente afinados<br />

com as diretrizes da CNBB<br />

(2) Ou <strong>se</strong>ja, as definições impostas a todos<br />

os católicos pelo Supremo Magistério, bem como<br />

o ensinamento uniforme do <strong>se</strong>u Magistéri<br />

o ordinário e universal no decurso dos séculos<br />

(cfr. OENZINGER-UMBERG, Enchiridion Symbolorum,<br />

Herder, Barcelona, ed. 24, 1946, n. ºs<br />

1683 e 1792).<br />

66


Capítulo l/1<br />

A influência normal do Clero, que <strong>se</strong> exerce por<br />

meio de <strong>se</strong>rmões, da confissão, <strong>das</strong> múltiplas<br />

relações pessoais a que o exercício do Sacerdócio<br />

dé lugar, é acrescida pela verdadeira<br />

"reciclagem" doutrinéria e psicológica imposta<br />

pela CNBB à massa da população através da<br />

obrigatoriedade dos cursos de preparação para<br />

noivos e para padrinhos de batizado.<br />

uma Freira. Por vezes até mediante<br />

um simples con<strong>se</strong>lho, uma palavra,<br />

um aceno ...<br />

Pode-<strong>se</strong> compreender facilmente a<br />

que espantosas con<strong>se</strong>qüêccias conduz<br />

em nossos dias o "jogo" des<strong>se</strong> tríplice<br />

"<strong>se</strong>ntire", entendido com tais imprecisões<br />

e extensão; e qual a amplitude<br />

indefinida dos círculos de influência<br />

que um Sacerdote pode desta maneira<br />

exercer.<br />

Tal influência é ainda acrescida<br />

pela verdadeira "reciclagem" doutrinária<br />

e psicológica imposta pela CN­<br />

BB à massa da população, pela obrigatoriedade<br />

dos cursos de preparação<br />

para noivos, como para padrinhos-de<br />

batizado.<br />

Nes<strong>se</strong>s cursos, as doutrinas progressistas<br />

e esquerdistas podem <strong>se</strong>r<br />

livremente inculca<strong>das</strong> em nome da<br />

Religião, em pessoas que tinham anteriormente<br />

uma formação católica tradicional.<br />

Quem não <strong>se</strong>gue tais cursos fica<br />

em situação análoga à de um excomungado,<br />

pois sofre a punição de não<br />

poder casar-<strong>se</strong>, de não poder <strong>se</strong>r padrinho<br />

de batizado etc. ( cf r. Parte II,<br />

Cap. 1, 3).<br />

Es<strong>se</strong> draconianismo religioso é e­<br />

xatamente o contrário do ecumenismo<br />

tão freqüente na "esquerda católica" e<br />

nos meios progressistas. E - note-<strong>se</strong><br />

- deixa a Igreja em situação confusa.<br />

Pois enquanto têm caído vertiginosamente<br />

os costumes, e as leis discriminatórias<br />

entre católicos e hereges vão<br />

desaparecendo, cada vez mais <strong>se</strong> vai<br />

apertando o cerco contra os que permanecem<br />

fiéis à doutrina tradicional.<br />

O que, tudo, favorece largamente a<br />

ação reformista da CNBB.<br />

A "reciclagem"<br />

doutrinária e psicológica<br />

imposta<br />

aos fiéis<br />

67


A maior cri<strong>se</strong> da<br />

História da Igreja<br />

J o ã o Paulo li:<br />

"foram difundi<strong>das</strong><br />

verdadeiras heresias"<br />

C OMO ninguém<br />

Igreja atravessa em nossos<br />

dias a maior cri<strong>se</strong> de sua venerável<br />

existência, vinte vezes <strong>se</strong>cular. E nessa<br />

cri<strong>se</strong> estão compreendidos, não só fiéis,<br />

como também Religiosos de ambos os<br />

<strong>se</strong>xos, Sacerdotes, e altos Prelados ( I ).<br />

Tal realidade encontra eco em mais<br />

de um documento pontifício. João<br />

Paulo II assim descreveu a desolação<br />

hoje reinante na Igreja: "É necessário<br />

admitir realisticamente e com profundá-<br />

e <strong>se</strong>ntida <strong>se</strong>nsibilidade que os cristãos<br />

hoje, em grande parte, <strong>se</strong>ntem-<strong>se</strong><br />

perdidos, confusos, perplexos e até<br />

ignora, a<br />

(1) Quanto a essa cri<strong>se</strong> no Brasil, cfr. Pu­<br />

NIO CoRRl:.A DE OuvEIRA, A Igreja ante a escalada<br />

da ameaça comunista - Apelo aos Bispos<br />

Silenciosos, Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.•<br />

ed., 1977; PuN10 C o RR l:.A DE OuvEIRA, Tribalismo<br />

indígena, ideal comuna-missionário para o<br />

Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São<br />

Paulo, 7.• ed., 1979.<br />

desiludidos: foram divulga<strong>das</strong> prodigamente<br />

idéias contrastantes com a<br />

Verdade revelada e desde <strong>se</strong>mpre ensinada;<br />

foram difundi<strong>das</strong> verdadeiras<br />

heresias, no campo dogmático e moral,<br />

criando dúvi<strong>das</strong>, confusões e rebeliões;<br />

alterou-<strong>se</strong> até a Liturgia; imersos<br />

no 'relativismo' intelfctual e moral<br />

e por con<strong>se</strong>guinte no permissivismo,<br />

os cristãos sãc tentados pelo ateísmo,<br />

pelo agnosticismo, pelo iluminismo<br />

vagamente moralista, por um cristianismo<br />

sociológico, <strong>se</strong>m dogmas definidos<br />

e <strong>se</strong>m moral objetiva" (Alocução<br />

de 6 de fevereiro de 1981, aos<br />

Re_ligiosos e Sacerdotes participantes<br />

do I Congresso nacional italiano sobre<br />

o tema Missões ao povo para os anos<br />

80, "L'Os<strong>se</strong>rvatore Romano", 7-2-81).<br />

João Paulo II parece não fazer<br />

<strong>se</strong>não comentar anteriores afirmações<br />

de Paulo VI. Em Alocução aos alunos<br />

do Seminário Lombarda, em 7 de<br />

dezembro de 1968, dis<strong>se</strong> o Pontífice: A<br />

Paulo VI:" A Igreja<br />

é golpeada também<br />

pelos que dela<br />

fazem parte"<br />

70


Igreja atravessa hoje um momento de<br />

inquietude. Alguns praticam a autocrítica,<br />

dir-<strong>se</strong>-ia até a autodemolição.<br />

É como uma perturbação interior, a­<br />

guda e complexa, que ninguém teria<br />

esperado depois do Concílio. Pensava-<strong>se</strong><br />

num florescimento, numa expansão<br />

<strong>se</strong>rena dos conceitos amadurecidos<br />

na grande as<strong>se</strong>mbléia conciliar.<br />

Há ainda este aspecto na Igreja, o do<br />

florescimento. Mas posto que 'bonum<br />

ex integra causa, malum ex quocumque<br />

defectu', fixa-<strong>se</strong> a atenção mais<br />

especialmente sobre o aspecto doloroso.<br />

A Igreja é golpeada também<br />

pelos que dela fazem parte (/n<strong>se</strong>gnamenti<br />

di Paolo VI, Tipografia Poliglotta<br />

Vaticana, vol. VI, p. 1188 -<br />

destaques nossos; as palavras não são<br />

textuais do Pontífice e sim do resumo<br />

que delas apre<strong>se</strong>nta a Poliglotta Vaticana).<br />

Paulo VI volta ao tema na Alocução<br />

Resistite fortes in fide, de 29 de<br />

junho de 1972 (as palavras textuais do<br />

Pontífice são apenas as cita<strong>das</strong> entre<br />

aspas no resumo da Alocução apre<strong>se</strong>ntado<br />

pela Poliglotta):<br />

Referindo-<strong>se</strong> à situação da Igreja<br />

de hoje, o Santo Padre afirma ter a<br />

<strong>se</strong>nsação de que "por alguma fissura<br />

tenha entrado a fumaça de Satanás no<br />

templo de Deus". Há a dúvida, a<br />

incerteza, o complexo dos problemas,<br />

a inquietação, a insatisfação, o confronto.<br />

Não <strong>se</strong> confia mais na Igreja;<br />

confia-<strong>se</strong> no primeiro profeta profano<br />

[ estranho à Igreja] que nos venha f a­<br />

lar, por meio de algum jornal ou<br />

movimento social, a fim de correr<br />

atrás dele e perguntar-lhe <strong>se</strong> tem a<br />

fórmula da verdadeira v,da. E não<br />

nos damos conta de já a possuirmos<br />

e <strong>se</strong>rmos mestres dela. Entrou a dúvida<br />

em nossas consciências, e entrou<br />

por janelas que deviam estar abertas<br />

à luz. Da ciência, que é feita para<br />

nos oferecer verdades que não af as-<br />

Paulo VI: ~a fumaça<br />

de Satanás<br />

no templo de<br />

Deustt<br />

71


A bela Imagem da<br />

Virgem <strong>das</strong> Légrim<br />

as, da Basflica de<br />

Sl o Joio de Deus<br />

em Granada (E spanha),<br />

verteu lágrimas<br />

de sangue, no<br />

dia 13 de m eio deste<br />

ano. Possam es<br />

sas lágrimas de<br />

Rainha e Mie penetrar<br />

os nossos co­<br />

\ º _ rações, e fazer-nos<br />

\ ~ encarar com uma<br />

· , { ) <strong>se</strong>riedade superla-<br />

• • tiva a gravidade dos<br />

1 1<br />

· fenômenos da au-<br />

, : todemolíção" da<br />

Igreja e da penetraçlo<br />

da "fumaça de<br />

Satanás no Templo<br />

de Deus".<br />

tam de Deus, mas nos fazem procurá-10<br />

ainda mais, e ainda mais intensamente<br />

glorificá-10, veio pelo contrário<br />

a crítica, veio a dúvida. Os<br />

cientistas são aqueles que mais pensada<br />

e dolorosamerzte curvam a fronte.<br />

E acabam por revelar: "Não <strong>se</strong>i,<br />

não <strong>sabe</strong>mos, não podemos <strong>sabe</strong>r". A<br />

escola torna-<strong>se</strong> um local de prática da<br />

confusão e de contradições, às vezes<br />

absur<strong>das</strong>. Celebra-<strong>se</strong> o progresso para<br />

melhor poder demoli-lo com as mais<br />

estranhas e radicais revoluções, para<br />

negar tudo aquilo que <strong>se</strong> conqÚistou,<br />

para voltar a <strong>se</strong>r primitivos, depois de<br />

ter exaltado tanto os progressos do<br />

mundo moderno.<br />

Também na Igreja reina este estado<br />

de incerteza. Acreditava-<strong>se</strong> que,<br />

depois do Concilio, viria um dia ensolarado<br />

para a História da Igreja. Veio,<br />

pelo contrário, um dia cheio de nuvens,<br />

de tempestade, de escuridão, de<br />

indagação, de ince,:teza. Pregamos o<br />

ecumenismo, e nos afastamos <strong>se</strong>mpre<br />

mais uns dos outros. Procuramos cavar<br />

abismos, em vez de soterrá-los.<br />

Como aconteceu isto? O Papa confia<br />

aos pre<strong>se</strong>ntes um pensamento <strong>se</strong>u:<br />

o de que tenha havido a intervenção<br />

de um poder adverso. O <strong>se</strong>u nome é<br />

diabo, este misterioso <strong>se</strong>r a que também<br />

alude São Pedro em sua Epístola<br />

[ que o Pontífice comenta na Alocução].<br />

Tantas vezes, por outro lado,<br />

retorna no Evangelho, nos próprios<br />

lábios de Cristo, a menção a este<br />

inimigo dos homens. "Cremos - ob<strong>se</strong>rva<br />

o Santo Padre - que alguma<br />

coisa de preternatural veio ao mundo<br />

justamente para perturbar, para sufocar<br />

os frutos do Concilio Ecumênico,<br />

e para impedir que a Igreja prorrompes<strong>se</strong><br />

num hino de alegria por ter<br />

readquirido a plenitude da consciência<br />

de si" (/n<strong>se</strong>gnamrnti di Paolo VI,<br />

Tipografia Poliglotta Vaticana, vol.<br />

X, pp. 707-709).<br />

Se a Sagrada Hierarquia reagis<strong>se</strong><br />

unânime, compacta e claramente, contra<br />

essa situação trágica, o quadro da<br />

realidade religiosa contemporânea <strong>se</strong><br />

nos apre<strong>se</strong>ntaria límpido e simples de<br />

72


Parte l<br />

Capítulo I V.<br />

Personalidades dL1<br />

Hierarquia cooperam<br />

com o invasor<br />

da cidadela sagrada<br />

descrever: os Hierarcas resistindo como<br />

um torreão fortificado da cidadela<br />

sagrada, ajudados por número maior<br />

ou menor de leigos, de um lado; e, de<br />

outro lado, os invasores que irromperam<br />

muralhas a dentro, e empenham<br />

todos os <strong>se</strong>us esforços no assalto<br />

supremo.<br />

Basta correr os olhos sobre a Cristandade<br />

de nossos dias para perceber<br />

desde logo que tal não é o quadro. E<br />

que, a <strong>se</strong> utilizar a metáfora do torreão<br />

e da cidadela, deve-<strong>se</strong> dizer que<br />

partes do torreão também já estão em<br />

mãos do adversário. Ou <strong>se</strong>ja, personalidades<br />

da Sagrada Hierarquia -<br />

ressalva<strong>das</strong> as intenções! - cooperam<br />

com o mvasor.<br />

É fácil avaliar que desolador efeito<br />

isso pode ter especificamente no Brasil.<br />

Considere-<strong>se</strong> que todo personagem<br />

hierárquico constitui, para incontáveis<br />

católicos brasileiros, a imagem fidelíssima<br />

do Romano Pontífice, e <strong>se</strong> aquilatará<br />

a que prodigiosa confusão conduz<br />

inevitavelmente, em nossos dias, o<br />

princípio do tríplice "<strong>se</strong>ntire".<br />

* * *<br />

Teologia da Uber- Ao <strong>se</strong>rviço dessa confusão está u-<br />

tação ma corrente de teologia, dita "da libertação".<br />

Não é este o lugar de lhe expor<br />

na íntegra o conteúdo doutrinário.<br />

Basta dizer sumariamente que, a­<br />

lentada na Conferência do Episcopa-<br />

Uma igreja <strong>se</strong>midestrulda. A destruição é triste.<br />

Quanto m ais a autodestruiçilol<br />

73


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Em sua Alocução de abertura da Ili Conferência do Episcopado Latino-Americano em Puebla<br />

(México), Joi o Paulo .li condenou a doutrina da Teologia da Libertação que apre<strong>se</strong>nta No110<br />

Senhor Jesus Cri_sto "como po/ltico, revolucionário, como o subversivo de Nazaré".<br />

do latino-americano em Medellin, em<br />

1968 (2), e explicitada pelos teólogos<br />

Gustavo Gutiérrez e Hugo <strong>As</strong>smann,<br />

ela <strong>se</strong> expandiu largamente em círculos<br />

teológicos de todo o mundo. E que<br />

sua doutrina procura dar fundamento<br />

na Sagrada Escritura, aos erros veiculados<br />

por duas correntes doutrinárias<br />

distintas, mas intimamente conjuga<strong>das</strong><br />

entre si.<br />

Uma é constituída pelo progressismo<br />

no campo da Teologia, da Filosofia<br />

e da Moral, com os con<strong>se</strong>qüentes<br />

reflexos entre os estudiosos do Direito<br />

Canônico, da História Eclesiástica etc.<br />

E a outra pelo esquerdismo no campo<br />

Pr ogressism o ­<br />

esquerdismv<br />

(2) Afirma o PE. 8 ATIISTA MoNDIN (professor<br />

na Pontifícia Universidade Urbaniana de<br />

Roma e colaborador habitual de "L'Os<strong>se</strong>rvatore<br />

Romano"): "O primeiro impulso para a<br />

elaboração de uma teologia da libertação foi<br />

dado pela célebre conferência do episcopado<br />

latino-americano realizada em Medel/ín em<br />

1968. Naquela circunstância a Igreja da América<br />

do Sul lançou as ba<strong>se</strong>s da teologia da<br />

libertação" ( Os teólogos da libertação, Edições<br />

Paulinas, São Paulo, 1980, p. 30).<br />

No mesmo <strong>se</strong>ntido escreve RA UL VmALEs,<br />

na revista "Concilium": "Foi no encontro do<br />

CELAM, em Mede/lín (1968) que a teologia da<br />

liberração adquiriu o <strong>se</strong>u direito de cidadania.<br />

Se não é possível afirmar que nasceu naquela<br />

ocasião, devemos todavia notar que esta circunstância<br />

marcou sua acolhida oficial e deu o<br />

impulso ao futuro movimento e trabalho teológico<br />

na prospectiva da libertação .... É, pois,<br />

a partir de Mede/lín que o empenho, a reflexão<br />

teológica e a mesma produção literária<br />

sobre o tema da libertação não só <strong>se</strong> tornam<br />

explícitas como também <strong>se</strong> intensificam" (Acquisizioni<br />

e compiti dei/a teologia latinoamericana,<br />

"Concilium", n. 0 4, 1974, p. 154<br />

- apud PE. BATIISTA MoNDIN, op. cit., p. 30,<br />

nota 9).<br />

74


Parte/<br />

A Teologia da Libertação<br />

a <strong>se</strong>rviço<br />

da autodemolição<br />

da sociologia católica, também com<br />

reflexos con<strong>se</strong>qüentes nos estudos de<br />

Economia e de Política promovidos<br />

sob a influência católica, bem como<br />

na vida, no pensamento e na ação <strong>das</strong><br />

correntes políticas denomina<strong>das</strong> "democratas-cristãs",<br />

"socialistas cristãs",<br />

"socialistas católicas" etc.<br />

* * *<br />

A doutrina da Teologia da Libertação<br />

foi condenada <strong>se</strong>m rebuços por<br />

João Paulo II em sua Alocução de<br />

Puebla (3). Não obstante, ela continua<br />

a <strong>se</strong> expandir tranqüilamente por todo<br />

o Brasil.<br />

Tal "teologia" põe ao alcance dos<br />

vários escalões eclesiásticos que a quei-<br />

Em que pe<strong>se</strong> a advertência<br />

de Joi o<br />

Paulo li, a Teologia<br />

da Libertação continua<br />

fazendo suas<br />

devastações: na<br />

Revolução Sandinista<br />

da Nicarágua,<br />

cujo caráter marxista<br />

nAo chegou a<br />

<strong>se</strong>r disfarçado, a<br />

participação de freiras<br />

foi ostensiva,<br />

como esta que ajuda<br />

um guerrilheiro<br />

ferido em Matagalpa.<br />

(3) São palavras do Pontífice:<br />

"Circulam hoje em <strong>muito</strong>s lugares - o fenômeno<br />

não é novo - 'releituras' do Evangelho,<br />

resultado de especulações teóricas mais do<br />

que de autêntica meditação da palavra de Deus<br />

e de um verdadeiro compromisso evangélico.<br />

Elas causam confusão ao <strong>se</strong> apartarem dos<br />

critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-<strong>se</strong><br />

ademais na remeridade de comunicá-las, à<br />

maneira de cateque<strong>se</strong>, às comunidades cristãs.<br />

Em alguns casos, ou <strong>se</strong> silencia a divindade<br />

de Cristo, ou <strong>se</strong> incorre de/ato em formas<br />

de interpretação conflitantes com a Fé da<br />

Igreja. Cristo <strong>se</strong>ria apenas um 'profeta', um<br />

anunciador do Reino e do amor de Deus,<br />

porém não o verdadeiro Filho de Deus, nem<br />

<strong>se</strong>ria portanto o centro e o objeto da própria<br />

mensagem evangélica.<br />

Em outros casos <strong>se</strong> pretende mostrar a<br />

Jesus como comprometido politicamente, como<br />

um lutador contra a dominação romana e<br />

contra os poderes e, inclusive, como implicado<br />

na luta de clas<strong>se</strong>s. Esta concepção de<br />

Cristo como político, revolucionário, como o<br />

subversivo de Nazaré, não <strong>se</strong> compagina com a<br />

cateque<strong>se</strong> da Igreja. Confundindo o pretexto<br />

insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude<br />

de Jesus mesmo - bem diversa - <strong>se</strong> aduz<br />

como causa de sua mbrte o de<strong>se</strong>nlace de um<br />

conflito político e <strong>se</strong> silencia a vontade de<br />

entrega do Senhor, e ainda a consciência de<br />

sua missão redentora" (ln<strong>se</strong>gnamenti di Giovanni<br />

Paolo li, Libreria Editrice Vaticana, vol.<br />

II, 1979, pp. 192-193).<br />

E mais.adiante: "Percebe-<strong>se</strong>, às vezes, certo<br />

mal-estar relacionado com a própria interpre-<br />

75


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

ram usar, os textos da Escritura que,<br />

por ela interpretados, podem <strong>se</strong>rvir de<br />

ba<strong>se</strong> para a atuação dos elementos<br />

afinados com o programa reformista<br />

da CNBB. E pode, assim, transformar<br />

os leigos em artífices dessa reforma,<br />

na medida mesma em que eles <strong>se</strong>Jam<br />

<strong>se</strong>nsíveis à voz da Igreja!<br />

Tantas potencialidades de ação suscita<strong>das</strong><br />

ou estimula<strong>das</strong> pelo progressismo<br />

pedem, por sua própria natureza,<br />

uma organização que dê, no<br />

tação da natureza e da missão da Igreja. A lu-·<br />

de-<strong>se</strong>, por exemplo, à <strong>se</strong>paração que alguns<br />

estabelecem entre Igreja e Reino de Deus. Este,<br />

esvaziado de <strong>se</strong>u conteúdo total. é entendido<br />

em <strong>se</strong>ntido mais bem <strong>se</strong>cularista: não <strong>se</strong> chegaria<br />

ao Reino pela Fé e pela pertencença à<br />

Igreja, mas pela simples mudança estrutural e<br />

pelo compromisso sócio-político. Onde há um<br />

certo tipo de compromisso e de praxis pela<br />

j ustiça, ali estaria iá pre<strong>se</strong>nte o Reino. Esquece-<strong>se</strong>,<br />

deste modo. que 'a Igreja .... recebe a<br />

missão de anunciar o Reino de Cristo e de<br />

Deus, e instaurá-lo em todos os povos, e<br />

constitui na terrà o germe e o princípio des<strong>se</strong><br />

Reino' (Lumen Gentium, n. 0 5)" (op. cit., p.<br />

197 - cfr. também PUNIO CoRRÍ:A DE ÜLIVEIRA,<br />

A mensagem de Puebla: notas e comentários, "Folha<br />

de S. Paulo", 26-3-79; 7, 14 e 26-4-79; 19-5-79).<br />

plano concreto, unidade de metas e de<br />

métodos aos clérigos e fiéis engajados<br />

no empreendimento de "reformar o<br />

Brasil".<br />

Esta organização é constituída pelas<br />

<strong>CEBs</strong>.<br />

* * *<br />

Tudo isto faz ver quanto de <strong>se</strong>iva<br />

vital circula nas <strong>CEBs</strong>. A Parte II do<br />

pre<strong>se</strong>nte trabalho mostra a doutrina<br />

dis<strong>se</strong>minada por estas, sua organização,<br />

<strong>se</strong>us métodos para recrutamento<br />

de aderentes, e para a ação des<strong>se</strong>s<br />

aderentes sobre o conjunto do corpo<br />

social.<br />

Ourro insrrumen-<br />

10 de autodemolição:<br />

as <strong>CEBs</strong> -<br />

sua eficácia<br />

76


Parte I<br />

Capiwlo I V<br />

<strong>As</strong>sim o leitor poder~ inteirar-<strong>se</strong><br />

da envergadura do organismo enquanto<br />

tal, e da eficácia de que é dotada a<br />

sutil e complicada metodologia que a<br />

este cabe pôr em ação. E, con<strong>se</strong>qüentemente,<br />

de to<strong>das</strong> as possibilidades de<br />

êxito que as <strong>CEBs</strong> levam consigo, anima<strong>das</strong><br />

e apoia<strong>das</strong> que são pela CNBB<br />

em todo o território nacional.<br />

O leitor poderá tomar conhecimento,<br />

na mesma Parte II deste trabalho,<br />

de algo do histórico <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no<br />

Brasil, e dos resultados que estas proclamam<br />

ter alcançado.<br />

77


.....<br />

Capítulo V<br />

1 . .<br />

. ........ ,., . .<br />

:1 ·· 11ti . .,.::<br />

,~. : ..<br />

• ; . ~~;. . • : i · ! -


:. .. . --<br />

-<br />

.. . . .<br />

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A Teologia da Lib<br />

erra çã o. " reinterpreta"<br />

as Escrituras<br />

...<br />

e<br />

OMO <strong>se</strong> viu (cfr. Parte I,<br />

Cap. IV), está na Teologia<br />

da . Libertação a motivação religiosa<br />

da dedicação que os membros de primeiro,<br />

de <strong>se</strong>gundo, e até de terceiro<br />

escalão - Bispos, Sacerdotes e leigos<br />

- votam às <strong>CEBs</strong>. Se eles recrutam,<br />

articulam, organizam e dão impulso a<br />

estas, é es<strong>se</strong>ncialmente porque, em via<br />

de regra, numa primeira etapa <strong>se</strong> lhes<br />

persuadiu de que a doutrina da Igreja<br />

em matéria social - e, con<strong>se</strong>qüentemente,<br />

a atuação da Igreja face às<br />

situações sócio-econômicas contemporâneas<br />

- mudou, por efeito de uma<br />

interpretação mais fina, sutil e plástica<br />

dada à Sagrada Escritura por<br />

João XXIII e Paulo VI, e que João<br />

Paulo II vem continuando a de<strong>se</strong>nvolver<br />

( l).<br />

Mas aos que caminharam mais<br />

longe nessa trajetória, as coisas <strong>se</strong><br />

apre<strong>se</strong>ntam posteriormente de outra<br />

manein. Medellin e Puebla denunciaram<br />

uma "realidade" vista enquanto<br />

situação de pecado, de opressão e<br />

Medellin e Puebla<br />

(1) De que modo possa dar-<strong>se</strong> isto <strong>se</strong>m<br />

prejuízo da coerência entre Papas e Papas -<br />

imprescindível, J,'l que uns e outros são mestres<br />

autorizados e, conforme as circunstâncias,<br />

até infalíveis do inva riável ensinamento de<br />

Nosso Senhor J es us Cristo ("Jesus Christus<br />

heri et hodie, ip<strong>se</strong> et in saecula: Jesus Cristo<br />

ontem e hoje, ele mesmo <strong>se</strong>mpre por todos os<br />

séculos", Heb. XIII, 8) - é esta uma objeção<br />

<strong>das</strong> mais embaraçosas para a Teologia da<br />

Libertação como para as <strong>CEBs</strong>, que não afir-<br />

mam categoricamente que os Papas tradicionais<br />

erraram. O .único meio de <strong>se</strong> de<strong>se</strong>mbaraçar<br />

desta dificuldade consiste em escamoteála.<br />

E, por sua vez, o único meio de escamoteála<br />

consiste em qualificar como mera diferença<br />

de matizes o contraste entre os ensinamentos<br />

sócio-econômicos tradicionais da Igreja e os da<br />

Teologia da Libertação. Formulação vaga, e<br />

por isto mesmo ambígua, especialmente inaceitável<br />

em <strong>se</strong> tratando de matéria que não<br />

permite a menor ambiguidade. Ora, o que<br />

80


de injustiça estrutural. Esta "visão da<br />

realidade" <strong>se</strong>rve de ba<strong>se</strong> para a interpretação<br />

da doutrina católica e para a<br />

fixação do rumo da Igreja, o qual só<br />

pode <strong>se</strong>r um: combater a situação de<br />

pecado institucionalizadu nas estruturas<br />

sócio-políticas, econômicas e culturais<br />

da América Latina.<br />

Tornando essa "realidade" assim<br />

arbitrária e simplisticamente descrita<br />

como "lugar social" a partir do. qual <strong>se</strong><br />

devem interpretar as Sagra<strong>das</strong> Escrituras,<br />

es<strong>se</strong>s neo-exegetas deduzem que<br />

a Igreja não deve manter o statu quo<br />

atual, corrigindo-o apenas no necessário,<br />

pois nisso ela continuaria a pregar<br />

uma "religião alienante". Pelo contrário,<br />

ela deve <strong>se</strong>r revolucionária, pregando<br />

uma religião libertadora, cuja<br />

ação específica é, na prática, a derrocada<br />

do statu quo atual.<br />

Essa é a interpretação que a Teologia<br />

da Libertação faz de Medellin.<br />

Segundo ela, a realidade atual, conflitiva,<br />

dialética, marcada pela luta o­<br />

pressor x oprimido, dá origem a uma<br />

A Teologia da Libertação<br />

induz a<br />

Jazer política p or<br />

razões religiosas<br />

vem a <strong>se</strong>r precisamente um "matiz", em<br />

matéria como esta? A própria palavra matiz<br />

comporta tantas matizações... Entretanto,<br />

qualquer <strong>se</strong>ntido que <strong>se</strong> lhe dê, cumpre ponderar<br />

que nenhum há que <strong>se</strong> ajuste a diferenças<br />

- ·melhor <strong>se</strong>ria dizer contradições -<br />

tão evidentes como as que existem entre a<br />

Teologia da Libertação e o ensino tradicional<br />

do Supremo Magistério da Igreja. A gravidade<br />

de tal contradição fê-la notar João Paulo II em<br />

sua já citada alocução de Puebla, na abertura<br />

da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano<br />

(cfr. Parte I, Cap. IV, Nota<br />

3).<br />

Nada disto impediu, entretanto, como foi<br />

lembrado (Parte I, Cap. IV), que a Teologia da<br />

Libertação tives<strong>se</strong> continuado a vicejar e até a<br />

prosperar impunemente nas <strong>CEBs</strong>, a ponto de<br />

constituir a grande motivação es<strong>se</strong>ncial de <strong>se</strong>us<br />

dirigentes e de <strong>se</strong>us militantes, os <strong>quais</strong>, por<br />

sua vez, a vão inoculando gradualmente, e de<br />

início implicitamente, nos respectivos recrutas.<br />

81


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui10 <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Revolução religiosa<br />

e revolução a-<br />

1éia<br />

Mais eficaz a revolução<br />

religiosa<br />

nova interpretação da Escritura, do<br />

Dogma, da Moral, e portanto da Justiça.<br />

Em virtude dessa reinterpretação,<br />

a Teologia da Libertação induz a fazer<br />

política por razões religiosas (prática<br />

da justiça, amor de Deus, libertação<br />

do mundo sujeito ao pecado) e chega à<br />

<strong>se</strong>guinte conclusão: visto sob o prisma<br />

político, o amor de Deus é, por sua vez.<br />

um ato político, e <strong>se</strong> pratica pelas reformas<br />

de estrutura ( cf r. Parte II, Cap. li, 1 ).<br />

.• * *<br />

Tudo isto ponderado, e dada a<br />

grande afinidade do pensamento só:..<br />

cio-econômico existente entre as <strong>CEBs</strong><br />

e as correntes socialistas ou comunistas<br />

do Brasil ou de qualquer outro<br />

país, é-<strong>se</strong> levado a concluir que, grosso<br />

modo, a revolução sócio-econômica<br />

promovida por estas e a <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> são<br />

uma só.<br />

Diferencia-as apenas a natureza<br />

<strong>das</strong> respectivas motivações filosóficas<br />

e religiosas. O dirigente, militante ou<br />

recruta <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> deduz da Religião<br />

(reinterpretada pela Teologia da Libertação)<br />

as l'Onclusões sócio-econômicas<br />

que o PC e o PS deduzem da<br />

irreligião. Essa revolução religiosa e a<br />

revolução atéia têm, no mais, tudo ou<br />

qua<strong>se</strong> tudo para <strong>se</strong> irmanarem largamente<br />

no campo da ação.<br />

Entretanto, esta fundamentação religiosa<br />

da revolução confere às <strong>CEBs</strong>,<br />

Na foto, um circulo de estudos do IV Encontro<br />

lntereclesial de <strong>CEBs</strong>, realizado em ltaici, em<br />

abril deste ano. - A motivaçllo fundamentalmente<br />

religiosa <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> lhes dá uma possibilidade<br />

de êxito que o comunismo nl o tem. Este<br />

fez vencer uma revoluçllo atéia, derrubou igrejas<br />

(como esta, ao lado, no Vietnll), mas nllo<br />

matou a Religião. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, pelo contrário,<br />

fazem uma revolução em nome da Religillo, e<br />

trabalham pela vitória - no próprio interior da<br />

Igreja - do laicismo pregado pela Teologia da<br />

Libertação.<br />

no mundo de hoje, características próprias<br />

e vantagens específicas, que a<br />

revolução atéia não possui. Cumpre<br />

dizer aqui uma palavra sobre o tema.<br />

A motivação religiosa da subversão<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> lhes dá uma possibilidade<br />

de êxito, pelo menos a longo prazo,<br />

que Lênin não teve.<br />

82


Parti! l<br />

Capitulo V<br />

Com efeito, este fez vencer uma<br />

revolução atéia, porém não matou a<br />

Religião. E nem incutiu na alma popular<br />

verdadeira apetência pela ordem<br />

coletivista. A prova disso é a contínua<br />

repressão policial exercida na Rússia<br />

contra a expansão religiosa, bem como<br />

contra a propagação de qualquer<br />

doutrina contrária ao comunismo.<br />

Pelo contrário, as <strong>CEBs</strong> fazem u­<br />

ma revolução em nome da Religião, e<br />

trabalham para a vitória de um !aicismo<br />

( ou <strong>se</strong>ja, de uma forma de ateísmo),<br />

pregado pela Teologia da Libertação<br />

(cfr. Parte II, Cap. II, !).<br />

* * *<br />

<strong>As</strong>sim posta no devido realce a motivação<br />

fundamentalmente religiosa<br />

da revolução que as <strong>CEBs</strong> querem<br />

promover, pode-<strong>se</strong> afirmar que esta<br />

constitui uma guerra psicológica revolucionária<br />

movida contra as elites do<br />

País.<br />

A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r <strong>muito</strong><br />

sumariamente definida como um<br />

conjunto de operações psicológicas<br />

destina<strong>das</strong> a atuar sobre o ânimo do<br />

adversário, de sorte a levá-lo à capitulação<br />

antes mesmo que qualquer<br />

operação o tenha derrotado pela força.<br />

A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r conduzida,<br />

quer contra um inimigo externo,<br />

quer contra o adversário interno.<br />

Ela as<strong>se</strong>gura ao atacante as vantagens<br />

da vitória <strong>se</strong>m os esforços, os<br />

gastos e os riscos da guerra.<br />

A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r de<strong>se</strong>nvolvida<br />

simultaneamente com a<br />

guerra convencional (2).<br />

A guerra psicológica<br />

revolucionaria<br />

m ovida p elas<br />

<strong>CEBs</strong><br />

(2) A existência da guerra psicológica é<br />

reconhecida tanto por especialistas do Ocidente,<br />

como por comunistas:<br />

Diz o Marechal soviético Nikolay Bulganin:<br />

"A guerra moderna é uma guerra psico-<br />

83


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Não exclui avioléncia<br />

Não <strong>se</strong> pens·e, aliás, que· a guerra<br />

psicológica exclui inteiramente o emprego<br />

da força. Pois a intimidação do<br />

adversário faz parte de tal guerra, e<br />

certas operações de força ("invasões de<br />

terras", sabotagens, atentados, <strong>se</strong>q üestros,<br />

motins etc.) podem intimidar, e<br />

levar à capitulação a clas<strong>se</strong> social que<br />

<strong>se</strong> queira derrubar. ·<br />

<strong>As</strong>sim vistas as coisas, pode-<strong>se</strong> a­<br />

firmar que a lqnga série de desordens<br />

de todo gênero, e até mesmo de guerlógica,<br />

devendo as Forças Arma<strong>das</strong> <strong>se</strong>rvir apenas<br />

para deter um ataque armado ou, eventualmente,<br />

para ocupar o território conquistado<br />

por ação psicológica" (apud H ERMES DE<br />

AR AÚJO OLI VEIR A, Guerra revolucionária, Biblioteca<br />

do Exército Editora, Rio de Janeiro,<br />

1965, p. 60).<br />

T ERENCE H. Q uALTE R, da Universidade de·<br />

Waterloo (Iowa), Estados Unidos, ob<strong>se</strong>rva:<br />

"Originariamente, a guerra psicológica era planejada<br />

como uma preliminar da ação militar,<br />

com o objetivo de desmoralizar os soldados<br />

inimigos antes que o ataque f as<strong>se</strong> lançado, ou<br />

como auxiliar da ação militar, apressando e<br />

reduzindo os crlS/os da vitória. Hoje ela <strong>se</strong><br />

tornou um substituto da ação militar . .... Uma<br />

derrota na guerra fria poderia <strong>se</strong>r tão real e tão<br />

definitiva quanto uma derrota militar, e, certamente,<br />

<strong>se</strong>ria <strong>se</strong>guida da derrota militar" (Propaganda<br />

and Psycho/ogical Warfare, Random<br />

Hou<strong>se</strong>, New York, 1965, pp. XII-XIII).<br />

O G ENERAL HuM BERTO B. MARTIN S, Comandante<br />

da Academia Militar de Portugal, assim<br />

a apre<strong>se</strong>nta: "Uma nova arma <strong>se</strong>creta foi encontrnda<br />

e é habilmente manejada pelos que<br />

rilhas <strong>se</strong>m qualquer forma <strong>se</strong>na de<br />

êxito, de<strong>se</strong>nrola<strong>das</strong> na América do Sul<br />

no fim da década de 50 até meados da<br />

década de 70, não passaram de operações<br />

de guerra psicológica revolucionária<br />

destina<strong>das</strong> a intimidar as elites, e<br />

fazê-las capitular ante revoluções arma<strong>das</strong><br />

de esquerda, que ao longo des<strong>se</strong><br />

período aqui e lá foram intenta<strong>das</strong>.<br />

Sobre este assunto é altamente coneludente<br />

o livro lzquierdismo en la<br />

lglesia: companero de ruta dei comupretendem<br />

alcançar a sua total hegemonia na<br />

Europa e na Ásia. <strong>As</strong> técnicas letais, ba<strong>se</strong>a<strong>das</strong><br />

fundamentalmente no estudo dos recursos de<br />

manobra psicológica <strong>das</strong> massas, são magistralmente<br />

reuni<strong>das</strong> em sistemas de forças convergentes<br />

que visam o aniquilamento da estrutura<br />

moral, econômica e militar <strong>das</strong> nações<br />

visa<strong>das</strong> en cada fa<strong>se</strong>" (Prefácio do livro de<br />

HERMES DE ARAÚJO OLIVEIRA, Guerra revolucionária,<br />

Biblioteca do Exército Editora, Rio<br />

de Janeiro, 1965, p. 21 ).<br />

É do especialista francês Maurice Mégret a<br />

ob<strong>se</strong>rvação de que "de Clau<strong>se</strong>witz a Lênin, a<br />

evolução <strong>das</strong> técnicas e o progresso <strong>das</strong> ciências<br />

psicológicas conspiraram para conferir à<br />

guerra psicológica os poderes qua<strong>se</strong> mágicos<br />

de uma 'arte da subversão" (La guerra psicológica,<br />

Editorial Paidós, Buenos Aires, 1959,<br />

p. 31).<br />

Outro conhecido especialista francês, Ro­<br />

GER M UCCHIELI, acrescenta:<br />

"A concepção clássica fazia da subversão e<br />

da guerra psicológica uma máquina de guerra<br />

entre outras, durante o tempo <strong>das</strong> hostilidades,<br />

o show 1upama,o<br />

f '9<br />

-<br />

84


Parte 1<br />

Capítulo V<br />

A violência, no caso<br />

concreto <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong><br />

nismo en la larga aventura de los<br />

fracasos y de las metamorfosis, em<br />

que a TFP do Uruguai mostra como o<br />

terrorismo tupamaro não passou de<br />

um show, com a participação cúmplice<br />

dr importantes <strong>se</strong>tores da Hierarquia<br />

e do Clero daquele país, para<br />

nele instaurar um regime socialo-comunista.<br />

A violência repre<strong>se</strong>nta algum papel<br />

na guerra psicológica revolucionária<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>? Prova-o largamente o<br />

estudo de<strong>se</strong>nvolvi


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Chegará até a<br />

guerra civil?<br />

Basta que essa engrenagem conquiste,<br />

um <strong>pouco</strong> por toda parte,<br />

alguns <strong>se</strong>gmentos da massa, ainda<br />

que minoritários, para que a guerra<br />

psicológica revolucionária tenha<br />

êxito.<br />

Com efeito, bem adestrados, os<br />

componentes destes <strong>se</strong>gmentos podem<br />

dar aos olhos do grande público -<br />

por meio de manifestações de massa,<br />

de operações de sabotagem e de violência<br />

de várias ordens etc. - a impressão<br />

de que toda a massa operária<br />

está convulsionada. Reforçada essa<br />

impressão pelo noticiário <strong>se</strong>nsacionalista<br />

de tantos meios de comunicação<br />

social, as elites indolentes <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntirão<br />

propensas a concessões ditas prudentes,<br />

e por fim à capitulação.<br />

Pode a guerra psicológica revolucionária<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> degenerar em guerra<br />

civil? Isso depende da <strong>se</strong>dução que<br />

ela consiga exercer nos escalões inferiores<br />

<strong>das</strong> Forças Arma<strong>das</strong>. Bem como<br />

da confusão e do desalento em que<br />

consigam pôr elementos dos mais altos<br />

escalões, à vista do show bem<br />

organizado de um operariado "inteiro"<br />

revoltado contra a ordem sócioeconômica<br />

vigente.<br />

* * *<br />

A guerra psicológica revolucionária<br />

constitui hoje em dia, como acaba<br />

de <strong>se</strong>r lembrado (cfr. Nota 2 deste<br />

Capítulo), uma arma absolutamente<br />

equiparada às demais pelos entendidos.<br />

De<strong>se</strong>ncadeada em nome da Religião,<br />

pode ela <strong>se</strong>r definida como uma<br />

cruzada? - Sim, uma estranha cruzada<br />

<strong>se</strong>m Cruz.<br />

Entretanto, uma guerra es<strong>se</strong>ncialmente<br />

subversiva dos verdadeiros elementos<br />

de ordem vigentes na sociedade,<br />

não é uma cruzada, mas antes<br />

uma contra-cruzada.<br />

A contra-cruzada <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> falta<br />

aliás ... a característica religiosa. Pois,<br />

de<strong>se</strong>ncadeada, é verdade, por eclesiásticos,<br />

o fim dela não é religioso, mas<br />

estritamente temporal. De espírito es<strong>se</strong>ncialmente<br />

ecumênico, ela não visa o<br />

triunfo da Religião Católica sobre as<br />

igrejas e correntes que <strong>se</strong> lhe opõem,<br />

mas tão-só de uma justiça social concebida<br />

à maneira da Teologia da Libertação,<br />

dentro do âmbito meramente ·<br />

temporal. Ademais, essa concepção de<br />

justiça social <strong>se</strong> aparenta bastante -<br />

como há <strong>pouco</strong> foi lembrado - com<br />

a do próprio comunismo ...<br />

Nessa cruzada <strong>se</strong>m Cruz, Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo é mencionado<br />

com certa freqüência pelas <strong>CEBs</strong>. Mas<br />

não como o Homem-Deus, e sim como<br />

um chefe revolucionário, um tanto<br />

guru, bem exatamente <strong>se</strong>gundo a interpretação<br />

marxista da figura e do<br />

papel histórico do Messias, apre<strong>se</strong>n-<br />

Guerra psicológica<br />

revolucionária<br />

de<strong>se</strong>ncadeada em<br />

nome da Religião ...<br />

... mas com um<br />

fim não religioso,<br />

e sim estritamente<br />

temporal<br />

Cruzada <strong>se</strong>m Cruz


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui/o <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Cruzada reformis-<br />

tada pela Teologia da Lil;>ertação (cfr.<br />

Parte 1, Cap. IV, Nota 3).<br />

* * *<br />

Es<strong>se</strong>ncíalmente, as <strong>CEBs</strong> consti-<br />

. ra e polírica tuem uma cruzada política. Cruzada<br />

<strong>se</strong>m Cruz, como acaba de <strong>se</strong>r dito,<br />

pois <strong>se</strong>m embargo do <strong>se</strong>u fundamento<br />

religioso, e de apre<strong>se</strong>ntarem com linguagem<br />

"místic_a" os fundamentos éticos<br />

<strong>das</strong> transformaçõ.es sociais que<br />

propugnam, elas concebem de modo<br />

inteiramente <strong>se</strong>cularizado o "Reino de<br />

Deus" que visam implantar. Cruzada<br />

política, que não exclui a passagem da<br />

luta cívica legal para o campo da<br />

violência, <strong>se</strong>mpre que não haja outro<br />

meio para implantar as reformas visa<strong>das</strong>.<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> introduzem, pois, no panorama<br />

político brasileiro, uma alteração<br />

fundamental. Em tal panorama<br />

só figuravam até aqui ·abertamente os<br />

partidos políticos. Estes têm em comum<br />

com as <strong>CEBs</strong> o fato de que<br />

fazem da política <strong>se</strong>u campo próprio<br />

de ação. Mas eles têm de diverso <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> duas características: l) de nenhum<br />

modo, e nem no mais extremo<br />

Alreração fundamenral<br />

no panorama<br />

polírico brasileiro<br />

Manifestaçlo em frente à .Igreja Matriz de Sl o Bernardo do Campo-SP.<br />

88


Parte l<br />

Capítulo V<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>parecem<br />

<strong>se</strong>r a própria Igrej<br />

a em ação na política<br />

A "libertação" que<br />

as <strong>CEBs</strong> preconizam<br />

do <strong>se</strong>u horizonte, visam a violência; 2)<br />

haurem toda a sua força de <strong>se</strong>us próprios<br />

quadros.<br />

Pelo contrário, como até aqui <strong>se</strong><br />

viu e em <strong>se</strong>guida ainda melhor <strong>se</strong> verá,<br />

as <strong>CEBs</strong> vivem de uma força institucionalmente<br />

alheia ao campo da política;<br />

ou <strong>se</strong>ja, a CNBB. Entidade que,<br />

es<strong>se</strong>ncialmente repre<strong>se</strong>ntativa do Episcopado<br />

nacional, pertence ipso facto à<br />

ordem espiritual e não à ordem temporal.<br />

A importância da primeira característica<br />

( espiritual) é óbvia. Uma palavra<br />

cabe sobre o alcance da <strong>se</strong>gunda<br />

( extra-temporal).<br />

Com efeito, é <strong>se</strong>u caráter religioso<br />

que atrai às <strong>CEBs</strong> o apoio, o fomento<br />

e o prestígio da CNBB. E como esta<br />

última tem a repre<strong>se</strong>ntação do Episcopado,<br />

concretamente as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> beneficiam<br />

do apoio, do fomento e do<br />

prestígio da própria Igreja. Ao que<br />

lhes parece dar oficialmente um título,<br />

o próprio qualificativo de "eclesiais",<br />

pelo qual a linguagem corrente entende<br />

"eclesiásticos".<br />

Em suma, tudo nelas parece indicar,<br />

ao nosso País altamente católico,<br />

que elas são a própria Igreja em ação<br />

na política.<br />

Aliás,é bem o'que pensa da Igreja e<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> a Teologia da Libertação.<br />

Cumpre à Igreja libertar as massas da<br />

situação injusta em que <strong>se</strong> encontram.<br />

Para isto as <strong>CEBs</strong> as "conscientizam",<br />

isto é, lhes dão consciência de que<br />

sofrem injustiças, lhes incutem de<strong>se</strong>jos<br />

de libertar-<strong>se</strong> destas e as aglutinam de<br />

modo a poderem operar a libertação<br />

que almejam. Mas esta libertação, <strong>se</strong>gundo<br />

as <strong>CEBs</strong>, só pode decorrer de<br />

leis que reformem as atuais estruturas<br />

sócio-econômicas. E como as leis só<br />

podem <strong>se</strong>r muda<strong>das</strong> pelo concurso dos<br />

poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,<br />

o único modo do qual dispõem<br />

as <strong>CEBs</strong> para tornar efetiva a de<strong>se</strong>jada<br />

libertação consiste em contar com legisladores<br />

federais, estaduais e municipais<br />

que adotem o programa delas.<br />

Em te<strong>se</strong>, as <strong>CEBs</strong> poderiam contentar-<strong>se</strong><br />

em exercer uma influência<br />

meramente ideológica sobre os legisladores<br />

e os detentores do Executivo,<br />

ou candidatos a tal. Esta influência<br />

ideológica poderia não assumir caráter<br />

partidário, e portanto também não<br />

constituir uma incursão eclesial ( ou<br />

eclesiástica), no campo específico da<br />

política. Por exemplo, foi o que fez a<br />

Liga Eleitoral Católica - LEC - nos<br />

anos 30. Ela apontava ao eleitorado<br />

algumas reivindicações, de ordem a­<br />

liás es<strong>se</strong>ncialmente religiosa, a <strong>se</strong>rem<br />

aceitas pelos candidatos que qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong>m<br />

o <strong>se</strong>u apoio (3). Porém, não inter-<br />

(3) Nas eleições para a <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Constituinte<br />

de 1933-1934, as "reivindicações católicas"<br />

mínimas foram o ensino religioso nas<br />

escolas públicas, a indissolubilidade do vinculo<br />

'<br />

Ao contrário da<br />

LEC. cujas reivindicações<br />

eram es<strong>se</strong>ncialmente<br />

religiosas<br />

...<br />

89


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> fal~. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

.. :o programa <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> afeta matérias<br />

de competência<br />

do Estado<br />

vinha de modo algum na estrutura do<br />

Estado, nem da sociedade civil.<br />

Aos deputados eleitos em razão de<br />

terem sido recomendados pela LEC<br />

era simples e claro o dever a <strong>se</strong>guir.<br />

Pelo contrário, o programa <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> afeta a qua<strong>se</strong> totalidade <strong>das</strong><br />

matérias sobre as <strong>quais</strong> é competente a<br />

ação legislativa do Estado, já que ele<br />

visa uma reforma completa da sociedade.<br />

E por isto condiciona toda a<br />

atividade do -legislador. <strong>As</strong>sim, para<br />

este <strong>se</strong> ver quite com as <strong>CEBs</strong> não lhe<br />

basta votar <strong>se</strong>gundo o de<strong>se</strong>jo delas em<br />

alguns <strong>pouco</strong>s pontos, -como eram as<br />

chama<strong>das</strong> "reivindicações católicas"<br />

dos anos 30. Ser-lhe-á ainda necessário<br />

. ter o espírito e a doutrina <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>, consultar a todo momento os<br />

dirigentes destas, em suma, aceitar<br />

que estes últimos lhe sirvam de bos<strong>se</strong>s;<br />

diria um crítico pejorativo: de "gurus".<br />

Mais uma vez, não <strong>se</strong> vê como as<br />

reformas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> possam <strong>se</strong>r transforma<strong>das</strong><br />

em lei, <strong>se</strong>m o concurso de<br />

numerosos vereadores, deputados estaduais<br />

e federais, <strong>se</strong>nadores e, mais<br />

ainda, governadores e o próprio presidente<br />

da República. Para reformar o<br />

País tão amplamente como de<strong>se</strong>jam as<br />

<strong>CEBs</strong>, elas precisam governar o Brasil.<br />

conjugal, as capelanias religiosas junto às Forças<br />

Arma<strong>das</strong>, nos hospitais, penitenciárias e<br />

outros estabelecimentos públicos. Foram to<strong>das</strong><br />

introduzides na Constituição de 1934.<br />

Em uma palavra, precisam entrar<br />

na política.<br />

• • •<br />

Diante deste quadro, e dada a<br />

anemia em que estão nossos partidos<br />

políticos, o que resta a estes fazer?<br />

Em vista da atual lei eleitoral, as<br />

<strong>CEBs</strong> não podem <strong>se</strong> transformar em<br />

partido político. Resta-lhes tão-só entrar<br />

nos vários partidos, ter candidatos<br />

em todos, e coordenar a todos<br />

para reformar cabalmente o Brasil.<br />

· Por sua vez, os partidos políticos <strong>se</strong><br />

<strong>se</strong>ntirão assim como que constrangidos<br />

a entrar nas <strong>CEBs</strong>. Ou <strong>se</strong>ja, a inscrever<br />

nas fileiras destas o maior<br />

número de adeptos, a galgarem dentro<br />

delas os cargos de direção etc., de sorte<br />

que os interes<strong>se</strong>s regionais e pessoais<br />

que as clas<strong>se</strong>s políticas corporificam<br />

possam instrumentalizar quanto possível<br />

o elã, o prestígio e a força eleitoral<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. A instrumentalização dos<br />

partidos políticos pela Religião (leia-<strong>se</strong><br />

Teologia da Libertação) e pela Igreja<br />

(leia-<strong>se</strong> CNBB-<strong>CEBs</strong>) trará como corolário<br />

a instrumentalização <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

da CNBB e da Religião pelos partidos<br />

políticos.<br />

Em suma, <strong>se</strong>ria uma convulsão o<br />

caos:··<br />

'<br />

~ COIJ?- maior amplitude do que<br />

à pnmeua VlSta <strong>se</strong> pode imaginar.<br />

Para que <strong>se</strong> compreenda a amplitude<br />

que o fenômeno possa ter é pre-<br />

M atreira instrumentalização<br />

da<br />

p"olítica e da Religião<br />

Convulsão e caos<br />

90


Parte I<br />

Capítulo V<br />

A Liga Eleitoral Católica - LEC - criada pelo Episcopado brasileiro, na década de 30, respeitava<br />

claram ente a diatinçlo entre a esfera tempora l e a eapirit ual, pois, embora destinada a orientar o<br />

eleitorado católico, suas reivindicações eram de natureza es<strong>se</strong>ncialmente religiosa. - Na foto, a<br />

bancada paulista na Constit uint e de 1934 (na primeira fila, <strong>se</strong>nta<strong>das</strong>, as eapoaaa de alguns<br />

deputados), na qual oa deputados eleitos com o apoio doa católicos tiveram decisiva atuaçlo para<br />

o triunfo <strong>das</strong> chama<strong>das</strong> "reivindicações católicas": o ensino religioso nas eacolaa, a indiaaolubilidade<br />

do vinculo conjugal e aa capelaniaa religiosas.<br />

ciso considerar que esta peculiar decorrência<br />

da Teologia da Libertação<br />

em nossos meios não <strong>se</strong> dará apenas<br />

nos lugares em que haja <strong>CEBs</strong> organiza<strong>das</strong><br />

e dota<strong>das</strong> de vitalidade. Bastará<br />

que o Vigário esteja pessoalmente<br />

persuadido <strong>das</strong> te<strong>se</strong>s da Teologia da<br />

Libertação, ou que simplesmente <strong>se</strong>ja<br />

propenso a estas, para que sua influência<br />

sobre os fiéis, acionando o<br />

possante mecanismo do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />

(cfr. Parte I, Cap. III), descarregue<br />

em favor dos candidatos <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>, apre<strong>se</strong>ntados pelos vários partidos<br />

políticos, o peso eleitoral,<strong>se</strong>mpre<br />

considerável, de que a Igreja dispõe<br />

nas várias paróquias.<br />

Quantos são os Sacerdotes brasileiros<br />

pró-<strong>CEBs</strong>? O número deles<br />

não é nada pequeno. Mas <strong>se</strong>u total<br />

constitui uma incógnita. Só o que <strong>se</strong><br />

<strong>sabe</strong>, por <strong>se</strong>r óbvio para todos, é que o<br />

número dos que combatem as <strong>CEBs</strong> é<br />

minúsculo. .. Ora, quando em um de-<br />

91


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Neste ponto cabe uma palavra so-<br />

bre os "moderados úteis", cujo papel é<br />

especialmente importante na ofensiva<br />

revolucionária da "esquerda católica"<br />

na atual conjuntura.<br />

Com efeito, a guerra psicológica<br />

revolucionária <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> está apenas<br />

em <strong>se</strong>us primórdios, aliás vigorosos.<br />

Em con<strong>se</strong>qüência, ela ainda não pode<br />

dirigir inteiramente a <strong>se</strong>u talante as<br />

elites sociais que de<strong>se</strong>ja derrubar. Por<br />

isso, cumpre-lhe tranqüilizar, sobre os<br />

cometimentos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, os elementos<br />

de elite cuja contra-ofensiva ainda poderia<br />

<strong>se</strong>r perigosa.<br />

Para esta delicada tarefa, são de<br />

muita utilidade os simpatizantes da<br />

"esquerda católica" que, por <strong>se</strong> terem<br />

deixado persuadir de uma suposta i­<br />

nocuidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, e por terem um<br />

temperamento moderado, capaz de<br />

tranqüilizar os sobressaltos esporádicos<br />

dos elementos indolentes <strong>das</strong> elites,<br />

previnem qualquer contra-golpe<br />

destas.<br />

o papel dos "moderados<br />

úteis"<br />

terminado campo - no caso o religioso<br />

- os combatentes de um lado<br />

são numerosos, organizados e cheios<br />

de elã, e de outro lado os que <strong>se</strong> lhes<br />

opõem são <strong>pouco</strong>s, tantas vezes esparsos<br />

e tímidos, não há dúvida de que os<br />

primeiros <strong>se</strong> tornarão donos do<br />

campo.<br />

* • •<br />

Na realidade, porém, os "moderados<br />

úteis" costumam <strong>se</strong>r "companheiros<br />

de viagem" <strong>das</strong> esquer<strong>das</strong> mais<br />

ousa<strong>das</strong>, até o fim do caminho. Ou<br />

<strong>se</strong>ja, tranqüilizam até onde é possível,<br />

o centro e a direita, acerca <strong>das</strong> ousadias<br />

da esquerda. E quando já não é<br />

mais possível, cruzam os braços, e <strong>se</strong><br />

põem a considerar de maneira ostensivamente<br />

benévola a esquerda descabelada,<br />

em sua marcha terminal furibunda.<br />

Um exemplo: o que significa precisamente<br />

"Comunidade Eclesial de Ba<strong>se</strong>"?<br />

É esta uma pergunta a que a<br />

grande maioria do público não <strong>sabe</strong><br />

dar resposta. E para a qual um brasileiro<br />

explicavelmente sobressaltado<br />

pode pedir a ajuda de um "moderado<br />

útil". Este dificilmente lhe contará a<br />

verdade, dita com de<strong>se</strong>nvoltura por D.<br />

Miguel Balaguer, Bispo de Tacuarembó<br />

(Uruguai). Isto é, que "comunidade<br />

de ba<strong>se</strong>" é expressão equivalente a<br />

soviet (cfr. Parte II, Cap. I, 2).<br />

A voz pública cognominou o Sr.<br />

Arcebispo de Recife, D. Helder Câmara,<br />

de "Arcebispo Vermelho". É de<br />

crer que ela só não alcunhou de "Cardeais<br />

Vermelhos", o Sr. D. Paulo Evaristo<br />

Arns e o Sr. D. Aloisio Lorscheider,<br />

porque tal implicaria em redundância,<br />

<strong>se</strong>ndo o vermelho a cor<br />

tradicional do cardinalato.<br />

O Sr. Cardeal D. Eugenio Sales e o<br />

Sr. Cardeal D. Avelar Brandão Vilela<br />

Prelados "vermelhos"<br />

e Prelados<br />

"moderados"<br />

92


Parle I<br />

Capí1ulo V<br />

são mais bem tidos por centristas.<br />

Mas, <strong>se</strong>gundo fazem ver os efeitos <strong>das</strong><br />

suas operações na última década, <strong>se</strong><br />

parecem bem mais com os "moderados<br />

úteis".<br />

O Sr. Cardeal D. Vicente Scherer<br />

costuma <strong>se</strong>r tido por direitista. Entretanto,<br />

suas declarações favoráveis à<br />

Reforma Agrária beneficiam mais a<br />

esta última do que to<strong>das</strong> as do Sr.<br />

Cardeal-Arcebispo de São Paulo. Pois<br />

o primeiro, tido por direitista, passa<br />

ipso facto por insuspeito. E como, ao<br />

mesmo tempo, ele preconiza uma Reforma<br />

Agrária <strong>se</strong>m violência, isto o<br />

faz passar por direitista "equilibrado"<br />

ou "moderado". Compreende-<strong>se</strong> assim<br />

quanto suas declarações agro-reformistas<br />

"modera<strong>das</strong>" ( cfr. Parte I, Cap.<br />

II, Nota 4) <strong>se</strong>rvem, por isso mesmo, a<br />

causa da Reforma Agrária.<br />

* • •<br />

Por tudo quanto foi visto, não há<br />

dúvida de que as <strong>CEBs</strong>, <strong>muito</strong> e mui-<br />

<strong>As</strong> CE&, po1ência<br />

emergente na<br />

política<br />

Prelados "vermelhos" e Prelados "moderados":<br />

D. Vicente Scherer D. Helder Cllmara D. Eugênio Sales D . Avelar Brandlo Vilela<br />

93


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Ins trum entalização<br />

do Estado<br />

pelas CE&<br />

to mais do que o PC, são a grande<br />

potência emergente na política brasileira.<br />

Quem tome em linha de conta a<br />

amplitude total dos planos reformistas<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, não pode imaginar que<br />

o âmbito da ação política do movimento<br />

<strong>se</strong> limite à conquista de algumas<br />

cadeiras parlamentares, de alguns<br />

mandatos de vereador ou de prefeito,<br />

ou mesmo de alguma pasta ministerial.<br />

A tríplice reforma rural, urbana e<br />

empresarial visada pela CNBB, pelas<br />

<strong>CEBs</strong>, ou de modo mais amplo pela<br />

"esquerda católica", <strong>se</strong> algum dia implantada,<br />

trará como con<strong>se</strong>qüência a<br />

reforma pelo menos parcial do Código<br />

Civil, do Código Comercial, dos Códigos<br />

de Processo Civil e Penal, e de<br />

qua<strong>se</strong> toda a vastíssima legislação ordinária<br />

em vigor no País. Com a corolária<br />

reforma de um <strong>se</strong>m-número de<br />

leis, regulamentos, portarias etc.<br />

Sem to<strong>das</strong> essas modificações, a<br />

tríplice reforma rural, urbana e industrial<br />

constituirá tão-só letra morta.<br />

Ora, todo este imenso labor reformista<br />

só pode <strong>se</strong>r levado a cabo <strong>se</strong> nele<br />

<strong>se</strong> engajarem a fundo todos os órgãos<br />

do Estado.<br />

Portanto, ou o Estado <strong>se</strong>rá todo<br />

ele instrumentalizado pelas <strong>CEBs</strong>, ou<br />

os intuitos reformistas destas <strong>se</strong>rão<br />

vãos.<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> não podem, portanto,<br />

deixar de tender para instrumentalizar<br />

inteiramente o Estado brasileiro, a<br />

<strong>se</strong>rviço de sua cruzada <strong>se</strong>m Cruz.<br />

* * *<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>? À primeira vista, sim.<br />

Mas o que são elas <strong>se</strong>não um conjunto<br />

de brasileiros por sua vez dependentes<br />

da CNBB, em virtude do mecanismo<br />

do tríplice "<strong>se</strong>ntire"? Por trás<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, por cima delas está a CNBB.<br />

Mas, por sua vez, o que é a CNBB?<br />

Em te<strong>se</strong>, ela é a estruturação jurídica<br />

do Episcopado nacional (cfr. Parte I,<br />

Cap. li). Na realidade, ela é o dispositivo<br />

jurídico cujos corpos de direção<br />

a "esquerda católica" - ou mais precisamente<br />

a esquerda eclesiástica -<br />

utiliza para <strong>se</strong> impor à maioria dos<br />

Bispos, os <strong>quais</strong> docilmente mantêm o<br />

silêncio em suas reuniões, votam como<br />

a esquerda quer que votem (4), e<br />

(4) Sobre como são estudados, debatidos~<br />

votados e aprovados os documentos nas <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias<br />

Gerais da CNBB dá um impressionante<br />

depoimento o Sr. D . Alberto Gaudêncio<br />

Ramos, Arcebispo de Belém do Pará (o<br />

Arcebispo trata especificamente do documento<br />

Igreja e problemas da terra, aprovado na 18.ª<br />

<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral, em fevereiro de 1980; os<br />

subtítulos são nossos):<br />

Como <strong>se</strong> estuda. - "De ínício, devo esclarecer<br />

como são aprovados es<strong>se</strong>s documentos da<br />

CNBB. Algum tempo antes da <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia,<br />

cada bispo recebe um ante-projeto do assunto<br />

a <strong>se</strong>r tratado. Confesso de minha parte, que<br />

Por trás e por cima<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, a<br />

CNBB<br />

A maioria silen·<br />

ciosa do Episcopado<br />

94


Parte I<br />

Capitulo V<br />

A votaçlo doa documentos debatidos nas Auembléiaa da CNBB é feita, item por item, mediante o<br />

levantamento de cartões verdes (aprovaçlo), amarelos (aprovaçlo com emen<strong>das</strong>) ou vermelhos<br />

(rejeiçlo). Segundo D. Alberto Gaudêncio Ramos, Arcebispo de Belém do Par6, na pressa que<br />

geralmente caracteriza o final <strong>das</strong> <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias, "• tendllncia tf p•r• •prov•r tudo o que •p•r11ç•"·<br />

raras vezes disponho de tempo para estudá-lo<br />

a Jundo. Qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre o faço já durante a<br />

viagem de avião. E como eu procedem <strong>muito</strong>s<br />

outros bispos atarefados".<br />

".... A comissão que, a <strong>se</strong>u [próprio] critério,_<br />

aceita ou recusa". - "Aberta a as<strong>se</strong>mbléia, os<br />

diversos temas vão <strong>se</strong>ndo expostos sucintamente<br />

por um relator, depois do que todos vão<br />

para os "grupos integrados", constituídos de<br />

bispos, sacerdotes, religiosas e leigos, dos mais<br />

diversos pontos do Brasil. Uma comissão especialmente<br />

designada recolhe as ob<strong>se</strong>rvações<br />

que procedem dos diversos círculos e elabora<br />

nova redação, que depois é mimeografada e<br />

distribuída. Em plenário, <strong>muito</strong>s solicitam a<br />

palavra para elucidar alguns pontos, pedir<br />

correções, dar ênfa<strong>se</strong> a outros pontos: eté.<br />

Tanto essas intervenções orais como as escritas<br />

são encaminha<strong>das</strong> à comissão que exaustivamente<br />

<strong>se</strong>leciona e agrupa as opiniões similares<br />

e, a <strong>se</strong>u critério, as aceita ou recusa. Novos<br />

círculos de estudo são Jeitos, já agora constituídos<br />

pelos bispos de um mesmo regional".<br />

Como <strong>se</strong> vota. - "Há ainda debates em<br />

plenário para destaques ou correções, e a<br />

aprovação é feita, item por item, mediante o<br />

levantamento de um cartão verde, amarelo ou<br />

vermelho. Os <strong>se</strong>cretários dos Regionais con-<br />

95


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

saem dos bem conhecidos colóquios<br />

de ltaici precisamente como entraram:<br />

isto é, <strong>se</strong>m manifestar alegria, nem<br />

esperança, como também não pesar<br />

ou apreensão.<br />

O que pensa essa maioria a respeito<br />

de quanto <strong>se</strong> passa aos olhos<br />

dela, em nome dela, e <strong>se</strong>m que <strong>se</strong><br />

perturbe o silêncio dela?<br />

O Brasil inteiro gostaria de <strong>sabe</strong>r.<br />

Um veemente Apelo para que ela explicas<strong>se</strong>,<br />

ou pelo menos para que a­<br />

bandonas<strong>se</strong> <strong>se</strong>u invencível mutismo,<br />

teve larga acolhida no País... porém<br />

não tirou do <strong>se</strong>u silêncio os Bispos<br />

Silenciosos (5).<br />

Diante des<strong>se</strong> per<strong>se</strong>verante silêncio,<br />

uma só pergunta resta. <strong>As</strong> numerosas<br />

A maioria silenciosa<br />

na esfera civil<br />

tam as exibições dos cartões e vão levar o<br />

resultado, em voz baixa, à mesa da <strong>se</strong>cretaria,<br />

e nisso pode haver uma margem de equívocos<br />

ou distrações".<br />

Na pressa final ... "a tendência é para aprovar<br />

tudo o que apareça". - "A aprovação de tão<br />

importantes documentos é feita, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre<br />

de afogadilho, quando <strong>muito</strong>s bispos já partiram<br />

de madrugada, quando todos estão fatigados<br />

e alguns olhando os relógios, já de olho<br />

no ônibus para a rodoviária ou para o aeroporto<br />

... Está claro que, nestas circunstâncias, a<br />

tendência é para aprovar tudo o que aparece.<br />

Saímos todos de lá <strong>se</strong>m termos o texto<br />

definitivo, pois algumas modificações são introduzi<strong>das</strong><br />

na última hora, e o conjunto ainda<br />

está submetido a um aperfeiçoamento redacional".<br />

Críticas. - "Não <strong>se</strong> pode, por con<strong>se</strong>guinte<br />

afirmar que <strong>se</strong> compreende 'a atitude dos<br />

bispos que, a exemplo de D. Luciano, <strong>se</strong><br />

eximiram de assiná-lo'. Ninguém assinou documentos.<br />

Apenas <strong>se</strong> firmaram as folhas de<br />

pre<strong>se</strong>nça. Seria difícil obter unanimidade de<br />

pensamento, em questões não doutrinárias, de<br />

perto de 230 cabeças. Por isso o meu combativo<br />

e inteligente amigo, D. Luciano Cabral<br />

pode afirmar, talvez, que não concorda com<br />

to<strong>das</strong> as expressões, com todos os argumentos,<br />

até mesmo, com todos os acontecimentos aludidos.<br />

Eu também levantei o meu cartão vermelho,<br />

a alguns pontos, mas fui vencido pela<br />

maioria.<br />

Está agora o documento <strong>se</strong>ndo bombardeado<br />

pelos economistas, pelos capitalistas,<br />

pelos agrônomos, pelos governantes ou por<br />

outras pessoas competentes. Cumpre não esquecer<br />

que não pretendem os bispos dar lições<br />

técnicas aos entendidos" . ... .<br />

Mão à palmatória. - "Podemos dar a mão à<br />

palmatória reconhecendo as deficiências de um<br />

trabalho feito da maneira acima relatada. Porém,<br />

mesmo que haja algum dado inexato, que<br />

nem todos os latifundiários mereçam nossas<br />

censuras, esperamos que, pelo menos, o documento<br />

valha como um alerta aos que porventura<br />

erraram, e como um protesto aos<br />

abusos que realmente estão <strong>se</strong>ndo cometidos<br />

em algumas partes do país" (artigo Terra a<br />

terra, na <strong>se</strong>cção "Recanto do Pastor", "Voz de<br />

Nazaré", 16-3-80, 1.8 página).<br />

(5) Cfr. PuNio CoRRtA DE OuvEJRA, A Igreja<br />

ante a escalada da ameaça comunista -<br />

Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera<br />

96


Parte I<br />

Capítulo V<br />

entidades de clas<strong>se</strong>, os partidos políticos,<br />

os órgãos de comunicação social,<br />

as personalidades em evidência,<br />

às <strong>quais</strong> caberia pre<strong>se</strong>rvar a esfera<br />

temporal dessa instrumentalização pela<br />

esquerda eclesiástica encastelada na<br />

CNBB, manterão elas também o silêncio<br />

a es<strong>se</strong> respeito, no qual - salvas as<br />

honrosas exceções - <strong>se</strong> encontram?<br />

<strong>As</strong>sim favorecida simultaneamente<br />

pelo duplo mutismo dos silenciosos na<br />

esfera espiritual e na esfera temporal,<br />

avançará a esquerda eclesiástica até a<br />

instrumentalização do próprio Brasil?<br />

Seja-nos licito esperar que não.<br />

Pois, possivelmente, na esfera temporal<br />

<strong>muito</strong>s silêncios <strong>se</strong> expliquem pela<br />

inadvertência acerca dessa tão inverossímil<br />

e entretanto tão real instrumentalização<br />

do País. Possa a publicação<br />

do pre<strong>se</strong>nte livro abrir os olhos<br />

às elites nacionais para que intervenham<br />

a tempo.<br />

Se tiverem savoir Jaire, poderão<br />

intervir com êxito, <strong>se</strong>m em nada desdourar<br />

a Santa Igreja, nem violar os<br />

direitos sagrados a que sua divina<br />

missão faz jus.<br />

Esperança de que<br />

este livroabra,por<br />

fim, os olhos<br />

Cruz, São Paulo, 1976, 4 edições, 51 mil<br />

exemplares.<br />

Só não mantiveram silêncio sobre este livro<br />

Bispos nada silenciosos. <strong>As</strong>sim, o Sr. Cardeal<br />

Arns publicou duas notas oficiais de protesto,<br />

uma delas conjuntamente com <strong>se</strong>us oito Bispos-Auxiliares.<br />

Também <strong>se</strong> pronunciaram o<br />

Sr. D. Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa Maria,<br />

então Secretário-Geral da CNBB, e o próprio<br />

Secretariado-Geral do órgão episcopal; e, por<br />

fim, a Arquidioce<strong>se</strong> de Olinda e Recife, da qual<br />

é Arcebispo D. Helder Câmara, que emitiu<br />

duas notas contrárias ao livro. Nos diversos<br />

comunicados de imprensa com que o autor do<br />

livro respondeu a essas notas ponderou que<br />

elas constituiam invariavelmente mero protesto,<br />

<strong>se</strong>m qualquer documentação ou refutação.<br />

Não obstante, até hoje nenhuma refutação<br />

veio a lume.<br />

Quanto aos Srs. Bispos que já eram silenciosos<br />

antes da publicação do Apelo, ao que<br />

consta continuaram tais enquanto es<strong>se</strong>s fatos<br />

<strong>se</strong> davam, e tais continuam até o pre<strong>se</strong>nte<br />

momento.<br />

97


Conclusão<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>?


P e rigo p o nde-.<br />

rável, mas contornável<br />

A s e lit e s têm<br />

meios para encontrar<br />

uma pronta e<br />

justa solução dos<br />

problemas nacionais<br />

T UDO quanto foi aqui visto<br />

mostra que as <strong>CEBs</strong><br />

constituem pre<strong>se</strong>ntemente um perigo<br />

<strong>muito</strong> ponderável, mas ao mesmo tem- ·<br />

po inteiramente contornável.<br />

Muito ponderável es<strong>se</strong> perigo o é,<br />

não apenas pelo que as <strong>CEBs</strong> já são,<br />

como sobretudo pelo que podem vir a<br />

<strong>se</strong>r no dia de amanhã, <strong>se</strong> Íhes for<br />

deixado livre o campo para progredir.<br />

Mas, igualmente, es<strong>se</strong> perigo <strong>se</strong>rá <strong>muito</strong><br />

controlável <strong>se</strong> as elites brasileiras,<br />

as <strong>quais</strong> as <strong>CEBs</strong> têm em mira, compreenderem<br />

a necessidade de começar<br />

quanto antes uma ação visando contê-las.<br />

De que natureza <strong>se</strong>ria tal ação? A<br />

TFP não cabe dar diretrizes nem traçar<br />

programas para as clas<strong>se</strong>s a que<br />

ela aqui alerta. Sobram a estas os<br />

recursos de inteligência, os relacionamentos<br />

sociais e políticos e as disponibilidades<br />

econômicas para arquite-<br />

tar e pôr em prática uma larga campanha<br />

de esclarecimento do País sobre<br />

os problemas que as <strong>CEBs</strong> levantam,<br />

as imputações que as <strong>CEBs</strong> a elas<br />

fazem, e os pontos de vista <strong>das</strong> mesmas<br />

elites sobre o que convém ao País<br />

fazer, dentro da justiça e da paz, para<br />

a pronta_ sol':1ção dos grandes problemas<br />

nac1ona1s.<br />

A tal propósito, a TFP de<strong>se</strong>ja registrar<br />

somente um ponto. Por enquanto,<br />

a forte maioria <strong>das</strong> massas<br />

trabalhadoras ainda não está atingida<br />

pela detração sistemática que as <strong>CEBs</strong><br />

movem contra as elites. O ódio de<br />

clas<strong>se</strong>s ainda não existe entre nós.<br />

Pelo contrário, os trabalhadores manuais<br />

são <strong>se</strong>nsíveis aos esclarecimentos<br />

que lhes queiram dar as elites<br />

nacionais. Portanto, toca a estas dirigir-<strong>se</strong><br />

a eles o quanto antes. Pois já<br />

amanhã, com o crescimento <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>, talvez <strong>se</strong>ja tarde demais ... (1).<br />

Os trabalhadores<br />

manuais ainda não<br />

estão atingidos pelo<br />

ódio de clas<strong>se</strong>s...<br />

mas com o<br />

crescimento <strong>das</strong><br />

CE&, amanhã talvez<br />

<strong>se</strong>ja tarde demais!<br />

100


Contributo especial<br />

da TFP: as<br />

<strong>CEBs</strong> não estão<br />

em consonância<br />

com os ensinam<br />

e n tos tradicionais<br />

da Igreja<br />

Para es<strong>se</strong> esclarecimento, a TFP<br />

dá aqui <strong>se</strong>u contributo. E este é de<br />

importância fundamental.<br />

Com efeito, <strong>se</strong>ndo fundamentalmente<br />

religioso o motivo pelo qual as<br />

<strong>CEBs</strong> con<strong>se</strong>guem aglutinar e mobilizar<br />

as massas, nada é mais próprio<br />

para obstar tal mobilização e aglutinação,<br />

<strong>se</strong>não mostrar que as <strong>CEBs</strong><br />

rião são consonantes com os ensmamentos<br />

tradicionais dos Romanos<br />

Pontífices, e que a luta de clas<strong>se</strong>s<br />

fomentada pelas <strong>CEBs</strong> é condenada<br />

pela Igreja. E, principalmente, que o<br />

fatal sistema do tríplice "<strong>se</strong>ntire", como<br />

o apre<strong>se</strong>nta entre nós uma longa<br />

tradição de ignorância religiosa, exagera<br />

a um grau qua<strong>se</strong> inimaginável o<br />

que a Igreja ensina sobre os sagrados<br />

deveres de obediência do fiel à Hierarquia<br />

Eclesiástica.<br />

A demonstração deste último ponto,<br />

a TFP a tem feito de modo explícito<br />

ou implícito, e com grande<br />

(1) Tal estado de ânimo, a luta pela vida<br />

nas grandes cidades não o con<strong>se</strong>guiu eliminar.<br />

Tam<strong>pouco</strong> o con<strong>se</strong>guiu o fluxo imigratório<br />

torrencial que <strong>se</strong> despejou sobre o Brasil no<br />

último quartel do século passado e no primeiro<br />

quartel deste século, e aqui fixou a pre<strong>se</strong>nça de<br />

etnias e de tradições tão diversas.<br />

A consonância des<strong>se</strong> tradicional e per<strong>se</strong>verante<br />

estado de ânimo brasileiro com os<br />

preceitos e con<strong>se</strong>lhos do Evangelho, deixa ver<br />

em que larga medida ele resulta da influência<br />

cristã. Nada pois mais eficaz para eliminá-lo<br />

do que o trabalho metódico de, por influência<br />

da CNBB, nele incutir precisamente o<br />

oposto, isto é, as ardências desordena<strong>das</strong> do<br />

ódio de clas<strong>se</strong>s e do espírito revolucionário.<br />

Para isto, a Teologia da Libertação, tão<br />

dis<strong>se</strong>minada nas Comunidades de Ba<strong>se</strong>, cria<br />

to<strong>das</strong> as condições favoráveis. E o ódio de<br />

clas<strong>se</strong>s, por sua vez, leva à violência.<br />

Sobre o caráter marxista da Teologia da<br />

Libertação, poucas dúvi<strong>das</strong> pode haver (cfr.<br />

101


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Profeta Joel, do Aleijadinho, em Congonhas do<br />

Campo, Minas Gerais.<br />

abundância de documentação, ao longo<br />

dos <strong>se</strong>us 22 anos de luta. Da riqueza<br />

dessa argumentação, dá provas o<br />

fato de que, sobre vários assuntos<br />

bn relação à TFP.<br />

o adversário não<br />

teme difamar.<br />

Mas teme discutir<br />

Parte II, Cap. II, 1). O "povo de Deus",<br />

do qual tanto <strong>se</strong> <strong>fala</strong> na "esquerda católica", é<br />

entendido como <strong>se</strong>ndo constituído especificamente<br />

pelos pobres, os <strong>quais</strong> formariam ex<br />

natura propria o Corpo Místico de Cristo (cfr.<br />

Parte II, ibidem). O "povo de Deus", os oprimidos,<br />

<strong>se</strong>riam o novo Messias (cfr. Parte II,<br />

ibidem).<br />

Por fim, os ricos são qualificados como o<br />

opróbrio da terra e os malfeitores máximos<br />

102<br />

correlatos, a TFP já tem, public a e<br />

largamente difundida no País, t da<br />

uma biblioteca (2), além de opulen s<br />

coleções dos órgãos de imprensa "L<br />

gionário" e "Catolicismo", em que <strong>se</strong>u<br />

pensamento está expresso.<br />

Quanto ao valor lógico da argumentação<br />

contida nessas obras, <strong>fala</strong><br />

de modo concludente o fato de que<br />

elas têm suscitado <strong>muito</strong>s aplausos,<br />

mas também <strong>muito</strong>s ódios. Es<strong>se</strong>s ó­<br />

dios <strong>se</strong> têm manifestado em campanhas<br />

de difamação e estrondos publicitários<br />

de dimensões ciclópicas. Nunca,<br />

porém, em contra-argumentações<br />

de qualquer espécie, Em relação à<br />

TFP, o adversário não teme difamar,<br />

embora ele saiba de antemão que suas<br />

falsas imputações acabarão rolando<br />

pelo solo à míngua de provas. O que o<br />

adversário teme, isso sim, é discutir.<br />

A não <strong>se</strong>r tal campanha de difamação,<br />

é difícil conjecturar qual possa<br />

<strong>se</strong>r a réplica do "esquerdismo católico"<br />

ao pre<strong>se</strong>nte livro. Pois a argumentação<br />

e a documentação produzicontra<br />

a sociedade (cfr. Parte II, ibidem):<br />

gênero de crime que o socialismo tende a<br />

considerar o maior e qua<strong>se</strong> o único, a contrario<br />

<strong>se</strong>nsu da ordem individualista e capitalista,<br />

a qual considera qua<strong>se</strong> exclusivamente os crimes<br />

contra o indivíduo.<br />

(2) Ver neste volume a relação <strong>das</strong> obras<br />

divulga<strong>das</strong> pela TFP.<br />

\


Parte l<br />

Conclusão<br />

Como a TFP, que<br />

as elites nacionais<br />

entrem na liça com<br />

as armas pacíficas<br />

e legais<br />

Confiança em<br />

Nossa Senhora de<br />

Fátima<br />

Se as elites não<br />

aruarem, não foi<br />

por falta de quem<br />

as alertas<strong>se</strong><br />

<strong>das</strong> na Parte II não deixam margem a<br />

qualquer réplica.<br />

Lançando este livro, a TFP mais<br />

uma vez entra na liça de combate.<br />

Nesta, ela usa as armas pacíficas e<br />

legais próprias a controvérsias de alto<br />

nível, e incita as elites do país a que,<br />

por sua vez, façam o mesmo com não<br />

menor destemor.<br />

A TFP não reclama para si proeminências<br />

nem lideranças. Ela reconhece<br />

de público que, nessa batalha,<br />

ela não deve <strong>se</strong>r <strong>se</strong>não uma <strong>das</strong> componentes<br />

do grande front anti-socialista<br />

e anticomunista a <strong>se</strong> organizar. E<br />

conclui esta parte de <strong>se</strong>u livro-manifesto,<br />

pedindo a Nossa Senhora de<br />

Fátima, a qual já em I 917 alertou o<br />

mundo para o perigo do comunismo,<br />

que ajude nossas clas<strong>se</strong>s dirigentes a<br />

saírem de <strong>se</strong>u Ietargo, e a exercerem<br />

efetivamente sua missão de orientadoras<br />

de todo o corpo social. Se não o<br />

fizerem, a História alegará um dia que<br />

as massas foram transvia<strong>das</strong> porque<br />

as elites desdenharam de as orientar.<br />

Mas registrará igualmente - convém<br />

ainda uma vez dizê-lo - que não<br />

faltou quem as alertas<strong>se</strong> na hora extrema.<br />

A TFP cumpre aqui es<strong>se</strong> dever,<br />

movida por <strong>se</strong>u amor à Igreja, à civilização<br />

cristã e à querida Pátria brasileira.<br />

Mais do que isso não pode ela<br />

fazer!<br />

Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora advertiu<br />

que, <strong>se</strong> os homens nlio <strong>se</strong> emen<strong>das</strong><strong>se</strong>m, "a<br />

Rússia espalharia <strong>se</strong>us erros pelo mundo".<br />

Nossos olhos <strong>se</strong> voltam para os do Mlie de<br />

Deus, pedindo a Elo que ajude os clas<strong>se</strong>s dirigentes<br />

a solrem de <strong>se</strong>u letargo e a resistirem,<br />

dentro da lei e do ordem, à penetraçlio insidiosa<br />

dos erros do comunismo, principalmente nos<br />

meios católicos.<br />

103


• ,itúri.a d,, 1~<br />

fhX" t D\ utru1 cnt"ruz.Hh.ü • m~UTr ia do tfcilonufo<br />

ntr la e t!1rt1l1 ta<br />

a, ít nri•~ltitoral pmpon:iona no l'S<br />

•rnplo rnrw diphH11'1li e prol)3l(llndi~tic.os<br />

1 · ra Íot'rem.entoda ~ rr.a p111.it"oló«ir.a re,·olu('ionár1a1<br />

no interiordt lodo,. os naroe<br />

Socialismo Autogestionário:<br />

Hoje, França - Amanhã, o Mundo?


Designados de modo diverso na linguagem<br />

corrente - guerra f ria, política da mão estendida,<br />

coexistência pacífica. queda <strong>das</strong> barreiras ideológicas.<br />

détente, Ostpolitik alemã, Ostpolitik vaticana,<br />

def esa dos direitos humanos (fórmula Carter<br />

). eurocomunismo, comunism o de'face humana<br />

etc. - os esforços diplomáticos para caracterizar<br />

as difíceis relações entre as p otências de aquém e<br />

além cortina de f erro, deixam ver, em <strong>se</strong>u todo,<br />

algo de <strong>muito</strong> claro: eles exprimem o de<strong>se</strong>jo de<br />

explorar em favor do imperialism o soviético a<br />

larga ansiedade dos homens diante do perigo de<br />

uma catástrof e atômica eventualmente resultante<br />

do malogro total da diplomacia, e da irrupção de<br />

uma Ili Guerra Mundial.<br />

Esta perspectiva sinistra leva incontáveis pessoas<br />

no mundo inteiro a sonhar com uma fórmula<br />

sócio-econômica de meio termo entre o comunismo<br />

e o capitalism o. Pois o encontro dessa<br />

fórmula importaria - imaginam eles - na extirpação<br />

de uma <strong>das</strong> causas mais ativas da tensão<br />

Leste-Oeste, ou <strong>se</strong>ja, o desacordo ideológico entre<br />

comunistas e não-comunistas.<br />

Bem entendido, para que essa fórmula evitas<strong>se</strong><br />

ef etivamente o tão receado perigo, <strong>se</strong>ria necessário<br />

que não contives<strong>se</strong> em <strong>se</strong>u bojo princípios tão<br />

contrários à ordem natural e à justiça - ou m ais<br />

até - quanto os que caracterizam o supercapita­<br />

/ism o, o socialismo e o comunismo. Pois a paz é<br />

fruto da justiça: "opus justitiae pax" (Isaías 32, 17)<br />

era o lema do Pontificado do pranteado Pio X II.<br />

Injustiças e desordens institucionais ainda mais<br />

agu<strong>das</strong> do que as do Ocidente hodierno só poderão<br />

agra var o grande conflito em perspectiva.<br />

Uma <strong>das</strong> f órmulas m ais antinaturais e mais<br />

injustas para a pretensa con vergência entre o<br />

Ocidente e o Oriente é o socialism o autogestionário<br />

francês, vitorioso com as eleições presidenciais<br />

e legislativas do ano passado.<br />

É o que uma análi<strong>se</strong> acurada do tema faz ver.<br />

<strong>As</strong> Sociedades de Defesa da Tradição. Família<br />

e Propriedade - TFPs - de. treze paí<strong>se</strong>s (Argentina,<br />

Bolívia. Brasil, Canadá, Chile, Colôm bia.<br />

Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal,<br />

Uruguai e íYenezuela) dirigiram, em conjunto,<br />

ao público <strong>das</strong> respectivas nações. uma<br />

Mensagem intitulada O socialismo autogestionário:<br />

em vista do comunismo, barreira ou cabeçade-ponte?<br />

Uma fra<strong>se</strong> colocada em epígrafe destaca:<br />

O duplo jogo do socialismo francês: na<br />

estratégia gradualidade - na meta rad icalidade.<br />

A Mensagem, de autoria do Prof Plinio Corrêa<br />

de Oliveira, Presidente do Con<strong>se</strong>lho Nacional<br />

da TFP brasileira. foi publicada em 47 grandes<br />

jornais da América do Norte, Europa e A mérica<br />

do Sul. a partir do dia 9 de dezembro do ano<br />

passado.<br />

<strong>As</strong> TFPs são entidades anticom unistas. coirmãs<br />

e autônomas. inspira<strong>das</strong> nos documentos tradicionais<br />

dos Papas. A primeira delas f oi f undada<br />

em São Paulo, Brasil, pelo ex-deputado fede ral.<br />

professor universitário,


I<br />

t<br />

•<br />

h<br />

P11. •10 CoR Ri:A DE O 1..1vEJRA nasceu em São<br />

Paulo, Brasil, em 1908. Diplomado pela Faculdade<br />

de Direito da Uni ve rsidade de São Paulo,<br />

fo i Professor de História da Civilização no<br />

Colégio Universitário da mesma Universidade.<br />

Em <strong>se</strong>guida assumiu a Cátedra de História<br />

Moderna e Contemporânea nas Faculdades<br />

São Bento e Sedes Sapientiae da Pontifícia<br />

Universidade Católica de São Paulo.<br />

Destacou-<strong>se</strong> desde jovem como orador, co n­<br />

ferencista e jornalista católico. Colaborou durante<br />

anos no <strong>se</strong>manário católico "Legionário",<br />

do qual foi diretor. At ualmente escreve para o<br />

mensário "Catolicismo" e para a "Folha de<br />

S. Paulo", um dos diários de maior circulação<br />

no Brasil. É a utor de vários livros.<br />

Em l 960, fundou a Sociedade Brasileira de<br />

Defesa da Tradição, Família e Propriedade -<br />

TFP, e tem sido, desde então, Presidente d o<br />

Con<strong>se</strong>lho Nacional da entidade. Inspira<strong>das</strong> em<br />

Revolução e Contra-Revolução e em outras<br />

obras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, TFPs<br />

e associações congêneres <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolveram<br />

igualmente em doze paí<strong>se</strong>s <strong>das</strong> Améri cas e da<br />

Europa.<br />

ill aill a11r~1,1ia<br />

A Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs faz detida análi<strong>se</strong><br />

d o socialismo autogestioná rio francês, que iniciou<br />

vigoroso processo de expansão internacional com<br />

a ascensão de François Mitterrand à Presidência<br />

da República Fra ncesa.<br />

Com abunda ntes citações de documentos oficiais<br />

do PS, a Mensagem sustenta que o socialismo<br />

autogestionário - ao contrário do que<br />

<strong>muito</strong>s imaginam - não constitui uma modalidade<br />

do esquerdismo, avançada <strong>se</strong>m dú vid a, mas<br />

bonacheirona e gradualista. A Mensagem põe em<br />

evidência que o programa autogestionário visa a<br />

desagregação da sociedade atual em corpúsculos<br />

autônomos, dotados de uma qua<strong>se</strong> soberania, o<br />

que redundará na implantação da utopia anárquica<br />

na França.<br />

Essa utopia, entretanto, o socialismo autogestionário<br />

não a reconhece como desordenada e caótica.<br />

Verdadeira escola filosófica substancialmente<br />

marxista, e portanto também evolucionista, o<br />

socia lismo francês espera promover, com a gra-<br />

III


1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

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1 "i -b-i , _ 1 1 ,. , ._<br />

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• _].a.<br />

s. •• .,.-<br />

1<br />

"<br />

1.,1<br />

••<br />

'<br />

dual aplicação da reforma a utogestionária, uma<br />

transformação fundamental, não só da empresa<br />

industrial, comercial e rural, como também da<br />

família, da escola, e de toda a vida socia l. Mais<br />

ainda, ele pretende influir a fundo na própria vida<br />

individual, modelando a <strong>se</strong>u gosto os la ze res e o<br />

próprio arranjo interior <strong>das</strong> casas.<br />

Caos na família<br />

De outra parte, es<strong>se</strong>ncialmente laico, ele visa<br />

. admitir, em termo último, tão-só a escola autogestionária<br />

laica, à qua l os pais devem entregar<br />

<strong>se</strong>us filhos logo que completem dois anos de idade.<br />

A escola privada religiosa, ele visa aboli-la enquanto<br />

propriedade individual, e enquanto religiosa.<br />

A essa reforma geral, não poderia ficar alheia a<br />

família. A Mensagem mostra que o programa do PS<br />

equipara inteiramente o casamento à união livre<br />

entre os <strong>se</strong>xos, e reivindica a equivalência entre a<br />

união heteros<strong>se</strong>xual e a união homos<strong>se</strong>xual. Feminista<br />

ao ·extremo, o socialismo autogestionário exige,<br />

ademais, para a mulher, a inteira equivalência com o<br />

homem, inclusive na responsabilidade como no fardo<br />

dos trabalhos com que ela tenha que arcar.<br />

Acabar com o patrão<br />

A empresa, no final da evolução autogestionária,<br />

não tem patrão. A direção dela cabe, em<br />

última instância, à as<strong>se</strong>mbléia geral dos trabalhadores.<br />

Esta tem o direito de tomar periodicamente<br />

conhecimento de to<strong>das</strong> as atividades empresariais.<br />

Nem <strong>se</strong>quer o <strong>se</strong>gredo industrial lhe pode <strong>se</strong>r<br />

oculto. Os dirigentes da empresa são eleitos pela<br />

as<strong>se</strong>mbléia dos trabalhadores, a qual é soberana<br />

no que diz respeito às atividades empresariais.<br />

Como <strong>se</strong> vê - e os documentos do PS o<br />

afirmam <strong>se</strong>m rebuços - uma reforma tão completa<br />

da sociedade supõe uma reforma igualmente<br />

completa do próprio homem. É em função da<br />

•<br />

natureza humana assim reformada, que o socialismo<br />

autogestionário reclama não <strong>se</strong>r qualificado<br />

de utópico.<br />

A gradualidade<br />

O PS não espera realizar esta reforma total,<br />

da sociedade e do homem, em um só salto,<br />

mas por transformações sucessivas. Um dos meios<br />

es<strong>se</strong>ncia is pa ra pôr em movimento e levar a termo<br />

essa reforma do homem e da sociedade é a luta de<br />

clas<strong>se</strong>s. Negando não só o princípio de autoridade<br />

como toda hierarquia, o PS abre campo para ess<br />

luta, na empresa levantando os operários contra<br />

os patrões, e os dirigidos contra os dirigentes. Na<br />

família, suscitando a luta dos filhos contra os pais .<br />

Na escola, entre os alunos e mestres. E assim por<br />

diante.<br />

O programa do PS não nega a liberdade de<br />

funcionamento da fgreja. Mas esta - comenta a<br />

Mensagem - ficará reduzida a viver numa sociedade<br />

inteiramente laicizada até nos <strong>se</strong>us menores<br />

aspectos, que, enquanto tal, não tomará em qualquer<br />

linha de conta as obrigações do homem para<br />

com Deus, nem os princípios da ordem na tural<br />

delineados na Lei que Deus revelou a Moisés. Ela<br />

fica , pois, estranha à ordem civil, que tomará um<br />

rumo oposto ao ensinamento dela.<br />

"Liberté - Egalité - Fraternité"<br />

O socialismo autogestionário francês <strong>se</strong> proclama<br />

inteiramente coerente com a trilogia da Revolução<br />

de 1789: "Liberdade - Igualdade - Fraternidade".<br />

Para ele, a abolição do patronato na<br />

empresa é a con<strong>se</strong>qüência lógica da instauração da<br />

república. Ele aponta no patrão um pequeno rei<br />

que remanesce no interior da empresa, e no rei o<br />

grande patrão que a república democrática eliminou.<br />

Entre a vitória final do socialismo autogestionário<br />

e a Revolução Francesa, ele traça toda<br />

•.. •-<br />

. ."<br />

.Ili ··*"<br />

• l


•,JI<br />

uma genealogia de revoluções: 1848, 1871 e a<br />

Sorbonne-1968.<br />

A Encíclica de João Paulo II Laborem Exerc:en!i<br />

é uma versão católica do socialismo a utogestionário<br />

francês? Compreende-<strong>se</strong> o alcance da<br />

pergunta. especialmente na perspectiva católica,<br />

que é a <strong>das</strong> TFPs. Também este assunto vem abotdado<br />

na Mensagem.<br />

Mitterrand difunde a<br />

autogestão pelo mundo<br />

A que título <strong>se</strong> ocupam as TFPs de uma<br />

problemática à primeira vista toda ela francesa , e<br />

ant a qual, portanto, só competiria à TFP francesa<br />

tomar posição? A Mensagem põe em realce o<br />

imperialismo doutrinário <strong>muito</strong> marcante que caracteriza<br />

a política exterior do PS, e portanto<br />

também do atual governo francês. Ela mostra que<br />

a expansão internacional do socialismo autogestionário<br />

é meta relevante da diplomacia do Sr.<br />

François Mitterrand. E que o melhor meio para<br />

defender <strong>se</strong>us paí<strong>se</strong>s contra o que qualificam de<br />

agressão ideológica_ socialista consiste em revelarlhes<br />

a ve rdadeira face do socialismo autogestionário,<br />

conhecida pelos militantes do PS, não<br />

porém pelo grande público não socialista.<br />

No que diz respeito à França, a Mensagem<br />

demonstra que a vitória socialista nas eleições de<br />

maio-junho do ano passado não resultou de um<br />

aumento do eleitorado de esquerda. mas da desorientação<br />

do eleitorado católico, do qual uma<br />

parcela ponderável votou por Mitterrand, e do<br />

grande número de abstenções que houve no eleitorado<br />

não socialista, resultado de uma campanha<br />

conduzida <strong>se</strong>m o empenho necessário pelos partidos<br />

de centro-direita.<br />

Abrir todos os olhos também na França, à<br />

verdadeira fisionomia da autogestão, parece às<br />

TFPs <strong>se</strong>r o meio mais útil para que a população<br />

'<br />

francesa, recusando <strong>se</strong>u apoio ao socialismo. obste<br />

a que o prestígio político e cultural dessa nação<br />

<strong>se</strong>ja empregado a <strong>se</strong>rviço da agressão ideológica<br />

autogestionária.<br />

A Mensagem <strong>se</strong> encerra com um belo texto em<br />

que o Papa São Pio X afirma sua esperança de que<br />

a França venha a reluzir no mundo com todo o<br />

brilho cristão que lhe compete como filha primogénita<br />

e bem-a mada da Igreja .<br />

Uma Mensagem ampla, efeitos<br />

<strong>muito</strong> mais amplos ainda<br />

Ao encerrar o resumo da Mensagem <strong>das</strong> treze<br />

TFPs à opinião pública do Ocidente, é impossível<br />

evitar que aflore ao espírito de <strong>muito</strong>s leitores a<br />

<strong>se</strong>guinte pergunta: - Transcorreram oito me<strong>se</strong>s<br />

da divulgação inicial des<strong>se</strong> substancioso documento<br />

... Que efeitos produziu ele? - A resposta<br />

não é fácil de condensar numa sínte<strong>se</strong> como<br />

a pre<strong>se</strong>nte. Pois foram tantos, que só <strong>muito</strong> esquematicamente<br />

enunciados podem aqui caber.<br />

Distingamos entre efeitos dentro da França e<br />

fora da França. E, para maior comodidade do<br />

leitor, comecemos por estes últimos:<br />

a) Fora da França. - A correspondência que<br />

afluiu às Sedes ou Bureaux <strong>das</strong> TFPs indicados<br />

nos cupons para pedidos é a bem dizer incontável.<br />

Anda pelos milhares de cupons e cartas. A <strong>muito</strong><br />

grande maioria delas pede exemplares para distribuição<br />

entre parentes, amigos ou colegas, ou para<br />

bibliotecas de Universidades. Mui tas contêm, ademais,<br />

palavras de caloroso a poio. Uma minoria<br />

qua<strong>se</strong> insignificante exprime desacordo, geralmente<br />

em termos ultrajosos. E qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong>m<br />

assinatura ou endereço.<br />

Além da correspondência, foram numerosos os<br />

telefonemas, uma certa parcela dos <strong>quais</strong> proveniente<br />

de órgãos de imprensa interessados em<br />

entrevistas ou declarações do autor da Mensagem,


1-'<br />

1. ,\ promessa<br />

2. A d ,ivid:i 3. A f'l'alidacle lamento<br />

1<br />

1<br />

- 1111<br />

t<br />

Prof. Plínio Corrêa de Oliveira; outros era m de<br />

pessoas que cumprimentavam efusiva mente pela<br />

publicação da Mensagem e pedi a m mais exemplares<br />

pa ra distribuir, e enfi m uma minoria que não<br />

po upava insultos e desaforos, gera lmente a nônimos<br />

.<br />

Parece legítimo afirmar que em todo o Ocidente<br />

o socia lismo, fa ceiro de sua propaganda nos<br />

vários paí<strong>se</strong>s, e dos sucessos que em <strong>muito</strong>s vinha obtendo,<br />

passou a uma posição de discrição e re<strong>se</strong>rva.<br />

Algo mudou na matização político-ideológica<br />

do Ocidente tomado como um todo.<br />

Também fora do Ocidente ecoou a Mensagem<br />

com uma amplitude surpreendente. Entre as missivas<br />

recebi<strong>das</strong>, diversas procedem de pa í<strong>se</strong>s da<br />

África, da Ásia e da Oceania, como África do Sul,<br />

Argélia, Bofutatswana, Botswana, Camarões,<br />

Gâmbia,Gana, Ilhas Maurício, Lesoto, Marrocos,<br />

Namíbia , Nepal, Rodésia, Senegal , Siskei, Suazilândia,<br />

T ranskei, Tunísia, Venda, Arábia Saudita,<br />

Bangladesh, Chipre, Kuwait, Israel, Turquia, China<br />

comunista, Coréia do Sul, Filipinas, Formosa,<br />

Hong Kong, Japão, Macau, Malásia, Rússia, Singapura,<br />

Tailâ ndia, Austrália, Nova Ca ledónia,<br />

Nova Zelândia.<br />

Nos pa í<strong>se</strong>s detrás da cortina de ferro, ao que<br />

conste , qua<strong>se</strong> não houve repercussões. Explica-<strong>se</strong>.<br />

A cortina de fe rro ... é cortina de fe rro!<br />

b) Na França. - O ocorrido na França surpreendeu,<br />

desconcertou... os otimistas, os ingênuos.<br />

E deixou em po:;1çao contrafeita, ta nto os<br />

socialo-comunistas decla rados, quanto os inocentes<br />

úteis.<br />

<strong>As</strong> coisas <strong>se</strong> passaram como <strong>se</strong> o governo<br />

socialista de Mitterrand, receoso da divulgaçã o da<br />

Me nsage m, ti ves<strong>se</strong> optado por empregar contra<br />

ela os métodos ditatoriais característicos dos regimes<br />

comunistas.<br />

Dado que o socia lis mo autogesti oná ri o fra ncês<br />

<strong>se</strong> ga ba de democrá tico e liberal em matéri a<br />

política. natural era que a Me nsagem, publicada<br />

<strong>se</strong>m mai or dific uldade na grande imprensa democrática<br />

de todo o Ocidente, ta mbém não encontras<strong>se</strong><br />

óbice em <strong>se</strong>r reproduzida nos principais<br />

diá rios fra nce<strong>se</strong>s do ce nt ro e da dire ita. Para es<strong>se</strong><br />

efeito, as treze l'FPs <strong>se</strong> dirigira m a <strong>se</strong>is dos maiores<br />

quotidia nos parisien<strong>se</strong>s. E de todos recebera m<br />

<strong>se</strong>ca e inexplicável recusa. Um dos mais importantes<br />

des<strong>se</strong>s jorna is chegara mesmo a contratar a<br />

publicação, rompendo o contrato <strong>pouco</strong> depois,<br />

de ma neira a brupta. A conduta unâ ni me dessas<br />

fo lhas é ta nto mais inexplicável q ua nto a Mensagem<br />

constitui ma téria paga de vulto, que nenhuma<br />

agência publicitá ria recusaria .<br />

<strong>As</strong>sim impedida de <strong>se</strong> difund ir no rma lmente<br />

em solo francês, as treze TFPs tiveram que <strong>se</strong><br />

contenta r com uma divulgação postal fei ta do<br />

modo mais a mplo possíve l <strong>se</strong>gundo o moderno<br />

sistema do mass mailing.<br />

Foram distribuídos assim 300 mil exempla res<br />

1'<br />

1<br />

' '<br />

• 1<br />

. ·•<br />

1


da Mensagem. A distribuição suscitou a bundante<br />

e calorosa correspondência. E, <strong>se</strong>gund o vá ri os<br />

ob<strong>se</strong>rvadores, teve reflexo <strong>se</strong>nsível na derrota espetacula<br />

r sofrida pela coligação governamental<br />

socialo-comunista nas recentes eleições cantonais<br />

francesas. ·<br />

Em 24 jornais de onze paí<strong>se</strong>s as treze TFPs<br />

publicaram o Comunicado Na França: o punho<br />

estrangulando a rosa, em que denunciam à opinião<br />

mundia l a presumível interferência do governo<br />

socialista francês no estranho e despótico<br />

cerceamento da liberdade de opinião delas.<br />

De fato, por força do regime socialista que está<br />

<strong>se</strong>ndo implantado na França, todo proprietário de<br />

empresa pode <strong>se</strong> r privado dos <strong>se</strong> us direitos pelo<br />

governo, rebaixado a mero funcionário, ou até<br />

expulso da empresa. Com essa espada de Dâ mocles<br />

suspensa sobre a cabeça, é ilusória a independência<br />

de qualquer proprietário de jorna l em<br />

relação ao Poder público. Es<strong>se</strong> Comunicado, que<br />

por sua vez suscitou intensa correspondência, contribuiu<br />

<strong>muito</strong> <strong>se</strong> nsivelmente para desiludir o grande<br />

público <strong>das</strong> promessas liberais do regime socialista.<br />

Esta constatação é de. grande a lcance. Pois<br />

abstração fei ta da promessa de liberdade, só res ta<br />

no regime a utogestioná ri o o que ele tem de afim<br />

com o comunismo.<br />

* * *<br />

A Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs sobre o socialismo<br />

a utogestionário va i assim abrindo <strong>se</strong>u caminho<br />

largamente pelo mundo afora. E, ao lo ngo<br />

deste tudo tem encontrado: ódios furibundos,<br />

críticas infunda<strong>das</strong>, omissões inexplicáveis, velhas<br />

e luminosas solidariedades que nunca <strong>se</strong> deixaram<br />

desonrar pelo medo incontáveis adesões novas,<br />

algumas <strong>das</strong> <strong>quais</strong> inespera<strong>das</strong> e magníficas.<br />

D e,. tudo isto - e do que ainda acontecer - <strong>se</strong><br />

escreverá um dia a História. A História épica de<br />

um dos supremos esforços empreendidos "in signo<br />

Crucis" a fim de evitar à civilização ocidental<br />

agonizante, o soçobro fina l para o qual esta <strong>se</strong> vai<br />

deixando rolar.<br />

...<br />

<strong>As</strong> treze TFPs recomendam empenhadamente dos documentos tradicionais do Supremo Magisque<br />

os leitores deste resumo tomem conhecimento tério da Igreja.<br />

do texto integral da Mensagem aqui referida, de Textos da Mensagem em inglês, francês, aleautoria<br />

do Prof. 'Plinio Corrêa de Oliveira, a qual mão, português, espanhol e italiano podem <strong>se</strong>r<br />

constitui uma análi<strong>se</strong> particularmente penetrante e facilmente obtidos mediante carta ou envio de<br />

documentada do socialismo autogestionário à luz cupom dos interessados à<br />

Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade<br />

Rua Dr. Martinico Prado, 246 - 01224 - S. Paulo - Tel.: (011) 221-8755<br />

.,<br />

•<br />

Por favor, envie-me gratuitamente:<br />

exemplares do texto integral da Mensagem "O socialismo aurogestionário: em vista do<br />

comunismo. barreira ou cabeça-de-ponte?<br />

exemplares do resumo "Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo .?"<br />

em D português D inglês D francês D alemão O es panhol O italiano<br />

D De<strong>se</strong>jaria maiores informações sobre as TFPs .<br />

D Anexo envio minha contribuição para ajudar o custo desta publicidade.<br />

Nome<br />

Endereço<br />

C idade<br />

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Envie este cupom para: TFP - Rua Dr. Martinico Prado, 246 - 01224 - São Paulo


'!' ., . ...<br />

'1.<br />

33 ,5 m i~hões de exemplares<br />

em 155 pub ~icaç - es de 69 paí<strong>se</strong>s<br />

'f /<br />

A Mensagem, o Comunicado, e um amplo resumo de ambos os documentos, foram publicados<br />

nos <strong>se</strong>gu intes jornais: nos ESTADOS UNIDOS, Washington Post, The New York Tim es, !Vali<br />

, Street Joumal, Los Angeles Tim es, Dallas Morn i11.g News e L '!talo-americano de Los A ngeles;<br />

no CANADÁ, The Globe a nd Ma il de. Toronto, La Pres<strong>se</strong> de Montréal e Speakup de Toronto:<br />

na ALENfANHA , Fra11kf11rter A /lgem eine Zeitung de, Frankfurt, Hamb urger Abendb latt, Suddew sche<br />

Zeitung de Munique e Die We lt de Hamburgo; na Á USTRFA , Die Pres<strong>se</strong> e Groschenblatt de<br />

Viena: na INGLA TERRA, Th e Ob<strong>se</strong>rver, The Daily Telegraph e Th e Guardian de Londres;<br />

em PORTUGAL , Comércio do Porto, Diário de Noticias e O Dia de Lisboa· na ESPANHA,<br />

La Vanguardia de Barcelona e Hoja dei Lunes de Madrid, Barcelona, Bilbao, Sevilha e Va /éncia,<br />

Sur de Málaga, Suroeste de Sevilha, Odiei de H11elb a, Cordoba, E/ Mundo Financiero e Servieio<br />

de Madrid; na FRANÇA , lnternational Hera/d Tribune e Rivarol de Paris; na IRLANDA, lrisch<br />

!ndependent e Irisch Times de Dublin; na ITÁLIA , li Tempo de Roma, li Giomale Nuovo<br />

de Milão , Giomale di Sicilia de Palermo e Gazzetta dei Sud de Messina; no LUXEMBURGO,<br />

Luxemburger Wort; na SUJÇA , La Tribune de Genéve de Genebra: 110 BRASIL , Folha de<br />

S. Paulo, Última Hora do Rio de Janeiro, A Tarde de Salvador, Estado de Minas de Belo<br />

Horizonte, Jornal do Commércio de Recife, O Estado do Paraná de Curitiba, O Popular de<br />

Goiânia e Jornal de Santa Catarina de Blumenau, Correio do Po vo, Zero Hora de Porto A legre,<br />

J \ ,Peu tsche Zeitung e Brasil Post de S. Paulo , O Mo nitor Campista de Campos, A República<br />

7 / de Natal, Diário de Natal, A Provincia do Pará de Belém, O Jornal de Uniguaiana, O Estado<br />

/ do Maranhão de S.Luis, Gazeta de Alagoas de Maceió e Letras em Marcha do Rio de Janeiro ;<br />

na ARGENTINA, La Nación de Buenos A ires, Mendoza e Los A ndes de /vlendoza, La Nueva Pro11incia<br />

de Bahia Bianca, Diário de Cuyo de San Juan , E! Sol de Caramarca, Cios Polski, Precisiones<br />

e La Palabra Ucronia de Buenos A ires e Nueva Jornada de Gal. Madariaga; no CHILE, El<br />

Mercurio de Santiago; 11 0 URUGUAI, El Pais de Montevidéu; na BOL{VIA. E! Diário de La<br />

Paz e E! :Mundo de Santa Cn1z; no EQUA DOR , E! Tiempo e E! Comercio de Quito, e E!<br />

Universo de Guayaquil; na COLÔMBIA. El Tiempo de Bogotá, E/ Pais de Ca/i, E/ Colombiano<br />

de Medellin , Diario de la Frontera d e Cucutá e Diario dei Hui/a de Neiua; na VENEZUELA,<br />

1/ Diário de Caracas, El Universal e E/ /l'tfundo de Caracas, E/ Impulso de Barquisimeto e Panorama<br />

de Maracaibo; no PERU, E/ Comercio de Lima; 110 PARAGVAI, Hoy e ABC de <strong>As</strong>sunção;<br />

na COSTA RICA, La Nación de San Jo<strong>se</strong>; na AUSTRÁLIA, Sydney Hera/d, The A ustralian<br />

de Sidney e The Me lb oume Age; nas FILIPINAS, The Times Journal de Manilha; na ÃFRJCA<br />

DO SUL , The Star, Th e Citizen, Th e Sunday Tim es e Rapport de Johanesburgo e The A rgus<br />

da Cidade do Cabo.<br />

Além destes, o Resumo dos documentos foi publicado também nas edições especiais de SELEÇÕES<br />

DE READER 'S DIGEST, que circulam em 65 poi<strong>se</strong>s <strong>das</strong> Américas, Europa, Ásia, África e Oceania.<br />

,<br />

r<br />

~1:<br />

- 1<br />

,. -<br />

11<br />

Pessoas indica<strong>das</strong> para receber o resumo<br />

"Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo?"<br />

Nome<br />

Endereço<br />

Cidade:<br />

Nome<br />

Endereço<br />

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Nome<br />

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Código Postal<br />

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País<br />

Telefone<br />

País


Gustavo Antonio Solimeo<br />

Luiz Sérgio Solimeo<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />

- A TFP as descreve como são<br />

II<br />

Gêne<strong>se</strong>, organização,<br />

doutrina e<br />

ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>


OS AUTORES deste trabalho, em vinte anos<br />

de convívio fecundo com o Professor Plínio Corrêa de<br />

Oliveira, dele receberam admirável exemplo de virtude e de<br />

destemor, na polêmica contra a investida do progressismo.<br />

E além do exemplo, possante estímulo para o estudo e a<br />

pesquisa; ao que <strong>se</strong> soma lucidíssima orientação concreta com<br />

a qual o Mestre abriu as vias para os discípulos.<br />

Tal é a monta do que receberam, e ainda de modo<br />

particular para a elaboração do pre<strong>se</strong>nte trabalho,<br />

que um dever de justiça e de reconhecimento os leva a<br />

afirmar de público a parte eminente do Mestre,<br />

no estudo que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue ..


AVISO PRELIMINAR<br />

AS COMUNIDADES Eclesiais de Ba<strong>se</strong> são<br />

aqui estuda<strong>das</strong> em <strong>se</strong>u conjunto, enquanto um<br />

movimento.<br />

É preciso que fique claro que não <strong>se</strong> pretende<br />

atribuir a toda e qualquer Comunidade de Ba<strong>se</strong> os<br />

erros -de doutrina e desvios de conduta apontados<br />

neste trabalho, nem tam<strong>pouco</strong> negar a pre<strong>se</strong>nça<br />

nelas de gente de boa-fé. Haverá, certamente,<br />

Comunidades que não merecem tais reparos. Não<br />

são elas, entretanto, que dão a tônica e repre<strong>se</strong>ntam<br />

o dinamismo do movimento. Por outro lado,<br />

o movimento não pode <strong>se</strong>r visto como um conjunto<br />

de <strong>CEBs</strong> inarticula<strong>das</strong> entre si. Pelo contrário,<br />

ele constitui uma vasta rede que favorece o<br />

intercâmbio de pessoas e publicações, tornando<br />

assim fácil a propagação dos erros de doutrina e<br />

desvios de conduta aqui apontados. Uma vez que<br />

tais Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> aceitam o<br />

rótulo (embora possam por vezes não aceitar por<br />

inteiro o conteúdo), cabe a elas desfazer perante o<br />

público os equívocos a que tal situação <strong>se</strong> presta.<br />

Pois o que aparece como <strong>se</strong>ndo a doutrina, os<br />

métodos e a atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, quer no noticiário<br />

e nos comentários da grande imprensa, quer nas<br />

publicações católicas de um modo geral, quer nos<br />

trabalhos de especialistas (inclusive em Estudos da<br />

CNBB), assim como nos documentos provenientes<br />

<strong>das</strong> próprias Comunidades e, sobretudo, dos Encontros<br />

nacionais e internacionais já realizados ·no<br />

País, é o que vem denunciado nestas páginas.<br />

<strong>As</strong> diferenças de matizes de opinião e de<br />

conduta dentro do movimento podem <strong>se</strong>r explica<strong>das</strong><br />

pelas próprias diferenças de feitio pessoal,<br />

de temperamento, de grau de adesão de <strong>se</strong>us membros.<br />

Mas podem <strong>se</strong>r vistas também como uma<br />

decorrência da própria natureza camaleônica do<br />

movimento, bem como do caráter gradualista de<br />

sua metodologia. Des<strong>se</strong> modo, coexistem em <strong>se</strong>u<br />

<strong>se</strong>io desde Comunidades num estágio incipiente do<br />

processo de conscientização - volta<strong>das</strong> mais para<br />

as práticas estritamente religiosas e con<strong>se</strong>rvando<br />

ainda uma fisionomia tradicional -, até aquelas<br />

num estágio mais avançado do mesmo processo,<br />

para as <strong>quais</strong> a prática religiosa e a prática política<br />

<strong>se</strong> confundem.<br />

O pre<strong>se</strong>nte trabalho, ao traçar o perfil do<br />

movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em <strong>se</strong>u conjunto, denunciando-lhe<br />

os erros e o perigo que ele repre<strong>se</strong>nta,<br />

visa não somente a alertar a opinião pública,<br />

especialmente a católica, m :tS também a ajudar a<br />

todos quantos militam de boa-fé no movimento,<br />

desconhecendo a sua verdadeira natureza, a hete-<br />

108


Parte li<br />

rodoxia de suas doutrinas, bem como suas metas<br />

últimas, no plano político-social e religioso.<br />

* * *<br />

<strong>As</strong> páginas que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guem são apenas o resumo<br />

de alguns dos principais capítulos de um trabalho<br />

<strong>muito</strong> mais extenso (cerca de 500 páginas) que está<br />

<strong>se</strong>ndo lançado pela Editora Vera Cruz em edição<br />

mimeografada, sob o título <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong><br />

<strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece - A TFP as descreve<br />

como são - Comentários e documentação totim.<br />

Nes<strong>se</strong> trabalho, as afirmações aqui conti<strong>das</strong> -<br />

além de outras que não constam destas páginas -<br />

são esteia<strong>das</strong> em uma abundância de documentação,<br />

uma riqueza de fatos e um de<strong>se</strong>nvolvimento<br />

doutrinário que a exigüidade do pre<strong>se</strong>nte<br />

volume não poderia conter.<br />

Para a elaboração do estudo completo foram<br />

compulsados, cuidadosamente classificados e analisados<br />

214 livros, 153 monografias, ensaios e artigos<br />

especializados; 67 relatórios <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> para os<br />

Encontros Nacionais e 52 outros relatórios; 437<br />

cartilhas e folhetos publicados ou distribuídos por<br />

I 77 entidades diversas; coleções dos principais<br />

órgãos da imprensa nacional, religiosa e leiga, no<br />

período I 975-<strong>1982</strong>; alguns milhares de recortes<br />

avulsos de cerca de 100 jornais e revistas de todos<br />

os quadrantes do País, ademais de dezenas de<br />

documentos eclesiásticos sobre o tema. A pesquisa<br />

e estudo de toda essa documentação (a liás já retirada<br />

de qualquer <strong>se</strong>de da TFP e guardada em<br />

lugar inatingível por qualquer operação "pegaarquivo"<br />

... ) levou cerca de quatro anos, de 1978<br />

até a pre<strong>se</strong>nte data.<br />

Na impossibilidade - por razões de espaço -<br />

de dar conhecimento aqui de toda essa documentação,<br />

os Autores limitaram-<strong>se</strong> a apre<strong>se</strong>ntar as<br />

refe rências bibliográficas indispensáveis para documentar<br />

de modo suficiente as afirmações conti<strong>das</strong><br />

nestas páginas. O leitor interessado na bibliografia<br />

mais completa, ou de<strong>se</strong>joso de um maior<br />

aprofundamento no estudo do fe nômeno <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, está convidado a<br />

recorrer ao volume mimeografado, contendo o<br />

resultado completo dessa pesquisa. Sobretudo estão<br />

convidados a tal aqueles dos leitores que<br />

qui<strong>se</strong>rem impugnar as apreciações e conclusões do<br />

pre<strong>se</strong>nte volume.<br />

(*) Os destaques em negrito constantes desta parte do<br />

trabalh o são dos Autores.<br />

Nota da Editora: O referido volume mimeografado<br />

- "<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong><br />

<strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece - A TFP as descreve<br />

como são - Comentários e documentação<br />

totais" - poderá <strong>se</strong>r adquirido na Editora<br />

Vera Cruz Ltda., à Rua Dr. Martinico Prado,<br />

246, CEP 01224, São Paulo. Tel. (011)<br />

221-8755, ramal 247.<br />

109


• Celebraçlo durante o 4 . 0 Encontro Nacional de Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no antigo noviciado dos<br />

Padres Jesultas, em ltaici-SP, abril de 1981.<br />

112


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> são como disc s voadores: todo mundo<br />

<strong>fala</strong> delas, mas ninguém <strong>sabe</strong> o que são<br />

O PE. JACQUES Loew (superior dos padresoperários<br />

france<strong>se</strong>s de Osasco-SP), não <strong>se</strong>m algum<br />

humor, anos atrás, comparava as Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> com os "discos voadores": todo o<br />

mundo <strong>fala</strong> deles, mas ninguém <strong>sabe</strong> ao certo do<br />

que <strong>se</strong> trata ...<br />

E, realmente, para a maioria dos brasileiros,<br />

ainda hoje, as <strong>CEBs</strong> continuam a <strong>se</strong>r "objetos nãoidentificados".<br />

O que <strong>se</strong> compree;1de, pois um de<br />

<strong>se</strong>us principais divulgadores, o Pe. José Marins,<br />

diz que as <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong> não são <strong>se</strong>cretas, são ao menos<br />

discretas e podem adotar qualquer nome, ou<br />

nenhum nome ...<br />

Parece ter chegado a hora de tirá-las do<br />

anonimato, de identificá-las apre<strong>se</strong>ntando a sua<br />

fisionomia.<br />

Como nascem as Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> não brotam<br />

do chão da noite para o dia, como' cogumelos<br />

depois da chuva. Tam<strong>pouco</strong> nascem por geração<br />

espontânea.<br />

Elas são, ao contrário, o resultado de um<br />

longo, sistemático e persistente trabalho de cerca<br />

de 100 mil agentes pastorais (Bispos, Padres, freiras,<br />

leigos engajados) que atuam por todo o País,<br />

mas concentram <strong>se</strong>us esforços de modo especial<br />

em certas áreas, como a periferia dos grandes<br />

centros urbanos e a zona rural (!).<br />

A motivação para a formação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é<br />

<strong>se</strong>mpre religiosa: as pessoas participam delas,<br />

primeiro e antes de tudo, por causa da religião e<br />

não por objetivos educacionais, profissionais ou<br />

políticos. Até mesmo as motivações não religiosas<br />

que podem aparecer no surgimento de algumas<br />

<strong>CEBs</strong> (de caráter assistencial ou social, por exemplo)<br />

só têm efetividade porque introduzi<strong>das</strong> por<br />

pessoas ou instituições liga<strong>das</strong> à Igreja.<br />

A iniciativa da criação <strong>das</strong> Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> cabe qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre ao clero e aos agentes<br />

pastorais, os <strong>quais</strong> procuram aproveitar nes<strong>se</strong><br />

( 1) A expressão e a figura do "agente de pastoral", ou<br />

simplesmente "agente pastoral" são de criação relativamente<br />

recente. A expressão não tem a precisão da terminologia<br />

eclesiástica tradicional, <strong>se</strong>ndo ao contrário vaga e ambígua,<br />

usada ao sabor <strong>das</strong> conveniências. Em <strong>se</strong>ntido amplo, abrange<br />

todos aqueles que <strong>se</strong> dedicam a atividades pastorais, <strong>se</strong>jam<br />

Bispos, Padres, Irmãos, Freiras, <strong>se</strong>minaristas ou simples leigos.<br />

Em <strong>se</strong>ntido restrito, designa os "leigos engajados", de ambos os<br />

113


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

<strong>se</strong>ntido as atividades e estruturas religiosas já<br />

existentes (reza do terço, novenas, Campanha da<br />

Fraternidade; capelas, associações tradicionais,<br />

movimentos). Tais elementos são reenfocados<br />

numa perspectiva "libertadora".<br />

Há também uma outra razão para a proliferação<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: em certas dioce<strong>se</strong>s, sobretudo no<br />

Interior, o indivíduo é obrigado a pertencer a<br />

alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> para poder participar<br />

da vida religiosa local, inclusive para receber<br />

os Sacramentos. Isso força muita gente, não raro a<br />

contragosto, a participar <strong>das</strong> atividades comunitárias.<br />

Como já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, antigas associações e movimentos<br />

(Congregações Marianas, Apostolado da<br />

Oração, Vicentinos, Legião de Maria, ou, mais à<br />

esquerda; Cursilhos, TLC, Movimento Familiar<br />

Cristão) foram trabalhados pelos agentes pastorais<br />

e transformados em Comunidades de Ba<strong>se</strong>, con<strong>se</strong>rvando<br />

embora as antigas denominações. Ficaram,<br />

já <strong>se</strong> vê, apenas os velhos rótulos, <strong>se</strong>ndo o<br />

conteúdo bem outro ...<br />

<strong>se</strong>xos, especialmente treinados em Institutos de pastoral, ou<br />

instituições análogas, para o trabalho de conscientização <strong>das</strong><br />

populações dos bairros periféricos e da zona rural. Tais agentes<br />

vivem exclusiva ou predominantemente de <strong>se</strong>u trabalho pastoral,<br />

<strong>se</strong>ndo sustentados pelas paróquias, prelazias, dioce<strong>se</strong>s ou<br />

organismos eclesiásticos, inclusive ligados à CNBB, como a<br />

Comissão Pastoral da Terra-CPT e o Con<strong>se</strong>lho Indigenista<br />

Missionário-CIMI, por exemplo. Com frequência, são bolsistas<br />

ou estagiários de instituições européias, norte-americanas e<br />

canaden<strong>se</strong>s de ajuda ao Terceiro Mundo. Grande parte dos<br />

sacerdotes que deixaram o ministério continuam a exercer<br />

atividades religiosas na qualidade de agentes pastorais remunerados.<br />

Nem todos es<strong>se</strong>s agentes pastorais são católicos: por<br />

exemplo, são frequentes os protestantes entre os agentes<br />

pastorais na CPT. Basta citar os luteranos ainda há <strong>pouco</strong><br />

envolvidos em conflito sangrento de terras em Rondônia,<br />

integrantes da CPT da Prelazia de Ji-Puaná.<br />

A iniciativa da criaçlo de <strong>CEBs</strong> cabe qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre aos<br />

bem treinados agentes pastorais, os <strong>quais</strong> <strong>se</strong> aproveitam<br />

<strong>das</strong> estruturas e associações religiosas jé existentes. -<br />

Encontro de agentes pastorais e animadores de Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>·em ltaquera, Zona Leste de Slo Paulo.<br />

O que slo as Comunidades<br />

Ecleslals de Ba<strong>se</strong><br />

<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong><br />

são pequenos grupos de caráter religioso, organizados<br />

por iniciativa do clero e de agentes pastorais,<br />

em torno <strong>das</strong> paróquias e capelas.<br />

Cada CEB tem 10, 30 ou 50 membros, ou até<br />

mais, como ocorre em cidades do interior e na<br />

zona rural, onde 100, 200 e mais pessoas <strong>se</strong> reúnem<br />

aos domingos para a Missa ou o "culto". Nes<strong>se</strong><br />

caso, costuma <strong>se</strong>r dividida em grupos menores<br />

conhecidos por "grupos de ba<strong>se</strong>", "grupos d;<br />

oração", "grupos de reflexão", "círculos bíblicos" e<br />

outras denominações (a terminologia varia <strong>muito</strong>).<br />

114


Parte li<br />

Capítulo I -<br />

l<br />

Os grupos de ba<strong>se</strong> têm suas reuniões próprias, uma<br />

vez por <strong>se</strong>mana, havendo mensalmente uma reunião<br />

conjunta de toda a Comunidade, a "as<strong>se</strong>mbléia",<br />

"plenário" ou "grupão".<br />

O mais comum é chamar de CEB ao conjunto<br />

de vários des<strong>se</strong>s grupos de ba<strong>se</strong> reunidos em torno<br />

de uma capela ou de um centro comunitário (dez,<br />

em média). Mas acontece também de <strong>se</strong> dar essa<br />

denominação a cada um des<strong>se</strong>s pequenos grupos,<br />

o que pode ocasionar confusões, sobretudo quando<br />

<strong>se</strong> trata de avaliar o número de Comunidades<br />

existentes em algum lugar. Cada paróquia ou<br />

capela pode abranger um <strong>se</strong>m-número de Comunidades.<br />

<strong>As</strong> várias <strong>CEBs</strong> de uma paróquia, bairro ou<br />

<strong>se</strong>tor são assisti<strong>das</strong> e coordena<strong>das</strong> por um agente<br />

ou uma equipe pastoral, que faz a ligação delas<br />

entre si e com o Vigário.<br />

Em alguns casos o grupo de CEB toma algum<br />

nome (é freqüente a denominação Comunidade<br />

Cristo Libertador ou Comunidade Cristo Ressuscitado),<br />

mas em geral são conheci<strong>das</strong> pelo Padroeiro<br />

da matriz ou capela ( Comunidade Santo<br />

Antonio, Comunidade Nossa Senhora Aparecida),<br />

ou simplesmente pelo nome do lugar ( Comunidade<br />

do Parque Cocaia). Seus membros referem<strong>se</strong><br />

a elas apenas por "a Comunidade".<br />

um ou outro pequeno comerciante, alguma professora,<br />

e apo<strong>se</strong>ntados; na zona rural, são assalariados,<br />

pos<strong>se</strong>iros, parceiros ou arrendatários, pequenos<br />

proprietários, e <strong>se</strong>us familiares.<br />

<strong>As</strong> Comunidades organizam-<strong>se</strong>, pelo comum,<br />

<strong>se</strong>gundo um critério geográfico. Às vezes, entretanto,<br />

agrupam-<strong>se</strong> por idade ou categoria profissional<br />

e ambiental: grupo de jovens, de emprega<strong>das</strong><br />

domésticas, lavadeiras, soldados, favelados,<br />

internos de sanatórios, presidiários e até ... prostitutas!<br />

(De que há indícios nas Dioce<strong>se</strong>s de Juazeiro-BA,<br />

Rio Branco-AC, Lins-SP e Crateús-CE,<br />

por exemplo). Há também <strong>CEBs</strong> de índios (tais<br />

os xocós da Dioce<strong>se</strong> de Propriá-SE, os <strong>quais</strong><br />

invadiram terras da família do prefeito de Porto<br />

da Folha, tempos atrás).<br />

Os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> slo recrutados nas cama<strong>das</strong> mais<br />

simples da população. em geral as mais religiosas da<br />

sociedade. E por sua atraçlo religiosa que aderem ao<br />

movimento. - Reunilo da Comunidade de Mangueirinha<br />

(Recife).<br />

Quem slo os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

De modo geral as <strong>CEBs</strong> são homogêneas<br />

quanto ao nível cultural e sócio-econômico dos<br />

participantes: membros de uma família, vizinhos,<br />

colegas de <strong>se</strong>rviço, moradores da mesma rua ou<br />

bairro, freqüentadores da mesma paróquia ou<br />

capela. Na periferia urbana são, na maioria,<br />

donas-de-casa, operários, pequenos funcionários,<br />

empregados do comércio e do <strong>se</strong>tor de <strong>se</strong>rviços,<br />

115


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A direção da CEB: "Um grupinho<br />

que age na surdina, planeja e<br />

decide, mas <strong>se</strong>m aparecer ... "<br />

Algumas Comunidades de Ba<strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntam<br />

uma organização interna de caráter mais ou menos<br />

convencional, com presidente, <strong>se</strong>cretário, tesoureiro.<br />

A maior parte delas, porém, rejeita es<strong>se</strong>s<br />

esquemas formais, <strong>muito</strong> <strong>pouco</strong> de acordo com o<br />

igualitarismo que <strong>se</strong>rpeia no movimento, e apre<strong>se</strong>ntam<br />

uma direção colegiada, sob a forma de<br />

equipes. Contudo, os dirigentes - <strong>se</strong>jam indivíduos<br />

ou equipes - não passariam de meros intérpretes<br />

da vontade geral da Comunidade, na qual<br />

residiria todo o poder e toda a autoridade,<br />

conforme a utopia autogestionária.<br />

A direção ostensiva cabe aos bem treinados<br />

monitores (também chamados animadores, coordenadores<br />

ou líderes), que vivem fazendo cursos<br />

de técnicas de liderança, de direção, de trabalho<br />

em comum e de dinâmica de grupo, em centros de<br />

treinamento <strong>das</strong> dioce<strong>se</strong>s e prelazias. Na realidade,<br />

quem de fato orienta e dirige a CEB é .um<br />

grupinho, o qual "age na surdina", "planeja e<br />

decide, mas <strong>se</strong>m aparecer" - como <strong>se</strong> pode ler em<br />

relatório do Regional Nordeste-! da CNBB.<br />

Mas a atuação des<strong>se</strong> grupinho, chamado "grupo<br />

fermento" (por trás do qual, obviamente, está o<br />

Padre, a freira, o agente pastoral) é feita com<br />

<strong>muito</strong> jeito, para que os membros todos tenham a<br />

ilusão de estar participando da co-gestão da CEB,<br />

e de que esta <strong>se</strong> governa a si própria <strong>se</strong>m<br />

interferência externa; ou <strong>se</strong>ja, é autogerida. Com<br />

propósito, o Pe. Pascoal Rangel comenta que os<br />

membros da CEB evidentemente repetirão o que<br />

clérigos ou agentes bem treinados lhes ensinarão a<br />

dizer, já que estão criticamente desarmados. Mas,<br />

à força de repetir, não acabarão por acreditar que<br />

foram eles mesmos que chegaram por si sós<br />

àquelas conclusões? Este é, aliás, um dos principais<br />

artifícios empregados no processo de conscientização.<br />

O grande objetivo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>:<br />

a conscientização<br />

A grande maioria dos agentes pastorais considera<br />

a conscientização como o grande objetivo e a<br />

principal função <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>. Ela ocupa em torno de dois terços dos<br />

esforços dos agentes pastorais e demais animadores;<br />

para ela são aproveita<strong>das</strong> to<strong>das</strong> as atividades<br />

internas e externas <strong>das</strong> Comunidades: cultos<br />

e celebrações; reuniões de reflexão, de discussão e<br />

ação; mutirões de trabalho; lazer comunitário;<br />

campanhas e movimentos reivindicatórios e de<br />

pressão sobre as autoridades.<br />

Ver-Julgar-agir ... como<br />

querem os agentes pastorais<br />

O local de reunião varia conforme as circunstâncias:<br />

pode <strong>se</strong>r a igreja, o salão paroquial, a<br />

capela, o centro comunitário, a creche, a escola ou<br />

um simples galpão; em <strong>muito</strong>s lugares as celebrações<br />

e reuniões realizam-<strong>se</strong> cada vez na casa de um<br />

dos participantes; também não faltam aquelas ao<br />

ar livre, à sombra acolhedora de alguma árvore ou<br />

numa discreta clareira da mata.<br />

<strong>As</strong> reuniões <strong>se</strong>guem qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre por toda a<br />

parte o esquema ver-julgar-agir. Depois de orações<br />

e cânticos, o monitor, animador ou coordenad.or<br />

pergunta como foi a <strong>se</strong>mana em casa, no bairro,<br />

no trabalho e os participantes fazem <strong>se</strong>u relato.<br />

Escolhe-<strong>se</strong> uma ou duas questões considera<strong>das</strong>·<br />

116


Parte li<br />

mais importantes e pros<strong>se</strong>gue-<strong>se</strong> a reunião em<br />

torno delas. Ou <strong>se</strong>não o monitor apre<strong>se</strong>nta um<br />

problema ( deficiência dos transportes ou pos<strong>se</strong> da<br />

terra, por exemplo) e pede que cada um relate suas<br />

experiências pessoais a respeito. Isso constitui o<br />

ver. Passa-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guir ao debate do "porquê" dos<br />

problemas levantados, à discussão <strong>das</strong> "causas": é<br />

o julgar. - O que Deus acha disso? Vai-<strong>se</strong> então à<br />

Bíblia e toma-<strong>se</strong> uma passagem que apre<strong>se</strong>nte<br />

<strong>se</strong>melhança ou analogia com a situação descrita e<br />

faz-<strong>se</strong> a aplicação. Por fim vem o agir: combina-<strong>se</strong><br />

a ação concreta para resolver o problema ou<br />

mudar a situação: mutirão para construir o centro<br />

comunitário, manifestação de protesto diante da<br />

Prefeitura, formação de uma chapa de oposição<br />

para concorrer às eleições no sindicato. Ou ainda<br />

uma "operação pega-fazendeiro".<br />

Não é difícil perceber o quanto tal método <strong>se</strong><br />

presta à manipulação da gente mais simples e<br />

totalmente confiante no que lhe vem do Padre,<br />

pelos bem adestrados monitores e agentes pastorais,<br />

os <strong>quais</strong> conduzem o debate para a direção<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> rumam para um mundo <strong>se</strong>m atrativos, todo.ele<br />

prético, funcional, laico e igualiürio. Aos <strong>pouco</strong>s, as<br />

igrejas vlo aendo substituldaa por "Centros Comuniürios"<br />

como o da Comunidade Cristo Libertador, de Macapé.<br />

Capítulo l - 1<br />

que lhes convém, levantam as questões que lhes<br />

interessam e têm <strong>se</strong>mpre à mão o texto bíblico<br />

adequado aos <strong>se</strong>us objetivos, interpretados, naturalmente,<br />

numa perspectiva "libertadora" ( existem<br />

já prontos verdadeiros "receituários" para as mais<br />

diversas · situações).<br />

Da discussão sobre a falta de água, luz,<br />

transporte ou a alta do custo de vida, para a<br />

contestação do regime sócio-político e econômico<br />

vigente o passo é pequeno (e os animadores,<br />

suficientemente habilidosos para provocá-lo). Por<br />

isso Frei Beto (apontado como um dos principais<br />

articuladores do movimento) diz que as <strong>CEBs</strong> têm<br />

um caráter pastoral que é político, enquanto faz<br />

emergir a "consciência crítica". E que querer<br />

"despolitizá-las" é privá-las des<strong>se</strong> caráter "pastoral<br />

libertador".<br />

"Ceder uma parte do <strong>se</strong>u EU,<br />

substltuldo por um NOS<br />

envolvente e conglomerante ... "<br />

<strong>As</strong> reuniões <strong>se</strong>manais são de importância vital<br />

para as Comunidades: elas é que garantem a<br />

coesão do grupo, o inter-relacionamento dos<br />

participantes, a troca de informações e experiências.<br />

Numa palavra, elas é que fazem surgir o<br />

espírito comunitário.<br />

Papel importante cabe às convivências - atividades<br />

sociais visando à maior integração do<br />

indivíduo na Comunidade e a aproximação entre<br />

os participantes dela: almoços, pas<strong>se</strong>ios, piqueniques,<br />

bailes. Não menos importantes são os<br />

jomaizinhos e boletins mimeografados, tanto para<br />

a vida interna da CEB, como para o intercâmbio<br />

com as demais.<br />

Além <strong>das</strong> reuniões regulares e <strong>das</strong> celebrações,<br />

as <strong>CEBs</strong> de<strong>se</strong>nvolvem um <strong>se</strong>m-número de ativi-<br />

117


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

dades comunitárias, de caráter religioso (cateque<strong>se</strong>,<br />

cursos bíblicos, equipes de liturgia, de<br />

canto, de preparação para os sacramentos etc.);<br />

social (trabalho coletivo, cursos de alfabetização,<br />

corte e costura, de leis etc.); e econômicas (roças<br />

comunitárias, farmácias comunitárias, compras<br />

comunitárias, caixa comum etc.),<br />

O comunitarismo exacerbado é característica<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: pretende-<strong>se</strong> fazer com que os participantes<br />

ponham toda a sua vida em comum,<br />

desde as preocupações religiosas, sociais e econômicas,<br />

até as familiares e o próprio lazer. Mesmo<br />

os problemas mais íntimos e pessoais devem <strong>se</strong>r<br />

apre<strong>se</strong>ntados, debatidos e resolvidos na Comunidade.<br />

Inclusive cas 0<br />

os de adultério, como refere<br />

Frei Clodovis Boff em livro sobre as <strong>CEBs</strong> do Acre.<br />

Como escreve um autor, é preciso que o indivíduo<br />

"ceda uma parte do <strong>se</strong>u EU, fazendo com<br />

que <strong>se</strong>ja substituído por um NÓS envolvente e<br />

conglomerante ... "<br />

Em lugar do pão e do vinho, cacau,<br />

cafê, peixe, polvilho de mandioca ...<br />

<strong>As</strong> celebrações e o culto constituem o centro da<br />

vida <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />

Segundo o espírito e as doutrinas do movimento,<br />

a liturgia da Comunidade deve refletir a<br />

<strong>As</strong> celebrações nao <strong>CEBs</strong> as<strong>se</strong>melham-<strong>se</strong> a autênticos culto protest antes, quando não descambam para rituais<br />

grotescos. Os textos "litúrgicos" têm <strong>se</strong> mpre um caráter conscientizador e "libertador". - "Celebração da Eucaristia"<br />

(<strong>se</strong>m Padre), .na Comunidade de Barro do Vento, Taué-CE.<br />

118


Parte II<br />

Capítulo I -<br />

J<br />

vida de <strong>se</strong>us membros. Por con<strong>se</strong>guinte, está cada<br />

vez mais <strong>se</strong>ndo confiada a eles a elaboração dos<br />

textos litúrgicos, dos cânticos e do roteiro <strong>das</strong><br />

celebrações.<br />

E o que <strong>se</strong> tem pre<strong>se</strong>nciado são atos que <strong>se</strong><br />

as<strong>se</strong>melham a autênticos cultos protestantes ( quando<br />

não descambam para rituais com conotações<br />

fetichistas).<br />

Em tais atos - como no Protestantismo -<br />

ocupa papel preponderante, quando não exclusivo,<br />

a chamada "Celebração da Palavra", a qual<br />

pode consistir na leitura de um texto bíblico, de<br />

uma carta de protesto às autoridades ou de uma<br />

poesia subversiva de D. Pedro Casaldáliga. Às<br />

vezes <strong>se</strong> resume na discussão dos "problemas<br />

do ·povo".<br />

Quanto às "Celebrações da Eucaristia", o que<br />

<strong>se</strong> entende por tal nas <strong>CEBs</strong> não difere <strong>muito</strong>, <strong>se</strong><br />

em algo difere, do que por tal <strong>se</strong> entende nas <strong>se</strong>itas<br />

protestantes que não a aboliram de todo. Fica<br />

relegado a plano <strong>se</strong>cundário, quando não é negado<br />

implícita ou explicitamente, o caráter sacrifical da<br />

Santa Missa, reduzida a mera refeição ( o "ágape"<br />

ou "Ceia do Senhor", dos protestantes), a uma<br />

"janta", como prosaicamente a qualifica um livrinho<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da Prelazia de São Félix do<br />

Araguaia, que tem por finalidade precisamente<br />

responder à pergunta contida no título: Missa, o<br />

que é? (Livrinho que, <strong>se</strong>ja dito de passagem, foi<br />

publicado pela Editora Vozes, de Petrópolis, e<br />

largamente difundido por todo o País). Adiante o<br />

livrinho ensina: "A missa é uma refeição. Jesus<br />

escolheu para esta refeição pão e vinho, porque era<br />

a comida que tinha em toda casa do povo dele,<br />

feito o arroz, a farinha e o café aqui para nós".<br />

Se a Missa é uma simples refeição e <strong>se</strong> o pão e o<br />

vinho foram utilizados por Jesus por <strong>se</strong>rem a<br />

comida do <strong>se</strong>u povo, porque, então, não utilizar<br />

nas "Celebrações da Eucaristia" aquilo que constitui<br />

a comida do nosso povo - o arroz, a farinha,<br />

o café?<br />

Ora, é precisamente o que <strong>se</strong> faz.<br />

Em celebrações no norte do Espírito Santo, as<br />

espécies eucarísticas foram substituí<strong>das</strong> por cacau,<br />

café, garrote, peixe e polvilho de mandioca,<br />

conforme o produto predominante na região. Na<br />

Paraíba, fez-<strong>se</strong> a partilha do cuscuz, para simbolizar<br />

a fração da hóstia.<br />

E os textos "litúrgicos" apre<strong>se</strong>ntam <strong>se</strong>mpre um<br />

aspecto "conscientizador" e "libertador", porejando<br />

o espírito de revolta e a luta de clas<strong>se</strong>s.<br />

A vasta "periferia" dos "simpatizantes"<br />

e "aliados" e a "massa de manobra"<br />

Em grande número de paróquias, especialmente<br />

em bairros periféricos, pequenas cidades e<br />

capelas rurais, as atividades religiosas do lugar<br />

constituem praticamente um prolongamento da<br />

atuação <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. Pois os <strong>se</strong>us<br />

membros é que preparam e conduzem as celebrações,<br />

novenas, festa do Padroeiro, procissões e<br />

outras manifestações da chamada "religiosidade<br />

popular", as <strong>quais</strong> oferecem excelente ocasião para<br />

o trabalho de recrutamento e de conscientização<br />

da massa,dos fiéis. O mesmo <strong>se</strong> dá com os cursos<br />

de preparação para o Batismo, a Primeira Comunhão,<br />

o Casamento, dos <strong>quais</strong> são, via de regra, os<br />

responsáveis.<br />

<strong>As</strong> atividades externas mais importantes <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> são as campanhas de mobilizaçio popular<br />

para promover 'alguma reivindicaçio: reúnem na<br />

igreja, capela ou centro comunitário os moradores<br />

do bairro, favela ou zona rural para tratar de<br />

algum problema local (água, luz, esgoto, pos<strong>se</strong> da<br />

terra, sindicalismo) e em torno des<strong>se</strong> ponto de<strong>se</strong>n-<br />

119


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

volvem um intenso trabalho de conscientização da<br />

população. Alguns acabam por integrar-<strong>se</strong> na<br />

CEB; outros passam a constituir os "simpatizantes"<br />

ou "aliados"; uma boa parte, <strong>se</strong>m o <strong>sabe</strong>r<br />

(e, não raro, <strong>se</strong>m o querer), acaba constituindo<br />

importante "massa de manobra" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Por<br />

essa forma o movimentq <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> vai formando em torno de si uma<br />

vasta periferia ou coroa, da qual elas são o núcleo<br />

ou cerne duro.<br />

A "maquina" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

O movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> passa a dispor, assim,<br />

de poderosa "máquina" de atuação, cujas peças<br />

são os organismos por elas criados ou infiltrados:<br />

clubes de mães; movimentos de reivindicações <strong>das</strong><br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> atingem <strong>se</strong>tores refratários à pregação comunista<br />

direta: pacatos chefes de familia, tranqüilas donasde-casa.<br />

ordeiros trabalhadores. - Concentração de<br />

1. 0 de maio de 1978 no Colégio Santa Maria (S ão Paulo):<br />

não faltaram os punhos cerrados. conhecido gesto comunista.<br />

periferias (água, luz, transporte, creches, posto de<br />

saúde, luta contra os loteamentos clandestinos);<br />

grupos de rua; grupos de quarteirão; grupos de<br />

música e teatro; comissões de visitas; Movimento<br />

Contra a Carestia; Movimento de Favelas; <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia<br />

do Povo; Oposição Sindical; Sociedade de<br />

Amigos de Bairro etc.<br />

São ainda as <strong>CEBs</strong> que animam entidades<br />

eclesiásticas mais amplas, como a Comissão Pastoral<br />

da Terra, Pastoral Operária, Comissões de<br />

Justiça e Paz, Centros de Defesa dos Direitos<br />

120


Parte li<br />

Humanos e outras. Elas é que fornecem os<br />

ativistas em nível de ba<strong>se</strong>, <strong>se</strong>m os <strong>quais</strong> essas<br />

entidades, de modo geral, não passariam de_<br />

simples rótulos.<br />

Com tudo isso, as Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> vão salpicando de descontentamento e de<br />

revolta os ambientes em que <strong>se</strong> movem. Elas<br />

transformam as doutrinas marxistas da Teologia<br />

da Libertação em práxis miúda, atingindo por essa<br />

forma <strong>se</strong>tores da população refratários à pregação<br />

comunista direta.<br />

Instrumentalização de uma<br />

confiança Ingênua<br />

Por <strong>se</strong>u caráter religioso e sua constituição<br />

peculiar, mobilizam em prol da luta pela derrubada<br />

<strong>das</strong> atuais estruturas, um número, mas<br />

sobretudo um tipo de pessoas normalmente avessas<br />

a qualquer militância política: pacatos chefes<br />

Capítulo I - /<br />

de família, tranqüilas donas-de-casa, operários<br />

ordeiros e homens simples da roça.<br />

Isto ocorre em virtude da confiança irrestrita<br />

no Padre, que caracteriza o brasileiro comum. Tal<br />

confiança - em si mesma louvável - é entretanto<br />

nas mais <strong>das</strong> vezes deformada por uma<br />

compreensão inexata da infalibilidade pontifícia, a<br />

qual é indevidamente estendida para os Bispos,<br />

Sacerdotes e até mesmo religiosas.<br />

Para o católico brasileiro comum, o Padre é a<br />

encarnação da própria Igreja. Ele toma suas<br />

palavras e suas atitudes como <strong>se</strong>ndo <strong>se</strong>mpre e<br />

indiscutivelmente a expressão fiel, autêntica e<br />

completa do pensamento da Igreja, por mais<br />

estranhas, heterodoxas e chocantes que <strong>se</strong>jam.<br />

E o Clero engajado nas <strong>CEBs</strong> - negador de<br />

to<strong>das</strong> as infalibilidades e de to<strong>das</strong> as autoridades<br />

- <strong>sabe</strong> explorar essa deformação em proveito da<br />

Revolução no <strong>se</strong>io da Igreja e da sociedade (cfr.<br />

Parte 1).<br />

Referências: CNBB, Pastoral Social, Estudos da CNBB-10,<br />

São Paulo, 1976; IDEM, Comunidades: Igreja na Ba<strong>se</strong>, Estudos<br />

da CNBB-3, São Paulo, 1975; IDEM, Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> no Brasil, Estudos da CNBB-23, São Paulo, 1979; FREI<br />

ALMIR RIBEIRO GUIMARÃES OFM, Comunidade de Ba<strong>se</strong> no<br />

Brasil: uma nova maneira de <strong>se</strong>r em Igreja, Vozes, Petrópolis,<br />

1979; PE. JosÉ MARINS, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> na<br />

América Latina, in "Concilium", n. 0 104, 1975; IDEM, Comunidade<br />

Eclesial de Ba<strong>se</strong>: prioridade pastoral, Paulinas, São<br />

Paulo, 1976; PAUL SINGER e VINICIUS CALDEIRA BRANDT (org.),<br />

.São Paulo: o Povo em movimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis-São<br />

Paulo, 1980; FREI BETo, O que é Comunidade Eclesial de<br />

Ba<strong>se</strong>, Ed. Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1981; PE. ROGÉRIO AucrNo<br />

PIME, Comunidade, líder, paróquia, Paulinas, São Paulo, 1977;<br />

FREI CLOD0VIS BoFF OSM, Deus e o homem no inferno verde<br />

- Quatro me<strong>se</strong>s de convivência com as <strong>CEBs</strong> do Acre,<br />

Vozes, Petrópolis, 1980; IDEM, A influência política <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>), in "SEDOC", janeirofevereiro<br />

1979; CNBB-REGIONAL oo NORDESTE-!, XVI Encontro<br />

da Comissão Episcopal Regional N E-/, Teresina, janeiro 1980,<br />

Anexo 2; CNBB-REGJONAL SuL-2, Manual sobre as Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Vozes, Petrópolis, 2.• ed., 1977;<br />

EQUIPE DE REDAÇÃO DAS DIOCESES DE CARATINGA, TEÓFILO 0-<br />

TONI, DIVINÔPOLIS E ARAÇUAI, Abra a poria - cartilha do Povo<br />

de Deus, Paulinas, 2.ª ed., 1979; PE. RAUL M0TTA DE ÜLIVEIRA,<br />

Manual <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Editora Dom<br />

Carlota, Caratinga, 1978; PE. G. DEELEN SSCC, La /g/esia ai<br />

encuentro dei pueb/o en América Latina: las comunidades de<br />

ba<strong>se</strong> en Brasil, in "Boletin Pro Mundi Vita", abril/junho 1980<br />

(Bruxelas); PE. J. KERKHOFS SJ, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

en América Latina, in "Boletin Pro Mundi Vita", <strong>se</strong>tembro<br />

1976; PE. JEsus ANDRÉS VELA SJ, Las Comunidades de Ba<strong>se</strong> y<br />

una lglesia Nueva, Editorial Guadalupe, Buenos Aires 1971 ·<br />

Relatórios e depoimentos dos Encontros Nacionais de Comu'.<br />

nidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, publicados em "SEDOC", maio<br />

1975, _outubro 1976, novembro 1976, outubro 1978, janeirofevereiro<br />

1979, <strong>se</strong>tembro 1981; PE. DOMINIQUE BARBÉ, En e/<br />

futuro, las Comunidades de Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974<br />

(prólogo de Jacques Loew).<br />

121


"Comunidade de Ba<strong>se</strong>.<br />

. .<br />

marxismo, equz<br />

OM MIGUEL Balaguer, Bispo de Tacuarembó<br />

(Uruguai), tem uma curiosa explicação<br />

quanto à origem da expressão "Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong>". Falando da necessidade de pequenas comunidades,<br />

acrescenta: "Agora elas foram batiza<strong>das</strong><br />

com o nome de 'comunidades de ba<strong>se</strong>'; expressão<br />

inspirada na terminologia marxista, equivalente a<br />

soviete; mas isso não é motivo para rejeitá-la.<br />

Tínhamos o nome já escolhido para uma criança<br />

que cuidávamos que nasces<strong>se</strong> o quanto antes".<br />

Pois bem, o estudo da história, da doutrina e<br />

da atuação <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

mostra que a inspiração marxista não fica apenas<br />

no nome ...<br />

Por outro lado, a declaração do Bispo uruguaio<br />

- que qua<strong>se</strong> choca pela franqueza - desfaz<br />

um dos mitos mais cuidadosamente alimentados<br />

pelo movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: o mito da espontaneidade.<br />

Espontaneidade que é apre<strong>se</strong>ntada como<br />

sinal da ação do Espírito.<br />

O mito da espontaneidade<br />

<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> têm verdadeira<br />

necessidade de não aparecer aos olhos do<br />

grande público - e, mais ainda, de <strong>se</strong>us próprios<br />

membros - como um movimento organizado.<br />

Isso por razões tanto doutrinárias, quanto estratégicas.<br />

Por um lado, as próprias <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> autodefinem<br />

como "uma Igreja que nasce do povo pelo<br />

Espírito de Deus". Testemunho dessa ação do<br />

Espírito <strong>se</strong>ria o caráter espontâneo de sua origem e<br />

formação, no qual <strong>se</strong> deveria ver um "sinal dos<br />

tempos".<br />

Elas corresponderiam a um processo espontâneo<br />

e desarticulado, suscitado pelo "Espírito", ao<br />

mesmo tempo, em várias partes do mundo,<br />

sobretudo na América Latina. Cada Comunidade<br />

<strong>se</strong>ria um grupo autônomo e soberano, autogerido,<br />

nascido da realidade local. Elas são apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />

des<strong>se</strong> modo ao grande público, e é possível que<br />

como tais apareçam aos olhos de não <strong>pouco</strong>s de<br />

<strong>se</strong>us membros de ba<strong>se</strong>, os <strong>quais</strong> talvez até acreditem<br />

<strong>se</strong>r os protagonistas dessa "no.va maneira de<br />

<strong>se</strong>r Igreja" ... (Na realidade, por trás des<strong>se</strong> aparente<br />

igualitarismo e democratismo radical, está um<br />

grupo de gente bem treinada, que manipula os<br />

cordéis ... ).<br />

Por outro lado, pretendem <strong>se</strong>r já a realização, a<br />

um tempo, do modelo da nova Igreja e da nova<br />

sociedade: <strong>se</strong>m estruturas, <strong>se</strong>m organização, <strong>se</strong>m<br />

autoridade, em conformidade com a utopia autogestionária<br />

que está no bojo de sua doutrina.<br />

122


Parte li<br />

O mito da espontaneidade é assim <strong>muito</strong><br />

importante para a legitimação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> aos olhos<br />

do público e de <strong>se</strong>us próprios membros. Pois, <strong>se</strong><br />

elas nascem espontaneamente, por moção do<br />

Espírito, quem pode contestar sua fisionomia, sua<br />

doutrina e <strong>se</strong>us métodos?<br />

Um movimento que não é<br />

<strong>se</strong>creto, mas é "discreto"<br />

Mas quem acompanha com atenção o noticiário<br />

da imprensa e estuda a abundante documentação<br />

concernente a elas, acaba constatando<br />

que por toda a parte as <strong>CEBs</strong> apre<strong>se</strong>ntam as<br />

mesmas características fundamentais, as mesmas<br />

doutrinas, os mesmos objetivos, os mesmos métodos<br />

de recrutamento, formação e atuação, e até<br />

um jargão próprio.<br />

Por outro, realizaram-<strong>se</strong> no País quatro Encontros<br />

Nacionais e dois Internacionais de Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, além de numerosos encontros<br />

inter-diocesanos, regionais etc. Tudo isso, evidentemente,<br />

exige planejamento, organização, coordenação,<br />

financiamento etc.<br />

Não parece, pois, infundado concluir que, in<br />

concreto e independentemente de estruturas de<br />

caráter organizacional cuja existência <strong>se</strong> possa<br />

identificar, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

constituem um movimento coeso e solidário, bastante<br />

disciplinado, não só de caráter nacional, mas<br />

até internacional. E tanto é assim, que autores<br />

insuspeitos (por <strong>se</strong>rem mentores ou simpatizantes<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>), inclusive publicações da própria<br />

CNBB, referem-<strong>se</strong> a elas como o "movimento <strong>das</strong><br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>" (em que pe<strong>se</strong>m as<br />

tími<strong>das</strong> re<strong>se</strong>rvas de D. Eugênio Salles com relação<br />

ao 4. 0 Encontro Nacional - re<strong>se</strong>rvas, aliás, de<br />

caráter meramente disciplinar, <strong>se</strong>m qualquer refe-<br />

Frei Betto (à esquerda). cúmplice do terrorista comunista<br />

Marighela. é um dos principais articuladores <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> em nlvel nacional. - Durante a famosa "Noite<br />

Sandinista", realizada em São Paulo em 19B0. ele<br />

confabula com o Pe. D'Escoto, Chanceler da Nicarágua.<br />

rência de ordem doutrinária ou metodológica).<br />

Como, entretanto, caracterizar um movimento<br />

que, <strong>se</strong> não é <strong>se</strong>creto, é pelo menos discreto? E que,<br />

ademais, pode adotar qualquer nome, ou nenhum<br />

nome, conforme afirmações do Pe. José Marins,<br />

um de <strong>se</strong>us principais teóricos e expoentes em nível<br />

internacional?<br />

Quem dirige o movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>?<br />

Em princípio, cada Bispo é responsável pelas<br />

<strong>CEBs</strong> de sua dioce<strong>se</strong> e cada Vigário p~las de sua<br />

123


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mu110 <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

paróquia. E, de fato, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>u conhecimento e<br />

aprovação, ao menos tácita, elas não podem <strong>se</strong>r<br />

forma<strong>das</strong> (1).<br />

Mas uma pergunta fica: quem as coordena em<br />

nível interdiocesano, estadual, regional e nacional?<br />

E mundial?<br />

Ao contrário de outros movimentos religiosos,<br />

as <strong>CEBs</strong> não têm uma direção central ostensiva,<br />

nem responsáveis conhecidos em escalões mais<br />

elevados, menos ainda em nível nacional.<br />

Nem por isso deixa de haver uma coordenação<br />

geral do movimento comunitário, a qual, <strong>se</strong><br />

passa despercebida ao grande público (e talvez à<br />

maioria dos próprios membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ... ), não é<br />

menos real e efetiva.<br />

A unidade do movimºento é garantida, em larga<br />

medida, pelos inúmeros encontros, as<strong>se</strong>mbléias e<br />

reuniões em todos os níveis; pelos cursos de<br />

formação e treinamento de líderes e agentes pastorais;<br />

pelo intenso intercâmbio de pessoas e de<br />

publicações (dados recentes <strong>fala</strong>m em mais de três<br />

milhões de exemplares mensais, só de boletins<br />

mimeografados). O que supõe a existência de um<br />

organi~mo coordenador, composto por pessoas<br />

coni autoridade, acata<strong>das</strong> e respeita<strong>das</strong> pelas<br />

Comunidades de t.odo o País.<br />

- Quem <strong>se</strong>rão essas pessoas?<br />

Um conjunto de Bispos, Padres, freiras, agentes<br />

pastorais, teólogos, sociólogos, pastores protestantes,<br />

têm acompanhado mais de perto as<br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>, participando inclusive de<br />

<strong>se</strong>us Encontros nacionais ou internacionais. Se-<br />

rão eles os dirigentes nacionais do movimento?<br />

A suposição não é descabida, pois, em concreto,<br />

suas diretrizes teóricas e práticas é que têm orientado<br />

as <strong>CEBs</strong> brasileiras.<br />

Centenas de centros espalhados por todo o Brasil<br />

produzem uma infinidade de folhetos, cartilhas e boletins,<br />

num esforço de "conscientizar" as " ba<strong>se</strong>s" e as<strong>se</strong>gurar<br />

a unidade de doutrinas, de métodos e de objetivos<br />

do movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />

(1) Em 1975, Paulo VI estabeleceu na Exortação Apostólica<br />

Eva ngelii Nuntiandi as condições para que uma "comunidade<br />

de ba<strong>se</strong>" pudes<strong>se</strong> <strong>se</strong>r considerada "eclesial" e não mera entidade<br />

sociológica. Entre essas condições está a união com a H ierarquia<br />

(Doe. cit., n. 0 58).<br />

124


Parte II<br />

Origem <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

A S PRIMEIRAS Comunidades de Ba<strong>se</strong> teriam<br />

surgido no Brasil pelos fins dos anos 50,<br />

com os "catequistas populares" estabelecidos<br />

por D. Agnelo Rossi em Barra do Paraí, e com<br />

os grupos de "educação de ba<strong>se</strong>" do Movimento<br />

de Natal, criado anos antes por D. Eugênio Salle<strong>se</strong><br />

D . Nivaldo Monte, então jovens sacerdotes.<br />

Em nível nacional, o Plano de Emergência<br />

da CNBB ( 1962) as<strong>se</strong>ntou os <strong>se</strong>us fundamentos<br />

e o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto<br />

. (1965) já menciona explicitamente as "Comunidades<br />

de Ba_<strong>se</strong>". Nos anos <strong>se</strong>guintes passaram<br />

a constituir uma <strong>das</strong> prioridades da pastoral da<br />

CNBB. <strong>As</strong>sim ampara<strong>das</strong> pelo Episcopado, elas<br />

começaram a <strong>se</strong> multiplicar por toda a parte,<br />

sobretudo depois da Conferência de Medellin<br />

( 1968), quando foram considera<strong>das</strong> opção prioritária<br />

para a pastoral em todo o Continente.<br />

100 mil <strong>CEBs</strong>, 2,5 milhões de membros?<br />

- Qual o número total de <strong>CEBs</strong> no Brasil?<br />

Quantas pessoas militam no movimento?<br />

Duas perguntas que nem a própria CNBB <strong>sabe</strong><br />

responder. Ou diz que não <strong>sabe</strong>. Pois os Bispos<br />

responsáveis devem informar-<strong>se</strong> a respeito.<br />

Em 1974, um levantamento feito pelo CERIS<br />

(espécie de IBGE eclesiástico) dava o total de 40<br />

mil <strong>CEBs</strong> em todo o Brasil, <strong>se</strong>m informar,<br />

contudo, o número de participantes. Em 1980,<br />

para atender a um pedido de informação do<br />

Vaticano, o mesmo CERIS fez uma projeção, que<br />

deu como resultado 80 mil <strong>CEBs</strong> no País; também<br />

Capítulo I - 2<br />

não aparece o total de membros. Para hoje não há<br />

dados oficiais. <strong>As</strong> estimativas veicula<strong>das</strong> pela<br />

imprensa religiosa e leiga variam de 80 a 90 ou até<br />

100 mil <strong>CEBs</strong>, totalizando um contingente de 2 a<br />

2,5 milhões de pessoas conscientiza<strong>das</strong>. Frei Leonardo<br />

e Frei Clodovis Boff chegam a <strong>fala</strong>r em 4<br />

milhões de membros, o que constitui evidente<br />

exagero.<br />

Faltam meios para controlar essas estimativas<br />

e para avaliar, ainda que por aproximação, o<br />

número de <strong>CEBs</strong> existentes, bem como o total de<br />

<strong>se</strong>us membros. Entretanto, mais do que a falta de<br />

dados estatísticos atualizados, o que torna difícil<br />

avaliar o contingente <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é o caráter discreto<br />

do movimento, e <strong>se</strong>u aspecto camaleônico, que ora<br />

toma um nome, ora outro, ora nenhum, agindo no<br />

anonimato ou por trás de biombos e facha<strong>das</strong>.<br />

"Pressão de ba<strong>se</strong>" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e<br />

"pressão de cúpula" da CNBB<br />

Quaisquer que <strong>se</strong>jam os números, o certo é que<br />

as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> repre<strong>se</strong>ntam um<br />

contingente ponderável de pessoas. Ainda que<br />

minoritário face à população total do País, e<br />

pequeno para os objetivos que <strong>se</strong> propõe, es<strong>se</strong><br />

contingente é, no entanto, suficientemente grande<br />

para promover uma agitação que permita à<br />

CNBB, a certos <strong>se</strong>tores políticos e da imprensa<br />

apre<strong>se</strong>ntá-las como uma força irresistível, ante a<br />

qual é preciso ceder. Para repre<strong>se</strong>ntarem o show<br />

da pressão de ba<strong>se</strong> que permita à CNBB exercer a<br />

verdadeira pressão de cúpula sobre as clas<strong>se</strong>s<br />

dirigentes, no <strong>se</strong>ntido de forçar a aprovação <strong>das</strong><br />

reformas de estruturas (Reforma Agrária, Reforma<br />

Urbana, Reforma Empresarial e outras), que<br />

eliminem a propriedade privada e conduzam o<br />

País rumo ao socialismo autogestionário.<br />

125


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Uma deputada eleita pelas <strong>CEBs</strong><br />

''N O DIA 15 de novembro de 1971 duas<br />

freiras foram dar um curso sobre renovação da<br />

Igreja nesta paróquia [Nossa Senhora <strong>das</strong><br />

Graças, Vila Remo, São Paulo]. Nes<strong>se</strong> dia<br />

passaram o filme 'O valor da pessoa humana',<br />

mostrando que todo mundo tem valor, que<br />

todos têm que ter um papel na sociedade. A<br />

proposta <strong>das</strong> freiras: que não <strong>se</strong> ficas<strong>se</strong> somente<br />

neste encontro mas que continuas<strong>se</strong> em outros<br />

trabalhos. Fundar o Clube <strong>das</strong> Mães, por<br />

exemplo . ....<br />

"Ficou marcado para to<strong>das</strong> as quintas-feiras<br />

nova reunião. Uma <strong>das</strong> freiras, Irmã Verónica,<br />

saiu. Outra, Irmã Angélica, continuou com o<br />

trabalho. A té que um dia ela teria de receber<br />

[emitir] o voto perpétuo e ficar no convento.<br />

Reuniu a comunidade e fez a proposta: deveria<br />

voltar para sua Ordem ou ficar com as mães?<br />

Depois dessa reunião, ela desistiu de <strong>se</strong>r freira.<br />

Hoje está casada, tem um filho e no mês que<br />

vem nascerá o <strong>se</strong>gundo filho. Essa moça é<br />

deputada estadual, e <strong>se</strong>u nome é Irma Passoni"<br />

("O São Paulo", 10-5-79).<br />

E é preciso reconhecer que as Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> encontram-<strong>se</strong> espalha<strong>das</strong> por todo o Brasil,<br />

fazendo <strong>se</strong>ntir sua ação nos mais diversos aspectos<br />

da vida nacional: religioso, político, sindical,<br />

educacional, tanto nas capitais corno no interior,<br />

nos bairros, nas favelas, no campo e até nas<br />

profundezas da <strong>se</strong>lva amazônica.<br />

· No ano passado, as depredações de ônibus em<br />

Salvador e as invasões de terrenos urbanos em<br />

várias capitais alarmaram a opinião pública. O<br />

caso dos padres france<strong>se</strong>s acusados de incitarem<br />

ao crime os "pos<strong>se</strong>iros" do Araguaia, ou o dos<br />

colonos de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul,<br />

apenas ilustram essa atuação multiforme <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>, na qual não faltou correr o sangue.<br />

Referências: Além <strong>das</strong> referências do capítulo anterior, ver: D.<br />

MIGUEL BALAGUER, Carta ai Presbiterio, in "Vida Pastoral",<br />

Montevidéo, 45 (1975); lsMAR DE ·ouvEIRA SOARES, Comum·­<br />

cação Libertadora, in "Familia Cristã", <strong>se</strong>tembro 1980; "Veja",<br />

2-7-80 e 17-12-80; "Isto é", 29-4-81; P E. EDUARDO HooRNAERT,<br />

Os perigos que ameaçam as <strong>CEBs</strong>, in "SEDOC", outubro<br />

1976, col. 276.<br />

126


Parte II Capítulo l - 2<br />

Peritos dos Encontros Nacionais dé <strong>CEBs</strong> e<br />

especialistas do movimento<br />

Frei Leonardo Boff OFM. - Professor no<br />

Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis,<br />

Redator da "Revista Eclesiástica Brasileira" e<br />

da revista teológica internacional "Concilium".<br />

Um dos mais prolíficos mentores <strong>das</strong>· <strong>CEBs</strong>,<br />

<strong>se</strong>us escritos versam especialmente acerca da<br />

eclesialidade <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. Ministra<br />

cursos para Bispos, Padres, freiras, agentes<br />

pastorais leigos e líderes de <strong>CEBs</strong> por todo o<br />

País. Expoente da Teologia da Libertação em<br />

nível internacional.<br />

Frei Gilberto Gorgulho OP. - Professor de<br />

Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia N.<br />

Sra. da <strong>As</strong>sunção e Coordenador de Pastoral<br />

na Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo, responsável<br />

pelas <strong>CEBs</strong>. .<br />

Pe. José Oscar Beozzo. - Diretor do Instituto<br />

Teológico de Lins. Sociólogo. (Essa dioce<strong>se</strong><br />

é um dos grandes centros nacionais de<br />

irradiação de Comunidades de Ba<strong>se</strong>). Encarregado<br />

de coordenar a preparação do 4. 0 Encontro<br />

Nacional. D.<br />

Frei Beto (Carlos Alberto Libãnio Christo).<br />

- Religioso dominicano; apesar de ter os<br />

estudos necessários, não quis ordenar-<strong>se</strong> Sacerdote,<br />

ficando como uma espécie de irmão leigo . .<br />

Passou quatro anos na prisão, condenado pela<br />

Justiça por envolvimento com a guerrilha<br />

urbana de Carlos Marighela, que ensangi.lentou<br />

, o País. Ào sair da prisão, foi trabalhar junto às<br />

_Comunidades de Ba<strong>se</strong> da Arquidioce<strong>se</strong> de<br />

Vitória. Coordenou o 4.° Congresso Internacional<br />

Ecumênico de Teologia (Congresso de<br />

Taboão da Serra) e a "Noite Sandinista". Inte:­<br />

grante da Pastoral Operária · da Dioce<strong>se</strong> de<br />

Santo André, teve papel de destaque na articulação<br />

<strong>das</strong> greves metalúrgicas do ABC em<br />

1980. Faz ainda visitas de "as<strong>se</strong>ssoramento<br />

pastoral" a <strong>CEBs</strong> de dioce<strong>se</strong>s e pi-e~azias. Publicou<br />

alguns trabalhos de ca ráter teórico-prático.<br />

Apontado como o principal articulador do t<br />

movimento em nível nacional. •<br />

Pe. Eduardo Hoornaert. - Belga. Professor<br />

no Instituto Teológico de Recife. Especialista<br />

em História Eclesiástica, a qual está reescrevendo,<br />

<strong>se</strong>gundo a "ótica do· oprimido".<br />

Moos. Gérard Cambrón. - Canaden<strong>se</strong>. É<br />

considerado um dos maiores especialistas em<br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>, junto às <strong>quais</strong> atua, há<br />

vários anos; no Maranhão.<br />

Frei Carlos Mesters O. Carm. - Holandês.<br />

Exegeta "oficial" do movimento. Percorre todo<br />

o País ministrando cursos para agentes pastorais,<br />

líderes e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sobre Sagrada<br />

Escritura, <strong>se</strong>ndo o principal divulgador do<br />

mét_odo de "reflexão bíblica" adotado por elas e<br />

autor de diversos rote)ros para tal fim ( os<br />

Círculos Bíblicos), além de outras obras. ,<br />

Pe. João Batista Libânio SJ. - <strong>As</strong><strong>se</strong>ssor da<br />

CRB-Conferência dos Religiosos do Brasil;<br />

membro do Centro .João XXIII (dos Jesuítas<br />

e.. . -+-1_~1<br />

127


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

do Rio, que presta as<strong>se</strong>ssoria à CNBB) e<br />

professor na PUC carioca. Especialista nos<br />

aspectos -teológicos da metodologia <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

Frei Clodovis Boff OSM. - Professor no<br />

Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis.<br />

Leciona <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s por ano," passando os outros<br />

<strong>se</strong>is junto às <strong>CEBs</strong> da Prelazia do Acre e Purus.<br />

Tem vários trabalhos publicados sobre Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, especialmente sobre a participação<br />

destas na política, e sobre Teologia da<br />

Libertação.<br />

; ,<br />

L<br />

Jether Pereira Ramalho. - Sociólogo e<br />

pastor protestante. Membro do CEDI-Centro<br />

Ecumênico de Documentação e Informação,<br />

cuja revista "Tempo e Pre<strong>se</strong>nça" é um dos<br />

porta-vozes da Teologia da Libertação e <strong>das</strong><br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>, embora mantida por<br />

instituição metodista.<br />

Pedro <strong>As</strong>sis Oliveira Ribeiro. - Sociólogo<br />

do CERIS-Centro de Estatísticas Religiosas e<br />

Investigações Sociais, órgão anexo à CNBB.<br />

· Colaborador da "Revista Eclesiástica Brasileira".<br />

11Vê <strong>se</strong> temos cara de <strong>se</strong>minaristas!"<br />

Ü s SEMINARISTAS estão <strong>se</strong>ndo, cada<br />

vez mais, formados no contexto <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>. É o caso, por exemplo, de<br />

Deville Alonço de 29 anos e Wilson de Oliveira<br />

Salles, 26 anos, <strong>se</strong>minaristas da Região Episcopal<br />

Belém, da Capital paulista. Eles repre<strong>se</strong>ntam<br />

bem o novo tipo de Padre que está<br />

surgindo na "Igreja-nova-que-,nasce-do-povo",<br />

como <strong>se</strong> pode ver por estas palavras suas a uma<br />

revista de inícios de 1979:<br />

"Deville - Uma boa pergunta a fazer é<br />

<strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> somos <strong>se</strong>minaristas. Somos <strong>se</strong>culares,<br />

não pertencemos a ordens ou congregações.<br />

Devemos total e irrestrita obediência ao nosso<br />

bispo. Espera um <strong>pouco</strong>, corta o total e irrestrita.<br />

Devemos obediência ao bispo. Somos<br />

'leigos engajados', eu já dis<strong>se</strong>. Olha para nós e<br />

vê <strong>se</strong> temos cara de clérigos, noviços, essas<br />

coisas . .... Nós nos matamos nas comunidades<br />

de ba<strong>se</strong> . .... Nossa formação é na prática, junto<br />

ao povo, sofrendo com ele. ....<br />

Wilson - .... Aquilo que nós, os <strong>se</strong>culares,<br />

os leigos engajados e alguns outros padres<br />

regulares <strong>muito</strong> conscientes pretendemos, é a<br />

evangelização a partir da realidade concreta,<br />

numa ótica marxista mesmo" ("Brasil Reportagem",<br />

ano 1, n.º 2, 1979, p. 16; "O São<br />

Paulo", 30-11-79, pp. l e 5).<br />

128


A ditadura <strong>das</strong> Comunidatles Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

OUCO SE FALA sobre um dos aspectos<br />

mais terríveis do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, que é a verdadeira ditadura<br />

religiosa que ele vai instaurando por toda a parte.<br />

Em <strong>muito</strong>s lugares começa ( ou já vai adiantada)<br />

verdadeira per<strong>se</strong>guição religiosa contra as pessoas<br />

refratárias às <strong>CEBs</strong>.<br />

Sanções religiosas e sociais<br />

Para levar os recalcitrantes, os omissos ou<br />

passivos, ao engajamento comunitário onde, através<br />

da conscientização, terão suas mentalidades<br />

muda<strong>das</strong>, o clero engajado lançou mão do mais<br />

eficiente instrumento de coação de que <strong>se</strong> possa<br />

dispor: as sanções religiosas.<br />

E para tornar efetivas tais sanções, vão-<strong>se</strong><br />

criando dispositivos de controle dos fiéis, algo<br />

assim como uma Gestapo ou KGB do progressismo<br />

e da esquerda católica, que fazem lembrar as<br />

temíveis polícias políticas do regime nazista e do<br />

soviético.<br />

Des<strong>se</strong> modo, por qua<strong>se</strong> todo o País, mas<br />

sobretudo nas zonas mais isola<strong>das</strong> do Interior,<br />

dificilmente alguém poderá participar dos Sacramentos<br />

ou de qualquer atividade religiosa - como<br />

<strong>se</strong>jam, Batismo, Crisma ou Primeira Comunhão<br />

dos filhos, <strong>se</strong>r padrinho d1~ Batismo ou Crisma, ou<br />

simplesmente testemunha de casamento - <strong>se</strong> não<br />

pertence r a alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> e não<br />

obtiver dela a autorização escrita para ta l.<br />

Vê-<strong>se</strong> bem como tal "excomunhão" religiosa<br />

implica müítas vezes em autêntica "excomunhão<br />

social" do indivíduo. Tal o caso do Batismo,<br />

Crisma e, sobretudo, Casamento, atos religiosos<br />

que constituem ao mesmo tempo acontecimentos<br />

sociais, de aproximação entre parentes e amigos. É<br />

preciso ter isso pre<strong>se</strong>nte para avaliar a força de tais<br />

sanções religiosas, principalmente nas pequenas localidades,<br />

onde todos <strong>se</strong> conhecem e <strong>se</strong> relacionam.<br />

A mercê dos lideres comunittírios<br />

Na Dioce<strong>se</strong> de São Mateus-ES, por exemplo,<br />

exige-<strong>se</strong> para tudo um Atestado de Residência<br />

Religiosa, fornecido apenas sob condições <strong>se</strong>veríssimas,<br />

entre as <strong>quais</strong> está o compromisso de<br />

participar nos grupos de reflexão pelo menos uma<br />

vez por <strong>se</strong>mana, e mais a <strong>se</strong>guinte coação moral e<br />

política: "10. Aceita a caminhada da Igreja Católica<br />

nesta Dioce<strong>se</strong>, que escolheu caminhar com os<br />

pobres e aceita a conscientização sobre problemas<br />

sociais e a orientação sobre a política?" Esta é uma<br />

<strong>das</strong> condições para cuja ob<strong>se</strong>rvância as instruções<br />

129


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

aos dirigentes <strong>das</strong> Comunidades pedem a maior<br />

vigilância e o maior rigor.<br />

O candidato ao atestado preenche um questionário,<br />

sob as vistas dos líderes. Mandam-lhe<br />

voltar dentro de algum tempo, para <strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> foi<br />

aprovado ou não. Nes<strong>se</strong> intervalo, os líderes<br />

<strong>se</strong> reúnem com a Equipe de levantamento da<br />

vivência cristã, a qual procede a investigações sobre<br />

a vida do candidato, para decidir <strong>se</strong> ele satisfaz ou<br />

não às exigências requeri<strong>das</strong> para o fornecimento<br />

do atestado. Se concluírem que sim, fornecem-lhe o<br />

papel, assinado por pelo menos quatro dirigentes.<br />

Se considerarem que a pessoa não está em<br />

condições de receber o atestado - dizem as<br />

instruções -, os líderes não poderão assinar. Em<br />

vez de assinar, cada um escreverá "em ob<strong>se</strong>rvação",<br />

e explicarão ao interessado que o caso dele<br />

não está maduro ainda, e que dentro de alguns<br />

me<strong>se</strong>s, com a boa vontade dele em "caminhar com<br />

a Comunidade", o caso dele poderá <strong>se</strong>r resolvido,<br />

dentro do possível...<br />

Quando <strong>se</strong> dá o caso, o atestado é feito em duas<br />

vias, ficando a primeira com o Coordenador da Vivência<br />

Cristã, para o Padre conferir no dia da visita.<br />

"Não afrouxar o laço!"<br />

Frei Beto, <strong>fala</strong>ndo a respeito da mesma<br />

questão no Acre, adverte: "Os monitores devem<br />

estar bem atentos para não afrouxar o laço e<br />

considerar a pre<strong>se</strong>nça dos pais em 3 ou 4 reuniões<br />

como pertença e participação na comunidade . ....<br />

Isso vai durar até que o povo esteja conscientil.ado".<br />

A ditadura do "flchArlo"<br />

Na Paróquia de Itarana-ES (Arquidioce<strong>se</strong> de<br />

Vitória), resolveu-<strong>se</strong>, a partir de 1966, adotar o<br />

esquema de Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Decidiu-<strong>se</strong><br />

que o Batismo <strong>se</strong>ria celebrado tão-somente<br />

na comunidade e exclusivamente de gente da<br />

comunidade "que tives<strong>se</strong> os compromissos"; os<br />

padrinhos só poderiam <strong>se</strong>r igualme nte pessoas da<br />

comunidade e que "cump ris<strong>se</strong>m também os compromissos".<br />

Entre os compro missos exigidos estava:<br />

"Conscientização num círculo bíblico <strong>se</strong>manal".<br />

A Primeira Comunhão foi retardada para os<br />

15 ou 16 anos, <strong>se</strong>ndo levado mais em consideração<br />

o compromisso assumido pelo candidato. Cada<br />

aluno do Catecismo tem sua ficha, "que é zelada<br />

com muita atenção".<br />

Aliás, o sistema de fichas está <strong>muito</strong> em uso em<br />

qua<strong>se</strong>_ to<strong>das</strong> as paróquias que, como a de Itarana,<br />

adotaram o regime ditatorial <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>. Cada membro da Comunidade tem uma<br />

ficha na qual são anotados os progressos ou<br />

retrocessos no engajamento comunitário, para<br />

acompanhamento pelos agentes pastorais e pelo<br />

Vigário. Em Itarana chama-<strong>se</strong> também "fichário"<br />

à equipe que cuida da atualização <strong>das</strong> fichas e que<br />

exerce a coordenação (na verdade um férreo<br />

controle) da Comunidade.<br />

Não é demais insistir o quanto tais dispositivos de<br />

controle dos fiéis <strong>se</strong> as<strong>se</strong>melham aos organismos de<br />

vigilância e repressão dos regimes totalitários.<br />

Os famosos "curslnhos preparat6rlos"<br />

Frei Marcos Sassatelli, dominicano da Arquidioce<strong>se</strong><br />

de Goiânia, informa que nas <strong>CEBs</strong> locais o<br />

batismo é administrado apenas duas ou três vezes<br />

por ano, quando a Comunidade acha que os<br />

interessados estão preparados; o mesmo <strong>se</strong> dá com<br />

o casamento. Na mesma Arquidioce<strong>se</strong> (como, de<br />

resto, por toda a parte) insiste-<strong>se</strong>, nos cursos de<br />

preparação aos Sacramentos ( os famosos . "cursi-<br />

130


Capítulo l - 3<br />

O sacramento augusto que introduz o homem na Santa<br />

Igreja Católica Apostólica Romana, é ministrado em ato<br />

es<strong>se</strong>ncialmente religioso. Para realçar sua importência,<br />

a Igreja <strong>se</strong>mpre lançou mi o de todos os recursos da arte.<br />

- Na foto. bela Pia Batismal da Igreja de Santa Cecllia,<br />

em Slo Paulo.<br />

nhos preparatórios"!), que <strong>se</strong> deve exigir mais <strong>das</strong><br />

pessoas, "principalmente em relação à vivência<br />

comunitária e à conscientização sobre o papel do<br />

cristão no mundo de hoje".<br />

Tem havido algumas reações a essa verdadeira<br />

ditadura eclesiástica, a essa verdadeira per<strong>se</strong>guição<br />

religiosa contra os refratários às <strong>CEBs</strong>. Mas são<br />

reações isola<strong>das</strong> e, na maior parte, de alcance<br />

apenas local, visto como a estrutura eclesiástica<br />

brasileira, em to<strong>das</strong> as suas instâncias, dá mão<br />

Contrastando com a tradição da Igreja. para batizar <strong>se</strong>us<br />

filhos hoje, os pais encontram cada vez maior dificuldade.<br />

têm que <strong>se</strong> sujeitar cada vez maia às exigências <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>. Estas <strong>se</strong> <strong>se</strong>rvem des<strong>se</strong> Sacramento de salvaçlo -<br />

como doa demais Sacramentos - para fina de conacientizaçlo.<br />

- Cartazes informam os fiéis sobre "curainhoa"<br />

de batizado e casamento.<br />

firme ao movimento <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>. <strong>As</strong>sim, ou os fiéis <strong>se</strong> submetem, ou ficam<br />

privados dos Sacramentos. E não são <strong>pouco</strong>s os<br />

que abandonam a Igreja e perdem a Fé ...<br />

Exemplo pungente<br />

Um exemplo pungente da eficácia dessas sanções<br />

religiosas, para obter a conscientização do<br />

indivíduo e <strong>se</strong>u engajamento no movimento comu-<br />

131


Depois de andar léguas para<br />

batizar o filho, um pobre pai é<br />

informado pelo Padre que,<br />

" ssm uma carta da Comunid•<br />

d11 ", ele não poderia batizar...<br />

A Comunidade exigiu<br />

um ano de participação nas<br />

reuniões, para dar a cartel. ..<br />

nitário, dessa pressão sobre o povo simples e <strong>se</strong>m<br />

defesa, é narrada por Frei Beto, a quem Dom<br />

Moacir Grechi encomendou um as<strong>se</strong>ssoramento<br />

pastoral na sua Prelazia do Acre e Purus. Conta o<br />

cúmplice do terrorista Carlos Marighela:<br />

"Um pai foi procurar o padre na casa paroquial,<br />

na cidade. 'O que quer o <strong>se</strong>nhor?', perguntou<br />

o padre. 'Vim pedir que o <strong>se</strong>nhor batize o meu<br />

filho'. 'Onde é que você mora?'. 'Moro no <strong>se</strong>ringai<br />

Montevidéo', respondeu o pobre homem. O padre<br />

olhou o <strong>se</strong>ringueiro e perguntou: 'Trouxe a carta<br />

do monitor de <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ringai, assinada pelos membros<br />

da comunidade?' O homem respondeu: 'Não<br />

<strong>se</strong>nhor. Nem sabia que tinha de trazer esta carta'.<br />

'Só posso batizar <strong>se</strong>u filho - explicou o padre -<br />

tendo nas mãos esta carta'.<br />

"O homem regressou ao <strong>se</strong>ringai. Procurou o<br />

monitor: 'Queria levar meu filho para o padre<br />

batizar. Você pode me dar a carta para o padre?' O<br />

monitor explicou: '<strong>As</strong>sinada só por mim, a carta<br />

não vale. Para valer, tem que ter pelo menos 5<br />

assinaturas. Mas o pessoal só assina depois que<br />

você e sua mulher já tiverem pelo menos I ano de<br />

participação na comunidade'. Ao fim des<strong>se</strong> ano de<br />

participação, o <strong>se</strong>ringueiro não precisou levar o<br />

filho ao padre: havia tomado consciência de que o<br />

batismo pelo monitor tinha o mesmo valor" -<br />

conclui Frei Beto.<br />

Mas não era só: o pobre <strong>se</strong>ringueiro tinha<br />

mudado sua mentalidade, sua visão da Igreja e do<br />

mundo.<br />

Referências: DIOCESE DE SÃO MATEUS-PAROQUIA DE BARRA DE s.<br />

FRA NC1sco-ES, Folha de prova, exame, ao Atestado de Residência<br />

Religiosa, mimeografado, s. d.; IDEM, Um Caminho(Normas<br />

e Instruções para lideres de Comunidades), dezembro 1978,<br />

mimeografado, pp. 6-9; IDEM, Atestado de Residência Religiosa<br />

- Folhas de Instruções aos responsáveis, mimeografado, s. d.,<br />

n.ºs 4 e 9; FREI ALBERTO LIBÃN EO CHRISTO (FREI BETO), O canto<br />

do galo - Relatório pastoral de uma visita à Prelazia do Acre e<br />

Purus, Secretariado da Pastoral Arquidiocesano-SP AR, Goiânia,<br />

mimeografado, p. 11 , transcrito da "Revista Eclesiástica<br />

Brasileira", junho 1977; Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> -<br />

Uma Igreja que nasce do povo - Encontro de Vitória-ES,<br />

Vozes, Petrópolis, 1975, pp. 38-41 , 52, 69-70, 79; FREI M ARcos<br />

SASSATELLI, Comunidade de Ba<strong>se</strong>, in "Revista da Arquidioce<strong>se</strong>",<br />

Goiânia, <strong>se</strong>tembro 1976, p. _ 633; " Revista da<br />

Arquidioce<strong>se</strong>", Goiânia, julho 1976, p. 493; CNBB-SuL II,<br />

Manual sobre as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Vozes<br />

Petrópolis, 2.• edição, 1977, pp. 72-73, 77; FREI BETo, Batism~<br />

de Sangue - Os dominicanps e a morte de Marighela<br />

Civilização Brasileira, Rio, <strong>1982</strong>.<br />

'<br />

132


A PRESENTA-SE neste capítulo, de modo<br />

esquemático e numa visão de conjunto, a evolução<br />

psicológica e doutrinária do indivíduo, desde o<br />

momento em que é atraíçlo para a CEB, até ao<br />

final do processo, quando já está completamente<br />

integrado no movimento, aceitando suas doutrinas<br />

e objetivos, e participando de suas atividades.<br />

Semelhante evolução bem poderia <strong>se</strong>r qualificada<br />

de "baldeação ideológica inadvertida", <strong>se</strong>gundo<br />

a expressão cunhada pelo Prof. Plínio Corrêa<br />

de Oliveira para designar certa técnica de persuasão<br />

implícita e sub-reptícia, utilizada pelo comunismo<br />

internacional. Com efeito, há não poucas<br />

analogias entre um processo e outro ( l ).<br />

a) Atração através da religião<br />

l) Aproveitando a religiosidade do nosso povo<br />

(sua prática religiosa, sua simpatia para com a<br />

religião e <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes), os ·agentes pastorais<br />

aproximam a pessoa, da Comunidade de Ba<strong>se</strong>,<br />

atraindo-a para uma prática mais intensa da vida<br />

religiosa.<br />

(1) PLINIO CoRRtA DE OLIVEIRA, Baldeação Ideológica<br />

Inadvertida e Diálogo, Editora Ve ra Cruz, São Paulo, 4.• ed .,<br />

1974.<br />

2) A participação num grupo religioso leva a<br />

pessoa a <strong>se</strong>ntir-<strong>se</strong> valorizada, amparada e orientada<br />

em meio ao anonimato e ao caos da vida<br />

moderna. Ela tende a abrir-<strong>se</strong>, a <strong>se</strong> tornar <strong>se</strong>mpre<br />

mais sociável nes<strong>se</strong> grupo que <strong>se</strong> lhe mostra<br />

propício e acolhedor.<br />

3) Essa tendência a maior sociabilidade dos<br />

neófitos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é exacerbada pela supervalorização<br />

dos aspectos "comunitários" não só da<br />

prática religiosa, como de to<strong>das</strong> as demais atividades<br />

(sociais, culturais, profissionais, familiares e<br />

até de lazer). Aos <strong>pouco</strong>s, vai-<strong>se</strong> formando uma<br />

"consciência comunitária". A opinião prevalente<br />

na comunidade passa a <strong>se</strong>r a regra do bem pensar,<br />

bem <strong>se</strong>ntir, bem agir.<br />

4) À medida que a pessoa <strong>se</strong> integra dessa<br />

forma na vida da Comunidade, ao mesmo tempo<br />

que vai participando <strong>das</strong> atividades e recebendo<br />

encargos, <strong>se</strong>us mecanismos de defesa e de censura<br />

vão <strong>se</strong> desmobilizando, e ela vai ficando menos ela<br />

mesma, e mais permeável às influências do grupo e<br />

de <strong>se</strong>us mentores. Dissolve-<strong>se</strong> nele.<br />

b) Doutrinação sub-reptfcia<br />

1) A desmobilização e permeabilização psicológica<br />

torna o indivíduo mais suscetível à doutrinação.<br />

133


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

1<br />

A TFP as descreve como são<br />

2) Esta não é feita de modo formal e explícito,<br />

mas de maneira sutil e sub-reptícia.<br />

3) Por um sistema de afirmações apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />

sob forma interrogativa, de debates discreta e jeitosamente<br />

orientados, e de dúvi<strong>das</strong> sutilmente<br />

levanta<strong>das</strong>, a pessoa vai tendo sua mentalidade<br />

alterada, suas certezas abala<strong>das</strong>, suas convicções<br />

gradualmente transforma<strong>das</strong>, <strong>se</strong>m que <strong>se</strong> dê conta<br />

disso. Vai respondendo <strong>se</strong>mpre mais, de acordo<br />

com o que lhe foi sugerido, e reagindo conforme o<br />

de<strong>se</strong>jado. Mas ela crê, não obstante, que tudo<br />

corresponde aos <strong>se</strong>us próprios pensamentos e<br />

<strong>se</strong>ntimentos e que chegou por si mesma às<br />

conclusões a que foi induzida.<br />

e) Critica da "religião antiga" e<br />

apre<strong>se</strong>ntação da Igreja-nova<br />

Em sua beleza simples, cheia de graça e de nobreza, a<br />

Capela do Outeiro da Glória, no Rio, repre<strong>se</strong>nta bem o<br />

tipo de religiosidade que as <strong>CEBs</strong> combatem: a elevaçlo<br />

da alma para o sublime, o sagrado, pera Deus.<br />

1) Dessa maneira vai-<strong>se</strong> fazendo a crítica da<br />

"religião antiga" e a apre<strong>se</strong>ntação da Igreja-nova.<br />

E o paciente vai tendo operada em si a mais<br />

profunda <strong>das</strong> transformações que <strong>se</strong> possa dar na<br />

mente humana: uma radical tra_rv,formação religiosa.<br />

De um antípoda ele passa para outro.<br />

2) Insinua-<strong>se</strong>-lhe aos <strong>pouco</strong>s, que ao contrário<br />

da Igreja-nova, a "Igreja antiga" não dava oportunidade<br />

ao povo: ele não era consultado, tudo era<br />

feito pelo Vigário, que era uma espécie de patrão<br />

na esfera religiosa.<br />

3) Estabelece-<strong>se</strong> assim um paralelo entre a<br />

Igreja "antiga" e a sociedade civil: em ambas o<br />

pobre não tinha "voz nem vez". Só os ricos, os<br />

poderosos, mandavam e eram ouvidos.<br />

4) Afirma-<strong>se</strong> que a Igreja "antiga" só <strong>se</strong> preocupava<br />

com o pecado individual, e não com a injustiça<br />

social. Por isso era alienante; impedia o<br />

"pequeno" de sair de sua situação de opressão<br />

134


Parte li<br />

nesta terra, acenando-lhe como ficha de consolação<br />

a felicidade no Céu ...<br />

5) Apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> então como <strong>se</strong>ndo a verdadeira<br />

Igreja, aquela que <strong>se</strong> empenha em "libertar"<br />

o homem de todo o mal, decorrência do pecado, já<br />

aqui nesta terra.<br />

d) Mudança da visão da religião<br />

I) Mostra-<strong>se</strong> então que a "verdadeira" prática<br />

da religião consistiria na luta contra o "pecado<br />

social", o "pecado institucionalizado" nas "estruturas<br />

de dominação"; que a "raiz de todo o<br />

pecado" <strong>se</strong> encontraria nas estruturas capitalistas,<br />

"fruto do egoísmo". <strong>As</strong>sim, não pode haver<br />

harmonia entre as clas<strong>se</strong>s, porque não pode haver<br />

harmonia entre o egoísta explorador e o pobre<br />

explorado, entre o oprimido e o opressor.<br />

Ser católico <strong>se</strong>ria aceitar essa concepção revolucionária<br />

da doutrina da Igreja e da prática <strong>das</strong><br />

virtudes cristãs individuais (relega<strong>das</strong> para o<br />

<strong>se</strong>gundo plano <strong>se</strong> não inteiramente olvida<strong>das</strong>), e<br />

praticar a fundo a grande virtude cristã por<br />

excelência, que consiste em <strong>se</strong>r revolucionário e em<br />

fazer na prática a revolução socialista e comunista.<br />

2) Es<strong>se</strong> teria sido o ensinamento do próprio<br />

Cristo, ao fazer a "opção pelos pobres", pelos<br />

"oprimidos", pelos "marginalizados". Ele <strong>se</strong> teria<br />

encarnado na luta de clas<strong>se</strong>s, para vencer o pecado<br />

e instaurar o Reino de Deus. Teria sido morto<br />

pelos imperialistas da época (os romanos) com a<br />

cumplicidade do clero (pontífices e doutores da<br />

Lei) e dos chefes do povo (Sinédrio), que não<br />

queriam perder <strong>se</strong>us privilégios.<br />

3) O Reino de Deus, embora só <strong>se</strong> realize em<br />

sua plenitude no fim dos tempos, começaria já,<br />

"aqui e agora", nesta terra, pelo estabelecimento<br />

de uma sociedade <strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s e <strong>se</strong>m dominações.<br />

Capítulo I - 4<br />

A fome não faz revolução,<br />

mas sim a conscientização<br />

O PRÓPRIO ex-<strong>se</strong>cretário-geral do PCB,<br />

Luís Carlos Prestes, dá-<strong>se</strong> bem conta da necessidade<br />

da conscientização política para levar o povo<br />

à revolução. Declarou ele em Porto Alegre: "O<br />

povo está cada vez mais para a esquerda em<br />

con<strong>se</strong>qüência da inflação, mas a fome não faz<br />

revolução e, sim, a conscientização política"<br />

("O Estado de S. Paulo", 27-12-80).<br />

O chefe comunista ensina assim a tantos<br />

magnatas do capitalismo que <strong>se</strong> prezam de<br />

"modernos" e marxistas, que a boa ordenação<br />

dos assuntos econômicos não basta para pôr<br />

dique à expansão comunista.<br />

e) Transformação <strong>das</strong> mentalidades<br />

pela consclentlzação<br />

I) Ao mesmo tempo que lhe é incutida uma<br />

religião nova, revolucionária, sua mentalidade é<br />

modificada mediante um processo de conscientização:<br />

procura-<strong>se</strong> provocar no indivíduo e no<br />

grupo a consciência <strong>das</strong> desvantagens de sua<br />

situação na sociedade e a necessidade de participar<br />

em sua alteração.<br />

2) Essa conscientização começa em geral com<br />

uma "pesquisa" na qual <strong>se</strong> faz o "levantamento da<br />

realidade" do bairro, da região etc. Entrevistando<br />

os moradores, colhendo dados, os participantes da<br />

135


O OI NHE IRO<br />

Ou <strong>se</strong>ja o CAPITAL. Da, vem<br />

o nome de SISTEI\A CAPITA­<br />

LISTA, que é o ti po de soci<br />

edade em que a gente vi-<br />

Um anticapitalismo virulento e <strong>se</strong>m matizes caracteriza<br />

as cartilhas e folhetos em uso nas Comunidades Eclesiai!l<br />

de Ba<strong>se</strong>.<br />

Comunidade vão-<strong>se</strong> conscientizando de sua situação<br />

de carência.<br />

3) Identifica<strong>das</strong> as carências, deficiências e<br />

irregularidades <strong>das</strong> <strong>quais</strong> a vida moderna está<br />

cheia, passa-<strong>se</strong> à "análi<strong>se</strong>" dessa situação. Os<br />

agentes pastorais, monitores ou líderes da Comunidade<br />

conduzem o "debate", por meio <strong>das</strong> perguntas<br />

conscientizadoras, para "descobrir" as "raízes<br />

do mal". Chega-<strong>se</strong> à conclusão de que to<strong>das</strong><br />

essas mazelas são fruto não de situações conjunturais<br />

<strong>muito</strong> complexas (como a grande concentração<br />

urbana, por exemplo), da insuficiência de<br />

recursos ou de circunstâncias adversas (rudeza do<br />

..<br />

'i: "<br />

'õ<br />

t'.)<br />

..<br />

...<br />

"õ<br />

t'.)<br />

.,<br />

"0<br />

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e .,<br />

u<br />

ti:<br />

u<br />

clima, pobreza do solo etc.), mas sim a con<strong>se</strong>qüência<br />

inevitável de um "sistema de pecado".<br />

4) A mentalidade do membro da Comunidade<br />

de Ba<strong>se</strong> torna-<strong>se</strong>, assim, tensa, reivindicativa,<br />

inconformada, revoltada contra sua situação. Passa<br />

de uma "consciência ingênua" para uma "consciência<br />

crítica"; ou <strong>se</strong>ja: "toma consciência" da<br />

"situação · de opressão" em que vive na atual<br />

sociedade de clas<strong>se</strong>s.<br />

5) Não basta, porém, "tomar consciência" de<br />

que é oprimido e querer sair dessa situação. É<br />

preciso empenhar-<strong>se</strong> pessoalmente na luta, pois<br />

"ninguém liberta ninguém", e cada um deve <strong>se</strong>r o<br />

"agente de sua própria libertação", começando por<br />

modificar-<strong>se</strong> a si mesmo, livrando-<strong>se</strong> de uma<br />

mentalidade "alienada". "conformista" .<br />

f) Mobilização para a ação<br />

reivindicativa e de protesto<br />

1) Uma vez detectada a carência local (falta de<br />

posto de saúde, transportes, água encanada, asfa<br />

lto etc.), tem início a mobilização para a ação.<br />

2) Esta ação ad extra constitui um poderoso<br />

fator de conscientização dos próprios membros<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como também de toda a população do<br />

bairro, a qual, por repercussão, vai adquirindo o<br />

mesmo estado de espírito tenso e reivindicativo<br />

dos membros da Comunidade, tornando-<strong>se</strong> facilmente<br />

manipulável.<br />

3) A luta pelas "reivindicações populares"<br />

altera por completo a vida dos integrantes <strong>das</strong><br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>. O comportamento dessas<br />

pessoas simples, que antes nunca tinham tido<br />

atuação além do âmbito de suas modestas relações<br />

familiares e de vizinhança, fica profundamente<br />

modificado. <strong>As</strong> numerosas concentrações, as<strong>se</strong>m-<br />

136


Parte li<br />

bléias de moradores, coleta de assinaturas, visitas<br />

a jornais; o contato com gente importante (advogados,<br />

políticos, autoridades); a oportunidade de<br />

<strong>fala</strong>r, de repetir de forma escachoante a enorme<br />

quantidade de slogans e fra<strong>se</strong>s-feitas que assimilaram,<br />

tudo isso tem o efeito de retirá-los - pelo<br />

menos quando fazem agitação social - do prosaísmo<br />

da vida quotidiana: <strong>se</strong>ntem-<strong>se</strong> agora valorizados,<br />

importantes, paladinos de uma causa<br />

político-religiosa.<br />

4) A ação é, pois, indispensável para a plena<br />

integração do indivíduo na CEB, para despertar<br />

nele o prurido contestatório <strong>das</strong> estruturas reli-<br />

Um discreto treinamento<br />

de ativistas<br />

''A A TIVIDADE de J. [Pe. José Mahon,<br />

criador da Pastoral Operária do ABC] não pára<br />

por aí, apoiando somente as <strong>CEBs</strong> e a Pastoral O­<br />

perária. Ele também é pároco, e não de uma só<br />

paróquia, mas de duas . .... Quando os operários<br />

<strong>das</strong> paróquias que J. assume aprendem a <strong>se</strong><br />

expressar · em público, a dirigir, e a avaliar<br />

reuniões ou celebrações, eles estão aprendendo<br />

(<strong>muito</strong>s deles já aprenderam) sua profissão de<br />

'<strong>se</strong>r gente'. E essa 'profissão' vão aplicá-la na<br />

<strong>As</strong>sociação de Amigos de Bairro, no sindicato<br />

ou na oposição sindical, e também, porque não,<br />

num partido político que esteja realmente nas<br />

mãos dos trabalhadores" (F1LH0s DA CARIDADE,<br />

Os Filhos da Caridade na Dioce<strong>se</strong> de Santo<br />

André, Oficinas <strong>das</strong> Edições L,oyola, São Paulo,<br />

1980, pp. 13-14).<br />

Capítulo 1- 4<br />

giosas e sociais, para manter acesa a "chama<br />

sagrada" da luta pela libertação de to<strong>das</strong> as<br />

opressões. Nesta altura, pode-<strong>se</strong> dizer, o processo<br />

tornou-<strong>se</strong> irreversíve l: dificilmente a vítima dele<br />

quererá e con<strong>se</strong>guirá voltar ao estado anterior, de<br />

simples operário, ordeiro lavrador, pacato chefe<br />

de família ou tranqüila dona-de-casa de subúrbio,<br />

preocupados unicamente com os mil probleminhas<br />

concretos que constituem a vida prosaica de todos<br />

os dias ...<br />

g) "Leitura consclentlzadora" da Blblla<br />

1) A ilusão de <strong>se</strong>rem paladinos de uma luta<br />

sagrada de caráter libertador é exacerbada nos<br />

membros <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> pelo<br />

verdadeiro fundamentalismo bíblico (2) que vige<br />

no movimento.<br />

(2) O fund11mentalismo bíblico é uma postura diante da Bíblia,<br />

que vê nos Livros Sagrados - entendidos antes de tudo<br />

em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido literal - a única e suprema fonte de todo o <strong>sabe</strong>r<br />

e de toda a autoridade. Inspira a maioria <strong>das</strong> <strong>se</strong>itas protestantes<br />

do tipo "pentecostalista" e de fundo milenarist11.<br />

Os milen11rist11s, interpreta ndo erradamente uma passagem<br />

do livro do A poca lip<strong>se</strong> (Ap. 20, l-6), esperam uma nova vinda<br />

de Nosso Senhor Jesus C risto, que reina ria direta mente, em<br />

pessoa, durante mil a nos, instaurando uma fe licidade completa<br />

na terra. Condenada como herética, a idéia do milênio é co ntinuamente<br />

retoma da por <strong>se</strong>itas religiosas ó u filosóficas (mesmo,<br />

a <strong>se</strong>u modo, <strong>se</strong>itas a téias como é o caso do ma rxismo), as qua is<br />

põem sua espera nça num estágio de perfeição d a humanidade<br />

q ue e liminaria toda dor, todo sofrimento, fazendo reinar um~<br />

fe licidade perfeita sobre a terra (cfr. Les Religions, verbetes<br />

Fondamenralisres e Milenarisme; JULES MONNEROT, Sociologie<br />

de la Révolurion, 2.eme panie, Les millenium sur la rerre et<br />

les terreurs de l'h isroire, Fayard, Paris, l 969; PE. GEORGES M.<br />

M. CoTI1ER OP. Marxisme et messianisme, in "Ateísmo e D iálogo",<br />

Bolletino del Segretariato per i non credenti, Città de!<br />

Vaticano, <strong>se</strong>ttembre 1974).<br />

137


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

2) Com efeito, a Bíblia vai ocupando cada vez<br />

mais papel preponderante na vida <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

vindo a constituir-<strong>se</strong> no único ponto de referência,<br />

na instância última e soberana, olvidado e posto<br />

de lado o Magistério da Igreja.<br />

3) Nos "círculos bíblicos", "cultos dominicais",<br />

"reuniões de reflexão" e outras, adota-<strong>se</strong> o<br />

método chamado "integração Bíblia-vida": toma<strong>se</strong><br />

um texto bíblico e faz-<strong>se</strong> a comparação com a<br />

situação atual; ou o inverso: parte-<strong>se</strong> de um fatõ de<br />

hoje e procura-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>melhança com algum episódio<br />

bíblico. Subjacente a es<strong>se</strong> método está o<br />

princípio de que Deus Se revela do mesmo modo<br />

tanto na Bíblia quanto nos acontecimentos; de que<br />

é Palavra de Deus tanto o que está na Sagrada<br />

Escritura quanto o que acontece agora. Então a<br />

Bíblia precisa <strong>se</strong>r entendida à luz dos acontecimentos<br />

atuais, e os acontecimentos atuais dev~m<br />

<strong>se</strong>r interpretados à luz da Bíblia.<br />

4) Conclusão des<strong>se</strong> princípio é que <strong>se</strong> Deus<br />

inspirou e iluminou os Patriarcas, Profetas e<br />

outros personagens bíblicos, do mesmo modo Ele<br />

inspira e ilumina os homens de hoje. Essa posição<br />

fundamentalista leva <strong>muito</strong>s integrantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

a mitificarem suas vi<strong>das</strong>, identificando-<strong>se</strong> com os<br />

personagens bíblicos e considerando-<strong>se</strong>, como eles,<br />

investidos de uma missão sagrada e guiados<br />

diretamente por Deus.<br />

5) Isto conduz, naturalmente, ao mais completo<br />

livre-exame e abre caminho para to<strong>das</strong> as<br />

divagações - portanto também para to<strong>das</strong> as<br />

aberrações doutrinárias e desvios de personalidade.<br />

ln concreto no caso <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> gera um<br />

fanatismo messiânico e milenarista.<br />

6) A esta distorção acresce a "leitura dialética<br />

da Bíblia": as Sagra<strong>das</strong> Escrituras devem <strong>se</strong>r li<strong>das</strong><br />

a partir de uma posição classista - o "lugar social<br />

do pobre", isto é, a partir da "ótica do oprimido".<br />

Ensinar perguntando,<br />

convencer sugerindo ...<br />

O CERNE da conscientização consiste em<br />

fazer com que as pessoas tenham a impressão<br />

de que são elas que estão chegando por si<br />

mesmas às conclusões ou posições que lhes são<br />

sugeri<strong>das</strong>, e não percebam que estão tendo sua<br />

mentalidade, temperamento ou opinião modificados<br />

por sugestões vin<strong>das</strong> de fora. Um dos<br />

artifícios mais eficazes para alcançar tal resultado<br />

consiste em introduzir sob forma interrogativa<br />

o assunto que <strong>se</strong> quer tratar e, através de<br />

questões sucessivas, ir conduzindo os espíritos<br />

para os pontos de vista do agente de pastoral.<br />

<strong>As</strong> perguntas, na verdade, já contêm implicitamente<br />

sua resposta, ou ao menos elementos<br />

dela, indicando o tom, o rumo que ela deve<br />

tomar. A interrogação está qua<strong>se</strong> que apenas na<br />

forma, pois de fato as perguntas apre<strong>se</strong>ntam<br />

afirmações, suscitam dúvi<strong>das</strong>, levantam suspeitas<br />

etc. Tudo sob o pretexto de procurar obter o<br />

"con<strong>se</strong>nso grupal", apontado como <strong>se</strong>ndo a<br />

resultante <strong>das</strong> opiniões dos membros do grupo.<br />

Na verdade, es<strong>se</strong> con<strong>se</strong>nso grupal não é <strong>se</strong>não o<br />

objetivo previamente estabelecido pelo agente<br />

pastoral, introduzido sob forma de perguntasafirmações.<br />

O con<strong>se</strong>nso grupal constitui um dos<br />

elementos de pressão psicológica mais poderosos<br />

sobre os membros de um grupo, pois em <strong>se</strong>u<br />

nome faz-<strong>se</strong> os recalcitrantes aceitarem determinado<br />

ponto de vista ou resolução, sob pena de<br />

<strong>se</strong> marginalizarem. Es<strong>se</strong> artifício é <strong>muito</strong> utilizado<br />

nas técnicas de Dinâmica de Grupo, nas<br />

<strong>quais</strong> os agentes pastorais são altamente treinados.<br />

138


Parte li<br />

Outrora Deus inspirou os judeus oprimidos na<br />

luta contra os egípcios opressores, libertando-os<br />

do cativeiro mediante a atuação conscientizadora<br />

de Moisés. Hoje também, o povo (os pobres, os<br />

marginalizados) está oprimido pelo cativeiro <strong>das</strong><br />

estruturas capitalistas. A missão da Igreja, como a<br />

de Moisés, é a de conscientizar o povo para que<br />

ele, uma vez despertado, lute pela sua libertação,<br />

destruindo as estruturas de pecado do regime<br />

capitalista.<br />

7) <strong>As</strong>sim, <strong>se</strong>ria o próprio Deus quem inspiraria<br />

diretamente toda a agitação político-social<br />

promovida pelas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

o que faz com que elas não recuem diante de<br />

nenhuma lei ou autoridade, civil ou religiosa. -<br />

Com efeito, que lei ou pessoa, por mais augusta<br />

que <strong>se</strong>ja, pode querer interpor-<strong>se</strong> à vontade do<br />

próprio Deus, manifestada nas <strong>CEBs</strong>?<br />

h) Papel "legltlmador" do Bispo<br />

Capítulo I - 4<br />

1) Em geral ao ingressarem no movimento, os<br />

fiéis não <strong>se</strong> dão conta dos erros e desvios dele.<br />

Entretanto, à medida que o processo conscientizador<br />

avança, o <strong>se</strong>nso católico leva-os a perceber<br />

as discrepâncias entre o que ouvem e pre<strong>se</strong>nciam,<br />

e a doutrina católica tradicional. Muitos abandonam<br />

desde logo o movimento, tornando-<strong>se</strong>, em<br />

não <strong>pouco</strong>s casos, hostis a ele. Alguns, desconfiados,<br />

<strong>se</strong> não rompem abertamente, tendem a<br />

retrair-<strong>se</strong>. Outros, enfim, perplexos, procuram<br />

conciliar as novidades com o que aprenderam no<br />

catecismo. Pode instalar-<strong>se</strong> neles um conflito interno,<br />

uma situação de angústia, ou até de de<strong>se</strong>spero.<br />

2) Para fazer frente a <strong>se</strong>melhantes situações, o<br />

movimento dispõe de poderoso recurso de legiti-<br />

Conscientizada, u­<br />

m a oradora <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> dis<strong>se</strong>mina em<br />

torno de si a conscientiza<br />

ç ão. -<br />

Manifestação do<br />

Movimento Contra<br />

a Carestia em<br />

São Paulo, em 1978


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... d~ <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

11<br />

Antes de organizar uma revolução,<br />

é preciso aprender a organizar um pique-nique,,<br />

o PE. DOMINIQUE Barbé, padre-operário<br />

francês, coordena a Pastoral Operária da Região<br />

Episcopal de Osasco e integra a da Arquidioce<strong>se</strong><br />

de São Paulo. Grande propulsor de<br />

<strong>CEBs</strong> em bairros operários, traça o retrato de<br />

uma delas - a de Vila Yolanda - em um livro<br />

traduzido para vá rios idiomas. No texto abaixo,<br />

extraído do mencionado livro, o Pe. Barbé<br />

deixa claro como as atividades mais correntes,<br />

inclusive a Liturgia, podem <strong>se</strong>r utiliza<strong>das</strong> como<br />

eficiente adestramento para a atuação revolucionária:<br />

,.<br />

sário, evidentemente, para defender uma causa<br />

justa. . ... Luís, Renato e Francisco dirigem a<br />

missa há <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s. Não é certo que <strong>se</strong> aprendem<br />

a <strong>fala</strong>r e a ler em público quando estão na<br />

Igreja, o farão com mais de<strong>se</strong>nvoltura em outras<br />

ocasiões? Isso pode <strong>se</strong>r-lhes de grande utilidade".<br />

E mais adiante: "Com o mesmo grupo<br />

de jovens descobrimos que antes de pensar em<br />

organizar a revolução, era preciso <strong>sabe</strong>r organizar<br />

um pique-nique. Querem a revolução ... .<br />

nós lhes propomos um pique-nique e .... juntos<br />

descobrimos que <strong>se</strong> qui<strong>se</strong>rem ter no dia de<br />

amanhã responsabilidades políticas, tomar parte<br />

nas mudanças de estruturas sociais, levar a<br />

bom termo uma greve justa, é preciso passar<br />

humildemente pela organização de um piquenique.<br />

Ê assim que <strong>se</strong> aprende a paciência, a<br />

longanimidade, o domínio de si e a estratégia da<br />

ação" (DoMINIQUE BARBI:, En E/ Futuro, Las<br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974,<br />

pp. 58-59).<br />

"Depois de ter estudado, durante três me<strong>se</strong>s,<br />

todos os textos da ressurreição, uma equipe<br />

redige o folheto de que <strong>fala</strong>mos, que vem a <strong>se</strong>r a<br />

sínte<strong>se</strong> de suas descobertas. A ninguém escap'a<br />

que, <strong>se</strong> são capazes de compor o texto de um<br />

jornalzinho, aprenderam ao mesmo tempo a<br />

escrever uma petição, uma carta, uma reivindicação<br />

coletiva, no dia em que isto for necesmação:<br />

o aval dos Bispos tranqüiliza as pessoas<br />

quanto à catolicidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sua fidelidade à<br />

Igreja. Pois <strong>se</strong> radicou no espírito de nosso povo,<br />

como corolário aliás gratuito da infalibilidade<br />

papal, a convicção da infalibilidade do Bispo em<br />

sua união com o Papa. De onde o fiel imagina que<br />

haveria de sua parte impiedade e até dúvida na Fé,<br />

<strong>se</strong> não aceitas<strong>se</strong> como indiscutível tudo quanto o<br />

Bispo pensa. E até tudo quanto ele faz. De onde, <strong>se</strong><br />

o Bispo dá aval às <strong>CEBs</strong>, fá-lo em consonância<br />

com o pensamento e as diretrizes do Papa. E<br />

portanto o fiel pode aceitar como católico tudo o<br />

que as <strong>CEBs</strong> dizem, mesmo que em oposição ao<br />

ensinamento tradicional da Igreja. Pois o Bispo<br />

não tem lapso em sua fidelidade ao Papa. E este<br />

não erra ...<br />

3) É, pois, a crença na infalibilidade da Igreja,<br />

que leva o indivíduo a <strong>se</strong> engajar num processo<br />

140


Parte li<br />

que, <strong>se</strong>m isso, reJe1taria. Daí a importância da<br />

pre<strong>se</strong>nça do Bispo não só no começo do processo,<br />

mas em todo o <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>nvolvimento - pessoalmente<br />

ou por interpostos agentes pastorais, que <strong>se</strong><br />

<strong>sabe</strong> gozarem de sua confiança. Igual papel<br />

exercem, a fortiori, órgãos de cúpula do episcopado:<br />

CNBB, CELAM etc., ao apoiarem as <strong>CEBs</strong>.<br />

1) Um método cientificamente<br />

estudado e aplicado<br />

l) Todo este método é estudado cientificamente<br />

e elaborado a partir <strong>das</strong> experiências da<br />

Ação Católica, do "método Paulo Freire" ("pedagogia<br />

libertadora"), e outras técnicas psicológicas<br />

e sociais, por peritos altamente especializados,<br />

<strong>se</strong>ndo aplicado por pessoal <strong>muito</strong> bem treinado.<br />

2) Embora es<strong>se</strong> método possa <strong>se</strong>r aplicado em<br />

nível individual, ele é concebido para <strong>se</strong>r utilizado<br />

sobretudo em grupos.<br />

3) Sua grande eficácia, aliás, está em <strong>se</strong>r<br />

aplicado a grupos: um número suficientemente<br />

grande, de modo a permitir a pressão do grupo<br />

sobre o indivíduo, impedindo que <strong>se</strong> ressaltem as<br />

individualidades, e <strong>se</strong> imponham aos demais; mas<br />

Capítulo / - 4<br />

não tão grande, de forma a impedir que o indivíduo<br />

<strong>se</strong> mantenha alheio ao processo, isolando-<strong>se</strong><br />

dentro do grupo.<br />

4) Mediante dinâmicas de grupo e outras técnicas<br />

psico-sociais, o indivíduo vai-<strong>se</strong> tornando cada<br />

vez mais dependente do conjunto e incapaz de<br />

pensar, querer ou agir por si mesmo. Vai-<strong>se</strong><br />

tornando cada vez mais mero fragmento do grupo<br />

e menos ele próprio. <strong>As</strong>sim, o grupo todo caminha<br />

junto, dando os passos decisivos que cada indivíduo,<br />

isoladamente, talvez não des<strong>se</strong>. O dinamismo<br />

coletivo arrasta o indivíduo, mas ele não <strong>se</strong> dá<br />

conta disso e, ao fim da caminhada, julgará ter<br />

andado com as próprias pernas ...<br />

5) <strong>As</strong> etapas do processo não são estanques,<br />

mas <strong>se</strong> interpenetram. O processo alimenta-<strong>se</strong> a si<br />

mesmo: na medida em que a pessoa vai-<strong>se</strong><br />

azedando temperamentalmente, cresce nela o prurido<br />

de reivindicações e protestos; na medida em<br />

que tal prurido aumenta, ela <strong>se</strong> torna mais aberta à<br />

luta de clas<strong>se</strong>s; na medida em que <strong>se</strong> atira à luta de<br />

clas<strong>se</strong>s toma-<strong>se</strong> mais propensa a aceitar as transformações<br />

doutrinárias, e assim por diante. A<br />

"conscientização" de<strong>se</strong>ncadeia a ação e a ação<br />

reforça a "conscientização".<br />

141


144<br />

• Padres. freiras. agentes pastorais e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

aplaudem os expoentes mundiais da Teologia da libertação<br />

e os chefes da guerrilha nicaragüen<strong>se</strong>. durante a<br />

"Noite Sandinista", no teatro da Universidade Católica<br />

de São Paulo. Em destaque: D. Casaldáliga veste o uniforme<br />

de guerrilheiro com que foi pre<strong>se</strong>nteado na ocasião.


D • MOACIR GRECHI, Bispo-Prelado do<br />

Acre e Purus e um dos principais mentores nacionais<br />

do movimento <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong>, definiu as <strong>CEBs</strong> como "a parte<br />

concreta da Teologia da Libertação". E D. Valdir<br />

Calheiros, Bispo de Volta Redonda-RJ, outro de<br />

<strong>se</strong>us próceres ( organizador do 1. 0 Encontro Latino-Americano<br />

e presidente do 4. 0 Encontro<br />

Nacional de <strong>CEBs</strong>), considera as Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> como "a Teologia da Libertação posta em<br />

prática". Frei Leonardo Boff, por <strong>se</strong>u lado, afirma<br />

que a vinculação entre Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> e Teologia da Libertação não é casual, mas<br />

necessária. "<strong>As</strong> comunidades eclesiais e a teologia<br />

da libertação - diz ele - são dois momentos de<br />

um mesmo prõcesso de mobilização do povo", as<br />

primeiras repre<strong>se</strong>ntando "a prática da libertação<br />

popular" e a <strong>se</strong>gunda "a teoria dessa prática".<br />

<strong>CEBs</strong>-TL, um nexo que não é casual<br />

Não é, pois, mera coincidência que os principais<br />

mentores <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

em nosso País <strong>se</strong>jam precisamente os mais notórios<br />

repre<strong>se</strong>ntantes nacionais da Teologia da<br />

Libertação-TL. Basta citar, entre outros, os irmãos<br />

Frei Leonardo e Frei Clodovis Boff, Frei<br />

•<br />

Beto, Frei Carlos Mesters, Frei Gilberto Gorgulho,<br />

o Pe. J. B. Libânio SJ e o Pe. Eduardo<br />

Hoornaert.<br />

Também não foi por simples casualidade que o<br />

IV Congresso Internacional Ecumênico de Teologia<br />

reuniu em Taboão da Serra-SP, em fevereiro<br />

de 1980, os principais expoentes mundiais da TL,<br />

especialmente os latino-americanos (Pe. Gustavo<br />

Gutiérrez, Pe. Jon Sobrino, Pe. Pablo Richard,<br />

Pe. Ronaldo Mufioz, pastor J. Míguez-Bonino)<br />

para - juntamente com <strong>se</strong>us colegas nacionais e<br />

militantes de <strong>CEBs</strong> - debater o tema Eclesiologia<br />

<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

Teologia da Libertação,<br />

doutrina rellglosa que explica<br />

a atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

A Teologia da Libertação é, portanto, o<br />

conteúdo da doutrina religiosa <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (1). Tal doutrina religiosa modela<br />

todo o programa <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sua atuação externa e<br />

(1) Alguém poderia objetar não <strong>se</strong>r admissível que as<br />

doutrinas da Teologia da Libertação circulem nas <strong>CEBs</strong><br />

porque a TL foi condenada por João Paulo II em Puebla.<br />

Em primeiro lugar, cabe responder que a vi nculação entre<br />

<strong>CEBs</strong> e Teologia da Libertação, aqui apontada, é afirmada por<br />

145


<strong>As</strong> C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TF P as descreve como são<br />

sua vida interna; dá a justificação moral a suas<br />

metas de igualitarismo religioso, social, político e<br />

econômico; confere impulso e força de impacto à<br />

atuação dos corifeus e mentores maiores e menores<br />

do movimento, desde Cardeais e Bispos até<br />

agentes pastorais leigos e simples monitores de<br />

<strong>CEBs</strong> perdi<strong>das</strong> pela imensidão de nosso território.<br />

Teologia da Libertação e Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> constituem, convém acentuar, dois<br />

momentos de um mesmo processo: a teoria e a<br />

prática da "libertação popular". A TL esclarece a<br />

atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, de modo que atividades<br />

aparentemente <strong>se</strong>m gravidade, inócuas ou até<br />

louváveis, <strong>se</strong> vistas sob a luz da TL, ganham novo<br />

significado. A TL aponta o horizonte para onde<br />

devem caminhar as <strong>CEBs</strong> e estas realizam o<br />

programa da TL.<br />

<strong>As</strong>sim, para formar uma idéia clara da verdadeira<br />

fisionomia <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> e para compreender a fundo a sua atuação,<br />

torna-<strong>se</strong> indispensável conhecer, ainda que nas<br />

suas linhas gerais , os princípios básicos da Teologia<br />

da Libertação.<br />

Da Redenção sobrenatural,<br />

A "libertação" polltlca<br />

A Teologia da Libertação põe inteiramente na<br />

sombra (quando não despreza de todo) o ponto<br />

central da libertação operada por Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo, qual <strong>se</strong>ja, o resgate da dívida da<br />

Humanidade para com a justiça divina ofendida,<br />

efetuado por meio de sua Paixão e Morte na Cruz.<br />

Resgate que só Ele poderia realizar, uma vez que a<br />

ofensa feita ao Deus infinito, pelo pecado original,<br />

só poderia <strong>se</strong>r resgatada pelo próprio Deus.<br />

Portanto, nossa libertação da tirania do demônio,<br />

do pecado e da morte eterna - com to<strong>das</strong> as<br />

con<strong>se</strong>qüências de ordem social, terrena - foi uma<br />

libertação sobrenatural, um dom gratuito da mi<strong>se</strong>ricórdia<br />

divina, à qual os homens devem associar<strong>se</strong><br />

por suas boas obras.<br />

mentores nacionais do movimento <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>,<br />

em declarações contemporâneas ou posteriores a Puebla. Por<br />

outro lado, os erros doutrinários e desvios de conduta são<br />

denunciados no pre<strong>se</strong> nte trabalho com apoio em abundante<br />

documentação, provinda <strong>das</strong> fontes mais idôneas, ou <strong>se</strong>ja,<br />

escritos dos principais ideólogos do movimento e textos<br />

elaborados pelas próprias <strong>CEBs</strong>.<br />

Ora, os erros a í encontrados foram bem caracterizados e<br />

condenados por João Paulo II , no discurso de inauguração da<br />

Conferência de Puebla, como mostrou o Prof. Plinio Corrêa de<br />

Oliveira em lúcidos artigos publicados na imprensa diária nos<br />

me<strong>se</strong>s de março e abril de 1979.<br />

Ademais, a afirmação de que a TL foi condenada por João<br />

Paulo em Puebla é categoricamente co ntestada por prelados<br />

altamente colocados na cúpula do órgão que <strong>fala</strong> em nome dos<br />

Srs. Bispos brasileiros: D. Ivo Lorsc heiter, presidente da CN BB<br />

e D. Luciano Mendes de Almeida, <strong>se</strong>cretário, além de outros<br />

Prelados, como D. Cândido Padim, de Bauru.<br />

A declaração de D. Ivo Lorscheiter (a qual, diga-<strong>se</strong> de<br />

passagem, não prima pela lógica) foi feita a Frei Betto, o qual<br />

indagou <strong>se</strong> o Pontífice havia condenado a Teologia da<br />

Libertação. O presidente da CNBB foi enfático: "De jeito<br />

nenhum. O Papa apenas chamou a arenção para o risco de<br />

alguns abusos. A Teologia da Liberraçíio já foi incorporada à<br />

dourrina oficial da Igreja (sic!), arravés da Evangelii Nuntiandi,<br />

onde Paulo VI, <strong>se</strong>m negá-la (sic!) rambém adverte sobre alguns<br />

exageros que podem <strong>se</strong>r comeridos em <strong>se</strong>u nome". Não é fácil<br />

entender a afirmação de que um Pa pa incorporou determinada<br />

teologia à doutrina da Igreja, apenas porque não a negou (sic!).<br />

e além disso fe z advertências contra possíveis exageros em<br />

nome dela. Mas, o que vem ao caso é que D. Ivo (como<br />

também D. Luciano e D. Padim) conteste que a TL tenha sid o<br />

condenada.<br />

O que importa em admitir que ela tem li vre curso, não só<br />

nas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, como em todos os<br />

a mbientes católicos. De resto, basta entra r em uma li vra ri a<br />

religiosa para constatar que é precisamente o que ocorre. O u<br />

então, folhear documentos da própria CNBB ...<br />

146


Parte li Capítulo li - 1<br />

Frei Leonardo Boff<br />

11<br />

0 que propomos não é teologia<br />

no marxismo#<br />

mas marxismo na teologia"<br />

- Textos -<br />

FREI LEONARDO BoFF: "A teologia da libertação<br />

.... relê e interpreta a realidade social<br />

conflitiva. E aqui aflora o problema: importa<br />

conhecer de modo o mais científico possível<br />

esta realidade/ .... A opção política, ética e<br />

evangélica prévia em favor dos pobres contra a<br />

sua pobreza ajuda a escolher aquele instrumental<br />

que faça justiça aos reclamos de dignidade<br />

por parte dos explorados. Neste momento de<br />

racionalidade e objetividade, o teólogo pode <strong>se</strong><br />

utilizar do aporte da teoria marxista da história<br />

. .... O que propomos não é teologia dentro<br />

do marxismo, mas marxismo (materialismo<br />

histórico) dentro da teologia" ( I ).<br />

PE. ALFONSO GARCIA RuBio (analisando a<br />

TL): "Uma vez que o marxismo é ciência, do<br />

ponto de vista cristão não há problema algum<br />

em adotá-lo" (2).<br />

PE. JuAN Luis SEGUNDO SJ: "O marxismo<br />

pretende evidenciar a mentira social, e para isso<br />

elaborou um instrumental analítico científico. É<br />

algo de que deve regozijar-<strong>se</strong> o cristão, como<br />

deve alegrá-lo o fato deste instrumental <strong>se</strong>r<br />

empregado também para manifestar a ideologização<br />

da própria Igreja e da reflexão teológica.<br />

Purifica-<strong>se</strong>, assim, a Igreja, coisa de que<br />

ela <strong>se</strong>mpre tem necessidade" (3).<br />

PE. FRANCISCO T ABORDA SJ: "O meu ideal é<br />

o que está no evangelho, a fraternidade e o<br />

amor, mas o evangelho não me dá o instrumental<br />

científico de análi<strong>se</strong> da realidade . .... A<br />

análi<strong>se</strong> marxista da realidade é uma aquisição<br />

<strong>das</strong> ciências sociais" (4).<br />

Lmz ALBERTO GôMEZ DE SouzA: "Para a<br />

teologia da libertação não existe, atualmente,<br />

outra reflexão teórica melhor que o marxismo,<br />

que está in<strong>se</strong>rido na práxis da realidade" (5).<br />

(1) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil",<br />

6-4-80.<br />

(2) Teologia da Libertação: Política ou Profetismo?,<br />

Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 243.<br />

(3) Resumido pelo PE. A. G. RueIO, op. cit., p. 227.<br />

(4) "Jornal do Brasil", 24-8-80.<br />

(5) Apud PE. RoGER VEKEMANS SJ, Expansión mundial<br />

de la Teología de la liberación latinoamericana, in Socialismo<br />

y Socialismos en América Latina, Secretariado General<br />

dei CELAM, Bogotá, 1977, p. 276.<br />

147


A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve com o são<br />

A concepção marxista adotada pela Teologia da Libertação,<br />

e corrente nas <strong>CEBs</strong>, vê no "pobre" o verdadeiro<br />

"messias" e "redentor" da humanidade. - Este "crucifixo",<br />

estampado pelo "Boletim da CPT" (Comissão<br />

Pastoral da Terra, ligada à CNBB), está inteiramente de<br />

acordo com tal concepção.<br />

_.,<br />

A TL, deixando de lado a noção do resgate,<br />

transforma a Redenção (do latim Redemptio, que<br />

quer dizer resgate) , numa libertação como outra<br />

qualquer, à qual <strong>se</strong> pode chegar por outros meios<br />

que não o pagamento de um débito contraído. De<br />

onde, o papel de Nosso Senhor Jesus Cristo ficar<br />

inteiramente esvaziado de sua importância fundamental,<br />

o mesmo acontecendo com o caráter da<br />

gratuidade do dom recebido.<br />

A libertação assume para a TL um caráter<br />

eminentemente político - e não sobrenatural -<br />

<strong>se</strong>gundo o qual o próprio Cristo é visto apenas<br />

como um líder popular que foi morto ao tentar<br />

sacudir o jugo do Império Romano e o dos chefes<br />

da Sinagoga. Do mesmo modo a ação dos<br />

Profetas, especialmente de Moisés, são apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />

como lutas políticas para libertar o povo <strong>das</strong><br />

opressões. A causa de to<strong>das</strong> as opressões, que até<br />

hoje dominam o povo, <strong>se</strong>gundo a TL, são as<br />

desigualdades políticas, econômicas, sociais e inclusive<br />

religiosas. Uma vez elimina<strong>das</strong> essas desigualdades,<br />

<strong>se</strong> con<strong>se</strong>guirá libertar afinal o homem,<br />

e nisso consiste a verdadeira redenção da Hunanidade.<br />

Marxismo e luta de clas<strong>se</strong>s<br />

Transformado o conceito de redenção, a TL<br />

passa a utilizar uma filosofia que está inteiramente<br />

de acordo com a nova concepção. Ou <strong>se</strong>ja, é<br />

no marxismo que ela vai buscar uma nova<br />

explicação para a salvação dos homens e os meios<br />

estratégicos para. con<strong>se</strong>gui-la. O Pe. Battista Mondin,<br />

professor na Pontifícia Universidade Urbaniana<br />

de Roma, comenta: "O princípio arquitetônico<br />

[da TL] é constituído pelo mistério da<br />

libertação da Humanidade realizado por Cristo: o<br />

princípio hermenêutico [interpretativo] é a filo-<br />

]48


Parte li<br />

Cap ítulo li - /<br />

sofia marxista da libertação . .. .. E a estratégia para<br />

con<strong>se</strong>guir a libertação é a proposta por Marx, a<br />

luta de clas<strong>se</strong>s".<br />

Uma vez adotados os novos conceitos, utilizada<br />

a estratégia da luta de clas<strong>se</strong>s, quem é que<br />

substitui a Cristo, como o redentor da Humanidade?<br />

O proletariado: "messias" e "redentor"<br />

A resposta de Marx é clara: o único elemento<br />

capaz de salvar os homens da situação de opressão<br />

em que <strong>se</strong> encontram na sociedade de clas<strong>se</strong>s,<br />

fundada na propriedade privada e na livre iniciativa,<br />

é a clas<strong>se</strong> do proletariado. Segundo o autor<br />

de O Capital, o proletariado resulta de um sistema<br />

de opressão, no qual a riqueza de uns é fruto<br />

necessário da exploração de outros. Como ele<br />

nega a legitimidade do lucro, a riqueza só pode <strong>se</strong>r<br />

obtida mediante o roubo dos trabalhadores, a<br />

exploração de <strong>se</strong>u trabalho pelo mecanismo da<br />

mais-valia.<br />

Para Marx, no momento em que essa clas<strong>se</strong>, o<br />

proletariado, empobrecida, despojada, marginalizada,<br />

<strong>se</strong> unir e quebrar o jugo dos exploradores,<br />

ela destruirá o próprio mecanismo da exploração,<br />

fonte do egoísmo que, <strong>se</strong>gundo ele, é a propriedade<br />

privada. Com isso, o proletariado não<br />

somente <strong>se</strong> libertará a si mesmo, mas libertará,<br />

redimirá, os próprios opressores.<br />

O "pobre" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ê o<br />

"proletariado-redentor" de Marx<br />

O marxismo considera, portanto, o proletariado<br />

como o verdadeiro "messias", conforme têm<br />

demonstrado vários autores, entre os <strong>quais</strong> o<br />

Os sofrimentos inenarráveis de Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo em 1ua Paixlo e Morte na Cruz, preço de noa 18<br />

Redençlo, estio expre1ao1 com a veneraçlo e o carinho<br />

da piedade criatl tradicional neste belo crucifixo, venerado<br />

na Sede principal da TFP, em Slo Paulo.<br />

149


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Karl Marx<br />

O mito da "ciência,, marxista<br />

A TEOLOGIA da Libertação afirma partir<br />

dos dados da realidade para a sua elaboração<br />

teológica, ao inverso da Teologia tradicional,<br />

que parte dos dados da Revelação.<br />

Entretanto, argumentam, o Evangelho não<br />

oferece nenhum critério científico para a análi<strong>se</strong><br />

da realidade. Logo, é preciso buscá-lo nas<br />

ciências sociais. E concluem que o método<br />

científico mais apto para tal análi<strong>se</strong> é aquele<br />

oferecido pelo materialismo histórico: a análi<strong>se</strong><br />

marxista.<br />

Ora, pretender que o marxismo <strong>se</strong>ja uma<br />

ciência é, em rigor de lógica, um absurdo. Pois<br />

como "provas" do acertado de suas conclusões<br />

ele só apre<strong>se</strong>nta suas próprias premissas teóricas.<br />

Por outro lado, os fundamentos doutrinários<br />

do marxismo não são dedutíveis por via<br />

lógica, a partir de pressupostos bem demonstrados,<br />

mas são mera decorrência de afirmações<br />

gratuitas, toma<strong>das</strong> como <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>m dados revelados.<br />

Como a partir do absurdo tudo é<br />

possível, uma vez aceitas como váli<strong>das</strong> essas<br />

afirmações, pode-<strong>se</strong> construir todo um sistema<br />

com aparência de correção lógica, no qual umas<br />

afirmações vão <strong>se</strong>rvindo de "prova" e de<br />

sustentação às outras.<br />

O Pe. Baldomero Ortoneda, jesuíta espanhol,<br />

auxiliado por uma equipe e orientado por<br />

especialistas, deu-<strong>se</strong> ao trabalho de analisar do<br />

ponto de vista da filosofia e <strong>das</strong> ciências<br />

naturais, os princípios básicos do marxismoleninismo.<br />

Ao cabo de 700 páginas de comparação<br />

<strong>das</strong> afirmações (mais de 15 mil) de cerca<br />

de 900 autores comunistas, com os dados da<br />

biologia, da química, da física, da geologia e<br />

<strong>das</strong> matemáticas, além da filosofia, constata a<br />

existência de perto de 400 erros de caráter<br />

científico, 600 erros de raciocínio e 200 erros<br />

filosóficos. O que desqualifica totalmente qualquer<br />

sistema (cfr. BALDOMERO 0RTONEDA, Principias<br />

Fundamentales dei Marx ismo-Leninismo,<br />

México-Madrid, 1974).<br />

Por con<strong>se</strong>guinte, a análi<strong>se</strong> marxista da<br />

realidade não é <strong>se</strong>não a adaptação da realidade<br />

aos pressupostos apriorísticos do materialismo<br />

histórico. <strong>As</strong>sim, a realidade não é investigada<br />

<strong>se</strong>gundo a objetividade dos fatos, mas<br />

interpretada e adaptada às conclusões prévias<br />

da doutrina.<br />

150


Parte II<br />

dominicano suíço Fr. Georges M.M. Cottier e o<br />

sacerdote espanhol Pe. Gregorio Rodríguez de<br />

Yurre.<br />

Ora, nos escritos dos teólogos da libertação e<br />

em documentos emanados <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ou a elas<br />

destinados, o modo como é apre<strong>se</strong>ntado o "pobre"<br />

(ou o "povo", já que nes<strong>se</strong> contexto um equivale<br />

ao outro), identifica-o inteiramente com a concepção<br />

marxista do "proletariado". Portanto, do<br />

"messias" e "redentor"!<br />

- Como <strong>se</strong> opera essa rotação de conceitos?<br />

Ainda aqui, pela adoção do marxismo.<br />

A Teologia da Libertação toma o conceito de<br />

"pobre" de grande significado bíblico, e o reduz a<br />

uma categoria meramente sócio-política, a de<br />

"clas<strong>se</strong> oprimida", própria à análi<strong>se</strong> marxista,<br />

<strong>se</strong>gundo a qual a sociedade <strong>se</strong> divide em burguesia<br />

e proletariado, opressores e oprimidos. Dessa<br />

forma, o "pobre" da TL equivale ao "proletariado"<br />

de Marx.<br />

A "clas<strong>se</strong> oprimida": "Povo de Deus",<br />

destlnatãrlo da mensagem evangélica<br />

Outro conceito bíblico interpretado do mesmo<br />

modo é o de "povo de Deus". Ele deixa de<br />

constituir uma realidade religiosa, para <strong>se</strong> transformar<br />

numa categoria meramente sociológica,<br />

entendida igualmente num <strong>se</strong>ntido classista, equivalente<br />

também a proletariado (o "povo", por<br />

excelência, <strong>se</strong>gundo Marx). O mesmo <strong>se</strong> dá com<br />

tantos outros conceitos.<br />

É ao pobre - tomado nessa acepção - que <strong>se</strong><br />

destina a mensagem evangélica, lê-<strong>se</strong> em documentos<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e escritos de teólogos da libertação.<br />

Não, porém, em virtude de suas disposições<br />

pessoais, de abertura, de aceitação dessa mensagem,<br />

mas unicamente em razão de sua situação de<br />

Capíwlo II - /<br />

"despojamento", que o identifica com o proletariado<br />

da concepção marxista.<br />

Es<strong>se</strong> "pobre", es<strong>se</strong> "povo", entendido como<br />

"clas<strong>se</strong> oprimida", é pura e simplesmente tomado<br />

como <strong>se</strong>ndo o "Povo de Deus". Ou <strong>se</strong>ja, como a<br />

própria Igreja. "Se não <strong>se</strong> é povo, como <strong>se</strong>r povo<br />

de Deus?", pergunta-<strong>se</strong> num relatório para o 2. 0<br />

Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong>.<br />

Des<strong>se</strong> modo, "ou a libertação vem pelo povo,<br />

ou não há libertação", sintetiza a Mensagem de<br />

Natal de 1978 da Dioce<strong>se</strong> de Goiás.<br />

Nem podia <strong>se</strong>r de outra forma: não é o "povo",<br />

o "pobre", o "oprimido", o novo "r,1essias", o novo<br />

"redentor", colocado pela Teologia da Libertação<br />

no centro do mistério da sal~ação?<br />

A "Igreja-que-nasce-do-povo", igreja<br />

marxista da Teologia da Libertação<br />

Conferido ao pobre es<strong>se</strong> caráter messiânico,<br />

compreende-<strong>se</strong> que <strong>se</strong> fale em "uma Igreja que<br />

nasce do povo" (slogan dos dois primeiros encontros<br />

nacionais de <strong>CEBs</strong>): o "pobre", o "povo",<br />

enquanto "redentor" da humanidade, substitui-<strong>se</strong><br />

a Nosso Senhor Jesus Cristo. Por con<strong>se</strong>guinte, a<br />

Igreja, em vez de nascer do lado aberto do<br />

Salvador morto na Cruz, nasce do sofrimento e da<br />

luta des<strong>se</strong> "povo-pobre-redentor", éle sua "práxis<br />

libertadora".<br />

O que faz inteiramente <strong>se</strong>ntido com todos os<br />

pressupostos da Teologia da Libertação, com sua<br />

adoção da análi<strong>se</strong> marxista.<br />

<strong>As</strong>sim, não há como fugir à conclusão: a<br />

"Igreja-que-nasce-do-povo", as <strong>CEBs</strong>, não são<br />

<strong>se</strong>não a "Igreja" marxista da Teologia da Libertação.<br />

E sua finalidade não pode <strong>se</strong>r outra <strong>se</strong>não<br />

"ajudar a construir uma sociedade mais igualitária,<br />

cuja matéria possa tornar mais viável e con-<br />

151


A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

ereto o Reino de Deus neste mundo", na expressão<br />

de Frei L. Boff. Ou <strong>se</strong>ja, buscar a sociedade<br />

<strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s da utopia comunista.<br />

A linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido<br />

- Mas como fazer aceitar pelos católicos es<strong>se</strong><br />

novo conteúdo de antigos conceitos?<br />

Pela utilização de um artifício <strong>muito</strong> sutil: a<br />

·linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido.<br />

Os teólogos da libertação, os mentores de<br />

<strong>CEBs</strong> e progressistas em geral, empregam uma<br />

linguagem aparentemente bíblica, cheia de citações<br />

escriturísticas, que são toma<strong>das</strong>, pelo leitor<br />

menos atento, em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido natural e próprio,<br />

quando na realidade têm uma significação marxista<br />

camuflada.<br />

É, em grande medida, graças ao emprego dessa<br />

linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido, que tais eclesiásticos e<br />

agentes pastorais têm levado <strong>muito</strong>s fiéis a concordarem<br />

com propostas aparentemente sadias, mas<br />

de fato revolucionárias, que certamente teriam<br />

rejeitado <strong>se</strong> tives<strong>se</strong>m entendido o verdadeiro <strong>se</strong>ntido<br />

da linguagem que ouviam.<br />

Referências: Livros - PE. BATTISTA MoNDIN, Os Teólogos da<br />

libertação, Ed ições Paulinas, 1980; P E. A. G. R ue10, Teologia<br />

da Libertação: Política ou Profe1ismo?, Edições Loyola, São<br />

Paulo, 1977; PE. GusTAVO GuTlfRREZ, Teologia da Libertação,<br />

Vozes, Petrópolis, 1975; FREI LEONARDO BoFF OFM, Jesus<br />

Cristo Libertador, Vozes, Petrópolis, 1974, 4.ª edição; IDEM,<br />

Teologia desde e/ cautiverio, lndo-America n Press Service,<br />

Bogotá, 1975; FREI CLODov1s BoFF OSM, Comunidade Eclesial<br />

- Comunidade Política, Vozes, Petrópolis, 1978; PE. ÁLVARO<br />

BARREIRO SJ, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e a Evangelização<br />

dos Pobres, Edições Loyola, São Paulo, 1979; PE. GR E­<br />

GORIO RODRIGUEZ DE YuRRE, E/ Marxismo, BAC, Madrid,<br />

1979, 2 volumes. Artigos - FR EI LEONARDO BoFF OFM, Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e Teologia da Libertação, in "Convergência"<br />

{Revista da Conferência dos Religiosos do Brasil),<br />

Frei Carlos Mesters<br />

é o principal divulgador<br />

do método de<br />

reflexão bíblica empregado<br />

nas Comunidades<br />

Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>.<br />

<strong>se</strong>tembro 1981; IDEM, Marxismo na Teologia, in "Jornal do<br />

Brasil", 6-4-80; ID EM, Igreja Povo que <strong>se</strong> Liberta, in "Revista<br />

Eclesiástica Brasileira", <strong>se</strong>tembro 1978; PE. J. B. L1BÃN10 SJ,<br />

Congresso Internacional Ecumênico de Teologia. in "Revista<br />

Eclesiástica Brasileira", março 1980; PE. J . KERKHOFs SJ. Las<br />

comunidades de ba<strong>se</strong> en la lglesia , in "Boletin Pro Mundi<br />

Vita" (Bruxelas), <strong>se</strong>tembro 1976; PE. G. D EELEN SSCC. La lglesia<br />

ai enwentro dei pueblo en América Latina: las comunidades<br />

de ba<strong>se</strong> en Brasil, "Boletín Pro Mundi Vita", abril/junho<br />

1980; PE. GEORGES COTTIER OP, Marxisme e1 Messianism e, in<br />

"Ateísmo e Dialogo" (Bolletino dei Segretariato per i non<br />

credenti, Città deli Vaticano), <strong>se</strong>ttembre 1974; MARIA Jos~<br />

SARNO, Pobre, Teologia e Libertação. in "O São Paulo",<br />

2-10-8 1; HUGO <strong>As</strong>SMANN , A memória dos pobres como revelação<br />

de Deus, in "O São Paulo", 10-4-8 1; "The Ch urch of the<br />

Poor" - Latin America's comunidades de ba<strong>se</strong> keep growing.<br />

"Time", May 7, 1979; "Movimento". 29-1-79; Natal: A Igreja<br />

vo lra a <strong>fala</strong>r de jusriça, in "Jornal da Tarde". São Paulo,<br />

25-12-78; PUNIO Co RRéA DE OLIVEIRA, A mensagem de Puebla:<br />

noras e comenrários, in "Folha de S. Paulo", 26-3; 7, 14, 26-4 e<br />

19-5-79. Documentos - Dowmentojinal do Congresso Internacional<br />

Ecumênico de Teologia (Congresso de Taboão da<br />

Se"rra-SP), in "Revista Eclesiásti ca Brasileira", março 1980;<br />

Carta aos Cristãos que vivem e celebram sua fé nas Comunidades<br />

Cristãs Populares dos paí<strong>se</strong>s e regiões pobres do<br />

mundo {Congresso de Taboão da Serra-SP), ibidem.<br />

]52


Parte II<br />

Cap ítulo II -<br />

I<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> criticam<br />

a Santa Igreja e pregam<br />

uma "/greja-No"!fa"<br />

igualitária, herética e<br />

subversiva - Textos<br />

NO 1. 0 ENCONTRO Nacional <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (Vitória-1975), <strong>fala</strong>-<strong>se</strong> na<br />

"Igreja nova que nasce no meio do povo, principalmente<br />

através <strong>das</strong> comunidades eclesiais de<br />

ba<strong>se</strong>", e procura-<strong>se</strong> "delinear <strong>se</strong>u perfil", descobrir<br />

suas "características futuras".<br />

Essa "Igreja- Nova" é incompatível com a verdadeira<br />

Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo - a<br />

Santa Igreja Católica Apostólica Romana - , a<br />

qual é apre<strong>se</strong>ntada pelas <strong>CEBs</strong> e pela Teologia da<br />

Libertação como uma Igreja "opressora" e "alienadora".<br />

Os textos abaixo - extraídos de documentos<br />

de encontros de <strong>CEBs</strong> ou de obras e declarações de<br />

"teólogos da libertação" - <strong>se</strong>rvem para ilustrar o<br />

modo injurioso como é tratada a Igreja tradicional<br />

e para apre<strong>se</strong>ntar algumas características dessa<br />

'' Igreja-nova-que-nasce-do-povo·'.<br />

A. Critica da Igreja tradicional<br />

A "Igreja de ontem"<br />

era alienante<br />

2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório<br />

<strong>das</strong> Comunidades de Ribeirão Bonito e Cascalheira<br />

- Prelazia de S. Felix-MT): "A Igreja de<br />

ontem, o povo julgava que os padres eram donos<br />

da salvação. Ela tem culpa de nós não enxergar e<br />

não ter uma vida melhor. .. .. Antigamente os<br />

padres pregavam o <strong>se</strong>rmão e rezavam o terço<br />

inteiro sozinho. E <strong>se</strong>mpre querendo <strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> o<br />

povo sabia as orações. .... Espancavam, queria<br />

surrar o povo e o colocar em sujeição. Eles eram<br />

ricos como os tubarões e não tinham comunidade<br />

com o povo. Naquele tempo o camarada era atrasado<br />

e os padres eram sabidos. O povo era besta e<br />

153


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

os padres iam <strong>se</strong> prevalecendo da bestagem do<br />

povo. Eles não davam orientação" (1).<br />

Luta revolucionãria para<br />

libertar-<strong>se</strong><br />

de uma religião alienante<br />

Pe. Gustavo Gutiérrez: "O homem latinoamericano<br />

ao tomar parte em sua própria libertação,<br />

.... na lura revolucionária liberta-<strong>se</strong> de<br />

algum modo da tutela de uma religião alienante<br />

que tende à con<strong>se</strong>rvação da ordem" (2).<br />

A "Igreja tradicional"<br />

não testemunha<br />

a palavra e a vida de Jesus<br />

2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem<br />

da Igreja de Goiás - Dioce<strong>se</strong> de Goiás Velho):<br />

"Perante o · Evangelho, a Igreja tradicional <strong>se</strong><br />

apre<strong>se</strong>nta como um terreno que precisa mesmo de<br />

destaca. Continua funcionando, mas parece que<br />

alguma coisa impede que testemunhe a palavra e a<br />

vida de Jesus" (3).<br />

Afastava de Jesus<br />

"O tronco é Jesus Cristo e só ele. Muitos<br />

querem outro tronco, ou <strong>se</strong>ja o padre ou <strong>se</strong>ja<br />

algum santo. E na Igreja tradicional, os padres<br />

agiam de um modo que favorecia este engano" (4).<br />

E opressora e impede a<br />

caminhada da "Igreja-Nova"<br />

3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Conclusões<br />

do Relatório <strong>das</strong> Comunidades do Estado de São<br />

Paulo): "A Igreja antiga está ao lado do capitalismo.<br />

O domínio da Igreja tradicional impede a<br />

caminhada da nova, porque é bem diferente. A<br />

Igreja tradicional não acredita no povo, tem medo<br />

do povo, medo de perder o trono. Regime ditatorial:<br />

tudo é decidido de cima e o povo simplesmente<br />

acompanha".<br />

"Sinais de escravidão: uma Igreja que concentra<br />

toda a estrutura de poder: político, econômico<br />

e cultural .... não fez uma opção pelo pobre ....<br />

apre<strong>se</strong>nta · a leitura do Evangelho a partir do<br />

opressor; transfere a Deus os problemas ( Deus<br />

quer assim ... ; <strong>se</strong>mpre haverá pobres ... ; quanto<br />

mais <strong>se</strong> sofre aqui ... ;) ... . <strong>se</strong> julga a única capaz de<br />

ensinar a verdade" (5).<br />

Prega um Deus alienador<br />

3. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> (Relato dos<br />

participantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>): [Quem está adubando a<br />

raiz do mal]: "É a própria religião que existe e que<br />

bota umas coisas na cabeça do pessoal. Uma fama<br />

que foi colocada na cabeça do pessoal de como é<br />

Deus: um Deus alienador" (6).<br />

B. Perfil da Igreja Nova <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>-Teologia da Libertação<br />

Nasce através <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

I.º Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório do<br />

Encontro): "O objetivo do encontro foi delinear o<br />

perfil e descobrir as características futuras da<br />

Igreja nova, que nasce no meio do povo, principalmente<br />

através <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong>" (7).<br />

154


Parte II<br />

Capítulo li -<br />

I<br />

E uma "Igreja-povo",<br />

·que não fica cega<br />

fitando o Evangelho<br />

2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem<br />

da Igreja de Goiás): "Nossa Igreja é para quem<br />

quer e não para quem pode". "E do povo e não do<br />

dinheiro". "Está com o povo e não por cima do<br />

povo". "É um compromisso com a vida e não com<br />

a religião". "Não fica cega fitando o Evangelho,<br />

mas vê sua claridade nas coisas da vida". "Enxerga<br />

como o pecado <strong>se</strong> arruma na organização da<br />

sociedade e <strong>sabe</strong> que só vencerá na mudança".<br />

"Uma Igreja que <strong>se</strong> coloca decididamente a<br />

<strong>se</strong>rviço do povo aos <strong>pouco</strong>s <strong>se</strong> transforma numa<br />

Igreja-povo". "Se não <strong>se</strong> é povo, como <strong>se</strong>r povo de<br />

Deus?" (8).<br />

Uma Nova Igreja, <strong>se</strong>m<br />

religião, <strong>se</strong>m hierarquia,<br />

com outro evangelho<br />

2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Comunidades<br />

de Ribeirão Bonito e Cascalheira - Prelazia<br />

de São Félix do Araguaia): "Hoje a Igreja volta ao<br />

tempo de Cristo, está mostrando o verdadeiro<br />

caminho cristão. .. .. Estamos aqui formando a<br />

Nova Igreja". "Deus não quer a terra, nem o céu<br />

para uns <strong>pouco</strong>s só. Tubarão, egoísta, não tem vez<br />

no reino de Deus. Quem tudo quer para si está<br />

fora do reino de Deus". "A glória do Pai é assim:<br />

ninguém mais alto, ninguém mais baixo".<br />

"Prescindir da religião e partir mais para a fé .<br />

Prescindir de nossa religião e partir mais para a<br />

mensagem central de evangelho: Anúncio de Deus<br />

como pai, anúncio da salvação. Confronto de<br />

nosso evangelho com o evangelho do povo em fa<strong>se</strong><br />

de antigo testamento" (9).<br />

Outra Igreja,<br />

que <strong>se</strong> compromete com<br />

a mudança de estruturas,<br />

econômica, social e polltica<br />

3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório<br />

<strong>das</strong> Comunidades do Estado de São Paulo): "Outra<br />

Igreja [a Igreja-Nova <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>] é a que <strong>se</strong><br />

compromete com a mmlança de estruturas econômica,<br />

social e política; alimenta a fé, que dá<br />

coragem e fundamento para a luta (ex.: grupos<br />

CPT, CIMI ... ); revê a própria história e relê a<br />

Bíblia através da situação do oprimido" (10).<br />

Organizar os trabalhadores,<br />

missão da Igreja<br />

3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório do<br />

Encontro): "Os Padres ligam a Igreja com os<br />

pobres . .... A gente tá refletindo sobre o Evangelho,<br />

sobre Política e tentando organizar os<br />

trabalhadores (Goiás)" ( 11).<br />

Igreja e movimento popular,<br />

uma s6 realidade<br />

Congresso de Taboão da Serra (Documento<br />

Final): "Na luta do povo, a Igreja redescobre<br />

<strong>se</strong>mpre mais a sua identidade e a sua missão<br />

próprias. - A corrente cristã no interior do<br />

movimento popular e a renovação da Igreja a<br />

partir de sua opção pelos pobres são um movimento<br />

eclesial único e específico. Este movimento<br />

eclesial vai configurando diferentes tipos de comunidades<br />

eclesiais de ba<strong>se</strong> onde o povo encontra um<br />

155


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> f ala. p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve co n:o são<br />

espaço de resistência, de luta e de esperança frente<br />

à dominação. A li os pobres celebram sua f é em<br />

Cristo libertador e descobrem a dimensão p olítica<br />

da caridade" ( 12).<br />

Igreja: povo<br />

a <strong>se</strong>rviço do povo<br />

Frei Gilberto Gorgulho OP: "A Igreja simplesmente<br />

é um povo a <strong>se</strong>rviço do próprio povo. A pre<strong>se</strong>nça<br />

e ação pastoral da Igreja alcança uma dimensão<br />

pastoral que de<strong>se</strong>mboca no campo p olítico" ( 13).<br />

Função da "Igreja-Nova":<br />

acabar com o<br />

medo do comunismo<br />

Pe. Ernesto Cardenal (Pergunta do repórter<br />

Peter Klein: Isto quer dizer que o trabalho de um<br />

cristão ou de um padre no Terceiro Mundo deve<br />

<strong>se</strong>r transmitir o conhecimento do comunismo ao<br />

povo, ti rar-lhe o medo do comunism o?): "R . Sim.<br />

O p roblema é acabar com o medo diante do comunism<br />

o; <strong>se</strong>r um elem ento de mudança e de reforma.<br />

e ajudar na construção do socialism o na A m érica<br />

Latina, até alcançar a p az e realizar a construção<br />

do socialism o. Isto f eito, p artir para a construção<br />

da sociedade.final comunista, isto é, a fundação do<br />

'reino do amor'" (14).<br />

Papel do Episcopado:<br />

favorecer a Revolução<br />

Pe. Alfonso Garcia Rubio: " O que espera a<br />

Teologia da libertação da Hierarquia eclesiástica.?<br />

Que <strong>se</strong> dessolidarize ef etivamente do sistema imperante,<br />

e que admita, de fato, no <strong>se</strong>u interior.<br />

op ções claramente revolucionárias . .. .. Na grande<br />

maioria dos paí<strong>se</strong>s latino-americanos ... . significa<br />

normalmente a op ção p olítica de esquerda uma<br />

op ção contra o sistema dominante, considerado<br />

com o opressor e anti-humano" ( 15).<br />

«A missão dá Igreja é pregar o comunismo»<br />

O pensam enlo de Er11esto Carde,uu- padre, poeta. guerrilheiro e. agoru<br />

m iniJtro da &J·,CIJ+(J() do lfOt.ro g 01Xmo da N icanigJUJ.<br />

1 ,1 11! , n ,1 1 MI p r lmr1r ;t tard a do r,1, 1àu r<br />

1.11, , ,1 11· • u l u ç 1 u ~<br />

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l.lltra h,ra -lntt'rtssa •m t' 1 hlt ral ura a<br />

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lia mt)ma n111n t ,ra l Omo 1n1rrr.ua a pots 11<br />

,m.. proll'l;u


Parte li<br />

Sacramentos: ações<br />

libertadoras e celebrações<br />

conscieniizadoras nas <strong>CEBs</strong><br />

Pe. Juan Luis Segundo SJ (resumido pelo Pe.<br />

A. G. Rubio): "Os sacramentos, ou constituem<br />

'uma celebração conscientizadora e motivadora da<br />

ação libertadora do homem na história' ou contribuem<br />

para a desumanização do homem . .... <strong>As</strong>sim<br />

como em toda verdadeira conscientização há<br />

<strong>se</strong>mpre uma dimensão comunitária, dado que o<br />

diálogo é absolutamente indispensável (ninguém<br />

<strong>se</strong> conscientiza nem <strong>se</strong> liberta sozinho), assim<br />

também uma prática sacramental libertadora tem<br />

necessidad€. de comunidades eclesiais reais, comunidades<br />

de ba<strong>se</strong>" (16).<br />

2. 0 Encontro <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem da Igreja<br />

de Goiás): "O batismo só tem <strong>se</strong>ntido <strong>se</strong> for<br />

recebido dentro de uma comunidade . .... Reparamos<br />

que o batismo era desperdiçado por toda<br />

parte . .... Fomos examinar os outros sacramentos<br />

e deu no mesmo resultado. .... 'Terá <strong>se</strong>ntido<br />

celebrar o sacramento numa sociedade que tem<br />

por lei o capital e o lucro, o que leva a desprezar as<br />

pessoas?' .... A Igreja de Goiás resolveu diminuir a<br />

celebração dos sacramentos para dar mais tempo e<br />

atenção à evangelização" (17).<br />

Novo Santo:<br />

o militante polltico<br />

Frei Leonardo Boff OFM: "Nas comunidades<br />

de ba<strong>se</strong> criou-<strong>se</strong> a situação para um outro tipo de<br />

santidade, aquela do militante. Mais que lutar<br />

contra as próprias paixões (é uma luta permanente),<br />

luta-<strong>se</strong>, politicamente, contra a espoliação e<br />

geração de mecanismos de acumulação excludente<br />

"Eu me sinto, vestido<br />

de guerrilheiro,<br />

como me poderia<br />

<strong>se</strong>ntir paramentado<br />

de Padre", diz D.<br />

Casaldéliga, ao vestir<br />

o unifonne guerrilheiro<br />

com que foi<br />

pre<strong>se</strong>nteado na<br />

" Noite Sandinista",<br />

em São Paulo.<br />

e no esforço de construir relações mais comunitárias<br />

e equilibra<strong>das</strong>" ( 18).<br />

"Em contraposição ao santo cristão - um<br />

ob<strong>se</strong>rvante, um asceta - nas ba<strong>se</strong>s surge outro<br />

tipo: o militante, solidário às lutas do povo,<br />

surgem santos operrírios, de gravata" ( 19).<br />

NOTA":<br />

(1) "SEDOC", novembro 1976, col. 565.<br />

(2) Teologia da libertação, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 67.<br />

(3) "SEDOC", novembro de 1976, col. 501.<br />

(4) Idem, col. 518.<br />

(5) Idem, outubro 1978, col. 329.<br />

(6) Idem, col. 433.<br />

(7) Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>: uma Igreja que nasce<br />

do povo, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 11.<br />

(8) "SEDOC", novembro 1976, cols. 515, 523.<br />

(9) Idem, cols. 565, 567.<br />

(10) Idem, outubro 1978, col. 329.<br />

(11) Ibidem, col. 419.<br />

(12) Documento Final do Congresso Ecumênico Internacional<br />

de Teologia, n.ºs 20 e 21.<br />

(13) "Folhetim", 28-1-79, p. 6.<br />

(14) "O Estado de S. Paulo", 19-1-79.<br />

( 15) Teologia da libertação: Política ou Profetismo?. Edições<br />

Loyola, São Paulo, 1977, p. 31.<br />

(16) Idem, p. 157.<br />

(17) "SEDOC", novembro 1976, cols. 501-502.<br />

( 18) Características da Igreja encarnada nas clas<strong>se</strong>s subalternas,<br />

in "SEDOC', janeiro-fevereiro 1979, col. 841.<br />

(19) "O Estado de S. Paulo", 29-2-80.<br />

157


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

A nova religião da 11 lgreja-Nova":<br />

"O mau ladrão também é Deus"<br />

- Textos -<br />

Mistura de concepções heréticas modernistas<br />

com as idéias-força marxistas de luta de clas<strong>se</strong>s e<br />

de domínio da economia (o modo de produção)<br />

sobre to<strong>das</strong> as demais atividades do homem,<br />

inclusive a religiosa, a Teologia da Libertação -<br />

doutrina que anima o movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> - acaba <strong>se</strong>ndo praticamente uma<br />

transposição do marxismo em termos religiosos. A<br />

coletânea de textos que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue - extraídos de<br />

documentos ou de obras e declarações de próceres<br />

dessa corrente - apre<strong>se</strong>nta diferentes aspectos<br />

dessa nova religião.<br />

Deus: o homem. lnterpretaçlo<br />

marxista da Santlsslma Trindade<br />

Pe. Gustavo Gutiérrez: "No encontro com os<br />

homens dá-<strong>se</strong> nosso encontro com o Senhor . .... É<br />

conhecida esta poesia de León Felipe, da qual<br />

<strong>muito</strong> gostava 'Che' Guevara . .... 'Amo-te, Cristo/<br />

. . .. Tu nos ensinaste que o homem é Deus ... / Um<br />

pobre Deus crucificado como tu / e aquele que<br />

está à tua esquerda no Gólgota / o mau ladrão /<br />

também é Deus!' " (1).<br />

D. Alfonso López Trujillo (referindo-<strong>se</strong> à<br />

Teologia da Libertação): "Conhecem-<strong>se</strong> ensaios de<br />

uma 'Teologia Trinitária marxista', nos <strong>quais</strong> as<br />

Cf]tegorias: política, economia, sociedade, <strong>se</strong>rvem<br />

de fundamento e de manifestação <strong>das</strong> p essoas<br />

Trinitárias ... " (2).<br />

Palxlo de Cristo: palxlo do povo, vitima<br />

do capltallsmo e da Igreja tradlclonal<br />

Pe. Antonio Haddad SSS: "Mas hoje a Igreja<br />

tenta mostrar que essa morte de Cristo tão<br />

chorada e lamentada na 6. ª f eira da Paixão é<br />

também a morte do povo. O povo que morre nas<br />

crueldades da luta diária pela sobrevivência.<br />

E <strong>se</strong> o Cristo continua morrendo hoje e o povo<br />

também .. . quem são os assassinos?<br />

• Mata o Cristo e o povo quem apóia os<br />

empresários do A BC e não ouve os operários.<br />

• Mata o Cristo e o povo quem quer manter o<br />

sistema capitalista brasileiro.<br />

• Mata o Cristo e o povo quem continua<br />

defendendo uma Igreja tradicionalista desligada<br />

dos problemas do mesmo povo. . ...<br />

E o povo deve descobrir neste dia de luto para<br />

a humanidade que esta morte ainda vai <strong>se</strong>r fonte<br />

de nova vida como foi a do Cristo. É o sangue do<br />

operário, do marginalizado e do injustiçado que<br />

vai fazer desta terra brasileira um País onde aqueles<br />

que são maioria tomarão o <strong>se</strong>u destino nas<br />

mãos" (3).<br />

Frei Leonardo Boff OFM: "Tenho para mim<br />

que a morte de Jesus foi humana, provocada pelos<br />

antagonismos que havia em sua época" (4).<br />

Demõnlo: o lucro, o capltallsmo<br />

Pe. Juan Luis Segundo SJ: "Quando <strong>se</strong> batiza<br />

uma criança, o ritual prescreve algumas orações<br />

para expulsar o demônio da criança .... porque<br />

não ensaiar uma terceira possibilidade: chamar<br />

pelo nome e sobrenome es<strong>se</strong> demônio que <strong>se</strong> quer<br />

158


Parte li<br />

expulsar? .... Se <strong>se</strong> trata de uma criança pobre,<br />

porque não dizer: 'Sai daí espírito imundo do<br />

capitalismo' . .... Se <strong>se</strong> trata de um rico, porque não<br />

dizer: 'Sai desta criança, espírito imundo do<br />

lucro' " (5).<br />

Socorro Guerrero (Repre<strong>se</strong>ntante <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da<br />

Nicarágua no Congresso de Taboão da Serra): "O<br />

capitalismo é o pior, o maior inimigo. É aquilo que<br />

chamamos o diabo, na Bíblia. Porque o diabo em<br />

si, não existe, mas o capitalismo sim, existe" (6).<br />

Pecado Original: a propriedade privada<br />

Congresso de Teologia de Taboão da Serra<br />

(Documento final): "O Deus em que acreditamos é<br />

Capírulo li - 1<br />

o Deus da Vida, da liberdade e da justiça. Ele criou<br />

'a terra e tudo que nela existe' a <strong>se</strong>rviço do homem<br />

e da mulher, para que eles vivam, comuniquem a<br />

vida e transformem esta terra em lar para todos os<br />

<strong>se</strong>us filhos. O pecado do homem que <strong>se</strong> apropria<br />

da terra e assassina <strong>se</strong>u irmão não destrói o<br />

desígnio de Deus (Gn. 2-4) (1). Por isso Ele chama<br />

Abraão para <strong>se</strong>r o pai de um povo (Gn. 12ss) e<br />

( 1) A passagem citada do documento final do Congresso de<br />

Taboão da Serra pretende apre<strong>se</strong>ntar um resumo da história da<br />

criação, da ruptura da aliança entre Deus e o homem pelo<br />

pecado original, e a renovação dessa aliança por meio de<br />

Abraão e Moisés. Ora, a única referência ao pecado que<br />

rompeu a aliança entre Deus e o homem vem nas palavras: "O<br />

pecado do homem que <strong>se</strong> apropria da terra e assassina <strong>se</strong>u<br />

Para Marx. o prole·­<br />

tariado carrega a<br />

cruz de todos os<br />

sofrimentos da humanidade,<br />

<strong>se</strong>ndo<br />

por isso o verdade<br />

iro "redentor"<br />

doa homens. Esta<br />

ilustraçlo de uma<br />

"Via-Sacra" estampada<br />

em "O<br />

Slo Paulo" - órglo<br />

da Arquidioce<strong>se</strong><br />

paulistana -<br />

mostra como, introduzida<br />

pela Teologia<br />

da Libertaçlo.<br />

essa concepçlo<br />

tornou-<strong>se</strong> corrente<br />

nos meios católicos.<br />

OfAOP.'IULO<br />

------------- - -- -<br />

Experiências pastorais na Se1nana Santa<br />

A ~ de Bo,. ~ Hr- o 1f'Olw,tu,o cb ho>Qllol, ~ Ir,<br />

~ ~i;"~~ (~:.::-:,·:~~,. , ... 11-<br />

W .wno yio.liXfO dJ lr1tf11.t.. dl;i~<br />

do o p,,cuoo da • >0 '3CID, oco,,,.<br />

q.. o ...o,o, pon., do P0PUbl6o ,~ ,om pgln u o , W p,, \.IO, 1n«"tt \<br />

""-1,o, loton,Jo~D,mlc'IH--<br />

1,oi~'!:"" "-)l. r~l)lo,f1C6o l» l rabalho.liof.nr.<br />

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cii anca "° bamo.<br />

"Riil d-ci q.. e.brrm o , oo p,u,~cn<br />

So,,to, ludo Otl)rrN (_,., Wfl'Cl,., ' •<br />

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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Uma Igreja autogestionária,<br />

numa sociedade autogestionária<br />

HÁ UNIDADE de pensamento na Revolução:<br />

propagada no Estado, ela filtra para a Igreja,<br />

e propagada na Igreja filtra para o E_st~do.<br />

O Pe. Domingos Barbé mostra a mt1ma<br />

conexão que existe entre a implantaç~o da<br />

autogestão na sociedade e na Igreja: "E coisa<br />

estranha e contraditória, pedir para a sociedade<br />

civil a autonomia, a autogestão, a democracia,<br />

a socialização, inclusive do poder e, ao mesmo<br />

tempo, não deixar as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>rem autônomas,<br />

<strong>se</strong> 'autogerirem' mesmo no que diz respeito à sua<br />

vida eucarística" (Artigo O ministério Eucarístico<br />

e as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, in "O<br />

São Paulo", 20-2-81, p. 4).<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> não de<strong>se</strong>jam, portanto, reformar<br />

apenas o Estado e a est_r~tura política, -~as<br />

· também as estruturas soc1a1s e mesmo rehgio­<br />

. sas <strong>se</strong>gundo <strong>se</strong>u ideal de igualitarismo radical.<br />

Reforma portanto da Igreja e da sociedade civil<br />

conjuga<strong>das</strong> entre si, para cria_r um _mun~o novo,<br />

um "Reino de Deus" que <strong>se</strong> 1dent1ficana com a<br />

1 sociedade <strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s e "autogerida" da etapa<br />

; final do comunismo.<br />

irmão". A fra<strong>se</strong> que "assassina <strong>se</strong>u irmão" só pode referir-<strong>se</strong> à<br />

morte de Abel por Caim, relatada no Gênesis. Entreta~t_o, o<br />

fratiddio praticado por Caim deu-<strong>se</strong> depois do p~ca.do ongmal;<br />

logo, não pode <strong>se</strong>r relacionado com ele; ademais, ocorreu por<br />

inveja e nada tem a ver com o que, no texto dos teólogos da<br />

libertação, o antecede: a "apropriação da terra". Logo, o<br />

pecado do homem, o pecado original, só pode entender-<strong>se</strong><br />

como <strong>se</strong>ndo a "apropriação da terra". Ora, os Capítulos 2 a 4<br />

M oisés para libertar este povo da opressão, fazer<br />

com ele uma aliança e encaminhá-lo à terra<br />

prometida (txodo, Deuteronômio)" (7).<br />

Pecado atual: o capltallsmo<br />

Mensagem às Comunidades de Ba<strong>se</strong> (Congresso<br />

de Teologia de Taboão da Serra): " ... . nos organizemos<br />

numa luta comum para tirar o pecado do<br />

mundo, o grande pecado social do sistema capitalista<br />

que mata a vida de tantos irmãos" (8).<br />

3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Conclusões):<br />

"Toda essa opressão que chega sobre nós tem sua<br />

raiz no pecado: . .. . Es<strong>se</strong> grande pecado é agora<br />

social e <strong>se</strong> chama sistema capitalista" (9).<br />

Redenção: libertação s6cio-polf tlca<br />

Pe. Gustavo Gutiérrez: "O pecado exige uma<br />

libertação radical, mas esta inclui necessariamente<br />

uma libertação política" (10).<br />

Frei Leonardo Boff OFM: "A salvação é um<br />

conceito englobante. Não <strong>se</strong> restringe às libertações<br />

sócio-econômicas e políticas. Mas não <strong>se</strong><br />

realiza também <strong>se</strong>m elas" ( I I ).<br />

Pe. Alfonso Garcia Rubio: "No contexto latino-americano<br />

[os teólogos da libertação] atribuem<br />

às tendências revolucionárias importância prioritária<br />

à libertação política. Nesta vive o cristão o<br />

amor a Deus e ao próximo, .... empenhando-<strong>se</strong><br />

do livro do Gênesis, narram a criação do homem, a queda<br />

original fruto da desobediência a Deus, e a morte de Abel por<br />

Caim. Nem uma palavra é dita sobre o "pecado da apropriação<br />

da terra". Quem considera a "apropriação da terra"<br />

como uma espécie de "pecado original" são os comunistas, que<br />

dizem que o "comunismo primitivo" terminou por causa da<br />

apropriação dos meios de produção (repre<strong>se</strong>ntada principalmente<br />

pela terra) surgindo assim a sociedade de clas<strong>se</strong>s.<br />

160


Parte li<br />

Capitulo li -<br />

I<br />

vontade de Deus<br />

o ENSINAMENTO do Magistério tradicional<br />

da Igreja a respeito da diversidade de<br />

clas<strong>se</strong>s vem expresso de modo claro e inequívoco<br />

nesta passagem do Papa Bento XV: "Os<br />

que ocupam situações inferiores quanto à<br />

posição social e à fortuna devem convencer-<strong>se</strong><br />

bem de que a diversidade de clas<strong>se</strong>s na sociedade<br />

vem da própria natureza, e-de que <strong>se</strong> deve<br />

procurá-la, em última análi<strong>se</strong>, na vontade de<br />

Deus: 'porque ela criou os grandes e os pequenos'<br />

(Sap. 6, 8), para o maior bem dos indivíduos<br />

e da sociedade. Essas pessoas humildes<br />

devem compenetrar-<strong>se</strong> desta verdade: qualquer<br />

que <strong>se</strong>ja a melhora que obtenham para a sua<br />

situação, tanto pelos <strong>se</strong>us esforços pessoais<br />

como com o concurso dos homens de bem,<br />

<strong>se</strong>mpre lhes ficará, como aos demais homens,<br />

uma pesada herança de sofrimentos. Se tiverem<br />

essa visão exata da realidade, não <strong>se</strong> esgotarão<br />

em esforços inúteis para <strong>se</strong> elevarem a um nível<br />

superior às suas capacidades, e suportarão os<br />

males inevitáveis com a resignação e a coragem<br />

que a esperança de bens eternos dá" (BENTO XV,<br />

Carta Soliti Nos, de 11 de março de 1920, ao<br />

Bispo de Bérgamo, Les En<strong>se</strong>ignements Pontificaux<br />

- La Paix lntérieure des Nations, par<br />

les Moines de Solesmes, Desclée & Cie, pp.<br />

293-294).<br />

Papa Bento XV (1914-1922)<br />

161


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

corajosamente na práxis libertadora até dar a vida<br />

pelos outros" (12).<br />

Moral: bom ê aquilo que<br />

favorece a revoluçlo<br />

Pe. Ronaldo Muiioz SSCC: "Penso que como<br />

cristãos, podemos aceitar, em geral, a concepção<br />

marxista de que é eticamente bom aquilo que na<br />

práxis revolucionária <strong>se</strong> vai mostrando eficaz para<br />

a causa do proletariado" ( 13).<br />

O ldeArlo soclallsta-comunlsta:<br />

reallzaçlo da utopia cristã<br />

Frei Leonardo Boff OFM: "O que a teologia<br />

poderá dizer é que o ideário socialista-comunista<br />

propiciaria à fé, caso venha a <strong>se</strong> historizar, mais<br />

possibilidades que o capitalismo de realizar topicamente<br />

a utopia cristã acerca do homem e da<br />

sociedade" (14).<br />

Reino de Deus: Instauração da<br />

(iltlma etapa do comunismo<br />

Pe. Pablo Richard: "Para nós, com o triunjo<br />

<strong>das</strong> forças populares, o povo da Nicarágua <strong>se</strong> encontra,<br />

agora, mais próximo do reino de Deus" ( 15).<br />

Frei Betto e Pe. Pablo Richard: "Vários teólogos<br />

insistiram na integração entre ciência e fé -<br />

comenta 'Movimento' - e tanto Pablo Richard<br />

como Frei Beto - um teólogo, outro agente<br />

pastoral - afirmaram que o socialismo 'é apen"as<br />

uma etapa do Reino de Deus'" (16).<br />

Pe. Ernesto Cardenal (líder sandinista e atual<br />

Ministro da Cultura da Nicarágua): "Em um dos<br />

meus versos escrevi uma vez a <strong>se</strong>guinte linha:<br />

'comunismo e reino de Deus na terra significam a<br />

mesma coisa'. E com isto eu queria dizer que o<br />

comunismo e o Estado da 'sociedade final comunista'<br />

que ainda não está realizada em parte<br />

alguma do mundo - pois até agora nos encontramos<br />

ainda na fa<strong>se</strong> da construção do socialismo -<br />

que esta futura sociedade comunista <strong>se</strong>rá, ela<br />

mesma, o 'Reino de Deus na Terra' " ( 17).<br />

"O comunismo, <strong>se</strong>gundo Marx, é a sociedade<br />

na qual não haverá egoísmo nem injustiça de<br />

nenhuma espécie, é o mesmo que os cristãos<br />

entendemos por reino de Deus na Terra" (18).<br />

NOTAS<br />

(1) Teologia da Libertação, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 171.<br />

(2) Teologia Liberadora en América Latiria, Ediciones<br />

Paulinas, Bogotá, 1974, p. 105.<br />

(3) "O São Paulo", 6-4-79, p. 4.<br />

(4) Citado por FREI BEno, Diário de Puebla, Civilização<br />

Brasileira, 1979, p. 60.<br />

(5) Apud MoNS. ALFO NSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 79.<br />

(6) "Catolicismo", julho-agosto 1980, p. 20.<br />

(7) Documento Final do Congresso Internacional Ecumênico<br />

de Teologia, n. 0 29, in "Revista Eclesiástica Brasileira",<br />

março 1980, p. 156.<br />

(8) Carta aos Cristãos que vivem e celebram a sua f é nas<br />

Comunidades Cristãs Populares dos paí<strong>se</strong>s e regiões pobres do<br />

mundo, in "Revista Eclesiástica Brasileira", março 1980,<br />

p. 168.<br />

(9) 3. 0 Encontro Intereclesial <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> - Igreja Povo que <strong>se</strong> Liberta, in "Revista Eclesiástica<br />

Brasileira", <strong>se</strong>tembro 1978, p. 510; "SEDOC", outubro 1978,<br />

cols. 447-448.<br />

(10) Apud PE. A. G. RueJO, Teologia da Libertação: Política<br />

ou Profetismo?, Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 135.<br />

(11) Que é fazer Teologia partindo de uma América Latina<br />

em cativeiro?, in "Revista Eclesiástica Brasileira", dezembro<br />

1975, p. 863.<br />

(12) Op. cit. , p. 213.<br />

( 13) Apud MoNS. ALFONSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 31.<br />

(14) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil", 6-4-80.<br />

(15) "Movimento", 25-2-80.<br />

( 16) Idem, 3-3-80.<br />

(17) "O Estado de S. Paulo", 17-1-79.<br />

(18) "Movimento", 6-8-79.<br />

162


D. José Maria nes corifeu do<br />

movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, ro ama a prostituição<br />

como um verda eiro -<strong>se</strong>rviço de Deus!<br />

o SEMANÁRIO da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />

Paulo mostra a que extremos pode conduzir a<br />

Teologia da Libertação com sua concepção "messiânica"<br />

da figura do "pobre". Em reportagem sob<br />

o título Um encontro da mulher marginalizada, o<br />

jornal dirigido pelo Bispo Auxiliar D. Angélico<br />

Sândalo Bernardino descreve o trabalho da Dioce<strong>se</strong><br />

de Juazeiro-BA com as prostitutas da cidade.<br />

Diz a reportagem:<br />

"A Escola Senhor do Bonfim tem como objetivo<br />

primeiro de promover as prostitutas, fazendo<br />

com que elas <strong>se</strong> sintam 'gente ', filhas de Deus e<br />

capacitando-as profissionalmente . .... <strong>As</strong> metas de<br />

trabalho junto às mulheres é ajudá-las a descol)rir<br />

<strong>se</strong>us valores, criando uma consciência crítica afim<br />

de que elas percebam toda a exploração de que são<br />

vítimas . .... Como uma <strong>das</strong> metas prioritárias da<br />

mesma [Dioce<strong>se</strong> de Juazeiro] são as Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, <strong>se</strong> fez um levantamento, aproveitando<br />

as visitas, convidando-as para encontros<br />

<strong>se</strong>manais na Escola visando, a longo prazo, a formaçio<br />

de <strong>CEBs</strong> e tardes recreativas".<br />

É por considerá-las "explora<strong>das</strong>", "marginaliza<strong>das</strong>",<br />

portanto "pobres", de acordo com a TL,<br />

que as Comunidades iniciaram <strong>se</strong>u trabalho junto<br />

às mulheres de vida infame. Isto fica mais claro<br />

ainda em outra reportagem do mesmo <strong>se</strong>manário,<br />

relatando <strong>se</strong>melhante trabalho na localidade de<br />

Sobradinho, <strong>se</strong>mpre na Dioce<strong>se</strong> de Juazeiro. <strong>As</strong>sim<br />

o jornal do Cardeal Arns conclui esta <strong>se</strong>gunda<br />

reportagem: "Nes<strong>se</strong> caminho a comunidade de<br />

Sobradinho vem descobrindo que é imenso 'o potencial<br />

evangelizador dos pobres, enquanto estes<br />

interpelam, constantemente [a Igreja], chamando­<br />

ª à conversão' (Puebla 1147)".<br />

Ao lado dessa reportagem, o jornal publica<br />

um estudo do Pe. Hugues d'Ans, de Lins, intitulado<br />

"Elas nos precederão no Reino de Deus",<br />

no qual afirma: "Entendemos melhor agora por<br />

que Jesus coloca as prostitutas no primeiro lugar<br />

no Reino de Deus: com efeito, ao contrário<br />

do que <strong>se</strong> pensa geralmente, elas não são 'mulheres<br />

de vida fácil', mas sim pobres (em todos os<br />

<strong>se</strong>ntidos do termo), oprimi<strong>das</strong> e explora<strong>das</strong>". Por<br />

isso ele as apre<strong>se</strong>nta como "o rosto do Cristo<br />

Sofredor, o Senhor que nos questiona e interpela<br />

(Puebla, 31)".<br />

Se as mulheres que exercem a profissão infame<br />

são tão-só "pobres" e não pecadoras públicas, por<br />

que, então, não formar <strong>CEBs</strong> com elas e não as<br />

admitir nas Comunidades já existentes? (1)<br />

(!) Há fortes indlcios de formação de <strong>CEBs</strong> com prostitutas,<br />

ou pelo menos de sua participação ativa nas Comuni-<br />

163


<strong>As</strong> C EBs .. <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> fa la. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

O. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa<br />

Por outro lado, como "pobre-redentor", na<br />

concepção da TL, a mulher pública tem um papel<br />

messiânico, uma missão religiosa.<br />

- De que natureza <strong>se</strong>ria es<strong>se</strong> papel, essa<br />

missão?<br />

D. J ,sé Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa<br />

e corifeu do movimento <strong>das</strong> Comunidades Ecledades,<br />

em diversos outros lugares como por exemplo Lins-SP,<br />

Rio Branco-AC e Tauá (Dioce<strong>se</strong> de Crateús-CE).<br />

siais de Ba<strong>se</strong>, responde a essas perguntas, de modo<br />

a não deixar dúvi<strong>das</strong> sobre até que aberrações<br />

pode levar a aceitação dos pressupostos marxistas<br />

da Teologia da Libertação.<br />

São tão chocantes suas afirmações, que é preciso<br />

ler suas próprias palavras. Numa entrevista a<br />

W. J. Solha, comentando o romance Mutirão para<br />

matar, de um certo Barreto, <strong>se</strong>u amigo, diz o<br />

Arcebispo de João Pessoa: "Há um trecho bom no<br />

livro. É um em que ele conta como uma prostituta<br />

era estimada num lugarejo apesar da profissão. É<br />

que, desde que chegara à cidadezinha, nunca mais<br />

marido nenhum bateu na esposa, buliu com as<br />

moças. Mas vai daí que um belo dia essa m•ilher<br />

morre e tudo volta a <strong>se</strong>r como era . .... Havia então,<br />

no lugar. uma moça de boa família, que estava<br />

prestes a <strong>se</strong>r freira. Tudo parecia caminhar normalmente,<br />

até que ela ... percebeu o drama da sua<br />

comunidade... e colocou-<strong>se</strong> em questão: <strong>se</strong> não<br />

<strong>se</strong>rviria melhor ao Senhor substituindo a meretriz.<br />

Nes<strong>se</strong> impas<strong>se</strong>, abria-<strong>se</strong> com o pai, que <strong>se</strong> limitou a<br />

lhe advertir: 'Minha filha: no convento você está<br />

<strong>se</strong>rvindo a Nosso Senhor e, ao mesmo tempo,<br />

estará num lugar tranqüilo, com suas horas de<br />

sos<strong>se</strong>go. Ali [no prostíbulo], não: você <strong>se</strong>rá o próprio<br />

Cristo!' Ela optou pela prostituição" - conclui<br />

o Arcebispo da Paraíba!<br />

O repórter perguntou <strong>se</strong> o fato era real. D. José<br />

Maria respondeu que não. O fato real, que ele<br />

havia contado ao romancista, era o de uma prostituta<br />

que estava para morrer e foi atendida por<br />

um Bispo. Este insistia em que ela lhe contas<strong>se</strong> "as<br />

boas ações" que tives<strong>se</strong> feito. Afinal a mulher<br />

infame lhe dis<strong>se</strong>: "Não <strong>se</strong>i <strong>se</strong> ... Talvez Jesus consideras<strong>se</strong><br />

... Tenho até vergonha de dizer ... mas em todos<br />

os natais eu ia <strong>se</strong>mpre à prisão e ... dava o meu<br />

corpo ... àqueles prisioneiros que tinham a condenação<br />

maior, àqueles que mais precisas<strong>se</strong>m de mulher ..."<br />

164


Parte li Capítulo li - 2<br />

A Igreja nunca <strong>se</strong> desinteressou do problema da prostituição. Mas ela <strong>se</strong>mpre procurou resolver es<strong>se</strong> problema<br />

tirando a mulher da vida infame, da mi<strong>se</strong>rável condição a que esta <strong>se</strong> tinha deixado arrastar. Seguindo tão nobre<br />

tradição, Santa Maria Eufrásia Pelletier fundou a Congregação do Bom Pastor, cuja finalidade era amparar as<br />

pecadoras arrependi<strong>das</strong> e de<strong>se</strong>josas de mudar de vida, bem como pre<strong>se</strong>rvar des<strong>se</strong> perigo meninas e moças<br />

desampara<strong>das</strong>. A Congregação do Bom Pastor, fundada na França no século passado, difundiu-<strong>se</strong> por todo o mundo.<br />

<strong>As</strong> fotografias apre<strong>se</strong>ntam Santa Maria Eufrásia quando jovem, antes de entrar para o convento, e já no fim da vida:<br />

uma vida austera e operosa, toda consagrada a resolver o problema da impureza em sua forma extremada, a<br />

prostituição . Mais ainda do que o curso do tempo, a tarefa complexa e absorvente fez da jovem rica em formosura de<br />

<strong>se</strong>mblante e de alma, a veneranda anciã dignificada pela fidelidade na sublime vocação.<br />

165


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

O jornalista comentou que o fato real era<br />

<strong>muito</strong> melhor do que o imaginado. D. José Maria<br />

Pires confirmou: "Claro! E tem uma conotação<br />

nova ... e clara ... do verdadeiro <strong>se</strong>ntido do <strong>se</strong>rviço<br />

de Deus!"<br />

Nesta declaração cumpre ressaltar dois pontos.<br />

Primeiro, que o Arcebispo de João Pessoa, ao<br />

qualificar de "bom" es<strong>se</strong> trecho do romance, admite,<br />

com o suposto pai de família, que uma jovem<br />

"no convento está <strong>se</strong>rvindo a Nosso Senhor", porém<br />

no prostíbulo "<strong>se</strong>rá o próprio Cristo". Segundo,<br />

ele afirma de modo inequívoco, que a prostituição<br />

"tem uma conotação nova ... e clara ... do<br />

verdadeiro <strong>se</strong>ntido do <strong>se</strong>rviço de Deus".<br />

Ou <strong>se</strong>ja, que a prostituição, ou pelo menos<br />

certa forma de prostituição, constitui um verdadeiro<br />

"<strong>se</strong>rviço de Deus". Vale dizer, é sagrada.<br />

Nessa perspectiva <strong>se</strong> entendem as palavras de<br />

uma freira que trabalha com prostitutas, relata<strong>das</strong><br />

por Frei Clodovis Boff em <strong>se</strong>u livro sobre as <strong>CEBs</strong><br />

do Acre: "<strong>As</strong> prostitutas me trouxeram muita<br />

riqueza religiosa e humana. Muitas são exemplo<br />

para mim. Vivem até melhor que eu, que sou<br />

religiosa. . . .. Tem uma que <strong>se</strong>mpre reza o credo<br />

antes de dormir com homem".<br />

Palavras escandalosas, máxime nos lábios de<br />

uma Esposa de Cristo, mas que faz <strong>se</strong>ntido com a<br />

concepção religiosa da prostituição, proclamada<br />

pelo Arcebispo da Paraíba, parecendo conferir um caráter<br />

oblativo ao próprio ato pecaminoso: "Tem uma<br />

que <strong>se</strong>mpre reza o credo antes de dormir com homem''.<br />

Não é de estranhar, assim, o slogan ostentado<br />

por um grupo de prostitutas, que participaram de<br />

uma celebração litúrgica presidida pelo Bispo Prelado<br />

de Acre e Purus, D. Moacir Grechi, no encerramento<br />

de um curso de Teologia ministrado por<br />

Frei Clodovis Boff a Padres, freiras, agentes pastorais<br />

e líderes de <strong>CEBs</strong>: "Últimas na Sociedade e<br />

primeiras no Reino".<br />

Referências: T EóF ILO CELSO DA SILVA, Relatório de uma visita<br />

às cidades de Uns. Mirandóp olis e A raçatuba-SP, São Paulo,<br />

1981 , p. 1, oolicopiado; PE. HUGUES DºA NS E IOLANDA TOSHI E<br />

ID E, <strong>As</strong> prostitu/as vos precederão no Reino de Deus, in "Vida<br />

Pastoral", maio-junho 1981, PP- 7-12; P E. H uGUES D'ANS, Elas<br />

nos precederão no Reino de Deus, in "O São Paulo", 19-6-8 1,<br />

p. 4; Pastoral em vez de violência, idem, ibidem; Um encontro<br />

da mulher marginalizada, idem, 22-1-82, p . 5; Dom José -<br />

diálogo com W. J. Solha, "Correio da Paraíba", 18-7-78, 5.•<br />

página; FREI Cwoov1s BoFF OSM, Deus e o homem no inferno<br />

verde - Quatro me<strong>se</strong>s de convivência com as <strong>CEBs</strong> do A cre,<br />

Vozes, Petrópolis, 1980, p. 117; IDEM, A Igreja, o Poder e o<br />

Povo (Relatório de um Curso de Teologia), in "Revista Eclesiás<br />

tica Brasileira", março 1980, p. 47.<br />

( ______ P_astoral<br />

AS PROSTITUTAS VOS PRECEDERÃO<br />

NO REINO, DE DEUS<br />

J<br />

Página<br />

Pe. Hugues d'Ans e<br />

lolanda Toshie Ide<br />

de "Vida<br />

Pastoral", revista<br />

distríbulda gratuitamente<br />

aos agentes<br />

pastorais, contendo<br />

o artigo do<br />

Pe. H. d'Ans e sua<br />

colaboradora.<br />

A/g im., exclam arão : ··1;11,to provocador.'"<br />

Pois 11àc,; porem a_ ~!"~_j~-Mt 21.31. Q diw<br />

de Jesus e ain<br />

irn1gçào~11<br />

1-er ade". T en1Qí_/illlli]J.'.11LfilWL prouess~u J!Ur·<br />

9:J _.J).fO.~titu~~ão,_ ,_ó _quy --ª·" ~aclalr na,_ I 1c m<br />

'c:9m -2 irrfima p a.r~.L .?em.1m.: .. iil:i.uficien_t


Parte li<br />

Imagem Peregrina<br />

de Nossa Senhora<br />

de Fétima que chorou<br />

em Nova Orleans<br />

(Estados Unidos).<br />

em julho de<br />

1972. A fotografia<br />

foi tirada pelo Pe.<br />

Romagosa durante<br />

a extraordinária<br />

lacrimação. O misterioso<br />

pranto mostra<br />

a Virgem a chorar<br />

sobre o mundo<br />

contemporâneo.<br />

como outrora Nosso<br />

Senhor chorou<br />

sobre Jerusalém.<br />

Lágrimas de dor<br />

profunda. na previsão<br />

do castigo que<br />

virá. Em que medida<br />

as aberrações<br />

que circulam nos<br />

ambientes <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> contribuíram<br />

para este pranto 7


170<br />

• Lançamento oficial do Movimento do Custo de Vida<br />

- um dos "braços pollticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> - em 1978.<br />

no Colégio Arquidiocesano de São Paulo.


Manipular palavras e conceitos, para<br />

justificar esbulhos e violências<br />

OS AGENTES pastorais que atuam no campo<br />

aplicam o rótulo de "pos<strong>se</strong>iro" a todo homem<br />

do campo ligado às <strong>CEBs</strong> rurais, que esteja<br />

em conflito com donos de terras, companhias<br />

agropecuárias ou colonizadoras, órgãos públicos<br />

etc.<br />

Ora, pos<strong>se</strong>iro é categoria juridicamente definida<br />

em nossa complexíssima legislação agrária,<br />

com direitos e deveres definidos e fixados. Ao<br />

darem tal qualificaiivo a todo e qualquer lavrador<br />

em litígio, as <strong>CEBs</strong> estão muitas vezes cobrindo<br />

com o manto protetor da Lei não só os verdadeiros<br />

pos<strong>se</strong>iros, mas também os simples invasores<br />

de terras. Estes, <strong>se</strong> estão de boa-fé, merecem por<br />

certo a compreensão tanto dos proprietários rurais,<br />

como <strong>das</strong> autoridades. Mas nem por isso<br />

deixam de <strong>se</strong>r invasores, nem adquirem direitos.<br />

Quanto aos invasores de má-fé, estes sujeitam-<strong>se</strong><br />

às penas que a Lei prevê para o crime de esbulho<br />

pos<strong>se</strong>ssório: não passam de esbulhadores, portanto.<br />

É fácil ver como os agentes pastorais, líderes e<br />

monitores de <strong>CEBs</strong>, por meio da conscientização,<br />

con<strong>se</strong>guem fazer crer àquelas pessoas simples que<br />

elas são de fato pos<strong>se</strong>iros (detentores, portanto, de<br />

certos direitos), quando na realidade, muitas vezes,<br />

nem elas próprias <strong>sabe</strong>m qual é sua verdadeira<br />

situação legal; em casos não raros <strong>sabe</strong>m <strong>muito</strong><br />

bem que esta é insustentável. ..<br />

Para colorir a situação, os agentes pastorais<br />

criaram uma nova figura, a do "migrante". A esta<br />

figura, justapõem outra - também de recente<br />

lançamento - que a completa e qua<strong>se</strong> a define: a<br />

do "carente". A partir delas, fixam como única<br />

norma do direito de propriedade, ou antes, do uso<br />

e pos<strong>se</strong> da terra, a necessidade, ou - como dizem<br />

documentos de <strong>CEBs</strong> rurais e urbanas -<br />

a "precisão".<br />

Estabelece-<strong>se</strong>, então, a <strong>se</strong>guinte relação:<br />

migrante = carente = pos<strong>se</strong>iro. Ou <strong>se</strong>ja: todo o<br />

migrante, por essa simples razão, é um carente;<br />

<strong>se</strong>ndo a precisão o único título legítimo para a<br />

pos<strong>se</strong> da terra, todo o carente <strong>se</strong> transforma desde<br />

logo em pos<strong>se</strong>iro.<br />

Inversamente, todo aquele que detém a propriedade<br />

da terra, mas não a cultiva diretamente,<br />

ou não vive exclusivamente dela, é considerado<br />

usurpador, ainda quando <strong>se</strong>ja comprovadamente<br />

·o proprietário legítimo. <strong>As</strong>sim, recebem os rótulos<br />

pejorativos de "grileiro", "tubarão" e outros; e <strong>se</strong>us<br />

empregados são <strong>se</strong>mpre rotulados de "jagunços",<br />

"pistoleiros", "capangas".<br />

É exatamente o que fazem os autores de um<br />

Estudo da CN BB, tendenciosamente intitulado<br />

Pastoral da Terra: pos<strong>se</strong> e conflitos, realizado sob<br />

171


MIGRANT<br />

1<br />

hllt r T<br />

OI\,<br />

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1<br />

- )<br />

Uma nova figura começa a <strong>se</strong>r introduzida pelos agentes<br />

pastorais nos conflitos de terras:. a do "migrante". -<br />

Cartaz do Centro de Estudos Migratórios (São Paulo) e<br />

Centro Pastoral dos Migrantes (Dioce<strong>se</strong> de Santo André).<br />

responsa bilidade da Comissão Episcopal de Pastoral,<br />

à qual, precisamente, estava subordinada a<br />

Comissão Pastoral da Terra. Ao apre<strong>se</strong>ntar o<br />

quadro dos conflitos de terras na Amazônia Legal,<br />

o referido Estudo inverte completamente as posições,<br />

qualificando de "invasor" da "terra dos<br />

pos<strong>se</strong>iros", os proprietários e os empresários, tanto<br />

quanto os chamados "grileiros" (indivíduos que<br />

procuram apossar-<strong>se</strong> de terra alheia mediante falsos<br />

títulos de propriedade e outros recursos desonestos).<br />

Ou <strong>se</strong>ja, transforma o proprietário e o empresário<br />

em esbulhador, sujeito às penas da Lei!<br />

Feita essa subversão de conceitos, o caminho<br />

fica aberto para toda espécie de violências: nem<br />

tudo o que é legal ( o título de propriedade) é legítimo,<br />

proclamam os agentes pastorais e líderes de<br />

<strong>CEBs</strong>.<br />

Já <strong>se</strong> vê que estão aqui atingidos não somente<br />

os proprietários rurais supergrandes ( em gerai<br />

empresas agropecuárias) e os <strong>muito</strong> grandes, mas<br />

também os grandes, médios e até pequenos fazendeiros,<br />

pois <strong>se</strong>melhante visualização contesta o<br />

próprio direito de propriedade e a legitimidade de<br />

outros títulos que não o trabalho e a "precisão".<br />

Não é de admirar, pois, que <strong>se</strong> chegue a aberrações<br />

como as chama<strong>das</strong> "operações pega-fazendeiro"<br />

e os "mutirões contra a jagunçada", narra<strong>das</strong><br />

adiante.<br />

Essa completa subversão da ordem jurídica<br />

traz como con<strong>se</strong>qüência lógica o questionamento<br />

<strong>das</strong> decisões judiciais em favor do proprietário e a<br />

resistência à ação da Polícia, encarregada de fazer<br />

cumprir tais decisões. Daí o desprestígio sistemático<br />

do Poder Judiciário e da Polída, apre<strong>se</strong>ntados<br />

<strong>se</strong>mpre como aliados dos "grileiros". O que só<br />

agrava os conflitos de terras.<br />

Característica nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido é a <strong>se</strong>guinte passagem<br />

cto relatório de uma CEB rural do Maranhão:<br />

"Lá os grileiros destruíram umas roças, nós<br />

procuramos a Secretaria de Segurança, mas nada<br />

ela fez. Os grileiros continuaram destruindo as<br />

roças. Quando a polícia veio foi p ra prender alguns<br />

de nós. A polícia e os juízes estão <strong>se</strong>mpre ao<br />

lado dos grileiros. Nas reunião a gente reflete tudo<br />

isto. Os pos<strong>se</strong>iros não tem escrituras <strong>das</strong> terras. Os<br />

grileiros jogaram capangas dentro de nossas terras<br />

172


Parte li<br />

Capitulo li! -<br />

I<br />

e devoraram nossas roças. Os pos<strong>se</strong>iros procuraram<br />

os <strong>se</strong>us direitos, nós recebemos apoio do<br />

Sindicato e da CPT (Comissão Pastoral da Terra).<br />

<strong>As</strong> autoridades nada faziam. Então nós resolvemos<br />

derrubar as cercas que os grileiros tinham<br />

feito. Agora eles estão fazendo prisões, mas o pessoal<br />

está unido. O juiz lá manda a polícia prender<br />

os pos<strong>se</strong>iros e defender os grileiros".<br />

Sintomática também a <strong>se</strong>guinte instrução contida<br />

em um folheto do Centro de Defesa dos Direitos<br />

Humanos do Regional Nordeste II da CNBB,<br />

apre<strong>se</strong>ntado por D. Helder Câmara: "Quer dizer,<br />

procurar o Juiz é um caminho certo e legal. Acontece<br />

que nestas áreas de pos<strong>se</strong>iros existe muita<br />

dificuldade de encontrar o Juiz. Não é só encontrar<br />

qualquer juiz. É preciso que o Juiz <strong>se</strong>ja uma<br />

pessoa livre para julgar, que esteja do lado dos<br />

trabalhadores".<br />

- Justiça de clas<strong>se</strong>?<br />

Fica aqui lançada a suspeição sobre a integridade<br />

dos juízes de um modo geral: o magistrado<br />

que não estiver "do lado dos trabalhadores" não é<br />

"uma pessoa livre para julgar".<br />

Encontra-<strong>se</strong> com freqüência em documentos<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ou a elas destinados a acusação velada<br />

ou explícita de parcialidade sistemática da Justiça<br />

e da Polícia. Nas conclusões finais do 2. 0 Encontro<br />

Nacional de Comunidades de Ba<strong>se</strong> (Vitória, 1976),<br />

está afirmado: "Os grandes (latifundiários e até<br />

órgãos governamentais, como FUNAI, CODE­<br />

V ALE) procuram expulsar os pos<strong>se</strong>iros e pequenos<br />

proprietários para <strong>se</strong> apoderarem de suas<br />

A pressão do clero esquerdista sobre o Judiciário foi particularmente intensa por ocasião do julgamento dos Padres<br />

Camio e Gouriou. Por toda a parte realizaram-<strong>se</strong> atos de solidariedade aos sacerdotes france<strong>se</strong>s. - Na Catedral de<br />

São Paulo, o Cardeal Arns presidiu uma concelebração com <strong>se</strong>us Bispos Auxiliares e numerosos Padres.<br />

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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

terras. .... Nessa luta os grandes têm <strong>se</strong>mpre o<br />

apoio <strong>das</strong> autoridades e da polícia, ~ os pobres<br />

nada valem, nem têm direito a nada. São tratados<br />

pior que cachorro".<br />

Já o "Boletim da Comissão Pastoral da Terra"<br />

enfatiza: "Os ricos que <strong>se</strong>mpre querem mais terra,<br />

como querem <strong>se</strong>mpre mais dinheiro, fazem todo<br />

tipo de pressão, de ameaça, de violência direta,<br />

muitas vezes até matam, ou mandam matar ... E<br />

estão <strong>se</strong>mpre soltos, inocentados, livres e protegidos.<br />

O dia, porém, que os índios, pos<strong>se</strong>iros ou<br />

outros lavradores cansam e veem que é inútil apelar<br />

por justiça, - pois nada e ninguém acode e<br />

defende de fato <strong>se</strong>u direito -, e passam a REA ­<br />

GIR, enfrentando direto e igual <strong>se</strong>us agressores, -<br />

às vezes e em último caso até f erindo ou matando<br />

<strong>se</strong>us concorrentes violentos, não poucas vezes<br />

acompanhados de soldados da polícia -, aí sim a<br />

autoridade aparece já e pronta para dominar os<br />

revoltosos, prender os violentos assassinos, desarmar<br />

todo mundo (menos os agressores), castigar ..."<br />

Se o Juiz e o Delegado "estão <strong>se</strong>mpr:e do lado<br />

dos grileiros", que resta fazer?<br />

* * *<br />

1<br />

É evidente que não <strong>se</strong> pretende negar aqui os t<br />

abusos, injustiças e até violências pratica<strong>das</strong> por u<br />

1<br />

grileiros, proprietários ou mesmo autoridades, "'<br />

~<br />

·~<br />

"' o<br />

e.<br />

Referências: CNBB - COMI SSÃO E PISCOPAL DE P ASTORAL, Pastorai<br />

da Terra-2: pos<strong>se</strong> e conflitos, Estudos da CNBB-13, Edi- -~<br />

ções Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 232 ss.; CNBB - NoRD ES- "'<br />

TE li, R


Comissão Pastoral da Terra:<br />

"Somos a Igreja no meio rural, organizada em<br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>"<br />

Fundação e estrutura da CPT<br />

O principal agente de organização, conscientização<br />

e mobilização do trabalhador rural, por<br />

meio <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, é a Comissão<br />

Pastoral da Terra - CPT.<br />

Em 1975 a Conferência Nacional dos Bispos do<br />

Brasil e a Pontifícia Comissão de Justiça e Paz<br />

(Secção brasileira) patrocinaram um encontro em<br />

Goiânia, do qual resultou a criação de um organismo<br />

oficioso do Episcopado, especialmente destinado<br />

a tratar dos assuntos relacionados com a<br />

propriedade, pos<strong>se</strong> e uso da terra: a Comissão<br />

Pastoral da Terra - CPT, ligada à CNBB por<br />

intermédio da Comissão Episcopal de Pastoral.<br />

Seus objetivos declarados são:<br />

a) Promover o "processo global de Reforma<br />

Agrária do nosso País";<br />

b) Promover a sindicalização rural;<br />

c) "Organizar uma as<strong>se</strong>ssoria jurídica para tudo<br />

o que <strong>se</strong> refere aos problemas da terra e dos<br />

trabalhadores rurais";<br />

d) "Promover campanhas de conscientização<br />

para os trabalhadores rurais e agentes de pastoral";<br />

e) Promover a instituição de uma Justiça A-<br />

grária.<br />

A CPT está organizada em nível nacional, sob<br />

a presidência e a vice-presidência de membros do<br />

Episcopado (pre<strong>se</strong>ntemente, D. Moacir Grechi,<br />

Prelado do Acre e Purus e D. Pedro Casaldáliga,<br />

Prelado de São Félix do Araguaia-MT); em nível<br />

regional, sob a responsabilidade dos Secretariados<br />

Regionais da CNBB; em nível de dioce<strong>se</strong>s e prelazias<br />

e, por fim , em nível paroquial e até de Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>.<br />

Uma vasta r·ede, como <strong>se</strong> vê.<br />

Integram a CPT, em <strong>se</strong>us vários níveis, Bispos,<br />

Padres, freiras, agentes pastorais leigos de ambos<br />

os <strong>se</strong>xos, as<strong>se</strong>ssores (advogados, agrônomos, sociólogos,<br />

antropólogos, economistas) e, também,<br />

lavradores. Estes - <strong>se</strong>gundo D. Moacir Grechi,<br />

presidente da entidade - são qua<strong>se</strong> todos membros<br />

e até mesmo monitores ou coordenadores de<br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Aliás, a própria<br />

Comissão Pastoral da Terra <strong>se</strong> autodefiniu em sua<br />

2.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Nacional: "Somos a Igreja no meio<br />

rural, organizada na forma de Comunidades Cristãs<br />

de Ba<strong>se</strong>, onde brotam os grupos da CPT".<br />

São, portanto, as <strong>CEBs</strong> que fornecem à Comissão<br />

Pastoral da Terra os elementos de ba<strong>se</strong>, por<br />

meio dos <strong>quais</strong> o trabalho da CPT atinge os mais<br />

remotos rincões do mundo rural brasileiro. Por<br />

outro lado, a CPT - como organismo eclesiás-<br />

175


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

trabalha e vive; .... 3 - No direito do trabalhador<br />

rural que não tem terra, inclusive dos que foram<br />

expulsos da terra, de tomar pos<strong>se</strong> de áreas produtivas<br />

não cultiva<strong>das</strong> dos grandes latifúndios e <strong>das</strong><br />

terras públicas . .... Apelamos a to<strong>das</strong> as mulheres<br />

do meio rural, para que participem <strong>das</strong> organizações<br />

de ba<strong>se</strong> e <strong>das</strong> lutas pela terra, pondo fim ao<br />

machismo e à opressão dentro <strong>das</strong> próprias famílias".<br />

Se "a terra é de quem nela trabalha e vive",<br />

então o proprietário que não cultiva sua gleba com<br />

"Não existe uma entidade como a Igreja que vá à ba<strong>se</strong><br />

para o trabalho, pega o homem realmente onde ele está,<br />

nos bairros, na roça, no interior da Amazônia ... " (D. Angélico<br />

S. Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo).<br />

\<br />

D. M oacir Grechi, Bispo do Acre e Purus, um dos<br />

principais mentores do movimento <strong>das</strong> Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> e presidente nacional da CPT - Comissão Pastoral<br />

da Terra.<br />

tico ligado à CNBB - dá cobertura a toda a<br />

agitação promovida nos campos pelos agentes<br />

pastorais e membros <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>,<br />

estendendo sobre eles o manto protetor da invulnerabilidade<br />

de que goza ela própria.<br />

Programa da CPT: "A terra<br />

ê de quem nela trabalha"<br />

Quanto ao programa difundido pela CPT,<br />

basta co n:siderar algumas <strong>das</strong> conclusões da referida<br />

2. ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Nacional: "Companheiros e<br />

Companheiras, .. .. decidimos apoiar os trabalhadores<br />

.... 1 - Na luta pela Reforma Agrária,<br />

porque acreditamos que a terra é de quem nela<br />

176


Parte li<br />

as próprias mãos e nela não vive, não é mais que<br />

um usurpador. E a terra, roubada, deve <strong>se</strong>r "libertada".<br />

É o que proclama em editorial o boletim<br />

da CPT:<br />

"Essa é a nossa 'páscoa camponesa': A LUTA<br />

PARA LIBERTAR A TERRA! .... A terra, livre<br />

<strong>das</strong> cercas e da ganância dos ricos".<br />

E o Calendário do Lavrador para 1979, publicado<br />

pela mesma CPT, é categórico: "<strong>As</strong> cercas<br />

roubaram a terra dos homens . .. .. Quando amanhecerá<br />

o derradeiro dia de to<strong>das</strong> as cercas?"<br />

É por isso que elas são considera<strong>das</strong> "malditas":<br />

- "Malditas <strong>se</strong>jam<br />

to<strong>das</strong> as cercas!<br />

Malditas to<strong>das</strong> as<br />

propriedades priva<strong>das</strong>!"<br />

Eis aí, resumido em quatro versos de D. Pedro<br />

Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia e<br />

vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra,<br />

todo o programa que inspira a agitação rural<br />

levada a efeito pelos agentes pastorais e militantes<br />

de <strong>CEBs</strong> por todo o País.<br />

Referências: CNBB, Pastoral da terra, Estudos da CNBB-11 ,<br />

Edições Paulinas, Sã o Paulo, 1976, p. 24; CNBB, Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no Brasil, Estudos da CNBB-23,<br />

Edições Paulinas, São Paulo, 1979, p. 50; CPT, Calendário do<br />

La vrador-1979; FR EI BETo, O que é Comunidade Eclesial de<br />

Ba<strong>se</strong>. Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1981 , p. 26; D . P ED RO CASALDA­<br />

LI GA, Tierra nuestra, libertad, apud PUNIO CoRR~A DE OLI VE IR A,<br />

A Igreja ante a escalada da ameaça comunista - Apelo aos<br />

Bispos silenciosos, Editora Ve ra C ruz, São Pa ulo, 1976, p. 13;<br />

"O Sã o Pa ulo", 29-4-80 e 5-10-79; "SEDOC", maio 1978, cols.<br />

1009-1011 ; D1R CE CAR VA LH O, Pastoral da Terra em def esa do<br />

trabalhador rural, in "Família Cristã", maio de 1980, p. 5; "Boletim<br />

da Comissão Pastora l da Terra", novembro-dezembro<br />

1977, p. 3 e ma rço-a bril 1979, pp. 1-2; "Diá rio de Perna m­<br />

buco", 5-1 -79.<br />

"Malditas to<strong>das</strong> as cercas! Manditas to<strong>das</strong> as propriedades<br />

priva<strong>das</strong>!" - proclama o Bispo de São Félix do<br />

Araguaia e vice-presidente nacional da CPT, D . Pedro<br />

Casaldáliga.<br />

'·<br />

A CPT prega a violência<br />

em prosa e verso<br />

"Tem havido muita luta,<br />

<strong>muito</strong> sangue derramado,<br />

ou <strong>se</strong> entra na peleja<br />

ou o terreno é tomado,<br />

ou os pos<strong>se</strong>iros arrisca a vida,<br />

ou perde todo bocado."<br />

("Boletim da Comissão Pastoral da Terra"<br />

julho-agosto 1977, p. 9).<br />

'<br />

177


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descr.eve como são<br />

"Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul:<br />

11Alto lál esta terra tem donor 1<br />

D. MOACIR Grechi, Bispo-Prelado do<br />

Acre e Purus e presidente nacional da Comissão<br />

Pastoral da Terra, liderou em fevereiro de 1980<br />

a terceira "Romaria da Terra", realizada na<br />

localidade de Tiaraju, a 12 quilômetros de São<br />

Gabriel, no Rio Grande do Sul.<br />

A escolha da localidade não foi obra do<br />

acaso: ali morreu o índio Sepé Tiaraju, o "São<br />

Sepé", na luta contra os povoadores brancos,<br />

no século XVIII...<br />

Outro não foi o tema dessa singular "romaria":<br />

durante todo o dia os oradores <strong>se</strong> sucederam<br />

na "Tribuna do Povo" manifestando sua<br />

disposição de "lutar pela terra que nos está <strong>se</strong>ndo<br />

roubada pelos grandes latifundiários" .. .<br />

D. Moacir quis, com sua pre<strong>se</strong>nça, reanimar<br />

essa luta.<br />

Fez-<strong>se</strong> a Via-Sacra.<br />

- Via-Sacra?<br />

De fato houve uma caminhada transportando<br />

uma cruz, com para<strong>das</strong> regulares para meditação<br />

("estações"). Nada porém de contemplar<br />

a Verônica enxugando o rosto do Salvador, o<br />

Cirineu ajudando-O a carregar a Cruz; menos<br />

ainda o encontro de Maria Santíssima com <strong>se</strong>u<br />

Divino Filho. .<br />

"Cada 'estação' da Via-Sacra - relata um<br />

matutino gaúcho - é dedicada a um dos temas<br />

atuais. <strong>As</strong>sim êxodo, a falha assistência médica,<br />

a exploração nos preços, o peleguismo nos<br />

sindicatos" ...<br />

Os cantos eram igualmente "piedosos": "Nós<br />

vamos lutar / a terra nossa ocupar / a terra vai<br />

pra quem trabalhar / a história não falha / nós<br />

vamos ganhar. / Já chega de tanto esperar / já<br />

chega de tanto sofrer / a luta vai <strong>se</strong>r tão difícil /<br />

na lei ou na marra / nós vamos ganhar. / Se a<br />

gente morrer nessa luta, / o sangue <strong>se</strong>rá <strong>se</strong>mente<br />

/ a história não falha / nós vamos ganhar ".<br />

"Na lei ou na marra", "<strong>se</strong> a gente morrer<br />

nessa luta", "o sangue <strong>se</strong>rá <strong>se</strong>mente" ... Versos<br />

que dão o que pensar, sobretudo quando cantados<br />

no local onde houve luta pela terra, há<br />

duze ntos anos, entre índios e brancos ...<br />

Mas não foi só:<br />

D. Moacir Grechi sugeriu que a fra<strong>se</strong>: "Alto<br />

lá , esta terra tem dono", atribuída ·ao líder<br />

guarani, <strong>se</strong>rvis<strong>se</strong> de slogan para todos os que <strong>se</strong><br />

áefrontam com os "novos in vasores".<br />

Já <strong>se</strong> viu quem são os "invasores", <strong>se</strong>gundo<br />

estudo da CNBB, prefaciado pelo mesmo D .<br />

Moacir Grechi, e como a CPT considera "dono"<br />

da terra apenas "aquele que nela trabalha e<br />

nela vive".<br />

"Alto 'lá, srs. proprietários! esta terra tem<br />

dono!" Es<strong>se</strong> parece <strong>se</strong>r o brado de guerra<br />

sugerido pelo Prelado aos "pos<strong>se</strong>iros" de todo<br />

o País contra os detentores dos títulos de<br />

propriedade.<br />

Referências: " Folha da Manhã", Porto Alegre. 21-2-80;<br />

"Jorn al do Brasil", 27-2-80.<br />

178


VIOL~NCIA NO CAMPO -<br />

l<br />

A LAGAMAR, na Paraíba, oferece um exemplo<br />

característico do modo de atuar <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> em conflitos de terras, para criar<br />

"área de tensão social", com vistas à desapropriação.<br />

Um exemplo "quente" da atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

Em conferência pronunciada no Teatro da<br />

Universidade Católica, no dia 29 de fevereiro de<br />

1980, D. José Maiia Pires, ao tratar <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, a certa altura diz o <strong>se</strong>guinte: "Eu<br />

gostaria, <strong>se</strong> houves<strong>se</strong> tempo, de apre<strong>se</strong>ntar, agora,<br />

um exemplo que esquentas<strong>se</strong> um <strong>pouco</strong> mais.<br />

Seria a situação de algumas comunidades, especialmente<br />

da comunidade de Alagamar".<br />

O próprio D. José Maria Pires e <strong>se</strong>u então<br />

Bispo Auxiliar, D. Marcelo Carvalheira (ambos<br />

corifeus nacionais do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>), haviam apre<strong>se</strong>ntado es<strong>se</strong><br />

exemplo "quente" como modelo para as <strong>CEBs</strong> da<br />

Arquidioce<strong>se</strong> de João Pessoa, em Carta Pastoral<br />

de 12 de fevereiro de 1978, a qual mandam que <strong>se</strong>ja<br />

lida "na primeira reunião <strong>das</strong> Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> e dos Grupos de Reflexão".<br />

Em poucas palavras, o "caso Alagamar" pode<br />

resumir-<strong>se</strong> no <strong>se</strong>guinte: cerca de 450 famílias de<br />

lavradores viviam nas terras do Sr. Arnaldo Maroja,<br />

pagando-lhe "foros" (espécie de aluguel anual<br />

pelo uso da terra). Em novembro de 1975 es<strong>se</strong><br />

proprietário morreu <strong>se</strong>m herdeiros necessários.<br />

Deixou, entretanto, estabelecido em testamento<br />

que suas terras (cerca de 13 mil hectares) fos<strong>se</strong>m<br />

vendi<strong>das</strong> e a importância apurada, distribuída<br />

entre as 42 pessoas ali designa<strong>das</strong>.<br />

Os agentes pastorais criam o caso<br />

Interferindo na questão, os agentes de pastoral<br />

que atuavam na região fizeram pressão para que o<br />

governo adquiris<strong>se</strong> as terras e implantas<strong>se</strong> nelas<br />

um núcleo de colonização e Reforma Agrária. Tal<br />

não <strong>se</strong> deu e as terras foram vendi<strong>das</strong> a dez pessoas<br />

diferentes. Quando os novos proprietários<br />

qui<strong>se</strong>ram fazer uso delas, plantando cana e criando<br />

gado, começaram os conflitos.<br />

"Foi então que o povo de Alagamar tomou<br />

contato com o movimento de Não-Violência. A­<br />

prendeu a <strong>se</strong> unir e <strong>se</strong> organizar em torno de <strong>se</strong>us<br />

direitos" - comenta "O São Paulo", <strong>se</strong>manário da<br />

Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo.<br />

Além de entrar em contato com o movimento<br />

"Não-Violência" (ou <strong>se</strong>ja com o próprio D. José<br />

M. Pires, que é um de <strong>se</strong>us dirigentes), o pessoal de<br />

179


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Alagamar passou a receber orientação também do<br />

Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidioce<strong>se</strong><br />

da Paraíba. Como <strong>se</strong> recorda, es<strong>se</strong> Centro<br />

foi organizado e era dirigido, desde fins de<br />

1977, por Vanderlei Caixe, <strong>se</strong>ntenciado como terrorista<br />

(ver quadro).<br />

Não cabe aqui entrar no mérito da pendência<br />

entre os lavradores de Alagamar e os novos proprietários<br />

<strong>das</strong> terras. Mas mesmo abstraindo do<br />

mérito de tal questão, não é difícil perceber, pela<br />

<strong>se</strong>qüência dos fatos e dos pronunciamentos, que o<br />

Arcebispo, diretamente ou através dos agentes<br />

pastorais e <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />

tenha enxertado um <strong>se</strong>ntido subversivo na ação<br />

em favor dos ocupantes de Alagamar.<br />

Destruir as cercas, arrancar a<br />

cana, prender o gado dos<br />

proprietãrios: alguns exemplos<br />

de "ação não-violenta" ...<br />

Na citada Carta Pastoral escrevem D. José<br />

Maria Pires e D. Marcelo Carvalheira: "Quando<br />

começaram as dificuldades, [os agricultores] <strong>se</strong>mpre<br />

procuraram <strong>se</strong>us órgãos de clas<strong>se</strong>, a <strong>sabe</strong>r, o<br />

Sindicato e a Federação. Nunca recorreram à violência.<br />

Procuraram agir dentro da lei e buscaram<br />

contato com as autoridades".<br />

Contraditoriamente, acrescentam logo em <strong>se</strong>guida:<br />

"Arrancaram as cercas que foram feitas em<br />

suas pos<strong>se</strong>s. Tangeram e prenderam o gado solto<br />

que devorava suas plantações. Reuniram-<strong>se</strong> em<br />

grande número (cerca de 300) para arrancar a cana<br />

plantada indevidamente. Deram toda assistência<br />

possível aos oito companheiros que foram presos<br />

por ordem judicial ou detidos por ordem da<br />

Segurança Nacional".<br />

Se arrancar cercas, tanger e prender gado dos<br />

Em A lagamar, os<br />

agentes pastorais<br />

procuraram, por<br />

meio <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

criar um "foco de<br />

tensão social" a<br />

fim de forçar o Governo<br />

a desapropriar<br />

as terras. Entre<br />

es<strong>se</strong>s agentes<br />

pastorais estavam<br />

duas freiras holandesas,<br />

a Irmã Mar­<br />

Iene e a Irmã Tony.<br />

. ~ !. :_; /.':,<br />

Prin<br />

proprietários, arrancar a cana plantada pelos donos<br />

da terra não constituem objetivamente, medi<strong>das</strong><br />

violentas, então as palavras já não têm <strong>se</strong>ntido.<br />

Convém insistir num ponto: o Arcebispo de<br />

João Pessoa e <strong>se</strong>u Bispo Auxiliar mandam que o<br />

documento em que narram tais atitudes <strong>se</strong>ja lido<br />

"na primeira reunião <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e<br />

dos Grupos de Reflexão". Isso não equivale a dar<br />

uma diretriz a tais Comunidades e grupos para que<br />

procedam da mesma forma quando <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntar<br />

o caso?<br />

Quem é o agressor: o dono<br />

da terra que planta a cana, ou<br />

aquele que a arranca?<br />

D. José Maria Pires e D. Marcelo perguntam<br />

a <strong>se</strong>guir: "Quem tem mais direito de ficar com<br />

aquelas terras? <strong>As</strong> 446 famílias (700 <strong>se</strong>gundo outros)<br />

que ali moram e trabalham, ou uma dúzia de<br />

pessoas abasta<strong>das</strong> que residem confortavelmente<br />

em Pernambuco?"<br />

É o caso de perguntar <strong>se</strong> o direito de pro-<br />

180


Capítulo Ili - 3<br />

Levar a opção pelos oprimidos a<br />

con<strong>se</strong>qüências "mais pesa<strong>das</strong>" ...<br />

:,e as-corpus<br />

.<br />

I<br />

l<br />

<strong>As</strong> lrma.s Marlene e l onnv. deti<strong>das</strong> e 1mped1dJs de nrculd1<br />

priedade depende da "abastança" ou do "conforto"<br />

de alguém, ou <strong>se</strong> é um direito natural, as<strong>se</strong>gurado<br />

pela legislação dos paí<strong>se</strong>s não-comunistas.<br />

"Quem é o agressor?" - continuam os Bispos.<br />

"Os compradores que trazem gado de fora e o<br />

soltam nas terras ou os lavradores que tangem e<br />

prendem o gado para que não estrague suas lavouras?<br />

Quem é o agressor? O comprador que planta<br />

cana nas pos<strong>se</strong>s dos moradores ou os que arrancam<br />

a cana para defenderem a sua pos<strong>se</strong>?"<br />

Note-<strong>se</strong> que os Bispos não acusam os fazendeiros<br />

de <strong>se</strong> ttrem apossado por meios ilícitos ou<br />

fraudulentos da propriedade em questão. Pura e<br />

simplesmente negam que <strong>se</strong>ja legítimo o direito<br />

que adquiriram sobre ela, tratando-os como agressores<br />

por quererem plantar ou criar gado numa<br />

terra que compraram, e dando razão àqueles que<br />

prendem es<strong>se</strong> gado e arrancam suas plantações:<br />

"E, <strong>se</strong> as agressões partem dos proprietários, porque<br />

é que, até agora, somente agricultores foram<br />

presos ou detidos quando não fazem outra coisa<br />

<strong>se</strong>não defender, por meios não-violentos, os <strong>se</strong>us<br />

direitos?"<br />

<strong>As</strong> perguntas indigna<strong>das</strong> dos dois Prelados carecem<br />

de <strong>se</strong>nso lógico pois referem-<strong>se</strong> aos fazendeiros<br />

como proprietários, compradores, e ao<br />

mesmo tempo qualificam-nos de agressores por<br />

quererem utilizar as terras que adquiriram. Se os<br />

Bispos negam a legitimidade dos direitos deles,<br />

então deviam referir-<strong>se</strong> a eles como usurpadores,<br />

"grileiros" ou qualquer outro qualificativo mais<br />

adequado. Mas a lógica não costuma estar pre<strong>se</strong><br />

nte na pena dos esquerdistas, eclesiás ticos ou<br />

leigos.<br />

"A Igreja da Paraíba tomou posição" - dizem.<br />

"Ela está do lado dos agricultores de Alagamar. E<br />

o faz por fidelidade ao Evangelho e por amor ao<br />

povo. Como Jesus, fizemos uma opção pelos opri-<br />

. midos, embora reconheçamos que estamos ainda<br />

longe de levar às con<strong>se</strong>qüências mais pesa<strong>das</strong> es<strong>se</strong><br />

compromisso. Mas estamos caminhando nessa<br />

direção e o número dos que <strong>se</strong> comprometem<br />

com o povo cresce constantemente".<br />

- Quais <strong>se</strong>riam essas "con<strong>se</strong>qüências mais<br />

pesa<strong>das</strong>" em cuja direção os dois Bispos dizem<br />

estar caminhando?<br />

Se "a terra é de quem nela<br />

trabalha", porque não a fãbrica?<br />

Os dois Prelados pros<strong>se</strong>guem, defendendo o<br />

princípio de Marx da distribuição <strong>das</strong> riquezas<br />

"<strong>se</strong>gundo as necessidades": "Os compradores de<br />

Alagamar não precisam daquelas terras para viver.<br />

Os agricultores que nelas residem e trabalham<br />

dependem delas para sua sobrevivência. O bem<br />

comum está, pois, exigindo que elas <strong>se</strong>jam desa-<br />

181


Liderados por D . Pires e mais três Bispos - D. Helder, D .<br />

Manoel Pereira (Campina Grande) e D . Francisco Austregésilo<br />

(Afogados da lngazeira-PE) - os "pos<strong>se</strong>iros"<br />

de Alagamar espantam o gado solto pelos donos <strong>das</strong><br />

terras.<br />

propria<strong>das</strong>. Sustentamos que a compra, por dinheiro,<br />

não pode <strong>se</strong>r a única nem a principal fonte<br />

de direito de propriedade. A necessidade e o trabalho<br />

são títulos mais nobres e mais legítimos.<br />

Quem precisa da terra tem mais direito do que<br />

quem não precisa. Quem a cultivou com carinho é<br />

mais dono do que aquele que tem dinheiro mas<br />

'nunca plantou um c11roço de nada' ... "<br />

Essa última afirmação é de estarrecer: por trás<br />

dela está o princípio comunista de que "a terra é de<br />

quem nela trabalha". De onde decorre também<br />

que "a fábrica é de quem nela trabalha". Pois <strong>se</strong><br />

para <strong>se</strong>r dono da terra é preciso ter plantado<br />

algum "caroço" de alguma coisa, a nalogamente,<br />

para <strong>se</strong>r dono de fábrica é preciso ter fabricado<br />

alguma peça. Ou <strong>se</strong>ja, <strong>se</strong>r operário. O trabalho<br />

passa a <strong>se</strong>r a única fonte do direito, como na<br />

doutrina marxista.<br />

Desobediência ao Judiciãrio<br />

Mas os dois mentores <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> não ficam<br />

apenas nos princípios. D. José Maria Pires declara<br />

182<br />

ao <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo: "Temos<br />

continuado a acompanhar a caminhada nãoviolenta<br />

de Alagamar. Estive lá e pude ver de perto<br />

a animação e o grau de consciência daquela gente.<br />

Houve pelo menos dois sinais de crescimento na<br />

linha de ação não-violenta. O primeiro foi um ato<br />

de desobediência à proibição judicial. O juiz havia<br />

proibido a utilização dos cocos colhidos e depositados<br />

num barracão. Os moradores descobriram<br />

que estavam <strong>se</strong>ndo ludibriados por agentes dos<br />

proprietários e invadiram pacificamente (sic!) o<br />

barracão e distribuíram os cocos entre si".<br />

Aqui a subversão às leis não está apenas aprovada,<br />

sugerida, mas elogiada e posta como exemplo<br />

(aumento do "grau de consciência")! A isto o<br />

Arcebispo chama de "caminhada não-violenta"!<br />

"Pressão de ba<strong>se</strong>" e<br />

"pressão de cúpula"<br />

O caso vem-<strong>se</strong> arrastando ao longo dos anos,<br />

com sucessivos desdobramentos. Graças à "tensão<br />

,<br />

D. Hélder Câmara em Alagamar<br />

Bispos e ruricolas de ,<br />

e.xptJlsam o gado <strong>das</strong> ~<br />

,.<br />

J •<br />

t f ,.,.<br />

'i T<br />

·-'<br />

r


Parte ll<br />

Capitulo Ili - 3<br />

Subversivos as<strong>se</strong>ssoram<br />

<strong>CEBs</strong><br />

Paulo Fontelles de Lima<br />

P AULO Fontelles de Lima é as<strong>se</strong>ssor jurídico<br />

da Comissão Pastoral da Terra na região do<br />

Araguaia-Tocantins (sul do Pará), palco na<br />

década passada da mais violenta guerrilha rural<br />

que o País já conheceu. Fontelles é admirador<br />

dessa guerrilha, aliás, bastante informado de<br />

<strong>se</strong>us meandros, como <strong>se</strong> pode constatar pela<br />

série de artigos que publicou no jornal do PC<br />

do B, faze ndo "de dentro" o histórico da luta<br />

sangrenta promovida por aquele partido.<br />

Com efeito, só alguém <strong>muito</strong> chegado aos<br />

guerrilheiros poderia estar informado de pormenores<br />

do que <strong>se</strong> passava naquele movimento<br />

insurrecional, como os relatados por P. Fontelles.<br />

Escreve ele: "A preparação de futuras<br />

lideranças camponesas também <strong>se</strong> fazia. Pacientemente,<br />

através do estreito contato pessoal,<br />

os futuros guerrilheiros iam descobrindo<br />

os campone<strong>se</strong>s mais firmes e decididos, mais<br />

esclarecidos. Sabe-<strong>se</strong> que, a boca fechada, algumas<br />

questões de natureza política eram trata<strong>das</strong><br />

-.<br />

social" criada, parte <strong>das</strong> terras já foi desapropriada.<br />

Mas o Prelado garante: "O Governo com o<br />

tempo vai ter que continuar a desapropriação".<br />

Ou <strong>se</strong>ja, a "tensão" fabricada através <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

vai continuar até atingir <strong>se</strong>us objetivos últimos ...<br />

Aplicação local do binômio "pressão de ba<strong>se</strong>pressão<br />

de cúpula", com vistas ao reformismo<br />

radical pleiteado pela CNBB.<br />

Referências: D. Josf MARIA PIRES, Do centro para a margem,<br />

Ed. Acauã, João Pessoa, 1978, pp. 40-53. 155-167 e 181-195;<br />

J osf J . QUEIROZ (org.), A Igreja dos pobres na América Latina,<br />

Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1980, pp. 82-97; "Boletim da CPT' n °<br />

15, março-abril 1978, pp. 3-10; "Isto é", 18-4-79, p. 15 e 23-i°-80,<br />

p. 22; "O Norte" (João Pessoa), 6-2-79; "Kosmos" (São Paulo),<br />

março-abnl 1980, p. 3; "SEDOC", dezembro 1977, cols. 540-<br />

543 e maio 1978, cols. 1025-1030; "O São Paulo", 15-7-78 p. 5;<br />

22-7-78 , p. 5; 23-11-79, p. 4 e 15-2-80, p. 7.<br />

183


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

entre os militantes do PC do B e algumas<br />

lideranças de massa, preparando os embates<br />

que viriam. Paralelamente a es<strong>se</strong> trabalho, no<br />

mais rigoroso <strong>se</strong>gredo, ia <strong>se</strong> fazendo a preparação<br />

militar, individual e coletiva, teórica e<br />

prática. Toda a região ia <strong>se</strong>ndo mapeada, os<br />

igarapés reconhecidos, as grutas anota<strong>das</strong>, a<br />

<strong>se</strong>lva tornando-<strong>se</strong> amiga".<br />

Paulo Fontelles de Lima e sua mulher Hecilda<br />

foram presos em Brasília à época <strong>das</strong> guerrilhas<br />

( 1971 ), acusados de envolvimento com a<br />

luta armada. Acabaram <strong>se</strong>ndo condenados (ela<br />

a um ano de prisão, ele a um ano e oito me<strong>se</strong>s)<br />

por vinculação com a organização clandestina<br />

Ação Popular Marxista-Leninista, panfletagem<br />

contra o Governo na Universidade de Brasília,<br />

pixações e tentativas de reorganização da UNE<br />

- União Nacional dos Estudantes. Anteriormente,<br />

nos anos 1968-1969, havia participado<br />

da agitação estudantil em Belém. Foi um dos<br />

fundadores e presidente da Sociedade Paraen<strong>se</strong><br />

de Defesa dos Direitos Humanos, entidade inti~<br />

mamente vinculada à atuação contestatória<br />

promovida pelo Clero engajado, em todo o<br />

Estado do Pará, sobretudo na capital.<br />

V ANDERLEI Caixe, fundador e, até há<br />

bem <strong>pouco</strong> tempo, dirigente do Centro de<br />

Defesa dos Direitos Humanos da Arquidioce<strong>se</strong><br />

da Paraíba (o qual tem ocupado papel preponderante<br />

na agitação rural promovida pelas <strong>CEBs</strong><br />

naquele Estado de que é exemplo o caso Alagamar)<br />

é ele próprio um ex-terrorista urbano,<br />

preso, julgado e <strong>se</strong>ntenciado como tal.<br />

Numa entrevista à TV Borborema, da capital<br />

paraibana, a uma pergunta sobre a acusação<br />

de comunista que pesava sobre aquele <strong>se</strong>u auxiliar<br />

direto , respondeu D. J osé Maria Pires:<br />

"Trata-<strong>se</strong> do advogado Vanderlei Caixe, que eu<br />

conheci quando ele estava preso em Presidente<br />

Venceslau, juntamente com três dominicanos.<br />

Eu f ora visitar os três dominicanos que esta vam<br />

presos e aí tomei conhecimento com mais alguns<br />

presos políticos, entre eles o Vanderlei.<br />

Depois que ele cumpriu a pena e foi colocado<br />

em liberdade, ele terminou o curso de direito,<br />

quando foi preso já estava no último ano e<br />

<strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> interessou pelos direitos humanos.<br />

Nós mantivemos muitas e longas conversas.<br />

Mantivemos uma correspondência <strong>muito</strong> grande,<br />

e eu pedi ao Vanderlei que vies<strong>se</strong> me ajudar<br />

a organizar o Centro de Defesa dos Direitos<br />

Humanos. Ele prestou es<strong>se</strong> <strong>se</strong>rviço, e depois<br />

convidado por mim, <strong>se</strong> dispôs a assumir a coordenação<br />

do Centro. Até hoje, pelo que eu <strong>se</strong>i,<br />

Vanderlei tem <strong>se</strong> situado dentro da lei. Ajudando<br />

os pequenos a buscar o recurso da lei. Se ele<br />

foi ou é comunista; <strong>se</strong> esteve ou não preso, é<br />

outra coisa" .. .<br />

Sendo homens como tais os as<strong>se</strong>ssores <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> rurais, os con<strong>se</strong>lheiros de pobres lavradores<br />

<strong>se</strong>m instrução, mas confiantes na orientação<br />

eclesiástica, pode-<strong>se</strong> ficar surpreendido de<br />

que a tensão e a violência no campo cresça cada<br />

vez mais?<br />

Ref erências: Viver e lutar com o povo, in "Tribuna Operária",<br />

3-1-81; "Resistência", Belém, abril 198 1, pp. 8-9; "O<br />

Norte", João Pessoa, 6-2-79.<br />

]84


VIOLÍ:NCIA NO CAMPO - 2<br />

vés de ref arma?"<br />

'' Q UE TAL revolução, ao invés de ref arma?"<br />

É com es<strong>se</strong> título que o <strong>se</strong>manário<br />

da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo publicou,em fevereiro<br />

de 1980, declarações de D. Tomás Balduíno.<br />

- "O nome verdadeiro não é reforma agrária,<br />

é revolução agrária, e isso não vem apenas com<br />

boa vontade, com gestos cordiais", afirmou o<br />

Bispo de Goiás Velho.<br />

Logo, é preciso gestos não cordiais? ... Ou <strong>se</strong>ja,<br />

revolução ao pé da letra?<br />

Es<strong>se</strong> parece <strong>se</strong>r exatamente o <strong>se</strong>ntido de suas<br />

palavras, como <strong>se</strong> pode ver por esta entrevista, três<br />

me<strong>se</strong>s depois, a um jornal de Goiânia: "A Reforma<br />

Agrária deve <strong>se</strong>r a que o povo de<strong>se</strong>jar . .... Eu<br />

acredito, inclusive, que <strong>fala</strong>r de reforma radical é<br />

uma incoerência. Só uma revolução pode <strong>se</strong>r<br />

radical. Uma reforma é <strong>se</strong>mpre ajeitar as coisas<br />

... É pintar a casa, quando a solução, talvez,<br />

fos<strong>se</strong> derrubá-la".<br />

Mas D. Tomás Balduíno não constitui a única<br />

voz episcopal a pregar a violência no campo, conforme<br />

ressalta da <strong>se</strong>guinte ob<strong>se</strong>rvação feita durante<br />

o XVI Encontro do Regional Nordeste I da<br />

CNBB (Bispos do Maranhão, Piauí e Ceará), em<br />

janeiro de 1980: "Os Bispos devem respeitar a<br />

dinâmica dos agentes de pastoral da terra <strong>se</strong>m<br />

forçá-los a assumirem posições violentas".<br />

Por <strong>se</strong>u lado, D. Pedro Casaldáliga afirmou<br />

que "agora a questão não é mais de defender as<br />

terras, mas de invadi-las".<br />

Palavra-de-ordem que, aliás, os sindicatos de<br />

sua Prelazia (controlados pelas <strong>CEBs</strong>) já estavam<br />

pondo em prática, <strong>se</strong>gundo o jornal do PC do B:<br />

"O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de<br />

Santa Terezinha informa: começou em fevereiro<br />

último um 'surto de ocupação de terras' à beira da<br />

BR-158, na região de São Félix, Mato Grosso do<br />

No rte . .... É um movimento novo, diferente do que<br />

havia há alguns anos atrás. Antes, havia a luta<br />

entre pos<strong>se</strong>iros e grileiros, pelas terras devolutas.<br />

Agora, o fundo <strong>das</strong> terras devolutas da<br />

região praticamente acabou. <strong>As</strong> ocupações <strong>se</strong><br />

dão em fazen<strong>das</strong> já instala<strong>das</strong>, cerca<strong>das</strong> e f uncionando.<br />

A primeira razão para isso <strong>se</strong> ouve da própria<br />

boca dos pos<strong>se</strong>iros: 'É a lei da precisão' . .. .. O<br />

Sindicato de Santa Terezinha informa que a reação<br />

da clas<strong>se</strong> dominante veio imediata: 'os destacamentos<br />

policiais nos povoados da BR-158 foram<br />

reforçados, vários pos<strong>se</strong>iros tiveram suas armas de<br />

caça apreendi<strong>das</strong>, além de ameaças de morte e<br />

intimidações às lideranças sindicais e agentes pastorais<br />

da igreja local . .... Raimundo Muriçoca, 0<br />

combativo presidente do Sindicato .. .. diz que 'é a<br />

185


eforma agrária <strong>se</strong>ndo feita pelas mãos do próprio<br />

povo'"<br />

- Que falta, pois, para a "revolução agrária"<br />

proposta por D. Tomás Balduino? Que <strong>se</strong>ja cruenta?<br />

Não falta <strong>muito</strong> ... <strong>se</strong> é que algo falta!<br />

• • *<br />

No já citado XVI Encontro do Regional Nordeste<br />

I da CNBB (Maranhão, Piauí e Ceará), pre<strong>se</strong>ntes<br />

Bispos, Padres, freiras, agentes de pastoral,<br />

sindicalistas e dirigentes de <strong>CEBs</strong>, a delegação do<br />

Maranhão assim apre<strong>se</strong>ntou a situação fundiária<br />

em <strong>se</strong>u Estado: "Muitas terras <strong>se</strong>m título onde o<br />

primeiro que chega <strong>se</strong> faz dono, ficando o pos<strong>se</strong>iro<br />

prejudicado por ignorância e falta de condições<br />

para a legalização; ameaças de morte contra pos<strong>se</strong>iros<br />

e numerosos casos de violência mortal ....<br />

Diante dessa problemática os pos<strong>se</strong>iros estão con<strong>se</strong>guindo<br />

êxito através da resistência armada e<br />

através da conscientização <strong>das</strong> Comunidades de<br />

&<strong>se</strong>".<br />

"Resistência armada", "conscientização <strong>das</strong><br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong>": dois elementos que têm<br />

aparecido juntos com uma freqüência alarmante.<br />

Ou que, pelo menos, devia alarmar.<br />

"O nome verdadeiro não é reforma agrária, é revolução<br />

agrária!" - afirma D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás,<br />

vice-presidente do CIMI {Con<strong>se</strong>lho lndigenista Missionário)<br />

e prócer nacional <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>.<br />

Referências: "O São Paulo", 15-2-80; "Tribuna Operária", 19-<br />

4-80; Relatório do XVI En contro do Regional No rteste- 1 -<br />

CNBB, 4/ 9-1-80, p. 10; idem , Anexo/, p. 3; Entrevista de D.<br />

Tomás Balduíno ao jornal "Cinco de Março" (Goiânia), 26-5-<br />

80, transcrita no "Boletim da Comissão Pastoral da Te~ra",<br />

maio-junho 1980, pp. 17-1 8.<br />

186


VIOLf.NCIA NO CAMPO - 3<br />

Sangue na região <strong>das</strong> guerrilhas do PC do B<br />

- ... E as águas d Araguaia<br />

de vermelho<br />

UMA DAS regiões brasileiras onde os conflitos<br />

de terras têm sido mais graves é o sul do Pará,<br />

cenário também <strong>das</strong> sangrentas guerrilhas rurais<br />

da década passada. Coincide <strong>pouco</strong> mais ou menos<br />

com o território <strong>das</strong> Dioce<strong>se</strong>s de Marabá e<br />

Conceição do Araguaia, cujos Bispos são D. Alano<br />

Pena e D. Patrick Jo<strong>se</strong>ph Hanrahan (o qual em<br />

abril de 1979 substituiu a D. Estêvão Cardoso de<br />

Avelar, transferido para Uberlândia).<br />

"Os pos<strong>se</strong>iros resolveram resistir ... "<br />

Em 1979, o jornal "O São Paulo", assim<br />

descrevia a situação na região: "Em outubro último,<br />

a Comissão Pastoral da Terra regional Araguaia-Tocantins,<br />

denunciou, em Brasília, a eminência<br />

(sic) de um conflito de largas proporções<br />

entre pos<strong>se</strong>iros, latifundiários e a Polícia Militar,<br />

no sul do Pará. Somente em Conceição do Araguaia,<br />

em questão de 45 dias, nos me<strong>se</strong>s de <strong>se</strong>tembro<br />

e outubro, ocorreram nada menos que 25<br />

conflitos armados, com dois pistoleiros mortos e<br />

nove outros feridos, <strong>se</strong>gundo o relato. Além disso,<br />

o advogado Paulo Fontelles, da CPT, explica que<br />

houve uma radical mudança de posição por parte<br />

dos pos<strong>se</strong>iros, nestes últimos tempos: 'Cansados de<br />

tantas injustiças, eles resolveram não sair da terra<br />

e resistir' ".<br />

O <strong>se</strong>manário dirigido por D. Angélico Bernardino<br />

<strong>se</strong> refere às baixas entre os que qualifica de<br />

"pistoleiros", mas não diz quem fez os disparos<br />

que os vitimaram. O advogado e as<strong>se</strong>ssor da<br />

CPT, Paulo Fontelles, entretanto, <strong>se</strong> apressa em<br />

justificar os "pos<strong>se</strong>iros": "Cansados de tantas injustiças,<br />

eles resolveram não sair da terra e re-<br />

5istir".<br />

Teriam eles por si sós "resolvido" a adotar a<br />

"resistência" ou <strong>se</strong>ria esta uma con<strong>se</strong>qüência da<br />

conscientização <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>?<br />

"A paciência do povo <strong>se</strong><br />

esgota, sr. general!"<br />

No dia 25 de maio de 1980 o Bispo de Marabá,<br />

D. Alano Pena, enviou uma carta ao General<br />

Manuel de Jesus e Silva, Comandante da 23.ª<br />

Brigada de Infantaria da Selva, a qual dá bem<br />

idéia do acirramento <strong>das</strong> tensões. Depois de <strong>se</strong><br />

referir ao que qualifica de desmandos de "grileiros",<br />

perora o Prelado:<br />

"Agora não dá mais para agüentar isso, sr.<br />

general. A paciência do povo <strong>se</strong> esgota. Que<br />

187


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

regime é es<strong>se</strong> nosso que só aciona com eficiência a<br />

solução dos problemas dos ricos e dos que têm<br />

força econômica na mão? Que regime é este que<br />

assiste de braços cruzados ao esmagamento progressivo<br />

de centenas de pobres, só porque são<br />

pobres? O pobre é <strong>se</strong>mpre o ladrão, é <strong>se</strong>mpre o<br />

invasor. O rico é <strong>se</strong>mpre o homem de bem, com<br />

todos os direitos do <strong>se</strong>u lado . ....<br />

A té quando, sr. general? Receio que esteja para<br />

estourar coisa bem desagradável por aí, com <strong>muito</strong><br />

sangue correndo e nós, que vamos fazer? A Igreja<br />

não pode, sob pena de trair <strong>se</strong>u mestre, pedir a um<br />

povo torturado pela in<strong>se</strong>gurança e ameaças constantes,<br />

que tenha paciência. Isto <strong>se</strong>ria uma afronta<br />

à dignidade humana deste povo pisoteado".<br />

"Gringo": dirigente de CEB<br />

e lfider da Oposição<br />

sindical - Morte e vingança<br />

Na realidade, os receios do Prelado eram um<br />

<strong>pouco</strong> tardios: a "coisa desagradável" havia já<br />

estourado, e o sangue já começara a correr.<br />

Dias antes fora morto por um grupo de 42<br />

pos<strong>se</strong>iros o faze ndeiro Fernando Leitão Diniz. E o<br />

sangue continuou a correr: dias depois, aparecia<br />

morto em Araguaína,Raimundo Ferreira Lima, o<br />

"Gringo", agente pastoral e candidato de oposição<br />

à presidência do Sindicato de Trabalhadores Rurais<br />

de Conceição do Araguaia. Ao que consta, um<br />

,J \<br />

. '(,(,<br />

O Bispo de Marabá, D. Alano Pena, não<br />

esconde sua admiração pelos guerrilheiros do<br />

PC do B que atuaram no território de sua<br />

Dioce<strong>se</strong>, na região do Araguaia: " - Os guerrilheiros<br />

de vez em quando entravam nas vilas,<br />

assim ... incursões-relâmpago, e via-<strong>se</strong> que era<br />

um pessoal <strong>muito</strong> idealista, talvez um <strong>pouco</strong><br />

suicida, porque eles supervalorizavam um a­<br />

poio de ba<strong>se</strong>s populares que ainda não dava<br />

para ter aqui no nosso meio. Mas, o certo é que<br />

ninguém vai negar o valor da coragem deles,<br />

inclusive a de dar a vida aí, pelo que des<strong>se</strong> e<br />

vies<strong>se</strong>, por causa des<strong>se</strong> ideal. E não <strong>se</strong>i <strong>se</strong> a<br />

turma que está aí defendendo o Sistema faria a<br />

mesma coisa ... " ("Jornal da Tarde", 13- 1-79,<br />

p. 5; PALMÉRIO DôRIA E OUTROS, A Guerrilha do<br />

A raguaia, Col. História Imediata-!, Editora<br />

Alfa-Ômega, São Paulo, 1978, p. 59).<br />

188


Parte 1/<br />

Capítulo Ili - 5<br />

filho de criação Jo fazendeiro assassinado jurara<br />

matar o "Gringo", por considerá-lo responsável<br />

pela morte de Leitão Diniz.<br />

O <strong>se</strong>cretário-geral da CNBB, D. Luciano Mendes<br />

de Almeida, afirmou naqueles dias que a Igreja<br />

estava sofrendo uma lamentável campanha difamatória<br />

na região. Sobre o assassínio do fazendeiro<br />

Fernando Leitão Diniz, D. Luciano dis<strong>se</strong><br />

que, <strong>se</strong>gundo informações presta<strong>das</strong> pela Comissão<br />

Pastoral da Terra à CNBB, os pos<strong>se</strong>iros atiraram<br />

em legítima defesa com armas de caça.<br />

O insuspeito <strong>se</strong>manário de D. Paulo Evaristo<br />

Arns conta como os pos<strong>se</strong>iros (1) <strong>se</strong> "defenderam"<br />

do fazendeiro:<br />

"Um grupo de lavradores da região esteve na<br />

redação de O São Paulo, para dar a versão correta<br />

dos fatos . .... São inúmeros os casos de grileiros<br />

que estão praticando o 'arrastão', isto é, demarcando<br />

áreas além <strong>das</strong> estipula<strong>das</strong> nos títulos. Por<br />

exemplo, o conflito da Fundação Brasil Central,<br />

na região de São Geraldo, a 500 km de Conceição<br />

do Araguaia, cujos desdobramentos terminaram<br />

na morte do 'Gringo'. Um conhecido grileiro -<br />

Oliveira Paulino - vendeu uma gleba de 300<br />

alqueires a outro, Fernando Dias Leitão (sic), que<br />

tentou estender os domínios para uma área de<br />

1.800 alqueires ao redor do lote, expulsando mais ~<br />

de 800 famílias. .... Os pos<strong>se</strong>iros tentaram um ..:.<br />

"'<br />

( 1) Convém <strong>se</strong>mpre ter em vista que, para o clero progressista<br />

que promove agitação rural, os proprietários são sistematicamente<br />

tratados por "grileiros", de modo que nunca <strong>se</strong><br />

<strong>sabe</strong> - ao ler <strong>se</strong>us relatos - <strong>se</strong> a pessoa designada por es<strong>se</strong><br />

epíteto é ou não desonesta. Do mesmo modo, os empregados<br />

des<strong>se</strong>s fazendeiros são qua lificados de "pistoleiros", "jagunços"<br />

etc. E os lavradores envolvidos em litígi os (com freqüência<br />

membros de <strong>CEBs</strong> ou por elas manipulados), são <strong>se</strong>mpre<br />

apre<strong>se</strong>ntados como "pos<strong>se</strong>iros" ainda quando, na realidade, <strong>se</strong><br />

trate de simples invasores.<br />

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<strong>As</strong> tensões e conflitos no Sul do Pará - palco de<br />

guerrilhas na década de 70 - tem sido agravada pela<br />

atuação do clero esquerdista, por meio <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>.<br />

.... ~-,.<br />

189


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

acordo com Fernando Leitão Diniz, mas depois de<br />

marcarem um encontro e o grileiro não aparecer,<br />

resolveram procurá-lo. Ele estava concluindo a .<br />

demarcação da área expandida, com o qual os<br />

pos<strong>se</strong>iros não concordavam, e estavam parados<br />

pelas questões legais. Dois homens desarmados<br />

foram <strong>fala</strong>r com ele e <strong>se</strong>us jagunços, e um grupo de<br />

40 lavradores ficou esperando, a 40m do local.<br />

ARMADO. Os pos<strong>se</strong>iros notaram que eles<br />

estavam armados e então correram, e o grupo de<br />

40 que estava ao longe, <strong>se</strong> confrontou com Leitão,<br />

que morreu no local. Os lavradores <strong>se</strong> esconderam<br />

na mata, e avisaram que só <strong>se</strong> renderiam ao<br />

Exército. Mais tarde, eles <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntaram à Justiça<br />

em Conceição do Araguaia. Nes<strong>se</strong> mesmo dia<br />

- 23-5 - os prefeitos de Conceição do Araguaia e<br />

de Araguaínajuntamente com os presidentes pelegos<br />

dos sindicatos de lavradores <strong>das</strong> duas cidades,<br />

foram ao ministro da Justiça dar a sua versão dos<br />

fatos, dizendo que 'os padres estavam de metralhadoras<br />

na beira do Araguaia, organizando a<br />

guerrilha' ... ".<br />

Estratégia para garantir<br />

a impunidade?<br />

Qualquer que <strong>se</strong>ja a versão exata dos fatos - e<br />

aqui não cabe entrar no cerne desta questão - a<br />

atuação dos pos<strong>se</strong>iros parece ter obedecido a uma<br />

estratégia previamente estudada, com assistência<br />

jurídica, para garantir a impunidade dos "pos<strong>se</strong>iros".<br />

A hipóte<strong>se</strong> ganha corpo <strong>se</strong> <strong>se</strong> analisa sua<br />

conduta antes e depois do confronto com o fazendeiro,<br />

e durante o inquérito policial.<br />

A propósito, comenta o correspondente de um<br />

jornal paulista: "O advogado Paulo Fontelles, que<br />

dá assistência jurídica em Conceição do Araguaia<br />

aos pos<strong>se</strong>iros que mataram o fazendeiro Leitão<br />

Diniz .... contestou ontem as acusações feitas, à<br />

Igreja de ter orientado o crime e também os<br />

pos<strong>se</strong>iros para que apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong>m uma mesma<br />

versão à polícia . .. .. Por mais que o delegado José<br />

Maria Alves <strong>se</strong> esforças<strong>se</strong> no interrogatório para<br />

identificar um líder, um mandante ou quem atirou<br />

primeiro, nada con<strong>se</strong>guiu. Essa união dos pos<strong>se</strong>iros<br />

praticamente impedirá à Justiça apontar um<br />

culpado porque <strong>se</strong> foram 42 os que dispararam e<br />

16 os tiros que atingiram o fazendeiro .... prevalecerá<br />

no final a dúvida. Como a Justiça consagra o<br />

princípio de que a dúvida beneficia o réu, es<strong>se</strong><br />

crime deverá ficar impune".<br />

Convém recordar quem é o advogado Paulo<br />

Fontelles: simpatizante <strong>das</strong> guerrilhas do Araguaia,<br />

ex-militante da Ação Popular Marxista­<br />

Leninista e colaborador do jornal do PC do B ...<br />

Não parece demais insistir: <strong>se</strong> os "pos<strong>se</strong>iros"<br />

tives<strong>se</strong>m sido previamente instruídos sobre como<br />

proceder, de modo a garantir a impunidade, não<br />

teriam procedido de outra forma, antes, durante e<br />

depois da ação delituosa.<br />

Dias depois, como já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, foi morto o líder<br />

des<strong>se</strong>s mesmos pos<strong>se</strong>iros e agente pastoral Raimundo<br />

Ferreira Lima, o "Gringo", aparentemente<br />

em represália pelo assassínio do fazendeiro Leitão<br />

Diniz.<br />

Exploração polftica de<br />

um epls6dio trAgico<br />

A morte de "Gringo" foi explorada pelas esquer<strong>das</strong>,<br />

"católicas" ou não, as <strong>quais</strong> procuraram<br />

colher dividendos políticos do trágico episódio,<br />

apre<strong>se</strong>ntando-o como fruto <strong>das</strong> "estruturas injustas".<br />

Por toda a parte organizaram-<strong>se</strong> atos de repulsa,<br />

terminando as manifestações com uma concentração<br />

político-religiosa em Conceição do Ara-<br />

190


Parte II<br />

guaia, no dia 8 Je junho de 1980, promovida pelas<br />

<strong>CEBs</strong> e CPT da região, com o apoio de 30 entidades,<br />

entre as <strong>quais</strong> a CNBB, a UNE, a CON­<br />

T AG, a Sociedade Paraen<strong>se</strong> dos Direitos Humanos.<br />

Várias personalidades estiveram pre<strong>se</strong>ntes:<br />

D. Albano Cavallin (Bispo Auxiliar de Curitiba,<br />

repre<strong>se</strong>ntando a CNBB); D. Celso Pereira de<br />

Almeida (Bispo de Porto Nacional e presidente da<br />

CPT da região de Araguaia-Tocantins); D. Alano<br />

Pena (Bispo de Marabá); D. Estêvão Cardoso de<br />

Avelar (Bispo de Uberlândia e antigo Bispo de<br />

Conceição do Araguaia); os deputados Aurélio<br />

Perez (<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> de São Paulo),<br />

Lucival Barbalho, Roman Tito, Jader Barbalho,<br />

além do vereador paulistano Benedito Cintra<br />

(<strong>muito</strong> chegado, ele também, às <strong>CEBs</strong>). Naturalmente,<br />

não faltou o advogado Paulo Fontelles.<br />

Nem o "agente pastoral" Nicola Arpone.<br />

D. Celso discursou: "A igreja, meus caros, não<br />

tem medo de sangue, o povo unido não tem medo<br />

de sangue, porque foi do sangue que foi construída<br />

a ba<strong>se</strong> da sociedade. E hoje nós temos o sangue do<br />

'Gringo' construindo a ba<strong>se</strong> da oposição, da chapa<br />

2, e o sindicato livre de Conceição do Araguaia".<br />

No mesmo <strong>se</strong>ntido falou D. Estêvão Cardoso<br />

Avelar: "Raimundo queria um sindicato livre e<br />

libertador e não amarrado às autoridades".<br />

Falaram também diversos repre<strong>se</strong>ntantes <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> rurais.<br />

Frutos amargos da conscientização<br />

dos lavradores<br />

Nessa mesma região, em 13 de agosto 'do ano<br />

passado, ocorreu uma emboscada em que morreu<br />

o gerente de castanhal Luiz Antonio dos Santos e<br />

ficaram feridos quatro agentes da Polícia Federal e<br />

do GET AT - Grupo Executivo de Terras do<br />

Capírulo III - 5<br />

Araguaia-Tocantins. A emboscada foi armada por<br />

13 "pos<strong>se</strong>iros", incitados, <strong>se</strong>gundo a Polícia Federal,<br />

pelos padres france<strong>se</strong>s Aristide Camio e François<br />

Gouriou. Os religiosos e os "pos<strong>se</strong>iros" -<br />

ligados às <strong>CEBs</strong> da região (2) - foram presos e<br />

condenados em primeira instância pela Justiça<br />

Militar, por crime contra a Segurança Nacional<br />

( os advo_gados vão recorrer da <strong>se</strong>ntença).<br />

- "E a Igreja quem provoca essas invasões de<br />

terras e embosca<strong>das</strong>", acusa o Cel. Fernando<br />

Miranda, do GETAT.<br />

MLPD<br />

MOV JMENTO PELA L 1 HERTAÇ.i\O<br />

...,.--------- DOS Pl


~<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descréve como são<br />

O Pe. Ricardo Rezende, da Comissão Pastoral<br />

da Terra, alega: "Nós ainda con<strong>se</strong>guimos impedir<br />

que os pos<strong>se</strong>iros atirem nos soldados. mostrando<br />

que só irão prejudicar-<strong>se</strong> <strong>se</strong> resistirem à polícia".<br />

Ob<strong>se</strong>rva porém que "é impossível impedir que os<br />

pos<strong>se</strong>iros e pistoleiros <strong>se</strong> matem. O ódio entre eles<br />

é <strong>muito</strong> grande".<br />

Ódio que a conscientização nas Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> não faz <strong>se</strong>não aumentar.<br />

Seja qual for o veredicto final da Justiça<br />

quanto à responsabilidade dos dois sacerdotes<br />

france<strong>se</strong>s e dos pos<strong>se</strong>iros na emboscada do dia 13<br />

de agosto de 1981, uma coisa é certa: enquanto<br />

continuar o processo de conscientização dos lavra-<br />

MDDO<br />

dores pelas <strong>CEBs</strong> rurais e a "as<strong>se</strong>ssoria" de agentes<br />

pastorais e membros da CPT, os conflitos de terras<br />

não cessarão, e as águas do legendário Araguaia<br />

continuarão a tingir-<strong>se</strong> de vermelho ...<br />

Ref erências: "O São Paulo", 23-11-79. 6 e 12-6-80; "Movimento",<br />

16-6-80; "O Dia", Rio de Janeiro, 25-5-80; "O Estado<br />

de S. Paulo", 30-5-80, 8. 12, 18 e 26- 11-81, 23-6-82; "Resistência",<br />

Belém, julho 80; "Tribuna Operária", 14-6-80; CIC, 24-<br />

6-80; "Isto é", 16-12-8 1, p. 53 ; "Folha de S. Paulo··, 10 e 18-12-<br />

8 1; "Jornal do Brasil", 16-10-8 1; P E. FRA NÇO IS GouR 1ou, Noel<br />

derriere les barreaux, in "Echos de la Rue du Bac" (Bulletin<br />

de documentation des Missions Êtrangeres), n. º 159. fé vricr<br />

<strong>1982</strong>, pp. 5 1-54; CLAUDE L ANGE, L'Ég li<strong>se</strong> (! / la q11es1io 11 agraire<br />

en Amazonie, id em, n. 0 16 1. avril <strong>1982</strong>. pp. 107-113 .<br />

~., ... ,,A igrejae a ?evolução<br />

l'm• d111 111;., , .... , rm h •rrn .. , dt' n1111<br />

, 1,. 11 .. ~ ,.,..,., _ _ -- ,,-4,.,,r .1 llfl.t•rc., .,,,<br />

di. "-lr ,iri.,tu:i. lt- m , uJo , parlluDóll.i\l -,h\ a<br />

11,-.. u•ulrr, F:ro,.,,, , 1·., r11fn,.1 t )11,....,1 li F•·<br />

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VIOL~NCIA NO CAMPO - 4<br />

O ACRE, escassamente povoado, em grande<br />

parte recoberto por extensos <strong>se</strong>ringais e pela mata<br />

impenetrável, situa-<strong>se</strong> na atual "fronteira agrícola"<br />

do País. Para lá <strong>se</strong> têm dirigido levas de colonos<br />

vindos do Nordeste, do Leste (capixabas, sobretudo)<br />

e também do Sul (gaúchos e paranaen<strong>se</strong>s). O<br />

Estado tem atraído igualmente o interes<strong>se</strong> de<br />

investidores do Sul, os <strong>quais</strong> aproveitam-<strong>se</strong> de<br />

incentivos fiscais para adquirir grandes áreas, destina<strong>das</strong><br />

à implantação de projetos agropecuários<br />

de algum porte. O preço até há <strong>pouco</strong> relativamente<br />

baixo de suas terras, e a boa qualidade <strong>das</strong><br />

mesmas, atraiu igualmente para o Estado fazendeiros<br />

de outras regiões do País. Embora nem<br />

todos procedam de São Paulo, es<strong>se</strong>s novos fazendeiros<br />

são conhecidos em qua<strong>se</strong> toda a Amazônia<br />

por "paulistas".<br />

Mas essa expansão agrícola não <strong>se</strong> tem verificado<br />

<strong>se</strong>m choques e tensões: como em toda região<br />

pioneira, são ali numerosos os casos de conflitos<br />

por questões de terra.<br />

Curiosa coincidência: a qua<strong>se</strong> totalidade dos<br />

conflitos tem ocorrido na região sudeste do Estado,<br />

entre os rios Acre e Purus.<br />

- Coincidência?<br />

Parece haver algo mais do que isso: es<strong>se</strong> território<br />

corresponde à Prelazia do Acre e Purus, que<br />

tem por Bispo precisamente D. Moacir Grechi,<br />

presidente da Comissão Pastoral da Terra, da<br />

CNBB, e um dos mais ativos mentores nacionais<br />

<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

Sindicalização em massa<br />

D. Moacir Grechi não esperou pelas conclusões<br />

do 2. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> ( 1976), nas<br />

<strong>quais</strong> <strong>se</strong> lê: "O Sindicato torna-<strong>se</strong> um instrumento,<br />

uma ferramenta para a conscientização e a união<br />

dos lavradores".<br />

Desde que assumiu a Prelazia (1973), D. Moacir<br />

mobilizou todo o pessoal ligado à estrutura<br />

eclesiástica no <strong>se</strong>ntido de promover a sindicalização<br />

em massa, não só rural, mas também urbana:<br />

Padres, freiras, agentes pastorais, monitores de<br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Até Frei Beto<br />

andou por lá dando as<strong>se</strong>ssoria.<br />

Depois de três ou quatro anos podia apre<strong>se</strong>ntar<br />

um resultado de fazer inveja a qualquer líder<br />

sindical: 20 mil pessoas sindicaliza<strong>das</strong>, numa população<br />

de 300 mil almas! Lavradores, <strong>se</strong>ringueiros,<br />

estivadores, lavadeiras, oleiros, - ninguém<br />

ficou <strong>se</strong>m <strong>se</strong>u sindicato ou associação de clas<strong>se</strong>,<br />

cujos dirigentes <strong>se</strong> confundem, aliás, com os monitores<br />

e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Tal é o caso de Wilson<br />

193


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

de Souza Pinheiro, monitor de Comunidade de<br />

Ba<strong>se</strong> e presidente do Sindicato dos Trabalhadores<br />

Rurais de Brasiléia, na divisa com a Bolívia, o<br />

qual, aliás, acabou tragicamente morto por questões<br />

de terra, <strong>se</strong>ndo vingado por <strong>se</strong>us companheiros<br />

de CEB e de sindicato. Mas não convém<br />

adiantar aqui os fatos. Já <strong>se</strong> verão com pormenores<br />

as con<strong>se</strong>qüências da conscientização dos<br />

trabalhadores rurais sindicalizados pelas <strong>CEBs</strong> do<br />

Acre e Purus.<br />

"Operações pega-fazendeiro" e<br />

"mutirões contra a jagunçada"<br />

Frei Clodovis Boff, as<strong>se</strong>ssor pastoral do Bispo<br />

do Acre e Purus e presidente nacional da CPT, D.<br />

Moacir Grechi, apre<strong>se</strong>nta, de maneira por assim<br />

dizer didática, em artigo na "Revista Eclesiástica<br />

Brasileira", a tensão e a violência promovida pelas<br />

<strong>CEBs</strong> nas fazen<strong>das</strong> e <strong>se</strong>ringais acreanos (!).<br />

Com o objetivo de "mostrar a forma concreta<br />

que toma a fé nas <strong>CEBs</strong> em termos de mobilização<br />

libertadora", o Religioso <strong>se</strong>rvita conta alguns<br />

casos. O próprio modo de ele <strong>se</strong> referir a tais<br />

casos já diz <strong>muito</strong>: "operação pega-fazendeiro",<br />

"mutirão contra a jagunçada" ...<br />

É tal a gravidade dos fatos narrados, que<br />

pareceu mais conveniente transcrever as próprias<br />

palavras de Frei C. Boff:<br />

( I) Os relatos a <strong>se</strong>guir foram colhidos em fonte suspeita<br />

(por <strong>se</strong> u facciosismo em favor <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>). De modo que procuram<br />

dar a impressão de que, nos três casos relatados, as<br />

autoridades militares e policiais teriam dado razão aos a utores<br />

<strong>das</strong> violências descritas, o que poderia le va r a admitir que eles<br />

tinham o direito de <strong>se</strong> u lado.<br />

Seja como for, os métodos empregados caracterizam-<strong>se</strong><br />

pela violência . e num país civilizado, com um Poder Judiciário<br />

organizado, a violência não é o meio de <strong>se</strong> reivindicarem direitos.<br />

"I . 0 caso: 'Operação pega-fazendeiro'<br />

Já fazia algum tempo que um <strong>se</strong>ringalista do<br />

<strong>se</strong>ringai 'Guanabara', no Alto lacó, mancomunado<br />

a um des<strong>se</strong>s fazendeiros paulistas que estão<br />

invadindo, 'grilando' e ocupando a Amazônia,<br />

estava ameaçando de expulsão os <strong>se</strong>ringueiros e<br />

lavradores de uns quatro <strong>se</strong>ringais daquela área.<br />

Estes resistiram em conjunto. Mas as pressões<br />

continuaram. A água ia subindo. Em dado momento,<br />

bastou o insulto à dignidade dos lavradores<br />

(dis<strong>se</strong>ram deles que eram 'cachorros que latem<br />

mas não mordem') para que aqueles homens <strong>se</strong><br />

levantas<strong>se</strong>m. Quarenta e um deles embargaram<br />

com estacas e rolos de pau, por duas <strong>se</strong>manas, a<br />

pista, no meio da mata, onde descia o fazendeiro<br />

paulista com <strong>se</strong>u aviãozinho. Um <strong>se</strong>gundo insulto<br />

acompanhando o início da derrubada de uma<br />

estrada de <strong>se</strong>ringa (de que vive ainda boa parte<br />

daquela gente), levantou dessa vez mais de cem<br />

homens. Armaram-<strong>se</strong> com suas espingar<strong>das</strong> de<br />

caça e foram prender por conta própria o paulista<br />

e o <strong>se</strong>ringalista. Depois de pegas, montaram-nos<br />

em dois jumentos e conduziram-nos, sob armas,<br />

em três dias de caminho, até um batalhão do<br />

exército situado na fronteira com o Peru. E lá<br />

obrigaram-nos a assinar, diante <strong>das</strong> autoridades<br />

militares, um termo pelo qual <strong>se</strong> comprometiam a<br />

não mais invadir as terras dos lavradores e <strong>se</strong>ringueiros.<br />

Importa notar neste caso que a maioria<br />

absoluta daqueles homens estavam ligados às<br />

<strong>CEBs</strong> da região. A própria iniciativa e a estratégia<br />

da operação 'pega-fazendeiro' foi discutida e liderada<br />

pelos membros mais atuantes <strong>das</strong> mesmas<br />

<strong>CEBs</strong>".<br />

Frei Clodovis relata, com toda a tranqüilidade,<br />

como os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> constituíram-<strong>se</strong> juízes<br />

em causa própria e fizeram-<strong>se</strong> também justiça com<br />

as próprias mãos, invadindo propriedade alheia,<br />

194


prendendo pessoas e as coagindo, "sob armas", a<br />

acompanhá-los. Para que os lavradores e <strong>se</strong>ringueiros<br />

pudes<strong>se</strong>m "resistir em conjunto" (ou mesmo<br />

individualmente), era preciso que o direito<br />

estives<strong>se</strong> do lado deles, que o <strong>se</strong>ringalista e o<br />

fazendeiro fos<strong>se</strong>m realmente grileiros e não legítimos<br />

proprietários. Mas isto cabe à Justiça verificar<br />

e não aos Bispos, agentes pastorais ou líderes<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Ou, então que estives<strong>se</strong>m praticando<br />

violências físicas ou fortes coações morais contra<br />

eles. Mas, ainda assim, só poderiam agir em legítima<br />

defesa, e uma vez esgotados todos os recursos<br />

legais. Ora, o frade, tão informado dos pormenores<br />

dessa e de outras "operações pega-fazendeiro",<br />

não diz entretanto qual a violência que estaria<br />

<strong>se</strong>ndo cometida contra os lavradores e <strong>se</strong>ringueiros,<br />

aludindo vagamente a "ameaças de expulsão",<br />

"pressões" e "insultos"; quanto aos "insultos à<br />

dignidade dos lavradores", alegados como a "gota<br />

d'água", a julgar pelo exemplo aduzido (teriam<br />

dito que eles eram "cachorros que latem mas não<br />

mordem") - por si sós, eles não justificariam uma<br />

reação armada tão violenta e radical como a<br />

relatada.<br />

Uma operação que reúne l00 homens armados<br />

para atacar propriedades, prender pessoas e man-<br />

195


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

tê-las sob coação durante três dias, caracteriza<br />

antes uma ação de banditismo ... ou de insurreição.<br />

Pois repre<strong>se</strong>nta a rejeição, pelo menos de fato, <strong>das</strong><br />

leis e <strong>das</strong> instituições do País, submetendo parte<br />

dele à jurisdição de "tribunais" privados e de<br />

"milícias populares".<br />

Convém acentuar, com o próprio Frei Clodovis,<br />

"que a maioria absoluta daqueles homens<br />

estavam ligados às <strong>CEBs</strong> da região". Mais ainda:<br />

"A própria iniciativa e estratégia" da operação, foi<br />

discutida e decidida nas reuniões <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />

Em um livro sobre as Comunidades de Ba<strong>se</strong> do<br />

Acre, Frei C. Boff, <strong>fala</strong>ndo sobre um encontro de<br />

monitores de <strong>CEBs</strong>, volta a referir-<strong>se</strong> à "operação<br />

pega-fazendeiro":<br />

"No último dia foi feita uma análi<strong>se</strong> de uma<br />

confrontação que, armados, os pos<strong>se</strong>iros da região<br />

tiveram com os fazendeiros. No balanço, o pessoal t<br />

falou da coragem e união que o povo mostrou. O ~ .____,_ _ ___,__~~~---------~negativo<br />

foi a falta de uma organização maior e<br />

principalmente ter deixado a solução final do<br />

conflito nas mãos de 2 ou 3 pessoas, que botaram<br />

muita coisa a perder, já no fim do 'pega'. A parte<br />

do uso de armas foi <strong>muito</strong> discutida: tinha gente<br />

que dizia: 'Está certo'; e outras: 'Não está certo'.<br />

Até que todo o mundo achou que, naquele caso,<br />

não tinha outro jeito. Isso mostra que o uso da<br />

força faz <strong>se</strong>mpre problema para a consciência, mas<br />

que, às vezes, ele <strong>se</strong> impõe. <strong>As</strong> circunstâncias<br />

obrigam a vontade".<br />

O relato de Frei Clodovis deixa entrever o<br />

papel decisivo do fator religioso para arrastar os<br />

lavradores a ações violentas: o "problema para a<br />

conscifncia" dos agressores só foi aquietado graças<br />

ao prestígio moral da Igreja (como também -<br />

não parece temerário supor - à habilidade dos<br />

agentes pastorais que, <strong>se</strong>gundo técnica já descrita,<br />

orientavam discretamente a discussão, até levar<br />

O boletim do MLPA - Movimento pela Libertação dos<br />

Presos do Araguaia - dá sua versão da embosca·aa de<br />

agosto de 1981, em razão da qual foram condenados<br />

pela Justiça os Padres Camio e Gouriou, e treze lavradores.<br />

"todo o mundo" a "achar" que naquele caso "não<br />

havia outro jeito", <strong>se</strong>não "o uso da força" ... ).<br />

Se foi preciso apelar para a religião a fim de<br />

tranqüilizar alguns dos participantes da "operação<br />

pega-fazendeiro", qual não terá sido o peso des<strong>se</strong><br />

fator para levá-los a empreender uma ação que<br />

repugnava pelo menos a alguns, ainda não inteiramente<br />

"conscientizados"?<br />

Frei Clodovis pros<strong>se</strong>gue <strong>se</strong>u relato sobre a<br />

"mobilização libertadora" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> acreanas:<br />

"2. 0 caso: 'Mutirão contra a jagunçada'<br />

Es<strong>se</strong> caso <strong>se</strong> passou no Km 38 da estrada que<br />

liga Rio Branco com Boca do Acre (AM). Aí<br />

196


Parte li<br />

estavam já há algum tempo sitia<strong>das</strong> perto de 40<br />

famílias de pos<strong>se</strong>iros ocupando e trabalhando<br />

aquela região. Mas entrou um fazendeiro paulista<br />

com meia dúzia ou mais de jagunços e decidiu<br />

botar para fora aquelas famílias a pretexto de que<br />

a terra era dele pelo fato de tê-la comprado [sic!].<br />

Mas as famílias de pos<strong>se</strong>iros resistiram, até que a<br />

situação <strong>se</strong> tornou mortalmente ameaçadora. Aí o<br />

Sindicato dos Trabalhadoris Rurais em articulação<br />

com gente da Igreja resolveu entrar em ação.<br />

Programou realizar um gesto concreto de solidariedade<br />

àquelas famílias ameaça<strong>das</strong>. Mais de 300<br />

homens, vindos de diversos lugares, chegaram ao<br />

local em tensão armados com terçados [facões] e<br />

alguns de armas de caças . .... O resultado foi que<br />

prenderam os pistoleiros que puderam ( outros<br />

fugiram) e apre<strong>se</strong>ntaram-nos e as suas armas às<br />

autoridades em Rio Branco. Com o afastamento<br />

dos grileiros e <strong>se</strong>us capangas, restituíram a paz às<br />

famílias ameaça<strong>das</strong>".<br />

Frei Clodovis procura, neste caso, disfarçar um<br />

tanto a responsabilidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, mas não faz<br />

<strong>se</strong>não confirmá-la:<br />

"Deve-<strong>se</strong> aqui ob<strong>se</strong>rvar que esta ação não foi<br />

um empreendimento organizado a partir <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

.... Foi enquadrada substancialmente pelo Sindicato<br />

dos Trabalhadores Rurais . .... A Igreja institucional<br />

apoiou essa iniciativa e participou ativamente<br />

nela (irmãs <strong>se</strong> encontravam entre os trabalhadores,<br />

padre foi rezar missa de solidariedade e<br />

ação de graças no lugar), mas <strong>muito</strong>s membros <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> e sobretudo monitores tiveram um papel de<br />

destaque. Foi uma ação que <strong>se</strong> manteve como<br />

referência importante nas reuniões posteriores <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>, que viam com naturalidade essa iniciativa<br />

popular como uma ação própria.<br />

Diga-<strong>se</strong> também que tanto no <strong>se</strong>u nascimento<br />

quanto atual de<strong>se</strong>nvolvimento, os sindicatos rurais<br />

Capítulo Ili - 6<br />

estiveram estreitamente vinculados às <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong>ndo<br />

comum que hoje um monitor <strong>se</strong>ja ao mesmo<br />

tempo líder sindical".<br />

f: tal o envolvimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nesta ação,<br />

quer por meio de <strong>se</strong>us monitores, quer de <strong>se</strong>us<br />

membros, quer dos sindicatos rurais controlados<br />

por ela, que qua<strong>se</strong> não <strong>se</strong> compreende a ressalva<br />

do frade <strong>se</strong>rvita de que não <strong>se</strong> tratou de "um<br />

empreendimento organizado a partir <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>".<br />

A ressalva parece ter um caráter meramente formal.<br />

Entretanto, ao fazê-la, Frei Clodovis deixa<br />

vazar um dado de extrema importância para <strong>se</strong><br />

compreender toda a agitação rural, não só no<br />

Acre, mas em muitas outras partes do Brasil<br />

trabalha<strong>das</strong> pela CPT e <strong>se</strong>us agentes pastorais: os<br />

sindicatos rurais, tanto no <strong>se</strong>u nascimento, como<br />

no <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>nvolvimento, estão estreitamente vinculados<br />

às <strong>CEBs</strong> e é comum que o monitor <strong>se</strong>ja ao<br />

mesmo tempo líder sindical.<br />

No <strong>se</strong>u citado livro sobre as <strong>CEBs</strong> dei Acre, ao<br />

descrever um treinamento de monitores, Frei C.<br />

Boff acrescenta alguns dados sobre esta ação:<br />

"Havia entre os monitores de Brasiléia gente<br />

que tinha participado do 'mutirão contra a jagunçada'.<br />

Eles contaram o fato dizendo: 'Fomos lá<br />

cortar a cabeça da cobra porque o rabo já estava <strong>se</strong><br />

mexendo por aqui'.<br />

Com figuras assim, o povo mostra que enxerga:<br />

enxerga que existe um sistema de exploração.<br />

Que <strong>se</strong> tem problema de terra em Boca do Acre,<br />

ele está ligado ao problema da terra no outro lado,<br />

aqui em Brasiléia".<br />

O "povo" estará realmente "enxergando" por si<br />

mesmo o "sistema de exploração", ou <strong>se</strong>rão os<br />

agentes pastorais "conscientizadores" que o estarão<br />

fazendo "ver"?<br />

Seja como for, <strong>se</strong>m a existência de uma organização<br />

como o movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> por trás dos<br />

197


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

lavradores e <strong>se</strong>ringueiros do Acre, não <strong>se</strong>ria possível<br />

toda essa articulação entre gente de pontos tão<br />

distantes, como Boca do Acre, no Estado do<br />

Amazonas, junto à confluência dos Rios Acre e<br />

Purus, e Brasiléia, "do outro lado", como diz Frei<br />

Clodovis, na fronteira com a Bolívia. E menos<br />

ainda <strong>se</strong> explicariam es<strong>se</strong>s deslocamentos tão freqüentes<br />

de pessoas de <strong>pouco</strong>s recursos, de um<br />

extremo ao outro da Prelazia de D. Moacir Grechi,<br />

para empreender "mutirões contra a jagunçada"<br />

e "operações pega-fazendeiro".<br />

Mas não ficam por aí os casos de tropelias e<br />

violências praticados por membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> a­<br />

creanas, com os <strong>quais</strong> Frei C. Boff brinda os<br />

leitores da "REB":<br />

"3. 0 caso: 'Operação pega-fazendeiro II'<br />

Es<strong>se</strong> cc.so <strong>se</strong> passou perto do último Natal<br />

[1979], no <strong>se</strong>ringai "Nova Empresa", não longe de<br />

Rio Branco. A situação <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntava aí como<br />

mais um caso de ameaça de expulsão da terra<br />

contra algumas dezenas de famílias pos<strong>se</strong>iras naquela<br />

área. Depois_ de o 'paulista' ter destruído e<br />

até queimado várias casas dos lavradores, es<strong>se</strong>s<br />

não suportaram mais. Uns cinqüenta deles <strong>se</strong> uniram,<br />

<strong>se</strong> armaram e <strong>se</strong> dirigiram à casa do patrão<br />

para prendê-lo a ele e a <strong>se</strong>us capangas. Estes,<br />

tendo-o percebido em tempo fugiram . Os lavradores<br />

crivaram de balas a casa do 'paulista' rebentaram-na<br />

toda por dentro, mas a deixaram ainda<br />

em pé. Depois foram até a casa de um dos pistoleiros<br />

e a colocaram abaixo. Tendo vindo da capital<br />

um destacamento da polícia, comandado pelo<br />

próprio Secretário de Segurança, entregaram-<strong>se</strong><br />

pacificamente, convencidos da justiça da sua causa.<br />

Efetivamente três dias depois voltaram para<br />

suas casas, mas já agora decididos a colocar a<br />

questão da terra em pratos limpos com o 'paulista'<br />

que, para salvar a pele, achou por bem ceder.<br />

Esta ação foi uma iniciativa de lavradores que<br />

na sua maioria qua<strong>se</strong> absoluta era gente <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />

Foi, aliás nas reuniões <strong>das</strong> mesmas que aqueles<br />

campone<strong>se</strong>s <strong>se</strong> tinham decidido por aquela operação<br />

. .... O próprio 'paulista' entendeu que aquela<br />

ação surgia direta do trabalho pastoral da Igreja e<br />

ele também, foragido que estava, veio procurar o<br />

vigário pedindo proteção, contra os pos<strong>se</strong>iros que<br />

não tinham ainda desistido dele ... "<br />

Estranha situação esta em que um cidadão<br />

brasileiro "para salvar a pele" é obrigado a pedir<br />

proteção ... ao Vigário! Não há de <strong>se</strong>r <strong>muito</strong> diferente<br />

da do Irã do aia to lá Komeini ... a não <strong>se</strong>r<br />

num ponto: lá o "clero" xiita tomou formalmente<br />

o poder. ..<br />

O último caso relatado por Frei C. Boff na<br />

"Revista Eclesiástica Brasileira" revela um grau de<br />

organização e de coordenação, como também um<br />

"enquadramento" dos "lavradores e ex-lavradores",<br />

que dão que pensar:<br />

"4. 0 caso: A invasão da área relativa ao projeto<br />

de as<strong>se</strong>ntamento 'Pedro Peixoto'<br />

O que estava em questão era uma vasta área<br />

(uns 300 milha) que estava destinada pelo Governo<br />

à colonização. Como o projeto tar<strong>das</strong><strong>se</strong> a <strong>se</strong>r<br />

implantado, alguns grandes fazendeiros <strong>se</strong> apropriaram<br />

daquela área e começaram a explorá-la<br />

por conta, inclusive com a anuência de gente do<br />

Governo. Diante da impassibilidade do INCRA,<br />

um bom grupo de lavradores <strong>se</strong>m terra ou exlavradores<br />

<strong>das</strong> periferias da capital, <strong>muito</strong>s dos<br />

<strong>quais</strong> membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong> reuniu só na ba<strong>se</strong> da<br />

boca para o ouvido e, com o apoio e enquadramento<br />

do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de<br />

Rio Branco e da Comissão Pastoral da Terra<br />

decidiu invadir aquela terra e aí <strong>se</strong> estabelecer.<br />

Mais de 100 homens munidos de facões, numa<br />

primeira tentativa, na véspera do Nataf. não con-<br />

198


Parte li<br />

<strong>se</strong>guiram penetrar na área. A operação era por<br />

demais vistosa e já tinha despertado a atenção dos<br />

grileiros e em <strong>se</strong>guida do próprio Governo que<br />

interveio policia/mente e impediu em tempo aquela<br />

invasão. Aí os lavradores e ex-lavradores fizeram<br />

um recuo estratégico para permitir cair as<br />

suspeitas e, logo após o Natal, de maneira inapercebida,<br />

em pequenos grupos, entraram na área,<br />

abrindo assim, caminho para outros. Deste modo<br />

consumaram, sob os olhos <strong>das</strong> autoridades a<br />

ocupação da terra".<br />

Cap ítulo Ili - 6<br />

É de surpreender que tal processo de violência,<br />

armada ou não, acabe por provocar vítimas fatais,<br />

tanto do lado dos proprietários e "grileiros", quanto<br />

do dos lavradores conscientizados pelas <strong>CEBs</strong>?<br />

É precisamente o que <strong>se</strong> tem dado, conforme <strong>se</strong><br />

verá a <strong>se</strong>guir, na apre<strong>se</strong>ntação de outros incidentes<br />

ocorridos no Acre.<br />

Antes, porém, convém recordar que Frei Clodovis<br />

Boff considera os casos que narra como<br />

exemplos da 'forma concreta que toma a fé em<br />

termos de mobilização libertadora". Em outros<br />

Francisco Julillo, fundador <strong>das</strong> famigera<strong>das</strong> Ligas Camponesas da época de Jango, em carta a D. Helder Câmera,<br />

chama as <strong>CEBs</strong> de "admiráveis". O ex-deputado (que nessa mesma carta <strong>se</strong> declara marxista e manifesta entusiasmo<br />

pelo revolucionério comunista vietnamita Ho Chi Mine por Sandino). tem muita razão para admirar as Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>: as "operações pega-fazendeiro" promovi<strong>das</strong> por elas. estão criando no campo brasileiro um clima de<br />

in<strong>se</strong>guranç-'\ e de revolta <strong>se</strong>melhante ao que ele insuflou com suas Ligas naqueles conturbados dias que precederam a<br />

Revolução de 1964 ...<br />

199


termos: as tropelias e violências promovi<strong>das</strong> pelas<br />

<strong>CEBs</strong> no Acre são decorrência de uma motivação<br />

religiosa. Daí a sua radicalidade.<br />

Monitor de CEB e dirigente<br />

sindical é morto e vingado<br />

Em 1979, um grupo de 94 <strong>se</strong>ringueiros impediu<br />

a derrubada de alguns alqueires de mata nas terras<br />

de Nilo Sérgio de Oliveira, em Brasiléia, na fronteira<br />

com a Bolívia. Algum tempo depois, o presidente<br />

do sindicato rural local, Wilson Pinheiro de<br />

Souza, também monitor de CEB, era assassinado.<br />

Para os companheiros da vítima, havia apenas um<br />

culpado: o fazendeiro Nilo Sérgio.<br />

Dias depois da morte de Wilson Pinheiro, no<br />

domingo, 27 de julho, realizou-<strong>se</strong> em Brasiléia<br />

uma reun_ião dos sindicatos de trabalhadores rurais<br />

de Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri, Sena<br />

Madureira e Boca do Acre (AM), com a pre<strong>se</strong>nça<br />

de Jacob Bittar e Luiz Inácio da Silva, Lula.<br />

Segundo o Secretário de Segurança, houve "pronunciamentos<br />

quentes" durante a reunião com a<br />

pre<strong>se</strong>nça de cerca de 600 pessoas.<br />

Um dia depois, Nilo Sérgio foi morto por um<br />

grupo de <strong>se</strong>ringueiros armados na rodovia que liga<br />

Brasiléia a <strong>As</strong>sis Brasil...<br />

Algum dia talvez <strong>se</strong> chegue a esclarecer todo<br />

es<strong>se</strong> assunto e a estabelecer a autoria e a responsabilidade<br />

por ambos os crimes. Isto, contudo,<br />

compete à Polícia e à Justiça. O pre<strong>se</strong>nte trabalho<br />

tem por objetivo apenas mostrar a atuação <strong>das</strong><br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, na <strong>se</strong>lva, no campo<br />

e na cidade.<br />

Por essa razão, apre<strong>se</strong>ntam-<strong>se</strong> aqui alguns<br />

dados sobre o malogrado sindicalista assassinado,<br />

promotor, aliás, de uma <strong>das</strong> operações antes descrita<br />

por Frei Clodovis ("2. 0 caso: 'Mutirão contra<br />

"Terra e guerra", é como um <strong>se</strong>manário paulistano de<br />

centro-esquerda <strong>se</strong> refere aos conflitos no campo: em<br />

que medida as "operações pega-fazendeiro", promovi<strong>das</strong><br />

pelas <strong>CEBs</strong>, estão na origem ou de<strong>se</strong>nvolvimento<br />

nessa "guerra'?<br />

a jagunçada'"). Quem os fornece é o mesmo Frei<br />

Clodovis Boff, que o conheceu nos encontros de<br />

treinamento de monitores de <strong>CEBs</strong>, e está contida<br />

no livro já referido:<br />

"No treinamento de Brasiléia, no começo de<br />

dezembro [ de 1979), impressionou-me a convicção<br />

que o Wilson mostrou dando <strong>se</strong>u depoimento. Foi<br />

depois que o Centro de Defesa dos Direitos Humanos<br />

tinha passado uns diapositivos <strong>fala</strong>ndo da<br />

situação dos direitos humanos básicos no Acre:<br />

terra, <strong>se</strong>gurança, escola, casa. Na discussão que <strong>se</strong><br />

<strong>se</strong>guiu, o <strong>se</strong>nhor Wilson dis<strong>se</strong>:<br />

Estamos lutando há quatro anos no Sindicato<br />

de Brasiléia. Mas tem ainda <strong>muito</strong> trabalhador<br />

200


Parte 1/<br />

"Nós já sublinhamos que na América Latina<br />

e em qua<strong>se</strong> todos os paí<strong>se</strong>s subde<strong>se</strong>nvolvidos, o<br />

campo é que, nas condições atuais, constitui o<br />

terreno de luta ideal; dessa forma, a ba<strong>se</strong> <strong>das</strong><br />

reivindicações sociais que o guerrilheiro deve<br />

levantar <strong>se</strong>rá a mudança de estruturas da propriedade<br />

agrária. A luta deve de<strong>se</strong>nvolver-<strong>se</strong>,<br />

pois, continuamente sob a bandeira da Reforma<br />

Agrária" (Ernesto "Che" Guevara, Oeuvres<br />

J - Textes militaires, François Maspero, Paris,<br />

1976, pp. 52-53).<br />

que i contra o sindicato dele. Então, a culpa da<br />

opressão do trabalhador é também do próprio<br />

trabalhador. Quando tem problema de terra, o<br />

pessoal recorre ao Sindicato. Então nós temos por<br />

princípio empatar a venda da terra. Mas o pos<strong>se</strong>iro<br />

cede. Ele vende a terra. Vem para a cidade e<br />

depois volta querendo de novo a pos<strong>se</strong> da terra.<br />

Para Boca do Acre, contra a jagunçada, levamos<br />

73 homens. .. .. Nós fomos e voltamos com a<br />

vitória. O que eu não canso de dizer é isso: O<br />

próprio trabalhador é responsável de sua miséria.<br />

Ando dia e noite por to<strong>das</strong> as colocações (área de<br />

exploração entregues a um <strong>se</strong>ringueiro) dando<br />

explicação para o trabalhador .. .. '<br />

Capítulo Ili - 6<br />

E o Wilson teve o destino de Jesus e de todos<br />

os profetas - pros<strong>se</strong>gue Frei Clodovis. Os grandes<br />

jornais do Brasil do mês passado ljulho de 1980)<br />

noticiaram o assassinato de Wilson pelos fazendeiros.<br />

Noticiaram também que, por demora da<br />

justiça, os companheiros do mártir não tiveram<br />

paciência: fizeram justiça com suas próprias mãos<br />

- mataram o que eles consideravam o responsável<br />

daquela morte. Agora está no Acre a Comissão<br />

Justiça e Paz dos Bispos do Brasil (CNBB) para<br />

acompanhar de perto os fatos".<br />

Deixando de lado qualquer outra consideração<br />

que o texto possa sugerir, é de estranhar a facilidade<br />

com que o mentor de <strong>CEBs</strong> atribui a este<br />

ou aquele grupo ou pessoa a responsabilidade pela<br />

morte do dirigente sindical e monitor de <strong>CEBs</strong>,<br />

<strong>se</strong>m esperar pela conclusão dos inquéritos competentes.<br />

Da mesma forma, causa espécie a pressa do<br />

frade em justificar "os companheiros do mártir":<br />

"por demora da justiça", eles "não tiveram paciência"<br />

e "fizeram justiça com suas próprias mãos".<br />

Basta uma simples verificação de datas para constatar<br />

que a vingança dos companheiros de Wilson<br />

não <strong>se</strong> deveu à "demora da justiça": o sindicalista<br />

foi morto no dia 21 de julho de 1980; a reunião dos<br />

sindicatos à qual compareceu Lula foi no dia 27 do<br />

mesmo mês; o assassínio do fazendeiro Nilo Sérgio<br />

ocorreu no dia <strong>se</strong>guinte, 28. Ou <strong>se</strong>ja, uma<br />

<strong>se</strong>mana apenas depois da morte de Wilson.<br />

Ref erências: FREI Cwoov1s BoFF, Deus e o Homem no Inferno<br />

Verde, Vozes, Petrópolis, 1980, pp. 44. 81-82; IDEM, <strong>CEBs</strong> e<br />

Práticas de übertação, in "Revista Eclesiástica Brasileira",<br />

dezembro 1980, pp. 600-603; CARLOS ALBERTO LIB ÃN IO CH RISTO<br />

(FR EI BETo), O Canto do Galo - Relatório Pastoral de u:na<br />

visita à Prelazia de Acre e Purus, SPAR, Goiânia, 1977;<br />

"SEDOC", outubro 1976, col. 442 e maio 1980, col. 1145; "Folha<br />

de S. Paulo", 29-7-79; "Jornal do Brasil", 24-8-80.<br />

201


Reivindicar... Tensiona . . . Conscientizar ...<br />

Para conduzir os ,membros <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> ao marxismo na prática<br />

,,.<br />

E NA CHAMADA "periferia" <strong>das</strong> grandes cidades<br />

que a ação reivindicativa e de protesto de<br />

caráter político empreendida pelas <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolve<br />

de maneira mais intensa, porém qua<strong>se</strong> impalpável.<br />

Agentes pastorais bem treinados (Padres, freiras,<br />

leigos) instalam-<strong>se</strong> junto às sofri<strong>das</strong> populações<br />

dos bairros periféricos e aproveitam-<strong>se</strong> <strong>das</strong><br />

carências locais para atrair, mobilizar e conscientizar<br />

os moradores. A partir de problemas muitas vezes<br />

reais, mas <strong>se</strong>mpre exagerados e tratados de modo<br />

tensionante, vão criando um clima de descontentamento<br />

generalizado, de revolta e de luta de clas<strong>se</strong>s.<br />

Por -toda a parte, es<strong>se</strong>s agentes vão suscitando<br />

movimentos reivindicatórios, ou encampando os<br />

já existentes, conferindo-lhes uma nota política e<br />

ideológica antes desconhecida.<br />

Mas essa politização dos movimentos reivindicatórios<br />

não começou desde logo por uma pregação<br />

doutrinária: partiu de problemas que tocam<br />

diretamente o homem comum, que dizem respeito<br />

à sua vida de todos os dias, às suas aspirações mais<br />

imediatas, ou antes, às suas necessidades mais<br />

prementes.<br />

Essa movimentação toda <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nas "periferias"<br />

e nas favelas não tem por finalidade última<br />

202<br />

resolver problemas concretos de injustiças ou carências<br />

reais, mas sim, aglutinar, conscientizar e<br />

mobilizar a população, e ao mesmo tempo mostrar<br />

a falência do sistema e promover a sua derrocada.<br />

Não que neste ou naquele caso o objetivo visado<br />

não <strong>se</strong>ja de fato o atendimento de determinada<br />

reivindicação concreta: as <strong>CEBs</strong> têm necessidade<br />

de algumas vitórias, até por razões de credibilidade<br />

(uma atuação que nunca leva a nada desmoraliza<br />

qualquer movimento). Mas essa não é a<br />

finalidade principal, como salienta D. Angélico<br />

Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo<br />

e mentor de <strong>CEBs</strong> na Arquidioce<strong>se</strong>: " Toda reivindicação,<br />

mesmo aquela que não dá certo, é uma<br />

etapa importante na conscientização do povo".<br />

O importante é, portanto, reivindicar. Reivindicar<br />

<strong>se</strong>mpre e por toda a parte, mesmo que não dê<br />

certo: a luta comum ajuda a criar a "consciência de<br />

clas<strong>se</strong>", explica o marista gaúcho Irmão Antonio<br />

Cechin, coordenador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da Arquidioce<strong>se</strong><br />

de Porto Alegre e mentor dos lavradores de Ronda<br />

Alta.<br />

Muitas vezes os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> pedem<br />

com urgência o que <strong>sabe</strong>m que não há recursos<br />

para <strong>se</strong> lhes dar logo. Ou pedem o impossível, para<br />

não <strong>se</strong>rem atendidos, e assim provocarem a revolta.


Parte ll<br />

Ademais, to<strong>das</strong> as reivindicações são acres,<br />

com um fundo de indignação o qual estoura em<br />

manifestações de protesto <strong>se</strong> não forem atendi<strong>das</strong>.<br />

Em outros termos, o processo reivindicatório<br />

conduz os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> à luta de clas<strong>se</strong>s e<br />

ao marxismo na prática, antes mesmo de eles<br />

conhecerem a doutrina marxista, como salienta<br />

Frei Clodovis Boff.<br />

Aliás, não é por acaso que o Partido Comunista<br />

Brasileiro atribui importante conteúdo político<br />

D . Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São<br />

Paulo: "Toda reivindicação. mesmo aquela que não dá<br />

certo. ajuda a conscientizar o povo ... ..<br />

Capitulo Ili - 7<br />

às reivindicações promovi<strong>das</strong> pelas <strong>CEBs</strong> nos bairros<br />

periféricos e nas favelas.<br />

Tais movimentos reivindicatórios e de protesto<br />

não devem, entretanto, <strong>se</strong>r considerados em si<br />

mesmos, isoladamente, em <strong>se</strong>us aspectos, por assim<br />

dizer, episódicos, mas devem <strong>se</strong>r in<strong>se</strong>ridos no<br />

contexto mais amplo da intensa ação política<br />

de<strong>se</strong>nvolvida pelo clero engajado, por meio <strong>das</strong><br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e organizações<br />

auxiliares.<br />

Essa atuação constitui o que <strong>se</strong> costuma denominar<br />

"pressão de ba<strong>se</strong>", a qual <strong>se</strong> conjuga com a<br />

"pressão de cúpula", exercida pela CNBB, contra<br />

as instituições vigentes, em conformidade com a<br />

estratégia comunista aplicada em tantas nações,<br />

no <strong>se</strong>ntido de promover as reformas de estrutura<br />

(Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma da<br />

Empresa etc.), as <strong>quais</strong> conduzirão o País para um<br />

regime cada vez mais próximo da meta final: o<br />

socialismo autogestionário, última e mais radical<br />

etapa do comunismo.<br />

Seria cansativo passar em revista aqui toda<br />

essa movimentação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sobretudo nas periferias<br />

dos grandes centros urbanos, da qual a<br />

imprensa <strong>se</strong> ocupa largamente.<br />

Como <strong>se</strong> faz a "pressão de ba<strong>se</strong>"<br />

Alguns exemplos, tomados entre <strong>muito</strong>s, podem<br />

dar ao leitor uma idéia do clima emocional,<br />

de tensão e revolta em que é realizada essa "pressão<br />

de ba<strong>se</strong>". E de como fatos, muitas vezes realmente<br />

lamentáveis e dignos de reprovação, são<br />

instrumentalizados para efeitos de conscie ntização<br />

ou para exacerbar os ânimos e provocar a indignação.<br />

O que interessa ressaltar aqui não é o mérito<br />

<strong>das</strong> questões, mas a forma como as mesmas são<br />

conduzi<strong>das</strong>, e sua finalidade.<br />

203


A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhec~ -<br />

A TFP as descreve corno são<br />

• No bairro de Artur Alvim, um trem colheu<br />

um ônibus _que atravessava os trilhos, matando<br />

muitas pessoas. Fato trágico. Imediatamente realiza-<strong>se</strong><br />

manifestação junto aos trilhos, liderada pelo<br />

Bispo que atua na região, D. Angélico Sândalo<br />

Bernardino. Em meio a discursos e cartazes, D.<br />

Angélico propõe suspender to<strong>das</strong> as Missas, em<br />

um domingo, e convocar todo o povo para <strong>se</strong>ntar<strong>se</strong><br />

nos trilhos, caso não fos<strong>se</strong>m coloca<strong>das</strong> porteiras<br />

na passagem de nível. Foi dado à empresa ferroviária<br />

um prazo de 60 dias para o atendimento da<br />

reivindicação. Concomitantemente, membros da<br />

Comunidade fazem correr um abaixo-assinado<br />

<strong>As</strong> reivindicações promovi<strong>das</strong> ou encampa<strong>das</strong> pelas<br />

<strong>CEBs</strong> são conduzi<strong>das</strong> de modo a criar um clima de<br />

descontentamento e tensão. - Concentração diante da<br />

Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.<br />

pelo bairro, exigindo a colocação <strong>das</strong> referi<strong>das</strong><br />

porteiras.<br />

• A questão da falta de água nas periferias de<br />

São Paulo - cidade que cresce numa velocidade<br />

vertiginosa - <strong>se</strong>rve de ocasião, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong> diria de<br />

pretexto, para manifestações promovi<strong>das</strong> pelas<br />

<strong>CEBs</strong>.<br />

- No Jardim Eliana, "200 moradores" promovem<br />

uma pas<strong>se</strong>ata-procissão, até a bica que fornece<br />

água. Rezam e cantam. Um dos cânticos tem a<br />

<strong>se</strong>guinte estrofe (inspirada em versos de D. Pedro<br />

Casaldáliga):<br />

"Somos povo, somos gente,<br />

somos o povo de Deus<br />

queremos água em casa<br />

só temos água na bica.<br />

Conhecemos a verdade<br />

e o direito de <strong>se</strong>r mais.<br />

Exigimos liberdade<br />

te, ra, casa, água e paz".<br />

A propósito da falta d'.água, por <strong>pouco</strong> não <strong>se</strong><br />

chegou ao slogan de Lênin: "Pão, paz e terra" ...<br />

O próprio <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />

Paulo reconhece que "o pequeno pas<strong>se</strong>io da comunidade<br />

não teria sido possível, <strong>se</strong>m a pre<strong>se</strong>nça de<br />

três <strong>se</strong>minaristas" que há quatro anos "participam<br />

<strong>das</strong> atividades da Paróquia do Grajaú, constituída<br />

de <strong>se</strong>te pequenas comunidades do Setor Interlagos".<br />

• No Jardim Romano, o estaqueamento prévio<br />

para uma obra de grande vulto, faz <strong>se</strong>car os<br />

poços da região. A situação é aflitiva. D. Angélico<br />

sobe na carroceria de um caminhão, flaoqueado<br />

por dois violeiros, para arengar o "povo".<br />

Afirma que é só o povo <strong>se</strong> reunindo que as .1utori-<br />

204


Parte II<br />

Capítulo III - 7<br />

• No Parque Cocaia, Santo Amaro, os "moradores"<br />

cantam, diante da Imobiliária, os mesmos<br />

versos de D. Casaldáliga cantados pelos habitantes<br />

do Jardim Eliana, a propósito da falta<br />

d'água, só que, mudado o pretexto, os outros<br />

versos, de circunstância, também são alterados:<br />

"Somos povo, somos gente,<br />

somos um povo de Deus,<br />

queremos nossas escrituras<br />

queremos nossos terrenos".<br />

"Tenho <strong>se</strong>dei" - exclamou Nosso Senhor no alto da<br />

Cruz. Este pungente brado do Divino Redentor é aplicado<br />

num <strong>se</strong>ntido todo material por membros de <strong>CEBs</strong> da<br />

Zona Leste de SIio Paulo, para protestar contra a falta<br />

de égua.<br />

dades atendem, que a greve é um exemplo disso e<br />

que o governo tem medo do povo reunido.<br />

• Na Vila Ré, um "Posto de Saúde" é a reivindicação.<br />

Os promotores dizem que lutam pelos<br />

<strong>se</strong>us direitos e afirmam que só os ricos são privilegiados.<br />

O povo da periferia não tem nada<br />

daquilo a que teria direito.<br />

- Outro problema que dá margem a uma série<br />

de "pequenas ações conscientizadoras" (a expressão<br />

é de D. Angélico), é o da irregularidade em<br />

loteamentos populares. De si, evidentemente, é<br />

odioso explorar o pobre em <strong>se</strong>us já parcos haveres.<br />

Mas a <strong>se</strong> levar em consideração unicamente a<br />

movimentação promovida pelas <strong>CEBs</strong>, em São<br />

Paulo não existiriam <strong>se</strong>não loteadoras inescrupulosas<br />

e fraudulentas.<br />

O ponto de encontro dos "moradores" foi o<br />

Centro Comunitário da Igreja Nossa Senhora <strong>das</strong><br />

Graças, <strong>se</strong>de da equipe do Pe. Mariano Baraglia,<br />

dedicada à formação de Comunidades de Ba<strong>se</strong> na<br />

Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo.<br />

• Dia 6 de março de 1979, parque do Ibirapuera:<br />

liderados pela deputada estadual Irma Passoni<br />

(a ex-Irmã Angélica, líder de <strong>CEBs</strong>), mais de<br />

mil favelados chegam ao gabinete do Prefeito para<br />

pedir a pos<strong>se</strong> de todos os terrenos ocupados por<br />

favelas. O prefeito recebe uma comissão de moradores<br />

e diz que não pode atender <strong>se</strong>u pedido. A<br />

deputada leva a notícia aos que ficaram fora do<br />

gabinete, e inicia-<strong>se</strong> o comício político. Alto<strong>fala</strong>ntes,<br />

discursos inflamados e apartes revoltados<br />

compõem o quadro de hostilidade ao alcaide<br />

paulistano. É acentuado o inconformismo dos<br />

favelados.<br />

Além da proposta de compra do lote onde têm<br />

barraco, com prazo de um ano para construir uma<br />

casa de blocos de cimento, com pagamento do<br />

terreno proporcional aos vencimentos de cada<br />

família, pediram também a instalação de rede de<br />

água e esgoto, luz, policiamento, canalização de<br />

córregos, creche, uma escola e a criação de um<br />

posto de saúde. Os favelados, quando de<strong>se</strong>mbar-<br />

205


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

caram no pátio, em frente do gabinete do prefeito,<br />

foram informados que apenas <strong>se</strong>ria recebida uma<br />

comissão. Contrariados por não poderem <strong>se</strong> reunir<br />

com o prefeito, os favelados decidiram pedir,<br />

através de <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes, que o prefeito fos<strong>se</strong><br />

até eles para prestar os esclarecimentos sobre as<br />

reivindicações. O Chefe do Executivo municipal<br />

não cedeu a essa pressão, mas recebeu os vereadores<br />

e parlamentares que acompanhavam os favelados,<br />

e os repre<strong>se</strong>ntantes destes, e apre<strong>se</strong>ntou<br />

algumas soluções aos pedidos feitos, explicando a<br />

impossibilidade de atender a tudo. A resposta<br />

desagradou os "faveleiros".<br />

O incidente denuncia o modo de agir característico<br />

<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>: exigência de<br />

que a autoridade receba diretamente <strong>se</strong>us membros<br />

ou compareça às concentrações que promovem;<br />

apre<strong>se</strong>ntação de reivindicações impossíveis<br />

de <strong>se</strong>rem atendi<strong>das</strong>, quer pela sua natureza, quer<br />

pelo <strong>se</strong>u número, quer pela falta de recursos; com<br />

isso, os dirigentes criam entre as "ba<strong>se</strong>s", ingênuas<br />

e fáceis de <strong>se</strong>rem manipula<strong>das</strong>, <strong>se</strong>ntimentos de<br />

frustração e revolta contra o poder constituído, o<br />

qual é acusado pelos mentores do movimento de<br />

<strong>se</strong>rem surdos aos "pequenos", aos "oprimidos", só<br />

dando ouvido às exigências dos "grandes", dos<br />

"ricos", dos "poderosos".<br />

Referências: Livros: P AUL SI NGER, Movimentos de bairro, in<br />

PAUL SI NGER E VINICIUS C ALDE IRA BRANDT (org.), São Paulo: o<br />

povo em movimento, Editora Vo zes-CEBRAP, 1980, p. 91 ;<br />

IR MÃO ANTON IO CECHIN, A cateque<strong>se</strong> nas comunidades eclesiais<br />

de ba<strong>se</strong>, in D. ADRIANO HIPÓLITO E OUTROS, Pastoral popular<br />

libertadora, Escola Superior de Teologia São Lourenço de<br />

Brindes, Porto Alegre, 1981 , p. 124; COLETIVO NACIONAL DE<br />

DIRIGENTES COMU NISTAS, Te<strong>se</strong>s para um debate nacional de<br />

comunistas pela legalidade do PCB, Editora Juruá, São Paulo,<br />

1981, pp. 92-93. Artigos e notícias: FREI BETo, Da prática da<br />

pas1oral popular, in "Encontros com a Civilizaçã o Brasileira",<br />

agosto 1978, pp. 105- 106; ARQUIDIOC ESE DE s. P AULO - R EG IÃO<br />

EPI SCOPAL DE SÃO MIGUEL, O povo <strong>se</strong> organiza caminhando -<br />

<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de Comunidades, 1981 , mimeografado; FREI CL0-<br />

oov1s BoFF OSM, A influência po/í1ica <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>), in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979, col.<br />

816; "Boletim <strong>das</strong> Porteiras", mimeografado; "Brasil Mulher",<br />

novembro de 1978, p. 5; "Movimento", 12-5-80, p. 11 ; "Veja",<br />

29-12-76, pp. 30-31; "Folhetim" n. 0 106, 28-1-79, p. 4; "Jornal<br />

do Brasil", 14-5-78 ; "Folha de S. Paulo", 14 e 23-4-79; 29-6-81.<br />

"O Estado de S. Paulo", 8 e 22-3-79; 3-4-82. "O São Paulo", 25-6-<br />

77, p. 10; 2-7-77, p. I; 10-7-77, p. 1; 16-7-77, pp. 4-5 ; 27-8-77,<br />

p. 2; 3-9-77, pp. J , 8 e 10; 22-10-77, p. 10; 29-10-77, p. 8;<br />

31-12-77, p. 5; 15-7-78, p. 5; 6-1-79, p. 5; 24-4-81 , p. 4.<br />

A "máquina" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> <strong>se</strong>rve também dos favelados para pressionar as autoridades. Na foto, concentração diante<br />

da Prefeitura de Sl o Paulo: o cartaz improvisado (cheio de erros - propositais? - de português) contrasta com a<br />

faixa confeccionada de acordo com os melhores padrões técnicos do gênero.


A DEPUTADA estadual Irma Passoni (PT),<br />

<strong>fala</strong>ndo na Universidade Metodista de Piracicaba,<br />

em março de 1981, sobre sua atuação nas <strong>CEBs</strong> da<br />

Zona Sul de São Paulo, fez a <strong>se</strong>guinte confissão:<br />

"Temos organizado, muitas vezes, invasões aterrenos<br />

do IAPAS porque os favelados não têm mais<br />

onde construir". Me<strong>se</strong>s depois, D. Angélico Sândalo<br />

Bernardino, Bispo da Zona Leste de São<br />

Paulo, afirmava <strong>se</strong>r preciso que, mediante a organização<br />

do povo, "a terra que foi roubada do<br />

povo, e está nas mãos de <strong>pouco</strong>s, pas<strong>se</strong> a <strong>se</strong>r pos<strong>se</strong><br />

de todos, <strong>se</strong>ja através da legitimação, <strong>se</strong>ja através<br />

da invasão de terrenos pertencentes ao governo".<br />

Tanto o Bispo Auxiliar de São Paulo, como a<br />

deputada, ambos corifeus do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, são taxativos ao afirmar<br />

que <strong>se</strong> deve invadir, e que já <strong>se</strong> estão invadindo<br />

terrenos urbanos. E D. Angélico, lembrando<br />

Marx e Proudhon, explica a razão: fazer com<br />

que a terra que "foi roubada do povo e está nas<br />

mãos de <strong>pouco</strong>s, pas<strong>se</strong> a <strong>se</strong>r pos<strong>se</strong> de todos". Ou<br />

<strong>se</strong>ja, instaurar o socialismo coletivista. Promover<br />

uma Reforma Urbana radical.<br />

A espetacular ocupação da Fazenda ltupu, de<br />

propriedade do IAPAS, no bairro Alto da Riviera,<br />

Zona Sul de São Paulo, ilustra bem a atuação<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nas invasões de terrenos urbanos.<br />

lnvasiles na Zona Sul de SIio Paulo:<br />

"organização caprichada"<br />

Embora a invasão da área de 28 alqueires,<br />

próxima à Represa Guarapiranga, Zona Sul de<br />

São Paulo, no dia 6 de <strong>se</strong>tembro de 1981, não<br />

tenha sido a primeira <strong>das</strong> ocupações de terrenos<br />

promovi<strong>das</strong> pelas <strong>CEBs</strong> na capital paulista, foi<br />

<strong>se</strong>m dúvida a mais espetacular. A antiga Fazenda<br />

ltupu foi durante dias palco de um <strong>muito</strong> bem<br />

montado show ou ação de guerra psicológica,<br />

destinado a impressionar o País: os "carentes",<br />

levados pelo de<strong>se</strong>spero, invadiram áreas "abandona<strong>das</strong>",<br />

procurando solucionar por conta própria<br />

um dos mais angustiantes problemas urbanos - o<br />

da moradia -, que uma sociedade falida não<br />

podia ou não queria resolver.<br />

Segundo declarações do diretor do DEOPS<br />

paulista à imprensa, a invasão da Fazenda Itupu<br />

foi decidida e planejada em uma série de reuniões<br />

realiza<strong>das</strong> durante me<strong>se</strong>s na Sociedade dos Amigos<br />

do Alto Riviera e nas Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong>, com a participação, entre outros, de<br />

Padres Oblatos de Maria Imaculada (norte-americanos);<br />

de Frei Airton Pereira da Silva, dominicano;<br />

dos deputados Aurélio Perez (PMDB) e<br />

207


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Irma Passoni (PT) e do vereador Benedito Cintra<br />

(PMDB).<br />

Os Padres James Gibbons (superior provincial<br />

dos Oblatos) e John Drexel negaram o envolvimento<br />

de sua Congregação com a invasão, mas<br />

admitiram que a proposta de invasão havia sido<br />

levantada em reunião de uma Comunidade Eclesial<br />

de Ba<strong>se</strong> da região, tendo sido "totalmente<br />

refutada" (sic).<br />

Numa última reunião, com os mesmos participantes,<br />

dois dias antes da invasão, os pormenores<br />

da operação foram acertados. É de um <strong>se</strong>manário<br />

pauiista o relato abaixo:<br />

"Dois dias antes, um grupo bem menor, cerca<br />

de vinte pessoas, havia realizado um outro encontro,<br />

entre quatro paredes, na <strong>se</strong>de da Sociedade<br />

Amigos do Alto da Riviera - região do bairro<br />

onde está situada a fazenda -, para planejar a<br />

invasão. Todos os detalhes foram considerados ali.<br />

O es<strong>se</strong>ncial era formar, antes de tudo, uma comissão<br />

coordenadora do movimento. Ou <strong>se</strong>ja, um<br />

grupo que <strong>se</strong> encarregas<strong>se</strong> de espalhar pelo bairro<br />

a falsa notícia de que a Prefeitura estava doando<br />

terras ali perto; outro que arregimentas<strong>se</strong> voluntários<br />

para o trabalho braçal (preparar o loteamento);<br />

mais um para organizar e dirigir as as<strong>se</strong>mbléias<br />

diárias dos pos<strong>se</strong>iros; e, finalmente, uma<br />

turma que cui<strong>das</strong><strong>se</strong> para que ninguém abandonas<strong>se</strong><br />

completamente <strong>se</strong>u terreno - orientando os<br />

invasores para trazerem cobertores, lampiões e<br />

café para suportar as madruga<strong>das</strong>. Organização<br />

caprichada".<br />

Nessa mesma reunião ficou combinada uma<br />

concentração prévia no campo de futebol do bairro<br />

da Figueira Grande: de lá, cerca de 200 a 400<br />

pessoas, arma<strong>das</strong> de foices, facões, picaretas, enxa<strong>das</strong>,<br />

cavadeiras e muni<strong>das</strong> de trenas e outros<br />

apetrechos, deslocaram-<strong>se</strong> para a antiga fazenda<br />

do IAPAS. Os organizadores haviam já espalhado<br />

pela região a falsa notícia de que a Prefeitura ia<br />

doar terras da Fazenda ltupu (artifício, aliás, utilizado<br />

em várias outras invasões, não apenas em<br />

São Paulo), e que cada interessado deveria demarcar<br />

o <strong>se</strong>u lote. Os coordenadores do movimento foram<br />

levados ao campo de futebol num carro dos Padres<br />

Oblatos, os <strong>quais</strong>, juntamente com Frei Airton,<br />

respondem pela Paróquia de Vila Remo, próxima dali.<br />

Consumada a invasão, os dirigentes da operação<br />

(identificados por um grande crachá de cartolina<br />

branca, <strong>se</strong>m nomes, apenas com a inscrição<br />

"Comissão") começaram a orientar os invasores,<br />

por meio de as<strong>se</strong>mbléias, realiza<strong>das</strong> várias vezes<br />

por dia. Apesar do anonimato, a imprensa identificou<br />

como um dos mais ativos membros da<br />

"Comissão" o marido da deputada Irma, o professor<br />

Armelindo Passoni: "<strong>As</strong> operações de campo<br />

foram visivelmente comanda<strong>das</strong> por Arme/indo,<br />

que, munido de uma prancheta, .... trabalhava<br />

desde o rair do sol até o final da noite ca<strong>das</strong>trando<br />

pos<strong>se</strong>iros, espichando a fita métrica de uma<br />

trena para cima e para baixo, orientando todo o<br />

trabalho da 'comissão' ".<br />

Dias depois, D. Fernando Penteado, Bispo<br />

Auxiliar e Coordenador <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo,<br />

visitou a área invadida e ocupada.<br />

Os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni e o<br />

vereador Benedito Cintra negaram terem instigado<br />

a invasão, mas não desmentiram o <strong>se</strong>u apoio<br />

decidido aos invasores. Comentando a invasão,<br />

Aurélio Perez teve uma fra<strong>se</strong> enigmática: "O próximo<br />

passo é o saqueamento dos supermercados,<br />

pois o homem com f orne é uma fera".<br />

- Prognóstico ou ameaça?<br />

D. Angélico Sãndalo Bernardino considerou a<br />

invasão como um "gritante sinal q_ nos indicar que<br />

208


Parte II<br />

Capítulo III - 8<br />

o povo busca sua libertação". "Libertação", por<br />

meio da violência e invasões, com desprezo da<br />

ordem constituída, tem um nome: Revolução.<br />

No <strong>se</strong>xto dia da ocupação (11 de <strong>se</strong>tembro) foi<br />

efetuada a desocupação da gleba e a reintegração<br />

de pos<strong>se</strong> ao IAPAS, decreta<strong>das</strong> pela Justiça. A<br />

operação de despejo transcorreu <strong>se</strong>m incidentes,<br />

mas não <strong>se</strong>m desgaste para o Poder constituído,<br />

obrigado a mobilizar forte contingente policialmilitar<br />

(cerca de três mil homens da Polícia Militar,<br />

da Civil e da Federal) para garantir o cumprimento<br />

da decisão judicial.<br />

Uma <strong>se</strong>mana depois da desocupação judicial<br />

do terreno do IAP AS, cerca de 300 pessoas, lide-<br />

A ocupação da Fazenda do IAPAS, em São Paulo, foi um<br />

bem montado show de guerra psicológica revolucionária:<br />

"carentes", em de<strong>se</strong>spero, invadem áreas "abandona<strong>das</strong>".<br />

Um dos planejadores do lance teria sido Aurélio<br />

Pérez, deputado e animador de <strong>CEBs</strong> (foto menor).<br />

Armelindo Passoni, marido da deputada lrma, coordenou<br />

a operação (foto grande).


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

ra<strong>das</strong> pelos mesmos deputados Aurélio Perez e<br />

Irma Passoni e pelo vereador Benedito Cintra,<br />

concentraram-<strong>se</strong> diante da <strong>se</strong>de da Prefeitura de<br />

São Paulo, no Parque do lbirapuera, para "cobrar<br />

do prefeito a promessa de ceder uma área municipal<br />

para construção de nossas casas". Posteriormente<br />

o prefeito afirmou ter provas de que 80%<br />

des<strong>se</strong>s auto-intitulados "pos<strong>se</strong>iros da Fazenda ltupu",na<br />

realidade não haviam participado da invasão<br />

do terreno do IAP AS. Não passavam, pois, de<br />

meros figurantes de um novo show: os pobres<br />

"pos<strong>se</strong>iros" expulsos de "suas" terras, a pedir<br />

justiça ...<br />

Além disso, o prefeito apre<strong>se</strong>ntou fotografias<br />

para comprovar que vários dos manifestantes e­<br />

ram os mesmos que no ano anterior tinham estado<br />

na Prefeitura para reivindicar creches. Entre estes<br />

achava-<strong>se</strong> Maria Saraiva, responsável pelo aluguel<br />

dos ônibus que levaram os manifestantes à Prefeitura,<br />

e que, ela sim, havia participado ativamente<br />

da invasão da Fazenda ltupu, usando inclusive<br />

megafone para dirigir a ocupação. Maria Saraiva,<br />

que liderou outras invasões na região, é <strong>das</strong> mais<br />

destaca<strong>das</strong> ativistas do Movimento Contra a Carestia,<br />

um dos "braços políticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, que<br />

conta entre <strong>se</strong>us principais dirigentes precisamente<br />

os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni.<br />

"reflexão" e discussão <strong>das</strong> Comunidades, em<br />

forma de celebração, com características de sociodrama,<br />

o caso da invasão de um terreno da<br />

Prefeitura, na Rua Monte Taó, patrocinada pelas<br />

próprias <strong>CEBs</strong>. O <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de<br />

São Paulo, de larga penetração nas Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, ocupou-<strong>se</strong> também do caso em várias<br />

reportagens.<br />

A invasão do terreno da Rua Monte Taó,<br />

Jardim Camargo Novo, Itaim Paulistá, não foi tão<br />

espetacular como as que vieram depois. Começou<br />

discretamente, em fins de maio de 1981: uma<br />

família, <strong>se</strong>guida depois de outras, instalou-<strong>se</strong> no<br />

terreno em questão. Um morador da rua, alegando<br />

<strong>se</strong>r proprietário da área, comunicou a invasão à<br />

Prefeitura e chamou a Polícia. Entram então em<br />

cena as Comunidades de Ba<strong>se</strong>, conforme o relato<br />

de "O São Paulo":<br />

Monte Ta6: as <strong>CEBs</strong> de São Paulo<br />

Invadem também n·a Zona Leste<br />

Na Zona Leste de São Paulo, as invasões de<br />

terrenos foram precedi<strong>das</strong> de "encontros" de<br />

Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, os <strong>quais</strong> tinham<br />

como roteiro o livrinho O povo <strong>se</strong> organiza<br />

caminhando, lançado pela Região Episcopal de<br />

São Miguel, cujo Bispo é D. Angélico Sândalo<br />

Bernardino. O livrinho apre<strong>se</strong>nta como tema de<br />

210


Parte li<br />

A invasão de terrenos<br />

na Zona Leste<br />

de Silo Paulo (na<br />

fot o da página precedente,<br />

invasores<br />

do Jardim Robru),<br />

foi preparada por<br />

encontro <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

da região. Ao lado,<br />

a cartilha que <strong>se</strong>rviu<br />

de roteiro para<br />

es<strong>se</strong> encontro.<br />

O POVO<br />

"Uma pessoa da Comunidade São Marcos, que<br />

ia passando pelo local, resolveu verificar o que<br />

estava acontecendo. <strong>As</strong>sim que constatou as violências<br />

que estavam <strong>se</strong>ndo sofri<strong>das</strong> pelas famílias,<br />

<strong>se</strong> dirigiu imediatamente ao salão da comunidade,<br />

e ali com outras pessoas pertencentes à comunidade<br />

resolveram apoiar as famílias despeja<strong>das</strong> e<br />

ainda fazer um levantamento de outras famílias<br />

em igual situação . .... Enquanto isso, uma comissão<br />

de 8 pessoas, entre as <strong>quais</strong> várias que também<br />

iriam invadir o terreno, relacionaram 20 famílias<br />

que estavam passando por gran-des dificuldades, e<br />

resolveram organizar um mutirão durante todo o<br />

dia e toda a noite do dia 13 / 06. E encerrar<br />

simbolicamente es<strong>se</strong> mutirão com uma celebração<br />

da qual participariam cerca de 30 comunidades de<br />

todo o Itaim Paulista . .... No mesmo dia a partir<br />

Capítulo Ili - 8<br />

de 15 hs começou o mutirão. Ele/oi noite adentro<br />

com o apoio de qua<strong>se</strong> to<strong>das</strong> as famílias da<br />

comunidade. .... O mutirão terminou com uma<br />

celebração no local no dia 14/06, do qual participaram<br />

cerca de 30 comunidades, que vinham até<br />

o local em caminhada com faixas e cartazes . ....<br />

Além <strong>das</strong> comunidades as famílias contaram com<br />

a pre<strong>se</strong>nça de D. Angélico, bispo da região, e da<br />

Deputada Irma Passoni".<br />

O livrinho destinado às <strong>CEBs</strong> da Região de<br />

São Miguel apre<strong>se</strong>nta o caso de Monte Taó como<br />

"a história da luta por um pedaço de terra e a<br />

opressão dos poderosos". E a compara com a<br />

"história do Servo Sofredor" (profecia de Isaías a<br />

respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo), depois do<br />

que vêm as perguntas-insinuantes e as conclusões<br />

conscientizadoras: ·<br />

"O POVO SE ORGANIZA CAMINHANDO<br />

Animador: O que virá? Não <strong>se</strong> <strong>sabe</strong> ainda.<br />

Vão <strong>se</strong>r retirados do local? ·<br />

Vão vencer resistindo até o fim?<br />

Vão con<strong>se</strong>guir outro local para morar?<br />

Para enfrentar essa opressão, o povo está <strong>se</strong><br />

UNINDO e ADQUIRINDO EXPERIÊNCIAS<br />

NA ORGANIZAÇÃO à medida em que novas<br />

represálias e novas dificuldades surgem.<br />

Leitor: Em to<strong>das</strong> as i<strong>das</strong> às autoridades (Regional,<br />

Prefeitura, Delegacia, Cabes) uma COMIS­<br />

SÃO <strong>se</strong> prepara junto com o pessoal para <strong>fala</strong>r e<br />

defender a posição de todos. Todos são responsáveis.<br />

Não <strong>se</strong> entrega ninguém. É a fome, a necessidade,<br />

a precisão que faz com que todos lutem por<br />

um pedaço de chão. Essa história nos ensina uma<br />

coisa <strong>muito</strong> séria e indispensável:<br />

TODOS: O POVO SE ORGANIZA CAMI­<br />

NHANDO, ASSUMINDO E EXECUTANDO<br />

SUA MISSÃO!"<br />

211


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong>ja/a, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

E termina com o ítem: "Discuta com <strong>se</strong>us<br />

companheiros":<br />

"J. O nosso grupo e nossa Comunidade é<br />

solidária às lutas populares que acontecem no<br />

Brasil, em São Paulo, em nossa Região? Como<br />

apoiamos? ·<br />

2. O que a luta de MONTE TAÓ tem a nos<br />

ensinar?<br />

3. O que significa caminhar unidos e organizados?"<br />

Es<strong>se</strong> roteiro era destinado a preparar ás <strong>CEBs</strong><br />

da região de São Miguel para o Encontro Regional<br />

de Comunidades, a realizar-<strong>se</strong> em 20 de<br />

<strong>se</strong>tembro de 1981. Depois de <strong>se</strong>melhantes "reflexões"<br />

e "discussões", é de estranhar que em 1. 0 de<br />

outubro começas<strong>se</strong>m as invasões de terrenos na<br />

região?<br />

Terá sido por mera coincidência que, após as<br />

invasões em série de terrenos (além de São Paulo,<br />

o fato <strong>se</strong> repetiu nas principais capitais do País),<br />

no ano de 1981, a CNBB, em sua reunião plenária<br />

do começo do ano <strong>se</strong>guinte, tenha aprovado um<br />

documento pleiteando a Reforma Urbana?<br />

Referências: ARQUIDIOCESE DE GOIÂNIA - SECRETARIADO DA<br />

PASTORAL, Cartilha do pos<strong>se</strong>iro Urbano, 1980; "Tribuna Piracicabana"<br />

(Piracicaba-SP), 27-3-81; "Isto é", 16-9-81 ; "Folha<br />

de S. Paulo", 8 a 23-9-81; "Jornal do Brasil", 14-7, 7 e 8-9-81;<br />

"O Estado de S. Paulo", 9, 19, 22 e 30-9, 1-10-81; "O São<br />

Paulo", 3-7 e 28-8-81 ; "Brasil Reportagem", Ano 1, n. 0 2, 1979,<br />

pp. 36-37; ARQUIDIOCESE DE SÃO P AULO, Guia Geral 1980; R E­<br />

GIÃO EPISCOPAL DE SÃO MIGUEL (Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo), o<br />

· povo <strong>se</strong> organiza caminhando, mimeografado, s.d.; "Isto é",<br />

16-9-81, pp. 21-23; "Jornal do Brasil", 7-9 e 8-9-81; "Folha de<br />

S. Paulo", 8-9, 11-9, 19-9 e 23-9-81 ; "O Estado de S . Paulo",<br />

. 19-9, 22-9, 23-9 e 30-9-81, 1-10-81 ; "O São Paulo", 13-7-81 ,<br />

p. 9 e 11-9-81.<br />

Mais um ato do show <strong>das</strong> invasões: para pre1111ionar as autoridades, invasores de terrenos urbanos <strong>se</strong> valem do<br />

titulo de "pos<strong>se</strong>iros".<br />

212


Parte /l Capítulo lll - 8<br />

Lições para ocupar a terra alheia -<br />

A ARQUIDIOCESE de Goiânia lançou u­<br />

ma Cartilha do Pos<strong>se</strong>iro Urbano, a qual tem<br />

orie_ntado invasões de terrenos não só naquela<br />

capital, mas também em outras partes do Brasil<br />

(foi encontrada, por exemplo, entre os ocupantes<br />

da Vila dos Bancários, em Porto Alegre).<br />

A Cartilha parte do princípio <strong>se</strong>guinte: a<br />

Constituição brasileira estabelece que o salário<br />

mínimo deve <strong>se</strong>r suficiente para atender a to<strong>das</strong><br />

as necessidades do trabalhador, entre as <strong>quais</strong> a<br />

de moradia digna. Sempre que tal não acontecer,<br />

este tem o direi~o de procurar um terreno<br />

vazio e ali construir <strong>se</strong>u barraco, "crente que<br />

aquele terreno é de direito do trabalhador que<br />

faz a ri9ueza do Brasil". Criando a figura do<br />

"pps<strong>se</strong>iro urbano", a Cartilha afirma que o<br />

invasor de um terreno "abandonado" que nele<br />

construiu um barraco e fez outras benfeitorias<br />

não pode <strong>se</strong>r incomodado, pois "este é o maior<br />

documento que <strong>se</strong> torna até mais sagrado que o<br />

documento escriturado que ficou abandonado".<br />

Recomenda que qualquer "ato de violência ou<br />

tentativa de retirada dos moradores" <strong>se</strong>ja denunciado<br />

à Comissão Pastoral da Terra, aos<br />

jornais e à televisão. Acon<strong>se</strong>lha ainda a "procurar<br />

ajuda e solidariedade nas Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>, nas Igrejas e nas Paróquias".<br />

A Cartilha joga de modo ambíguo com os<br />

termos "desocupado", "vazio" e "abandonado"<br />

. . ... . '<br />

mais ou menos como smommos de "terra de<br />

A 11 Cartilha do pos<strong>se</strong>iro urbano,,<br />

ninguém". Uma <strong>das</strong> ilustrações, por exemplo,<br />

apre<strong>se</strong>nta um homem com um saco às costas<br />

dizendo à mulher: "Maria! Aquela terra está<br />

abandonada! Deve <strong>se</strong>r de ninguém. Vamos fazê<br />

o nosso barraco lá!?"<br />

Depois de explicar os casos em que o<br />

"pos<strong>se</strong>iro" pode <strong>se</strong>r despejado por ordem judicial,<br />

a Cartilha ensina: "Antes que chegue nesta<br />

situação, ainda há mais um recurso que é a<br />

força da união, capaz de mudar o rumo suspendendo<br />

o despejo, dando-lhe da pos<strong>se</strong> o<br />

direito através da desapropriação". Ou ·<strong>se</strong>ja<br />

ensina a resistir em grupo, gerando um foco ·d~<br />

tensão e pressionando as autoridades a promoverem<br />

a desapropriação do terreno por interes<strong>se</strong><br />

social, nos termos da legislação vigente.<br />

Para tal resistência, insiste na "união comunitária",<br />

na formação de comunidades e associações<br />

de moradores, as <strong>quais</strong> devem estudar<br />

em conjunto as propostas de acordo feitas pelos<br />

proprietários ou autoridades para desocupação<br />

da área invadida, e impedir acordos individuais.<br />

Todo o línguajar da Cartilha é eivado do<br />

espírito da luta de clas<strong>se</strong>s, apre<strong>se</strong>ntando <strong>se</strong>mpre<br />

o proprietário, o rico, como opressor, que quer<br />

aumentar <strong>se</strong>us lucros, engrossar <strong>se</strong>u capital pela<br />

exploração do pobre, do trabalhador.<br />

Referências: "Correio do Povo" e "Zero Hora" (Porto<br />

Alegre), 18 e 19-8-81; ARQUIDIOCESE DE GOIANIA- SECRETA­<br />

RIADO DA PASTORAL, Cartilha do Pos<strong>se</strong>iro Urbano, 1980.<br />

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213


O Movimento Contra a 'Carestia, un1 dos<br />

"braços político ' <strong>das</strong> C EBs<br />

OS GRAVES distúrbios 4ue abalara~ Salvador<br />

nos me<strong>se</strong>s de agosto e <strong>se</strong>tembro do ano<br />

.. passado trouxeram de novo para as páginas dos<br />

, } jornais o nome de uma entidade nascida nas <strong>CEBs</strong><br />

/, ,;:._, da Zona Sul de São Paulo e que <strong>se</strong> espalhou por<br />

/ ,~


Parte li Capítulo Ili - 9


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, poucu sr conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

o quebra-quebra de velculos como forma de protesto foi debatido em reuniões de Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

Nas fotos, depredação de trens suburbanos e manifestação do Movimento Contra a Carestia, em São Paulo.<br />

em 1978, e que <strong>se</strong> constituiu numa <strong>das</strong> bandeiras<br />

da Oposição, <strong>se</strong>ndo que no pleito daquele ano<br />

foram eleitos diversos dirigentes do MCV: Irma<br />

Passoni e Marco Aurélio Ribeiro, a deputado<br />

estadual; Aurélio Perez, a deputado federal, todos<br />

pela sigla oposicionista (MDB).<br />

Es<strong>se</strong> abaixo-assinado teve ainda importante<br />

papel na deflagração e sustentação <strong>das</strong> greves<br />

de<strong>se</strong>ncadea<strong>das</strong> em São Paulo e no ABC, a partir<br />

de 1978.<br />

Por isso tudo, o Movimento do Custo de Vida<br />

- hoje Movimento Contra a Carestia - foi consi-<br />

derado por um comentarista como o principal dos<br />

"braços políticos" <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

Referências: "A Tarde", 22 e 23-8, 3, 4 e 22-9-81; "Correio da<br />

Bahia", 22-8-81; "Jornal da Bahia", I 1, 15, 21 e 22-8-81;<br />

"Tribuna da Bahia", 21 a 27-8, 15-9-81: "Jornal do Brasil", 23,<br />

26 e 27-8, 21-9-81; "Folha de S. Paulo", 22 a 27-8, 4-9-81;<br />

"O Estado de S. Paulo", 21 a 29-8, 4 e 5-9, 24-lú -81 ; "Veja", 9-<br />

9-81 , pp. 20-23; "Tribuna Operáric1", 29-9-8 I, p, 2; "Tribuna<br />

Piracicabana", 27-3-81; P. S1NGER E V. C. BR ANDT :org.), São<br />

Paulo: o povo em movimento, Vozes-CEBRAP, Pctrópohs­<br />

S. Paulo, 1980, pp. 97-101 ; "O São Paulo", 10-5-79; "Isto é",<br />

22-3-78, pp. 8-1 I; 3-5-78, p. 24; 21-2-79, p. 23; "Cadernos do<br />

CEAS", <strong>se</strong>tembro-outubro 1978, p. 23.<br />

216


..<br />

••<br />

Função social, p orrete e faca ll'O•••<br />

PLINIO CORRtA DE OLIVEIRA<br />

1<br />

Dado o esquema especial de imposição <strong>das</strong> páginas<br />

do pre<strong>se</strong>nte volume, sobrava em branco um fólio. Constituía-<strong>se</strong><br />

assim, para a Editora, o minúsculo problema de<br />

aproveitar ou desperdiçar essas duas páginas em branco.<br />

Não há empresa de publicidade que perca qualquer<br />

ocasião para <strong>se</strong> dirigir ao público... Como aproveitá­<br />

/a, então?<br />

-A solução <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntou à Editora desde logo, providencial.<br />

E simples como tantas vezes são as coisas<br />

da Providência.<br />

Com efeito, o mais recôndito background da demagogia<br />

sócio-econômica <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />

Ba<strong>se</strong> está na deturpação de um ensinamento <strong>muito</strong><br />

verdadeiro da Doutrina da Igreja sobre a função social<br />

da propriedade. Publicar, pois, algo sobre essa def armação<br />

enriquece o pre<strong>se</strong>nte livro.<br />

No caso, enriquece-o especialmente por <strong>se</strong> tratar da<br />

transcrição de um luminoso artigo escrito pelo Prof<br />

Plinio Corrêa de Oliveira para a "Folha de S. Paulo"<br />

(12-8-82), contendo sobre o qssunto uma argumentação<br />

jamais apre<strong>se</strong>ntada até hoje - que saibamos.<br />

""<br />

A<br />

primeira vista, nada de mais simples, nem de<br />

mais claro: <strong>se</strong> A é proprietário de bens que lhe<br />

sobram, e B está em risco de vida porque lhe<br />

falta uma parcela des<strong>se</strong>s bens e, ademais, B não tem com<br />

o que pagar A, estabelece-<strong>se</strong> entre A e B uma situação<br />

conflitual. Pois o direito à vida de B entra em choque<br />

com o direito de propriedade de A. Qual dos direitos<br />

deve prevalecer? Evidentemente o de B, pois o direito<br />

que um homem tem à sua vida é preeminente em relação<br />

ao direito que outro tem à sua propriedade.<br />

Esta solução tão simples, que <strong>se</strong> prende à função<br />

social da propriedade, constituía matéria para investigações<br />

- obras-primas de subtileza e sansatez - dos<br />

moralistas católicos antigos. <strong>As</strong>sim, debatiam eles <strong>se</strong> a<br />

obrigação de A assistir a B pertencia aos deveres de<br />

caridade ou aos de justiça. Neste último caso, em que<br />

gênero de justiça <strong>se</strong> encaixavam: comutativa ou distributiva.<br />

E <strong>se</strong>ndo na distributiva, caso o beneficiário<br />

adquiris<strong>se</strong> posteriormente haveres que lhe sobras<strong>se</strong>m, <strong>se</strong><br />

era obrigado a reembolsar o benfeitor. Em qualquer<br />

eventualidade, ficaria B devendo gratidão a A, isto é,<br />

afeto, respeito, ajuda quando ocorres<strong>se</strong> o caso? E assim<br />

outras questões, algumas <strong>das</strong> <strong>quais</strong> nada simples, to<strong>das</strong><br />

<strong>muito</strong> importantes não só para a boa formação moral do<br />

católico mas também para o adequado relacionamento<br />

entre os homens.<br />

Exemplifico. Se alguém não tem como pagar moradia,<br />

e outrem tem casas de sobra, o <strong>se</strong>gundo deve<br />

franquear gratuitamente alguma habitação ao necessitado;<br />

ou <strong>se</strong> alguém não tem onde plantar, e outrem<br />

tem terras de sobra, este último deve facilitar<br />

as terras necessárias ao primeiro. "Franquear", "facilitar"?<br />

O que querem dizer exatamente es<strong>se</strong>s vocáde<br />

carência? Ou dar? Opino que, <strong>se</strong>mpre quando a<br />

situação de B possa <strong>se</strong>r remediada com um simples<br />

empréstimo, exigir a doação constitui autêntico abuso.<br />

Um <strong>pouco</strong> como S6, precisando de pão um indigente, o<br />

padeiro lhe tives<strong>se</strong> que dar a padaria, e não apenas o pão.<br />

Opino ainda que, podendo o indigente que consiga<br />

abastança reembolsar quem lhe cedeu o uso gratuito, ou<br />

a propriedade de algum bem, deve fazê-lo . E que, em<br />

qualquer caso, o beneficiário fica vinculado ao benfeitor<br />

pelos laços do respeito e da gratidão. Deve-lhe homenagem<br />

e assistência.<br />

• • •<br />

Bem entendido, assim não pensa a "esquerda católica".<br />

O carente deve ver em todo abastado um ladrão, o<br />

qual está indebitamente de pos<strong>se</strong> de algo daquilo a que o<br />

carente tem direito estrito. Pelo que, ao carente toca o<br />

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direito de avançar pura e simplesmente - de porrete ou<br />

faca na mão, <strong>se</strong> fo r preciso - contra o abastado, e<br />

arrancar-lhe o necessário. Quem julga da quantidade e da<br />

qualidade des<strong>se</strong> necessário? h o carente. Tanto mais que<br />

ao lado dele está o berreiro demagógico da imprensa<br />

esquerdista e, <strong>muito</strong> frequentemente, o apoio ainda mais<br />

demagógico do bispo local. Berreiro e apoio <strong>se</strong>m os <strong>quais</strong><br />

o carente jamais ousaria empunhar a faca, ou o porrete .. .<br />

Do papel da caridade cristã para resolver pacificamente<br />

situações dessa natureza, a "esquerda católica"<br />

nada diz. Ou qua<strong>se</strong> nada. Da justiça comutativa, pela<br />

qual alguém deve pagar o que comprou, ou fornecer o<br />

que vendeu, e da distinção entre esta justiça e a distributiva,<br />

idem.<br />

Dos deveres de gratidão, de homenagem e de assistência<br />

do beneficiário, menos ainda. Ela pretende fulminar<br />

to<strong>das</strong> essas nobres obrigações com uma só injúria:<br />

"cheiram à I.dade Média".<br />

E, munida de uma noção assim empobrecida do que<br />

<strong>se</strong>ja a justiça social, a "esquerda católica" investe contra<br />

toda a ordem sócio-econômica vigente. Com gáudio, é<br />

bem claro, do PC, do PC do B, e de todo gênero de<br />

socialistas, utopistas ou terroristas.<br />

O mais curioso é que, assim procedendo, a "esquerda<br />

católica" não hesita em afirmar que tenta introduzir entre<br />

os homens a plena vigência dos princípios de igualdade e<br />

fraternidade, os <strong>quais</strong>, <strong>se</strong> olhados de certo ângulo, perdem<br />

o espírito subversivo que lhes deu a Revolução<br />

Francesa.<br />

Ora, é precisamente o contrário que <strong>se</strong> dá. Com sua<br />

justiça social falha de matizes, descabelada e agressiva, a<br />

"esquerda católica" não faz <strong>se</strong>não introduzir a escravidão<br />

entre os homens.<br />

Vamos aos fatos. Até aqui <strong>se</strong> considerou como atributo<br />

es<strong>se</strong>ncial do homem livre a escolha da profissão. E<br />

do lugar, bem como <strong>das</strong> condições em que essa profissão<br />

<strong>se</strong> haja de exercr.r. Consideremos, entretanto, uma região<br />

<strong>se</strong>rtaneja para onde tenham afluído <strong>muito</strong>s desbravadores.<br />

Ali faltam médicos. E de vez em quando alguém<br />

morre à míngua de tratamento. Ou ali faltam casas<br />

razoáveis, pois não há engenheiros nem mestres-de-obra.<br />

Ou, enfim, ali pululam os crimes, porque faltam advogados<br />

que promovam a defesa dos direitos genuínos. Nas<br />

regiões vizinhasJ pelo contrário, há fartura de médicos,<br />

advogados e engenheiros. Em con<strong>se</strong>quência, dá-<strong>se</strong> um<br />

choque entre o direito à vida, à moradia condigna e à<br />

<strong>se</strong>gurança pessoal do <strong>se</strong>rtanejo_, de um lado, e de outro<br />

lado o direito dos médicos, advogados e engenheiros de<br />

exercerem sua profissão onde entendam. Repete-<strong>se</strong> a<br />

situação conflitual entre A e B descrita no começo deste<br />

artigo. · ·<br />

Ora, não é só ao direito de propriedade que toca uma<br />

função social, mas a todo direito humano. Logo, a raciocinar<br />

simplística e demagogicamente sobre o assunto,<br />

caberia aos <strong>se</strong>rtanejos exigir que os ditos facultativos <strong>se</strong><br />

transla<strong>das</strong><strong>se</strong>m para o <strong>se</strong>u <strong>se</strong>rtão. O que daria forçosamente<br />

no direito, para o Poder público, de requisitar os<br />

facultativos que entendes<strong>se</strong>, e mandá-los - pobres<br />

mujiques intelectuais -<br />

para onde fos<strong>se</strong>m designados.<br />

Mas, bem analisa<strong>das</strong> as coisas, não <strong>se</strong>ria difícil<br />

descobrir cem outras situações análogas: dentistas, donos<br />

de aparelhos de radiografia, de laboratórios de<br />

análi<strong>se</strong>, de hospitais, de empresas de recreação (não é<br />

também esta indispensável à vida humana?), professores<br />

etc. Tudo isto podia <strong>se</strong>r agarrado com pinça nas partes<br />

"privilegia<strong>das</strong>" <strong>das</strong> grandes cidades, para <strong>se</strong>r redistribuído<br />

pelos bairros, ou pinçado indistintamente nestas<br />

últimas, para <strong>se</strong>r atirado por es<strong>se</strong>s <strong>se</strong>rtões imensos do<br />

Brasil, ao encalço dos desbravadores, onde quer que<br />

ess<strong>se</strong>s <strong>se</strong> atiras<strong>se</strong>m à busca de riquezas .. . para si mesmos.<br />

Mais ainda. Se o afluxo de candidatos a certa<br />

profissão indispensável baixas<strong>se</strong> no País, o Estado teria o<br />

direito de promover nas escolas <strong>se</strong>cundárias os inquéritos<br />

adequados para discernir as pobres crianças que tives<strong>se</strong>m<br />

jeito para elas, e obrigá-las a <strong>se</strong>guir essa profissão, até<br />

contra o gosto delas e dos pais: função social.<br />

• • •<br />

A função social, assim simplística e demagogicamente<br />

entendida, promete liberdade e igualdade. E cria<br />

uma nova clas<strong>se</strong> de mujiques, de escravos no estilo da<br />

Rússia comunista.<br />

"Função social, função social, de quantas injustiças e<br />

até de quantos crimes vai <strong>se</strong>ndo ameaçado, em teu nome<br />

todo o Brasil" - tenho vontade de exclamar, quand~<br />

penso em tudo isto!<br />

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PC,<br />

desde Ba<strong>se</strong><br />

A FAMÍLIA de José Pedro da Silva, originária<br />

de Minas Gerais, era <strong>muito</strong> religiosa. Ele<br />

próprio, aos 14 anos, entrou para a Congregação<br />

Mariana, no Norte do Paraná, onde moravam.<br />

Quando tinha 19 anos, Zé Pedro veio com a<br />

família para São Paulo. Algum tempo depois, em<br />

1968, entrou para a Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Vila<br />

Yolanda, em Osasco, município fabril da Grande<br />

São Pl.'ulo, dirigida por uma equipe de padresoperários<br />

france<strong>se</strong>s, Jiderada pelo Pe. Dominique<br />

Barbé. A partir daí, sua vida mudou.<br />

Zé Pedro começou a <strong>se</strong> desinibir, a <strong>se</strong> politizar<br />

e a <strong>se</strong> encaminhar para a militância sindical. Em<br />

1974 Zé Pedro foi eleito vice-presidente do Sindicato<br />

dos Metalúrgicos de Osasco. Mas, em <strong>pouco</strong><br />

tempo, <strong>se</strong> incompatibilizou com <strong>se</strong>us companheiros<br />

de Diretoria e passou a militar na Oposição<br />

sindical, tornando-<strong>se</strong> <strong>se</strong>u elemento de maior destaque.<br />

A história de Zé Pedro ilustra bem o papel <strong>das</strong><br />

Comunidades de Ba<strong>se</strong> no novo sindicalismo que<br />

vem surgindo no País, desde fins dá década de 60:<br />

um sindicalismo politizado e de inspiração religiosa,<br />

animado pela Teologia da Libertação.<br />

Novas lideranças<br />

surgi<strong>das</strong> nas paróquias<br />

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"Zé Pedro"<br />

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Es<strong>se</strong> novo movimento sindical, <strong>se</strong>gundo uma<br />

publicação dos Padres Jesuítas, surgiu e <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolveu<br />

numa <strong>se</strong>miclandestinidade, no período de<br />

repressão e de intervenção nos sindicatos, que <strong>se</strong><br />

<strong>se</strong>guiu às greves de Osasco e Contagem (MG) em<br />

1968, a partir de grupos de ba<strong>se</strong> qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre<br />

ligados às comunidades e paróquias operárias.<br />

<strong>As</strong> Pastorais do Mundo do Trabalho, ou simplesmente<br />

Pastorais Operárias, foram aponta<strong>das</strong><br />

como os mais fortes canais que substituíram os<br />

sindicatos na formação política dos operários na<br />

época aludida: foram as reuniões nas paróquias à<br />

noite ou nos fins de <strong>se</strong>mana que formaram os<br />

novos líderes que agora voltam aos sindicatos.<br />

Muito a propósito, a revista "Isto é" (de centroesquerda<br />

e, por isso mesmo, insuspeita) comenta<br />

que a Igreja substituiu os partidos po~íticos -<br />

legais e ilegais - na mobilização dos trabalhadores.<br />

Cita o boletim então clandestino "Voz Operária",<br />

no qual o Partido Comunista Brasileiro constatava<br />

sua falta de penetração entre os trabalha-<br />

217


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve com o são<br />

dores: '1Devemos] encontrar formas e meios de<br />

romper a barreira que nos <strong>se</strong>para de nossa ba<strong>se</strong><br />

social: a massa trabalhadora e a clas<strong>se</strong> operária".<br />

Conclui "Isto é": "Nem PC. nem A rena, nem<br />

M DB, portanto. Mas há um organismo poderoso<br />

atuando junto aos meios operários desde 1968: a<br />

Igreja Católica".<br />

A revista resume bem a realidade: o Partido<br />

Comunista desgastou-<strong>se</strong> inteiramente em sua ação<br />

junto ao operariado, e os pa rtidos legais então<br />

existentes não con<strong>se</strong>guiram <strong>se</strong> nsibilizá-lo (como,<br />

de resto, ocorre também com os atuais), mas<br />

foram substituídos por organismos que atuam em<br />

nome da Igreja - força <strong>muito</strong> mais poderosa que<br />

os pa rtidos e a única capaz de fazer moverem-<strong>se</strong> os<br />

brasileiros - operários ou não - numa direção<br />

que lhes repugna. Seus membros mais dinâmicos<br />

aproveitam-<strong>se</strong> <strong>das</strong> altas posições que ocupam,<br />

para promoverem - em nome dela - a demolição<br />

da sociedade atual e sua substituição por um<br />

socialismo indefinido, que cada vez mais vai assumindo<br />

o colorido ró<strong>se</strong>o tendente ao rubro do<br />

regime autogestionário do Partido Socialista Francês<br />

de M.itterrand. E <strong>se</strong>u instrumento para isso são<br />

as Pastorais Operárias que, por meio <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de B_a<strong>se</strong>, atingem o trabalhador e<br />

sua família na fábrica, na paróquia, no bairro.<br />

Com efeito: uma vez que o recrutamento dos<br />

membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> na zona urbana <strong>se</strong> faz sobretudo<br />

entre os operários da "periferia", era inevitável<br />

que, eles, uma vez conscientizados, procuras<strong>se</strong>m<br />

influir no meio operário. A maneira mais<br />

natural de influírem nes<strong>se</strong> ambiente é certamente a<br />

militância sindical, para a qual <strong>se</strong> acham preparados<br />

pela própria vida interna <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como<br />

também pela sua atuação externa, de mobilização,<br />

reivindicação e protesto. Muitos deles, ademais,<br />

foram treinados em técnicas de liderança, de atua-<br />

ção em conjunto, de dinâmica de grupo e outras.<br />

Tal treinamento dá-lhes condições não só de influir<br />

nas decisões <strong>das</strong> as<strong>se</strong>mbléias gremiais, mas<br />

até mesmo de virem a domina r os si ndicatos onde,<br />

até há bem <strong>pouco</strong> tempo, os únicos militantes<br />

organizados e adestrados eram os comunistas.<br />

"Pollticos na leitura do Evangelho,<br />

religiosos na luta sindical"<br />

É tão notória a pre<strong>se</strong>nça do Clero esquerdista e<br />

<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> no movimento sindical<br />

que <strong>muito</strong>s <strong>se</strong> perguntaram <strong>se</strong> es<strong>se</strong> Clero não teria<br />

uma estratégia para dominar os sindicatos.<br />

D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás Velho, por<br />

ocasião do 3. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> (João<br />

Pessoa, 1978), tentou negar a existência de qualquer<br />

plano nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, mas <strong>se</strong>u desmentido não<br />

convenceu: ele afirmou que o pessoal ligado ao<br />

Clero entrava espontaneamente para os sindicatos ...<br />

Entretanto, D . Tomás reconhece - e isso é de<br />

suma importância - que es<strong>se</strong> pessoal <strong>se</strong> engajou<br />

na militância sindical em con<strong>se</strong>qüência de uma<br />

motivação religiosa, inspirada pela Teologia da<br />

Libertação: "<strong>As</strong>sim como eles eram políticos na<br />

leitura do Evangelho, eles <strong>se</strong> tornam religiosos na<br />

luta sindical".<br />

Essa nota religiosa é que marca a militância<br />

dos membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, tanto nos sindicatos<br />

como na oposição sindical, do mesmo modo que<br />

nas greves inspira<strong>das</strong> ou sustenta<strong>das</strong> por elas.<br />

Sindicalização consclentlzadora<br />

Etapa da estratégia empregada pela:; <strong>CEBs</strong><br />

para dominar os sindicatos, ou pelo menos fortalecer<br />

a própria posição dentro deles, é a intensa<br />

campanha de sindicalização promovida pelos <strong>se</strong>us<br />

218


Parle li Capitulo Ili - /O<br />

Waldemar Rossi<br />

Sindicalistas ligados às <strong>CEBs</strong> de São Paulo<br />

ENTRE OS líderes sindicais mais atuantes<br />

ligados às <strong>CEBs</strong> e à Pastoral Operária na região<br />

de São Paulo, podem <strong>se</strong>r citados José Pedro da<br />

Silva, o "Zé Pedro", de Osasco; Anísio de<br />

Oliveira, membro da Pastoral Operária da Arquidioce<strong>se</strong><br />

de São Paulo e candidato da Chapa<br />

3 de Oposição à presidência do Sindicato dos<br />

Metalúrgicos de São Paulo em 1978; o malogrado<br />

Santo Dias da Silva, candidato à vicepresidência<br />

na mesma chapa, igualmente da<br />

Pastoral Operária, agente pastoral e coordenador<br />

da Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Santa Margarida<br />

(Vila Remo), além de repre<strong>se</strong>ntante operário<br />

na CNBB (morto em 1979 num confronto<br />

entre piquete grevista e policiais); Aurélio Pérez,<br />

ex-<strong>se</strong>minarista, formador de inúmeras Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> na Zona Sul de São Paulo e<br />

foi eleito por elas deputado federal pelo antigo<br />

MDB, hoje no PMDB; um dos fundadores do<br />

Movimento do Custo de Vida (atual Movimento<br />

Contra a Carestia - MCC) e candidato<br />

derrotado à presidência do Sindicato dos Metalúrg1cos<br />

de São Paulo em 1981, ao que consta,<br />

com o apoio do PC do B; Waldemar Rossi, o<br />

qual, <strong>pouco</strong>s me<strong>se</strong>s depois de saudar João<br />

Paulo II em nome dos operários brasileiros, fez<br />

campanha para eleições sindicais com o apoio<br />

ostensivo do ex-<strong>se</strong>cretário-geral do Partido Comunista<br />

Brasileiro, Luís Carlos Prestes; Caetano<br />

Matanó; Santo Conte; Hélio Bombardi;<br />

Fernando do ó, e outros (cfr. "SEDOC", outubro<br />

1978, cols. 360-362; "Brasil Reportagem",<br />

Ano l, n. 0 2, 1979, pp. 36-7; "O Estado de S.<br />

Paulo", 31-10-79 e 25-7-81 ; "Isto é", 16-9-81,<br />

p. 22; "Jornal do Brasil", 14-7-81; "Folha de S.<br />

Paulo", 25-7-81).<br />

membros, não só ingressando eles mesmos nos<br />

respectivos sindicatos, mas levando a isso <strong>se</strong>us<br />

parentes, vizinhos e companheiros de <strong>se</strong>rviço.<br />

Tal campanha - além da vantagem óbvia de<br />

aumentar os próprios contingentes para eventuais<br />

disputas eleitorais - oferece aos membros <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> ocasião de <strong>se</strong> porem em contato com larga<br />

parcela do operariado, ampliando por es<strong>se</strong> modo<br />

<strong>se</strong>u raio de influência.<br />

A campanha apre<strong>se</strong>nta um caráter conscientizador,<br />

uma vez que procura fazer com que os<br />

trabalhadores <strong>se</strong> associem ao sindicato, tendo em<br />

vista não tanto os benefícios previdenciários, sociais<br />

e recreativos, mas a "participação na luta por<br />

conquistas reais para toda a clas<strong>se</strong>" - conforme <strong>se</strong><br />

lê no relatório da Comunidade de Santa Margarida<br />

(Vila Remo, São Paulo).<br />

Uma nova oposição sindical<br />

A Pastoral Operária vem criando, por meio<br />

<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, um novo tipo de<br />

219


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Um novo sindicalismo, animado pela Teologia da Libertação ... <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de metalúrgicos em greve na Igreja Matriz<br />

de SIio Bernardo do Campo-SP, em 1980.<br />

oposição sindical. Oposição aos sindicatos de tipo<br />

"assistencialista" ou "pelego" ( como chamam, em<br />

geral, os sindicatos que aceitam a política oficial,<br />

como também aqueles que não <strong>se</strong> empenham<br />

<strong>muito</strong> a fundo na luta de clas<strong>se</strong>s, ou são apenas<br />

moderados). Oposição de caráter doutrinário, religioso.<br />

Até então, as oposições sindicais visavam diretamente<br />

a conquista dos postos de direção <strong>das</strong><br />

entidades de clas<strong>se</strong>. Tinham, pois, um caráter<br />

qua<strong>se</strong> exclusivamente eleitoral, com duração efêmera,<br />

dissolvendo-<strong>se</strong> ao término dos pleitos sindicais.<br />

A nova oposição sindical, inspirada pelas<br />

<strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária, ao contrário, tem por<br />

objetivo não apenas ganhar eleições, m;is sobretudo<br />

conscientizar os trabalhadores, infundir-lhes<br />

uma nova mentalidade, convencê-los de que não<br />

basta lutar por melhores salários e melhores condições<br />

de trabalho, mas que é preciso suprimir o<br />

220


Parte li<br />

próprio sistema capitalista, apontado como a causa<br />

de todos os males da clas<strong>se</strong> operária e dos<br />

pobres em geral.<br />

Por con<strong>se</strong>guinte, a nova oposição sindical não<br />

tem o caráter transitório <strong>das</strong> anteriores, e não <strong>se</strong><br />

esgota com o processo eleitoral: continua ativa, à<br />

maneira de um sindicato paralelo.<br />

<strong>As</strong>sim, as <strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária costumam<br />

lançar chapas de oposição a eleições sindicais<br />

ainda quando não têm a menor possibilidade de<br />

vitória. Ê que a campanha eleitoral constitui uma<br />

importante ocasião para o <strong>se</strong>u trabalho de arregimentação<br />

de novos adeptos e, sobretudo, de conscientização<br />

dos operários. Além do que, o simples<br />

fato de <strong>se</strong>us membros disputarem cargos eletivos<br />

confere-lhes estabilidade no emprego, em virtude<br />

da legislação vigente, o que lhes permite continuar<br />

impunemente <strong>se</strong>u trabalho de agitação nas fábricas.<br />

Mobilização de toda a familia<br />

Essa atuação no interior <strong>das</strong> fábricas é meticulosa<br />

e procura mobilizar os operários por meio<br />

de "pequenas lutas", contra "irregularidades" internas<br />

de cada indústria, que vão desde problemas<br />

de refeitório, instalações sanitárias etc., até à luta<br />

por melhorias salariais, passando pelas reivindicações<br />

em torno da assistência e convênios médicos.<br />

Vale a pena conhecer as táticas utiliza<strong>das</strong>,<br />

conforme o relatório da Comunidade de Santa<br />

Margarida: "Nes<strong>se</strong> trabalho de articulação e de<br />

pequenas lutas, todos os métodos possíveis foram<br />

usados. Desde a conversa ao pé da máquina ou no<br />

banheiro, até à distribuição de boletins e a convocação<br />

de encontros maiores, a pesquisa de opinião<br />

que resultou na história em quadrinhos chamada<br />

Zé Marmita".<br />

Capítulo Ili - /O<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária têm promovido,<br />

ainda, nos bairros, a articulação de trabalhadores<br />

de fábricas diversas, fora da estrutura sindical, em<br />

grupos chamados "interfábricas", para a sua conscientização.<br />

<strong>As</strong> eleições sindicais, como já foi dito, são<br />

excelente ocasião de conscientização, não só dos<br />

membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e de <strong>se</strong>us colegas de trabalho,<br />

mas também <strong>das</strong> famílias dos trabalhadores; as<br />

Comunidades mobilizam nessas campanhas todo<br />

o mundo que podem: mulheres, velhos, jovens e<br />

até crianças. Des<strong>se</strong> modo, pessoas que não estão<br />

diretamente envolvi<strong>das</strong> nas lutas sindicais e que<br />

são, até, refratárias a tal tipo de atividade, acabam<br />

participando delas pela motivação religiosa que as<br />

<strong>CEBs</strong> lhes conferem.<br />

Expulsar os "vendilhões" do ... Sindicato<br />

A motivação religiosa da nova oposição sindical<br />

é bem ilustrada por uma passagem do já citado<br />

relatório da Pastoral Operária da Comunidade de<br />

Santa Margarida para o 3. 0 Encontro nacional.<br />

Ao tratar do item "oposição sindical", o relatório<br />

cita o Evangelho de São Lucas: "Entrando no<br />

Templo [Jesus], começou a expulsar os vendedores<br />

e compradores, dizendo: 'Minha casa é casa de<br />

oração. Vós porém a haveis convertido em covil de<br />

ladrões' (Lc. 9, 45-46)". O Templo, no caso, é o<br />

Sindicato, dominado pelos "pelegos", os "vendilhões"<br />

que devem <strong>se</strong>r expulsos com o açoite ...<br />

Referências: PE. D. 8ARB~, En e/ futuro, las Comu:1idades de<br />

Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974; CEDAC, Perspe,::tiva!i do novo<br />

sindicalismo, Apre<strong>se</strong>ntação de José Ibrahin, Edições : .oyola­<br />

CEDAC, 1980, pp. 33-37; "O São Paulo", 18-2-78 e 29-7-78;<br />

"Folhetim", 28-1-79; "Isto é", 3-5-78, p. 20 ss.; Relatório da<br />

Comunidade de Santa Margarida, in "SEDOC", outubro 1978,<br />

cais. 356. 357, 358 e 261.<br />

221


l<br />

'6.-~-----<br />

( ~-<br />

)<br />

A GREVE dos metalúrgicos do ABC em 1980<br />

teve tal duração e revelou tal organização, politização<br />

e radicalização - com aspectos de ilegalidade<br />

e turbulência estranhos à índole ordeira e<br />

tranqüila do povo brasileiro - que <strong>muito</strong>s <strong>se</strong><br />

perguntaram que fator novo estaria interferindo<br />

no meio operário-sindical.<br />

Durante os dias mesmos daquela greve, o<br />

então <strong>se</strong>cretário-geral do Partido Comunista Brasileiro,<br />

Luis.Carlos Prestes, depois de elogiar Lula,<br />

admitiu que _a Igreja, "uma <strong>das</strong> piores adversárias"<br />

do PC até 1964, "hoje está em comunhão" com os<br />

comunistas, "na medida em que <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes<br />

apoiarem a greve dos metalúrgicos". Em <strong>muito</strong><br />

e <strong>muito</strong> la_rga medida, então, cabe ob<strong>se</strong>rvar,<br />

uma vez que à época o apoio do Clero progressista<br />

à greve metalúrgica foi total.<br />

Não foi esta a primeira vez (nem a última) que<br />

o velho dirigente comunista fez alusões a uma<br />

aliança pelo menos tácita entre a Igreja e o Partido<br />

Comunista, <strong>se</strong>m ter sido jamais desmentido de<br />

modo convincente e irretorquível, ou provocar a<br />

indignação que a hipóte<strong>se</strong> deveria suscitar nos<br />

meios eclesiásticos.<br />

- Teria havido uma aliança efetiva entre <strong>se</strong>tores<br />

esquerdistas do Clero e comunistas, em torno<br />

daquelas greves do ABC?<br />

A pre<strong>se</strong>nça de Bispos e Padres no movimento<br />

grevista foi notória. Por outro lado, houve inúmeras<br />

denúncias de infiltração comunista nas greves,<br />

por parte de autoridades civis, policiais e<br />

militares.<br />

- Haveria razões doutrinárias que justificas<strong>se</strong>m<br />

tal aliança?<br />

Se <strong>se</strong> tiver em conta que os agentes pastorais,<br />

Padres e Bispos com participação ativa naquelas<br />

greves, são <strong>se</strong>guidores da chamada Teologia da<br />

Libertação, não <strong>se</strong>ria difícil encontrar razões de<br />

caráter doutrinário para justificar <strong>se</strong>melhante a­<br />

liança.<br />

Pois foi justamente em nome da "opção pelos<br />

pobres" e da "libertação dos oprimidos" - princípios<br />

básicos da TL - que o Clero em questão<br />

assumiu as greves do ABC em 1980.<br />

<strong>As</strong>sim, independentemente de qualquer eventual<br />

aliança de fato que possa ter havido entre<br />

<strong>se</strong>tores esquerdistas do Clero e esta ou aquela<br />

corrente comunista, a realidade é que tú, eclesiásticos,<br />

in concreto, constituíram-<strong>se</strong>, mutu proprio e<br />

<strong>se</strong>m conchavos, em aliados objetivos do comunismo<br />

internacional, uma vez que <strong>se</strong>us princípios<br />

doutrinários e as atitudes práticas deles decorrentes<br />

conduzem a uma identidade de metas e fins<br />

últimos com o comunismo: a destruição <strong>das</strong> atuais<br />

222


Parte li<br />

Capilulo III - 11<br />

estruturas soc1a1s, a eliminação da propriedade<br />

privada e a implantação de um regime socialista.<br />

E o principal instrumento do Clero esquerdista<br />

nessa atuação têm sido as Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong>.<br />

"<strong>As</strong> greves não calram do céu"<br />

<strong>As</strong> greves de 1978-1979-1980 não podem <strong>se</strong>r<br />

toma<strong>das</strong> <strong>se</strong>paradamente, como <strong>se</strong> uma não tives<strong>se</strong><br />

relação com a outra. Ao contrário, elas constituem<br />

um processo reivindicatório único (in<strong>se</strong>rido no<br />

processo político); no qual o elemento de longe<br />

mais ativo, o que empenhou de modo mais decisivo<br />

<strong>se</strong>u apoio - moral, material e de recursos<br />

humanos - foi, <strong>se</strong>m dúvida, o Clero progressista.<br />

Essas greves, entretanto, "não caíram do céu<br />

como o maná no de<strong>se</strong>rto", conforme acentua o<br />

relatório da Comunidade de Santa Margarida;<br />

elas foram, ao contrário, o "resultado de um lento,<br />

paciente e teimoso trabalho de ba<strong>se</strong>".<br />

No que <strong>se</strong> refere às greves dos metalúrgicos do<br />

ABC em 1980, es<strong>se</strong> "longo, paciente e teimoso<br />

trabalho de ba<strong>se</strong>" pode <strong>se</strong>r acompanhado pelas<br />

páginas de "O São Paulo", <strong>se</strong>manário da Arquidjoce<strong>se</strong><br />

paulopolitana.<br />

A preparação começou me<strong>se</strong>s antes da abertura<br />

do dissídio, em março daquele ano, em reuniões<br />

da Pastoral Operária de São Paulo.<br />

A Pastoral OperAria planeja,<br />

as <strong>CEBs</strong> executam ...<br />

Já em 2 de dezembro do ano anterior ( 1979),<br />

militantes e agentes de vários grupos e pastorais<br />

pu<strong>se</strong>ram-<strong>se</strong> a estudar um boletim da Pastoral<br />

Operária da Região Episcopal Leste-2 da Arquidioce<strong>se</strong><br />

de São Paulo, que propunha, entre outros,<br />

No ABC, os sindicalistas<br />

pertencem às <strong>CEBs</strong>.<br />

Mas não vivem dizendo ...<br />

NA<br />

VÉSPERA da eclosão do movimento<br />

paredista, Frei Beto - tido e havido como o<br />

principal articulador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em nível nacional<br />

- declarou: "Existe todo um vínculo entre<br />

a maioria dos trabalhadores e a Igreja, pois eles<br />

participam de comunidades de ba<strong>se</strong>, da pastoral<br />

operária, freqüentam as igrejas, encontram<br />

nas capelas e templos de <strong>se</strong>us bairros <strong>se</strong>us<br />

locais habituais de reunião . .... No ABC, a<br />

Pastoral Operária e a Ação Católica Operária<br />

procuram sistematizar mais essa pre<strong>se</strong>nça do<br />

trabalhador na Igreja e dela entre os trabalhadores.<br />

Es<strong>se</strong> trabalho <strong>se</strong> dá permanentemente na<br />

área, mas <strong>se</strong> torna evidente em momentos de<br />

cri<strong>se</strong> como este quando toda a infraestrutura da<br />

Igreja é acionada pelos próprios trabalhadores<br />

que participam <strong>das</strong> comunidades de ba<strong>se</strong> . .... Os<br />

militantes sindicais são membros <strong>das</strong> comunidades<br />

de ba<strong>se</strong> de suas paróquias, mas não vivem<br />

declarando isto o tempo todo" ... ("Companheiro",<br />

7-5-80).<br />

223


os <strong>se</strong>guintes pontos: "Organizar o fundo de greve<br />

permanente"; "aproveitar de todos os movimentos<br />

religiosos e de bairro para propagar e levantar as<br />

lutas, como por exemplo missa do trabalhador,<br />

novena de Natal; movimentos de reivindicação de<br />

água, luz ... "; "reforçar os comandos e reuniões<br />

interfábricas" e "continuar criando e incentivando<br />

os grupos de apoio". Para to<strong>das</strong> essas tarefas, os<br />

militantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e <strong>das</strong> Pastorais deviam "procurar<br />

conhecer as pessoas mais combativas nos<br />

bairros, nas fábricas" .. .<br />

No dia 20 de janeiro de 1980, os mesmos<br />

grupos reuniram-<strong>se</strong> em São Miguel Paulista ( onde<br />

residem <strong>muito</strong>s operários do ABC), para debater<br />

es<strong>se</strong>s pontos. Em 9 de março, toda a Pastoral<br />

Operária da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo reuniu-<strong>se</strong><br />

no Colégio Arquidiocesano para fazer uma avaliação<br />

do movimento operário no ano anterior e<br />

traçar as metas para 1980. Chegou-<strong>se</strong> à conclusão<br />

de que embora a greve de 1979 não tives<strong>se</strong> alcançado<br />

resultados positivos no aspecto econômico,<br />

ela repre<strong>se</strong>ntou um avanço político.<br />

Em 15 de março a Pastoral Operária volta a<br />

reunir-<strong>se</strong> em São Miguel Paulista. Tudo é pensado<br />

e programado. Fixam-<strong>se</strong> metas e distribuem-<strong>se</strong><br />

tarefas: "Engajar os grupos de Igreja em apoio<br />

concreto ao Movimento Operário: clubes de mães,<br />

grupos de ruas, direitos humanos, jovens etc.";<br />

"apoio às greves através dos grupos de Igreja";<br />

'formação de um fundo de apoio permanente<br />

(formar uma equipe de finanças com repre<strong>se</strong>ntantes<br />

de várias pastorais)".<br />

Não <strong>se</strong> podia de<strong>se</strong>jar preparação mais minuciosa<br />

dos meios operários com vistas às greves programa<strong>das</strong>.<br />

E só a estrutura eclesiástica dispunha<br />

de recursos para tal. É, aliás, o que afirma um dos<br />

articuladores de toda essa mobilização, D. Angélico<br />

Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São<br />

BOLETIM<br />

COMISSÃO NACIONAL DE PASTORAL OPERÁRIA<br />

(_A"fl- 111 ~<br />

__ _<br />

CONCLAT<br />

PELA UNIÃO<br />

DOS<br />

TRABALHADORES<br />

FIAT DO RIO<br />

Greve<br />

contra<br />

de<strong>se</strong>mprego<br />

CEBS<br />

--a:<br />

POLÍTICA<br />

METALÚRGICOS<br />

DE RECIFE<br />

Também em nível nacional é íntima a conexão entre as<br />

<strong>CEBs</strong> e a Pastoral Operária. - Boletim da Comissão<br />

Nacional de Pastoral Operária, da CNBB, publicado em<br />

Volta Redonda, sob os auspícios de D . Valdir Calheiros,<br />

um dos próceres nacionais <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> .<br />

Paulo, responsável pela Pastoral Operária: "Não<br />

existe uma entidade como a Igreja que vá à ba<strong>se</strong><br />

para o trabalho, pega o homem realmente onde ele<br />

está, nos bairros, na roça, no interior da Amazônia".<br />

No que lhe assiste toda razão ...<br />

"Sofisticada engrenagem<br />

organizacional"<br />

Um comentarista ob<strong>se</strong>rvou que a referida greve<br />

dos metalúrgicos do ABC só foi possível graças a<br />

uma "sofisticada engrenagem organizacional" que<br />

prescindia não somente da <strong>se</strong>de do sindicato, mas<br />

do próprio Lula. "Sofisticada engrenagem" que<br />

tinha como eixo a Pastoral Operária e o movimento<br />

<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />

224


Parte li<br />

Capítulo Ili -<br />

li<br />

Tal realidade foi reconhecida pelo principal<br />

articulador dessas greves, Frei Beto, o qual afirmou<br />

que a maioria dos trabalhadores e militantes<br />

sindicais participa <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e da<br />

Pastoral Operária de suas paróquias, embora não<br />

o declarem ...<br />

O próprio coordenador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> do ABC,<br />

<strong>As</strong>trogildo Cândido de Souza, declarou que estas<br />

atuaram diretamente na organização dos metalúrgicos.<br />

<strong>As</strong>trogildo dis<strong>se</strong> que os núcleos de <strong>se</strong>u<br />

bairro, na Vila Homero Thon, em Santo André, <strong>se</strong><br />

dividiam de modo a que cada membro ficas<strong>se</strong> com<br />

a tarefa de chamar para reuniões nas paróquias os<br />

metalúrgicos de determinada rua, convocando-os<br />

à sustentação do movimento. Aí aparecem em<br />

plena atividade os famosos grupos de rua, mencionados<br />

na descrição do movimento. Tarefa <strong>se</strong>melhante<br />

de<strong>se</strong>mpenharam as oito Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> da Vila Palmares: qualquer comunicação do<br />

comando grevista era encaminhada aos "repre<strong>se</strong>ntantes<br />

de <strong>se</strong>tor", os <strong>quais</strong> a passavam a "repre<strong>se</strong>ntantes<br />

de rua", e estes, por sua vez, iam de casa<br />

em casa transmitindo a palavra-de-ordem.<br />

Coube às <strong>CEBs</strong> papel destacado na arrecadação<br />

de mantimentos para o Fundo de Greve,<br />

através de "mutirão nas ruas" e, também da<br />

organização de chás beneficentes.<br />

De grande importância foi a atuação <strong>das</strong> comissões<br />

de visita cuja principal função era convencer<br />

as mulheres dos metalúrgicos a terem maior<br />

participação na greve.<br />

o 'piquete' mais poderoso e inatacãvel<br />

Nos próprios piquetes, a participação <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> foi intensa. O mesmo coordenador<br />

delas no ABC, <strong>As</strong>trogildo Cândido de<br />

Souza ( ele próprio motorista de transporte esco-<br />

lar), declarou que os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> - "embora<br />

nem todos fos<strong>se</strong>m metalúrgicos" - participavam<br />

dos piquetes, saindo às 4 horas da manhã<br />

para os pontos de ônibus e portas de fábricas, num<br />

esforço de conscientização. Em São Miguel, na<br />

Zona Leste de São Paulo, era nas reuniões diárias<br />

<strong>das</strong> comunidades que <strong>se</strong> preparavam os piquetes<br />

que na manhã <strong>se</strong>guinte iriam interceptar os ônibus<br />

<strong>das</strong> empresas e convencer os mais vacilantes ...<br />

O Movimento Contra a Carestia - MCC<br />

constituiu-<strong>se</strong> num dos principais "grupos de a­<br />

poio" aos grevistas, tendo sido uma <strong>das</strong> entidades<br />

organizadoras do "1. 0 de Maio Unificado", que<br />

levou ao ABC gente de toda a Grande São Paulo,<br />

num apoio farfalhante ao movimento paredista.<br />

Ademais, parti-::ipou ativamente da coleta de dinheiro<br />

e gêneros para o Fundo de Greve.<br />

Em suma, a Pastoral Operária, as <strong>CEBs</strong> e<br />

demais organismos e entidades a elas vinculados<br />

constituíram-<strong>se</strong> naquilo que um <strong>se</strong>manário marxista<br />

denominou - com muita propriedade - "o<br />

'piquete' mais poderoso e inatacável de que os<br />

operários dispõem".<br />

MIiitantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> na<br />

"Comissão dos 400 lulas"<br />

Como já foi ressaltado, a greve dos metalúrgicos<br />

do ABC em 1980 foi planejada de tal forma<br />

que prescindis<strong>se</strong> não somente da <strong>se</strong>de do Sindicato,<br />

mas do próprio Lula e demais dirigentes da<br />

entidade: foi montado uma espécie de comando<br />

dirigente, o qual começou a funcionar antes mesmo<br />

da eclosão da greve, a Comissão de Salárioí- e<br />

Mobilização.<br />

Essa comissão (apelidada, com espírito, de<br />

"Comissão dos 400 lulas") era composta por 480<br />

metalúrgicos - 430 homens e 50 mulheres. Foram<br />

225


Logo no inicio da greve doa metalúrgicos do ABC em<br />

1980, Frei Betto passou a <strong>se</strong>guinte palavra-de-ordem:<br />

"No caso de intervençlo nos sindie11tos, os metalúrgicos<br />

poderio usar as igrejas, i' destae11<strong>das</strong> para isso. E <strong>se</strong> 11<br />

pollcia tentar 'intervir' nas paróquias, por exemplo, cercando<br />

11s praças. esta,, configurado um 'estado de<br />

represslo à Igreja neste pais"' ("O Slo Paulo". 6-4-80).<br />

necessárias 215 reuniões, durante três me<strong>se</strong>s (de<br />

fins de novembro a começo de março), para a sua<br />

formação.<br />

Dela faziam parte desde novatos <strong>se</strong>m nenhuma<br />

experiência anterior, até velhas raposas do sindicalismo<br />

dos anos 60; alguns conhecidos ativistas<br />

do Sindicato, como "Alemão", "Osmarzinho"; dois<br />

ou três ex-estudantes há <strong>muito</strong> integrados como<br />

operários em São Bernardo; e, finalmente, "inúmeros<br />

líderes operários formados nos movimentos<br />

religiosos de ba<strong>se</strong> da regiio".<br />

Um as<strong>se</strong>ssor multo especial: Frei Beto<br />

"Valeu <strong>muito</strong> a ajuda de Frei Beto, o dominicano<br />

que divulga e coordena trabalhos <strong>das</strong> comunidades<br />

eclesiais de ba<strong>se</strong> em São Paulo, hoje<br />

uma espécie de as<strong>se</strong>ssor e escudeiro de Lula" -<br />

informa um <strong>se</strong>manário socialista.<br />

Foi Fréi Beto quem orientou a "Comissão dos<br />

400 lulas"; foi ele quem dividiu o trabalho em<br />

subcomissões, "para evitar que todos discutis<strong>se</strong>m<br />

tudo <strong>se</strong>m ter nenhuma tarefa concreta"; ele ainda<br />

quem deu a idéia de substituir uma parte <strong>das</strong><br />

reuniões gerais por reuniões de subgrupos de 8 a<br />

10 operários, cada um com tarefas específicas<br />

(<strong>se</strong>gurança do palanque do Estádio de Vila Euclides,<br />

preparação de lanches, distribuição de folhetos<br />

e informações, programação do "trabalho de<br />

persuasão dos fura-greve para o dia <strong>se</strong>guinte").<br />

Graças a esta estratégia, as fastidiosas as<strong>se</strong>mbléias<br />

gerais no Estádio, nas <strong>quais</strong> <strong>se</strong> revezavam os sindicalistas<br />

profissionais, foram substituí<strong>das</strong> por minias<strong>se</strong>mbléias<br />

de trabalhadores, divididos por fábricas<br />

e dirigi<strong>das</strong> por membros da Comissão.<br />

A participação de Frei Beto no movimento<br />

grevista do A.BC foi bem focalizada pelo jornalista<br />

José Nuemanne Pinto, e vale a pena transcrever<br />

suas palavras:<br />

"Frei Beto tornou-<strong>se</strong> uma espécie de eminên-'<br />

eia parda da greve. Amigo pessoal e homem de<br />

confiança de Lula, passou a morar com o líder<br />

operário em sua casa, no Jardim <strong>As</strong>sunção, em<br />

São Bernardo do Campo. Frei Beto é conhecido<br />

por suas instruções táticas e, <strong>se</strong>gundo um militante<br />

sindical. 'é ele quem empurra Lula para a<br />

frente, na hora em que os pessimistas vêm com<br />

<strong>se</strong>us con<strong>se</strong>lhos negativos e suas lamentações' ".<br />

· Outras publicações confirmam essa apreciação,<br />

ao mencionar fra<strong>se</strong>s que <strong>se</strong> teriam ouvido<br />

aqui e ali: "Lula deu para <strong>se</strong>guir os con<strong>se</strong>lhos de<br />

um padre ex-terrorista" ou "Lula está <strong>se</strong>ndo as<strong>se</strong>s~<br />

sorado por radicais". Alusões evidentes ao fato de<br />

Frei Beto ter sido condenado à prisão por envolvimento<br />

na guerrilha urbana de Carlos Marighela,<br />

que ensanguentou o País nos últimos anos da<br />

década de 60.<br />

226


Parte li<br />

Capítulo III - 11<br />

"Guerra contra os patrões"<br />

A greve dos metalúrgicos de São Bernardo e<br />

Santo André, declarada ilegal por Tribunal competente,<br />

foi mais do que uma greve reivindicatória.<br />

Essa greve desfechou numa "declaração de guerra<br />

ao patronato e ao governo", numa "verdadeira<br />

guerra contra os patrões", como acentuaram dois<br />

jornais de esquerda.<br />

Em plena matriz de São Bernardo, na última<br />

as<strong>se</strong>mbléia grevista, foi lida essa "declaração de<br />

guerra", contida num boletim distribuído pela<br />

diretoria deposta do sindicato metalúrgico e pela<br />

Comissão de Salários e Mobilização: "Que os<br />

patrões e o governo saibam: atrás de cada máquina<br />

terão um trabalhador em guerra; .... a guerra<br />

continua porque em nosso coração e em nossa<br />

alma carregamos a ira dos justos e a eterna <strong>se</strong>de de<br />

justiça". Isso significa: "Nenhuma hora extra, marcha<br />

lenta, reduzir a produção, esculhambar a qualidade,<br />

companheiro demitido, máquinas para<strong>das</strong><br />

até a readmissão".<br />

<strong>As</strong> palavras do último orador da as<strong>se</strong>mbléia,<br />

Wagner Lino Alves, membro da "Comissão dos<br />

400 lulas", indicam o clima no qual essa guerra<br />

<strong>se</strong>ria conduzida: "Amanhã, quando entrarem nas<br />

fábricas, vocês devem deixar o amor na porta.<br />

Dentro do coração de cada trabalhador o que vai<br />

existir é o ódio".<br />

"Uma greve polltlca, sim Senhor"<br />

Durante a greve, o aspecto político da mesma<br />

foi bem ressaltado. Numa reportagem intitulada<br />

Uma greve política, sim Senhor, o jornalista Ivan<br />

Valente salienta o conteúdo político <strong>das</strong> reivindicações<br />

dos metalúrgicos do ABC. De fiito, um<br />

I·\ ~<br />

'•<br />

Na " Missa de Páscoa dos Trabalhadores", celebrada<br />

durante as greves de 1980, o Bispo de Santo André,<br />

D . Cléudio Hummes, relacionou as reivindicações dos<br />

metalúrgicos com a primeira Péscoa, a "libertação dos<br />

judeus de escravidão do Egito".<br />

comunicado do Sindicato dos Metalúrgicos de<br />

São Bernardo e Diadema, do início de abril, dizia<br />

que a greve continuava "não só pelas reivindicações<br />

econômicas, mas sobretudo pelas garantias<br />

sociais, principalmente a estabilidade no emprego".<br />

Na realidade, desde o início, esta greve tinha<br />

por objetivo o fortalecimento sindical, como deixa<br />

claro um folheto distribuído pelos sindicatos metalúrgicos,<br />

antes mesmo de começarem as negociações.<br />

Entre as 25 reivindicações apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> um<br />

mês antes da deflagração da greve, algumas são de<br />

227


caráter eminentemente político, numa linha autogestionária:<br />

"livre acesso dos dirigentes sindicais às<br />

indústrias, para verificar as condições de trabalho";<br />

,;controle de chefias, isto é, o direito dos<br />

trabalhadores punirem as chefias injustas e, a cada<br />

<strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s, manifestarem-<strong>se</strong> sobre o comportamento<br />

de <strong>se</strong>us chefes, com a substituição daqueles<br />

cujo comportamento não for aprovado pelos trabalhadores".<br />

Outra reivindicação era a do delegado sindical<br />

gozando de estabilidade; os operários exigiam<br />

ainda que as empresas só poderiam dispensar os<br />

trabalhadores por motivo de cri<strong>se</strong> fin anceira ou<br />

técnica. Mesmo assim, em primeiro lugar <strong>se</strong>riam<br />

dispensados os empregados que estives<strong>se</strong>m interessados<br />

em sair da empresa, depois os de menores<br />

encargos familiares, e assim por diante. Ou <strong>se</strong>ja, as<br />

empresas não podiam punir com a demissão os<br />

agitadores político-sociais, os <strong>quais</strong> ficariam assim<br />

livres para tumultuar o funcionamento <strong>das</strong><br />

fábricas.<br />

O controle <strong>das</strong> chefias pelos operários, com a<br />

possibilidade de punir <strong>se</strong>us chefes e até mesmo de<br />

afastá-los do cargo, bem como o controle da<br />

demissão dos empregados, repre<strong>se</strong>ntam os passos<br />

iniciais para o estabelecimento da ditadura autogestionária<br />

(como na França de Mitterrand), colocando<br />

as empresas à mercê <strong>das</strong> minorias politiza<strong>das</strong><br />

dos militantes <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e<br />

dos sindicatos.<br />

Uma greve "libertadora"<br />

O caráter religioso, que caracteriza o novo<br />

sindicalismo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, esteve pre<strong>se</strong>nte nas greves<br />

dos metalúrgicos do ABC em 1978-1980. Foi ele<br />

acentuado não somente pela transformação <strong>das</strong><br />

Igrejas em centros grevistas e locais de as<strong>se</strong>m-<br />

Lula o Dom Paulo E11or1i.. 10 Arn:. sv<br />

encon1,a1om na <strong>se</strong>mana PIUS.Jda du ·<br />

ran te um debate promo~1do polo 1om a1<br />

'"O São Paulo ", da Cur,a Mo:,opol"<br />

tana O assunto !01 a ,n ,e,wmç.lo nos<br />

~,',ta,S:,~d;c::,~,s..;1.o ,:i:;· e~<br />

!:;;';;~~Ji~ifª r~~':s"~.:. ·~,:~=~<br />

l.'1,1cJorps et.JdO u.n,dos para pó, t1 m a<br />

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inr&rvençlo Pa,a D P;,ulo a "auro.<br />

1 nom,a s1no1ul ó uma ant,ga dou uina<br />

da lgr~o e a S,nd,c•10 Ptec1u de<br />

mdependlnc,a pa:o s~ um d19ào do<br />

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~ovosrnot,.,mcomum;~<br />

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•·<br />

.11tJQÇ1Pflmea1a a nwac;«o de Dom..<br />

~ d,o Hummes. o,~po dfl Stnto<br />

ltncr~ -<br />

bléias, pelo apoio decidido da CNBB e de prelados<br />

como D. Cláudio Hummes, Bispo de Santo<br />

André e do Cardeal Arns e <strong>se</strong>us Bispos auxiliares,<br />

mas sobretudo pela filosofia que insp;rou o movimento.<br />

Em plena greve de 1980, foi celebrada no<br />

Estádio de Vila Euclides (São Bernardo), uma<br />

"Missa de Páscoa dos Trabalhadores", durante a<br />

228


Cap itulo Ili -<br />

li<br />

qual D. Cláudio Hummes relacionou à "primeira<br />

Páscoa", a "libertação dos judeus da escravidão do<br />

Egito" com as reivindicações dos metalúrgicos<br />

do ABC.<br />

Dias depois, em as<strong>se</strong>mbléia grevista na Matriz<br />

de São Bernardo do Campo, D. Cláudio Hummes<br />

retomou a comparação entre os judeus oprimidos<br />

e os operários grevistas: "Moisés incomodou os<br />

poderosos, mas organizou o <strong>se</strong>u povo e con<strong>se</strong>guiu<br />

derrotar o faraó. Cada um de vocês deve <strong>se</strong>r um<br />

Moisés com a missão de libertar os trabalhadores".<br />

Em entrevista posterior, o Bispo de Santo<br />

André enveredou mais claramente pelas vias da<br />

Teologia da Libertação, aceitando a concepção<br />

marxista do "proletariado-redentor" (ver reportagem<br />

sobre a Teologia da Libertação) e o papel<br />

dirigente do "povo organizado".<br />

D. Cláudio afirmou que a Igreja do ABC<br />

queria <strong>se</strong>r fiel à "opção preferencial pelos pobres",<br />

e acrescentou: "Dentro des<strong>se</strong> contexto de Puebla,<br />

a Igreja pretende <strong>se</strong>r uma Igreja que está pre<strong>se</strong>nte<br />

no meio do povo, e evidentemente, daquela parte<br />

do povo que é mais organizada, a parte do povo<br />

que mais tem possibilidades de cumprir um papel<br />

histórico em nome de todos: a tarefa histórica de<br />

mudança <strong>das</strong> atuais estruturas da nossa sociedade,<br />

onde há injustiça, opressão e corrupção . .... E a<br />

parte já mais organizada deste povo é que leva a<br />

luta da construção de um mundo novo. E o resto<br />

do povo, que ainda não con<strong>se</strong>guiu <strong>se</strong> organizar,<br />

deve <strong>se</strong>r conscientizado a apoiar a parte mais<br />

organizada".<br />

Suas palavras ganham em significação <strong>se</strong> compara<strong>das</strong><br />

com a <strong>se</strong>guinte afirmação de Lênin: "Só<br />

uma clas<strong>se</strong>, exatamente os operários industriais<br />

urbanos e fabris em geral, têm condições para<br />

dirigir toda a massa de trabalhadores e explorados<br />

na luta para derrubar o jugo do capital".<br />

Sob o signo da<br />

Revolução da Nicarãgua<br />

A greve de 41 dias dos metalúrgicos do ABC<br />

foi conduzida, como <strong>se</strong> viu, com o p<strong>se</strong>udo-misticismo<br />

religioso, que impregna o novo sindicalismo<br />

promovido pelas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />

229


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

~ O/AO PAULO g<br />

l~J --.---- - ,~. ~,~-~<br />

1/.,...... .........._...--~--..,......<br />

Em 28 de fevereiro de 1980 realizou-<strong>se</strong> no teatro da<br />

PUC paulistana a "Noite Sandinista", com a pre<strong>se</strong>nça<br />

de chefes da guerrilha nicaragüen<strong>se</strong>. Frei Bato, Lula,<br />

sindicalistas e membros de <strong>CEBs</strong> reuniram-<strong>se</strong> naqueles<br />

dias, a portas fecha<strong>das</strong>, com os dirigentes sandinistas.<br />

Um mês depois, eclodiam as greves .. . - Nicarágua,<br />

apenas o começo?<br />

alimenta<strong>das</strong> pela Teologia da Libertação. Mais<br />

precisamente, pela TL posta em prática. Ora,<br />

<strong>se</strong>gundo o <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />

f>aulo, "a expressão mais alta da prática concreta<br />

da Teologia da Libertação" foi a Revolução Sandinista<br />

da Nicarágua ...<br />

Cerca de um mês antes da eclosão do movimento<br />

grevista do ABC, reuniu-<strong>se</strong> em Taboão da<br />

Serra-SP o 4.° Congresso Internacional Ecumênico<br />

de Teologia, com a participação dos principais<br />

repre<strong>se</strong>ntantes mundiais da Teologia da Libertação,<br />

tendo por tema a "Eclesiologia <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>". TL e <strong>CEBs</strong> reuni<strong>das</strong><br />

num mesmo encontro, portanto. Coincidência<br />

ou não, o coordenador des<strong>se</strong> congresso não foi<br />

'outro <strong>se</strong>não o já por demais referido Frei Beto ...<br />

A grande atração do Congresso de Taboão da<br />

Serra foi a delegação da Nicarágua, da qual faziam<br />

parte destaca<strong>das</strong> figuras da Frente Sandinista de<br />

Libertação e membros de Comunidades de Ba<strong>se</strong>.<br />

O "caso da Nicarágua" foi apre<strong>se</strong>ntado como<br />

paradigma para a ação "libertadora" <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ...<br />

Paralelamente ao Congresso, realizou-<strong>se</strong> uma<br />

Semana de Teologia, com <strong>se</strong>ssões no Teatro da<br />

Universidade Católica - TUCA, destina<strong>das</strong> especialmente<br />

aos membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> paulistanas. Em<br />

uma dessas <strong>se</strong>ssões, a "Noite Sandinista" (presidida<br />

pelo mesmo Frei Beto), Socorro Guerrero -<br />

integrante de uma Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Manágua<br />

e do dispositivo de sustentação da guerrilha -<br />

concitou (sob aplausos) os militantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />

brasileiras a <strong>se</strong>guirem o exemplo <strong>das</strong> de <strong>se</strong>u país,<br />

as <strong>quais</strong> <strong>se</strong> engajaram na insurreição armada para<br />

derrubar o capitalismo, "o diabo da Bíblia", <strong>se</strong>gundo<br />

suas palavras (1).<br />

No encerramento dessa Semana de Teologia, o<br />

Cardeal Arns tomou a palavra: - "Como concluir?<br />

- perguntou. Não há conclusão. A coisa<br />

apenas começou ... .... Vejam esta pergunta: Chega<br />

(1) A TFP promoveu larga difusão do número de "Catolicismo"<br />

contendo ampla reportagem fotográfica, bem como o<br />

texto de todos os pronunciamentos dos oradores da "Noite<br />

Sandinista", comentados pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira<br />

(cfr. "Catolicismo", julho-agosto 1980).<br />

230


Parte II<br />

Capítulo Ili -<br />

li<br />

de teologia e vamos à pra11ca: onde estão os<br />

grupos que vão para a Nicarágua, para aprender?<br />

Eu respondo: Sei que, em São Paulo, há grupos <strong>se</strong><br />

preparando e de malas prontas para partir. Até<br />

com a permissão do Arcebispo de São Paulo ... "<br />

Mas não foi preciso ir até a Nicarágua para<br />

aprender: naqueles dias mesmo, o comandante<br />

Daniel Ortega, um dos principais chefes guerrilheiros<br />

e membro da Junta de Governo, e o Pe.<br />

Miguel D'Escoto, chanceler, ambos pre<strong>se</strong>ntes em<br />

Taboão, reuniram-<strong>se</strong> a portas fecha<strong>das</strong> com "repre<strong>se</strong>ntantes<br />

dos movimentos de ba<strong>se</strong> da Igreja na<br />

periferia" (<strong>CEBs</strong>), <strong>das</strong> Pastorais da Arquidioce<strong>se</strong>,<br />

e ... o Sr. Luís Inacio da Silva, "Lula", além de<br />

outros dirigentes do PT. O Cardeal tii,ha razão: a<br />

"coisa" parece que tinha apenas começado ...<br />

Com efeito, menos de um mês depois eclodia a<br />

greve "libertadora" do ABC, sob a conduta ostensiva<br />

de Lula (e a velada de Frei Beto) e com as<br />

bênçãos do Sr. Cardeal-Arcebispo de São Paulo ...<br />

Referências: "O Estado de S. Paulo", 20-3, 22-4, 26-4 e 6-5-80;<br />

"Jornal do Brasil", 21-4 e 22-4-80; CARLOS CASTELLO BRANCO,<br />

Substituem-<strong>se</strong> os personagens, "Jornal do Brasil" - "Coluna<br />

do Castello", 23-4-80; "O Dia", Ri o de J a neiro, 20-4-80: "Folha<br />

da Tarde", São Paulo, 1-5-80; "SEDOC", outubro 1978, cols.<br />

355-363; "O São Paulo", 18-1 , 2-5, 7-3, 14-3, 23-3 e 11-4-80;<br />

" Compa nheiro", 27-2, 9-4 e 7-5-80; "Movimento", 3-3, 14-4 e<br />

12-5-80; "O Trabalho", 23-4-80; " Isto é", 12-3, 9-4 e 30-4-80;.<br />

" Em Tempo", 15-5-80; "Folha de S. Pa ulo", 2-5 e 13-5-80;<br />

"Cadernos do CEAS", <strong>se</strong>tembro-outubro 1978, pp. 20 ss.;<br />

"Jornal de Brasília", 1-5-80; "Folhetim", 28-1 -79 e 11-5-80;<br />

"Catolicismo", julho-agosto 1980; "Jornal da Tarde", "O Globo",<br />

" Diá ri o de Perna mbuco" de 7-4-80; A greve na voz dos<br />

trabalhadores - Da Scania a !tu, Coleção História Imediata,<br />

Ed . Alfa Ô mega, São Paulo, J979, pp. 52-53; LENIN, Obras.<br />

t. 29, p. 387, ci tado por V. G. AFANASS IEV, Filosofia Marxista<br />

- Compêndio Popular, Ed it orial Vitória, Rio de Janeiro,<br />

1963, p. 313; P E. J . B. LIBÃNIO, Congresso Internacional Ecumênico<br />

de Teologia, in " Revista Eclesiástica Brasileira", ma rço<br />

1980, pp. 126- 133.<br />

<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />

à esquerda<br />

doPCB<br />

D . Paulo Arns<br />

ANALISANDO a atuação do Sr. Cardeal<br />

Arns nas greves de 1979, o Pe. Sellitti, de "O<br />

Lutador", <strong>se</strong>manário católico de Belo Horizonte,<br />

tem o <strong>se</strong>guinte comentário: "Essa cessão<br />

dos templos só pode <strong>se</strong>r compreendida em sua<br />

dimensão real <strong>se</strong> percebermos, por trás do fato,<br />

algo mais que a necessidade de defender o<br />

di~eito de reunião dos operários em greve,<br />

pnvados de suas <strong>se</strong>des. E que a greve e os<br />

comandos de greve não repre<strong>se</strong>ntavam a posição<br />

dos sindicatos, mas <strong>das</strong> oposições sindicais.<br />

Uma minoria <strong>se</strong>m dúvida, mas <strong>muito</strong> ativa, em<br />

que as esquer<strong>das</strong> radicais e menos conciliadoras<br />

<strong>se</strong> encontram com os líderes de movimentos<br />

populares estimulados pela Igreja. É nessa zona<br />

de turbulência que <strong>se</strong> tem colocado as <strong>CEBs</strong><br />

(Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>), à esquerda do<br />

PCB. Isto me parece revelar uma dimensão<br />

<strong>pouco</strong> visível, <strong>pouco</strong> declarada, mas real, da<br />

decisão que levou a Igreja paulistana a ceder<br />

<strong>se</strong>'us templos para <strong>se</strong>de dos comandos de greve;<br />

é que os militantes dos movimentos de Igreja<br />

(<strong>CEBs</strong>) estavam na frente de uma greve, defla- .<br />

grada pela oposição sindical e não pelo sindicato"<br />

(Artigo Igreja mais política e Igreja mais<br />

religiosa, transcrito no "Mensageiro de Santa<br />

Rita", Franca-SP, dezembro 1979, p. 76).<br />

23 1


I<br />

'tranJ.bérn na<br />

de <strong>1982</strong>


'º·. ..<br />

• • I I


Uma concepção ,;e/i iasa da política<br />

e polítioa da religião<br />

Q UAL A FORÇA política <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong>?<br />

A questão - de grande interes<strong>se</strong> em si mesma<br />

- ganha atualidade com a abertura do processo<br />

eleitoral. Dos ambientes eclesiásticos e da esfera<br />

restrita dos políticos, governantes e elites dirigentes,<br />

ela desceu ao domínio do grande público,<br />

ganhou as páginas dos jornais e <strong>se</strong> tornou tema de<br />

conversas. Chegou mesmo a provocar polêmicas,<br />

por vezes acalora<strong>das</strong>, envolvendo personalidades<br />

dos mais diversos <strong>se</strong>tores da vida nacional.<br />

Seria, entretanto, dar mostras de uma concepção<br />

demasiado estreita e anacrônica da política<br />

confinar a importância <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />

de Ba<strong>se</strong> ao terreno puramente eleitoral. Sem negligenciar<br />

as manifestações de pujança que elas já<br />

demonstraram nes<strong>se</strong> terreno, é preciso descer mais<br />

fundo para avaliar a verdadeira importância política<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no panorama brasileiro.<br />

Mais do que <strong>se</strong>u número e sua estrutura organizacional<br />

(de resto nada desprezíveis), o que<br />

torna as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> uma<br />

"potência emergente" no panorama político brasileiro<br />

é sua característica de movimento eclesial. É<br />

por <strong>se</strong>rem organismos da Igreja, fomentados,<br />

apoiados, prestigiados pelo Episcopado, que elas<br />

ganham credibilidade junto à população majoritariamente<br />

católica do País e recebem toda a cobertura<br />

por parte da grande maioria dos órgãos de<br />

imprensa (<strong>se</strong>mpre pródigos em conferir-lhes espaços<br />

e emprestar-lhes as tubas da publicidade), bem<br />

como dos "sapos" - es<strong>se</strong>s plutocratas amigos de<br />

to<strong>das</strong> as esquer<strong>das</strong>.<br />

E aqui já <strong>se</strong> chega ao âmago da questão: é a<br />

Religião que confere às <strong>CEBs</strong> a sua força política.<br />

Não só pelo apoio externo, isto é, pela legitimação<br />

episcopal, mas pela própria dinâmica de<br />

suas concepções religiosas é que as <strong>CEBs</strong> emergem<br />

como força política.<br />

Toda prãtlca "Libertadora"<br />

ê prãtlca religiosa<br />

Com efeito, as <strong>CEBs</strong> apre<strong>se</strong>ntam-<strong>se</strong> como a<br />

"prática concreta" da Teologia da Libertação, e a<br />

TL afirma que a fé tem uma dimensão política: a<br />

finalidade da religião é a libertação do homem d·e<br />

toda a "opressão".<br />

A opressão, em nossos dias, no mundo ocidental,<br />

<strong>se</strong> corporifica nas estruturas da sociedade<br />

capitalista - dizem os "teólogos da libertação".<br />

Para libertar "o homem todo e todos os homens" é<br />

preciso transformar essas estruturas. O que <strong>se</strong> faz<br />

pela atuação política (ou pela revolução arma-<br />

235


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

da .. . ). A prática religiosa é, pois, prática libertadora.<br />

Reciprocamente, toda prática libertadora é<br />

intrin<strong>se</strong>camente religiosa, <strong>pouco</strong> importando a<br />

qualidade ou a intenção dos agentes: a essência da<br />

religião, da fé - afirmam - está no ato libertador,<br />

não na crença em dogmas e na ob<strong>se</strong>rvância<br />

dos Mandamentos.<br />

Política e religião encontram-<strong>se</strong>, nessa perspectiva,<br />

tão intimamente uni<strong>das</strong>, que o membro <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong> engaja-<strong>se</strong> na luta política por razões religiosas<br />

e pratica a religião de um modo político:<br />

são políticos na prática da religião e religiosos na<br />

prática política. O que conta é o caráter libertador<br />

de uma e de outra.<br />

Daí decorre uma concepção mais ampla da<br />

atividade política, que não <strong>se</strong> restringe ao jogo<br />

político-eleitoral e à militância partidária, mas <strong>se</strong><br />

este_nde a toda a at uação libertadora <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong>: movimentos reivindicatórios ou de<br />

protesto, greves, luta sindical, agitação rural e<br />

tudo o mais que <strong>se</strong> viu.<br />

A polêmica a respeito da importância política<br />

<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> girará em falso enquanto negligenciar<br />

essa realidade e <strong>se</strong> cifrar no risco de sua instrumentalização<br />

por partidos (legais ou ilegais, abertos ou<br />

clandestinos) e à sua participação no processo<br />

político-elei torai.<br />

A consclentlzação: da<br />

religião à polftlca<br />

A passagem da esfera religiosa à política dá-<strong>se</strong><br />

como con<strong>se</strong>qüência imediata e inevitável do processo<br />

de conscientização <strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s comunitárias,<br />

considerada pela maioria dos agentes pastorais<br />

como a principal atividade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e que ocupa<br />

cerca de dois terços de <strong>se</strong>u tempo.<br />

Dois ambientes em torno do crucifixo, duas concepções<br />

de religil o: à esquerda a Igreja de Nossa Senhora da Paz,<br />

em Silo Peulo, transformada em local de comlcio; à direita,<br />

monges espanhóis em oraçl o.<br />

A essência da conscientização consiste em despertar<br />

o indivíduo (em nome da Religião) para<br />

problemas que o rodeiam (dos <strong>quais</strong> nem <strong>se</strong>mpre<br />

<strong>se</strong> dava conta, e com os <strong>quais</strong>, via de regra,<br />

convivia de maneira suportável), com o intuito<br />

deliberado de provocar nele a insatisfação com sua<br />

situação pre<strong>se</strong>nte e o de<strong>se</strong>jo de participar na<br />

transformação <strong>das</strong> estruturas da sociedade, onde<br />

residiria a causa de todos os <strong>se</strong>us males.<br />

Mas a transformação da sociedade não <strong>se</strong> faz<br />

cabalmente <strong>se</strong>m a atividade política ( ou a ação<br />

236


Parte li<br />

Cap ítulo I V -<br />

I<br />

por força da conscientização, tornou-<strong>se</strong> um descontente<br />

com a sociedade vigente e decidiu engajar-<strong>se</strong><br />

na luta pela transformação de suas estruturas,<br />

atuando de acordo com metas e estilos que as<br />

<strong>CEBs</strong> lhe incukaram <strong>se</strong>rem os melhores.<br />

O membro da CEB, ao ingressar na vida<br />

político-partidária, leva consigo uma nova visão<br />

do homem e do mundo e está tomado por um<br />

estado temperamental que condiciona sua atuação,<br />

ainda que <strong>se</strong> tenha desligado formalmente do<br />

movimento <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, como querem<br />

alguns Prelados.<br />

Parlamentares, s_lm.<br />

Membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> também<br />

revolucionária ... ). Portanto, o indivíduo, na medida<br />

em que é conscientizado, é arrastado para a<br />

arena política.<br />

Postas as coisas por essa forma, não tem<br />

<strong>se</strong>ntido dizer, como <strong>se</strong> tem ouvido tantas vezes,<br />

que as <strong>CEBs</strong> enquanto tais não fazem política<br />

partidária e que, <strong>se</strong> <strong>se</strong>us membros ingressam nos<br />

partidos, fazem-no a título pessoal. Pois quem ingressa<br />

na vida partidária já não é o cidadão<br />

comum, levado a isso por razões pessoais, circunstanciais,<br />

ou <strong>quais</strong>quer outras. É o indivíduo que,<br />

É preciso ressaltar que, embora militando em<br />

partidos políticos diversos, os membros <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, em sua maioria, continuam,<br />

naturalmente, a freqüentar as reuniões destas,<br />

inclusive por motivações estritamente religiosas.<br />

E continuam, inevitavelmente, em sua atuação<br />

pública, abertos a todo o estado de ânimo do<br />

movimento, expresso, por exemplo, em comentários<br />

sobre a situação política e em sugestões sobre<br />

o que fazer ou evitar, apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> a eles pelos<br />

dirigentes imediatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Estes, por sua vez,<br />

recebem de dirigentes superiores as orientações<br />

que vêm da cúpula do movimento. Tudo isso<br />

importa, pelo menos para a maioria dos membros,<br />

em um verdadeiro sistema de transmissão de<br />

orientações. De modo que, em muitas matérias, a<br />

atuação dos políticos oriundos <strong>das</strong> Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> pode <strong>se</strong>r <strong>muito</strong> mais condicionada pela<br />

cúpula suprema do movimento do que pelas<br />

direções dos partidos a que estão filiados.<br />

237


Um centauro polftico-religioso<br />

- Diante de tal quadro, que repre<strong>se</strong>ntam<br />

propriamente as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

na vida política do Brasil?<br />

Trata-<strong>se</strong>, antes de tudo, de um movimento, de<br />

uma corrente filosófico-religiosa que, à <strong>se</strong>melhança<br />

dos partidos comunistas e socialistas, quer<br />

apropriar-<strong>se</strong> do Estado, do Poder Público, para<br />

colocá-lo a <strong>se</strong>rviço de suas próprias concepções<br />

religiosas e filosóficas, no caso, a Teologia da<br />

Libertação.<br />

- <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> constituem, então, um partido<br />

político?<br />

Em certo <strong>se</strong>ntido sim, em certo <strong>se</strong>ntido não.<br />

Elas não <strong>se</strong> reduzem a um mero partido político,<br />

embora possam <strong>se</strong>r considera<strong>das</strong> como tal em<br />

certa manifestação de sua atividade. Mas pelo <strong>se</strong>u<br />

vulto, sua doutrina, <strong>se</strong>us objetivos, transcendem<br />

de <strong>muito</strong> os estreitos limites de simples agremiação<br />

partidária: elas constituem uma espécie de<br />

religião (de fato, são uma Igreja-Nova a germinar<br />

obscuramente nas fileiras católicas, como <strong>se</strong> viu<br />

no capítulo relativo à Teologia da Libertação) que<br />

pretende dominar o Estado e instrumentalizá-lo<br />

em determinada direção. Talvez <strong>se</strong> pudes<strong>se</strong> dizer,<br />

metaforicamente, que as <strong>CEBs</strong> são um partido,<br />

assim como um centauro é um cavalo: movimento<br />

híbrido, político e religioso, da mesma forma que<br />

o mítico centauro é metade homem, metade<br />

cavalo.<br />

É es<strong>se</strong> movimento híbrido, es<strong>se</strong> centauro político-religioso<br />

( ou religioso-político), que procura,<br />

por meio da política, dominar o Estado. Política,<br />

vale repetir, que não <strong>se</strong> restringe à atividade<br />

partidária e eleitoral, mas que também não· a<br />

exclui. Sem <strong>se</strong> identificar inteiramente com nenhuma<br />

<strong>das</strong> legen<strong>das</strong>, as <strong>CEBs</strong> pairam sobre to<strong>das</strong>,<br />

de mo90 a que <strong>se</strong>us membros possam atuar com<br />

liberdade de movimento em cada partido, na<br />

medida em que o exijam as circunstâncias pessoais,<br />

locais ou políticas (*).<br />

(º) Por ocasião de sua visita ao Brasil, em 1980, S. S. João<br />

Paulo II confiou à CNBB uma mensagem dirigida às Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> do Brasil, na qual <strong>se</strong> podem ler as<br />

<strong>se</strong>guintes palavras: "Se nos anos passados, as Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> latino-americanas, brasileiras em particular,<br />

238


Parte li<br />

Capítulo / V -<br />

I<br />

Para que rumos corre tão desabaladamente<br />

es<strong>se</strong> centauro político-religioso (instigado pelos<br />

<strong>se</strong>tores mais radicais do Clero), procurando arrastar<br />

consigo o País?<br />

Socialismo autogestionãrio francês<br />

ou sandinismo nicaragUen<strong>se</strong>?<br />

É desconhecer o radicalismo do movimento<br />

pretender que as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />

quando <strong>se</strong> lançam no processo político-eleitoral,<br />

não têm maiores ambições que a conquista de<br />

algumas cadeiras parlamentares, de alguns mandatos<br />

de prefeito, ou mesmo a ocupação de uma ou<br />

outra pasta ministerial. Elas visam as<strong>se</strong>nhorear-<strong>se</strong><br />

do Estado, mas apenas como instrumento, já que o<br />

<strong>se</strong>u projeto leva à extinção do próprio Estado, de<br />

conformidade com a utopia anarquista de Marx.<br />

Elas pretendem - por meio de uma atuação<br />

política global - influir, não só na vida pública da<br />

manifestaram enorme vitalidade e foram acolhi<strong>das</strong> como valiosíssimo<br />

elemento pastoral; <strong>se</strong> tiveram, além disso, notável<br />

repercussão no Exterior, foi justamente porque souberam<br />

manter, <strong>se</strong>m desvios nem alterações, a dimensão eclesial,<br />

fugindo à contaminação ideológica" ( Todos os pronunciamentos<br />

do Papa no Brasil, Edições Loyola, São Paulo, 1980,<br />

p. 268).<br />

Tudo quanto o pre<strong>se</strong>nte livro informa acerca <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é<br />

fundamentado em documentos incontroversos. Deve-<strong>se</strong> então<br />

concluir que o Pontífice estava insuficientemente informado<br />

quando sobre elas assim <strong>se</strong> pronunciou?<br />

Tal hipóte<strong>se</strong> não implica na menor irreve rência em relação<br />

à Cátedra de São Pedro, pois a doutrina da Igreja admite a<br />

possibilidade de um Pontífice estar mal informado acerca de<br />

alguma associação ou movimento.<br />

Ademais, embora as palavras de João Paulo II soem como<br />

um elogio irrestrito às <strong>CEBs</strong> brasileiras, elas talvez comportem<br />

uma outra interpretação.<br />

Com efeito, linhas antes, o Pontífice havia externado sérias<br />

apreensões em relação às Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />

exortando-as à vigilância: "Entre as dimensões <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, julgo conveniente chamar a atenção<br />

para aquela que mais profundamente as define e <strong>se</strong>m a qual <strong>se</strong><br />

esvairia sua identidade: a eclesialidade. Sublinho esta eclesialidade<br />

porque está explícita já na designação que, sobretudo na<br />

América Últina, as comunidades receberam. .... Sublinho<br />

também esta eclesialidade porque o perigo de atenuar essa<br />

dimensão, <strong>se</strong> não deixá-la desparecer em beneficio de outras,<br />

não é nem irreal nem remoto, antes é <strong>se</strong>mpre atual. É particularmente<br />

insistente o risco de inlTomissio do político. Esta<br />

intromissão pode dar-<strong>se</strong> na própria gêne<strong>se</strong> e formação <strong>das</strong><br />

comunidades, que <strong>se</strong> congregariam não a partir de uma visão<br />

de lgre_ia, mas com critérios e objetivos de ideologia política.<br />

Tal intromissão, porém, pode dar-<strong>se</strong> também sob a forma de<br />

instrumentalização política de comunidades que haviam nascido<br />

em perspectiva eclesial. Uma delicada atenção e um sério e<br />

corajoso esforço para manter em toda a sua pureza a dimensão<br />

eclesial dessas comunidades é um eminente <strong>se</strong>rviço que <strong>se</strong><br />

presta, de uma parte, a elas próprias e, de outra parte, à Igreja:<br />

.... A oportunidade desta viagem parece-me momento adequado<br />

para exortar as Comunidades & lesiais de Ba<strong>se</strong> no Brasil<br />

a con<strong>se</strong>rvarem intata a sua dimensão eclesial não obstante<br />

tendências 011 impulsos que venham do Exterior ou do próprio<br />

país num <strong>se</strong>ntido diverso (op. cit., pp. 268-269 - destaques<br />

nossos).<br />

Em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido imediato, estas palavras premunem as <strong>CEBs</strong><br />

contra um perigo apenas possível. Mas perigo grave e insistente,<br />

que põe notoriamente a vigilância do Pontífice em um<br />

estado de viva apreensão, pode-<strong>se</strong> até dizer de sobressalto.<br />

Ora, es<strong>se</strong> 'sobressalto é <strong>pouco</strong> provável que <strong>se</strong> exprimis<strong>se</strong><br />

com tais matizes de linguagem <strong>se</strong> ele tives<strong>se</strong> as <strong>CEBs</strong> em conta<br />

de campos de escol, inteiramente imunes à <strong>se</strong>meadura da má<br />

<strong>se</strong>mente. Ou <strong>se</strong>ja, <strong>se</strong> ele não discernis<strong>se</strong> nas <strong>CEBs</strong> tendências<br />

para absorver a ação ideológico-política do esquerdismo. E<br />

tendências vivas!<br />

Tomando assim o pronunciamento pontiflcio em <strong>se</strong>u conjunto,<br />

vê-<strong>se</strong> que os dados informativos publicados no pre<strong>se</strong>nte<br />

livro de algum modo caminham ao encontro de apreensões<br />

que já afligiam João Paulo li. Põem-lhe simplesmente em<br />

mãos material informativo sobre uma realidade que ele já<br />

. parecia entrever. Neste <strong>se</strong>ntido, a confirmam dolorosamente.<br />

239


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

nação, mas na vida particular dos cidadãos; impor<br />

um novo tipo de organização ·política, uma nova<br />

sociedade, um homem novo.<br />

Numa palavra, querem implantar no Brasil um<br />

regime socialista autogestionário, <strong>se</strong>melhante ao<br />

que o Partido Socialista Francês de Mitterrand<br />

está procurando instaurar na França por meio de<br />

reformas aplica<strong>das</strong> com gradualidade, e também<br />

àquele que os sandinistas tentam impor a ferro e<br />

fogo na sofrida e infeliz Nicarágua.<br />

Referências: F REI LEONARDO E FR EI CLODOVIS BoFF, Comunidades<br />

Cristãs e Política Partidária, in "Encontros com a Civilização<br />

Brasileira", n. 0 3, <strong>se</strong>tembro 1978, p. 15 (es<strong>se</strong> estudo "foi<br />

discutido e aprovado em reuniões com as ba<strong>se</strong>s e com a pre<strong>se</strong>nça<br />

de dezes<strong>se</strong>te bispos da Igreja Católica no Brasil"); FREI<br />

LEONARDO BoFF OFM, Que é fazer Teologia partindo de uma<br />

América Latina em cativeiro?, in " Revista Eclesiástica Brasileira",<br />

dezembro 1975, p. 863; PE. GusTAVO Gur1fRREZ, Teologia<br />

da Libertação, Vozes, Petrópolis, 2.ª ed., 1975; P E. A. G.<br />

R uem, Teologia da Libertação: Política ou Profetismo .?, Edições<br />

Loyola, São Paulo, 1977; FREI CLooov1s BoFF OSM, A influência<br />

política <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>),<br />

in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979, cols. 802-808; 4. 0 ENCON­<br />

TRO NACIONAL DAS COMUNIDADES ,ECLES IAIS DE BASE (ltaici,<br />

1981 ), Relatório geral - Carta conclusão do encontro, in<br />

"SEDOC", <strong>se</strong>tembro 1981 , col. 139; CLAUDIO GurnEs, O conflito<br />

é entre o regime e a Igreja, in "Voz da Unidade", 14-11-80;<br />

Mal orientada. CEB pode virar grupo político (entrevista de<br />

D. José Varani), "Voz do Paraná", 23-10-77, p. 7; Bispo reme<br />

influência marxista na Igreja, "Jornal de Brasília", 23-9-80;<br />

Cardeal alerta para infiltração nas comunidades de ba<strong>se</strong> do<br />

Rio, "O Globo", 8--12-80; Núncio acha exagerada denúncia<br />

de infiltração, "O Estado de S. Paulo", 20-12-80; H ELENA<br />

SALEM (coordenação), A Igreja dos Oprimidos, Col. Brasil<br />

Ho_ie-3. Ed. Brasil Debates, São Paulo, 198 1, p. 204; Bispo<br />

Auxiliar pede "reformas urgentes", "Jornal do Brasil", 5-12-80;<br />

CANDIDO PROCÓPIO F ERRE IR A DE CAMARGO E OUTROS, Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, in P . S1 NGE R E V. C. BRANT (org.),<br />

São Pauln: o p ovo em movimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis,<br />

1980, p. 78; O. SEIXAS B1ANCHI NI E A. P ALME IR A, Experiências<br />

comunitárias: mito e realidade - Viagem aos Municlpios<br />

de São Mateus. Pinheiros e Boa Esperança - Estado do<br />

Espírito Santo, abril 198 I, policopiado.<br />

240


~<br />

EM MEIO à cn<strong>se</strong> de valores e ao caos do<br />

mundo contemporâneo, e em que pe<strong>se</strong> todo o<br />

processo de dessacralização por que ele tem<br />

passado, é ainda no Clero que nosso povo deposita<br />

grande parte de sua confiança, restos de uma<br />

veneração de tempos idos.<br />

Portanto, caso o Clero, ou parte dele, queira<br />

fazer uso de sua força e corroborar a atividade<br />

política <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, esta pode <strong>se</strong> transformar num<br />

elemento decisivo da vida política brasileira. O que<br />

parece estar acontecendo.<br />

Com efeito, o dia em que <strong>se</strong> fizer um levantamento<br />

rigoroso sobre a participação <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no processo políticoeleitoral<br />

brasileiro, especialmente no que <strong>se</strong> refere<br />

ao nível municipal, a opinião pública terá certamente<br />

uma surpresa quanto à extensão do fenômeno:<br />

elas constituem uma "potência emergente"<br />

na vida pública do Brasil.<br />

Dados fragmentãrios, mas expressivos<br />

Com <strong>se</strong>us milhares de núcleos espalhados por<br />

todo o País - englobando um contingente de membros<br />

difícil de calcular - as <strong>CEBs</strong> ultrapassam de longe<br />

a rede de diretórios de qualquer dos partidos políticos<br />

existentes, quiçá de todos eles somados. Compreende-<strong>se</strong>,<br />

pois, que políticos, homens públicos e<br />

cidadãos responsáveis de modo geral, estejam<br />

atentos a es<strong>se</strong> pote!].cial e <strong>se</strong> preocupem com o<br />

risco de sua canalização para objetivos eleitorais.<br />

Faltam, entretanto, dados completos e atualizados<br />

para avaliar a atuação eleitoral <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. O<br />

que existe são dados fragmentários, que vez por<br />

outra vêm à tona nas águas relativamente tranqüilas<br />

do noticiário político.<br />

São, entretanto, suficientes para deixar entrever<br />

o que ocorre nas regiões mais profun<strong>das</strong> dessas<br />

mesmas águas.<br />

Um crimentarista político chegou a afirmar que<br />

as <strong>CEBs</strong> influíram decisivamente nas eleições parlamentares<br />

de 1978, garantindo a vitória do<br />

partido oposicionista em regiões até então sob o<br />

controle da Arena.<br />

Foi precisamente o que ocorreu em São Paulo,<br />

onde as <strong>CEBs</strong> da Zona Sul elegeram para a<br />

<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Legislativa e a Câmara Federal, pela<br />

legenda da Oposição, dois de <strong>se</strong>us mais destacados<br />

membros - a ex-freira Irma Passoni e o<br />

animador comunitário Aurélio Pérez -, numa<br />

região da cidade considerada reduto eleitoral de<br />

conhecido político situacionista, o qual a duras<br />

penas con<strong>se</strong>guiu as<strong>se</strong>gurar uma cadeira no legislativo<br />

estadual. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> paulistanas fizeram<br />

.<br />

'<br />

241


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

ainda outro deputado estadual, também pelo<br />

MDB, na pessoa do advogado Marco Aurélio<br />

Ribeiro, do Movimento do Custo de Vida.<br />

Não s6 na Oposição<br />

Mas não é só na Oposição que as Comunidades<br />

de Ba<strong>se</strong> marcam sua pre<strong>se</strong>nça no panorama<br />

político-partidário brasileiro. Em Curitiba, por<br />

exemplo, nas eleições municipais de 1976, as <strong>CEBs</strong><br />

decidiram lançar pela Arena a candidatura de <strong>se</strong>u<br />

ativo militante João lglosso, e ele acabou <strong>se</strong>ndo o<br />

vereador mais votado da cidade. No mesmo pleito,<br />

as Comunidades reconduziram à Prefeitura de<br />

Boa Esperança, no Espírito Santo, o ex-prefeito<br />

Amaro Covre, do partido governista. Já em 1972,<br />

na vizinha cidade de São Mateus, as <strong>CEBs</strong> ha ·iam<br />

imposto aos diretórios locais dos dois partidos -<br />

Arena e MDB - <strong>se</strong>us próprios candidatos à<br />

O papel polltico <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é continuamente salientado<br />

por jornais de to<strong>das</strong> as tendências.<br />

Câmara Municipal, sob a ameaça de boicotarem<br />

as eleições. Os candidatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> foram eleitos<br />

com facilidade. No pleito <strong>se</strong>guinte ( 1976), elegeram<br />

pelo MDB dois líderes de Comunidade,<br />

Gualter Nunes Loureiro e Túlio Paris, para os cargos<br />

de. prefeito e vice-prefeito. Com isso, as <strong>CEBs</strong>, que<br />

já dominavam a Câmara Municipal, passaram a<br />

controlar também o Executivo. Depois de quatro<br />

anos de mandato, o prefeito Loureiro não aceitou<br />

a prorrogação do mesmo, <strong>se</strong>ndo substituído pelo<br />

vice, Túlio Paris, o que garantiu às Comunidades a<br />

continuidade na aplicação de <strong>se</strong>u programa em<br />

nível municipal.<br />

Também no Nordeste, no<br />

Estado do Rio e no Paranã<br />

Também a Prefeitura de Aratuba - pequeno<br />

município produtor de frutas e verduras na <strong>se</strong>rra<br />

de Baturité, a 140 quilômetros de Fortaleza - é<br />

praticamente dominada pelas 72 Comunidades de<br />

Ba<strong>se</strong> locais. Elas elegeram um prefeito cujo filho e<br />

principal as<strong>se</strong>ssor é ativo militante comunitário. E<br />

já <strong>se</strong> preparam para eleger no pleito deste ano<br />

alguém de <strong>se</strong>us próprios quadros, de preferência<br />

um trabalhador rural. No <strong>se</strong>rtão pernambucano, o<br />

prefeito de Calçado presta contas às <strong>CEBs</strong>, antes<br />

mesmo de tratar com a Câmara de Vereadores. E<br />

em Trajano de Moraes, município pobre do<br />

interior fluminen<strong>se</strong>, as lideranças comunitárias<br />

dominam completamente a vida pública local,<br />

substituindo os antigos chefes partidários.<br />

A margem <strong>das</strong> instituições<br />

À margem dos quadros institucionais vigentes,<br />

as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> estão criando<br />

~ um novo instrumento de atuação política direta -<br />

Ol<br />

o<br />

.E<br />

E<br />

"<br />

~


Parte II<br />

Cap ítulo I V - 2<br />

Manifestação do<br />

Movimento Contra<br />

a ·carestia, na<br />

Catedral de São<br />

Paulo. - O MCC é<br />

considerado um dos<br />

principais "braços<br />

políticos" <strong>das</strong><br />

<strong>CEBs</strong>. Em 1978,<br />

três de <strong>se</strong>us dirigentes<br />

foram eleitos<br />

deputados: Irma<br />

Passoni, Marco<br />

Aurélio Ribeiro e<br />

Aurélio Pérez (na<br />

foto, assinalado pela<br />

aeta).<br />

as "<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias do Povo" ou "Con<strong>se</strong>lhos Populares"<br />

- , os <strong>quais</strong>, em cidades da importância de<br />

Campinas e Osasco, foram oficializados pelas<br />

administrações municipais como o canal entre o<br />

Poder Público e os moradores dos bairros periféricos<br />

e favelas, em detrimento da Câmara de<br />

Vereadores. De maneira rr.ais discreta, exercem<br />

influência análoga junto às Prefeituras de Joinville<br />

e Lajes (Santa Catarina) e outras localidades.<br />

O domínio político de certas Prefeituras pelas<br />

<strong>CEBs</strong> aparece às vezes marcado por um arzinho<br />

ditatorial nada tranqüilizador: "A nossa clas<strong>se</strong> lá<br />

<strong>se</strong> envolveu na política - lê-<strong>se</strong> num relatório de<br />

Comunidades do Ceará. Vamos experimentando o<br />

prefeito, <strong>se</strong> não <strong>se</strong>rvir nós bota para fora" ...<br />

São Mateus: ao assalto<br />

do governo municipal<br />

A estratégia pela qual - através da conscientização<br />

política e de um cuidadoso planejamento a<br />

longo prazo - as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

as<strong>se</strong>guram es<strong>se</strong> domínio político, aparece claramente<br />

no relato da experiência levada a cabo na<br />

cidade de São Mateus, no litoral norte do Estado<br />

do Espírito Santo. Foi ele apre<strong>se</strong>ntado no 2. 0<br />

Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em 1976. É tão<br />

exemplificativo que merece <strong>se</strong>r transcrito no es<strong>se</strong>ncial,<br />

com alguns subtítulos acrescentados para<br />

facilitar a leitura.<br />

243


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

e Conscientização política <strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s comunitárias.<br />

- "Em 1972 iniciou-<strong>se</strong> na paróquia um<br />

trabalho de conscientização política, solicitada por<br />

muitas comunidades. Nas reuniões de animadores<br />

procurava-<strong>se</strong> descobrir as dificuldades e os problemas<br />

<strong>das</strong> comunidades. [Seguem-<strong>se</strong> vários depoimentos].<br />

Daí vem o questionamento: ' Por que tudo isso?<br />

Será que é porque o Município é pobre? porque o<br />

governo não tem dinheiro?'. 'Não. O município<br />

tem meios! Só que não zela pelo interior. Nós do<br />

interior somos esquecidos pelas autoridades, os<br />

políticos só lembram da gente-na hora <strong>das</strong> eleições,<br />

depois não valemos mais nada: somos explorados<br />

pelo voto. Só nos fazem promessas que nunca<br />

D . Aldo Gema, Bispo<br />

de São Mateus­<br />

ES. - No norte capixaba,<br />

quem qui<strong>se</strong>r<br />

participar da vida<br />

religiosa é obrigado<br />

a pertencer a<br />

alguma Comunidade<br />

de Ba<strong>se</strong> e a aceitar<br />

a "conscientização<br />

sobre problemas<br />

sociais" e a<br />

"orientação sobre<br />

política" da dioce<strong>se</strong>.<br />

<strong>As</strong> cartilhas de e ,---------------­<br />

co nsc ient ização -~ No BR~SIL .. lllf Mu1ro<br />

política elabora<strong>das</strong> i T'EMPO GlUE G •ASSIM:<br />

por dioce<strong>se</strong>s de t o-<br />

0<br />

do o Pais apre<strong>se</strong>n- ~<br />

tam uma visão sim- ,,<br />

plística da realida- ;<br />

de brasileira, pró- ~<br />

pria a alimentar a 5<br />

luta de clas<strong>se</strong>s. A r<br />

cartilha da Arqui- g<br />

dioce<strong>se</strong> do Rio de ~<br />

Janeiro (foto) em ~<br />

nada difere <strong>das</strong> de- ~<br />

mais nes<strong>se</strong> ponto. iii<br />

o<br />

;;<br />

~<br />

POio,...io11<br />

IV,"i.ilntl, .t...;.tdOol)<br />

cumprem'. 'É certo tudo isso? Será que não podemos.fazer<br />

algo para mudar esta situação? Como?'"<br />

• Pressão sobre os partidos para imposição de<br />

candidatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. - "Entre os vários questionamentos<br />

descobriu-<strong>se</strong> um f enômeno: a Câmara<br />

municipal não repre<strong>se</strong>ntava o povo do interior. Só<br />

um dos nove vereadores morava no interior: todos<br />

os outros eram da cidade, desligados de qualquer<br />

vivência comunitária. .... Com a ajuda de alguns<br />

animadores mais entrosados na política foi planejado<br />

um programa de conscientização. Nas reflexões<br />

de grupo, no culto, nas reuniões os assuntos<br />

verteram sobre o <strong>se</strong>ntido da verdadeira política,<br />

sobre os deveres dos cidadãos em relação à política,<br />

à dignidade da pessoa que não deve deixar-<strong>se</strong><br />

244


Parte li<br />

comprar, sobre o <strong>se</strong>ntido do voto etc. Como con<strong>se</strong>qüência<br />

prática foi feita uma pesquisa entre as<br />

comunidades para que indicas<strong>se</strong>m o candidato a<br />

vereador que preferiam. A escolha caiu sobre<br />

pessoas que viviam com o povo. Os candidatos<br />

foram propostos aos diretórios dos dois partidos<br />

políticos com esta condição: 'Ou vocês os colocam<br />

entre os candidatos para vereadores, ou nós não<br />

votaremos'. A cúpula dos partidos, apesar de não<br />

estar de acordo, teve que aceitar as pessoas indica<strong>das</strong><br />

pelas comunidades".<br />

Cabe aqui um parênte<strong>se</strong> para ob<strong>se</strong>rvar que,<br />

<strong>se</strong>ndo o voto uma obrigação legal, a instigação ao<br />

boicote eleitoral importa núma instigação à ilegalidade.<br />

Pros<strong>se</strong>gue o relatório <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> de São Mateus.<br />

"No pleito que <strong>se</strong>guiu. cada distrito do interior<br />

con<strong>se</strong>guiu eleger com facilidade <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes.<br />

Naturalmente, em <strong>se</strong>guida, não faltaram dificuldades<br />

e per<strong>se</strong>guições por parte daqueles que<br />

viram desta maneira <strong>se</strong>u domínio político abalado".<br />

Em 1976, como já ficou dito, as <strong>CEBs</strong> conquistaram<br />

a Prefeitura, elegendo (pelo MDB) o prefeito<br />

Gualter Nunes Loureiro e o vice Túlio Paris,<br />

ambos líderes comunitários. Adquiriram assim<br />

condições para impor <strong>se</strong>u programa.<br />

Que partido político dispõe de <strong>se</strong>melhante<br />

máquina de pressão, de tão apurado know-how e<br />

de agentes tão bem treinados?<br />

• Pressão religiosa par11 fins políticos. - Para<br />

<strong>se</strong> fazer uma idéia dos instrumentos empregados<br />

por essa verdadeira máquina de pressão políticoreligiosa,<br />

convém <strong>sabe</strong>r que na Dioce<strong>se</strong> de São<br />

Mateus, os fiéis para receber os Sacramentos,<br />

casar, bati.zar os filhos, <strong>se</strong>r padrinhos de Batismo e<br />

Crisma, ou simplesmente testemunhas de casamento,<br />

são submetidos a exigências descabi<strong>das</strong>: é<br />

Capiwlo I V - 2<br />

preciso apre<strong>se</strong>ntar um "Atestado de Residência<br />

Religiosa", fornecido pelos líderes da Comunidade<br />

... Entre as exigências para receber tal atestado<br />

consta a <strong>se</strong>guinte: " /0. Aceita a caminhada da<br />

Igreja Católica nesta Dioce<strong>se</strong>, que escolheu c·aminhar<br />

com os pobres e aceita a consci~ntização<br />

sobre problemas sociais e a orientação sobre política<br />

?"<br />

É possíve l violentar de modo mais brutal as<br />

consciências, em nome da Religião, para fins<br />

declaradamente políticos? E quantos <strong>se</strong>rão os fiéis<br />

em condições de resistir a tal máquina de pressão<br />

religiosa?<br />

Quando as <strong>CEBs</strong> tomam o<br />

poder: Boa Esperança, esboço<br />

de autogestão comunitãria<br />

No vizinho município de Boa Esperança, a<br />

máquina <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> fez<br />

eleger por dois mandatos intermitentes ( 1971-1972<br />

e 1977-1980, prorrogado até <strong>1982</strong>) Amaro Covre,<br />

do partido situacionista. Adquiriram assim condições<br />

para a::1licar naquela localidade capixaba sua<br />

experiência de "democracia direta", de "autogestão<br />

comunitária".<br />

• O "milagre" de Boa Esperança. - O "milagre"<br />

de Boa Esperança vem relatado com indisfarçável<br />

simpatia pelo sociólogo esquerdista Maurício<br />

Tragtenberg, em artigo sob o título Administração<br />

comunitária ressuscitou Boa Esperança.<br />

A crer no relato, a cidadezinha de Boa Esperança<br />

estava destinada a desaparecer do mapa: <strong>se</strong>u<br />

comércio reduzido a uma casa de <strong>se</strong>cos e molhados<br />

e duas lojinhas de tecidos. O Tribunal de<br />

Contas do Estado chegara a acon<strong>se</strong>lhar a extinção<br />

do Município e sua incorporação ao de São<br />

Mateus.<br />

245


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve com o são<br />

Ocorreu então o "milagre":<br />

"Deu-<strong>se</strong> o estancamento do êxodo rural, erradicação<br />

da miséria, pleno emprego para todos,<br />

eletrificação rural, construção de 300 km de estra<strong>das</strong>,<br />

produção de 12 milhões de sacas de café,<br />

produção de 26 mil litros de leite diários, mil sacos<br />

de farinha de mandioca e a existência de 33 mil<br />

cabeças de gado, devido à mobilização comunitária<br />

como ba<strong>se</strong> da administração municipal, posta<br />

em prática pelo prefeito Amaro Covre de 1971 a<br />

1973 retomada em 1977, quando ele foi eleito por<br />

novos quatro anos".<br />

Com que recursos Boa Esperança realizou <strong>se</strong>u<br />

"milagre econômico"? Segundo Tragtenberg, tudo<br />

<strong>se</strong> fez "<strong>se</strong>m recursos financeiros, <strong>se</strong>m contar com o<br />

apoio do governo estadual e f ederal". Verdadeiro<br />

milagre, com efeito!<br />

Matriz de Boa Esperança-ES<br />

·"Boa Esperança realizou <strong>se</strong>u 'milagre econômico'<br />

através da sua capacidade em mobilizar recursos<br />

a partir da comunidade, eliminando assim o<br />

êxodo rural, a miséria e decadência econômica",<br />

afirma Tragtenberg.<br />

Explicação bastante simples, para querp queira<br />

acreditar nes<strong>se</strong> tipo de "milagre". Pois não aponta<br />

como <strong>se</strong> con<strong>se</strong>guiu "mobilizar recursos" a partir de<br />

uma comunidade que - <strong>se</strong>gundo o relato do<br />

próprio Tragtenberg - estava às portas da miséria<br />

... Mas é preciso que a autogestão <strong>se</strong>ja a::,re<strong>se</strong>ntada<br />

com as atrações <strong>das</strong> coisas mágicas, "talismânicas",<br />

que eliminam <strong>se</strong>m maior esforço todos<br />

os problemas da humanidade ...<br />

• O papel <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. - A­<br />

crescenta M . Tragtenberg: "Papel fundamental<br />

cabe às comunidades de ba<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong> pela<br />

Igreja que, a partir de 1971, assumiram a forma de<br />

entidades civis compostas por repre<strong>se</strong>ntantes de<br />

entidades econômicas, culturais e líderes de comunidades<br />

do Município".<br />

A cidade toda está organizada "comunitariamente":<br />

"Os problemas são levantados a nível de<br />

comunidade de ba<strong>se</strong>, cada escola do Município <strong>se</strong><br />

constitui numa comunidade e para cada 1?. famílias<br />

há um líder por rua, escolhido por elas, r.eúnem-<strong>se</strong><br />

mensalmente por convocação, pela professora<br />

local e coordenados pelos líderes . .... Conjuntos<br />

de comunidades formam o centro de irradiação<br />

ou agrovila, cujos membros reúnem-<strong>se</strong> a cada<br />

bimestre com todos os líderes, vereadores, prefeito<br />

e as<strong>se</strong>ssores, delegado de polícia, diretores de<br />

escola; e passam a analisar as atas advin<strong>das</strong> da<br />

comunidade de ba<strong>se</strong> e a elaborar plano de trabalho<br />

a nível de centro de irradiação, para beneficiar<br />

to<strong>das</strong> as comunidades".<br />

• <strong>As</strong> Comunidades é que decidem. - Vem,<br />

então, a descrição da "estrutura do poder comuni-<br />

246


~<br />

Parte li<br />

tário": "A estrutura do poder comunitário de Boa<br />

Esperança <strong>se</strong> compõe de 150 líderes de comunidades<br />

de ba<strong>se</strong> rurais e 49 de ba<strong>se</strong>s urbanas. A<br />

Prefeitura anima o poder comunitário. O poder<br />

político real está nas comunidades de ba<strong>se</strong>, fundamento<br />

dos centros de irradiação ba<strong>se</strong> do Con<strong>se</strong>lho<br />

Municipal de De<strong>se</strong>nvolvimento, que tem funções<br />

executivas, legislativas e fiscalizadoras. através <strong>das</strong><br />

<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias e ação de <strong>se</strong>us líderes.<br />

Ao con<strong>se</strong>lho, as<strong>se</strong>mbléia soberana do Município,<br />

submetem-<strong>se</strong> o prefeito, a burocracia e os<br />

. vereadores. O vereador é eleito pelos cidadãos e é<br />

um líder comunitário eleito pela comunidade a que<br />

pertence".<br />

Essa apre<strong>se</strong>ntação do poder comunitário de<br />

Boa Esperança parece referir-<strong>se</strong> a outro país que<br />

não o Brasil, pois aqui não existe, legalmente<br />

instituído, nenhum superpoder municipal, com<br />

funções executivas, legislativas e de tribunal de<br />

contas, como as atribuí<strong>das</strong> ao Con<strong>se</strong>lho de De<strong>se</strong>nvolvimento<br />

Municipal, ao qual prefeito, vereadores<br />

e toda a administração devem estar submetidos.<br />

Não existe, no quadro institucional brasileiro,<br />

nenhuma "as<strong>se</strong>mbléia soberana do Município":<br />

Executivo e Legislativo municipais são poderes<br />

iguais, cada qual gozando de autonomia na esfera<br />

própria. Modernamente, é característica dos regimes<br />

absolutistas, totalitários ou ditatoriais o enfeixamento<br />

dos dois poderes (mais o de fiscalizar)<br />

nas mãos de uma única pessoa, categoria ou<br />

instituição.<br />

A funcionar na prática, tal con<strong>se</strong>lho <strong>se</strong>ria, pois,<br />

um verdadeiro ditador colegiado comunitário, em<br />

nível municipal, como o regime socialista autogestionário<br />

francês o é em nível nacional, de acordo<br />

com a denúncia do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,<br />

em "Mensagem" já célebre.<br />

VOZ OPERARIA<br />

1,ur. Au i.1,.11, ,\1 n,1~::.u -. ,•,1 •• t-n ,, • 1 11, : ·<br />

o. '"',--~,. , r,. ,,,,<br />

~ccumc nt;>_d_a C~~!B,<br />

um m arco<br />

no caminho<br />

de lutas<br />

dos democratas<br />

==~~;: ...<br />

Capítulo IV - 2<br />

-: · -t·- ---1<br />

10.J::l:m _ :1,:.<br />

1 C~ (\:; b i~:i :J..<br />

tn n ~:•:r. ).<br />

1 h i~í:ori:::o 1 . ..... o , , \<br />

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MoOO


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Células marxistas?<br />

11<br />

Temos que correr o risco ... ,,<br />

O JORNAL do PCB publica um artigo de<br />

Cláudio Guedes, no qual <strong>se</strong> pode ler o <strong>se</strong>guinte:<br />

"Em poucas palavras, a Igreja que apoiou os<br />

golpistas em 64 e cuja tradição no país era de<br />

apoio às clas<strong>se</strong>s dominantes, mudou. Esta mudança<br />

está claramente exposta nos objetivos<br />

pastorais definidos em_Medellin (1968) e confirmados<br />

por Puebla 1979: é tarefa dos católicos<br />

opor-<strong>se</strong> às injustas estruturas sociais e políticas<br />

que oprimem e degradam milhões de pessoas na<br />

América Latina. Esta orientação tem <strong>se</strong> concretizado<br />

fundamentalmente pela atuação <strong>das</strong> Comunidades<br />

Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>)" ("Voz da<br />

Unidade", 14-11-80).<br />

Não é de estranhar, pois, que <strong>se</strong> fale em<br />

infiltração comunista nas <strong>CEBs</strong>, ou até mesmo<br />

em sua transformação em "células comunistas".<br />

Em uma entrevista de 1977, o então Bispo de<br />

Jaboticabal-SP, D. José Varani, afirmava: "Se<br />

o líder for de mentalidade, digamos, esquerdista,<br />

pode fazer da CEB uma célula comunista"<br />

("Voz do Paraná", 23-10-77, p. 7).<br />

D. Tomás Murphy, Bispo Auxiliar de Salvador,<br />

concorda com a afirmação de que há o<br />

perigo de que as <strong>CEBs</strong> percam <strong>se</strong>u caráter eclesial,<br />

religioso e <strong>se</strong> transformem em "células<br />

marxistas". Entretanto, es<strong>se</strong> prelado acha que<br />

"temos que correr o risco" ("Jornal de Brasília",<br />

23-9-80).<br />

Mal .orientada,<br />

CEB pode virar<br />

grupo p1ítico<br />

Professor de T eoloq,o,<br />

Filosof,o e Direito<br />

Canónico. o bispo de<br />

Jobot,cabol, no ,n ter,or<br />

11orre de São Poulo. dó<br />

11e"o ' Rodo V,vo" suo<br />

visão sobre os ·<br />

problemas o,ua,s do<br />

lare10 Dom José Voro 111<br />

C' anos. podre desde<br />

1'"'139 e b,spo desde 1950<br />

1robolhou o maior porte<br />

de '"º , ,da sacerdotal<br />

com o povo simples do<br />

,nterior Talvez par<br />

. . - -'~......J.::~~~~~~----=...:.....-J<br />

O Sr. Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro,<br />

D. Eugênio Sales, também manifestou sua<br />

preocupação de que as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>jam infiltra<strong>das</strong><br />

pelo comunismo, embora não <strong>se</strong>ja contra a<br />

participação política, a título pessoal, de <strong>se</strong>us<br />

membros (cfr. "O Globo", 8-12-80).<br />

Já o recentemente falecido Núncio Apostólico,<br />

D. Carmine Rocco, considerou "exagera<strong>das</strong>"<br />

as afirmações de que há infiltração de<br />

esquerda nas <strong>CEBs</strong>. Para poder chamá-las de<br />

comunistas <strong>se</strong>ria necessário que "elas <strong>fala</strong>s<strong>se</strong>m<br />

alguma coisinha a mais" ("O Estado de S.<br />

Paulo", 20-12-80).<br />

r<br />

'<br />

248<br />

"'-<br />

"'.<br />

- _:_~


Parte li Capítulo I V - 2<br />

A busca da autogestlo socialista pelas <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>guirá apenas a "via eleitoral" de Mitterrand, ou descambará para a<br />

luta de "libertaçllo" armada, como na Nicarágua? <strong>As</strong> duas formas nllo <strong>se</strong> excluem necessariamente ... - Na foto da<br />

esquerda, Mitterrand durante sua campanha presidencial. A direita, o "Comandante" sandinista Daniel Ortega faz a<br />

aaudaçlo comunista no teatro da Universidade Católica de SIio Paulo, aplaudido por Frei Bato, padres, freiras e<br />

dirigentes de CEB11.<br />

Vem a <strong>se</strong>guir, no artigo de M. Tragtenberg, um<br />

tópico de especial interes<strong>se</strong>, para quem tem dúvi<strong>das</strong><br />

de que as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />

constituem um verdadeiro partido camuflado, por<br />

trás dos partidos políticos registrados: "Vereadores<br />

do PDS ou PMDB <strong>se</strong> distinguem mais em<br />

função de suas tarefas como líderes comunitários.<br />

Não são as direções partidárias que decidem <strong>se</strong>us<br />

compromissos e tarefas, mas sim as comunidades a<br />

que pertehcem".<br />

E o Prof. Tragtenberg expõe a filosofia que<br />

está por trás des<strong>se</strong> governo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: "Boa Esperança<br />

realiza a prática da democracia direta onde<br />

as relações de trabalho apre<strong>se</strong>ntam cunho igualitário<br />

não <strong>se</strong> orientando para ·um modelo de crescimento<br />

fundado na· concentração de renda, propriedade<br />

e poder''.<br />

A experiência de Boa Esperança - tal como<br />

tem sido apre<strong>se</strong>ntada - parece indicar o rumo que<br />

as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> querem imprimir<br />

à sociedade brasileira: o da autogestão.<br />

Mas a autogestão <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é mera aparência<br />

uma vez que é o Clero - e mais especialmente os<br />

Bispos, em cujas mãos está o Clero - quem as<br />

manipula.<br />

249


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />

A TFP as descreve como são<br />

Aliás, que é a autogestão, <strong>se</strong>não um imenso<br />

blefe, no qual as verdadeiras forças que dirigem -<br />

<strong>se</strong>ja o Clero, um partido ou qualquer outra - não<br />

aparecem?<br />

Referências: Livros: MARCIO MOREIRA ALVES, A Força d


A TF P recomenda<br />

<strong>As</strong> doutrinas propugna<strong>das</strong> pela TFP estão exp<br />

ostas em diversas publicações - livros, manifestos,<br />

declarações, comunicados, cartas aberras etc.<br />

"Catolicismo" tem franqueado suas páginas<br />

para rodos os pronunciamentos da TFP. O leit or<br />

encontrará ainda, nes<strong>se</strong> prestigioso mensário de<br />

cultura católica, informações e notícias sobre as<br />

diversas atividades da associação.<br />

Dos livros difundidos pela TFP, vários produziram,<br />

a <strong>se</strong>u tempo, tal impccro sobre os acon-<br />

• • •<br />

• EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA (1943)<br />

Plínio Corrêa de Oliveira<br />

Primeiro brado de alerta contra o progressismo nascente. Aponta e refuta os erros<br />

infiltrados no laicato católico, especialmente nas organizações de Ação Católica.<br />

Prefácio do Cardeal Bento Aloisi Ma<strong>se</strong>lla, então Núncio Apostólico no Brasil. Objeto<br />

de expressiva carta de louvor escrita em nome do Papa Pio XH pelo Substituto<br />

da Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons. J . B. Montini. mais tarde Paulo VI.<br />

384 p p. - Edição esgotada.<br />

recimentas - quer no campo religioso, quer<br />

110 campo temporal - que passaram a fazer<br />

parte da História de nosso País. Des<strong>se</strong>s livros<br />

f oram em geral tira<strong>das</strong> muitas edições e vendi<strong>das</strong><br />

dezenas de milhares de exemplares de cada<br />

um.<br />

Co nhecê-los é indispensável para quem queira<br />

<strong>se</strong> f ormar um panorama autêntico e completo da<br />

lura contra o comunismo, ·em nosso País, no<br />

decurso dos últimos cinqüenta anos .<br />

oomftO DE CONSCl(NCIA<br />

- ::s--­<br />

• REFORMA AGRÁRIA - QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA (1960)<br />

D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina<br />

D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos<br />

Prof. Plínio Corrêa de Oliveira<br />

Economista Luiz Mendonça de Freitas<br />

Besr-<strong>se</strong>ller polêmico que alertou o povo brasileiro cont ra a reforma agrária<br />

socialista e anticristã. Estudo doutrinário e técnico, ba<strong>se</strong>ado nos princípios da<br />

doutrina social católica, em considerações históricas e em abundantes estatísticas.<br />

Contribuiu decisivamente para formação do clima ideológico no qual eclodiu no<br />

Brasil o grande movimento anticomunista de março de 1964.<br />

520 pp. - Quatro edições em português e três em espanh ol. Total: 39 mil exemplares.<br />

/ X


e ACORDO COM O R EGI ME CO MUNISTA: PA RA A IGREJ A,<br />

ESPERANÇA OU AUTODEMO LIÇÃO? (1963)<br />

Plinio Corrêa de Oli eira<br />

Denuncia a manobra do comunismo que induz os católicos a aceitarem a eliminação<br />

da propriedad privada em troea de uma tal ou qual liberd ade de culto.<br />

Obra elogiada e recomendada em carta da agrada Congregação dos Seminários e<br />

Universidades como "eco fidelíssimo" dos documentos do Supremo Magistério da<br />

Igreja. Publicada originariamente sob o título A liberdade da Igreja no Estado<br />

comunista.<br />

l 28 pp. - Dez edições em português, onze em espanho l. cinco em fra ncês, quatro<br />

em inglês , três em ita liano, duas em polonês, uma em alemão. uma em húngaro e<br />

uma em vietnamita. Transcrito em 39 jornais ou revistas de treze diferentes paí<strong>se</strong>s.<br />

Total: 171 mil exemplares.<br />

DECLARAÇÃO DO MORRO ALTO (1964)<br />

Pelos mesmos autores de RA-QC<br />

Programa positivo de política agrária com o o bjetivo de resolver a fund o<br />

problemas do campo, <strong>se</strong>m entretanto des fi gura r a estrutura rural vigente.<br />

-<br />

\ 32 pp. - Duas ed ições, 22.500 exemplares.<br />

1<br />

BALD EAÇÃO IDEO LÓGICA INAD VE RTIDA E DI ÁLOGO (1965)<br />

Plí nio Corrêa de Oliveira<br />

Descreve o processo certeiro e subtil pelo qua l, através do diálogo irenista, <strong>muito</strong>s<br />

católicos <strong>se</strong> transformam inadve rtidamente em comunistas.<br />

128 pp. - Cinco edições em português, quatro em espanhol, uma em ita liano e<br />

uma em a lemão. Reproduzido em <strong>se</strong>is jornais e revistas de quatro paí<strong>se</strong>s.<br />

Total: 98,5 mil exemplares.<br />

• A IGREJ A ANTE A ESCALADA DA AMEAÇA COMUNISTA -<br />

A PELO AOS BISPOS S ILENCIOSOS ( 1976)<br />

Plíni o Corrêa de Oliveira<br />

Pri meiro estudo a a pre<strong>se</strong>ntar ao público brasileiro um vasto panorama da gra nd e<br />

pe leja doutrinária que surgiu há mais de quarenta anos em pequenos núcleos<br />

católicos e ganhou progressivamente todo o Brasil. No mesmo volume, res umo do<br />

momentoso livro da TFP chilena, A Igreja do Silêncio no Chile - A TFP andina<br />

proclama a verdade inteira.<br />

224 pp. - Quatro edições, 51 mil exemplares.<br />

X


OL _ÇÃO E<br />

+ -<br />

CONTRA-REVOLUÇAO<br />

Plinio Corrêa de Oliveira<br />

Revolução e Contra-Revolução é todo um programa de<br />

vida adotado por milhares de pessoas no mundo inteiro.<br />

Consubstancia os ideais <strong>das</strong> TFPs, e é assim o livro de<br />

cabeceira dos sócios, cooperadores e simpatizantes dessas<br />

associações. Nes<strong>se</strong> monumental estudo, Plínio Cor-.<br />

rêa de Oliveira analisa o processo de descristianização<br />

da sociedade temporal e laicização da sociedade espiritual<br />

iniciado no século XV e que vai atingindo <strong>se</strong>u<br />

ápice nos dias que correm. É a Revolução, cujas grandes<br />

molas propulsaras são o orgulho e a <strong>se</strong>nsualidade.<br />

A primeira grande explosão des<strong>se</strong> processo revolucionário<br />

foi, no campo cultural e artístico, a Renascença,<br />

que com o <strong>se</strong>u humanismo naturalista, quebrantou a<br />

pureza e a austeridade de costumes da Europa cristã; e<br />

no religioso, a Reforma de Lutero, a qual, rejeitando a<br />

autoridade do Papa e dos Bispos, introduziu alterações<br />

igualitárias na estrutura eclesiástica.<br />

A Revolução Francesa de 1789 produziu na estrutura<br />

hierárquica do Estado efeitos análogos aos do protestantismo<br />

na estrutura da Igreja. Esta <strong>se</strong>gunda Revolução<br />

erigiu como lema a célebre trilogia - liberté,<br />

égalité, fraternité - mas não a levou até às últimas<br />

con<strong>se</strong>qüências, e manteve mais ou menos intactas as<br />

desigualdades no campo sócio-econômico.<br />

Caberia à terceira Revolução - o Comunismo -­<br />

as<strong>se</strong>star o golpe de morte na última desigualdade que<br />

restava, a de condição social e de fortuna. Porém, antes<br />

mesmo de atingir o <strong>se</strong>u termo, o comunismo vai engendrando,<br />

como fruto pútrido de si mesmo, a Quarta<br />

Revolução. Esta vai constituindo um fenômeno com-<br />

• •<br />

plexo, que comporta a desagregação total do Estado,<br />

substituído por miríades de corpúsculos sociais <strong>muito</strong><br />

largamente autônomos, a abolição virtual da família e<br />

da propriedade individual, e a reforma do homem, o<br />

qual, freudianamente "liberado" de qualquer freio, viveria<br />

<strong>se</strong>gundo o livre impulso de <strong>se</strong>us instintos.<br />

<strong>As</strong>sim, uma sociedade a-sacra!, completamente igualitária<br />

e anárquica é a grande meta para a qual tende o<br />

processo revolucionário.<br />

Em Revolução e Conira-Revolução, Plinio Corrêa de<br />

Oliveira aponta as metas e os métodos aptos a cortar o<br />

passo e extinguir o processo revolucionário. E assinala<br />

as razões não só de esperança como de certeza da vitória<br />

da Contra-Revolução: as portas do inferno não prevalecerão<br />

contra a Igreja.<br />

•<br />

64 pp. - Uma edição em português, cinco em espanhol, três em italiano, duas em inglês e duas em francês.<br />

Publicado originariamente em "Catolicismo".<br />

Total: 86 mil exemplares.<br />

XI


.1<br />

, ....<br />

• T RIBALIS MO INDÍGENA, IDEAL COMUNO-MISS IONÁRIO<br />

PARA O BRASIL NO SÉCULO X I (1977)<br />

Plínio Corrêa de Oliveira<br />

Denuncia a corrente neomissionária aggiornara que <strong>se</strong> opõe à cateque<strong>se</strong> e à<br />

civil ização dos indígenas, e prega uma espécie de "luta de clas<strong>se</strong>s" entre silvícolas e<br />

brancos. Estudo indispensável para o conhecimento da grande cri<strong>se</strong> pela qual passa<br />

a Igreja no Brasil e que tende a <strong>se</strong> transformar, de cri<strong>se</strong> religiosa, em cri<strong>se</strong> de todo o<br />

País.<br />

l 28 pp. - Sete edições em português, além da transcrição em "Catolicismo".<br />

Publicado em inglês na revista "Crusade for a Christian Civi lization". Tota l:<br />

87 mil exemplares.<br />

• MEIO SÉCULO DE EPOPÉIA ANT ICOMUNISTA ( 1980)<br />

Historia os 50 anos de luta em defesa dos princípios básicos da civilização cristã<br />

iniciada por Plínio Corrêa de Oliveira em 1928 nos ambientes especificamente<br />

católicos, e da qual desabrochou em 1960 a Sociedade Brasileira de Defesa da<br />

Tradição, Família e Propriedade - TFP, que vem tendo desde então marcante<br />

pre<strong>se</strong>nça no confronto ideológico de nossos dias, não só na sociedade brasileira,<br />

como em todo o mundo.<br />

472 pp. -- Quatro edições em português, uma em inglês. Total: 43 mil exemplares.<br />

• 1<br />

l<br />

e SO U CAT Ó LI CO: POSSO SER CONTRA A REFORMA AGRÁRIA? ( l98 1)<br />

Plínio Corrêa de Oliveira e Carlos Patrício dei Campo<br />

Ana lisa acuradamente o documento Igrej a e problemas da terra emitido pela<br />

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CN BB) e mostra que não há<br />

consonância entre a Reforma Agrária preconizada por es<strong>se</strong> documento episcopal e<br />

os ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério da Igreja.<br />

360 pp. - T rês edições em português, 24 mil exemplares.<br />

• FREI, O KERENSKY C HILENO (1967)<br />

Fabio Vidigal Xavier da Silveira<br />

Considerado livro profético quando, em 1970, <strong>se</strong> cumpriu sua previsão, feita três<br />

a nos antes. de que a política esquerdista do Presidente demo-cristão Eduardo Frei<br />

preparava a ascensão de um governo marxista no Chile.<br />

208 pp. - Duas edições em português, <strong>se</strong>te em espanhol e uma em italiano.<br />

Publicado duas vezes em "Catolicismo" ( 1967 e 1970) e três vezes na revista<br />

"Cruzada" de Buenos Aires. Transcrito em numerosos jornais e revistas do<br />

Exterior. Total: 128,8 mi l exemplares.<br />

Xll


D. Antonio de Castro Mayer, até há <strong>pouco</strong> Bispo de Campos, publicou em<br />

sua profícua e luminosa atuação à testa daquela Dioce<strong>se</strong> uma série de<br />

importantes documentos pastorais, todos eles relacionados, imediata ou mediatamente,<br />

com a grande controvérsia originada pelo aparecimento do progressismo<br />

teológico e do esquerdismo sócio-econômico nos meios religiosos brasileiros:<br />

• POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO (1971)<br />

Texto integral de nove Cartas Pastorais, uma Instrução Pastoral e uma Circular.<br />

Cartas Pastorais: Sobre a definição do dogma da <strong>As</strong>sunção da Bem-Ave111urada<br />

Virgem Maria ( 1950) • Sobre problemas do apos1olado moderno ( 1953) •<br />

Prevenindo os diocesanos co111ra os ardis da <strong>se</strong>i/a comunisla (1961) • Cas1idade,<br />

humildade, peni1ência - carac1erís1icas do cris1ão, alicerces da ordem social<br />

( 1963) • Os Documen1os Conciliares sobre Sagrada Li/urgia e inslrume/1/os de<br />

comunicação social ( 1963) • Considerações a propósito da aplicação dos<br />

Docume111os promulgados pelo Concílio Ecumênico Vaticano /l(l966) • Sobre<br />

a pre<strong>se</strong>rvação da Fé e dos bons cos/Umes ( 1967) • Sobre o Sa1110 Sacrifício da<br />

1'vfissa ( 1969) • Aggiornamento e Tradição ( 1971) • Instrução Pastoral sobre a<br />

Igreja ( 1965) • Circular sobre a reverência aos Sa111os Sacrame111os ( 1970).<br />

402 pp. - Dois mil exemplares.<br />

• CARTA PASTORAL SOBRE CURSILHOS DE CRISTANDADE (1972)<br />

Advertência sobre os erros que <strong>se</strong> introduziram nos até então incontrovertidos<br />

Cursilhos de Cristandade.<br />

112 pp. - Três edições em português, uma em inglês. Publicada na íntegra em<br />

"Catolicismo". Total: 96 mil exemplares.<br />

• CA RTA PASTORAL PELO CASAMENTO INDISSOLÚVEL (1975)<br />

Ex posição precisa e acessível da doutrina católica contrária ao divórcio.<br />

64 pp. - Duas edições em português. Transcrita em cinco jornais ou revistas de<br />

quatro paí<strong>se</strong>s. Total:<br />

-y--~<br />

119 mil exemplares.<br />

---·- \<br />

- 1<br />

'<br />

' .~ ....... ~ \<br />

·"""~· \<br />

~ ....--· 1)<br />

• CARTA PASTORAL SOBRE A MEDIAÇÃO<br />

UN IVERSAL DE MARIA SANTÍSSIMA (1978)<br />

• CARTA PASTORAL SOBRE A<br />

REALEZA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (1977)<br />

64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Catolicismo".<br />

Total: 8,5 mil exemplares.<br />

64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Catolicismo" e em<br />

"Cristia nità", Itália. Total : 13,5 mil exemplares.<br />

XIII


...<br />

1<br />

e<br />

EL NACIONALISMO, UNA INCÓGNITA<br />

EN CONSTANTE EVOLUCIÔN (1970)<br />

Cosme Beccar Varela Hijo, Carlos F. lbarguren, Jorge M. Storni, Miguel Beccar<br />

Varela e Ernesto P. Burini, da Comissão de Estudos da Sociedade Argentina de<br />

Defesa da Tradição. Família e Propriedade.<br />

Mostra como o nacionalismo argentino evoluiu de uma posição tradicional<br />

católica e hispânica para uma posição nitidamente esquerdista.<br />

264 pp. - Três edições, <strong>se</strong>is mil exemplares.<br />

e LOS "KERENSKYS" ARGENTINOS (1972)<br />

Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />

Denuncia uma minoria revolucionária constituída por "sapos" da alta finança,<br />

clérigos esquerdistas, homens de imprensa, figuras do Governo de então e da<br />

intelligentsia, bem como por políticos profissionais, cuja atuação visava conduzir<br />

a Argentina ao socialismo populista, pela instauração de um governo esquerdista<br />

moderado - <strong>muito</strong> esquerdista e <strong>pouco</strong> moderado.<br />

192 pp. - Três edições, 13 mil exemplares.<br />

-~<br />

" ALLENDE ET SA "VOIE CHILIENNE" ... POUR LA MISERE (1974)<br />

Reportagem sobre o malogro da experiência de "socialismo em liberdade" do<br />

governo da Unidade Popular no Chile, feita in loco, imediatamente após a queda<br />

de Allende, por enviados <strong>das</strong> TFPs brasileira, argentina e chilena.<br />

240 pp. - Publicado em jornais ou revistas <strong>das</strong> TFPs e entidades congêneres do<br />

Brasil , Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Estados Unidos, Uruguai e<br />

Venezuela. Total: 69 mil exemplares.<br />

• LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE -<br />

LA TFP PROCLAMA LA VERDAD ENTERA (1976)<br />

Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />

Descrição e análi<strong>se</strong> do desconcertante apoio que uma grande parte do<br />

Episcopado e uma ponderável parcela do Clero chilenos, encabeçados pelo<br />

Cardeal Silva Henríquez, deram ao marxista Allende para sua ascensão ao poder<br />

e permanência nele.<br />

468 pp. - Edições também na Argentina, Colômbia, Espanha, França e Estados<br />

Unidos. Total: 24 mil exemplares. Resumos amplamente difundidos no Brasil,<br />

Argentina e Bolívia.<br />

XIV


' -. - "<br />

• IL CREPUSCOLO ARTIFICIALE DEL CILE CATTOLICO (1973)<br />

Coletânea de artigos do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e de man_ifestos da T~P<br />

chilena sobre as con<strong>se</strong>qüências ruinosas da instalação do marxismo no Chile.<br />

208 pp. - Edição da Alleanza Ca1tolica, de Piacenza, Itália.<br />

•<br />

••<br />

• IZQUIERDISMO EN LA IGLESIA: "COMPANERO DE RUTA" DEL<br />

COMUNISMO EN LA LARGA AVENTURA DE LOS FRACASOS Y DE<br />

LAS METAMORFOSIS (1976)<br />

Comisión de Estudios de la Sociedad Uruguaya de<br />

Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />

Mostra como uma parcela iníluente da Hierarquia e do Clero uruguaios<br />

apoiaram a subversão que durante vários anos convulsionou o país, e que teve<br />

como braço armado o movimento guerrilheiro tupamaro.<br />

384 pp. - Duas edições no Uruguai e uma na Espanha. Total: 11 mil exemplares.<br />

• DÉVELOPPEMENT ET PAIX: UN SOCIALISME MULTICOLORE<br />

AU SERVICE DU COMMUNISME (1978)<br />

Jeunes Canadiens pour une Civilisation Chrétienne<br />

Denuncia as tendências marxistas da Organisation Catholique Canadienne pour<br />

/e Développement et la Paix, fundada pelo Episcopado daquele país para ajudar<br />

as nações subde<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong>.<br />

128 pp. - Editado em francês e inglês.<br />

• COLEÇÃO "DIÁLOGOS SOCIALES" (1967)<br />

l. ?LA PROPIEDAD PRIVADA ES UN ROBO? - Propiedad privada: ?Derecho<br />

sagrado o privilegio odioso?<br />

2. ?UD DEBE TRABAJAR SOLO PARA EL ESTADO? - Propiedad privada:<br />

?Como puede <strong>se</strong>rvir ai bien comun? ?Cual es su función social?<br />

3. AHORRAR PARA LOS HIJOS ?ES ANTTSOCIAL? - Propiedad privada<br />

y cla<strong>se</strong>s sociales: ?Servidoras o enemigas de la familia?<br />

4. UN SOLO PATRON Y TODOS PROLETARIOS: ideal socialista - Dirigismo<br />

estatal: ?Favorable o nocivo a la libre iniciativa y a la dignidad humana?<br />

Temas da problemática comunismo x anticomunismo apre<strong>se</strong>ntados de forma<br />

resumida e substanciosa, na mesma linguagem de que estes costumam <strong>se</strong> revestir<br />

em conversas ca<strong>se</strong>iras e encontros de rua.<br />

32 pp. cada - Nove edições em espanhol e cinco êm português (somente dos três<br />

primeiros). Total: 459 mil exemplares.<br />

XV


~<br />

.1<br />

• AS APARIÇÕES E A M,ENSAGEM DE F ÁTIMA CONFORME OS<br />

MANUSCRITOS DA IRMÃ LUCIA (1967)<br />

Antonio Augusto Borelli Machado<br />

Texto <strong>das</strong> célebres revelações feitas em 1917, em Fátima, Portuga l, nas <strong>quais</strong> Nossa<br />

Senhora adverte o mundo sobre o perigo da expansão do comunismo.<br />

Acompanham notas explicativas e comentários. . .<br />

96 pp. - Dezes<strong>se</strong>is edições em português, treze em espa~hol e quatro em _1ta lta!1º·<br />

Publicado originariamente em "Catolicismo" e transcnto em diversos Jornais e<br />

revistas de <strong>se</strong>te paí<strong>se</strong>s. Total: 600 mil exemplares.<br />

•<br />

Para entender o que <strong>se</strong> passa, leia ...<br />

• O de<strong>se</strong>nrolar desconexo e confuso dos acontecimentos mundiais produz o <strong>se</strong>ntimento<br />

fru strante de que "não é passivei entender mais nada".<br />

• Pa ra quem <strong>se</strong> coloca no mirante da doutrina católica, es<strong>se</strong>s acontecimentos têm<br />

entretanto uma explicação. É a luta permanente entre o Bem e o Mal, entre a cidade<br />

terrena e a cidade celes te, de que <strong>fala</strong>m os Santos. es pecialmente Santo Agostinho.<br />

• "Catolicismo" oferece a <strong>se</strong>us leitores uma a náli<strong>se</strong> dos fa tos à luz dos ensinamentos<br />

tradicionais da Igreja. E mostra como o mundo <strong>se</strong> aproxima do momento ápice<br />

em que os inimigos de Deus tentarão o supremo esforço para a implantação de U'll<br />

estado de coisas tota lmente contrá ri o aos princípios do Evangelho de Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo. É disto exemplo frisante a sanha comunista, a qua l atinge, nos dias que<br />

correm, o paroxismo da impudência .<br />

• "Catolicismo" mostra que, de outro lado, é de <strong>se</strong> esperar que, cm tal emergência, a<br />

Providência Divina intervenha de modo fulgurante para derrota r os <strong>se</strong>quazes de<br />

Satanás e implantar nesta terra o Reino do Imaculado Coração de Maria, conforme<br />

Nossa Senhora manifestou em Fátima: " Por fim, o meu Imaculado Coração 1riunfará".<br />

Isto é, a plena vigência dos princípios do Evangelho tanto na sociedade espiritua l<br />

quanto na sociedade temporal.<br />

({IA:f"q,~~ÇE~Mº<br />

Re percute no mundo<br />

inteiro o Mensagem dOB TFPe<br />

• Mensário<br />

alua/idades.<br />

Pedidos à EDITORA P ADRE BELCHIOR DE P o TES s, e.<br />

Rua Dr. Martinica Prado 27 1 - CEP 01224 - São Paulo<br />

Tel.: 22 1-8755 (ramal 235).<br />

XVI


BIBLIOGRAFIA-DOCUMENTAÇÃO<br />

LIVROS<br />

ALICJNO, Pe. R. , Comunidade - Uder - Par6quia, /977<br />

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de Ba<strong>se</strong>, 1974<br />

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Fé e Açdo - Ca1ecismo para os Cri.srãos <strong>das</strong> Comunidades<br />

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Boiismo de Sangue - Os dominicanos e a morte de<br />

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tica, 1978<br />

Teologia e Prática - Teologia do Político, 1978<br />

Deus e o homem no inferno verde - Quatro me<strong>se</strong>s de<br />

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BOFF. Fr. L., Jesus Crislo libertador, 1974<br />

Teología desde el Caurivério, 1975<br />

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Pa.s10ral da Terra. / 976<br />

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251


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece ... a TFP as descreve como são<br />

Bibliografia Documentação<br />

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li Encontro !nterec/esia/ da.s Comunidades de Ba<strong>se</strong> no<br />

RS, Renovação. dez. 81<br />

SILVA, Pc. A. P. , No encontro com os homens, Deus pre·<br />

~isa do homem ... , A Vida cm Cristo e na Igreja, ma.i­<br />

JUn. 77<br />

<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba.lP, Vida Pastoral, marabr.<br />

80<br />

SILVA, Dom J. R. M ., Como funciona o sindicalismo no<br />

meio nira/, O São Paulo, 28 -1 2-79<br />

SOUZA, A. C., <strong>CEBs</strong>: experiência de vida, Vidn Pastoral,<br />

nov.-


Parte li<br />

Bibliografia Documentação<br />

ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE, Boletim "Encontro<br />

de Irmãos .., n. 0 92<br />

Pastoral da Juventude, Ptrst_guidos por cawa da Jusliça<br />

ARQUIDIOCESE DA PARAISA - CEDOP, Pr,Juimos<br />

vivtr /ivrt.J do qut vivtr como tscravos (O Clamor da<br />

Noção Potiguara), 1981<br />

J 3. 0 Encontro da.r Ptqut nas Comunidadn (Comunidadts<br />

do P,rif,ria), 1977<br />

Mb dt Maio-80, Para onde Vaí.s?<br />

ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO - Comissão<br />

Pastoral de Favelas, O qtx eu posso faur? Subsídios para<br />

a formaçdo dt uma consciincia cívica, l 982<br />

ARQUIDIOCESE DE PORTO ALEGRE, "O Dia do Senhor",<br />

16-3-1980<br />

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO - CIEC, Boletim<br />

Infonnativo (coleção)<br />

Pastoral dos Direitos Humanos e Marginalizados, Os<br />

Humildes contra a Violincia Policial<br />

Pastoral do Mundo do Trabalho, /. 0 d, Maio<br />

Put. Mundo Trabalho (S. Amaro-Sudeste), <strong>As</strong> aventuras<br />

dt Zi Marmila<br />

Past. Mundo Trabalho (Bclém-S. Miguel), <strong>As</strong> Comunidadts<br />

t a.r guvts<br />

Região Belém, Saúd, para Todos - Via Sacra do Po vo<br />

hoj,<br />

Região lpiranga, .. IgrcJa<br />

·<br />

Ip1ranga<br />

· " (Boi ct1m . Inf onnauvo . J<br />

Região Ipiranga, Documento dos Favelados sobrt a urra<br />

- 2. 0 Encontro de favelados, <strong>1982</strong><br />

Região Osa.sco, Da urra ouve·.<strong>se</strong> o grito: Nasce o Sal·<br />

vador, 1980<br />

Região Osa.sco, Do Justo nosu a alegria, 1978<br />

Região Os.asco, Maria Mãe da vida<br />

Região Osasco, O:r Pastores em Pillbla anunciam o Sal·<br />

vador, 1979<br />

Região Osasco - Past. Operária e oulros, Apoio aos<br />

trabalhadores em greve, 1978<br />

Região S. Miguel, CE&: univ,rsidad, do povo, <strong>1982</strong><br />

Região S. Miguel, Grupos d, Rua: ummus d, unicJo<br />

Região S. Miguel, O povo canta a Er{Hrança, 1981<br />

Região S. Miguel, O povo <strong>se</strong> organiza caminhando, 1981<br />

Região S. Miguel, Povo ed"cando povo - Roteiros para<br />

Grupos d, Rua, <strong>1982</strong><br />

Put. Juventude Leste II, J. • UJminhada dt Jowm ao<br />

Santudrio da P,nha, 1976<br />

Put. Saúde Leste II, / R,uniào d, Saúd, da lona úsu­<br />

Saúd, , Custo d, vida, 1978<br />

Past. Operária Guaianazc,, "O Guai.anazes", fev. 1978<br />

ARQUIDIOCESE DE SALVADOR, Batismo, ingr,sso na<br />

Comunidatk<br />

Boletim Arquidiocesano .. Comunhão e Participação"<br />

/Jto t a felicidade - Roltiro para os encontros de Evan·<br />

gtlização do mis miuiondrio, 1976<br />

Past. Juventude, Boletim .. Incentivo"<br />

Past. Periferia, História do Homem, 1980<br />

Past. Periferia, O Povo a caminho libertação (Caderno<br />

n. 0 1)<br />

Put. Periferia, O, Prof,ia, (Caderno n. 0 2)<br />

ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA, Encontro com Nossa<br />

Smhora, 1981<br />

Bau-papo sobr, polltica-1, 1981<br />

Bai,-papo sobr, polltica-1, <strong>1982</strong><br />

Oc:ntro Documentação Igreja de Vitória, Vida de Grupo<br />

nos Comunidatks de Ba.re<br />

Past. Periferia, ... A Folha da Periferia ..<br />

Serviço de Infonnação Documentação dn Arquidioce<strong>se</strong><br />

de Vitória, .. Boletim"<br />

ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA-DIOCES E SÃO MA­<br />

TEUS, &ahá do Sindicato Rum/, 1978<br />

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DA VILA S. PEDRO,<br />

Viaml!o-RS, Bolclim, 1981<br />

ASS.EMPREG. DOMESTICOS DO RECIFE, Domésticas<br />

em luta, pelo .salário t pela carreira, 1980<br />

ASS. INTERBAIRROS-CE, FortalcZB, "Boletim"<br />

BOLETIM DO LAVRADOR DA REGIÃO DO RIO VER­<br />

MELHO-GO, jan.-fev. 1977<br />

"CATEDRAL" - INFORMATIVO DA COMUNIDADE.<br />

Teófilo Otoni-MG. mar. 1981<br />

CEDAC, A nova politica .salarial do govern o, São Paulo<br />

CENTRO DE CAPACITAÇÃO CRISTÃ, São Paulo, Agora<br />

qúe você tem <strong>se</strong>u grupo de ba<strong>se</strong>, o qul' f azer rom ell' '<br />

CENTRO CULTURAL DE ITAQUERA - São Paulo,<br />

Companhtiro lutador ... , 1980<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO POPULAR INSTITUTO SE­<br />

DES SAPIENTIAE, El,ições sindicais, São Paulo, 1981<br />

O que Ia polírira, partido t a atual rt/ormulação partiddria,<br />

1981<br />

Povo conquistard Saúd,, 1981<br />

iqsu/todo dt> uma pesquisa .' ~ita pelo prq}rio povo l'm 1979<br />

CENTRO DE ESTUDOS E AÇAO COMUNITÀRIA -<br />

Nova lguaçu-RJ, A mulher nos lutas p opulares, Cader·<br />

nos do CEAC<br />

CENTRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS - São Paulo,<br />

Como funciona a .sociedad~?. 1979<br />

.. Vai Vem" - Boletim <strong>das</strong> Migrações<br />

CIPES - Centro de· IntercArTlbio de Pesquisas e Estudos<br />

Econômicos Sociais - §Ao Paulo. Pala Espada e Bala,<br />

19~1 . .<br />

~C AB~~~f/e Pastoral Verguciro - Silo Paulo, A grev,<br />

Boletim "Hora Extra", n.ºs 21 , 40, 41, 1980-1981<br />

"Cadernos de Documentação", n.ºs 2, 3, 4, 1980-1981<br />

"Cadernos de Informação", n.º S, 6, 7, 8, 198 1<br />

(distribuição) FGTS prejudica OJ lrabalhadorts rurais,<br />

Recife, 1979<br />

(distribuição) História da revoluçdo agrícola da Areia/ -<br />

A hi.Jtdria da revolução dos agriru//orts que bolOu o gri·<br />

!tiro para correr<br />

CENTRO O POVO ATUALIZADO, T. Otoni, Anunciar aos<br />

Pobres o Evangelho da iibtrtaçdo<br />

O povo conquis1ard saúde (pÔra as reuniões dos pequenos<br />

comunidad,sj, 1981<br />

Ch direilos humanos e a prdtica' da não·violência (Pale.s·<br />

tra d, Dom J. M. Pir,s), 1978<br />

CENTRO DE PSICOLOGIA DA RELIGIÃO DE JUA­<br />

ZEIRO DO NORTE-CE - SEDIPO, Como Padre Clctro<br />

queria combater o Seca, Recife, 1980<br />

CRD - Centro de Reflexão e Documentação - Goiânia,<br />

Alogamar: Firmes na ttrra, 1980<br />

<strong>As</strong> Furammtas, 1980<br />

Cantos doJ lavradoreJ de Goid.r, n.º 1, sct. 1979<br />

/. 0 eh Maio: lulas t vilórias da clas<strong>se</strong> trabalhadora, 1980<br />

CENTRO DOS TRABALHADORES RURAIS DO SUB­<br />

MÉDIO S. FRANCISCO, -T,rra por 1


<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece ... a TFP as descreve como sao<br />

Bibliografia Documemação<br />

Pastoral Urbana, Pi.stcu para uma Pastoral Urbana, 1978<br />

Regional Nordeste 1 (MA-PI.CE). RLlatório do XVI Encontro<br />

da Comi.não Episcopal Regional NE-1, Teresina,<br />

janeiro 1980<br />

NE-1 (CE), ABC da Em,rg;ncia para o Povo d, lxw<br />

Estudar, 1980<br />

Cartilha de Educação Polltica, <strong>1982</strong><br />

NE-11, Indicaç&s para a pa.sloral no mtio popular, 1981<br />

Luta dos trabalhadorts hojt<br />

Mis da Bíblia - Rouiro para as DiocestJ do Sertão, 1978<br />

PASTORAL DA JUVENTUDE ESTUDANTIL, Começar<br />

PASTORAL DA JUVENTUDE, Dururir, 1981<br />

Organizar<br />

Um ttatro qut libtrta<br />

SEDIPO - Serviço de Docomentação e Informação Popular,<br />

rJ dirtito dt ~rmtIMCU M ·IUTO, 1980<br />

NE-111 (Sub-regional VI), A vudad, vos lilwrtard, CF-82<br />

M2s da Bfblia- Rouiroparaas Diocestsdo s.tr1ão, 1981<br />

Lc:ste-1 (RJ), Igreja e Comunidades Eclesiau d, Ba<strong>se</strong>,<br />

1969<br />

Lcste-2 (MG-ES), Texto-ba<strong>se</strong> - m;s da Blblia 1980<br />

Sul-2 (PR), Caderno d, EducaçHo Polltica-1, 1981<br />

CPT/ PR, FUNRURAL - Conheça <strong>se</strong>w direitos, 1979<br />

Sindicara - Conhtça <strong>se</strong>us direitos, 1979<br />

Sul-3 (RS), Enconlros dt Pastoral Político (<strong>As</strong> tltições<br />

v;m ai ...), 1981<br />

Revista .. Renovação" - Porto Alegre (coleção)<br />

Centro-Oeste (Goiás) - Equipe de Trabalhos <strong>CEBs</strong>, E estarei<br />

no meio dtlts ... (Roteiros), 1977<br />

Extremo Oeste (MT·MS), Boletim Informativo, março<br />

1980<br />

Sub--Rcgional de Vocações Nordeste I, Curso-Encontro<br />

realizado tm Sdo luís do Maranhão, <strong>se</strong>tembro 1968<br />

CIVC - Cuno Intensivo de Viv~ncia Cristã - Americana·<br />

SP, "CIVC informa", 24-2-79<br />

DIOCESE DE CAXIAS DO SUL, Caminhar juntos (Roteiro<br />

para Comunidades Rurais), 1976<br />

DIOC. DE CRUZ ALTA-RS - Equipe de Coordenação<br />

Pastoral, Igreja aconucendo t m Grupos, 1980<br />

DIOC. DE GOIÁS, "AJ bou noticias - Mensagem da<br />

Igreja de Goiú" (Boletim)<br />

t tempo de ,kiç&s<br />

DIOC. DE JUAZEIRO-DA, "Caminhar juntos", n."s 36-37,<br />

sct.-Ut. 1979<br />

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mai. 1978<br />

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DIOC. DE NOVA IGUAÇU-RJ, "A Folha" (coleção)<br />

.. Boletim Diocaano .., OUl.•DOV. 78<br />

DIOC. DE PALMAS-PR, Boletim "Voe! catequista", jul.­<br />

ago. 78<br />

Boletim "Cambota" (ASSESSOAR, Fco. Bcltrlo), nov.81<br />

A lg!eja é um"-- comunidade __<br />

Cuscn para a• vida em grupo (Roteiro para grupos dt<br />

jovens - n. 0 I), 1978<br />

Ixw tm nona vida (Roteiro para grupos ck refkxdo),<br />

1977<br />

DirtitoJ dt um povo tm marcha (idem), 1978<br />

O Grupo de Reflex6o (idem), 1978<br />

DIOC. DE PARANAVA(-PR, Plano Pasroral /980<br />

DIOC. DE SANTARÉM-PA, "Semeadores de Esperança",<br />

5-8-79<br />

DIOC. DE SANTO ANDRÉ-SP, "ABC litúrgico", 27-4-80 .<br />

DIOC. DE S. JOÃO DA BOA VISTA-SP, "Unidade",<br />

<strong>se</strong>t. 1979<br />

DIOC. DE S. MATEUS-ES, RLlatório do Cursinho Bíblico<br />

para Animadores, dirigido por Frt i Carlos Mtslers,<br />

jun. 78<br />

·.. Celebrando a vida" (Folha para o culto dominicnl),<br />

7-9; 10-10-80; 26-4-81<br />

.. Pela estrada ..... - Informativo <strong>das</strong> comunidades (coleção)<br />

A INmocrocia, 1980<br />

A EucoriSiia na Bíblia, 1980<br />

A Família, 1979<br />

A Força do Povo, <strong>1982</strong><br />

A Igreja não i o templo<br />

A lgrtjo o <strong>se</strong>rviço do Povo<br />

A Igrej a são os Bispos, os Padres, t as lrmã.r somente?<br />

Ate.s1ado de. Residência Religioso - Folhas de lnstmção<br />

Como é Nossa lgrtja<br />

Ixw quer o bem de todos, 1978<br />

É verdade que a Igreja não é o culto?<br />

Exigências Cristã.r de uma Ordem Política (versão popular),<br />

1977<br />

Jesus a Serviço do Povo<br />

Mini.stirios: Igrej a a <strong>se</strong>rviço.. 1981<br />

Novena de Natal, 1978<br />

Novena de Natal, 1979<br />

Para uma Igreja dos pobrt s (Palestra de D. Ivo lorscheitu)<br />

Roteiros de reflexão para uma corucientizaçtio po/ltica,<br />

1977<br />

Roteiro de reflt xão para uma corucitntização social, 1977<br />

Roteiro sobre penitência, 1977<br />

Terço Blblico nas fam flias, 1979<br />

DIOC._DE TEÓFILO OTONI-MG, Campanha da Fraternidad,,<br />

1978<br />

A Boa Nova de Puebla, 1979<br />

Amó, e Osiias, profetas de lxw<br />

Conheça <strong>se</strong>w direitos - FUNRURAL 1977<br />

Herdi Esqutcido<br />

DIOC. DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, "Vai e Vem"<br />

(Comunidades de Ba<strong>se</strong>), nov. 75 , mai. 76<br />

"O Animador" (Jornal <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>), n. 0<br />

4, 11 , 13, 14, 17, 31 (1970-1977)<br />

DIOC. DE VOLTA REDONDA-RJ, <strong>As</strong> el,iç&s v,m ai!?,<br />

1978<br />

EQUIPE DO CENTRO BIBLJCO DE BELO HORIZON­<br />

TE, "Bíblia, Deus Caminhando com a gente", n."s 45/48,<br />

out.-nov. 79<br />

EQUIPE INTER-PAROQUIAL DE COMUNICAÇÃO -<br />

Bagé-RS, "Informativo", m.ar. /jul. 79<br />

EQUIPE TODOS IRMÃOS :.... Lins-SP, 4. 0 Encontro Inter­<br />

Eclesial de Comunidades de Ba<strong>se</strong> - Cantando a LJIHrtação,<br />

<strong>1982</strong><br />

"Todos lrmllo,· - Folheto Litúrgico (colcç4o)<br />

FASE - Federação de órgãos para assist!ncia social e educacional<br />

(Ceará), ABC da Parceria<br />

(Elplrito Santo), <strong>As</strong> ,1,iç&s<br />

(Maranhão), Os Grand,s Projetos<br />

(Pará), Diuito d, Posu<br />

Nasce uma delegacia sindical, 1981<br />

(Pernambuco), A luta do Povo nos bairrouio Recife, 1981<br />

(São Paulo), /tfo vimentos de &irra x E.uado na A ITl i­<br />

rica LAtina, <strong>1982</strong><br />

O Facão rd comendo!, 1981<br />

FETAPE - Federação dos Trabalhadores na Agricultura<br />

de Pernambuco, Campone<strong>se</strong>s unidos lwam por stw direitos<br />

F NT - Frente Nacional do Tra balho, Éfdcil negociar com<br />

as máquinas para<strong>das</strong>!, jul. 78<br />

CET - Fundação Centro de Estudos do Trabalho - Belo<br />

Horizonte, A Igreja que o Papa veio vu, 1980<br />

Daqui não saio, 1981<br />

Da roça para a cidad~. 1980<br />

1N quem é a culpa da crist ?, 1981<br />

Documento de São &rnardo, 1980<br />

t, mundo velho stm porteiro!!, 1981<br />

ú vando f é na rapaziada, 1980<br />

O 1. 0 d~ Maio<br />

Parcipaçào no sindicato, 1980<br />

Saldrio e Custo de Vida, 1980<br />

GETEC - Grupo de Estudos e Trabalho e Educação Comunitária<br />

- Belo Hori zo nte, "Noticias GETEC', nov. 78<br />

Cadu no Popular n. 0 /<br />

GRUPOS DE EVANGELIZAÇÃO DA PERIFERIA DE<br />

SALVAD9R, Carta ao, Bispos<br />

GRUPOS JÓYENS CATOLICOS DEABAETETUBA-PA<br />

'"Ixspertador" n."s 5/ 16, dez. 76/_a~o. 78 · '<br />

GRUPO DE PARÓQUIAS DE SALVADOR, O Povo caminha<br />

- t nds cristi!os?<br />

IPPH - Instituto Paulista de Promoção Humana - Llns­<br />

SP, .. De<strong>se</strong>nvolvimento"', jul. 79<br />

Manual do Agenr, de Saúde, 1978<br />

MCC - Movimento Contra a Carestta, Todo· o apoio à<br />

gre,,e dos metalúrgicos do ABC, 1980<br />

MCV - Movimento do Cu.no de Vida (Goíá,), Um novo<br />

p wso: 6. • <strong>As</strong>stmbliia do /tfo vi~nto do Cwto ck Vida<br />

de Goids<br />

MEB - Movimento de Educação de Ba<strong>se</strong>, "MEB Hoje",<br />

mnr.-abr. 77, jan. 81<br />

M LPA - Movimento pela libertação dos presos JlO Araguaia,<br />

Carajds: Progresso ou ve.nda da Pdtria? -<br />

Oposiç4o Sindical no Campo - A Luta da chapa ] no<br />

Sindicato dos Trabalhadores Rurais d, Andradina-SP<br />

OPOSIÇÃO SINDICAL DE CAMPO GRANDE-ES, Movim,nto<br />

Op,rdrio no Esplrito Santo, 1980<br />

PARôQUIA DA CATEDRAL DE T. OTONI, Ek f oi<br />

"demirido", 1979<br />

A criança ,! Jesus, 1979<br />

Estes peq~ninos<br />

PARôQUIA DIVINO SALVADOR - Campinas-SP, "SIC<br />

- Seu Informativo Comunitário·". n. 0 1, 1979<br />

"Nossa Comunidade", maio 1981<br />

PARÓQUIA ITABERAI-GO, "A caminhada da EJperança•,<br />

jul 74<br />

PAROQUIA JARDIM MIRIAM-SP, "Jornal da Gente"<br />

~~77 . '<br />

PARôQUJA N. SRA. IMACULADA CONCEIÇÃO_ T.<br />

Otoni-MG, Anunciar aos pobres o Evangelho da libertaçdo,<br />

1979<br />

PARÓQUIA N. SRA. GUADALUPE - São Paulo, "Construindo",<br />

ago. 75<br />

PARÓQUIA SANTA RITA DE CASSIA - São Paulo<br />

"Rccadlo", out. 75<br />

'<br />

254


Parte li<br />

Bibliografia Documenração<br />

PARÓQUIA SANTA T EREZA - Anur Alvim. São Pnulo,<br />

"Boletim <strong>das</strong> Porteiras"<br />

PARÓQUIA S. FRANCISCO DE ASS IS - Ba rra de S.<br />

Francisco-ES. Um caminho, 78<br />

PARÓQU IA S. PEDRO - J oinvi lle-SC, Aos Cris1ãos da<br />

comu11itlade de S. Pedro. 1978<br />

PARÓQUIAS. J UDAS TADEU APÓSTOLO - Silo Paulo.<br />

Missa da Juve ntude<br />

PARÓQUIAS STO. ANTONIO DE T AUÁ, NOVA TIM­<br />

BOTEUA E CURUÇÁ-PA, Para onde vais? C F-80<br />

Saúdt• para todos, CF-8 1<br />

PAR00UIAS DE T. OTONI, Terra pra morar - A Re.


.<br />

~<br />

V<br />

º~....-~---------------------,<br />

Um documento de João Paulo li<br />

Já estava no prelo o pre<strong>se</strong>nte volume, quando foi<br />

divulgado o texto integral da carta de João Paulo II<br />

aos Bispos da Nicarágua.<br />

A carta - datada de 29 de junho e lida nas<br />

igrejas daquele país no dia 8 de agosto deste ano -<br />

deixa ver a preocupação do Pontífice acerca de problemas<br />

de natureza <strong>muito</strong> afim com os que são<br />

tratados neste livro. A es<strong>se</strong> titulo, é útil transcrever<br />

aqui o trecho mais candente do momentoso documento:<br />

"Dai o absurdo e perigoso que é imaginar, à margem<br />

- para não dizer contra - a Igreja construida<br />

em torno do Bispo, outra Igreja concebida como<br />

'carismática' e não institucional, 'nova' e não tradicional,<br />

alternativa, e, como <strong>se</strong> preconiza ultimamente,<br />

uma Igreja Popular. .<br />

Não ignoro que a tal denominação - sinônimo de<br />

'Igreja que nasce do povo' - <strong>se</strong> pode atribuir uma<br />

significação aceitável. Com ela <strong>se</strong> pretenderia indicar<br />

que a Igreja surge quando uma comunidade de pessoas<br />

- especialmente de pessoas dispostas, por sua<br />

pequenez, humildade e pobreza, à aventura cristã -<br />

<strong>se</strong> abre à Boa Nova de Jesus Cristo e começa a vivê-la<br />

em comunidade de fé, de amor, de esperança, de<br />

oração, de celebração e de participação nos mistérios<br />

cristãos, especialmente na Eucaristia.<br />

Sabeis, porém, que o documento final da III Conferência<br />

do Episcopado Latino-americano em Puebla<br />

declarou '<strong>pouco</strong> feliz' este nome de 'Igreja Popular'<br />

(cfr. n. 0 263). E o fez depois de maduro estudo e reflexão<br />

entre Bispos de todo o Continente, consciente que<br />

estava de que tal nome encobre, em geral, outra<br />

realidade.<br />

'Igreja Popular', em sua acepção mais comum,<br />

visível nos escritos de certa corrente teológica, significa<br />

uma Igreja que nasce <strong>muito</strong> mais de supostos<br />

valores de uma camada da população do que da livre<br />

e gratuita iniciativa de Deus. Significa uma Igreja<br />

que <strong>se</strong> esgota na autonomia <strong>das</strong> chama<strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s,<br />

<strong>se</strong>m referência aos legítimos Pastores ou Mestres;<br />

ou, ao menos, sobrepondo os 'direitos' <strong>das</strong> primeiras<br />

à autoridade e aos carismas que a fé faz perceber nos<br />

<strong>se</strong>gundos. Significa - já que ao termo povo <strong>se</strong> dá facilmente<br />

um conteúdo assinaladamente sociológico e<br />

político - Igreja encarnada nas organizações populares,<br />

marcada por ideologias, postas ao <strong>se</strong>rviço de suas<br />

reivindicações, de <strong>se</strong>us programas e grupos considerados<br />

como não pertencentes ao povo. É fácil perceber<br />

- e o nota explicitamente o documento de Puebla<br />

- que o conceito de 'Igreja Popular' dificilmente<br />

escapa à infiltração de conotações fortemente ideológicas,<br />

na linha de uma certa radicalização política, da<br />

luta de clas<strong>se</strong>s, da aceitação da violência para a con<strong>se</strong>cução<br />

de determinados fins etc.<br />

Quando eu mesmo, em meu discurso de inauguração<br />

da <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de Puebla, fiz sérias re<strong>se</strong>rvas a<br />

respeito da denominação 'Igreja que nasce do povo',<br />

tinha em vista os perigos que acabo de recordar. Por<br />

isso, sinto agora o dever de repetir, valendo-me de<br />

vossa voz, a mesma advertência pastoral, afetuosa e<br />

clara. É um apelo aos vossos fiéis, por meio de vós,<br />

Uma 'Igreja Popular' oposta à Igreja presidida<br />

pelos legítimos Pastores é - do ponto de vista do<br />

ensinamento do Senhor e dos Apóstolos no Novo Testamento,<br />

bem como do ensinamento antigo e recente<br />

do Magistério solene da Igreja - um grave desvio<br />

da vontade e do plano de salvação de Jesus Cristo.<br />

É, ademais, um inicio de abertura de uma trinca e<br />

ruptura daquela unidade que Ele deixou como sinal<br />

característico da mesma Igreja, e que Ele quis confiar<br />

precisamente aos que 'o Espírito Santo estabeleceu<br />

para governar a Igreja de Deus' (Heb. XX, 20)"<br />

("L'Os<strong>se</strong>rvatore Romano", 7-8-82).<br />

256


• Um clérigo de nome Teófilo - narra a lenda medieval - fôra embaldo pelo demônio, a quem <strong>se</strong> entregara por<br />

meio de um pacto escrito. Porém, caindo em si, recorreu à Mie de Deus, que impôs ao Maligno a restituiçl o do<br />

documento e a renúncia ao poder que adquirira sobre o infeliz. - No grupo em relevo (tímpano da Catedral de Notre<br />

Dame de Paris, século XIII), a Virgem Santíssima protege Teófilo e brande contra o demônio, vencido e apavorado.<br />

<strong>se</strong>u gl6dio cruciforme.


1<br />

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1 _,,,,,...-<br />

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• •<br />

Nas poéticas margens do rio Araguaia,<br />

feitas por Deus para encantar o homem,<br />

a luta de clas<strong>se</strong>s já derramou sangue ...

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