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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ...<br />
<strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>,<br />
<strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />
- A TF P as descreve como são<br />
I<br />
Plinio Corrêa de Oliveira<br />
<strong>As</strong> metas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no contexto brasileiro<br />
II<br />
Gustavo Antonio Solimeo -<br />
Luiz Sérgio Solimeo<br />
Gêne<strong>se</strong>, organização, doutrina e ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>
HOJE: agitação em que estão<br />
envolvi<strong>das</strong> as <strong>CEBs</strong> ...<br />
AMANHÃ: "pega-fazendeiro"?<br />
Também pega-patrão, pega-patroa?<br />
(p. 193)
EDITORA VERA CRUZ LTDA.<br />
Rua Dr. Martinica Prado, 246<br />
O l 224 - São Paulo<br />
l.ª Edição, Agosto de l 982 -<br />
12.000 exemplares<br />
Composição e Impressão<br />
Artpress - Papéis e Artes Gráficas Ltda.<br />
Rua Garibaldi, 404 - São Paulo<br />
Fotos<br />
Serviço de Imprensa da TFP, Catolicismo, Agência Folhas,<br />
Caminho Editorial Ltda., Abril Press, Mu<strong>se</strong>u da Imagem e do<br />
Som e Tribuna da Bahia. Fotos da capa: TFP e Caminho<br />
Editorial Ltda.
Índice<br />
I<br />
<strong>As</strong> metas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no contexto brasileiro ...................... 13<br />
Introdução - A inércia <strong>das</strong> elites sociais brasileiras, embala<strong>das</strong><br />
pela alternativa otimismo-desalento - O pre<strong>se</strong>nte estudo, um<br />
convite à ação ....................................... .......... ........... ........ .......................... 15<br />
Capítulo I - Em nossa época de caos publicitário, o alcance do<br />
esclarecimento doutrinário da TFP junto ao grande público........ ... 33<br />
Capítulo II - O IV Poder (os Meios de Comunicação Social) e o<br />
V Poder (a CNBB) coligados para reformar o Brasil: reforma<br />
rural, ref arma urhana, ref arma empresarial ............................... ... .. 45<br />
Capítulo III - A intelecção def armada do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />
("cum Romano Pontifice", "cum Episcopo", "cum Parocho")<br />
favorece largamente a eficácia da ação reformista da CNBB ........... 61<br />
Capítulo IV - A Igreja no drama da autodemolição: quem são os<br />
artífices dessa autodemolição? - O papel da Sagrada Hierarquia<br />
- A Teologia da Libertação - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .......................................... 69
Capítulo V - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, potência emergente na política nacional,<br />
visam instrumentalizar o Estado a <strong>se</strong>rviço de sua cruzada <strong>se</strong>m Cruz<br />
- Por trás e por cima <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, a CN BB - Novo apelo aos<br />
Bispos e às elites silenciosos ...... ............ ... ....... ......... .................... .......... 79<br />
Conclusão - É possível resistir à ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>? ............................. 99<br />
II<br />
Gêne<strong>se</strong>, organização, doutrina e ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> .......... 105<br />
Aviso Preliminar ......................................................................................... 108<br />
Capítulo I - Fisionomia <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ......... 111<br />
l. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> são como os discos voadores: todo mundo <strong>fala</strong> delas, mas ninguém<br />
<strong>sabe</strong> o que são ............................................................... .............................. 113<br />
2. "Comunidades de Ba<strong>se</strong>: expressão inspirada no marxismo, equivalente a<br />
soviete" - V m movimento camaleônico que finge não existir . .......... ... .... 122<br />
Origem <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> .......................................... 125<br />
Uma deputada eleita pelas <strong>CEBs</strong> .. ....... ... ... .. ...... .... .. .. .. ..... ... ... ... ... ....... .. . 126<br />
Peritos dos Encontros Nacionais de <strong>CEBs</strong> e especialistas do movimento<br />
.......................!............................................................................. 127<br />
"Vê <strong>se</strong> temos cara de <strong>se</strong>minaristas!" ...................................................... 128<br />
3. Uma KGB religiosa?.- A ditadura <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>......... 129<br />
4. Como transformar o membro da CEB num revoltado - A conscientização<br />
um processo de "baldeação ideológica inadvertida" ... ........................ ....... 133<br />
- A fome não faz revolução, mas sim a conscientização ....... ... ... ... .... .. ... . 135<br />
Um discreto treinamento de ativistas ......................:.............................. 137<br />
- Ensinar per~untando, convencer sugerindo ..... ... ... ... ... .......... .. ...... .... .. ... 138
- "Antes de organizar uma revolução, é preciso aprender a organizar um<br />
pique-nique" .. ... .... .. .............. .. .. ..... ... .. ..... .. ........... .. ... ..... ... ....... .... .......... 140<br />
Capítulo li - A Teologia da Libertação, doutrina <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. - Sua meta: o comunismo. Sua filosofia:<br />
o marxismo. Sua estratégia: a luta de clas<strong>se</strong>s...... .. ................. ...... ....... 143<br />
/. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, a Teologia da Libertação posta em prática.................................. 145<br />
"O que propomos não é teologia no marxismo, mas marxismo na<br />
teologia" - Textos .. ................. .... .... ................................. .. ............... . 147<br />
O mito da "ciência" marxista................................................................ 150<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> criticam a Santa Igreja e pregam uma "Igreja-Nova" iguaÜtária,<br />
herética e subversiva - Textos .... .. ... .......... ... ............... .................... .... 153<br />
A nova religião da "Igreja-Nova": "O mau ladrão também é Deus!" -<br />
Textos.............. ... ....................... .. ... .. ..... ..... .. ...... .................... .. ........... ... 158<br />
Uma Igreja autogestionária, numa sociedade autogestionária ............... 160<br />
A desigualdade de clas<strong>se</strong>s decorre da vontade de Deus......................... 161<br />
D. José Maria Pires, corifeu do movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, proclama a prostituição<br />
como um verdadeiro <strong>se</strong>rviço de Deus!............................................. 163<br />
Capítulo III - <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> em ação. - No campo. - Na periferia<br />
urbana. - Na fábrica. ............................................................................... 169<br />
l. Manipular palavras e conceitos, para justificar esbulhos e violências .......... 171<br />
2. Comissão Pastoral da Terra: "Somos a Igreja no meio rural, organizada<br />
en1 Comunidades de Ba<strong>se</strong>" ........ ... ............................. .. .... .... ... ... ... .. .......... ... 175<br />
A C PT prega a violência em prosa e verso ........... ............ ... ... ... ............. 177<br />
- "Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul - "Alto lá, esta terra<br />
tem dono!" ......... ........... ............. ... ................................ .......... .. .'... ......... 178<br />
3. Violência no campo-1 : Alagamar, teoria e prática da tensão social............. 179<br />
- Subversivos as<strong>se</strong>ssoram as <strong>CEBs</strong> .... .......................... ... ............. .. ... ... .... 183<br />
4. Vio l~ncia no campo-2: "Que tal revolução, ao invés de reforma?" .............. 185<br />
5. Violência no campo-3: Sangue na região <strong>das</strong> guerrilhas do PC do B -<br />
... E as águas do Araguaia continuam a tingir-<strong>se</strong> de vermelho ................... 187<br />
6. Violência no campo-4: "A forma concreta que toma a fé nas <strong>CEBs</strong>": as<br />
"operações pega-fazendeiro" .......... ............ .. ... ... .... ...... ...... .. ... .... .. ... ...... ... . 193
7. Reivindicar... Tensionar.. . Conscientizar .. . - Para conduzir os membros<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ao marxismo na prática ... .. ............. .... .. ... .. .... .. .......... ... ... ......... .. . 202<br />
8. - "Temos organizado invasões de terrenos ... " .. ............. ....... ........... .. .. .. ... 207<br />
- Lições para ocupar a terra alheia - A "Cartilha do pos<strong>se</strong>iro urbano" .... ... 213<br />
9. O Movimento Contra a Carestia, um dos "braços políticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ........... 214<br />
10. Onde fracassou o PC. triunfam as Comunidades de Ba<strong>se</strong>- Um novo sindicalismo<br />
de inspiração religiosa, animado pela Teologia da Libertação ............ 217<br />
- Sindicalistas ligados às <strong>CEBs</strong> de São Paulo .... ....... ... .................... .... .... 219<br />
1 J. Por trás <strong>das</strong> greves, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ............... .......... ... .. 222<br />
No ABC, os sindicalistas pertencem às <strong>CEBs</strong>. Mas não vivem dizendo... ... 223<br />
- <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, à esquerda do PCB ............. .................................. ... ............ 231<br />
Capítulo IV - <strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e a política ......... 233<br />
1. Uma concepção religiosa da política e política da religião ..................... ..... 235<br />
2. Pressão religiosa para fins eleitorais - A máquina política <strong>das</strong> CEBS .. .... 241<br />
- Células marxistas? - "Temos que correr o risco" .... .. ... ... ........ .... .. ... .... 248<br />
Bibliografia - Documentação ................ ................................................ 253
Plínio Corrêa de Oliveira<br />
Presid ente do Con<strong>se</strong>lho Nacional da<br />
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade<br />
.4s C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />
- A TFP as descreve como são<br />
<strong>As</strong> metas <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> no contexto<br />
brasileiro
Em home<br />
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Segmentu numericamente<br />
imenso<br />
da populaçãu hrasileira<br />
E PROVÁVEL que, à míngua<br />
de estatísticas, nã o haja<br />
nenhum brasileiro que saiba qual<br />
<strong>se</strong>ja, em nosso País, o número que<br />
atingiriam, todos somados, os proprietários<br />
de imóveis urbanos e rurais,<br />
de empresários industriais e comerciais,<br />
de acionistas e de detentores de<br />
títulos públicos e privados, bem como<br />
de donas-de-casa <strong>se</strong>rvi<strong>das</strong> por domésticas.<br />
Para os efeitos do que <strong>se</strong> exporá a<br />
<strong>se</strong>guir, a es<strong>se</strong> número, já <strong>muito</strong> consideráve<br />
l, haveria que somar ainda os<br />
que, não participando embora de qualquer<br />
<strong>das</strong> categorias acima, vivem exclusivamente<br />
do trabalho de suas mentes.<br />
Do trabalho intelectual, tomado<br />
este último adjetivo em <strong>se</strong>ntido tão<br />
amplo, que chegas<strong>se</strong> a abranger não<br />
só os portadores de diplomas universitários,<br />
<strong>se</strong>cundários ou técnicos, mas<br />
até profissionais <strong>se</strong>m estudos de habi-<br />
litação definidos, que ganham <strong>se</strong>u pão<br />
mercê da argúcia ou da agilidade de<br />
<strong>se</strong>us espíritos, de <strong>se</strong>u <strong>se</strong>nso <strong>das</strong> realidades,<br />
ou da finura de <strong>se</strong>u trato: qualidades,<br />
to<strong>das</strong> estas, intelectuais a um<br />
ou outro título. A numerosa e indispensável<br />
clas<strong>se</strong> dos corretores de imóveis,<br />
de títulos ou valores, por exemplo.<br />
Por sua mera importância numérica,<br />
tão vasto conjunto de brasileiros<br />
pode constituir no País uma grande<br />
força. A força de todos aqueles cuja<br />
missão e cujos direitos naturais o socialismo<br />
visa minguar, solapar e aviltar.<br />
E contra os <strong>quais</strong> o comunismo<br />
desfecha o golpe supremo: quanto aos<br />
direitos, negando-os do modo mais<br />
radical, e quanto à missão, esmagando-a<br />
sob a bota da chamada ditadura<br />
.do prolerariado.<br />
Mais ainda do que pelo peso do<br />
número, es<strong>se</strong> <strong>se</strong>gmento social vale pela<br />
natural e óbvia influência <strong>das</strong> funções<br />
A lém de numeroso.<br />
altamente influe111e<br />
/6
Segurança obstinada<br />
que exerce. De tal forma que, <strong>se</strong> algum<br />
ukas<strong>se</strong> malfazejo reduzis<strong>se</strong> de um<br />
momento para outro ao trabalho braçal<br />
to<strong>das</strong> essas categorias de brasileiros,<br />
o País pararia, e logo depois<br />
despenharia pelos resvaladeiros de<br />
uma decadência precipitada.<br />
Ao país a que <strong>se</strong> extinguem as<br />
elites sucede, em <strong>pouco</strong> tempo, exatamente<br />
o mesmo que a um corpo do<br />
qual <strong>se</strong> corta a cabeça.<br />
O conhecimento dessa verdade, definido<br />
em uns e nebuloso em outros,<br />
mas vivo em todos os componentes<br />
dessas elites, explica pelo menos em<br />
parte o <strong>se</strong>ntimento de estabilidade profundo<br />
e obstinado que nelas deitou<br />
raiz. Tanto mais quanto essa derrubada<br />
apocalíptica só poderia provir de<br />
uma conjuração dos que lhes são inferiores<br />
na hierarquia social. Ou <strong>se</strong>ja, do<br />
número aliás tão maior dos que vivem<br />
do trabalho manual. Mas estes, a experiência<br />
qua<strong>se</strong> diária os faz ver tão<br />
pacatos, tão estavelmente instalados<br />
na sua condição, que, com efeito, uma<br />
ofensiva geral deles contra os proprietários<br />
e os trabalhadores intelectuais,<br />
a qua<strong>se</strong> todos <strong>se</strong> afigura hipóte<strong>se</strong><br />
longínqua, e talvez até quimérica.<br />
Contudo, es<strong>se</strong> profundo <strong>se</strong>ntimento<br />
de estabilidade coexiste contraditoriamente,<br />
em <strong>muito</strong>s dos que o<br />
experimentam, com uma impressão<br />
oposta. Impressão o mais <strong>das</strong> vezes<br />
indefinida também ela, a mudar a<br />
todo momento de intensidade, conforme<br />
as notícias de cada dia, ou<br />
simplesmente <strong>se</strong>gundo os mil pequenos<br />
fatos concretos da vida quotidiana.<br />
Porém, de qualquer forma, uma<br />
impressão que dispõe a alma a encarar<br />
como inevitável a hipóte<strong>se</strong> da vitória<br />
do comunismo em nosso País, desde<br />
que <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntem certas circunstân-<br />
17
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui/o <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Noções his1óricas<br />
superficiais que,<br />
sugerem derrolis- :<br />
mo<br />
c1as ao mesmo tempo imprevisíveis,<br />
mas em nada improváveis.<br />
• • •<br />
Para tal estado de espírito prepara<br />
um fundo de quadro fortemente<br />
sugestivo, decorrente de estudos de<br />
História sumários, feitos habitualmente<br />
nos cursos de <strong>se</strong>gundo grau. Deles<br />
emerge com falsa evidência a certeza<br />
de que a Revolução Francesa derrubou<br />
o trono dos Bourbons por força<br />
de uma incontenível conjugação de<br />
fatores. Entre estes, notadamente o<br />
an<strong>se</strong>io da maioria dos espíritos por<br />
uma ordem de coisas nova, modelada<br />
<strong>se</strong>gundo a trilogia Liberdade - Igualdade<br />
- Fraternidade. E porque todos<br />
es<strong>se</strong>s fatores também existiam, <strong>se</strong> bem<br />
que em estado ainda germinativo, nos<br />
outros paí<strong>se</strong>s da Europa, lograram os<br />
exércitos da República e de Bonaparte<br />
estender a qua<strong>se</strong> todo o Continente<br />
europeu as "conquistas" da Revolução<br />
Francesa.<br />
"A qua<strong>se</strong> todo o Continente", sim.<br />
E não todo ele. Porque impávida ficava<br />
a Rússia dos Romanof s. Mas a<br />
derrota sofrida por es<strong>se</strong> país na I<br />
Guerra Mundial encerrou os dias da<br />
monarquia absoluta no último país<br />
europeu em que esta forma de governo<br />
ainda tinha vigência.<br />
Como <strong>se</strong> <strong>sabe</strong> geralmente, derrubaram<br />
por terra o trono dos Roma-<br />
nofs fatores análogos aos que haviam<br />
abatido, em fins do século XVIII , o<br />
trono dos Bourbons. Mas tais fatores<br />
vinham carregados, na Revolução<br />
Russa, de um radicalismo ainda maior.<br />
E assim, ao contrário de <strong>se</strong>us antecessores<br />
france<strong>se</strong>s de .1789, não <strong>se</strong><br />
limitou o comunismo vitorioso à instauração<br />
da liberdade, da igualdade e<br />
da fraternidade (como ele as entende)<br />
no campo político, e apenas a meias no<br />
campo social, mas <strong>se</strong> atirou por inteiro<br />
no campo sócio-econômico, extinguindo<br />
virtualmente a família, abolindo a propriedade,<br />
e implantando a ditadura do<br />
proletariado.<br />
Vistos os fatos <strong>se</strong>gundo este prisma,<br />
verdadeiro em alguns aspectos e<br />
falso em outros ( 1 ), pareceria tão inevitável<br />
a vitória do comunismo no<br />
mundo de hoje, quanto teria sido o da<br />
Revolução Francesa nos séculos<br />
XVIII e XIX. E nada <strong>se</strong> afiguraria<br />
mais normal do que ver a Rússia<br />
soviética de<strong>se</strong>mpenhando, em favor<br />
da revolução igualitária do século XX,<br />
(1) Cfr. PuN10 CoRRl:A DE ÜLJ VEIR A, Revolução<br />
e Contra-Revolução, "Catolicismo", n. 0<br />
100, Parte 1, Cap. III, 5.<br />
Com o intuito de dar à pre<strong>se</strong>nte vista pa norâmica<br />
toda a concisão possível, o autor <strong>se</strong><br />
dispensou de menciona r as provas de muitas<br />
<strong>das</strong> a firmações aqui feitas, remetendo o leitor<br />
para obras em que tais provas sã o apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong>.<br />
Razão pela qual cita várias vezes livros<br />
que já publicou.<br />
18
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TF P as descreve como são<br />
papel análogo ao que de<strong>se</strong>mpenhara a<br />
França em prol do igualitarismo político<br />
no século XIX.<br />
Sempre nesta perspectiva, a América<br />
do Sul estaria mais "atrasada"<br />
nesta incontenível "evolução" rumo<br />
ao comunismo. Mas este <strong>se</strong> propagaria<br />
gradualmente a nosso Continente,<br />
como no restante do mundo.<br />
Prova deste deslize rumo ao comunismo<br />
- mais marcado na Europa do<br />
que na América - <strong>se</strong>riam as leis cada<br />
vez mais socialistas da generalidade<br />
dos paí<strong>se</strong>s do Velho Mundo. Prova<br />
mais recente de to<strong>das</strong>, palpitante de·<br />
atualidade, pelo menos até há <strong>pouco</strong>,<br />
<strong>se</strong>ria a vitória da coligação socialocomunista<br />
nas eleições francesas de<br />
maio-junho de 1981 (2).<br />
De pos<strong>se</strong> do poder na França, Mitterrand<br />
<strong>se</strong> pôs a expandir desde logo o<br />
socialismo autogestionário no mundo<br />
inteiro (3).<br />
Para o PS francês, a extinção do<br />
patronato e o estabelecimento da auto<br />
gestão é apenas um complemento -<br />
Miuerrand ante a<br />
História e a atualidade<br />
(2) A cri<strong>se</strong> polonesa de fins de 1981 e, em<br />
<strong>1982</strong>, a Guerra <strong>das</strong> Malvinas, as controvérsias<br />
sobre o gasoduto europeu, bem como o avivamento<br />
da guerra no Líbano, e mais recentemente<br />
a guerra entre o Irã e o Iraque, concorreram<br />
fortemente para desviar a atenção<br />
mundial do êxito eleitoral do Partido Socialista<br />
francês.<br />
Ao mesmo tempo, o insucesso acentuado<br />
dos socialistas e comunistas nas eleições cantonais<br />
francesas de março de <strong>1982</strong> e a concomitante<br />
onda de descontentamentos contra as<br />
reformas autogestionárias impostas à França,<br />
são outros tantos fatores que concorreram<br />
para empurrar para plano <strong>se</strong>cundário o noticiário<br />
que os grandes meios de comunicação<br />
social de todo o Ocidente vinham publicando<br />
sobre a situação francesa. O que minguou<br />
naturalmente a força de impacto internacional<br />
da propaganda do socialismo autogestionário<br />
propugnado pelo PS francês.<br />
A essas circunstâncias <strong>se</strong> acresceu outra.<br />
Até então, em escala internacional, o socialismo<br />
autogestionário ainda não fôra questionado<br />
em <strong>se</strong>us últimos fundamentos filosóficos.<br />
É inegável que a Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs<br />
intitulada O socialismo autogestionário: em<br />
vista do comunismo, barreira ou cabeça-deponte?<br />
(cfr. "Catolicismo", n. 0 373-374, janeiro-fevereiro<br />
de <strong>1982</strong>) e publicada a partir do<br />
dia 9 de dezembro de 1981 em 56 dentre os<br />
mais importantes jornais de 18 paí<strong>se</strong>s, abriu<br />
uma brecha no silêncio geral a tal respeito.<br />
Pondo em evidência a incompatibilidade do<br />
programa do PS francês com a doutrina tradicional<br />
do Supremo Magistério Eclesiástico,<br />
e questionando assim gravemente o sistema<br />
autogestionário, a Mensagem <strong>das</strong> treze<br />
TFPs concorreu para dissipar a "lua-de-mel"<br />
com a opinião pública, na qual <strong>se</strong> expandia<br />
tão favoravelmente o prestígio da autogestão.<br />
Nada disso impediu, entretanto, que o governo<br />
Mitterrand aproveitas<strong>se</strong> tal fa<strong>se</strong> de relativo<br />
recesso publicitário para ir impondo, <strong>se</strong>m<br />
excessivo ruído, novas reformas em <strong>se</strong>u país. E<br />
sobre o crescente movimento de oposições a<br />
essas reformas, os meios de comunicação social<br />
no mundo inteiro passaram a fazer inopinadamente<br />
silêncio qua<strong>se</strong> completo ...<br />
20
Parte l<br />
Introdução<br />
no âmbito interno <strong>das</strong> empresas ·- da<br />
extinção <strong>das</strong> monarquias no âmbito<br />
mais amplo do Estado (4).<br />
O chefe de Estado francês, <strong>se</strong>m<br />
embargo de múltiplos fatores contrários,<br />
<strong>se</strong> propõe a completar assim, nos<br />
paí<strong>se</strong>s que ainda não são comunistas,<br />
e já agora novamente a partir de Paris,<br />
a tarefa revolucionária mundial do socialismo<br />
autogestionário francês que Moscou<br />
não con<strong>se</strong>guiu até agora realizar (5).<br />
Em tudo isto, os lados de alma<br />
desalentados e pessimistas de tantos<br />
, (3) Cfr. PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, O Socialismo<br />
autogestionário: em vista do comunismo,<br />
barreira ou cabeça-de-ponte?, Mensagem<br />
<strong>das</strong> Sociedades de Defesa da Tradição, Família<br />
e Propriedade - TFPs - do Brasil, Argentina,<br />
Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia,<br />
Equador, Espanha, Estados Unidos, França,<br />
Portugal, Uruguai e Venezuela, "Catolicismo",<br />
n. 0 373-374, janeiro-fevereiro de <strong>1982</strong>, Cap. IV,<br />
pp. 39-40.<br />
(4) Diz um repre<strong>se</strong>ntante qualificado do<br />
PS francês: "Em nossas sociedades ocidentais,<br />
a democracia é mais ou menos tolerada por<br />
toda parte. Menos na empresa. O patrão, <strong>se</strong>ja<br />
ele um industrial independente ou um alto<br />
funcionário do Estado, con<strong>se</strong>rva em mãos os<br />
poderes es<strong>se</strong>nciais. Em detrimento de todos.<br />
.... A empresa é uma monarquia de estrutura<br />
piramidal. Em cada nível, o repre<strong>se</strong>ntante da<br />
hierarquia é todo-poderoso: suas decisões são<br />
inapeláveis. O trabalhador de ba<strong>se</strong> torna-<strong>se</strong> um<br />
homem <strong>se</strong>m poderes, que não tem direito nem<br />
à iniciativa nem à palavra" (PIERRE MAUROY,<br />
Héritiers de l'Avenir, Stock, Paris, 1977, p. 276<br />
• O Sr. François Mitterrand, Presidente da<br />
França, surgiu, em maio de 1981, em con<strong>se</strong>qüência<br />
do êxito eleitoral do PS que o guindou<br />
ao Poder, como a grande vedette do socialismo<br />
no mundo inteiro. E1111e vedetismo internacional<br />
desapareceu, e ele hoje nlo tem <strong>se</strong>nlo <strong>muito</strong><br />
pequenas po1111ibilidades para e irrediaçlo do<br />
socialismo autogestionério fora da França. E<br />
dentro de França, a "lua-de-mel" com e opinilo<br />
pública, na qual <strong>se</strong> expandia tio favoravelmente<br />
e eutogestlo, também <strong>se</strong> di1111ipou. Pare um e<br />
outro feto, concorreu poderosamente a Mensagem<br />
<strong>das</strong> treze TFPs. Mitterrand tem, pois,<br />
<strong>muito</strong> com que estar perplexo, como mostra<br />
a foto.<br />
- apud PUNIO CORRf:A DE ÜLI VEIRA, op. cit.,<br />
Nota 15, p. 15).<br />
(5) O comunismo tem também como meta<br />
a autogestão. Lê-<strong>se</strong> no preâmbulo da Constituição<br />
russa que "o objetivo supremo do Estado<br />
soviético é edificar a sociedade comunista<br />
<strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s, na qual <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolverá a autogestão<br />
social comunista" ( Constitución - Ley<br />
Fundamental - de la Un ión de Repúblicas<br />
Socialistas Soviéticas, de 7 de outubro de 1977,<br />
Editorial Progreso, Moscou, 1980, p. 5 -<br />
apud PuN10 CoRRf:A DE OuvEIRA, op. cit., Nota<br />
36, pp. 32-33).<br />
21
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhe
Parre I<br />
Introdução<br />
Otimismo e desalento<br />
<strong>se</strong> conciliam<br />
a <strong>se</strong>rviço da inércia<br />
clusivamente pela "esquerda católica"<br />
são noticia<strong>das</strong> como temíveis investi<strong>das</strong><br />
de uma maré montante de indignação<br />
popular liderada por clérigos a<br />
quem as instâncias eclesiásticas superiores<br />
não podem ou não querem refrear.<br />
,<br />
Mas, de outro lado, esta agitação<br />
esquerdista tão noticiada, <strong>pouco</strong>s a<br />
notam no âmbito concreto de sua vida<br />
diária. Deste ângulo, ela parece mais<br />
um fantasma do que uma realidade.<br />
Tanto mais quanto as manifestações<br />
de rua a que esta agitação tem dado<br />
lugar apre<strong>se</strong>ntam <strong>se</strong>mpre diminuto<br />
número de participantes. Sintoma <strong>muito</strong><br />
significativo, que a maior parte dos<br />
noticiários de imprensa mal con<strong>se</strong>gue<br />
disfarçar.<br />
<strong>As</strong>sim, a zoeira publicitária dá do<br />
perigo comunista uma imagem que<br />
parece confirmar, por alguns lados, o<br />
fundo de quadro histórico correntemente<br />
aceito, e a tendência <strong>das</strong> elites<br />
ao desânimo. E, de outro lado, as<br />
ilusões otimistas dessas mesmas elites<br />
parecem confirma<strong>das</strong> pela experiência<br />
pessoal dos que as constituem.<br />
Curiosamente, es<strong>se</strong>s dois estados<br />
de ânimo - um otimista e <strong>se</strong>guro de<br />
que a catástrofe não virá, e o outro,<br />
desalentado e pessimista - coexistem<br />
<strong>se</strong>m choques no espírito da <strong>muito</strong><br />
grande maioria <strong>das</strong> eventuais, ou futuras,<br />
vítimas do socialismo e do comunismo.<br />
É que um e outro estado de<br />
animo convergem para justificar a a<br />
centuada disposição dessas vítimas<br />
para a inércia. Conforme o noticiário<br />
dos jornais do dia, ou as circunstâncias<br />
concretas, às vezes bastante miú<strong>das</strong>,<br />
que marcam cada hora que passa,<br />
a mesma "vítima" eventual, ora justifica<br />
sua inação ante o perigo comunista,<br />
pensando, e dizendo, que é supérfluo<br />
reagir contra ele, de tão remoto<br />
que é, por enquanto; ora alega,<br />
pelo contrário, que a reação anti-socialista<br />
e anticomunista "não adianta",<br />
"não dá" para <strong>se</strong>r feita, porque o<br />
comunismo vem mesmo.<br />
Em um e outro caso, o que preocupa<br />
o burguês é justificar a <strong>se</strong>us olhos, e<br />
dos outros, a inércia na qual <strong>se</strong> apraz.<br />
A deleitável inércia de quem quer<br />
viver, mais do que tudo, para fruir a<br />
<strong>se</strong>gurança e a fartura de sua situação,<br />
ou satisfazer as apetências e as ambições<br />
infrenes, tão características da<br />
assim chamada sociedade de consumo.<br />
* * *<br />
A descrição desta situação psicológica,<br />
freqüente em nossas elites, sugere-a<br />
antes de tudo a ob<strong>se</strong>rvação<br />
corrente da realidade.<br />
Ademais, a TFP pôde confirmá-la<br />
recentemente com exemplos numerosos<br />
e concretos, colhidos em mais ou<br />
menos todo o território nacional, ao<br />
longo da campanha de suas caravanas<br />
Preciosa experiência<br />
da TFP confirma<br />
este quadro<br />
23
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Depois de percorrer o Brasil inteiro alertando os<br />
meios rurais contra os perigos da investida<br />
agro-reformista, os propagandistas da TF P fizeram<br />
uma grande divulgaçl o do livro Sou cat6-<br />
lico: posso sar contra a RBforma Agrária? em<br />
pleno centro de Sl o Paulo, no Viaduto do Chá.<br />
Em closB, na foto, um cooperador da TFP<br />
oferece o livro a duas <strong>se</strong>nhoras.<br />
em prol da venda do livro Sou católico:<br />
posso <strong>se</strong>r contra a Reforma A<br />
grária? (6).<br />
Foi objetivo des<strong>se</strong> livro - aliás<br />
largamente alcançado - alertar quan-<br />
(6) PuN10 CoRRtA DE OLIVEIRA E CARLOS P A<br />
rn1c10 DEL CAMPO, Editora Vera Cruz, São<br />
Paulo, 3.• ed., 1981, 360 pp.<br />
(7) Cfr. texto publicado pelas Edições Paulinas,<br />
Coleção Documentos ·da CNBB, n. 0 17,<br />
1980, 38 pp., transcrito na íntegra em Sou<br />
católico: posso <strong>se</strong>r contra a Ref arma Agrária?<br />
1<br />
to possível a clas<strong>se</strong> dos proprietários<br />
agrícolas contra o perigo de uma reforma<br />
agrária socialista e confiscatória,<br />
em favor da qual <strong>se</strong> fazia grande<br />
zoeira no país em con<strong>se</strong>qüência da<br />
publicação do documento Igreja e problemas<br />
da terra, aprovado pela 18.ª<br />
<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da CNBB, reunida ·<br />
em ltaici de 5 a 14 de fevereirÓ de<br />
1980 (7).<br />
Para . con<strong>se</strong>guir tal resultado, os<br />
dedicados propagandistas da TFP tiveram<br />
que <strong>se</strong> empenhar <strong>muito</strong> a fundo<br />
na campanha. Pois, freqüentemente, o<br />
estado de espírito que encontravam<br />
nos proprietários rurais correspondia<br />
ao aqui descrito. E só uma obra especialmente<br />
consagrada ao tema poderia<br />
informá-los adequadamente acerca dos<br />
perigos face aos <strong>quais</strong> <strong>se</strong> encontram,<br />
neles mobilizando assim, contra a investida<br />
agro-reformista, o espírito de<br />
24
Parte /<br />
/ I'\<br />
.·.:-.; ti<br />
··- ' "J .·{, ,,, ..,___<br />
/-, • 1 ~ -.. ~,r, r ~, ,:. J:~ ,{~ .....,.,•!~,:t'J é'r" / • r?-,.J,,, . ·, ./ Jt~ -.., (<br />
~=7c,;;;:;;;:,=.=:-;-:::=-~~=~~ --~--......-<br />
~ ~ ~ ;g-~ ~<br />
!111rod11çào<br />
A tomada da Bastilha no dia 14 de julho de 1789 é o grande·evento simbólico que assinala o inicio<br />
da Revolução Francesa. Nes<strong>se</strong> dia. Lula XVI registra em <strong>se</strong>u diério: "rien" (nada). Para o monarca<br />
francês. que acabou executado na guilhotina. nada aconteceu digno de nota nes<strong>se</strong> dia. É ele o<br />
slmbolo trágico <strong>das</strong> elites imprevidentes e dormentes, que não <strong>sabe</strong>m pugnar dentro da lei por<br />
<strong>se</strong>us direitos legltimos.<br />
Inércia <strong>das</strong> elites<br />
Jaz a/orça dos que<br />
a agridem<br />
iniciativa e de luta que as atividades<br />
rurais naturalmente formam no verdadeiro<br />
lavrador (8).<br />
* * *<br />
Na inércia da vítima está a força<br />
do agressor. O quadro aqui traçado<br />
faz ver que, dada a tão larga despreparação<br />
<strong>das</strong> elites responsáveis do Bra-<br />
(8) Tal tendência à inércia <strong>se</strong> mostrou <strong>muito</strong><br />
menos freqüente no Rio Grande do Sul e em<br />
Goiás.<br />
Manda a justiça acrescentar que a ampla<br />
difusão des<strong>se</strong> estado de espírito <strong>se</strong> explica, em<br />
boa parte, pelo fato de que contra ele, além da<br />
TFP, poucas vozes <strong>se</strong> têm feito ouvir.<br />
sil para enfrentar o socialismo e o<br />
comunismo, este, ainda que dispu<strong>se</strong>s<strong>se</strong><br />
de um poder pequeno, teria apreciáveis<br />
possibilidades de vencer. Pois a<br />
História ensina que o curso dos fatos<br />
des<strong>se</strong>rve <strong>se</strong>mpre aos que dormem. E<br />
por mais legítimos que <strong>se</strong>jam os direitos<br />
que tocam às elites, estes em nada<br />
as protegerão <strong>se</strong> elas <strong>se</strong> mantiverem<br />
inertes: "Dormientibus non succ~rit<br />
jus: o Direito não socorre aos que<br />
dormem".<br />
Acresce que a força de impacto da<br />
revolução social está longe de <strong>se</strong>r pequena.<br />
Ela consiste <strong>muito</strong> preponderantemente,<br />
no Brasil, como <strong>se</strong> mostrará<br />
a <strong>se</strong>guir, nas Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>).<br />
25
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Em contara com a<br />
realidade, a TFP<br />
analisa o Brasil<br />
Os aurores da Parre<br />
li do pre<strong>se</strong>nre<br />
volume<br />
A estas, qua<strong>se</strong> todos os meios de<br />
comunicação social costumam apre<strong>se</strong>ntar<br />
como um monstro de poder,<br />
próprio a desalentar os pessimistas ... e<br />
até os otimistas. A realidade dos fatos<br />
parece indicar, pelo contrário, que as<br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> não<br />
têm dentro do panorama nacional,<br />
<strong>se</strong>não as meras proporções de um<br />
perigo em crescimento, porém francamente<br />
contornável. O que <strong>se</strong>gura, por<br />
<strong>se</strong>u turno, no otimismo, os inertes.<br />
Mais um fator da contradição, a<br />
qual só pode inclinar nossas elites<br />
para a confusão, a dispersão ... a<br />
inércia!<br />
* * *<br />
Os resultados a que chegou o estudo<br />
sobre as <strong>CEBs</strong>, que a TFP agora<br />
oferece ao público, é bem diverso. Eles<br />
constituem um virtual convite à ação.<br />
Aqui denuncia<strong>das</strong>, rejeita<strong>das</strong>, combati<strong>das</strong>,<br />
essas organizações não terão<br />
meios de vencer.<br />
Mas há que lutar. Pois, como <strong>se</strong><br />
verá, elas já são bastante fortes para<br />
alcançar a vitória, caso nossas elites,<br />
desinforma<strong>das</strong>, continuem a deixar-<strong>se</strong><br />
embalar na confusa alternação entre<br />
otimismo e pessimismo.<br />
De tal trabalho de informação e<br />
esclarecimento, que des<strong>se</strong> ponto de<br />
vista <strong>se</strong> poderia qualificar como de<br />
salvação nacional, aceitaram de <strong>se</strong> in-<br />
cumbir dois soc10s da TFP já com<br />
larga folha de <strong>se</strong>rviços prestados à<br />
entidade, à qual consagraram por inteiro<br />
suas robustas inteligências, <strong>se</strong>u<br />
hábito do estudo e da reflexão, sua<br />
cultura e sua generosa dedicação.<br />
Não os prende à ordem sócio-econômica<br />
vigente qualquer interes<strong>se</strong> econômico.<br />
Não figuram na categoria dos<br />
proprietários, e <strong>se</strong>u valioso trabalho<br />
intelectual foi <strong>se</strong>mpre prestado à TFP<br />
com a singela contrapartida de que<br />
esta lhes as<strong>se</strong>gura simplesmente meios<br />
de subsistência suficientes.<br />
Para efetuar es<strong>se</strong> estudo, encontravam-<strong>se</strong><br />
os dois autores em condições<br />
especialmente favoráveis. De um<br />
lado, suas leituras de há <strong>muito</strong> . os<br />
vinham pondo ao corrente do pensamento<br />
do progressismo e do "esquerdismo<br />
católico", que constituem o próprio<br />
substrato doutrinário <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
definem as metas e inspiram, em considerável<br />
medida, os métodos destas.<br />
De outro lado, sua longa militância<br />
nas fileiras da TFP lhes havia acrescido<br />
aos conhecimentos colhidos em<br />
livro aquilo que livro nenhum poderia<br />
dar. Ou <strong>se</strong>ja, o conhecimento experimental<br />
do progressismo teológico e<br />
do "esquerdismo católico" em ação,<br />
cujas tendências e cujas táticas só a<br />
longa e acurada luta contra eles tão<br />
bem desvenda.<br />
Compulsando uma massa de documentos<br />
que não haveria exagero em<br />
26
Parte I<br />
Introdução<br />
Imponente massa<br />
d e documentos<br />
permite traçar um<br />
quadro geral <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong><br />
Objetivo da TFP<br />
ao difundir o pre<strong>se</strong>nte<br />
livro<br />
chamar de monumental, ordenandoos,<br />
analisando-os com penetrante a<br />
cuidade, e articulando os vários aspectos<br />
fugidios que deles <strong>se</strong> desprendem,<br />
em uma larga e lúcida sínte<strong>se</strong>, puderam<br />
os dois autores traçar um quadro<br />
geral <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>, como elas existem e <strong>se</strong> expandem<br />
no Brasil, em <strong>1982</strong>, e que constitui<br />
a Parte II do pre<strong>se</strong>nte volume.<br />
Impresso o livro pelos bons préstimos<br />
da Editora Vera Cruz, a TFP <strong>se</strong><br />
dispõe agora a divulgá-lo pelo Brasil.<br />
* * *<br />
O objetivo de tal divulgação já foi<br />
enunciado. Consiste ele em alertar para<br />
o perigo do comunismo as clas<strong>se</strong>s<br />
que este visa derrubar. Para que,<br />
assim alerta<strong>das</strong>, afinal <strong>se</strong> articulem em<br />
torno de <strong>se</strong>us chefes naturais, com o<br />
objetivo de cortar o passo ao adversário<br />
que a inércia delas vem tornando<br />
perigoso. Só com isto, já elas reduzirão<br />
o perigo a suas verdadeiras . proporções.<br />
E terão assim condições para,<br />
com árduo empenho, o fazer refluir<br />
para as dimensões mínimas, abaixo<br />
<strong>das</strong> <strong>quais</strong> não poderá decair porque<br />
lhe são propícias numerosas circunstâncias<br />
do mundo contemporâneo.<br />
O Brasil poderá assim continuar<br />
sua trajetória histórica <strong>se</strong>m conhecer as<br />
discórdias, as agitações, os morticínios<br />
em que a guerra de clas<strong>se</strong>s tem<br />
submergido tantas nações ilustres, nem<br />
as longas déca<strong>das</strong> de sujeição a taci-<br />
Para traçar um quadro geral <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, os autores da Parte li deste livro<br />
tiveram que analisar imponente massa de documentos, compreendendo, além de um número<br />
incontável de notícias de jornal e revistas. a abundantíssima literatura publicada pelo movimento.<br />
- Na foto. parte <strong>das</strong> publicações sobre as <strong>CEBs</strong> e a Teologia da Libertaçlo compulsa<strong>das</strong>.<br />
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1 l l
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> ja/a, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
O profeta Ezequiel, do Aleijadinho, no adro da<br />
igreja de Congonhas de Campo (Minas Gerais).<br />
- Essa magnifica obra da arte barroca brasileira,<br />
manifestaçl o eloqüente da fecundidade<br />
de engenho de nosso povo, é uma promessa do<br />
que o Brasil pode realizar no futuro, <strong>se</strong> for fiel<br />
às ralzes cristls de sua História e à luminosa<br />
misslo mundial que o aguarda no século XXI.<br />
turnas e estéreis ditaduras do "proletariado",<br />
que vêm submergindo crescente<br />
número de povos na degradação,<br />
na tristeza, na miséria.<br />
E, pelo contrário, afastado o perigo,<br />
nosso País, com as energias vivifica<strong>das</strong><br />
pela luta, <strong>se</strong> irá habilitando<br />
para a luminosa missão mundial que o<br />
aguarda no século XXI. Elevado ideal<br />
em que <strong>se</strong> irmanam o zelo pela Igreja e<br />
pela Cristandade, com o ardente anelo<br />
de uma cristã grandeza do Brasil.<br />
* * *<br />
O que acaba de <strong>se</strong>r dito poderia<br />
dar azo a uma objeção. A TFP estaria<br />
então promovendo, a <strong>se</strong>u modo, a<br />
luta dos que têm bens ou estudos<br />
contra os que não estudaram ou não<br />
têm bens, isto é, uma luta de clas<strong>se</strong>s?<br />
Nes<strong>se</strong> caso, a obra da TFP não <strong>se</strong>ria o<br />
contrário da que querem levar a cabo<br />
as <strong>CEBs</strong>. Pois estas ateiam a luta de<br />
clas<strong>se</strong>s dos que não têm ou não <strong>sabe</strong>m,<br />
contra os que <strong>sabe</strong>m e têm.<br />
Levando ambas as clas<strong>se</strong>s à luta entre<br />
si , TFP e <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>riam igualmente<br />
fa utoras des<strong>se</strong> confronto.<br />
A objeção pode impressionar espíritos<br />
superficiais. Porém ela não resiste<br />
a uma análi<strong>se</strong> objetiva dos fatos.<br />
Alertando e estimulando à reação<br />
as eventuais vítimas da agressão comunista,<br />
a TFP nem de longe tem em<br />
vista movê-las à contestação e à trans-<br />
\<br />
Tais objetivos são<br />
o contrário da luta<br />
de clas<strong>se</strong>s<br />
A TFP de<strong>se</strong>ja u<br />
ma ordem social<br />
m odelada pela<br />
j ustiça e pela caridade<br />
28
Parte I<br />
lntrodw;iia<br />
gressão dos direitos reais dos trabalhadores,<br />
e <strong>muito</strong> menos à extinção -<br />
absurda - dessa clas<strong>se</strong>. Escrupulosamente<br />
fiel à doutrina tradicional dos<br />
Papas em matéria sócio-econômica, a<br />
entidade de<strong>se</strong>ja, pelo contrário, que<br />
cada vez mais <strong>se</strong>jam respeitados estes<br />
direitos, em uma ordem social modelada<br />
pela justiça e pela caridade, e por<br />
isto mesmo constituída de clas<strong>se</strong>s sociais<br />
distintas, hierárquicas e harmônicas<br />
(9).<br />
A reação que a TFP de<strong>se</strong>ja promover<br />
não ruma, portanto, para uma<br />
confrontação sangrenta, mas, pelo<br />
contrário, visa obviamente evitá-la.<br />
A TFP tem a inteira consciência de<br />
não estar contra a clas<strong>se</strong> dos trabalhadores<br />
manuais quando ela alerta os<br />
outros <strong>se</strong>gmentos da sociedade, mas<br />
sim contra os manejas da <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista<br />
de há <strong>muito</strong> encastoada<br />
no <strong>se</strong>io da Igreja ( 1 O), a qual<br />
só con<strong>se</strong>guiu até o momento levar<br />
A <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista encastoada no<br />
<strong>se</strong>io da Igreja lança os prosélitos que acaba de<br />
arregimentar, em agitações de rua que <strong>se</strong>rvem à<br />
luta de clas<strong>se</strong>s e à revolução social.<br />
consigo <strong>se</strong>tores ainda definidamente<br />
minoritários, de trabalhadores manuais.<br />
Esta <strong>se</strong>ita visa a própria extinção<br />
<strong>das</strong> clas<strong>se</strong>s sociais contra as <strong>quais</strong><br />
conspira. Se ela recruta simpatizantes<br />
em tais clas<strong>se</strong>s não é <strong>se</strong>não para que<br />
A <strong>se</strong>ita progressista-esquerdista<br />
visa<br />
a extinção <strong>das</strong><br />
clas<strong>se</strong>s e a ditadura<br />
de um só laivo<br />
de opinião: os revoltados<br />
(9) Ver em Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra a<br />
Reforma Agrária?, p. 82, significativos textos<br />
pontifícios contendo a doutrina tradicional<br />
dos Papas sobre a hierarquia social, em oposição<br />
à doutrina marxista da luta de clas<strong>se</strong>s.<br />
( 1 O) O primeiro brado de alerta contra a<br />
<strong>se</strong>ita progressista-esquerdista foi dado no Brasil.<br />
pelo livro Em defesa da Ação Católica<br />
(PuNIO CoRRtA DE OuvEIRA, Editora Ave Maria,<br />
·são Paulo, 1943, 384 pp.), que foi objeto<br />
de uma expressiva carta de louvor escrita em<br />
nome do Papa Pio XII pelo Substituto da<br />
Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons. J. B.<br />
Montini, mais tarde Paulo VI.<br />
Sobre o assunto, ver também a magnífica<br />
Carta Pastoral sobre problemas do Apostolado<br />
Moderno - Com endo um Catecismo de<br />
verdades oportunas que <strong>se</strong> opõem a erros contemporâneos,<br />
de D. Antonio de Castro Mayer,<br />
antigo Bispo de Campos (Editora Boa Imprensa,<br />
Campos, 1953, 144 pp.).<br />
29
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
TFP<br />
CAMPANHA OE OOH,\TIVOS<br />
PAllA OS POBRES<br />
Além de sua obra de esclarecimento doutrinário, a TFP promove o congraçamento <strong>das</strong> clas<strong>se</strong>s<br />
sociais, coletando donativos nos bairros abastados e distribuindo-os nas favelas e bairros pobres.<br />
trabalhem dentro destas, a fim de mais<br />
rápida e mais inteiramente destruí-las.<br />
É em geral este o triste trabalho dos<br />
."inocentes úteis", dos "companheiros<br />
de viagem" e dos cripto-socialistas ou<br />
criptocomunistas, bem como dos "sapos"<br />
(11).<br />
E, sobretudo, a <strong>se</strong>ita progressistaesquerdista<br />
não visa estabelecer uma<br />
cooperação justa e harmônica entre os<br />
amigos da ordem em to<strong>das</strong> as clas<strong>se</strong>s<br />
sociais, como é ensinada pelos documentos<br />
tradicionais do Supremo Ma-<br />
gistério da Igreja. Pelo contrário, ela<br />
tem por meta a ditadura de um só<br />
laivo de opinião, os revoltados que<br />
existem de alto a baixo da estrutura<br />
social, entre os <strong>quais</strong> ela simula propagandisticamente<br />
só ver os "pobres".<br />
( 11) <strong>As</strong>sim chamados, na linguagem da<br />
TFP, os burgue<strong>se</strong>s endinheirados que blasonam<br />
de adotar uma posição anti-anticomunista,<br />
porém não comunista, mas que no fundo<br />
fazem - talvez <strong>muito</strong>s deles inadvertidamente<br />
- o jogo do comunismo.<br />
30
Parte I<br />
Introdução<br />
A tristemente famosa<br />
"conscientização"<br />
Como método, de início a <strong>se</strong>ita<br />
. ,procura a persuasão dos recrutas, pelo<br />
sofisma e pela chicana, a fim de constituir<br />
o primeiro núcleo de adeptos.<br />
Isto feito , ela inicia a ação, tendo<br />
como próximo passo a promoção de<br />
descontentamento (a tristemente famosa<br />
"conscientização"). Segue-<strong>se</strong> a<br />
ação do núcleo inicial, destinada a<br />
promover a agitação, os tumultos, e<br />
por fim o caos e a revolução social.<br />
Tudo bem ao contrário da ação eminentemente<br />
suasória e ordeira visada<br />
pela TFP, de modo ininterrupto, ao<br />
longo <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> de sua existência<br />
(12) .<br />
Em con<strong>se</strong>qüência, não há verda-/<br />
deiro paralelismo entre a ação comuna-progressista<br />
e esquerdista de um<br />
lado, e a da TFP de outro lado. Mas,<br />
pelo contrário, uma des<strong>se</strong>melhança absoluta,<br />
de espírito e de doutrinas, como<br />
de metas e de métodos.<br />
Ê nesta perspectiva que convém<br />
ver o pre<strong>se</strong>nte livro, que <strong>se</strong> alinha no<br />
que a História da reação anticomunista<br />
de nossos dias chamará a "Coleção<br />
TFP" (13).<br />
Des<strong>se</strong> melhança<br />
absoluta entre a<br />
ação da TFP e a<br />
da <strong>se</strong>ita comunaprogressista<br />
( 12) Meio século de epopéia anr icomunista,<br />
Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.ª<br />
ed., 1981, 472 pp.<br />
( 13) O grupo de amigos de que resultou em<br />
1960 a fundação da TFP, publicara anteriormente<br />
a essa data duas obras que são o ponto<br />
de partida histórico dessa coleção. A primeira<br />
já foi mencionada: Em defesa da Ação Católica,<br />
foi o grande divisor de águas entre os<br />
militantes católicos que deram origem à TFP,<br />
e os que começaram a propaganda do progressismo<br />
teológico e do esquerdismo sócio-econômico<br />
nos meios religiosos brasileiros. Seguiu<strong>se</strong>-lhe<br />
outro livro, Revolução e Contra-Revolução<br />
(PuN10 CoRRl:A DE OuvE1RA, Boa Imprensa,<br />
1959), o qual <strong>se</strong> constituiu definitivamente<br />
no fio condutor do pensamento de to<strong>das</strong><br />
as outras obras edita<strong>das</strong> pela entidade.<br />
Fundada em I 960 a TFP, foram publica<strong>das</strong><br />
diversas obras, que o leitor encontrará<br />
relaciona<strong>das</strong> no pre<strong>se</strong>nte volume.<br />
É ademais de <strong>se</strong> registrar aqui, com o apreço<br />
devido, a importante série de documentos pastorais<br />
de D. Antonio de Castro Mayer, até há<br />
<strong>pouco</strong> Bispo de Campos, difundidos igualmente<br />
pela TFP, e todos eles relacionados,<br />
imediata ou mediatamente, com a grande controvérsia<br />
(ver elenco de obras neste volume).<br />
Também D. Geraldo de Proença Sigaud,<br />
S.V.D ., antigo Arcebispo de Diamantina, publicou<br />
a Carta Pastoral sobre a <strong>se</strong>ita comunista,<br />
<strong>se</strong>us erros, sua ação revolucionária e os<br />
deveres dos católicos na hora pre<strong>se</strong>nte ("Catolicismo",<br />
n. 0 135, março de 1962; Editora Vera<br />
Cruz, São Paulo, 1963, 176 pp., 2 edições -<br />
Total: 26 mii exemplares), e o Catecismo Anticomunista<br />
("Catolicismo", n. 0 140, agosto de<br />
1962; Editora Vera Cruz, São Paulo, 1962, 48<br />
pp., 5 edições - Total: 122 mil exemplares),<br />
que a TFP difundiu largamente por todo o Brasil.<br />
A divulgação des<strong>se</strong>s importantes documentos<br />
episcopais não foi aliás só da TFP. Também<br />
trabalharam nela as circunscrições eclesiásticas<br />
dos referidos Prelados, como pessoas<br />
<strong>das</strong> relações deles em vários lugares do Brasil.<br />
31
•<br />
Capítulo I<br />
...<br />
~<br />
•<br />
•
.. -----<br />
. ...--<br />
Em nossa épo<br />
'. ..<br />
..
A era da Propaganda<br />
e O M O extraordinário incremento<br />
da imprensa, abriu<strong>se</strong><br />
para a Humanidade, no ·século XIX,<br />
a era da Propaganda. Cada vez menos,<br />
os movimentos profundos dos povos<br />
nasceram de impulsos, tendências ou<br />
formais de<strong>se</strong>jos· concebidos nas cama<strong>das</strong><br />
profun<strong>das</strong> <strong>das</strong> psicologias nacionais.<br />
E, cada vez mais, os movimentos<br />
coletivos vêm <strong>se</strong>ndo induzidos, de fora<br />
para dentro, pela Propaganda .. Em outros<br />
termos, mais e mais os povos <strong>se</strong><br />
· foram tornando massas (1).<br />
No momento em que a excelência<br />
dos recursos psicológicos e técnicos<br />
chegava a uma perfeição que certamente<br />
Gutenberg nem <strong>se</strong>quer imaginava,<br />
Marconi deu ao mundo a rádiocomunicação.<br />
E quando esta <strong>se</strong> achava<br />
em franca via ascensional, apareceu,<br />
por sua vez, uma rival que haveria<br />
de reduzir fortemente a influência<br />
da imprensa e do rádio, monopolizando<br />
para si a liderança da propaganda<br />
política, ideológica, ou econômica. É<br />
a televisão. E vai <strong>se</strong> afirmando agora a<br />
Imprensa, rádio,<br />
TV: o que virá depois?<br />
( I) O processo é assim descrito por Pio XII:<br />
"O Estado não contém em si e não reúne<br />
mecanicamente num dado território uma aglomeração<br />
amorfa de indivíduos. Ele é, e na realidade<br />
deve <strong>se</strong>r, a unidade orgânica e organizadora<br />
de um verdadeiro povo.<br />
Povo e multidão amorfa, ou, como <strong>se</strong> costuma<br />
dizer, 'massa', são dois conceitos diversos. O<br />
povo vive e <strong>se</strong> move por vida própria; a massa é<br />
de si inerte, e não pode <strong>se</strong>r movida <strong>se</strong>não por<br />
fora. O povo vive da plenitude da vida dos<br />
homens que o compõem, cada um dos <strong>quais</strong> -<br />
em <strong>se</strong>u próprio posto e a <strong>se</strong>u próprio modo - é<br />
uma pessoa consciente <strong>das</strong> próprias responsabilidades<br />
e <strong>das</strong> próprias convicções. A massa,<br />
ao invés, espera o impulso defora.fáciljoguete<br />
nas mãos de quem quer que desfrute <strong>se</strong>us<br />
instintos ou impressões, pronta a <strong>se</strong>guir, vez por<br />
vez, hoje esta, amanhã aquela bandeira. Da<br />
34
Parte I<br />
Capítulo I<br />
cação <strong>se</strong> verifica igualmente no tocante<br />
à perfeição <strong>das</strong> comunicações. E<br />
também no gradual aprimoramento<br />
da sua já exímia capacidade de informar.<br />
Neste <strong>se</strong>ntido, a imprensa, o<br />
rádio e a televisão, todos em contínuo<br />
progresso, <strong>se</strong> completam de maneira a<br />
pôr à disposição do homem uma a<br />
bundância de idéias e de imagens espantosa.<br />
Para informar, impressionar<br />
e persuadir o homem, atingiram es<strong>se</strong>s<br />
meios de comunicação um poder<br />
maior, em muitas circunstâncias, do<br />
Para inf armar, impressionar<br />
e persuadir,<br />
um poder<br />
maior do que os<br />
mais salie111es potentados<br />
do passado<br />
era da cibernética. Pode-<strong>se</strong> supor que<br />
esta última encerre o ciclo <strong>das</strong> grandes<br />
invenções a <strong>se</strong>rviço da Propaganda.<br />
Porém, à vista dos progressos da<br />
chamada transpsicologia, ainda nebulosos,<br />
insólitos e desconcertantes, é<br />
possível que novas formas de comunicação<br />
entre os homens conduzam a<br />
meios de propaganda ainda insuspeitáveis,<br />
ainda mais céleres, mais drásticos.<br />
Em uma palavra, mais terríveis ...<br />
A marcha ascensional que <strong>se</strong> nota<br />
na celeridade dos meios de comuniexuberância<br />
de vida de um verdadeiro povo a<br />
vida <strong>se</strong> difunde, abundante, rica, no Estado e<br />
em todos os <strong>se</strong>us órgãos, infundindo-lhes com<br />
vigor incessantemente renovado a consciência<br />
da própria responsabilidade, o verdadeiro <strong>se</strong>nso<br />
do bem comum. Da f orça elementar da<br />
massa, habilmente manejada e utilizada, o<br />
Estado pode também <strong>se</strong>rvir-<strong>se</strong>: nas mãos ambiciosas<br />
de um só ou de vários que as tendências<br />
egoísticas tenham agrupado artificialmente,<br />
o mesmo Estado pode, com apoio da massa,<br />
reduzida a não mais que uma simples máquina,<br />
impor <strong>se</strong>u arbítrio à parte melhor do<br />
verdadeiro povo: em con<strong>se</strong>qüência, o interes<strong>se</strong><br />
comum fica gra vemente e por largo tempo<br />
atingido e a f erida é bem freqüentemente de<br />
cura difícil" (Radiomensagem de Natal de<br />
1944, Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità<br />
Pio X II, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol.<br />
VI , pp. 238-239).<br />
35
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Poder público e<br />
Propaganda: interação<br />
que o dos mais salientes potentados<br />
do passado. Pois tais meios, sobretudo<br />
<strong>se</strong> conjugados a <strong>se</strong>rviço de uma<br />
mesma idéia, ou de um mesmo interes<strong>se</strong>,<br />
poderp influenciar mais o curso<br />
dos acontecimentos do que um monarca,<br />
um diplomata, um guerreiro,<br />
ou um filósofo.<br />
Tal o poder da Propaganda -<br />
ideológica, política ou simplesmente<br />
comercial - no respectivo campo.<br />
A Propaganda, em caminhada assim<br />
ascensional, produziu uma con<strong>se</strong>qüência<br />
óbvia, para a qual os meios de<br />
comunicação social <strong>pouco</strong> chamam a<br />
atenção, et pour cau<strong>se</strong>.<br />
* * *<br />
Ei-la. Dado que os movimentos<br />
<strong>das</strong> massas marcam hoje em dia os<br />
rumos para as nações, e os meios de<br />
comunicação social marcam os rumos<br />
<strong>das</strong> massas, no mundo contemporâneo<br />
cabe a es<strong>se</strong>s meios uma função<br />
rectrix, a qual, numa curiosa interação,<br />
<strong>se</strong> por um lado pode menos do<br />
que a soberania estatal, por outro lado<br />
pode <strong>muito</strong> mais do que ela. Pois os<br />
potentados da Propaganda exercem<br />
nas mentalidades da ba<strong>se</strong> ou da cúpula<br />
do mundo contemporâneo uma forma<br />
sui generis de poder, a qual tem<br />
algo de um "papado" laico.<br />
R óbvio que a comunicação social<br />
condiciona a fundo o Poder público,<br />
pois que <strong>se</strong> vai tornando cada vez mais<br />
difícil aos políticos galgarem o poder,<br />
exercê-lo e nele <strong>se</strong> manterem <strong>se</strong>m o<br />
apoio da Propaganda. Um ob<strong>se</strong>rvador<br />
acrescentaria que a Propaganda moderna<br />
exerce, além destas, uma forma<br />
de domínio sobre as massas, de natureza<br />
imponderável, incompletamente<br />
estudado, mas profundamente real. É<br />
um certo poder sugestivo e hipnótico,<br />
que va:i <strong>muito</strong> além da ação suasória<br />
da imprensa racionalista dos antigos<br />
tempos.<br />
A inter-relação entre Poder e Propaganda<br />
é óbvia nas democracias, em<br />
que tudo <strong>se</strong> decide por via de votações,<br />
e estas, por sua vez, são condiciona<strong>das</strong><br />
a fundo pela Propaganda.<br />
De outro lado, o Poder público, cada<br />
vez mais "social", e com isto cada vez<br />
mais próximo da onipotência, pode<br />
sujeitar a Propaganda a formas de<br />
pressão múltiplas, às <strong>quais</strong> só heróis e<br />
santos <strong>sabe</strong>m resistir. E estes <strong>se</strong> vão<br />
tornando cada vez mais raros em nosso<br />
mundo massificado (2).<br />
(2) Um exemplo ainda recente: a Mensagem<br />
<strong>das</strong> treze TFPs sobre o socialismo autogestionário<br />
francês, publicada <strong>se</strong>m maior dificuldade<br />
em 56 dentre os principais jornais de<br />
I 8 paí<strong>se</strong>s, não o pôde <strong>se</strong>r na França, ao que<br />
tudo indica, por pressões do governo socialocomunista<br />
- que entretanto procura apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong><br />
como bonachão e de "face humana" -<br />
sobre os <strong>se</strong>is maiores diários de Paris não<br />
36
~<br />
~<br />
~<br />
/<br />
/ ,,.<br />
/. ;<br />
,.,.<br />
.,<br />
A .Propaganda moderna exerce sobre 88 massas um certo poder sugestivo e hipnótico que vai<br />
<strong>muito</strong> além da açlo suasória da imprensa racionalista dos antigo11 tempo .<br />
,,,. ~<br />
-;:.
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A Propag anda<br />
nos regimes totalitários<br />
Capitalis m o e<br />
Propaganda<br />
Mas tais formas de pressão, e outras<br />
ainda, existem também nos regimes<br />
totalitários, nos <strong>quais</strong> o Estado <strong>se</strong><br />
apossa da Propaganda tiranicamente,<br />
e <strong>se</strong> transforma no propagandista de si<br />
mesmo. <strong>As</strong>sim, o póder político de<br />
Hitler foi filho da Propaganda. Mas<br />
ele a confiscou depois em <strong>se</strong>u proveito<br />
próprio. Onipotente para elevá-lo<br />
até às nuvens, a Propaganda teve de<br />
cair de joelhos ante ele, logo que esta<br />
elevação <strong>se</strong> consumou. E ele, desconfiado<br />
ante esta onipotência genuflexa,<br />
resolveu jugulá-la e devorá-la antes<br />
que ela, reerguida de sua episódica<br />
prostração, tomas<strong>se</strong> a iniciativa de<br />
jugular e devorar o monstro que tinha<br />
gerado.<br />
* * *<br />
Claro fica que a Propaganda, <strong>se</strong>mpre<br />
poderosa, raras vezes é autônoma.<br />
Pois, ou está nas mãos da iniciativa<br />
privada, ou do Estado.<br />
No caso concreto do Brasil, detém-na<br />
a iniciativa privada. E graças a<br />
Deus. Pois pior <strong>se</strong>ria que a detives<strong>se</strong> o<br />
Estado.<br />
declaradamente socialistas ou comunistas (cfr.<br />
PuN10 CoRR~A DE OuvEIRA, Na França: o punho<br />
estrangulando a rosa, Comunicado <strong>das</strong><br />
treze Sociedades de Defesa da Tradição, Famíli<br />
a e Propriedade, publicado em 30 jornais de<br />
14 paí<strong>se</strong>s. - Ver "Catolicismo", n. 0 376, abril<br />
de <strong>1982</strong>).<br />
Mas a iniciativa privada, no caso,<br />
existe sob a forma do macrocapitalismo,<br />
pois só a este é dado reunir os<br />
recursos necessários para manter um 1<br />
jornal, uma rádio, ou uma TV, em<br />
proporções de <strong>se</strong>nsibilizar o País inteiro.<br />
E máxime uma cadeia destes sistemas<br />
entrelaçados.<br />
Em con<strong>se</strong>qüência, qua<strong>se</strong> ninguém<br />
<strong>se</strong> pode beneficiar da Propaganda <strong>se</strong>m<br />
o apoio do macrocapitalismo.<br />
Experimentou-o duramente, no período<br />
de 1935 a 1960, o grupo de<br />
amigos do qual haveria de nascer a<br />
TFP. Para ele, todos os jornais estavam<br />
fechados. Se um ou outro con<strong>se</strong>ntia<br />
em publicar alguma notícia por<br />
ele pedida, essa saía qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre com<br />
dimensões e paginação que mais lhe<br />
traziam desprestígio que prestígio. <strong>As</strong><br />
livrarias - dóceis complementos <strong>das</strong><br />
grandes máquinas de propaganda a-<br />
tuais - <strong>se</strong> lhe aceitavam os livros, em<br />
geral <strong>pouco</strong> os expunham, e qua<strong>se</strong> não<br />
os vendiam. Fundada em 1960 a TFP,<br />
só <strong>muito</strong> aos <strong>pouco</strong>s esta situação<br />
sofreu modificação digna de registro,<br />
em alguns raros, e aliás prestigiosos,<br />
órgãos de imprensa.<br />
Dura experiência<br />
da TFP<br />
Mas, ao mesmo tempo, o macrocapitalismo<br />
publicitário, <strong>se</strong>mpre <strong>muito</strong><br />
aberto para to<strong>das</strong> as formas de<br />
propaganda esquerdista, também <strong>se</strong><br />
foi abrindo amplamente para sucessivos<br />
e espetaculares estrondos publicitl<br />
A<br />
38
Pane l<br />
Capitulo I<br />
--<br />
O fenômeno <strong>das</strong> "patrulhas ideológicas" - a denúncia de cuja existência agitou os meios de<br />
comunicação social anos atrás - n o é entretanto um fenômeno novo. Sentiu-lhe as con<strong>se</strong>qüências<br />
jé desde 1936, o grupo de amigos do qual haveria de nascer, em 1960, a TFP. Era como<br />
<strong>se</strong> uma "censura branca" impedis<strong>se</strong> de dar destaque a qualquer noticia sobre ele. Fundada a TFP,<br />
só <strong>muito</strong> aos <strong>pouco</strong>s essa situação sofreu alguma modificação digna de registro.<br />
O contato com a<br />
rua - <strong>As</strong> caravanas<br />
tários contra a TFP. Aos <strong>quais</strong> esta<br />
foi, a liás, resistindo i"mpávida.<br />
Decididamente, o macrocapitalismo<br />
publicitário, grosso modo considerado,<br />
<strong>se</strong> tem mostrado infenso à TFP.<br />
* * *<br />
Então a pergunta inevitavelmente<br />
<strong>se</strong> põe. Quais as possibilidades deste<br />
livro, que já nasce órfão de propaganda?<br />
Essas possibilidades <strong>se</strong>m dúvida<br />
não são tão grandes como de<strong>se</strong>járamos.<br />
Mas, em todo caso, as<strong>se</strong>guram<br />
ao livro uma repercussão <strong>muito</strong> ponderável.<br />
Mostra-o, aliás, a história de<br />
vários deles (3).<br />
(3) Cfr. Meio século de epopéia anticomunista,<br />
Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.ª ed.,<br />
1981.<br />
39
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> nwiw <strong>se</strong>.<strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descre ,·e como são<br />
Versando temas da<br />
mais viva atualidade,<br />
a TFP con<strong>se</strong>gue<br />
interessar<br />
largos <strong>se</strong>tores da<br />
opinião por temas<br />
doutrinários<br />
Os liv ros editados e difundidos<br />
pela TFP têm todos um caráter doutrinário.<br />
Mas os temas sobre que versam<br />
são <strong>se</strong>mpre de viva atualidade.<br />
Pois <strong>se</strong> relacionam com problemas<br />
sucessivamente preponderantes, da<br />
grande cri<strong>se</strong> processiva - a um tempo<br />
religiosa, cultural, social e econômica<br />
- pela qual vão passand o todos os<br />
paí<strong>se</strong>s católicos, nas últimas déca<strong>das</strong>.<br />
E entre eles o mais populoso e mais<br />
extenso, que é o Brasil.<br />
Em virtude dessa atualidade, torna-<strong>se</strong><br />
possível interessar por temas<br />
doutrinários - e de alto porte - os<br />
<strong>se</strong>tores populacionais ha bilitados a deles<br />
tomarem conhecimento, mas que<br />
até aqui a vida contemporânea, terrivelmente<br />
absorvente, manteve afastados<br />
de leituras tais.<br />
<strong>As</strong>sim, a oferta de livros, não ao<br />
público restrito que freq üenta as livrarias,<br />
mas ao grande público que <strong>se</strong><br />
encontra nas praças e vias públicas,<br />
nos locais de trabalho e nas residências,<br />
toma condições de viabil idade.<br />
Foi o que intuiu a TFP quando,<br />
ademais da boa cooperação que lhe<br />
proporcionou em 1960, para o contato<br />
com as livrarias, a empresa distribuidora<br />
Palácio do Livro, enviou caravanas<br />
de sócios e cooperadores a percorrerem<br />
todo o Brasil, oferecendo a obra<br />
Ref arm a Agrária - Questão de Consciência.<br />
Com isto, tornou-<strong>se</strong> o livro,<br />
em <strong>pouco</strong> tempo, um best-<strong>se</strong>ller nacional.<br />
De então para cá, o recurso às<br />
ca rava nas <strong>se</strong> aprimorou na T FP, a<br />
qual fez des<strong>se</strong> método de propaganda,<br />
<strong>As</strong> cara1•anas da<br />
TFP percorrem o<br />
Brasil de pom a a<br />
pomo<br />
Para furar o cerco do macrocapitalismo publicitário e levar a sua voz até os mais recônditos ri ncões<br />
do Pais, a T FP organizou um si stema de caravanas de propagandistas que percorrem constantemente<br />
as imensidões de nosso território, vendendo aa obras da ent idade diretamente ao público.<br />
Dai o enorme sucesso e as grandes t iragens <strong>das</strong> publicações da TFP.<br />
40
Parte I<br />
Recurso eficiente<br />
para furar o bloqueio<br />
do macrocapitalismo<br />
publicitário<br />
Partidos políticos<br />
e <strong>CEBs</strong><br />
o <strong>se</strong>u grande recurso face ao sistemático<br />
cerceamento que sofria do macrocapitalismo<br />
publicitário, afirmando<br />
assim o direito de manifestar <strong>se</strong>u pensamento,<br />
<strong>se</strong>m embargo <strong>das</strong> pressões<br />
dos poderosos, e da limitação de <strong>se</strong>us<br />
recursos financeiros ( 4 ).<br />
Daí, como já foi dito, a <strong>muito</strong><br />
apreciável tiragem <strong>das</strong> obras da<br />
TFP (5).<br />
* * *<br />
No momento em que as atenções<br />
do público <strong>se</strong> vão voltando cada vez<br />
mais para as <strong>CEBs</strong>, num panorama<br />
em que os partidos políticos legais e<br />
(4) <strong>As</strong> caravanas da TFP já percorreram,<br />
desde 1970 (quando tiveram início), 2.629.553<br />
km rodados, o que equivale a 65 voltas em<br />
torno da Terra, ou a qua<strong>se</strong> quatro viagens de<br />
ida e volta à Lua! No contato direto com o<br />
público em 14.142 visitas a cidades de porte<br />
grande, médio ou pequeno de todo o território<br />
nacional, foram vendidos pelos propagandistas<br />
da TFP cerca de 4.500.000 exemplares<br />
<strong>das</strong> diversas publicações edita<strong>das</strong> ou patrocina<strong>das</strong><br />
pela entidade.<br />
(5) Entre as páginas desve volume, o leitor<br />
encontrará a relação <strong>das</strong> obras difundi<strong>das</strong> pela<br />
TFP, com o respectivo número de edições e<br />
tiragens. Estas são impressionantes, da<strong>das</strong> as<br />
circunstâncias de nosso País de tão e tão<br />
poucas livrarias, no qual, excetua<strong>das</strong> as obras<br />
didáticas, os livros de que <strong>se</strong> tirem mais de 5<br />
mil exemplares são considerados como <strong>muito</strong><br />
difundidos.<br />
ilegais deixam ver <strong>se</strong>mpre mais a exigüidade<br />
de sua estatura e de <strong>se</strong>u sopro<br />
vital, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
estão <strong>se</strong>ndo vistas por crescente<br />
número de brasileiros como a potência<br />
eleitoral emergente, que nos grandes<br />
prélios deste ano dará rumo aos<br />
destinos do Brasil.<br />
<strong>As</strong>sim, é de esperar que considerável<br />
número de brasileiros <strong>se</strong> empenhe<br />
em <strong>sabe</strong>r o que são essas organizações.<br />
Para informá-los, os autores da<br />
Parte II do pre<strong>se</strong>nte livro foram colher<br />
os dados esclarecedores, por assim<br />
dizer dos próprios lábios delas, isto é,<br />
dos escritos em que elas <strong>se</strong> autodefinem<br />
para <strong>se</strong>us aderentes e para o<br />
público. Esta é, de longe, a principal<br />
fonte de suas informações. Completam-nas<br />
notícias de jornais e revistas<br />
inteiramente insuspeitos de distorcer<br />
os fatos em detrimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. E<br />
tudo isto de tal sorte que, a queixar-<strong>se</strong><br />
alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> do que<br />
aqui vem dito, poderiam os autores<br />
responder, com as palavras da Escritura:<br />
"De ore tua te judico: julgo-te<br />
<strong>se</strong>gundo as palavras de tua boca" (Lc.<br />
XIX, 22).<br />
Entidade es<strong>se</strong>ncialmente extrapartidária,<br />
de nenhum modo pretende<br />
a TFP favorecer ou combater, com<br />
este livro, qualquer partido ou grupo<br />
político. Pelo contrário, a todos ela<br />
presta indiscriminadamente <strong>se</strong>rviço<br />
quando os ajuda a conhecer com quem<br />
Capítulo /<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>: julga<strong>das</strong><br />
pelas palavras<br />
que elas m esmas<br />
proferem<br />
A atuação da TFP<br />
não tem qualquer<br />
intuito p olíticopartidário<br />
41
<strong>As</strong> C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
<strong>As</strong> operações "pega-fazendeiro"<br />
-<br />
"peg(J-parrão" -<br />
"pega-locador"<br />
<strong>se</strong> aliam, <strong>se</strong> <strong>se</strong> apoiarem nas <strong>CEBs</strong>, e a<br />
quem combatem, caso <strong>se</strong> coloquem na<br />
liça em campo oposto ao delas. E,<br />
talvez, o <strong>se</strong>rviço mais assinalado ela o<br />
preste a es<strong>se</strong>s eventuais aliados <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>. Pois em política, como em<br />
qualquer outro terreno, não raras vezes<br />
as alianças feitas <strong>se</strong>m as informações<br />
necessárias prejudicam a prazo<br />
médio ou longo - quando não a<br />
prazo imediato - mais do que <strong>muito</strong><br />
golpe rude do adversário. Mostra-o<br />
especialmente a História <strong>das</strong> grandes<br />
Revoluções.<br />
* * *<br />
E é uma verdadeira Revolução (no<br />
<strong>se</strong>ntido lato da palavra), com sérias<br />
possioilidades de <strong>se</strong> tornar <strong>muito</strong> grande,<br />
que as <strong>CEBs</strong> preparam. Já começam<br />
a ecoar nas profundidades de<br />
nossos <strong>se</strong>rtões os brados-slogans "pega-fazendeiro"<br />
( cfr. Parte II, Cap.<br />
111, 6). Está na linha de pensamento<br />
e de ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como na.<br />
linha de <strong>se</strong>u dinamismo "místico" e<br />
xasperado, que a es<strong>se</strong>s brados <strong>se</strong> sigam<br />
ou <strong>se</strong> juntem, dentro de não<br />
<strong>muito</strong> tempo, os de "pega-patrão",<br />
"pega-patroa", "pega-locador", "pegadirigente".<br />
"Pega", enfim, todo mundo<br />
que agora dorme indolente um<br />
letargo profundo, embalado alternativamente<br />
pelo desalento e pelo otimismo.<br />
Segundo a doutrina da Igreja, a condição de<br />
freira, esposa de Jesus Cristo, é superior à da<br />
esposa e mie de familia. Nlo assim para as<br />
<strong>CEBs</strong>, que vêem com maus olhos o papel da<br />
freira tradicional. e preferem a freira guerrilheira,<br />
que pega o fuzil para participar de lutas<br />
de "libertação nacional", como na revolução<br />
sandiniste da Nicarágua.<br />
42
Parte I<br />
Capítulo I<br />
A s <strong>CEBs</strong> também<br />
atacam a família<br />
Aliás, não é só a propriedade que é<br />
duramente atacada pelas Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, mas também a instituição<br />
da família. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, como fica demonstrado<br />
na Parte II deste trabalho,<br />
subvertem a fundo esta instituição, e<br />
tendem à supressão dela por inutilidade.<br />
Com efeito, as <strong>CEBs</strong> proclamam<br />
como excelsa a missão que pode ter<br />
a prostituta ( cfr. Parte II, Cap.<br />
II, 2), superior até à da freira. Ora,<br />
<strong>se</strong> de um ladó a condição de freira,<br />
<strong>se</strong>gundo a doutrina da Igreja, é superior<br />
até a da esposa e mãe de família,<br />
e de outro lado a "oblação"que a mulher<br />
perdida faz de si mesma é mais completa<br />
que a <strong>das</strong> Religiosas, ela fica ipso<br />
facto num plano superior ao da mãe<br />
de família.<br />
Esta conclusão, contrária ao <strong>se</strong>nso<br />
moral de todos os povos, em todos os<br />
séculos, <strong>se</strong> coaduna bem com a doutrina<br />
socialista. Pois <strong>se</strong>, do ponto de<br />
vista do socialismo, a prostituta <strong>se</strong>rve<br />
à coletividade, ela é por assim dizer<br />
um patrimônio de todos. A esposa é<br />
ao mesmo tempo "proprietária" e<br />
"propriedade" do esposo. Ela constitui<br />
o bem, não da coletividade, mas<br />
tão-só de um indivíduo. E, como tal,<br />
deve desaparecer no mundo coletivista.<br />
Quiçá, quando estiverem <strong>se</strong>ndo de<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong><br />
as operações "pega-fazendeiro",<br />
"pega-patrão" etc., o Brasil<br />
ainda <strong>se</strong>ja forçado a pre<strong>se</strong>nciar a operação,<br />
quão mais censurável, "pegaespqsa".<br />
E é contra esta imensa e espantosa<br />
Revolução que o pre<strong>se</strong>nte livro previne.<br />
Dep ois da operaç<br />
ã o "" p ega-fa <br />
zendeiro", a operação<br />
'"pega-esposa<br />
".?<br />
43
,.,,<br />
l<br />
·Capítulo II t ~ \ - 1<br />
- -<br />
...
A CNBB<br />
A CONFERBNCIA Nacional<br />
dos Bispos do Brasil<br />
(CNBB), órgão instituído pela Santa<br />
Sé, no ano de 1952 - talvez como<br />
prenúncio <strong>das</strong> tendências à colegialidade,<br />
tãÓ pronuncia<strong>das</strong> no Concílio<br />
Vaticano II (1962-1965) - tem por<br />
fim coligar em todo o território nacio-<br />
nal a ação dos Bispos diocesanos (em<br />
número de 233) e dos respectivos Bispos<br />
Coadjutores e Auxiliares em exercício<br />
(ao todo 55), bem como dos três<br />
Ordinários para os -fiéis de Ritos O-<br />
rientais (dados do Diretório Litúrgico<br />
de <strong>1982</strong>). Também fazem parte integrante<br />
da CNBB os 62 Bispos resignatários<br />
residentes no País, totalizando<br />
assim 353 Bispos com direito a voz e<br />
voto no organismo episcopal ( 1 ).<br />
Promove a CNBB uma imensa<br />
transformação soc10-econômica de<br />
<strong>se</strong>ntido <strong>muito</strong> marcadamente esquerdista.<br />
Constituem pontos capitais dessa<br />
reforma, a <strong>muito</strong>s títulos inquestionavelmente<br />
revolucionária, uma re-<br />
Sua obra revolucionária:<br />
as reformas<br />
( 1) Os Bispos resignatários só não podem<br />
votar nas deliberações de que <strong>se</strong> origine obrigação<br />
jurídica (c~r. Estatutos da Con_ferênéia<br />
Nacional dos Bispos do Bras1l, artigos 2. 0<br />
e 10).<br />
. (2) Cfr. PuN10 CoRRtA DE OuvEIRA E<br />
CARLOS PATR1c10 DEL CAMPO, Sou católico:<br />
posso <strong>se</strong>r contra a Reformá Agrária?, Editora<br />
Vera Cruz, São Paulo, terceira edição, página<br />
91.<br />
(3) Cfr. PuN10 CoRHA DE OuvEIRA E CAR<br />
LOS PATR1c10 DEL CAMPO, Sou Católico: posso<br />
<strong>se</strong>r contra a Reforma Agrária?, Editora Vera<br />
Cruz, São Paulo, 3.ª ed ., p. 109.<br />
(4) É o que declara enfaticamente o Sr.<br />
Cardeal D. Vicente Scherer, antigo Arcebispo<br />
de Porto Alegre:<br />
"Os grandes proprietários, proclamamo-lo<br />
<strong>se</strong>m cessar, devem conformar-<strong>se</strong> com a redução<br />
dos <strong>se</strong>us haveres. A dis<strong>se</strong>minação da pro-<br />
46
Dobre de finados<br />
para a clas<strong>se</strong> dos<br />
fazendeiros ...<br />
modelação da estrutura fundiária rural<br />
do País. Tal remodelação tende,<br />
em última análi<strong>se</strong>, à divisão de to<strong>das</strong><br />
as propriedades rurais grandes e médias<br />
em propriedades com dimensão<br />
suficiente para que cada uma <strong>se</strong>ja<br />
integralmente trabalhada pelas mãos<br />
do respectivo proprietário e de sua<br />
família, no máximo com o auxílio<br />
estritamente esporádico de algum coadjuvante<br />
efêmero (2). O que importa<br />
num dobre de finados para a clas<strong>se</strong><br />
dos fazendeiros.<br />
Tanto mais que estes receberão, na<br />
melhor hipóte<strong>se</strong>, uma indenização nitidamente<br />
inferior ao pre<strong>se</strong>nte valor<br />
venal de suas propriedades (3), com<br />
o que terão de aceitar a degradação<br />
(no <strong>se</strong>ntido etimológico do termo) social<br />
con<strong>se</strong>qüente (4).<br />
A CNBB promete engajar-<strong>se</strong> também<br />
em uma reforma fundiária urbana<br />
que, a <strong>se</strong>r logicamente deduzida<br />
dos princípios norteadores da Reforma<br />
Agrária, deve abrir campo para<br />
duas medi<strong>das</strong> es<strong>se</strong>nciais: a extinção do<br />
. . . da clas<strong>se</strong> dos<br />
p roprie1áriosde<br />
imóveis urbanos<br />
priedade é um postulado fundamental de uma<br />
ordem social aceitável e justa" ("Correio do<br />
Povo", Porto Alegre, 3-1-62).<br />
"No <strong>se</strong>tor rural, entre as formas de distribuição<br />
da propriedade está em primeiro<br />
lugar a reforma agrária. . . . . Se nas desapropriações<br />
na ref arma agrária a compensação <strong>se</strong><br />
faz pelo valor real, em <strong>se</strong> tratando de latifúndios,<br />
continuará a mesma desigualdade de<br />
fortuna e ela <strong>se</strong> estenderá a outro <strong>se</strong>tor.fora do<br />
agrário, pela inversão do preço fabuloso obti-<br />
do em propriedades imobiliárias urbanas"<br />
("Correio do Povo", 12-11-68).<br />
O ilustre Purpurado, note-<strong>se</strong>, é uma <strong>das</strong><br />
figuras do Episcopado mais freqüentemente<br />
apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> como moderado. Muitos de <strong>se</strong>us<br />
admiradores timbram até em lhe dar o qu'!llificativo<br />
de "direitista", indefensável à vista<br />
destes e de outros textos do Prelado.<br />
Se essa é a moderação nas fileiras da<br />
CNBB, o leitor bem pode ver o que nela é o<br />
extremismo.<br />
47
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
inquilinato, em favor dos locatários<br />
transformados em proprietários dos<br />
espaços que ocupam, e uma redistribuição<br />
do espaço, de sorte que cada<br />
pessoa, empresa ou família, só ocupe a<br />
área arbitrada como vitalmente necessária<br />
pela repartição pública encarregada.<br />
De maneira que haja área construída<br />
suficiente para todos (5).<br />
.. . da clas<strong>se</strong> dos Não é difícil entrever que a CNBB<br />
empresários preconize ainda uma reforma empre-<br />
sarial análoga às reformas agrária e<br />
urbana que pleiteia.<br />
* * *<br />
Ü quadro que assim <strong>se</strong> patenteia<br />
aos olhos dos brasileiros causa espan- três Poderes ?.,<br />
to. Pois ele nos desvenda a situação de<br />
um Estado declarado implicitamente<br />
em situação de minoridade pela CN-<br />
BB. Isto é, de carência de <strong>sabe</strong>doria,<br />
M inoridade d os<br />
(5) No documento Igreja e problemas da<br />
terra, aprovado pela 18.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da<br />
CNBB, em 1980, o órgão episcopal tratava de<br />
modo específico da Reforma Agrária, e prometia<br />
para breve um outro estudo consagrado<br />
especialmente ao solo urbano. Entretanto, na<br />
19.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral, realizada em fe ve reiro<br />
de 198 1 ( quando <strong>se</strong> achava no prelo , pronto<br />
para sair, o livro Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra<br />
a Reforma Agrária?), o tema não foi tratado.<br />
Debateu-o a 20.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia, de 9 a 18 de<br />
fevereiro de <strong>1982</strong>, confirmando inteiramente<br />
os receios aqui enunciados e já manifestados<br />
no livro supra-citado (p. 100).<br />
O documento Solo urbano e ação pastoral<br />
(Coleção Documentos da CNBB, n. 0 23, Edições<br />
Paulinas, São Paulo, <strong>1982</strong>, 48 pp.), aprovado<br />
pelos Bispos brasileiros nessa ocasião,<br />
relativiza ao máximo o direito de propriedade,<br />
pondo em xeque o próprio título jurídico<br />
legítimo de propriedade e tentando justificar as<br />
ocupações e mes mo as invasões de terras: " No<br />
caso de muitas ocupações lentas e até nas<br />
'invasões', o título legítimo de propriedade,<br />
derivado e <strong>se</strong>cundário, deve <strong>se</strong>r j ulgado diante<br />
do direito fundamental e primário de morar,<br />
decorrente <strong>das</strong> necessidades vitais <strong>das</strong> pessoas<br />
humanas" (doe. cit., n. 0 79) . Ê <strong>muito</strong> significativo<br />
que o documento da CNBB ponha<br />
aspas na palavra "in vasões", como <strong>se</strong> não<br />
fos<strong>se</strong>m de fato in vasões! Sobre o que pe nsar<br />
destas, ver Parte II, Cap. III, 8.<br />
E, adiante, o documento continua: "Tendo<br />
pre<strong>se</strong>nte a lição de João Paulo li, <strong>se</strong>gundo [sic]<br />
a qual sobre toda propriedade particular pesa<br />
uma hipoteca social, concluimos que o direit o<br />
natural à moradia tem primazia sobre a lei<br />
positiva que preside à apropriação do solo.<br />
Apenas um título jurídico sobre uma propriedade<br />
não pode <strong>se</strong>r um valor absoluto, acima<br />
<strong>das</strong> necessidades humanas de pessoas que não<br />
têm onde instalar <strong>se</strong>u lar" (doe. cit. , n.º 84).<br />
Falar de falta de lugar para <strong>se</strong> instalar num<br />
país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados,<br />
60% dos <strong>quais</strong> inteiramente desocupados<br />
(terras devolutas), é realmente assombroso!<br />
Quanto tal relativização do direito de propriedade<br />
discrepa da doutrina tradicional da<br />
Igreja, é fácil ve r comparando-<strong>se</strong> com os bem<br />
conhecidos textos pontifícios sobre a matéria<br />
(cfr. PuN10 CoRR!'.A DE OuvEIRA E CARLOS PA<br />
TR1c 10 DEL CAMPO, Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra<br />
a Reforma Agrária?, Editora Vera Cruz,<br />
48
Parte I<br />
Capítulo li<br />
Reunidos em ltaici, em fevereiro deste ano, os Bispos aprovam o documento Solo urbano e ação<br />
pastoral. que preconiza uma Reforma Urbana, irmã gêmea da Reforma Agréria socialista e<br />
confiscatória pleiteada no documento Igreja e problemas da terra.<br />
São Paulo, 3. ª cd., 198 1, pp. 156- 160; 180- 182).<br />
Mas o documento da CNBB, citando a<br />
Gaudium et Spes (n. 0 69), chega ao ponto de<br />
invocar o princípio de extrema necessid ade<br />
para as "pessoas que não têm onde instalar <strong>se</strong>u<br />
lar ": "Aquele, porém, que <strong>se</strong> encontrar em<br />
extrema necessidade, tem direito a tomar, dos<br />
bens dos outros, o que necessita" (doe. cit.,<br />
n. 0 83).<br />
Por isso, é preciso fazer "uma reforma urbana<br />
que leve a cidade à condição de um espaço<br />
de convivência solidária" (doe. cit., n. 0 99).<br />
O documento, entretanto, embora sugira<br />
uma série de med i<strong>das</strong> a curto prazo (tópicos<br />
119 a 130) não delineia os contornos concretos<br />
dessa Reforma Urba na. Mas ao constatar<br />
que ela "esbarra em diversos obstáculos jurídicos"<br />
(doe. cit., n. 0 99), preconiza um "Estatuto<br />
do Solo Urbano" símile do "Estatuto da<br />
Terra", cujo caráter socialista e confiscatório<br />
foi oportunamente denunciado · pela TFP ( cfr.<br />
Manifesto ao povo brasileiro sobre a Reforma<br />
Agrária, de 24 de dezembro de 1964, in Sou<br />
católico: posso <strong>se</strong>r contra a Reforma Agrária ?,<br />
pp. 239-244).<br />
Ao fazer es<strong>se</strong> precônio, o documento da<br />
CNBB <strong>se</strong> insurge até contra as atuais decisões<br />
da Magistratura, que continua aplica ndo o<br />
Código Civil promulgado em 1916: "De fato,<br />
nossa legislação que regula a pos<strong>se</strong> e uso do<br />
solo urbano revela uma profunda inadequação<br />
à realidade atual, inadequação ba<strong>se</strong>ada nwria<br />
superada. concepção do direito de propriedade,<br />
concepção privatista de um direito absoluto<br />
<strong>se</strong>m nenhuma responsabilidade social. É a<br />
concepção de nosso Código Civil, promulgado<br />
em 1916, quando o Brasil não chegava a ter 5<br />
milhões de pessoas como população urbana,<br />
mas concepção que predomina ainda nas decisões<br />
de nossa Magistratura, mesmo quando a<br />
própria Constituição de 1969 confirmou o<br />
principio da função social da propriedade (art.<br />
49
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A mesa que presidiu a 20.• <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral da CNBB. em ltaici: D . Ivo Lorscheiter (centro). D.<br />
Clemente J. Carlos lsnard (esquerda). D . Luciano Mendes de Almeida (direita), respectivamente<br />
Presidente, Vice-Presidente e Secretário do organismo episcopal.<br />
160. Ili). Tal princípio, entretanto. que de<br />
certo modo foi explicitado na elaboração de<br />
um Estatuto da Terra Rural. paradoxalmente,<br />
num país que <strong>se</strong> urbaniza rapidamente, não<br />
levou ainda à promulgação de um Estatuto do<br />
Solo Urbano, que consta <strong>se</strong>r objeto de um<br />
projeto do governo" (doe. cit., n. 0 100).<br />
Se isto não <strong>se</strong> fizer, o documento acena<br />
com a revolução social: "A aceleração do<br />
processo de urbanização está transferindo para<br />
a cidade uma carga conflitual, que poderá<br />
assumir as dimensões de uma confrontação<br />
entre os <strong>muito</strong>s que têm <strong>pouco</strong> a perder e os<br />
<strong>pouco</strong>s que têm <strong>muito</strong> a perder" (doe. cit., n. º<br />
113). "Recusar-<strong>se</strong> ao trabalho por essas reformas,<br />
capazes de conduzir a uma mudança<br />
global da sociedade, significa, na prática, provocar<br />
a radicalização do processo de mudança"<br />
(doe. cit., n. 0 115).<br />
Mas não <strong>se</strong> pen<strong>se</strong> que os Bispos brasileiros<br />
que aprovaram o documento contentar-<strong>se</strong>-ão<br />
com meras refo rmas. Eles querem uma mudança<br />
global do sistema sócio-político-económico<br />
vigente: "A implementação <strong>das</strong> reformas<br />
necessárias não deve induzir à ilusão de que<br />
estas <strong>se</strong>jam suficientes. Para eliminar a situação<br />
de injustiça estrutural, importa visar a<br />
novos m odelos de organização da cidade, o<br />
que exige, por sua vez, mudança do m odelo<br />
sócio-político-econômico vigente" ( doe. cit.,<br />
n. 0 116).<br />
Qual é o sistema que os Bispos propõem<br />
para <strong>se</strong>r instaurado no lugar do atual? O documento<br />
não o diz. Será talvez um meio termo<br />
entre o sistema capitalista ocidental e o sistema<br />
comunista soviético. O socialismo autogestionário<br />
a pregoado por M itterrand, por exemplo<br />
... (cfr. Parte II, Cap. IV, 1 e 2).<br />
50
Parre I<br />
Capiwlo li<br />
Uma objeção em<br />
favor da CNBB<br />
de força e de poder para tomar conhecimento<br />
de <strong>se</strong>us próprios problemas,<br />
encontrar-lhes a solução e, por fim,<br />
resolvê-los efetivamente. Por isto, à<br />
CNBB caberia supletivamente fazê-lo.<br />
- "Fazê-lo"? Não haverá exagero<br />
na afirmação, uma vez que a CNBB<br />
não pretende impor a Reforma Agrária<br />
ex auctoritate propria, mas apela,<br />
pelo contrário, para os três Poderes<br />
do Estado, a fim de que a implantem?<br />
Onde então a usurpação de poderes<br />
que o órgão eclesiástico nacional por<br />
excelência estaria tendendo a praticar<br />
em relação ao Estado? Em que fica<br />
cerceado pela CNBB o exercício pleno.<br />
<strong>das</strong> atribuições conferi<strong>das</strong> pela Constii:uição<br />
aos três Poderes da Repú-<br />
blica, a <strong>sabe</strong>r, o Executivo, o Legislativo<br />
e o Judiciário?<br />
Na ordem da mera especulação<br />
jurídica, nada há que objetar a tal.<br />
Mas a ordem jurídica não contém em<br />
si toda a realidade dos fatos .<br />
Um exemplo, aliás apenas incompletamente<br />
adequado, o deixa ver<br />
bem. O poder dos órgãos de comunicação<br />
social sobre a opinião pública<br />
- proclamada como soberana pelos<br />
Estados modernos - é tal, que lhes<br />
confere uma larga participação na fixação<br />
dos rumos do país. Por isso,<br />
tomados em <strong>se</strong>u conjunto, têm eles<br />
sido cognominados, talvez não <strong>se</strong>m<br />
algum exagero, o IV Poder (6). Mas<br />
em tal designação é fácil perceber que<br />
O IV Poder: os<br />
Meios de Comunicação<br />
Social<br />
(6) Quem, parece, lançou no Brasi l a expressão<br />
foi o grande pensador católico Carlos<br />
de Laet, Presidente da Academia Brasileira de<br />
Letras, em conferência feita no dia 8 de maio<br />
de 1902, no Círculo Católico da Mocidade do<br />
Rio de Janeiro:<br />
"Tirania da imprensa! Sim, tirania da imprensa<br />
... Agora está lan çaâa a palavra, le mot<br />
est lancé ... Nescit vox missa reverti, não volta<br />
atrás o que já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, e remédio não tenho<br />
<strong>se</strong>não justificar a minha te<strong>se</strong>.<br />
Senhores, uma <strong>das</strong> grandes singularidades<br />
dos tempos atuais, é que os povos vivem a<br />
combater fantasmas de tiranias, e indiferentes<br />
às tiranias verdadeiras. <strong>As</strong> revoluções derribam<br />
m onarcas, que às vezes são magnânimos<br />
pastores de povos. Antigamente cortavam-lhes<br />
as cabeças, mas hoje nem <strong>se</strong>quer essa honra<br />
lhes fazem : contentam-<strong>se</strong> com despedi-los, fa-<br />
zam-nos embarcar a desoras, porque <strong>sabe</strong>m<br />
que já p oucos são os reis cônscios da sua<br />
missão providencial e do <strong>se</strong>u dever de resistência<br />
... Por outro lado, apregoa-<strong>se</strong> a tirania<br />
do capital; e, adversa a todo capitalista e a<br />
cada empresário, está uma turba fremente<br />
prestes a tumultuar, quando julga menoscabados<br />
os <strong>se</strong>us direitos ... E todavia, <strong>se</strong>nhores, o<br />
povo ainda não compreendeu que uma <strong>das</strong><br />
maiores tiranias que o conculcam é a da<br />
imprensa; e, longe de compreendê-lo. antes a<br />
reputa uma salvaguarda dos <strong>se</strong>us interes<strong>se</strong>s e a<br />
vindicatriz dos <strong>se</strong>us direitos. É contra este<br />
sofisma que ora me insurjo.<br />
Que é tirania, <strong>se</strong>nhores? Omnis definitio<br />
periculosa, diziam os escolásticos; mas creio<br />
não errar definindo tirania - o indebito e<br />
opressivo poder exercido por um, ou por<br />
<strong>pouco</strong>s, contra a grande maioria dos <strong>se</strong>us<br />
51
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A CNBB. o v Poder<br />
a parte da realidade, apanhada com<br />
viveza e agilmente expressa, é <strong>muito</strong><br />
maior do que a parte do exagero.<br />
Pode-<strong>se</strong> dizer que, a <strong>se</strong>u modo,<br />
existe incontestavelmente o IV Poder.<br />
A <strong>se</strong>u modo, também, a CNBB <strong>se</strong><br />
vai erigindo em um V Poder. Em<br />
razão do profundo espírito de fé reinante<br />
na imensa maioria dos brasileiros,<br />
do papel moderado, mas legítimo,<br />
exercido pela Igreja ao longo de toda<br />
a História do País, do enorme embasamento<br />
de instituições dos mais variados<br />
gêneros, bem como dos <strong>muito</strong>s<br />
haveres de que a Igreja dispõe, exerce<br />
ela sobre a opinião pública uma influência<br />
capaz de disputar galhardamente<br />
a primazia aos Meios de Comunicação<br />
Social. E, conforme <strong>se</strong>jam as<br />
circunstâncias, de lhes tomar vitoriosamente<br />
a dianteira.<br />
Nessas condições, desde que ela<br />
queira pesar de modo preponderante<br />
na fixação dos rumos nacionais, tem<br />
ela meios para fazê-lo. Ou, pelo menos,<br />
para tentar fazê-lo com fortes<br />
probabilidades de êxito.<br />
Isto, que é tão óbvio, ainda <strong>se</strong><br />
acentua, nos dias que passam, em<br />
virtude de uma circu·nstância que, por<br />
certo, atrairá fortemente a atenção<br />
dos futuros historiadores, <strong>se</strong> bem que<br />
pareça passar hoje mais ou menos<br />
despercebida às diversas elites tão profundamente<br />
postas em letargia.<br />
Tal circunstância consiste em que,<br />
por coincidência que não <strong>se</strong>ria fácil<br />
explicar, o IV Poder - o dos Meios<br />
de Comunicação Social - em última<br />
análi<strong>se</strong> passa por uma fa<strong>se</strong> de unanimidade<br />
impressionante. De modo geral,<br />
os impulsos dados à Nação pelos<br />
<strong>se</strong>us componentes sopram no mesmo<br />
<strong>se</strong>ntido. Se entre eles há variantes de<br />
matiz, estas habitualmente não redundam<br />
em polêmica tão rija e profunda<br />
que prejudique a convergência de todos<br />
numa mesma direção. Essa ob<strong>se</strong>r-<br />
Quandoo JVeo v<br />
Poder coincidem<br />
conterrâneos. Ora, esta definição maravilhosamente<br />
quadra ao chamado poder da imprensa.<br />
Sim, ela é o poder de <strong>pouco</strong>s sobre a massa<br />
popular. Contai o número imenso de homens<br />
que não figuram, que não podem figurar na<br />
imprensa, uns porque lhes faltam aptidões,<br />
outros por negação a es<strong>se</strong> gênero de atividade,<br />
outros porque não têm dinheiro ou relações que<br />
lhes abram as portas dos jornais; contai, por<br />
outra parte, o minguado número de jornalistas,<br />
- e dizei-me <strong>se</strong> não <strong>se</strong> trata de uma<br />
verdadeira oligarquia, do temeroso predomínio<br />
de um pugilo, de um grupinhq de hoinens<br />
sobre a qua<strong>se</strong> totalidade dos <strong>se</strong>us concidadãos.<br />
E que poder exerce es<strong>se</strong> grupo minúsculo?<br />
Enorme.<br />
A imprensa pode, efetivamente, influir no<br />
governo de um país, constituindo aquilo que já<br />
<strong>se</strong> chamou - o quarto poder do Estado " ( O<br />
frade estrangeiro e outros escritos, Edição da<br />
Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.<br />
1953, pp. 80-81).<br />
52
Parte I<br />
Capitulo ••<br />
vação poucas exceções teria a registrar.<br />
É certo que, nesta caminhada em<br />
conjunto, nem todos estão a igual<br />
distância da meta última. Enquanto<br />
nenhum - ou qua<strong>se</strong> tanto - faz<br />
oposição proporcionadamente afincada<br />
à contínua hipertrofia dos poderes<br />
do Estado, e <strong>muito</strong>s pelo contrário a<br />
favorecem, apenas alguns <strong>pouco</strong>s <strong>se</strong><br />
dizem de quando em vez anti-socialistas.<br />
Mas como o termo "socialismo"<br />
é dos mais ambíguos do vocabulário<br />
científico como do político, esta posição<br />
não impede que es<strong>se</strong>s mesmos órgãos<br />
fomentem, de um ou outro modo,<br />
a invasão contínua dos poderes do<br />
Estado na esfera privada. De onde<br />
decorre que vem <strong>se</strong>ndo deploravelmente<br />
insuficiente sua oposição a es<strong>se</strong><br />
fenômeno, o qual - <strong>muito</strong> notadamente<br />
a partir da Presidência do General<br />
Ernesto Gei<strong>se</strong>l - tomou proporções<br />
alarmantes (7).<br />
Ora, ruma genericamente no mesmo<br />
<strong>se</strong>ntido a CNBB, isto é, o V Poder.<br />
Os Meios de Comunicação Social têm sido<br />
denominados, talvez nlio <strong>se</strong>m algum exagero. o<br />
IV Poder, devido à sua capacidade de impressionar<br />
a opiniilo pública e assim influir sobre os<br />
destinos do Pais. Mas é fácil perceber que, em<br />
tal designação. a parte de realidade. apanhada<br />
coni viveza e agilmente expressa. é <strong>muito</strong> maior<br />
que a parte de exagero.<br />
(7) Em outubro de 1979, o Governo do<br />
General Figueiredo criou a Secretaria de Controle<br />
<strong>das</strong> Empresas Estatais (SEST), dependente<br />
da Secretaria do Planejamento. O objetivo<br />
da SEST era fazer um levantamento do<br />
complexo <strong>das</strong> empresas dÓ Estado e proceder a<br />
um efetivo controle dos respectivos orçamentos<br />
e planos de de<strong>se</strong>nvolvimento.<br />
Posteriormente, em julho de 1981, a Presidência<br />
da República baixou um decreto constituindo<br />
urna Comissão Ministerial para estu-<br />
53
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Parte l<br />
Capítulo li<br />
Pressão de cúpula<br />
do I V e do V Poder<br />
Pressão de ba<strong>se</strong><br />
algum modo <strong>se</strong> pode dizer que tudo os<br />
une, nada os <strong>se</strong>para (8).<br />
• • •<br />
Diante dessa impressionante coligação<br />
dos Poderes extra-oficiais mas<br />
efetivos, a pressão de cúpula sobre os<br />
três Poderes oficiais tem condições de<br />
êxito óbvias.<br />
A coligação de esforços do IV e V<br />
Poderes entrou por <strong>muito</strong> na produção<br />
do declínio da influência militar<br />
na V República, iniciada em 1964, e<br />
sobre a qual as eleições de novembro<br />
deste ano dirão <strong>se</strong> continuará a existir.<br />
Estas ob<strong>se</strong>rvações não incluem a<br />
plauso nem censura. São mera constatação<br />
dos fatos. Introduzido o Brasil nas<br />
vias da abertura, e restaurado em qua<strong>se</strong><br />
toda a sua amplitude o poder do<br />
voto popular, competia aos Poderes<br />
extra-oficiais completar sua ação por<br />
meio de uma pressão de ba<strong>se</strong>. O IV<br />
Poder tem feito o possível para <strong>se</strong><br />
expandir, e assim <strong>se</strong> capacitar para<br />
realizar sua parte da tarefa. Mas, cumpre<br />
registrar, <strong>pouco</strong> está a <strong>se</strong>u alcance<br />
fazer ainda, para crescer nesta direção.<br />
Pelo contrário, ao V Poder sobravam<br />
<strong>muito</strong>s meios de expandir-<strong>se</strong>, a<br />
fim de agir sobre a opinião pública, e<br />
por meio desta sobre o eleitorado.<br />
Com o que realizaria, já agora de<br />
baixo para cima, sua pressão de ba<strong>se</strong><br />
sobre os três Poderes oficiais.<br />
O grande instrumento que vai <strong>se</strong>ndo<br />
posto em prática pela CNBB para<br />
isto são as Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>.<br />
* * *<br />
Diante de tão clara intervenção da<br />
CNBB em assuntos de competência<br />
(8) Não vai nesta ·descrição da pre<strong>se</strong>nte<br />
atitude do IV e V Poderes qualquer animadversão<br />
para com os Meios de Comunicação<br />
Social ou a CNBB enquanto tais. Vai, isto sim ,<br />
a manifestação de um profundo desacordo<br />
com os rumos que, consid erados em bl oco, e<br />
salvas ce rtas exceções, um e outro Poder vão<br />
<strong>se</strong>guindo no cumprimento de suas altas missões.<br />
Es<strong>se</strong> desacordo, aqui expresso em linguagem<br />
<strong>se</strong>rena e cortês, está ba<strong>se</strong>ado numa ob<strong>se</strong>r<br />
·vação desinteressada e cristã da realidade nacional.<br />
E, ademais, <strong>se</strong> apóia em documentação<br />
opulenta, no que diga res peito às <strong>CEBs</strong>. Des<strong>se</strong><br />
modo, este livro não fa z <strong>se</strong>não ajudar o IV e o V<br />
Poder a verem a realidade.<br />
Caso um ou outro Poder <strong>se</strong> molestas<strong>se</strong> com<br />
quanto aqui fica dito, empreendend o, por e<br />
xemplo, alguma campanha difamatória como<br />
vindita contra a TFP, deixaria pairar dúvid as<br />
sobre a autenticidade <strong>das</strong> co nvicções liberais e<br />
ecumênicas de que <strong>se</strong> desvanece. Pois o exercício<br />
do direito de discordar tem sid o o /eitm<br />
otiv de grande número de pronunciamentos<br />
de um e outro nos últimos anos. E <strong>se</strong>ria<br />
pasmoso que negas<strong>se</strong>m es<strong>se</strong> direito quando <strong>se</strong><br />
trata de discordar deles ...<br />
55
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
V<br />
Abandonando sua esfera própria que consiste<br />
em ensinar, governar e santificar - docere,<br />
regere et sanctificare - as almas, incontáveis<br />
membros da Hierarquia e do Clero <strong>se</strong> embrenham<br />
por problemas específicos da ordem temporal,<br />
cedendo gostosamente, para reivindicações<br />
dessa natureza, não só o adro dos templos,<br />
mas o próprio recinto sagrado.<br />
especificamente temporal, caberia perguntar<br />
em nome de que princípio, de<br />
que lei, ela o faz?<br />
De lei nenhuma, pois desde 1890 o<br />
Estado brasileiro é laico (9), e não vê<br />
na Igreja <strong>se</strong>não uma entidade privada,<br />
como tantas outras, e ipso facto destituída<br />
de qualquer função no campo<br />
do Direito Público, ainda que meramente<br />
supletiva ( 1 O).<br />
Mas acima de to<strong>das</strong> as normas<br />
legais paira um princípio: "Salus popu/i<br />
suprema !ex esto: que a salvação<br />
do povo <strong>se</strong>ja a suprema lei" (Lei <strong>das</strong><br />
XII Tábuas, cfr. Cícero, De legibus,<br />
III, 9). Se o país, falto de instituições<br />
ou de autoridades temporais adequa<strong>das</strong>,<br />
não encontras<strong>se</strong>, em uma gravíssima<br />
cri<strong>se</strong>, outro recurso <strong>se</strong>não voltar<strong>se</strong><br />
para a Igreja, esta não extravasaria<br />
da missão a ela confiada pelo Divino<br />
Fundador, atendendo ao apelo da nação,<br />
e <strong>se</strong> incumbindo - na menor<br />
Em nome de que<br />
p rin cípio, de que<br />
lei. a CNBBintervém<br />
em matéria<br />
especif icamente<br />
temporal?<br />
Violação da distinção<br />
entre Poder<br />
esp iritual e<br />
Poder temporal<br />
(9) A <strong>se</strong>paração da Igreja e do Estado foi<br />
estabelecida pelo Decreto II 9-A, do Governo<br />
Provisório, em 7 de janeiro de 1890. A Constituição<br />
de 24 de fevereiro de I 891 confirmou a<br />
<strong>se</strong>paração.<br />
( l O) Aqui é feita apenas uma constatação<br />
do fato. A doutrina da Igreja preconi za, entretanto,<br />
a união entre os dois Poderes, cujos<br />
frutos são descritos magnificamente por Leão<br />
XIII, na Encíclica lmmortale Dei, de 1. 0 de<br />
novembro de 1885: "Tempo houve em que a<br />
filosofia do Evangelho governava os Estados.<br />
Nessa época, a influência da <strong>sabe</strong>doria cristã e<br />
a sua virtude divina penetravam as leis, as<br />
instituições, os costumes dos povos, to<strong>das</strong> as<br />
categorias e to<strong>das</strong> as relações da sociedade<br />
civil. Então a Religião instituída por Jesus<br />
Cristo, solidamente estabelecida no grau de<br />
dignidade que lhe é devido, em toda parte era<br />
florescente, graças ao favor dos Príncipes e à<br />
proteção legitima dos Magistrados. Então o<br />
Sacerdócio e o Império estavam ligados entre<br />
si por uma feliz concórdia e pela permuta<br />
amistosa de bons oficias. Organizada assim, a<br />
sociedade civil deu frutos superiores a toda<br />
56
Pane l<br />
É indispensável<br />
perguntar <strong>se</strong> os fatos<br />
j ustificam essa<br />
intervenção<br />
medida possível, mas também em toda<br />
a medida do necessário - da direção<br />
da "res publica". Atitude toda ela<br />
flagrante e gravemente excecional, que<br />
só poderia durar o tempo estritamente<br />
necessário. Pois, por <strong>pouco</strong> que a<br />
Igreja excedes<strong>se</strong>, em tal caso, os limites<br />
mínimos de atuação e de duração<br />
há <strong>pouco</strong> mencionados, começaria a<br />
violar a distinção entre Poder espiritual<br />
e Poder temporal, instituída por<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo (11).<br />
Sem negar, portanto, a possibilidade<br />
histórica de uma situação crítica<br />
excecional que colocas<strong>se</strong> a CNBB na<br />
contingência de assumir tal encargo, é<br />
lícito, mais do que . isso, é indispensável,<br />
perguntar <strong>se</strong> tal é a pre<strong>se</strong>nte<br />
configuração dos fatos.<br />
Em termos mais incisivos, mas ante<br />
os <strong>quais</strong> não é possível recuar, é o<br />
caso de indagar <strong>se</strong> os três Poderes<br />
oficiais - Executivo, Legislativo e<br />
Judiciário - <strong>se</strong> encontram em tão<br />
avançado declínio que os dois Poderes<br />
extra-oficiais - os Meios de Comunicação<br />
Social e a CNBB (IV e V<br />
Poderes) - possam e até devam exercer,<br />
em relação a eles, papel análogo ao<br />
dos todo-poderosos prefeitos de palácio<br />
na França medieval, ante a dinastia<br />
merovíngia decadente. Como bem<br />
" .,,<br />
f/ST<br />
expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá,<br />
consignada com o está em inúmeros documentos<br />
que artificio algum dos adversários<br />
poderá corromper ou obscurecer" (Acta Sanctae<br />
Sedis, Typografia Polyglotta S.C. de<br />
Propaganda Fide, 1885, vai. XVIII , p. 169).<br />
Contrastand o com essa descrição, Mons.<br />
Angelo Dell'Acq ua, Substituto da Secretaria<br />
de Estado da Santa Sé, sublinha o fato de que<br />
"em con<strong>se</strong>qüência do agnosticismo religioso<br />
dos Estados" ficou "amortecido ou qua<strong>se</strong> perdido<br />
na sociedade moderna o <strong>se</strong>ntir da Igreja"<br />
(Carta ao Cardeal D. Carlos Carmelo de Vas-<br />
concellos Motta, então Arcebispo de São Paulo,<br />
a propósito do Dia Nacional de Ação de<br />
Graças de 1956).<br />
Sobre o assunto, ve r também PuN10 CoR<br />
RtA DE ÜLIV EIRA, Acordo com o regime comunista:<br />
para a Igreja, esperan ça ou autodemo/ição.?,<br />
Editora Vera Cruz, São Paulo, 10.ª ed.,<br />
pp. 111-113.<br />
( 11) O tema <strong>das</strong> relações entre o Poder<br />
es piritual e o Poder temporal é la rgamente<br />
explanado no livro Sou católico: posso <strong>se</strong>r<br />
contra a Reforma Agrária ?, Cap. IV, pp. 67 a 75 .<br />
57
~<br />
\<br />
'<br />
O pre<strong>se</strong>nte livro é um apelo para que as elites em letargo despertem de <strong>se</strong>u sono e abram 011 olhos<br />
para a situaçlo em que abobadamente <strong>se</strong> vl o deixando enlear. Se nlo o fizerem, nlo restaré outro<br />
remédio <strong>se</strong>nlo pedir a Deus que tenha pena do Brasil. .. à vista do que possa acontecer. O sacrllego<br />
atentado contra e venerével Imagem de Nossa Senhora Aparecida, no dia 16 de maio de 1978,<br />
permanece como um aviso sombrio para o nosso Pais. A TFP foi <strong>das</strong> poucas organizações que<br />
tomou realmente a sério es<strong>se</strong> sinal, e promoveu uma peregrinaçlo de desagravo ao Santuério da<br />
Padroeira do Brasil.<br />
58
Parte I<br />
Capítulo li<br />
Tal situação de nenhum<br />
modo <strong>se</strong><br />
configura no Brasil<br />
atual<br />
O que podem fazer<br />
os três Poderes?<br />
Fechar as<br />
<strong>CEBs</strong>? Cercear a<br />
CNBB?<br />
<strong>se</strong> <strong>sabe</strong>, por detrás do diáfano velame<br />
do poder merovíngio em vias de extinção,<br />
era de fato o poder emergente dos<br />
prefeitos de palácio que decidia tudo.<br />
Tal situação de nenhum modo <strong>se</strong><br />
configura no Brasil atual. De sorte<br />
que a relação roi fainéant-prefeito de<br />
palácio só teria condições de <strong>se</strong> formar<br />
caso os detentores dos Poderes I, II e<br />
III qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong>m livremente resignar-<strong>se</strong> a<br />
uma passividade "merovíngia" diante<br />
da avançada dos Poderes IV e V.<br />
Mas - objetará alguém - o que<br />
podem os três Podere~ oficiais neste<br />
momento de convergência dos dois<br />
Poderes extra-oficiais? Fechar, por e<br />
xemplo, as Comunidades de Ba<strong>se</strong>?<br />
Cercear a liberdade da CNBB e dos<br />
Meios de Comunicação Social?<br />
Tudo isso <strong>se</strong>ria pelo menos inábil e<br />
até contraproducente (12).<br />
(12) Cfr. PuNJO C oRR~A DE OuvEJR A, A<br />
Igreja ante a escalada da ameaça comunista -<br />
Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera<br />
Cruz, São Paulo, 4.ª ed., 1977, p. 82; PUNJO<br />
C ORR~A DE ÜUVE JRA E C ARLOS PATR JCJO DEL<br />
C AM PO, Sou católico: posso <strong>se</strong>r contra a Ref<br />
orma Agrária?, Editora Vera Cruz, São Paulo,<br />
3.ª ed ., 198 1, p. 72.<br />
Bastará que as elites dirigentes do<br />
País despertem de <strong>se</strong>u letargo e abram<br />
os olhos para a situação, na qual<br />
abobadamente <strong>se</strong> vão deixando enlear,<br />
para que a fina <strong>se</strong>nsibilidade<br />
tática dos Poderes extra-oficiais os<br />
faça tomar outros rumos. E também<br />
para que os Poderes oficiais encontrem<br />
ambiente para <strong>se</strong> defender de<br />
modo cômodo, embora dentro da estrita<br />
conformidade com as leis vigentes.<br />
O pre<strong>se</strong>nte livro é um apelo para<br />
que abram os olhos as elites em letargo.<br />
E estas, em rigor de justiça, só<br />
podem ver nele um gesto de colaboração<br />
da TFP, um testemunho de<br />
apreço ao prestígio que elas têm junto<br />
ao País, e à nobre missão natural que<br />
lhes cabe no organismo social.<br />
Só poderá este livro desagradar<br />
aos que não queiram <strong>se</strong>r despertados<br />
de <strong>se</strong>u delicioso sonho. Ou, então, a<br />
quem não de<strong>se</strong>je que eles abram os<br />
olhos. Se estes últimos forem <strong>muito</strong>s,<br />
e con<strong>se</strong>guirem manter em letargo as<br />
elites nacionais, não restará outro remédio<br />
<strong>se</strong>não pedir a Deus que tenha<br />
pena do Brasil. ..<br />
Pois só Ele pode salvar uma nação<br />
cujas elites optam pelo sono.<br />
Que as elites despertem<br />
de <strong>se</strong>u letargo<br />
59
I<br />
entrRE curo<br />
CGC\'9Slõ.,<br />
Sent IRe cum ·<br />
R om~JJO Pont1~<br />
"<br />
rc-e,<br />
SentIR€ çum<br />
ep1scopo.<br />
. .<br />
~.<br />
belíssimas máximas.<br />
•<br />
A,té elas<br />
adem <strong>se</strong>r entendi<strong>das</strong> de modo de or
A intelecção def armada do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />
("cum Romano Pontífice", "cum Episcopo", "cum Parocho")<br />
favorece largamente<br />
a eficácia da<br />
ação reformista<br />
da CNBB
~<br />
Pressão de cúpula<br />
e pressão de ba<strong>se</strong><br />
<strong>se</strong> conjugam<br />
E NATURAL que um leitor<br />
embalado no letargo atrás<br />
descrito, <strong>se</strong> sinta em pre<strong>se</strong>nça de um<br />
como que pesadelo, ao ler os Capítulos<br />
anteriores. Pesadelo tanto mais<br />
desagradável quanto apre<strong>se</strong>nta desde<br />
logo, aos olhos dele, vários aspectos<br />
de óbvia verossimilhança com a realidade,<br />
no que toca à pressão de cúpula<br />
dos dois Poderes extra-oficiais sobre<br />
os três oficiais. Mas também de <strong>se</strong>nsí- ,<br />
vel inverossimilhança em <strong>muito</strong> do que<br />
foi dito sobre a pressão de ba<strong>se</strong> promovida<br />
pela CNBB atr~vés <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />
Com ef eíto, não é fácil imaginar<br />
que, simplesmente por meio <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
possa a CNBB levar a uma avançada<br />
geral contra o regime de propriedade<br />
atualmente em vigor, a imensa massa<br />
dos trabalhadores manuais do Brasil.<br />
E isto em tempo bastante curto para<br />
favorecer as grandes reformas sócioeconômicas<br />
cuja urgência o V Poder<br />
proclama com insistência.<br />
Demonstrar a viabilidade de tal<br />
tarefa é pois es<strong>se</strong>ncial para que, por<br />
sua vez, pareça viável o conjunto do<br />
plano reformista arvorado pelo V Poder,<br />
e o leitor sinta que não está diante<br />
de uma quimera. E assim reaja.<br />
Da demonstração disto <strong>se</strong> de<strong>se</strong>mpenharam<br />
Gustavo Antonio Solimeo<br />
e Luiz Sergio Solimeo com profundidade,<br />
acerto e esmero, como o leitor<br />
comprovará na Parte II do pre<strong>se</strong>nte<br />
trabalho. Aqui apenas toca dar uma<br />
vista sumária do contexto no qual <strong>se</strong> ·<br />
in<strong>se</strong>re a impressionante realidade descrita<br />
na Parte II, a fim de assim<br />
encaminhar o leitor para outras considerações<br />
ainda.<br />
* * *<br />
<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
são grupos recrutados o mais <strong>das</strong> vezes<br />
por elementos do Clero <strong>se</strong>cular e<br />
Provas: a Parte II<br />
do pre<strong>se</strong>nte trabalho<br />
62
A influência do<br />
Clero: o "<strong>se</strong>ntire<br />
cum Romano<br />
Pontífice"<br />
regular, por Ordens e Congregações<br />
religiosas femininas, entre os católicos<br />
mais atraídos pelo tema religioso, que<br />
precisamente por o <strong>se</strong>rem, <strong>se</strong> acercam<br />
sponte sua dos repre<strong>se</strong>ntantes qualificados<br />
da Igreja.<br />
A própria posição religiosa des<strong>se</strong>s<br />
fiéis os torna peculiarmente receptivos<br />
a todo ensinamento, a toda diretriz<br />
emanada da Autoridade eclesiástica.<br />
Compenetrados, a justo título, dos<br />
dogmas do Primado do Soberano<br />
Pontífice e da Infalibilidade Papal,<br />
definidos por Pio IX em 1870, no<br />
Concílio Vaticano I, a deficiente formação<br />
religiosa deles leva-os entretanto<br />
a atribuir a estes dogmas uma<br />
extensão que de fato eles não têm (1).<br />
(1) A Constituição Pastor Aeternus, do<br />
Concílio Vaticano 1, estabelece as condições<br />
necessárias para o exercício da infalibilidade<br />
nas definições pontifícias. O Papa é infalível<br />
"quando <strong>fala</strong> ex cathedra. isto é, quando, no<br />
uso de sua prerrogativa de Doutor e Pastor de<br />
rodos os cristãos, e por sua suprema autoridade<br />
apostólica, define a doutrina que em<br />
matéria de Fé e Moral deve <strong>se</strong>r sustentada por<br />
toda a Igreja" (DENZINGER-ÜMBERG, Enchiridion<br />
Symbolorum, Herder, Barcelona, ed. 24,<br />
1946, n. 0 1839).<br />
São quatro, porta nto, as condições necessárias<br />
para que haja um pronuncia mento infalível<br />
do Papa ( classificado por teólogos como<br />
Magistério Pontifício extraordinário):<br />
1. 0 ) que ó Papa fale como Doutor e Pastor<br />
universal;<br />
2. 0 ) que u<strong>se</strong> da plenitude de sua autoridade<br />
apostólica;<br />
3. 0 ) que manifeste a vontade de definir;<br />
4. 0 ) que trate de Fé e Moral.<br />
Faltando uma dessas quatro condições, o<br />
pronunciamento papal não é por si próprio<br />
infalível.<br />
Mas o ensinamento pontifício infalível pode<br />
dar-<strong>se</strong> ainda no Magi tério ordinário (isto é,<br />
o Magistério comum do Papa, em que cada<br />
pronunciamento não é de si infalível, como<br />
sucede geralmente nas Encíclicas, Alocuções<br />
etc.). <strong>As</strong>sim, quando uma larga série de Papas<br />
ensina a toda a Igreja, constantemente e por
Parte I<br />
Capítulo III<br />
"Sentire cum<br />
Episcopo", "<strong>se</strong>ntire<br />
cum Parocho"<br />
dade. Que, analogamente, todos os<br />
Bispos, na mais perfeita união com o<br />
Papa, não fazem <strong>se</strong>não acatar com a<br />
mais entusiasmada e perfeita meticu-<br />
Ademais, compenetrados, também a<br />
justo título, da santidade da Igreja,<br />
imaginam tais fiéis importar em ato de<br />
impiedade o simples admitir que o<br />
relacionamento entre o Papa e os Bispos,<br />
os Bispos e o Clero, e, de modo<br />
geral, o procedimento deste para com<br />
os fiéis, possa não corresponder <strong>muito</strong><br />
exatamente ao que <strong>se</strong>ria ideal.<br />
Daí decorre imaginarem eles que<br />
to<strong>das</strong> as intenções do Sumo Pontífice,<br />
todo o <strong>se</strong>u modo de considerar a realidade<br />
pre<strong>se</strong>nte, e todos os <strong>se</strong>us atos<br />
concretos <strong>se</strong> beneficiam da infalibililongo<br />
tempo, a mesma doutrina como integrante<br />
da Doutrina revelada, deve-<strong>se</strong> admitir a<br />
infalibilidade de ta l Magistério, pois, do contrá<br />
rio, induziria a Igreja em erro (cfr. J osEPH us<br />
A. DE ALDAMA S.J., Mariologia, in Sacrae<br />
Theologiae Summa, BAC, Matriti, 1961. vol.<br />
III , p. 41 8).<br />
Segundo a fórmula clássica de São Vicente<br />
de Lerins, o católico deve crer naquilo que foi<br />
ensinado <strong>se</strong>mpre, em todos os luga res e por<br />
todos: "quod <strong>se</strong>mper, quod ubique, quod ab<br />
omnibus". Pois falharia a assistênci a do Espírito<br />
Santo à Igreja <strong>se</strong> uina doutrina ensinada<br />
sob essas três condições pudes<strong>se</strong> <strong>se</strong>r falsa.<br />
Os teólogos enumeram ainda vários outros<br />
casos em que pode ocorrer um ensinamento<br />
infalível do Papa: as canonizações (<strong>se</strong>mpre), a<br />
Liturgia, as leis eclesiásti cas, a a provação de<br />
Regras de Ordens e Congregações religiosas.<br />
O que <strong>se</strong> diz do ensinamento pa pa l, a plica<strong>se</strong><br />
também ao ensinamento unâ nime dos Bispos<br />
em união com o Papa. <strong>As</strong>sim, o pronunciamento<br />
solene dos Bispos em união com o<br />
Papa - Magisrério Universal exrraordinário<br />
- é ta mbém por si próprio infalível. Entreta<br />
nto. no Magisrério Un iversal ordinário, isto<br />
é, no Magistério comum d os Bispos em união<br />
com o Pa pa, cada pronuncia mento não é de si<br />
infa lível.<br />
Ê possíve l que a lgum documento pontifício<br />
o u conciliar <strong>se</strong> oponha frontalmente a<br />
ensinamentos infalíve is do passado? Ê evidente<br />
que, <strong>se</strong> o novo pronuncia mento é ta mbém<br />
infa lível, ta l o posição não pode existir. Mas <strong>se</strong><br />
não o é, a utores de peso - como São Roberto<br />
Bellarmino, Suarez, Melchior Cano, Domingos<br />
Soto - encaram tal hipóte<strong>se</strong> como teologicamente<br />
possível. E é ma nifesto que o cató-<br />
1ico deveria então perma necer fiel à doutrina<br />
infalíve l. Essa hipóte<strong>se</strong> leva ria os estudiosos à<br />
questão multi-<strong>se</strong>cula r, em que <strong>se</strong> empenhara m<br />
es pecia lmente os ma io res teólogos dos Tempos<br />
Modernos, da poss ibilidade de um Papa herege<br />
(cfr. AR NA LDO V . XAVIER DA SILVEIRA, Qual<br />
a auroridade dourrinária dos documenros p onrifícios<br />
e conciliares?, "Catolicismo", n.ú 202.<br />
outubro de 1967).<br />
65
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A ré com o sacristão<br />
...<br />
losidade todos os ensinamentos e ordens<br />
emana<strong>das</strong> de Roma. E que o<br />
mesmo fazem os Sacerdotes em relação<br />
aos Bispos, e as Religiosas em<br />
relação aos Sacerdotes.<br />
Essa concepção, <strong>se</strong>m dúvida louvável<br />
quanto ao espírito de fé do qual<br />
procede, tem como recíproca que toda<br />
palavra de um Sacerdote, e até mesmo<br />
de uma Freira, deve <strong>se</strong>r acatada como<br />
<strong>se</strong> fos<strong>se</strong> da própria Igreja!<br />
Dessa maneira, a máxima santa e<br />
verdadeira do "<strong>se</strong>ntire cum Romano<br />
Pontífice" - maneira excelente de<br />
"<strong>se</strong>ntire cum Ecclesia" - é <strong>muito</strong> simplisticamente<br />
(simploriamente, talvez<br />
fos<strong>se</strong> melhor dizer) transposta para<br />
todo e qualquer ato pessoal do Papa.<br />
E depois, analogamente, para o escalão<br />
imediato: "<strong>se</strong>ntire cum Episcopo".<br />
E ainda para o escalão paroquial:<br />
"<strong>se</strong>ntire cum Parocho".<br />
"Sentire" até com o sacristão, dis<strong>se</strong><br />
certa vez um católico praticante, que<br />
exerce de modo idôneo uma função<br />
profissional de responsabilidade, tem<br />
traquejo da vida, e olhos para ver. ..<br />
* * *<br />
podem facilmente levá-los às posições<br />
ideológicas mais inespera<strong>das</strong>. E até às<br />
mais dissonantes com o que é o ensino<br />
tradicional e infalível da Santa Igreja<br />
(2).<br />
A ação normal do Clero vai de<br />
fato <strong>muito</strong> além dos simpáticos núcleos<br />
de fervorosos. Por meio de <strong>se</strong>rmões,<br />
da confissão, <strong>das</strong> múltiplas relações<br />
pessoais a que o exercício do Sacerdócio<br />
dá lugar, é-lhe possível influenciar<br />
uma quantidade indefinida de pessoas.<br />
E sua ação é ainda mais ampliada<br />
pelas escolas de todo grau, orfanatos,<br />
instituições de caridade e outras<br />
obras manti<strong>das</strong> e dirigi<strong>das</strong> pela Igreja.<br />
Em todo es<strong>se</strong> público, muitas pessoas<br />
há que, mais fervorosas ou menos,<br />
supõem entretanto que a plena fide-<br />
lidade à Igreja consiste em praticar<br />
es<strong>se</strong>s três "<strong>se</strong>ntire" exatamente como<br />
acima descritos. O que, por sua vez,<br />
leva a que junto a um número <strong>muito</strong><br />
grande de pessoas, o prestígio da Igreja<br />
- certamente menor do que entre<br />
os fervorosos, mas nem por isto inexistente<br />
- possa <strong>se</strong>r instrumentalizado<br />
pela ação de um Sacerdote ou de<br />
Influência de amp<br />
litude indefinida<br />
Lurra o v Poder<br />
Com a imensa influência que es<strong>se</strong><br />
tríplice e hipertrofiado "<strong>se</strong>ntire" lhes<br />
confere sobre a maior parte dos mais<br />
ardorosos dentre <strong>se</strong>us fiéis , o Sacerdote<br />
ou a Religiosa inteiramente afinados<br />
com as diretrizes da CNBB<br />
(2) Ou <strong>se</strong>ja, as definições impostas a todos<br />
os católicos pelo Supremo Magistério, bem como<br />
o ensinamento uniforme do <strong>se</strong>u Magistéri<br />
o ordinário e universal no decurso dos séculos<br />
(cfr. OENZINGER-UMBERG, Enchiridion Symbolorum,<br />
Herder, Barcelona, ed. 24, 1946, n. ºs<br />
1683 e 1792).<br />
66
Capítulo l/1<br />
A influência normal do Clero, que <strong>se</strong> exerce por<br />
meio de <strong>se</strong>rmões, da confissão, <strong>das</strong> múltiplas<br />
relações pessoais a que o exercício do Sacerdócio<br />
dé lugar, é acrescida pela verdadeira<br />
"reciclagem" doutrinéria e psicológica imposta<br />
pela CNBB à massa da população através da<br />
obrigatoriedade dos cursos de preparação para<br />
noivos e para padrinhos de batizado.<br />
uma Freira. Por vezes até mediante<br />
um simples con<strong>se</strong>lho, uma palavra,<br />
um aceno ...<br />
Pode-<strong>se</strong> compreender facilmente a<br />
que espantosas con<strong>se</strong>qüêccias conduz<br />
em nossos dias o "jogo" des<strong>se</strong> tríplice<br />
"<strong>se</strong>ntire", entendido com tais imprecisões<br />
e extensão; e qual a amplitude<br />
indefinida dos círculos de influência<br />
que um Sacerdote pode desta maneira<br />
exercer.<br />
Tal influência é ainda acrescida<br />
pela verdadeira "reciclagem" doutrinária<br />
e psicológica imposta pela CN<br />
BB à massa da população, pela obrigatoriedade<br />
dos cursos de preparação<br />
para noivos, como para padrinhos-de<br />
batizado.<br />
Nes<strong>se</strong>s cursos, as doutrinas progressistas<br />
e esquerdistas podem <strong>se</strong>r<br />
livremente inculca<strong>das</strong> em nome da<br />
Religião, em pessoas que tinham anteriormente<br />
uma formação católica tradicional.<br />
Quem não <strong>se</strong>gue tais cursos fica<br />
em situação análoga à de um excomungado,<br />
pois sofre a punição de não<br />
poder casar-<strong>se</strong>, de não poder <strong>se</strong>r padrinho<br />
de batizado etc. ( cf r. Parte II,<br />
Cap. 1, 3).<br />
Es<strong>se</strong> draconianismo religioso é e<br />
xatamente o contrário do ecumenismo<br />
tão freqüente na "esquerda católica" e<br />
nos meios progressistas. E - note-<strong>se</strong><br />
- deixa a Igreja em situação confusa.<br />
Pois enquanto têm caído vertiginosamente<br />
os costumes, e as leis discriminatórias<br />
entre católicos e hereges vão<br />
desaparecendo, cada vez mais <strong>se</strong> vai<br />
apertando o cerco contra os que permanecem<br />
fiéis à doutrina tradicional.<br />
O que, tudo, favorece largamente a<br />
ação reformista da CNBB.<br />
A "reciclagem"<br />
doutrinária e psicológica<br />
imposta<br />
aos fiéis<br />
67
A maior cri<strong>se</strong> da<br />
História da Igreja<br />
J o ã o Paulo li:<br />
"foram difundi<strong>das</strong><br />
verdadeiras heresias"<br />
C OMO ninguém<br />
Igreja atravessa em nossos<br />
dias a maior cri<strong>se</strong> de sua venerável<br />
existência, vinte vezes <strong>se</strong>cular. E nessa<br />
cri<strong>se</strong> estão compreendidos, não só fiéis,<br />
como também Religiosos de ambos os<br />
<strong>se</strong>xos, Sacerdotes, e altos Prelados ( I ).<br />
Tal realidade encontra eco em mais<br />
de um documento pontifício. João<br />
Paulo II assim descreveu a desolação<br />
hoje reinante na Igreja: "É necessário<br />
admitir realisticamente e com profundá-<br />
e <strong>se</strong>ntida <strong>se</strong>nsibilidade que os cristãos<br />
hoje, em grande parte, <strong>se</strong>ntem-<strong>se</strong><br />
perdidos, confusos, perplexos e até<br />
ignora, a<br />
(1) Quanto a essa cri<strong>se</strong> no Brasil, cfr. Pu<br />
NIO CoRRl:.A DE OuvEIRA, A Igreja ante a escalada<br />
da ameaça comunista - Apelo aos Bispos<br />
Silenciosos, Editora Vera Cruz, São Paulo, 4.•<br />
ed., 1977; PuN10 C o RR l:.A DE OuvEIRA, Tribalismo<br />
indígena, ideal comuna-missionário para o<br />
Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São<br />
Paulo, 7.• ed., 1979.<br />
desiludidos: foram divulga<strong>das</strong> prodigamente<br />
idéias contrastantes com a<br />
Verdade revelada e desde <strong>se</strong>mpre ensinada;<br />
foram difundi<strong>das</strong> verdadeiras<br />
heresias, no campo dogmático e moral,<br />
criando dúvi<strong>das</strong>, confusões e rebeliões;<br />
alterou-<strong>se</strong> até a Liturgia; imersos<br />
no 'relativismo' intelfctual e moral<br />
e por con<strong>se</strong>guinte no permissivismo,<br />
os cristãos sãc tentados pelo ateísmo,<br />
pelo agnosticismo, pelo iluminismo<br />
vagamente moralista, por um cristianismo<br />
sociológico, <strong>se</strong>m dogmas definidos<br />
e <strong>se</strong>m moral objetiva" (Alocução<br />
de 6 de fevereiro de 1981, aos<br />
Re_ligiosos e Sacerdotes participantes<br />
do I Congresso nacional italiano sobre<br />
o tema Missões ao povo para os anos<br />
80, "L'Os<strong>se</strong>rvatore Romano", 7-2-81).<br />
João Paulo II parece não fazer<br />
<strong>se</strong>não comentar anteriores afirmações<br />
de Paulo VI. Em Alocução aos alunos<br />
do Seminário Lombarda, em 7 de<br />
dezembro de 1968, dis<strong>se</strong> o Pontífice: A<br />
Paulo VI:" A Igreja<br />
é golpeada também<br />
pelos que dela<br />
fazem parte"<br />
70
Igreja atravessa hoje um momento de<br />
inquietude. Alguns praticam a autocrítica,<br />
dir-<strong>se</strong>-ia até a autodemolição.<br />
É como uma perturbação interior, a<br />
guda e complexa, que ninguém teria<br />
esperado depois do Concílio. Pensava-<strong>se</strong><br />
num florescimento, numa expansão<br />
<strong>se</strong>rena dos conceitos amadurecidos<br />
na grande as<strong>se</strong>mbléia conciliar.<br />
Há ainda este aspecto na Igreja, o do<br />
florescimento. Mas posto que 'bonum<br />
ex integra causa, malum ex quocumque<br />
defectu', fixa-<strong>se</strong> a atenção mais<br />
especialmente sobre o aspecto doloroso.<br />
A Igreja é golpeada também<br />
pelos que dela fazem parte (/n<strong>se</strong>gnamenti<br />
di Paolo VI, Tipografia Poliglotta<br />
Vaticana, vol. VI, p. 1188 -<br />
destaques nossos; as palavras não são<br />
textuais do Pontífice e sim do resumo<br />
que delas apre<strong>se</strong>nta a Poliglotta Vaticana).<br />
Paulo VI volta ao tema na Alocução<br />
Resistite fortes in fide, de 29 de<br />
junho de 1972 (as palavras textuais do<br />
Pontífice são apenas as cita<strong>das</strong> entre<br />
aspas no resumo da Alocução apre<strong>se</strong>ntado<br />
pela Poliglotta):<br />
Referindo-<strong>se</strong> à situação da Igreja<br />
de hoje, o Santo Padre afirma ter a<br />
<strong>se</strong>nsação de que "por alguma fissura<br />
tenha entrado a fumaça de Satanás no<br />
templo de Deus". Há a dúvida, a<br />
incerteza, o complexo dos problemas,<br />
a inquietação, a insatisfação, o confronto.<br />
Não <strong>se</strong> confia mais na Igreja;<br />
confia-<strong>se</strong> no primeiro profeta profano<br />
[ estranho à Igreja] que nos venha f a<br />
lar, por meio de algum jornal ou<br />
movimento social, a fim de correr<br />
atrás dele e perguntar-lhe <strong>se</strong> tem a<br />
fórmula da verdadeira v,da. E não<br />
nos damos conta de já a possuirmos<br />
e <strong>se</strong>rmos mestres dela. Entrou a dúvida<br />
em nossas consciências, e entrou<br />
por janelas que deviam estar abertas<br />
à luz. Da ciência, que é feita para<br />
nos oferecer verdades que não af as-<br />
Paulo VI: ~a fumaça<br />
de Satanás<br />
no templo de<br />
Deustt<br />
71
A bela Imagem da<br />
Virgem <strong>das</strong> Légrim<br />
as, da Basflica de<br />
Sl o Joio de Deus<br />
em Granada (E spanha),<br />
verteu lágrimas<br />
de sangue, no<br />
dia 13 de m eio deste<br />
ano. Possam es<br />
sas lágrimas de<br />
Rainha e Mie penetrar<br />
os nossos co<br />
\ º _ rações, e fazer-nos<br />
\ ~ encarar com uma<br />
· , { ) <strong>se</strong>riedade superla-<br />
• • tiva a gravidade dos<br />
1 1<br />
· fenômenos da au-<br />
, : todemolíção" da<br />
Igreja e da penetraçlo<br />
da "fumaça de<br />
Satanás no Templo<br />
de Deus".<br />
tam de Deus, mas nos fazem procurá-10<br />
ainda mais, e ainda mais intensamente<br />
glorificá-10, veio pelo contrário<br />
a crítica, veio a dúvida. Os<br />
cientistas são aqueles que mais pensada<br />
e dolorosamerzte curvam a fronte.<br />
E acabam por revelar: "Não <strong>se</strong>i,<br />
não <strong>sabe</strong>mos, não podemos <strong>sabe</strong>r". A<br />
escola torna-<strong>se</strong> um local de prática da<br />
confusão e de contradições, às vezes<br />
absur<strong>das</strong>. Celebra-<strong>se</strong> o progresso para<br />
melhor poder demoli-lo com as mais<br />
estranhas e radicais revoluções, para<br />
negar tudo aquilo que <strong>se</strong> conqÚistou,<br />
para voltar a <strong>se</strong>r primitivos, depois de<br />
ter exaltado tanto os progressos do<br />
mundo moderno.<br />
Também na Igreja reina este estado<br />
de incerteza. Acreditava-<strong>se</strong> que,<br />
depois do Concilio, viria um dia ensolarado<br />
para a História da Igreja. Veio,<br />
pelo contrário, um dia cheio de nuvens,<br />
de tempestade, de escuridão, de<br />
indagação, de ince,:teza. Pregamos o<br />
ecumenismo, e nos afastamos <strong>se</strong>mpre<br />
mais uns dos outros. Procuramos cavar<br />
abismos, em vez de soterrá-los.<br />
Como aconteceu isto? O Papa confia<br />
aos pre<strong>se</strong>ntes um pensamento <strong>se</strong>u:<br />
o de que tenha havido a intervenção<br />
de um poder adverso. O <strong>se</strong>u nome é<br />
diabo, este misterioso <strong>se</strong>r a que também<br />
alude São Pedro em sua Epístola<br />
[ que o Pontífice comenta na Alocução].<br />
Tantas vezes, por outro lado,<br />
retorna no Evangelho, nos próprios<br />
lábios de Cristo, a menção a este<br />
inimigo dos homens. "Cremos - ob<strong>se</strong>rva<br />
o Santo Padre - que alguma<br />
coisa de preternatural veio ao mundo<br />
justamente para perturbar, para sufocar<br />
os frutos do Concilio Ecumênico,<br />
e para impedir que a Igreja prorrompes<strong>se</strong><br />
num hino de alegria por ter<br />
readquirido a plenitude da consciência<br />
de si" (/n<strong>se</strong>gnamrnti di Paolo VI,<br />
Tipografia Poliglotta Vaticana, vol.<br />
X, pp. 707-709).<br />
Se a Sagrada Hierarquia reagis<strong>se</strong><br />
unânime, compacta e claramente, contra<br />
essa situação trágica, o quadro da<br />
realidade religiosa contemporânea <strong>se</strong><br />
nos apre<strong>se</strong>ntaria límpido e simples de<br />
72
Parte l<br />
Capítulo I V.<br />
Personalidades dL1<br />
Hierarquia cooperam<br />
com o invasor<br />
da cidadela sagrada<br />
descrever: os Hierarcas resistindo como<br />
um torreão fortificado da cidadela<br />
sagrada, ajudados por número maior<br />
ou menor de leigos, de um lado; e, de<br />
outro lado, os invasores que irromperam<br />
muralhas a dentro, e empenham<br />
todos os <strong>se</strong>us esforços no assalto<br />
supremo.<br />
Basta correr os olhos sobre a Cristandade<br />
de nossos dias para perceber<br />
desde logo que tal não é o quadro. E<br />
que, a <strong>se</strong> utilizar a metáfora do torreão<br />
e da cidadela, deve-<strong>se</strong> dizer que<br />
partes do torreão também já estão em<br />
mãos do adversário. Ou <strong>se</strong>ja, personalidades<br />
da Sagrada Hierarquia -<br />
ressalva<strong>das</strong> as intenções! - cooperam<br />
com o mvasor.<br />
É fácil avaliar que desolador efeito<br />
isso pode ter especificamente no Brasil.<br />
Considere-<strong>se</strong> que todo personagem<br />
hierárquico constitui, para incontáveis<br />
católicos brasileiros, a imagem fidelíssima<br />
do Romano Pontífice, e <strong>se</strong> aquilatará<br />
a que prodigiosa confusão conduz<br />
inevitavelmente, em nossos dias, o<br />
princípio do tríplice "<strong>se</strong>ntire".<br />
* * *<br />
Teologia da Uber- Ao <strong>se</strong>rviço dessa confusão está u-<br />
tação ma corrente de teologia, dita "da libertação".<br />
Não é este o lugar de lhe expor<br />
na íntegra o conteúdo doutrinário.<br />
Basta dizer sumariamente que, a<br />
lentada na Conferência do Episcopa-<br />
Uma igreja <strong>se</strong>midestrulda. A destruição é triste.<br />
Quanto m ais a autodestruiçilol<br />
73
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Em sua Alocução de abertura da Ili Conferência do Episcopado Latino-Americano em Puebla<br />
(México), Joi o Paulo .li condenou a doutrina da Teologia da Libertação que apre<strong>se</strong>nta No110<br />
Senhor Jesus Cri_sto "como po/ltico, revolucionário, como o subversivo de Nazaré".<br />
do latino-americano em Medellin, em<br />
1968 (2), e explicitada pelos teólogos<br />
Gustavo Gutiérrez e Hugo <strong>As</strong>smann,<br />
ela <strong>se</strong> expandiu largamente em círculos<br />
teológicos de todo o mundo. E que<br />
sua doutrina procura dar fundamento<br />
na Sagrada Escritura, aos erros veiculados<br />
por duas correntes doutrinárias<br />
distintas, mas intimamente conjuga<strong>das</strong><br />
entre si.<br />
Uma é constituída pelo progressismo<br />
no campo da Teologia, da Filosofia<br />
e da Moral, com os con<strong>se</strong>qüentes<br />
reflexos entre os estudiosos do Direito<br />
Canônico, da História Eclesiástica etc.<br />
E a outra pelo esquerdismo no campo<br />
Pr ogressism o <br />
esquerdismv<br />
(2) Afirma o PE. 8 ATIISTA MoNDIN (professor<br />
na Pontifícia Universidade Urbaniana de<br />
Roma e colaborador habitual de "L'Os<strong>se</strong>rvatore<br />
Romano"): "O primeiro impulso para a<br />
elaboração de uma teologia da libertação foi<br />
dado pela célebre conferência do episcopado<br />
latino-americano realizada em Medel/ín em<br />
1968. Naquela circunstância a Igreja da América<br />
do Sul lançou as ba<strong>se</strong>s da teologia da<br />
libertação" ( Os teólogos da libertação, Edições<br />
Paulinas, São Paulo, 1980, p. 30).<br />
No mesmo <strong>se</strong>ntido escreve RA UL VmALEs,<br />
na revista "Concilium": "Foi no encontro do<br />
CELAM, em Mede/lín (1968) que a teologia da<br />
liberração adquiriu o <strong>se</strong>u direito de cidadania.<br />
Se não é possível afirmar que nasceu naquela<br />
ocasião, devemos todavia notar que esta circunstância<br />
marcou sua acolhida oficial e deu o<br />
impulso ao futuro movimento e trabalho teológico<br />
na prospectiva da libertação .... É, pois,<br />
a partir de Mede/lín que o empenho, a reflexão<br />
teológica e a mesma produção literária<br />
sobre o tema da libertação não só <strong>se</strong> tornam<br />
explícitas como também <strong>se</strong> intensificam" (Acquisizioni<br />
e compiti dei/a teologia latinoamericana,<br />
"Concilium", n. 0 4, 1974, p. 154<br />
- apud PE. BATIISTA MoNDIN, op. cit., p. 30,<br />
nota 9).<br />
74
Parte/<br />
A Teologia da Libertação<br />
a <strong>se</strong>rviço<br />
da autodemolição<br />
da sociologia católica, também com<br />
reflexos con<strong>se</strong>qüentes nos estudos de<br />
Economia e de Política promovidos<br />
sob a influência católica, bem como<br />
na vida, no pensamento e na ação <strong>das</strong><br />
correntes políticas denomina<strong>das</strong> "democratas-cristãs",<br />
"socialistas cristãs",<br />
"socialistas católicas" etc.<br />
* * *<br />
A doutrina da Teologia da Libertação<br />
foi condenada <strong>se</strong>m rebuços por<br />
João Paulo II em sua Alocução de<br />
Puebla (3). Não obstante, ela continua<br />
a <strong>se</strong> expandir tranqüilamente por todo<br />
o Brasil.<br />
Tal "teologia" põe ao alcance dos<br />
vários escalões eclesiásticos que a quei-<br />
Em que pe<strong>se</strong> a advertência<br />
de Joi o<br />
Paulo li, a Teologia<br />
da Libertação continua<br />
fazendo suas<br />
devastações: na<br />
Revolução Sandinista<br />
da Nicarágua,<br />
cujo caráter marxista<br />
nAo chegou a<br />
<strong>se</strong>r disfarçado, a<br />
participação de freiras<br />
foi ostensiva,<br />
como esta que ajuda<br />
um guerrilheiro<br />
ferido em Matagalpa.<br />
(3) São palavras do Pontífice:<br />
"Circulam hoje em <strong>muito</strong>s lugares - o fenômeno<br />
não é novo - 'releituras' do Evangelho,<br />
resultado de especulações teóricas mais do<br />
que de autêntica meditação da palavra de Deus<br />
e de um verdadeiro compromisso evangélico.<br />
Elas causam confusão ao <strong>se</strong> apartarem dos<br />
critérios centrais da Fé da Igreja, caindo-<strong>se</strong><br />
ademais na remeridade de comunicá-las, à<br />
maneira de cateque<strong>se</strong>, às comunidades cristãs.<br />
Em alguns casos, ou <strong>se</strong> silencia a divindade<br />
de Cristo, ou <strong>se</strong> incorre de/ato em formas<br />
de interpretação conflitantes com a Fé da<br />
Igreja. Cristo <strong>se</strong>ria apenas um 'profeta', um<br />
anunciador do Reino e do amor de Deus,<br />
porém não o verdadeiro Filho de Deus, nem<br />
<strong>se</strong>ria portanto o centro e o objeto da própria<br />
mensagem evangélica.<br />
Em outros casos <strong>se</strong> pretende mostrar a<br />
Jesus como comprometido politicamente, como<br />
um lutador contra a dominação romana e<br />
contra os poderes e, inclusive, como implicado<br />
na luta de clas<strong>se</strong>s. Esta concepção de<br />
Cristo como político, revolucionário, como o<br />
subversivo de Nazaré, não <strong>se</strong> compagina com a<br />
cateque<strong>se</strong> da Igreja. Confundindo o pretexto<br />
insidioso dos acusadores de Jesus com a atitude<br />
de Jesus mesmo - bem diversa - <strong>se</strong> aduz<br />
como causa de sua mbrte o de<strong>se</strong>nlace de um<br />
conflito político e <strong>se</strong> silencia a vontade de<br />
entrega do Senhor, e ainda a consciência de<br />
sua missão redentora" (ln<strong>se</strong>gnamenti di Giovanni<br />
Paolo li, Libreria Editrice Vaticana, vol.<br />
II, 1979, pp. 192-193).<br />
E mais.adiante: "Percebe-<strong>se</strong>, às vezes, certo<br />
mal-estar relacionado com a própria interpre-<br />
75
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
ram usar, os textos da Escritura que,<br />
por ela interpretados, podem <strong>se</strong>rvir de<br />
ba<strong>se</strong> para a atuação dos elementos<br />
afinados com o programa reformista<br />
da CNBB. E pode, assim, transformar<br />
os leigos em artífices dessa reforma,<br />
na medida mesma em que eles <strong>se</strong>Jam<br />
<strong>se</strong>nsíveis à voz da Igreja!<br />
Tantas potencialidades de ação suscita<strong>das</strong><br />
ou estimula<strong>das</strong> pelo progressismo<br />
pedem, por sua própria natureza,<br />
uma organização que dê, no<br />
tação da natureza e da missão da Igreja. A lu-·<br />
de-<strong>se</strong>, por exemplo, à <strong>se</strong>paração que alguns<br />
estabelecem entre Igreja e Reino de Deus. Este,<br />
esvaziado de <strong>se</strong>u conteúdo total. é entendido<br />
em <strong>se</strong>ntido mais bem <strong>se</strong>cularista: não <strong>se</strong> chegaria<br />
ao Reino pela Fé e pela pertencença à<br />
Igreja, mas pela simples mudança estrutural e<br />
pelo compromisso sócio-político. Onde há um<br />
certo tipo de compromisso e de praxis pela<br />
j ustiça, ali estaria iá pre<strong>se</strong>nte o Reino. Esquece-<strong>se</strong>,<br />
deste modo. que 'a Igreja .... recebe a<br />
missão de anunciar o Reino de Cristo e de<br />
Deus, e instaurá-lo em todos os povos, e<br />
constitui na terrà o germe e o princípio des<strong>se</strong><br />
Reino' (Lumen Gentium, n. 0 5)" (op. cit., p.<br />
197 - cfr. também PUNIO CoRRÍ:A DE ÜLIVEIRA,<br />
A mensagem de Puebla: notas e comentários, "Folha<br />
de S. Paulo", 26-3-79; 7, 14 e 26-4-79; 19-5-79).<br />
plano concreto, unidade de metas e de<br />
métodos aos clérigos e fiéis engajados<br />
no empreendimento de "reformar o<br />
Brasil".<br />
Esta organização é constituída pelas<br />
<strong>CEBs</strong>.<br />
* * *<br />
Tudo isto faz ver quanto de <strong>se</strong>iva<br />
vital circula nas <strong>CEBs</strong>. A Parte II do<br />
pre<strong>se</strong>nte trabalho mostra a doutrina<br />
dis<strong>se</strong>minada por estas, sua organização,<br />
<strong>se</strong>us métodos para recrutamento<br />
de aderentes, e para a ação des<strong>se</strong>s<br />
aderentes sobre o conjunto do corpo<br />
social.<br />
Ourro insrrumen-<br />
10 de autodemolição:<br />
as <strong>CEBs</strong> -<br />
sua eficácia<br />
76
Parte I<br />
Capiwlo I V<br />
<strong>As</strong>sim o leitor poder~ inteirar-<strong>se</strong><br />
da envergadura do organismo enquanto<br />
tal, e da eficácia de que é dotada a<br />
sutil e complicada metodologia que a<br />
este cabe pôr em ação. E, con<strong>se</strong>qüentemente,<br />
de to<strong>das</strong> as possibilidades de<br />
êxito que as <strong>CEBs</strong> levam consigo, anima<strong>das</strong><br />
e apoia<strong>das</strong> que são pela CNBB<br />
em todo o território nacional.<br />
O leitor poderá tomar conhecimento,<br />
na mesma Parte II deste trabalho,<br />
de algo do histórico <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no<br />
Brasil, e dos resultados que estas proclamam<br />
ter alcançado.<br />
77
.....<br />
Capítulo V<br />
1 . .<br />
. ........ ,., . .<br />
:1 ·· 11ti . .,.::<br />
,~. : ..<br />
• ; . ~~;. . • : i · ! -
:. .. . --<br />
-<br />
.. . . .<br />
,. ,.
A Teologia da Lib<br />
erra çã o. " reinterpreta"<br />
as Escrituras<br />
...<br />
e<br />
OMO <strong>se</strong> viu (cfr. Parte I,<br />
Cap. IV), está na Teologia<br />
da . Libertação a motivação religiosa<br />
da dedicação que os membros de primeiro,<br />
de <strong>se</strong>gundo, e até de terceiro<br />
escalão - Bispos, Sacerdotes e leigos<br />
- votam às <strong>CEBs</strong>. Se eles recrutam,<br />
articulam, organizam e dão impulso a<br />
estas, é es<strong>se</strong>ncialmente porque, em via<br />
de regra, numa primeira etapa <strong>se</strong> lhes<br />
persuadiu de que a doutrina da Igreja<br />
em matéria social - e, con<strong>se</strong>qüentemente,<br />
a atuação da Igreja face às<br />
situações sócio-econômicas contemporâneas<br />
- mudou, por efeito de uma<br />
interpretação mais fina, sutil e plástica<br />
dada à Sagrada Escritura por<br />
João XXIII e Paulo VI, e que João<br />
Paulo II vem continuando a de<strong>se</strong>nvolver<br />
( l).<br />
Mas aos que caminharam mais<br />
longe nessa trajetória, as coisas <strong>se</strong><br />
apre<strong>se</strong>ntam posteriormente de outra<br />
manein. Medellin e Puebla denunciaram<br />
uma "realidade" vista enquanto<br />
situação de pecado, de opressão e<br />
Medellin e Puebla<br />
(1) De que modo possa dar-<strong>se</strong> isto <strong>se</strong>m<br />
prejuízo da coerência entre Papas e Papas -<br />
imprescindível, J,'l que uns e outros são mestres<br />
autorizados e, conforme as circunstâncias,<br />
até infalíveis do inva riável ensinamento de<br />
Nosso Senhor J es us Cristo ("Jesus Christus<br />
heri et hodie, ip<strong>se</strong> et in saecula: Jesus Cristo<br />
ontem e hoje, ele mesmo <strong>se</strong>mpre por todos os<br />
séculos", Heb. XIII, 8) - é esta uma objeção<br />
<strong>das</strong> mais embaraçosas para a Teologia da<br />
Libertação como para as <strong>CEBs</strong>, que não afir-<br />
mam categoricamente que os Papas tradicionais<br />
erraram. O .único meio de <strong>se</strong> de<strong>se</strong>mbaraçar<br />
desta dificuldade consiste em escamoteála.<br />
E, por sua vez, o único meio de escamoteála<br />
consiste em qualificar como mera diferença<br />
de matizes o contraste entre os ensinamentos<br />
sócio-econômicos tradicionais da Igreja e os da<br />
Teologia da Libertação. Formulação vaga, e<br />
por isto mesmo ambígua, especialmente inaceitável<br />
em <strong>se</strong> tratando de matéria que não<br />
permite a menor ambiguidade. Ora, o que<br />
80
de injustiça estrutural. Esta "visão da<br />
realidade" <strong>se</strong>rve de ba<strong>se</strong> para a interpretação<br />
da doutrina católica e para a<br />
fixação do rumo da Igreja, o qual só<br />
pode <strong>se</strong>r um: combater a situação de<br />
pecado institucionalizadu nas estruturas<br />
sócio-políticas, econômicas e culturais<br />
da América Latina.<br />
Tornando essa "realidade" assim<br />
arbitrária e simplisticamente descrita<br />
como "lugar social" a partir do. qual <strong>se</strong><br />
devem interpretar as Sagra<strong>das</strong> Escrituras,<br />
es<strong>se</strong>s neo-exegetas deduzem que<br />
a Igreja não deve manter o statu quo<br />
atual, corrigindo-o apenas no necessário,<br />
pois nisso ela continuaria a pregar<br />
uma "religião alienante". Pelo contrário,<br />
ela deve <strong>se</strong>r revolucionária, pregando<br />
uma religião libertadora, cuja<br />
ação específica é, na prática, a derrocada<br />
do statu quo atual.<br />
Essa é a interpretação que a Teologia<br />
da Libertação faz de Medellin.<br />
Segundo ela, a realidade atual, conflitiva,<br />
dialética, marcada pela luta o<br />
pressor x oprimido, dá origem a uma<br />
A Teologia da Libertação<br />
induz a<br />
Jazer política p or<br />
razões religiosas<br />
vem a <strong>se</strong>r precisamente um "matiz", em<br />
matéria como esta? A própria palavra matiz<br />
comporta tantas matizações... Entretanto,<br />
qualquer <strong>se</strong>ntido que <strong>se</strong> lhe dê, cumpre ponderar<br />
que nenhum há que <strong>se</strong> ajuste a diferenças<br />
- ·melhor <strong>se</strong>ria dizer contradições -<br />
tão evidentes como as que existem entre a<br />
Teologia da Libertação e o ensino tradicional<br />
do Supremo Magistério da Igreja. A gravidade<br />
de tal contradição fê-la notar João Paulo II em<br />
sua já citada alocução de Puebla, na abertura<br />
da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano<br />
(cfr. Parte I, Cap. IV, Nota<br />
3).<br />
Nada disto impediu, entretanto, como foi<br />
lembrado (Parte I, Cap. IV), que a Teologia da<br />
Libertação tives<strong>se</strong> continuado a vicejar e até a<br />
prosperar impunemente nas <strong>CEBs</strong>, a ponto de<br />
constituir a grande motivação es<strong>se</strong>ncial de <strong>se</strong>us<br />
dirigentes e de <strong>se</strong>us militantes, os <strong>quais</strong>, por<br />
sua vez, a vão inoculando gradualmente, e de<br />
início implicitamente, nos respectivos recrutas.<br />
81
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui10 <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Revolução religiosa<br />
e revolução a-<br />
1éia<br />
Mais eficaz a revolução<br />
religiosa<br />
nova interpretação da Escritura, do<br />
Dogma, da Moral, e portanto da Justiça.<br />
Em virtude dessa reinterpretação,<br />
a Teologia da Libertação induz a fazer<br />
política por razões religiosas (prática<br />
da justiça, amor de Deus, libertação<br />
do mundo sujeito ao pecado) e chega à<br />
<strong>se</strong>guinte conclusão: visto sob o prisma<br />
político, o amor de Deus é, por sua vez.<br />
um ato político, e <strong>se</strong> pratica pelas reformas<br />
de estrutura ( cf r. Parte II, Cap. li, 1 ).<br />
.• * *<br />
Tudo isto ponderado, e dada a<br />
grande afinidade do pensamento só:..<br />
cio-econômico existente entre as <strong>CEBs</strong><br />
e as correntes socialistas ou comunistas<br />
do Brasil ou de qualquer outro<br />
país, é-<strong>se</strong> levado a concluir que, grosso<br />
modo, a revolução sócio-econômica<br />
promovida por estas e a <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> são<br />
uma só.<br />
Diferencia-as apenas a natureza<br />
<strong>das</strong> respectivas motivações filosóficas<br />
e religiosas. O dirigente, militante ou<br />
recruta <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> deduz da Religião<br />
(reinterpretada pela Teologia da Libertação)<br />
as l'Onclusões sócio-econômicas<br />
que o PC e o PS deduzem da<br />
irreligião. Essa revolução religiosa e a<br />
revolução atéia têm, no mais, tudo ou<br />
qua<strong>se</strong> tudo para <strong>se</strong> irmanarem largamente<br />
no campo da ação.<br />
Entretanto, esta fundamentação religiosa<br />
da revolução confere às <strong>CEBs</strong>,<br />
Na foto, um circulo de estudos do IV Encontro<br />
lntereclesial de <strong>CEBs</strong>, realizado em ltaici, em<br />
abril deste ano. - A motivaçllo fundamentalmente<br />
religiosa <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> lhes dá uma possibilidade<br />
de êxito que o comunismo nl o tem. Este<br />
fez vencer uma revoluçllo atéia, derrubou igrejas<br />
(como esta, ao lado, no Vietnll), mas nllo<br />
matou a Religião. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, pelo contrário,<br />
fazem uma revolução em nome da Religillo, e<br />
trabalham pela vitória - no próprio interior da<br />
Igreja - do laicismo pregado pela Teologia da<br />
Libertação.<br />
no mundo de hoje, características próprias<br />
e vantagens específicas, que a<br />
revolução atéia não possui. Cumpre<br />
dizer aqui uma palavra sobre o tema.<br />
A motivação religiosa da subversão<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> lhes dá uma possibilidade<br />
de êxito, pelo menos a longo prazo,<br />
que Lênin não teve.<br />
82
Parti! l<br />
Capitulo V<br />
Com efeito, este fez vencer uma<br />
revolução atéia, porém não matou a<br />
Religião. E nem incutiu na alma popular<br />
verdadeira apetência pela ordem<br />
coletivista. A prova disso é a contínua<br />
repressão policial exercida na Rússia<br />
contra a expansão religiosa, bem como<br />
contra a propagação de qualquer<br />
doutrina contrária ao comunismo.<br />
Pelo contrário, as <strong>CEBs</strong> fazem u<br />
ma revolução em nome da Religião, e<br />
trabalham para a vitória de um !aicismo<br />
( ou <strong>se</strong>ja, de uma forma de ateísmo),<br />
pregado pela Teologia da Libertação<br />
(cfr. Parte II, Cap. II, !).<br />
* * *<br />
<strong>As</strong>sim posta no devido realce a motivação<br />
fundamentalmente religiosa<br />
da revolução que as <strong>CEBs</strong> querem<br />
promover, pode-<strong>se</strong> afirmar que esta<br />
constitui uma guerra psicológica revolucionária<br />
movida contra as elites do<br />
País.<br />
A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r <strong>muito</strong><br />
sumariamente definida como um<br />
conjunto de operações psicológicas<br />
destina<strong>das</strong> a atuar sobre o ânimo do<br />
adversário, de sorte a levá-lo à capitulação<br />
antes mesmo que qualquer<br />
operação o tenha derrotado pela força.<br />
A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r conduzida,<br />
quer contra um inimigo externo,<br />
quer contra o adversário interno.<br />
Ela as<strong>se</strong>gura ao atacante as vantagens<br />
da vitória <strong>se</strong>m os esforços, os<br />
gastos e os riscos da guerra.<br />
A guerra psicológica pode <strong>se</strong>r de<strong>se</strong>nvolvida<br />
simultaneamente com a<br />
guerra convencional (2).<br />
A guerra psicológica<br />
revolucionaria<br />
m ovida p elas<br />
<strong>CEBs</strong><br />
(2) A existência da guerra psicológica é<br />
reconhecida tanto por especialistas do Ocidente,<br />
como por comunistas:<br />
Diz o Marechal soviético Nikolay Bulganin:<br />
"A guerra moderna é uma guerra psico-<br />
83
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Não exclui avioléncia<br />
Não <strong>se</strong> pens·e, aliás, que· a guerra<br />
psicológica exclui inteiramente o emprego<br />
da força. Pois a intimidação do<br />
adversário faz parte de tal guerra, e<br />
certas operações de força ("invasões de<br />
terras", sabotagens, atentados, <strong>se</strong>q üestros,<br />
motins etc.) podem intimidar, e<br />
levar à capitulação a clas<strong>se</strong> social que<br />
<strong>se</strong> queira derrubar. ·<br />
<strong>As</strong>sim vistas as coisas, pode-<strong>se</strong> a<br />
firmar que a lqnga série de desordens<br />
de todo gênero, e até mesmo de guerlógica,<br />
devendo as Forças Arma<strong>das</strong> <strong>se</strong>rvir apenas<br />
para deter um ataque armado ou, eventualmente,<br />
para ocupar o território conquistado<br />
por ação psicológica" (apud H ERMES DE<br />
AR AÚJO OLI VEIR A, Guerra revolucionária, Biblioteca<br />
do Exército Editora, Rio de Janeiro,<br />
1965, p. 60).<br />
T ERENCE H. Q uALTE R, da Universidade de·<br />
Waterloo (Iowa), Estados Unidos, ob<strong>se</strong>rva:<br />
"Originariamente, a guerra psicológica era planejada<br />
como uma preliminar da ação militar,<br />
com o objetivo de desmoralizar os soldados<br />
inimigos antes que o ataque f as<strong>se</strong> lançado, ou<br />
como auxiliar da ação militar, apressando e<br />
reduzindo os crlS/os da vitória. Hoje ela <strong>se</strong><br />
tornou um substituto da ação militar . .... Uma<br />
derrota na guerra fria poderia <strong>se</strong>r tão real e tão<br />
definitiva quanto uma derrota militar, e, certamente,<br />
<strong>se</strong>ria <strong>se</strong>guida da derrota militar" (Propaganda<br />
and Psycho/ogical Warfare, Random<br />
Hou<strong>se</strong>, New York, 1965, pp. XII-XIII).<br />
O G ENERAL HuM BERTO B. MARTIN S, Comandante<br />
da Academia Militar de Portugal, assim<br />
a apre<strong>se</strong>nta: "Uma nova arma <strong>se</strong>creta foi encontrnda<br />
e é habilmente manejada pelos que<br />
rilhas <strong>se</strong>m qualquer forma <strong>se</strong>na de<br />
êxito, de<strong>se</strong>nrola<strong>das</strong> na América do Sul<br />
no fim da década de 50 até meados da<br />
década de 70, não passaram de operações<br />
de guerra psicológica revolucionária<br />
destina<strong>das</strong> a intimidar as elites, e<br />
fazê-las capitular ante revoluções arma<strong>das</strong><br />
de esquerda, que ao longo des<strong>se</strong><br />
período aqui e lá foram intenta<strong>das</strong>.<br />
Sobre este assunto é altamente coneludente<br />
o livro lzquierdismo en la<br />
lglesia: companero de ruta dei comupretendem<br />
alcançar a sua total hegemonia na<br />
Europa e na Ásia. <strong>As</strong> técnicas letais, ba<strong>se</strong>a<strong>das</strong><br />
fundamentalmente no estudo dos recursos de<br />
manobra psicológica <strong>das</strong> massas, são magistralmente<br />
reuni<strong>das</strong> em sistemas de forças convergentes<br />
que visam o aniquilamento da estrutura<br />
moral, econômica e militar <strong>das</strong> nações<br />
visa<strong>das</strong> en cada fa<strong>se</strong>" (Prefácio do livro de<br />
HERMES DE ARAÚJO OLIVEIRA, Guerra revolucionária,<br />
Biblioteca do Exército Editora, Rio<br />
de Janeiro, 1965, p. 21 ).<br />
É do especialista francês Maurice Mégret a<br />
ob<strong>se</strong>rvação de que "de Clau<strong>se</strong>witz a Lênin, a<br />
evolução <strong>das</strong> técnicas e o progresso <strong>das</strong> ciências<br />
psicológicas conspiraram para conferir à<br />
guerra psicológica os poderes qua<strong>se</strong> mágicos<br />
de uma 'arte da subversão" (La guerra psicológica,<br />
Editorial Paidós, Buenos Aires, 1959,<br />
p. 31).<br />
Outro conhecido especialista francês, Ro<br />
GER M UCCHIELI, acrescenta:<br />
"A concepção clássica fazia da subversão e<br />
da guerra psicológica uma máquina de guerra<br />
entre outras, durante o tempo <strong>das</strong> hostilidades,<br />
o show 1upama,o<br />
f '9<br />
-<br />
84
Parte 1<br />
Capítulo V<br />
A violência, no caso<br />
concreto <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong><br />
nismo en la larga aventura de los<br />
fracasos y de las metamorfosis, em<br />
que a TFP do Uruguai mostra como o<br />
terrorismo tupamaro não passou de<br />
um show, com a participação cúmplice<br />
dr importantes <strong>se</strong>tores da Hierarquia<br />
e do Clero daquele país, para<br />
nele instaurar um regime socialo-comunista.<br />
A violência repre<strong>se</strong>nta algum papel<br />
na guerra psicológica revolucionária<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>? Prova-o largamente o<br />
estudo de<strong>se</strong>nvolvi
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Chegará até a<br />
guerra civil?<br />
Basta que essa engrenagem conquiste,<br />
um <strong>pouco</strong> por toda parte,<br />
alguns <strong>se</strong>gmentos da massa, ainda<br />
que minoritários, para que a guerra<br />
psicológica revolucionária tenha<br />
êxito.<br />
Com efeito, bem adestrados, os<br />
componentes destes <strong>se</strong>gmentos podem<br />
dar aos olhos do grande público -<br />
por meio de manifestações de massa,<br />
de operações de sabotagem e de violência<br />
de várias ordens etc. - a impressão<br />
de que toda a massa operária<br />
está convulsionada. Reforçada essa<br />
impressão pelo noticiário <strong>se</strong>nsacionalista<br />
de tantos meios de comunicação<br />
social, as elites indolentes <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntirão<br />
propensas a concessões ditas prudentes,<br />
e por fim à capitulação.<br />
Pode a guerra psicológica revolucionária<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> degenerar em guerra<br />
civil? Isso depende da <strong>se</strong>dução que<br />
ela consiga exercer nos escalões inferiores<br />
<strong>das</strong> Forças Arma<strong>das</strong>. Bem como<br />
da confusão e do desalento em que<br />
consigam pôr elementos dos mais altos<br />
escalões, à vista do show bem<br />
organizado de um operariado "inteiro"<br />
revoltado contra a ordem sócioeconômica<br />
vigente.<br />
* * *<br />
A guerra psicológica revolucionária<br />
constitui hoje em dia, como acaba<br />
de <strong>se</strong>r lembrado (cfr. Nota 2 deste<br />
Capítulo), uma arma absolutamente<br />
equiparada às demais pelos entendidos.<br />
De<strong>se</strong>ncadeada em nome da Religião,<br />
pode ela <strong>se</strong>r definida como uma<br />
cruzada? - Sim, uma estranha cruzada<br />
<strong>se</strong>m Cruz.<br />
Entretanto, uma guerra es<strong>se</strong>ncialmente<br />
subversiva dos verdadeiros elementos<br />
de ordem vigentes na sociedade,<br />
não é uma cruzada, mas antes<br />
uma contra-cruzada.<br />
A contra-cruzada <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> falta<br />
aliás ... a característica religiosa. Pois,<br />
de<strong>se</strong>ncadeada, é verdade, por eclesiásticos,<br />
o fim dela não é religioso, mas<br />
estritamente temporal. De espírito es<strong>se</strong>ncialmente<br />
ecumênico, ela não visa o<br />
triunfo da Religião Católica sobre as<br />
igrejas e correntes que <strong>se</strong> lhe opõem,<br />
mas tão-só de uma justiça social concebida<br />
à maneira da Teologia da Libertação,<br />
dentro do âmbito meramente ·<br />
temporal. Ademais, essa concepção de<br />
justiça social <strong>se</strong> aparenta bastante -<br />
como há <strong>pouco</strong> foi lembrado - com<br />
a do próprio comunismo ...<br />
Nessa cruzada <strong>se</strong>m Cruz, Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo é mencionado<br />
com certa freqüência pelas <strong>CEBs</strong>. Mas<br />
não como o Homem-Deus, e sim como<br />
um chefe revolucionário, um tanto<br />
guru, bem exatamente <strong>se</strong>gundo a interpretação<br />
marxista da figura e do<br />
papel histórico do Messias, apre<strong>se</strong>n-<br />
Guerra psicológica<br />
revolucionária<br />
de<strong>se</strong>ncadeada em<br />
nome da Religião ...<br />
... mas com um<br />
fim não religioso,<br />
e sim estritamente<br />
temporal<br />
Cruzada <strong>se</strong>m Cruz
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mui/o <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Cruzada reformis-<br />
tada pela Teologia da Lil;>ertação (cfr.<br />
Parte 1, Cap. IV, Nota 3).<br />
* * *<br />
Es<strong>se</strong>ncíalmente, as <strong>CEBs</strong> consti-<br />
. ra e polírica tuem uma cruzada política. Cruzada<br />
<strong>se</strong>m Cruz, como acaba de <strong>se</strong>r dito,<br />
pois <strong>se</strong>m embargo do <strong>se</strong>u fundamento<br />
religioso, e de apre<strong>se</strong>ntarem com linguagem<br />
"místic_a" os fundamentos éticos<br />
<strong>das</strong> transformaçõ.es sociais que<br />
propugnam, elas concebem de modo<br />
inteiramente <strong>se</strong>cularizado o "Reino de<br />
Deus" que visam implantar. Cruzada<br />
política, que não exclui a passagem da<br />
luta cívica legal para o campo da<br />
violência, <strong>se</strong>mpre que não haja outro<br />
meio para implantar as reformas visa<strong>das</strong>.<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> introduzem, pois, no panorama<br />
político brasileiro, uma alteração<br />
fundamental. Em tal panorama<br />
só figuravam até aqui ·abertamente os<br />
partidos políticos. Estes têm em comum<br />
com as <strong>CEBs</strong> o fato de que<br />
fazem da política <strong>se</strong>u campo próprio<br />
de ação. Mas eles têm de diverso <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> duas características: l) de nenhum<br />
modo, e nem no mais extremo<br />
Alreração fundamenral<br />
no panorama<br />
polírico brasileiro<br />
Manifestaçlo em frente à .Igreja Matriz de Sl o Bernardo do Campo-SP.<br />
88
Parte l<br />
Capítulo V<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>parecem<br />
<strong>se</strong>r a própria Igrej<br />
a em ação na política<br />
A "libertação" que<br />
as <strong>CEBs</strong> preconizam<br />
do <strong>se</strong>u horizonte, visam a violência; 2)<br />
haurem toda a sua força de <strong>se</strong>us próprios<br />
quadros.<br />
Pelo contrário, como até aqui <strong>se</strong><br />
viu e em <strong>se</strong>guida ainda melhor <strong>se</strong> verá,<br />
as <strong>CEBs</strong> vivem de uma força institucionalmente<br />
alheia ao campo da política;<br />
ou <strong>se</strong>ja, a CNBB. Entidade que,<br />
es<strong>se</strong>ncialmente repre<strong>se</strong>ntativa do Episcopado<br />
nacional, pertence ipso facto à<br />
ordem espiritual e não à ordem temporal.<br />
A importância da primeira característica<br />
( espiritual) é óbvia. Uma palavra<br />
cabe sobre o alcance da <strong>se</strong>gunda<br />
( extra-temporal).<br />
Com efeito, é <strong>se</strong>u caráter religioso<br />
que atrai às <strong>CEBs</strong> o apoio, o fomento<br />
e o prestígio da CNBB. E como esta<br />
última tem a repre<strong>se</strong>ntação do Episcopado,<br />
concretamente as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> beneficiam<br />
do apoio, do fomento e do<br />
prestígio da própria Igreja. Ao que<br />
lhes parece dar oficialmente um título,<br />
o próprio qualificativo de "eclesiais",<br />
pelo qual a linguagem corrente entende<br />
"eclesiásticos".<br />
Em suma, tudo nelas parece indicar,<br />
ao nosso País altamente católico,<br />
que elas são a própria Igreja em ação<br />
na política.<br />
Aliás,é bem o'que pensa da Igreja e<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> a Teologia da Libertação.<br />
Cumpre à Igreja libertar as massas da<br />
situação injusta em que <strong>se</strong> encontram.<br />
Para isto as <strong>CEBs</strong> as "conscientizam",<br />
isto é, lhes dão consciência de que<br />
sofrem injustiças, lhes incutem de<strong>se</strong>jos<br />
de libertar-<strong>se</strong> destas e as aglutinam de<br />
modo a poderem operar a libertação<br />
que almejam. Mas esta libertação, <strong>se</strong>gundo<br />
as <strong>CEBs</strong>, só pode decorrer de<br />
leis que reformem as atuais estruturas<br />
sócio-econômicas. E como as leis só<br />
podem <strong>se</strong>r muda<strong>das</strong> pelo concurso dos<br />
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,<br />
o único modo do qual dispõem<br />
as <strong>CEBs</strong> para tornar efetiva a de<strong>se</strong>jada<br />
libertação consiste em contar com legisladores<br />
federais, estaduais e municipais<br />
que adotem o programa delas.<br />
Em te<strong>se</strong>, as <strong>CEBs</strong> poderiam contentar-<strong>se</strong><br />
em exercer uma influência<br />
meramente ideológica sobre os legisladores<br />
e os detentores do Executivo,<br />
ou candidatos a tal. Esta influência<br />
ideológica poderia não assumir caráter<br />
partidário, e portanto também não<br />
constituir uma incursão eclesial ( ou<br />
eclesiástica), no campo específico da<br />
política. Por exemplo, foi o que fez a<br />
Liga Eleitoral Católica - LEC - nos<br />
anos 30. Ela apontava ao eleitorado<br />
algumas reivindicações, de ordem a<br />
liás es<strong>se</strong>ncialmente religiosa, a <strong>se</strong>rem<br />
aceitas pelos candidatos que qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong>m<br />
o <strong>se</strong>u apoio (3). Porém, não inter-<br />
(3) Nas eleições para a <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Constituinte<br />
de 1933-1934, as "reivindicações católicas"<br />
mínimas foram o ensino religioso nas<br />
escolas públicas, a indissolubilidade do vinculo<br />
'<br />
Ao contrário da<br />
LEC. cujas reivindicações<br />
eram es<strong>se</strong>ncialmente<br />
religiosas<br />
...<br />
89
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> fal~. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
.. :o programa <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> afeta matérias<br />
de competência<br />
do Estado<br />
vinha de modo algum na estrutura do<br />
Estado, nem da sociedade civil.<br />
Aos deputados eleitos em razão de<br />
terem sido recomendados pela LEC<br />
era simples e claro o dever a <strong>se</strong>guir.<br />
Pelo contrário, o programa <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> afeta a qua<strong>se</strong> totalidade <strong>das</strong><br />
matérias sobre as <strong>quais</strong> é competente a<br />
ação legislativa do Estado, já que ele<br />
visa uma reforma completa da sociedade.<br />
E por isto condiciona toda a<br />
atividade do -legislador. <strong>As</strong>sim, para<br />
este <strong>se</strong> ver quite com as <strong>CEBs</strong> não lhe<br />
basta votar <strong>se</strong>gundo o de<strong>se</strong>jo delas em<br />
alguns <strong>pouco</strong>s pontos, -como eram as<br />
chama<strong>das</strong> "reivindicações católicas"<br />
dos anos 30. Ser-lhe-á ainda necessário<br />
. ter o espírito e a doutrina <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>, consultar a todo momento os<br />
dirigentes destas, em suma, aceitar<br />
que estes últimos lhe sirvam de bos<strong>se</strong>s;<br />
diria um crítico pejorativo: de "gurus".<br />
Mais uma vez, não <strong>se</strong> vê como as<br />
reformas <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> possam <strong>se</strong>r transforma<strong>das</strong><br />
em lei, <strong>se</strong>m o concurso de<br />
numerosos vereadores, deputados estaduais<br />
e federais, <strong>se</strong>nadores e, mais<br />
ainda, governadores e o próprio presidente<br />
da República. Para reformar o<br />
País tão amplamente como de<strong>se</strong>jam as<br />
<strong>CEBs</strong>, elas precisam governar o Brasil.<br />
conjugal, as capelanias religiosas junto às Forças<br />
Arma<strong>das</strong>, nos hospitais, penitenciárias e<br />
outros estabelecimentos públicos. Foram to<strong>das</strong><br />
introduzides na Constituição de 1934.<br />
Em uma palavra, precisam entrar<br />
na política.<br />
• • •<br />
Diante deste quadro, e dada a<br />
anemia em que estão nossos partidos<br />
políticos, o que resta a estes fazer?<br />
Em vista da atual lei eleitoral, as<br />
<strong>CEBs</strong> não podem <strong>se</strong> transformar em<br />
partido político. Resta-lhes tão-só entrar<br />
nos vários partidos, ter candidatos<br />
em todos, e coordenar a todos<br />
para reformar cabalmente o Brasil.<br />
· Por sua vez, os partidos políticos <strong>se</strong><br />
<strong>se</strong>ntirão assim como que constrangidos<br />
a entrar nas <strong>CEBs</strong>. Ou <strong>se</strong>ja, a inscrever<br />
nas fileiras destas o maior<br />
número de adeptos, a galgarem dentro<br />
delas os cargos de direção etc., de sorte<br />
que os interes<strong>se</strong>s regionais e pessoais<br />
que as clas<strong>se</strong>s políticas corporificam<br />
possam instrumentalizar quanto possível<br />
o elã, o prestígio e a força eleitoral<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. A instrumentalização dos<br />
partidos políticos pela Religião (leia-<strong>se</strong><br />
Teologia da Libertação) e pela Igreja<br />
(leia-<strong>se</strong> CNBB-<strong>CEBs</strong>) trará como corolário<br />
a instrumentalização <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
da CNBB e da Religião pelos partidos<br />
políticos.<br />
Em suma, <strong>se</strong>ria uma convulsão o<br />
caos:··<br />
'<br />
~ COIJ?- maior amplitude do que<br />
à pnmeua VlSta <strong>se</strong> pode imaginar.<br />
Para que <strong>se</strong> compreenda a amplitude<br />
que o fenômeno possa ter é pre-<br />
M atreira instrumentalização<br />
da<br />
p"olítica e da Religião<br />
Convulsão e caos<br />
90
Parte I<br />
Capítulo V<br />
A Liga Eleitoral Católica - LEC - criada pelo Episcopado brasileiro, na década de 30, respeitava<br />
claram ente a diatinçlo entre a esfera tempora l e a eapirit ual, pois, embora destinada a orientar o<br />
eleitorado católico, suas reivindicações eram de natureza es<strong>se</strong>ncialmente religiosa. - Na foto, a<br />
bancada paulista na Constit uint e de 1934 (na primeira fila, <strong>se</strong>nta<strong>das</strong>, as eapoaaa de alguns<br />
deputados), na qual oa deputados eleitos com o apoio doa católicos tiveram decisiva atuaçlo para<br />
o triunfo <strong>das</strong> chama<strong>das</strong> "reivindicações católicas": o ensino religioso nas eacolaa, a indiaaolubilidade<br />
do vinculo conjugal e aa capelaniaa religiosas.<br />
ciso considerar que esta peculiar decorrência<br />
da Teologia da Libertação<br />
em nossos meios não <strong>se</strong> dará apenas<br />
nos lugares em que haja <strong>CEBs</strong> organiza<strong>das</strong><br />
e dota<strong>das</strong> de vitalidade. Bastará<br />
que o Vigário esteja pessoalmente<br />
persuadido <strong>das</strong> te<strong>se</strong>s da Teologia da<br />
Libertação, ou que simplesmente <strong>se</strong>ja<br />
propenso a estas, para que sua influência<br />
sobre os fiéis, acionando o<br />
possante mecanismo do tríplice "<strong>se</strong>ntire"<br />
(cfr. Parte I, Cap. III), descarregue<br />
em favor dos candidatos <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>, apre<strong>se</strong>ntados pelos vários partidos<br />
políticos, o peso eleitoral,<strong>se</strong>mpre<br />
considerável, de que a Igreja dispõe<br />
nas várias paróquias.<br />
Quantos são os Sacerdotes brasileiros<br />
pró-<strong>CEBs</strong>? O número deles<br />
não é nada pequeno. Mas <strong>se</strong>u total<br />
constitui uma incógnita. Só o que <strong>se</strong><br />
<strong>sabe</strong>, por <strong>se</strong>r óbvio para todos, é que o<br />
número dos que combatem as <strong>CEBs</strong> é<br />
minúsculo. .. Ora, quando em um de-<br />
91
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Neste ponto cabe uma palavra so-<br />
bre os "moderados úteis", cujo papel é<br />
especialmente importante na ofensiva<br />
revolucionária da "esquerda católica"<br />
na atual conjuntura.<br />
Com efeito, a guerra psicológica<br />
revolucionária <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> está apenas<br />
em <strong>se</strong>us primórdios, aliás vigorosos.<br />
Em con<strong>se</strong>qüência, ela ainda não pode<br />
dirigir inteiramente a <strong>se</strong>u talante as<br />
elites sociais que de<strong>se</strong>ja derrubar. Por<br />
isso, cumpre-lhe tranqüilizar, sobre os<br />
cometimentos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, os elementos<br />
de elite cuja contra-ofensiva ainda poderia<br />
<strong>se</strong>r perigosa.<br />
Para esta delicada tarefa, são de<br />
muita utilidade os simpatizantes da<br />
"esquerda católica" que, por <strong>se</strong> terem<br />
deixado persuadir de uma suposta i<br />
nocuidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, e por terem um<br />
temperamento moderado, capaz de<br />
tranqüilizar os sobressaltos esporádicos<br />
dos elementos indolentes <strong>das</strong> elites,<br />
previnem qualquer contra-golpe<br />
destas.<br />
o papel dos "moderados<br />
úteis"<br />
terminado campo - no caso o religioso<br />
- os combatentes de um lado<br />
são numerosos, organizados e cheios<br />
de elã, e de outro lado os que <strong>se</strong> lhes<br />
opõem são <strong>pouco</strong>s, tantas vezes esparsos<br />
e tímidos, não há dúvida de que os<br />
primeiros <strong>se</strong> tornarão donos do<br />
campo.<br />
* • •<br />
Na realidade, porém, os "moderados<br />
úteis" costumam <strong>se</strong>r "companheiros<br />
de viagem" <strong>das</strong> esquer<strong>das</strong> mais<br />
ousa<strong>das</strong>, até o fim do caminho. Ou<br />
<strong>se</strong>ja, tranqüilizam até onde é possível,<br />
o centro e a direita, acerca <strong>das</strong> ousadias<br />
da esquerda. E quando já não é<br />
mais possível, cruzam os braços, e <strong>se</strong><br />
põem a considerar de maneira ostensivamente<br />
benévola a esquerda descabelada,<br />
em sua marcha terminal furibunda.<br />
Um exemplo: o que significa precisamente<br />
"Comunidade Eclesial de Ba<strong>se</strong>"?<br />
É esta uma pergunta a que a<br />
grande maioria do público não <strong>sabe</strong><br />
dar resposta. E para a qual um brasileiro<br />
explicavelmente sobressaltado<br />
pode pedir a ajuda de um "moderado<br />
útil". Este dificilmente lhe contará a<br />
verdade, dita com de<strong>se</strong>nvoltura por D.<br />
Miguel Balaguer, Bispo de Tacuarembó<br />
(Uruguai). Isto é, que "comunidade<br />
de ba<strong>se</strong>" é expressão equivalente a<br />
soviet (cfr. Parte II, Cap. I, 2).<br />
A voz pública cognominou o Sr.<br />
Arcebispo de Recife, D. Helder Câmara,<br />
de "Arcebispo Vermelho". É de<br />
crer que ela só não alcunhou de "Cardeais<br />
Vermelhos", o Sr. D. Paulo Evaristo<br />
Arns e o Sr. D. Aloisio Lorscheider,<br />
porque tal implicaria em redundância,<br />
<strong>se</strong>ndo o vermelho a cor<br />
tradicional do cardinalato.<br />
O Sr. Cardeal D. Eugenio Sales e o<br />
Sr. Cardeal D. Avelar Brandão Vilela<br />
Prelados "vermelhos"<br />
e Prelados<br />
"moderados"<br />
92
Parle I<br />
Capí1ulo V<br />
são mais bem tidos por centristas.<br />
Mas, <strong>se</strong>gundo fazem ver os efeitos <strong>das</strong><br />
suas operações na última década, <strong>se</strong><br />
parecem bem mais com os "moderados<br />
úteis".<br />
O Sr. Cardeal D. Vicente Scherer<br />
costuma <strong>se</strong>r tido por direitista. Entretanto,<br />
suas declarações favoráveis à<br />
Reforma Agrária beneficiam mais a<br />
esta última do que to<strong>das</strong> as do Sr.<br />
Cardeal-Arcebispo de São Paulo. Pois<br />
o primeiro, tido por direitista, passa<br />
ipso facto por insuspeito. E como, ao<br />
mesmo tempo, ele preconiza uma Reforma<br />
Agrária <strong>se</strong>m violência, isto o<br />
faz passar por direitista "equilibrado"<br />
ou "moderado". Compreende-<strong>se</strong> assim<br />
quanto suas declarações agro-reformistas<br />
"modera<strong>das</strong>" ( cfr. Parte I, Cap.<br />
II, Nota 4) <strong>se</strong>rvem, por isso mesmo, a<br />
causa da Reforma Agrária.<br />
* • •<br />
Por tudo quanto foi visto, não há<br />
dúvida de que as <strong>CEBs</strong>, <strong>muito</strong> e mui-<br />
<strong>As</strong> CE&, po1ência<br />
emergente na<br />
política<br />
Prelados "vermelhos" e Prelados "moderados":<br />
D. Vicente Scherer D. Helder Cllmara D. Eugênio Sales D . Avelar Brandlo Vilela<br />
93
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Ins trum entalização<br />
do Estado<br />
pelas CE&<br />
to mais do que o PC, são a grande<br />
potência emergente na política brasileira.<br />
Quem tome em linha de conta a<br />
amplitude total dos planos reformistas<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, não pode imaginar que<br />
o âmbito da ação política do movimento<br />
<strong>se</strong> limite à conquista de algumas<br />
cadeiras parlamentares, de alguns<br />
mandatos de vereador ou de prefeito,<br />
ou mesmo de alguma pasta ministerial.<br />
A tríplice reforma rural, urbana e<br />
empresarial visada pela CNBB, pelas<br />
<strong>CEBs</strong>, ou de modo mais amplo pela<br />
"esquerda católica", <strong>se</strong> algum dia implantada,<br />
trará como con<strong>se</strong>qüência a<br />
reforma pelo menos parcial do Código<br />
Civil, do Código Comercial, dos Códigos<br />
de Processo Civil e Penal, e de<br />
qua<strong>se</strong> toda a vastíssima legislação ordinária<br />
em vigor no País. Com a corolária<br />
reforma de um <strong>se</strong>m-número de<br />
leis, regulamentos, portarias etc.<br />
Sem to<strong>das</strong> essas modificações, a<br />
tríplice reforma rural, urbana e industrial<br />
constituirá tão-só letra morta.<br />
Ora, todo este imenso labor reformista<br />
só pode <strong>se</strong>r levado a cabo <strong>se</strong> nele<br />
<strong>se</strong> engajarem a fundo todos os órgãos<br />
do Estado.<br />
Portanto, ou o Estado <strong>se</strong>rá todo<br />
ele instrumentalizado pelas <strong>CEBs</strong>, ou<br />
os intuitos reformistas destas <strong>se</strong>rão<br />
vãos.<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> não podem, portanto,<br />
deixar de tender para instrumentalizar<br />
inteiramente o Estado brasileiro, a<br />
<strong>se</strong>rviço de sua cruzada <strong>se</strong>m Cruz.<br />
* * *<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>? À primeira vista, sim.<br />
Mas o que são elas <strong>se</strong>não um conjunto<br />
de brasileiros por sua vez dependentes<br />
da CNBB, em virtude do mecanismo<br />
do tríplice "<strong>se</strong>ntire"? Por trás<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, por cima delas está a CNBB.<br />
Mas, por sua vez, o que é a CNBB?<br />
Em te<strong>se</strong>, ela é a estruturação jurídica<br />
do Episcopado nacional (cfr. Parte I,<br />
Cap. li). Na realidade, ela é o dispositivo<br />
jurídico cujos corpos de direção<br />
a "esquerda católica" - ou mais precisamente<br />
a esquerda eclesiástica -<br />
utiliza para <strong>se</strong> impor à maioria dos<br />
Bispos, os <strong>quais</strong> docilmente mantêm o<br />
silêncio em suas reuniões, votam como<br />
a esquerda quer que votem (4), e<br />
(4) Sobre como são estudados, debatidos~<br />
votados e aprovados os documentos nas <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias<br />
Gerais da CNBB dá um impressionante<br />
depoimento o Sr. D . Alberto Gaudêncio<br />
Ramos, Arcebispo de Belém do Pará (o<br />
Arcebispo trata especificamente do documento<br />
Igreja e problemas da terra, aprovado na 18.ª<br />
<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Geral, em fevereiro de 1980; os<br />
subtítulos são nossos):<br />
Como <strong>se</strong> estuda. - "De ínício, devo esclarecer<br />
como são aprovados es<strong>se</strong>s documentos da<br />
CNBB. Algum tempo antes da <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia,<br />
cada bispo recebe um ante-projeto do assunto<br />
a <strong>se</strong>r tratado. Confesso de minha parte, que<br />
Por trás e por cima<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, a<br />
CNBB<br />
A maioria silen·<br />
ciosa do Episcopado<br />
94
Parte I<br />
Capitulo V<br />
A votaçlo doa documentos debatidos nas Auembléiaa da CNBB é feita, item por item, mediante o<br />
levantamento de cartões verdes (aprovaçlo), amarelos (aprovaçlo com emen<strong>das</strong>) ou vermelhos<br />
(rejeiçlo). Segundo D. Alberto Gaudêncio Ramos, Arcebispo de Belém do Par6, na pressa que<br />
geralmente caracteriza o final <strong>das</strong> <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias, "• tendllncia tf p•r• •prov•r tudo o que •p•r11ç•"·<br />
raras vezes disponho de tempo para estudá-lo<br />
a Jundo. Qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre o faço já durante a<br />
viagem de avião. E como eu procedem <strong>muito</strong>s<br />
outros bispos atarefados".<br />
".... A comissão que, a <strong>se</strong>u [próprio] critério,_<br />
aceita ou recusa". - "Aberta a as<strong>se</strong>mbléia, os<br />
diversos temas vão <strong>se</strong>ndo expostos sucintamente<br />
por um relator, depois do que todos vão<br />
para os "grupos integrados", constituídos de<br />
bispos, sacerdotes, religiosas e leigos, dos mais<br />
diversos pontos do Brasil. Uma comissão especialmente<br />
designada recolhe as ob<strong>se</strong>rvações<br />
que procedem dos diversos círculos e elabora<br />
nova redação, que depois é mimeografada e<br />
distribuída. Em plenário, <strong>muito</strong>s solicitam a<br />
palavra para elucidar alguns pontos, pedir<br />
correções, dar ênfa<strong>se</strong> a outros pontos: eté.<br />
Tanto essas intervenções orais como as escritas<br />
são encaminha<strong>das</strong> à comissão que exaustivamente<br />
<strong>se</strong>leciona e agrupa as opiniões similares<br />
e, a <strong>se</strong>u critério, as aceita ou recusa. Novos<br />
círculos de estudo são Jeitos, já agora constituídos<br />
pelos bispos de um mesmo regional".<br />
Como <strong>se</strong> vota. - "Há ainda debates em<br />
plenário para destaques ou correções, e a<br />
aprovação é feita, item por item, mediante o<br />
levantamento de um cartão verde, amarelo ou<br />
vermelho. Os <strong>se</strong>cretários dos Regionais con-<br />
95
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
saem dos bem conhecidos colóquios<br />
de ltaici precisamente como entraram:<br />
isto é, <strong>se</strong>m manifestar alegria, nem<br />
esperança, como também não pesar<br />
ou apreensão.<br />
O que pensa essa maioria a respeito<br />
de quanto <strong>se</strong> passa aos olhos<br />
dela, em nome dela, e <strong>se</strong>m que <strong>se</strong><br />
perturbe o silêncio dela?<br />
O Brasil inteiro gostaria de <strong>sabe</strong>r.<br />
Um veemente Apelo para que ela explicas<strong>se</strong>,<br />
ou pelo menos para que a<br />
bandonas<strong>se</strong> <strong>se</strong>u invencível mutismo,<br />
teve larga acolhida no País... porém<br />
não tirou do <strong>se</strong>u silêncio os Bispos<br />
Silenciosos (5).<br />
Diante des<strong>se</strong> per<strong>se</strong>verante silêncio,<br />
uma só pergunta resta. <strong>As</strong> numerosas<br />
A maioria silenciosa<br />
na esfera civil<br />
tam as exibições dos cartões e vão levar o<br />
resultado, em voz baixa, à mesa da <strong>se</strong>cretaria,<br />
e nisso pode haver uma margem de equívocos<br />
ou distrações".<br />
Na pressa final ... "a tendência é para aprovar<br />
tudo o que apareça". - "A aprovação de tão<br />
importantes documentos é feita, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre<br />
de afogadilho, quando <strong>muito</strong>s bispos já partiram<br />
de madrugada, quando todos estão fatigados<br />
e alguns olhando os relógios, já de olho<br />
no ônibus para a rodoviária ou para o aeroporto<br />
... Está claro que, nestas circunstâncias, a<br />
tendência é para aprovar tudo o que aparece.<br />
Saímos todos de lá <strong>se</strong>m termos o texto<br />
definitivo, pois algumas modificações são introduzi<strong>das</strong><br />
na última hora, e o conjunto ainda<br />
está submetido a um aperfeiçoamento redacional".<br />
Críticas. - "Não <strong>se</strong> pode, por con<strong>se</strong>guinte<br />
afirmar que <strong>se</strong> compreende 'a atitude dos<br />
bispos que, a exemplo de D. Luciano, <strong>se</strong><br />
eximiram de assiná-lo'. Ninguém assinou documentos.<br />
Apenas <strong>se</strong> firmaram as folhas de<br />
pre<strong>se</strong>nça. Seria difícil obter unanimidade de<br />
pensamento, em questões não doutrinárias, de<br />
perto de 230 cabeças. Por isso o meu combativo<br />
e inteligente amigo, D. Luciano Cabral<br />
pode afirmar, talvez, que não concorda com<br />
to<strong>das</strong> as expressões, com todos os argumentos,<br />
até mesmo, com todos os acontecimentos aludidos.<br />
Eu também levantei o meu cartão vermelho,<br />
a alguns pontos, mas fui vencido pela<br />
maioria.<br />
Está agora o documento <strong>se</strong>ndo bombardeado<br />
pelos economistas, pelos capitalistas,<br />
pelos agrônomos, pelos governantes ou por<br />
outras pessoas competentes. Cumpre não esquecer<br />
que não pretendem os bispos dar lições<br />
técnicas aos entendidos" . ... .<br />
Mão à palmatória. - "Podemos dar a mão à<br />
palmatória reconhecendo as deficiências de um<br />
trabalho feito da maneira acima relatada. Porém,<br />
mesmo que haja algum dado inexato, que<br />
nem todos os latifundiários mereçam nossas<br />
censuras, esperamos que, pelo menos, o documento<br />
valha como um alerta aos que porventura<br />
erraram, e como um protesto aos<br />
abusos que realmente estão <strong>se</strong>ndo cometidos<br />
em algumas partes do país" (artigo Terra a<br />
terra, na <strong>se</strong>cção "Recanto do Pastor", "Voz de<br />
Nazaré", 16-3-80, 1.8 página).<br />
(5) Cfr. PuNio CoRRtA DE OuvEJRA, A Igreja<br />
ante a escalada da ameaça comunista -<br />
Apelo aos Bispos Silenciosos, Editora Vera<br />
96
Parte I<br />
Capítulo V<br />
entidades de clas<strong>se</strong>, os partidos políticos,<br />
os órgãos de comunicação social,<br />
as personalidades em evidência,<br />
às <strong>quais</strong> caberia pre<strong>se</strong>rvar a esfera<br />
temporal dessa instrumentalização pela<br />
esquerda eclesiástica encastelada na<br />
CNBB, manterão elas também o silêncio<br />
a es<strong>se</strong> respeito, no qual - salvas as<br />
honrosas exceções - <strong>se</strong> encontram?<br />
<strong>As</strong>sim favorecida simultaneamente<br />
pelo duplo mutismo dos silenciosos na<br />
esfera espiritual e na esfera temporal,<br />
avançará a esquerda eclesiástica até a<br />
instrumentalização do próprio Brasil?<br />
Seja-nos licito esperar que não.<br />
Pois, possivelmente, na esfera temporal<br />
<strong>muito</strong>s silêncios <strong>se</strong> expliquem pela<br />
inadvertência acerca dessa tão inverossímil<br />
e entretanto tão real instrumentalização<br />
do País. Possa a publicação<br />
do pre<strong>se</strong>nte livro abrir os olhos<br />
às elites nacionais para que intervenham<br />
a tempo.<br />
Se tiverem savoir Jaire, poderão<br />
intervir com êxito, <strong>se</strong>m em nada desdourar<br />
a Santa Igreja, nem violar os<br />
direitos sagrados a que sua divina<br />
missão faz jus.<br />
Esperança de que<br />
este livroabra,por<br />
fim, os olhos<br />
Cruz, São Paulo, 1976, 4 edições, 51 mil<br />
exemplares.<br />
Só não mantiveram silêncio sobre este livro<br />
Bispos nada silenciosos. <strong>As</strong>sim, o Sr. Cardeal<br />
Arns publicou duas notas oficiais de protesto,<br />
uma delas conjuntamente com <strong>se</strong>us oito Bispos-Auxiliares.<br />
Também <strong>se</strong> pronunciaram o<br />
Sr. D. Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa Maria,<br />
então Secretário-Geral da CNBB, e o próprio<br />
Secretariado-Geral do órgão episcopal; e, por<br />
fim, a Arquidioce<strong>se</strong> de Olinda e Recife, da qual<br />
é Arcebispo D. Helder Câmara, que emitiu<br />
duas notas contrárias ao livro. Nos diversos<br />
comunicados de imprensa com que o autor do<br />
livro respondeu a essas notas ponderou que<br />
elas constituiam invariavelmente mero protesto,<br />
<strong>se</strong>m qualquer documentação ou refutação.<br />
Não obstante, até hoje nenhuma refutação<br />
veio a lume.<br />
Quanto aos Srs. Bispos que já eram silenciosos<br />
antes da publicação do Apelo, ao que<br />
consta continuaram tais enquanto es<strong>se</strong>s fatos<br />
<strong>se</strong> davam, e tais continuam até o pre<strong>se</strong>nte<br />
momento.<br />
97
Conclusão<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>?
P e rigo p o nde-.<br />
rável, mas contornável<br />
A s e lit e s têm<br />
meios para encontrar<br />
uma pronta e<br />
justa solução dos<br />
problemas nacionais<br />
T UDO quanto foi aqui visto<br />
mostra que as <strong>CEBs</strong><br />
constituem pre<strong>se</strong>ntemente um perigo<br />
<strong>muito</strong> ponderável, mas ao mesmo tem- ·<br />
po inteiramente contornável.<br />
Muito ponderável es<strong>se</strong> perigo o é,<br />
não apenas pelo que as <strong>CEBs</strong> já são,<br />
como sobretudo pelo que podem vir a<br />
<strong>se</strong>r no dia de amanhã, <strong>se</strong> Íhes for<br />
deixado livre o campo para progredir.<br />
Mas, igualmente, es<strong>se</strong> perigo <strong>se</strong>rá <strong>muito</strong><br />
controlável <strong>se</strong> as elites brasileiras,<br />
as <strong>quais</strong> as <strong>CEBs</strong> têm em mira, compreenderem<br />
a necessidade de começar<br />
quanto antes uma ação visando contê-las.<br />
De que natureza <strong>se</strong>ria tal ação? A<br />
TFP não cabe dar diretrizes nem traçar<br />
programas para as clas<strong>se</strong>s a que<br />
ela aqui alerta. Sobram a estas os<br />
recursos de inteligência, os relacionamentos<br />
sociais e políticos e as disponibilidades<br />
econômicas para arquite-<br />
tar e pôr em prática uma larga campanha<br />
de esclarecimento do País sobre<br />
os problemas que as <strong>CEBs</strong> levantam,<br />
as imputações que as <strong>CEBs</strong> a elas<br />
fazem, e os pontos de vista <strong>das</strong> mesmas<br />
elites sobre o que convém ao País<br />
fazer, dentro da justiça e da paz, para<br />
a pronta_ sol':1ção dos grandes problemas<br />
nac1ona1s.<br />
A tal propósito, a TFP de<strong>se</strong>ja registrar<br />
somente um ponto. Por enquanto,<br />
a forte maioria <strong>das</strong> massas<br />
trabalhadoras ainda não está atingida<br />
pela detração sistemática que as <strong>CEBs</strong><br />
movem contra as elites. O ódio de<br />
clas<strong>se</strong>s ainda não existe entre nós.<br />
Pelo contrário, os trabalhadores manuais<br />
são <strong>se</strong>nsíveis aos esclarecimentos<br />
que lhes queiram dar as elites<br />
nacionais. Portanto, toca a estas dirigir-<strong>se</strong><br />
a eles o quanto antes. Pois já<br />
amanhã, com o crescimento <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>, talvez <strong>se</strong>ja tarde demais ... (1).<br />
Os trabalhadores<br />
manuais ainda não<br />
estão atingidos pelo<br />
ódio de clas<strong>se</strong>s...<br />
mas com o<br />
crescimento <strong>das</strong><br />
CE&, amanhã talvez<br />
<strong>se</strong>ja tarde demais!<br />
100
Contributo especial<br />
da TFP: as<br />
<strong>CEBs</strong> não estão<br />
em consonância<br />
com os ensinam<br />
e n tos tradicionais<br />
da Igreja<br />
Para es<strong>se</strong> esclarecimento, a TFP<br />
dá aqui <strong>se</strong>u contributo. E este é de<br />
importância fundamental.<br />
Com efeito, <strong>se</strong>ndo fundamentalmente<br />
religioso o motivo pelo qual as<br />
<strong>CEBs</strong> con<strong>se</strong>guem aglutinar e mobilizar<br />
as massas, nada é mais próprio<br />
para obstar tal mobilização e aglutinação,<br />
<strong>se</strong>não mostrar que as <strong>CEBs</strong><br />
rião são consonantes com os ensmamentos<br />
tradicionais dos Romanos<br />
Pontífices, e que a luta de clas<strong>se</strong>s<br />
fomentada pelas <strong>CEBs</strong> é condenada<br />
pela Igreja. E, principalmente, que o<br />
fatal sistema do tríplice "<strong>se</strong>ntire", como<br />
o apre<strong>se</strong>nta entre nós uma longa<br />
tradição de ignorância religiosa, exagera<br />
a um grau qua<strong>se</strong> inimaginável o<br />
que a Igreja ensina sobre os sagrados<br />
deveres de obediência do fiel à Hierarquia<br />
Eclesiástica.<br />
A demonstração deste último ponto,<br />
a TFP a tem feito de modo explícito<br />
ou implícito, e com grande<br />
(1) Tal estado de ânimo, a luta pela vida<br />
nas grandes cidades não o con<strong>se</strong>guiu eliminar.<br />
Tam<strong>pouco</strong> o con<strong>se</strong>guiu o fluxo imigratório<br />
torrencial que <strong>se</strong> despejou sobre o Brasil no<br />
último quartel do século passado e no primeiro<br />
quartel deste século, e aqui fixou a pre<strong>se</strong>nça de<br />
etnias e de tradições tão diversas.<br />
A consonância des<strong>se</strong> tradicional e per<strong>se</strong>verante<br />
estado de ânimo brasileiro com os<br />
preceitos e con<strong>se</strong>lhos do Evangelho, deixa ver<br />
em que larga medida ele resulta da influência<br />
cristã. Nada pois mais eficaz para eliminá-lo<br />
do que o trabalho metódico de, por influência<br />
da CNBB, nele incutir precisamente o<br />
oposto, isto é, as ardências desordena<strong>das</strong> do<br />
ódio de clas<strong>se</strong>s e do espírito revolucionário.<br />
Para isto, a Teologia da Libertação, tão<br />
dis<strong>se</strong>minada nas Comunidades de Ba<strong>se</strong>, cria<br />
to<strong>das</strong> as condições favoráveis. E o ódio de<br />
clas<strong>se</strong>s, por sua vez, leva à violência.<br />
Sobre o caráter marxista da Teologia da<br />
Libertação, poucas dúvi<strong>das</strong> pode haver (cfr.<br />
101
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Profeta Joel, do Aleijadinho, em Congonhas do<br />
Campo, Minas Gerais.<br />
abundância de documentação, ao longo<br />
dos <strong>se</strong>us 22 anos de luta. Da riqueza<br />
dessa argumentação, dá provas o<br />
fato de que, sobre vários assuntos<br />
bn relação à TFP.<br />
o adversário não<br />
teme difamar.<br />
Mas teme discutir<br />
Parte II, Cap. II, 1). O "povo de Deus",<br />
do qual tanto <strong>se</strong> <strong>fala</strong> na "esquerda católica", é<br />
entendido como <strong>se</strong>ndo constituído especificamente<br />
pelos pobres, os <strong>quais</strong> formariam ex<br />
natura propria o Corpo Místico de Cristo (cfr.<br />
Parte II, ibidem). O "povo de Deus", os oprimidos,<br />
<strong>se</strong>riam o novo Messias (cfr. Parte II,<br />
ibidem).<br />
Por fim, os ricos são qualificados como o<br />
opróbrio da terra e os malfeitores máximos<br />
102<br />
correlatos, a TFP já tem, public a e<br />
largamente difundida no País, t da<br />
uma biblioteca (2), além de opulen s<br />
coleções dos órgãos de imprensa "L<br />
gionário" e "Catolicismo", em que <strong>se</strong>u<br />
pensamento está expresso.<br />
Quanto ao valor lógico da argumentação<br />
contida nessas obras, <strong>fala</strong><br />
de modo concludente o fato de que<br />
elas têm suscitado <strong>muito</strong>s aplausos,<br />
mas também <strong>muito</strong>s ódios. Es<strong>se</strong>s ó<br />
dios <strong>se</strong> têm manifestado em campanhas<br />
de difamação e estrondos publicitários<br />
de dimensões ciclópicas. Nunca,<br />
porém, em contra-argumentações<br />
de qualquer espécie, Em relação à<br />
TFP, o adversário não teme difamar,<br />
embora ele saiba de antemão que suas<br />
falsas imputações acabarão rolando<br />
pelo solo à míngua de provas. O que o<br />
adversário teme, isso sim, é discutir.<br />
A não <strong>se</strong>r tal campanha de difamação,<br />
é difícil conjecturar qual possa<br />
<strong>se</strong>r a réplica do "esquerdismo católico"<br />
ao pre<strong>se</strong>nte livro. Pois a argumentação<br />
e a documentação produzicontra<br />
a sociedade (cfr. Parte II, ibidem):<br />
gênero de crime que o socialismo tende a<br />
considerar o maior e qua<strong>se</strong> o único, a contrario<br />
<strong>se</strong>nsu da ordem individualista e capitalista,<br />
a qual considera qua<strong>se</strong> exclusivamente os crimes<br />
contra o indivíduo.<br />
(2) Ver neste volume a relação <strong>das</strong> obras<br />
divulga<strong>das</strong> pela TFP.<br />
\
Parte l<br />
Conclusão<br />
Como a TFP, que<br />
as elites nacionais<br />
entrem na liça com<br />
as armas pacíficas<br />
e legais<br />
Confiança em<br />
Nossa Senhora de<br />
Fátima<br />
Se as elites não<br />
aruarem, não foi<br />
por falta de quem<br />
as alertas<strong>se</strong><br />
<strong>das</strong> na Parte II não deixam margem a<br />
qualquer réplica.<br />
Lançando este livro, a TFP mais<br />
uma vez entra na liça de combate.<br />
Nesta, ela usa as armas pacíficas e<br />
legais próprias a controvérsias de alto<br />
nível, e incita as elites do país a que,<br />
por sua vez, façam o mesmo com não<br />
menor destemor.<br />
A TFP não reclama para si proeminências<br />
nem lideranças. Ela reconhece<br />
de público que, nessa batalha,<br />
ela não deve <strong>se</strong>r <strong>se</strong>não uma <strong>das</strong> componentes<br />
do grande front anti-socialista<br />
e anticomunista a <strong>se</strong> organizar. E<br />
conclui esta parte de <strong>se</strong>u livro-manifesto,<br />
pedindo a Nossa Senhora de<br />
Fátima, a qual já em I 917 alertou o<br />
mundo para o perigo do comunismo,<br />
que ajude nossas clas<strong>se</strong>s dirigentes a<br />
saírem de <strong>se</strong>u Ietargo, e a exercerem<br />
efetivamente sua missão de orientadoras<br />
de todo o corpo social. Se não o<br />
fizerem, a História alegará um dia que<br />
as massas foram transvia<strong>das</strong> porque<br />
as elites desdenharam de as orientar.<br />
Mas registrará igualmente - convém<br />
ainda uma vez dizê-lo - que não<br />
faltou quem as alertas<strong>se</strong> na hora extrema.<br />
A TFP cumpre aqui es<strong>se</strong> dever,<br />
movida por <strong>se</strong>u amor à Igreja, à civilização<br />
cristã e à querida Pátria brasileira.<br />
Mais do que isso não pode ela<br />
fazer!<br />
Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora advertiu<br />
que, <strong>se</strong> os homens nlio <strong>se</strong> emen<strong>das</strong><strong>se</strong>m, "a<br />
Rússia espalharia <strong>se</strong>us erros pelo mundo".<br />
Nossos olhos <strong>se</strong> voltam para os do Mlie de<br />
Deus, pedindo a Elo que ajude os clas<strong>se</strong>s dirigentes<br />
a solrem de <strong>se</strong>u letargo e a resistirem,<br />
dentro da lei e do ordem, à penetraçlio insidiosa<br />
dos erros do comunismo, principalmente nos<br />
meios católicos.<br />
103
• ,itúri.a d,, 1~<br />
fhX" t D\ utru1 cnt"ruz.Hh.ü • m~UTr ia do tfcilonufo<br />
ntr la e t!1rt1l1 ta<br />
a, ít nri•~ltitoral pmpon:iona no l'S<br />
•rnplo rnrw diphH11'1li e prol)3l(llndi~tic.os<br />
1 · ra Íot'rem.entoda ~ rr.a p111.it"oló«ir.a re,·olu('ionár1a1<br />
no interiordt lodo,. os naroe<br />
Socialismo Autogestionário:<br />
Hoje, França - Amanhã, o Mundo?
Designados de modo diverso na linguagem<br />
corrente - guerra f ria, política da mão estendida,<br />
coexistência pacífica. queda <strong>das</strong> barreiras ideológicas.<br />
détente, Ostpolitik alemã, Ostpolitik vaticana,<br />
def esa dos direitos humanos (fórmula Carter<br />
). eurocomunismo, comunism o de'face humana<br />
etc. - os esforços diplomáticos para caracterizar<br />
as difíceis relações entre as p otências de aquém e<br />
além cortina de f erro, deixam ver, em <strong>se</strong>u todo,<br />
algo de <strong>muito</strong> claro: eles exprimem o de<strong>se</strong>jo de<br />
explorar em favor do imperialism o soviético a<br />
larga ansiedade dos homens diante do perigo de<br />
uma catástrof e atômica eventualmente resultante<br />
do malogro total da diplomacia, e da irrupção de<br />
uma Ili Guerra Mundial.<br />
Esta perspectiva sinistra leva incontáveis pessoas<br />
no mundo inteiro a sonhar com uma fórmula<br />
sócio-econômica de meio termo entre o comunismo<br />
e o capitalism o. Pois o encontro dessa<br />
fórmula importaria - imaginam eles - na extirpação<br />
de uma <strong>das</strong> causas mais ativas da tensão<br />
Leste-Oeste, ou <strong>se</strong>ja, o desacordo ideológico entre<br />
comunistas e não-comunistas.<br />
Bem entendido, para que essa fórmula evitas<strong>se</strong><br />
ef etivamente o tão receado perigo, <strong>se</strong>ria necessário<br />
que não contives<strong>se</strong> em <strong>se</strong>u bojo princípios tão<br />
contrários à ordem natural e à justiça - ou m ais<br />
até - quanto os que caracterizam o supercapita<br />
/ism o, o socialismo e o comunismo. Pois a paz é<br />
fruto da justiça: "opus justitiae pax" (Isaías 32, 17)<br />
era o lema do Pontificado do pranteado Pio X II.<br />
Injustiças e desordens institucionais ainda mais<br />
agu<strong>das</strong> do que as do Ocidente hodierno só poderão<br />
agra var o grande conflito em perspectiva.<br />
Uma <strong>das</strong> f órmulas m ais antinaturais e mais<br />
injustas para a pretensa con vergência entre o<br />
Ocidente e o Oriente é o socialism o autogestionário<br />
francês, vitorioso com as eleições presidenciais<br />
e legislativas do ano passado.<br />
É o que uma análi<strong>se</strong> acurada do tema faz ver.<br />
<strong>As</strong> Sociedades de Defesa da Tradição. Família<br />
e Propriedade - TFPs - de. treze paí<strong>se</strong>s (Argentina,<br />
Bolívia. Brasil, Canadá, Chile, Colôm bia.<br />
Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal,<br />
Uruguai e íYenezuela) dirigiram, em conjunto,<br />
ao público <strong>das</strong> respectivas nações. uma<br />
Mensagem intitulada O socialismo autogestionário:<br />
em vista do comunismo, barreira ou cabeçade-ponte?<br />
Uma fra<strong>se</strong> colocada em epígrafe destaca:<br />
O duplo jogo do socialismo francês: na<br />
estratégia gradualidade - na meta rad icalidade.<br />
A Mensagem, de autoria do Prof Plinio Corrêa<br />
de Oliveira, Presidente do Con<strong>se</strong>lho Nacional<br />
da TFP brasileira. foi publicada em 47 grandes<br />
jornais da América do Norte, Europa e A mérica<br />
do Sul. a partir do dia 9 de dezembro do ano<br />
passado.<br />
<strong>As</strong> TFPs são entidades anticom unistas. coirmãs<br />
e autônomas. inspira<strong>das</strong> nos documentos tradicionais<br />
dos Papas. A primeira delas f oi f undada<br />
em São Paulo, Brasil, pelo ex-deputado fede ral.<br />
professor universitário,
I<br />
t<br />
•<br />
h<br />
P11. •10 CoR Ri:A DE O 1..1vEJRA nasceu em São<br />
Paulo, Brasil, em 1908. Diplomado pela Faculdade<br />
de Direito da Uni ve rsidade de São Paulo,<br />
fo i Professor de História da Civilização no<br />
Colégio Universitário da mesma Universidade.<br />
Em <strong>se</strong>guida assumiu a Cátedra de História<br />
Moderna e Contemporânea nas Faculdades<br />
São Bento e Sedes Sapientiae da Pontifícia<br />
Universidade Católica de São Paulo.<br />
Destacou-<strong>se</strong> desde jovem como orador, co n<br />
ferencista e jornalista católico. Colaborou durante<br />
anos no <strong>se</strong>manário católico "Legionário",<br />
do qual foi diretor. At ualmente escreve para o<br />
mensário "Catolicismo" e para a "Folha de<br />
S. Paulo", um dos diários de maior circulação<br />
no Brasil. É a utor de vários livros.<br />
Em l 960, fundou a Sociedade Brasileira de<br />
Defesa da Tradição, Família e Propriedade -<br />
TFP, e tem sido, desde então, Presidente d o<br />
Con<strong>se</strong>lho Nacional da entidade. Inspira<strong>das</strong> em<br />
Revolução e Contra-Revolução e em outras<br />
obras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, TFPs<br />
e associações congêneres <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolveram<br />
igualmente em doze paí<strong>se</strong>s <strong>das</strong> Améri cas e da<br />
Europa.<br />
ill aill a11r~1,1ia<br />
A Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs faz detida análi<strong>se</strong><br />
d o socialismo autogestioná rio francês, que iniciou<br />
vigoroso processo de expansão internacional com<br />
a ascensão de François Mitterrand à Presidência<br />
da República Fra ncesa.<br />
Com abunda ntes citações de documentos oficiais<br />
do PS, a Mensagem sustenta que o socialismo<br />
autogestionário - ao contrário do que<br />
<strong>muito</strong>s imaginam - não constitui uma modalidade<br />
do esquerdismo, avançada <strong>se</strong>m dú vid a, mas<br />
bonacheirona e gradualista. A Mensagem põe em<br />
evidência que o programa autogestionário visa a<br />
desagregação da sociedade atual em corpúsculos<br />
autônomos, dotados de uma qua<strong>se</strong> soberania, o<br />
que redundará na implantação da utopia anárquica<br />
na França.<br />
Essa utopia, entretanto, o socialismo autogestionário<br />
não a reconhece como desordenada e caótica.<br />
Verdadeira escola filosófica substancialmente<br />
marxista, e portanto também evolucionista, o<br />
socia lismo francês espera promover, com a gra-<br />
III
1<br />
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1.,1<br />
••<br />
'<br />
dual aplicação da reforma a utogestionária, uma<br />
transformação fundamental, não só da empresa<br />
industrial, comercial e rural, como também da<br />
família, da escola, e de toda a vida socia l. Mais<br />
ainda, ele pretende influir a fundo na própria vida<br />
individual, modelando a <strong>se</strong>u gosto os la ze res e o<br />
próprio arranjo interior <strong>das</strong> casas.<br />
Caos na família<br />
De outra parte, es<strong>se</strong>ncialmente laico, ele visa<br />
. admitir, em termo último, tão-só a escola autogestionária<br />
laica, à qua l os pais devem entregar<br />
<strong>se</strong>us filhos logo que completem dois anos de idade.<br />
A escola privada religiosa, ele visa aboli-la enquanto<br />
propriedade individual, e enquanto religiosa.<br />
A essa reforma geral, não poderia ficar alheia a<br />
família. A Mensagem mostra que o programa do PS<br />
equipara inteiramente o casamento à união livre<br />
entre os <strong>se</strong>xos, e reivindica a equivalência entre a<br />
união heteros<strong>se</strong>xual e a união homos<strong>se</strong>xual. Feminista<br />
ao ·extremo, o socialismo autogestionário exige,<br />
ademais, para a mulher, a inteira equivalência com o<br />
homem, inclusive na responsabilidade como no fardo<br />
dos trabalhos com que ela tenha que arcar.<br />
Acabar com o patrão<br />
A empresa, no final da evolução autogestionária,<br />
não tem patrão. A direção dela cabe, em<br />
última instância, à as<strong>se</strong>mbléia geral dos trabalhadores.<br />
Esta tem o direito de tomar periodicamente<br />
conhecimento de to<strong>das</strong> as atividades empresariais.<br />
Nem <strong>se</strong>quer o <strong>se</strong>gredo industrial lhe pode <strong>se</strong>r<br />
oculto. Os dirigentes da empresa são eleitos pela<br />
as<strong>se</strong>mbléia dos trabalhadores, a qual é soberana<br />
no que diz respeito às atividades empresariais.<br />
Como <strong>se</strong> vê - e os documentos do PS o<br />
afirmam <strong>se</strong>m rebuços - uma reforma tão completa<br />
da sociedade supõe uma reforma igualmente<br />
completa do próprio homem. É em função da<br />
•<br />
natureza humana assim reformada, que o socialismo<br />
autogestionário reclama não <strong>se</strong>r qualificado<br />
de utópico.<br />
A gradualidade<br />
O PS não espera realizar esta reforma total,<br />
da sociedade e do homem, em um só salto,<br />
mas por transformações sucessivas. Um dos meios<br />
es<strong>se</strong>ncia is pa ra pôr em movimento e levar a termo<br />
essa reforma do homem e da sociedade é a luta de<br />
clas<strong>se</strong>s. Negando não só o princípio de autoridade<br />
como toda hierarquia, o PS abre campo para ess<br />
luta, na empresa levantando os operários contra<br />
os patrões, e os dirigidos contra os dirigentes. Na<br />
família, suscitando a luta dos filhos contra os pais .<br />
Na escola, entre os alunos e mestres. E assim por<br />
diante.<br />
O programa do PS não nega a liberdade de<br />
funcionamento da fgreja. Mas esta - comenta a<br />
Mensagem - ficará reduzida a viver numa sociedade<br />
inteiramente laicizada até nos <strong>se</strong>us menores<br />
aspectos, que, enquanto tal, não tomará em qualquer<br />
linha de conta as obrigações do homem para<br />
com Deus, nem os princípios da ordem na tural<br />
delineados na Lei que Deus revelou a Moisés. Ela<br />
fica , pois, estranha à ordem civil, que tomará um<br />
rumo oposto ao ensinamento dela.<br />
"Liberté - Egalité - Fraternité"<br />
O socialismo autogestionário francês <strong>se</strong> proclama<br />
inteiramente coerente com a trilogia da Revolução<br />
de 1789: "Liberdade - Igualdade - Fraternidade".<br />
Para ele, a abolição do patronato na<br />
empresa é a con<strong>se</strong>qüência lógica da instauração da<br />
república. Ele aponta no patrão um pequeno rei<br />
que remanesce no interior da empresa, e no rei o<br />
grande patrão que a república democrática eliminou.<br />
Entre a vitória final do socialismo autogestionário<br />
e a Revolução Francesa, ele traça toda<br />
•.. •-<br />
. ."<br />
.Ili ··*"<br />
• l
•,JI<br />
uma genealogia de revoluções: 1848, 1871 e a<br />
Sorbonne-1968.<br />
A Encíclica de João Paulo II Laborem Exerc:en!i<br />
é uma versão católica do socialismo a utogestionário<br />
francês? Compreende-<strong>se</strong> o alcance da<br />
pergunta. especialmente na perspectiva católica,<br />
que é a <strong>das</strong> TFPs. Também este assunto vem abotdado<br />
na Mensagem.<br />
Mitterrand difunde a<br />
autogestão pelo mundo<br />
A que título <strong>se</strong> ocupam as TFPs de uma<br />
problemática à primeira vista toda ela francesa , e<br />
ant a qual, portanto, só competiria à TFP francesa<br />
tomar posição? A Mensagem põe em realce o<br />
imperialismo doutrinário <strong>muito</strong> marcante que caracteriza<br />
a política exterior do PS, e portanto<br />
também do atual governo francês. Ela mostra que<br />
a expansão internacional do socialismo autogestionário<br />
é meta relevante da diplomacia do Sr.<br />
François Mitterrand. E que o melhor meio para<br />
defender <strong>se</strong>us paí<strong>se</strong>s contra o que qualificam de<br />
agressão ideológica_ socialista consiste em revelarlhes<br />
a ve rdadeira face do socialismo autogestionário,<br />
conhecida pelos militantes do PS, não<br />
porém pelo grande público não socialista.<br />
No que diz respeito à França, a Mensagem<br />
demonstra que a vitória socialista nas eleições de<br />
maio-junho do ano passado não resultou de um<br />
aumento do eleitorado de esquerda. mas da desorientação<br />
do eleitorado católico, do qual uma<br />
parcela ponderável votou por Mitterrand, e do<br />
grande número de abstenções que houve no eleitorado<br />
não socialista, resultado de uma campanha<br />
conduzida <strong>se</strong>m o empenho necessário pelos partidos<br />
de centro-direita.<br />
Abrir todos os olhos também na França, à<br />
verdadeira fisionomia da autogestão, parece às<br />
TFPs <strong>se</strong>r o meio mais útil para que a população<br />
'<br />
francesa, recusando <strong>se</strong>u apoio ao socialismo. obste<br />
a que o prestígio político e cultural dessa nação<br />
<strong>se</strong>ja empregado a <strong>se</strong>rviço da agressão ideológica<br />
autogestionária.<br />
A Mensagem <strong>se</strong> encerra com um belo texto em<br />
que o Papa São Pio X afirma sua esperança de que<br />
a França venha a reluzir no mundo com todo o<br />
brilho cristão que lhe compete como filha primogénita<br />
e bem-a mada da Igreja .<br />
Uma Mensagem ampla, efeitos<br />
<strong>muito</strong> mais amplos ainda<br />
Ao encerrar o resumo da Mensagem <strong>das</strong> treze<br />
TFPs à opinião pública do Ocidente, é impossível<br />
evitar que aflore ao espírito de <strong>muito</strong>s leitores a<br />
<strong>se</strong>guinte pergunta: - Transcorreram oito me<strong>se</strong>s<br />
da divulgação inicial des<strong>se</strong> substancioso documento<br />
... Que efeitos produziu ele? - A resposta<br />
não é fácil de condensar numa sínte<strong>se</strong> como<br />
a pre<strong>se</strong>nte. Pois foram tantos, que só <strong>muito</strong> esquematicamente<br />
enunciados podem aqui caber.<br />
Distingamos entre efeitos dentro da França e<br />
fora da França. E, para maior comodidade do<br />
leitor, comecemos por estes últimos:<br />
a) Fora da França. - A correspondência que<br />
afluiu às Sedes ou Bureaux <strong>das</strong> TFPs indicados<br />
nos cupons para pedidos é a bem dizer incontável.<br />
Anda pelos milhares de cupons e cartas. A <strong>muito</strong><br />
grande maioria delas pede exemplares para distribuição<br />
entre parentes, amigos ou colegas, ou para<br />
bibliotecas de Universidades. Mui tas contêm, ademais,<br />
palavras de caloroso a poio. Uma minoria<br />
qua<strong>se</strong> insignificante exprime desacordo, geralmente<br />
em termos ultrajosos. E qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong>m<br />
assinatura ou endereço.<br />
Além da correspondência, foram numerosos os<br />
telefonemas, uma certa parcela dos <strong>quais</strong> proveniente<br />
de órgãos de imprensa interessados em<br />
entrevistas ou declarações do autor da Mensagem,
1-'<br />
1. ,\ promessa<br />
2. A d ,ivid:i 3. A f'l'alidacle lamento<br />
1<br />
1<br />
- 1111<br />
t<br />
Prof. Plínio Corrêa de Oliveira; outros era m de<br />
pessoas que cumprimentavam efusiva mente pela<br />
publicação da Mensagem e pedi a m mais exemplares<br />
pa ra distribuir, e enfi m uma minoria que não<br />
po upava insultos e desaforos, gera lmente a nônimos<br />
.<br />
Parece legítimo afirmar que em todo o Ocidente<br />
o socia lismo, fa ceiro de sua propaganda nos<br />
vários paí<strong>se</strong>s, e dos sucessos que em <strong>muito</strong>s vinha obtendo,<br />
passou a uma posição de discrição e re<strong>se</strong>rva.<br />
Algo mudou na matização político-ideológica<br />
do Ocidente tomado como um todo.<br />
Também fora do Ocidente ecoou a Mensagem<br />
com uma amplitude surpreendente. Entre as missivas<br />
recebi<strong>das</strong>, diversas procedem de pa í<strong>se</strong>s da<br />
África, da Ásia e da Oceania, como África do Sul,<br />
Argélia, Bofutatswana, Botswana, Camarões,<br />
Gâmbia,Gana, Ilhas Maurício, Lesoto, Marrocos,<br />
Namíbia , Nepal, Rodésia, Senegal , Siskei, Suazilândia,<br />
T ranskei, Tunísia, Venda, Arábia Saudita,<br />
Bangladesh, Chipre, Kuwait, Israel, Turquia, China<br />
comunista, Coréia do Sul, Filipinas, Formosa,<br />
Hong Kong, Japão, Macau, Malásia, Rússia, Singapura,<br />
Tailâ ndia, Austrália, Nova Ca ledónia,<br />
Nova Zelândia.<br />
Nos pa í<strong>se</strong>s detrás da cortina de ferro, ao que<br />
conste , qua<strong>se</strong> não houve repercussões. Explica-<strong>se</strong>.<br />
A cortina de fe rro ... é cortina de fe rro!<br />
b) Na França. - O ocorrido na França surpreendeu,<br />
desconcertou... os otimistas, os ingênuos.<br />
E deixou em po:;1çao contrafeita, ta nto os<br />
socialo-comunistas decla rados, quanto os inocentes<br />
úteis.<br />
<strong>As</strong> coisas <strong>se</strong> passaram como <strong>se</strong> o governo<br />
socialista de Mitterrand, receoso da divulgaçã o da<br />
Me nsage m, ti ves<strong>se</strong> optado por empregar contra<br />
ela os métodos ditatoriais característicos dos regimes<br />
comunistas.<br />
Dado que o socia lis mo autogesti oná ri o fra ncês<br />
<strong>se</strong> ga ba de democrá tico e liberal em matéri a<br />
política. natural era que a Me nsagem, publicada<br />
<strong>se</strong>m mai or dific uldade na grande imprensa democrática<br />
de todo o Ocidente, ta mbém não encontras<strong>se</strong><br />
óbice em <strong>se</strong>r reproduzida nos principais<br />
diá rios fra nce<strong>se</strong>s do ce nt ro e da dire ita. Para es<strong>se</strong><br />
efeito, as treze l'FPs <strong>se</strong> dirigira m a <strong>se</strong>is dos maiores<br />
quotidia nos parisien<strong>se</strong>s. E de todos recebera m<br />
<strong>se</strong>ca e inexplicável recusa. Um dos mais importantes<br />
des<strong>se</strong>s jorna is chegara mesmo a contratar a<br />
publicação, rompendo o contrato <strong>pouco</strong> depois,<br />
de ma neira a brupta. A conduta unâ ni me dessas<br />
fo lhas é ta nto mais inexplicável q ua nto a Mensagem<br />
constitui ma téria paga de vulto, que nenhuma<br />
agência publicitá ria recusaria .<br />
<strong>As</strong>sim impedida de <strong>se</strong> difund ir no rma lmente<br />
em solo francês, as treze TFPs tiveram que <strong>se</strong><br />
contenta r com uma divulgação postal fei ta do<br />
modo mais a mplo possíve l <strong>se</strong>gundo o moderno<br />
sistema do mass mailing.<br />
Foram distribuídos assim 300 mil exempla res<br />
1'<br />
1<br />
' '<br />
• 1<br />
. ·•<br />
1
da Mensagem. A distribuição suscitou a bundante<br />
e calorosa correspondência. E, <strong>se</strong>gund o vá ri os<br />
ob<strong>se</strong>rvadores, teve reflexo <strong>se</strong>nsível na derrota espetacula<br />
r sofrida pela coligação governamental<br />
socialo-comunista nas recentes eleições cantonais<br />
francesas. ·<br />
Em 24 jornais de onze paí<strong>se</strong>s as treze TFPs<br />
publicaram o Comunicado Na França: o punho<br />
estrangulando a rosa, em que denunciam à opinião<br />
mundia l a presumível interferência do governo<br />
socialista francês no estranho e despótico<br />
cerceamento da liberdade de opinião delas.<br />
De fato, por força do regime socialista que está<br />
<strong>se</strong>ndo implantado na França, todo proprietário de<br />
empresa pode <strong>se</strong> r privado dos <strong>se</strong> us direitos pelo<br />
governo, rebaixado a mero funcionário, ou até<br />
expulso da empresa. Com essa espada de Dâ mocles<br />
suspensa sobre a cabeça, é ilusória a independência<br />
de qualquer proprietário de jorna l em<br />
relação ao Poder público. Es<strong>se</strong> Comunicado, que<br />
por sua vez suscitou intensa correspondência, contribuiu<br />
<strong>muito</strong> <strong>se</strong> nsivelmente para desiludir o grande<br />
público <strong>das</strong> promessas liberais do regime socialista.<br />
Esta constatação é de. grande a lcance. Pois<br />
abstração fei ta da promessa de liberdade, só res ta<br />
no regime a utogestioná ri o o que ele tem de afim<br />
com o comunismo.<br />
* * *<br />
A Mensagem <strong>das</strong> treze TFPs sobre o socialismo<br />
a utogestionário va i assim abrindo <strong>se</strong>u caminho<br />
largamente pelo mundo afora. E, ao lo ngo<br />
deste tudo tem encontrado: ódios furibundos,<br />
críticas infunda<strong>das</strong>, omissões inexplicáveis, velhas<br />
e luminosas solidariedades que nunca <strong>se</strong> deixaram<br />
desonrar pelo medo incontáveis adesões novas,<br />
algumas <strong>das</strong> <strong>quais</strong> inespera<strong>das</strong> e magníficas.<br />
D e,. tudo isto - e do que ainda acontecer - <strong>se</strong><br />
escreverá um dia a História. A História épica de<br />
um dos supremos esforços empreendidos "in signo<br />
Crucis" a fim de evitar à civilização ocidental<br />
agonizante, o soçobro fina l para o qual esta <strong>se</strong> vai<br />
deixando rolar.<br />
...<br />
<strong>As</strong> treze TFPs recomendam empenhadamente dos documentos tradicionais do Supremo Magisque<br />
os leitores deste resumo tomem conhecimento tério da Igreja.<br />
do texto integral da Mensagem aqui referida, de Textos da Mensagem em inglês, francês, aleautoria<br />
do Prof. 'Plinio Corrêa de Oliveira, a qual mão, português, espanhol e italiano podem <strong>se</strong>r<br />
constitui uma análi<strong>se</strong> particularmente penetrante e facilmente obtidos mediante carta ou envio de<br />
documentada do socialismo autogestionário à luz cupom dos interessados à<br />
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade<br />
Rua Dr. Martinico Prado, 246 - 01224 - S. Paulo - Tel.: (011) 221-8755<br />
.,<br />
•<br />
Por favor, envie-me gratuitamente:<br />
exemplares do texto integral da Mensagem "O socialismo aurogestionário: em vista do<br />
comunismo. barreira ou cabeça-de-ponte?<br />
exemplares do resumo "Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo .?"<br />
em D português D inglês D francês D alemão O es panhol O italiano<br />
D De<strong>se</strong>jaria maiores informações sobre as TFPs .<br />
D Anexo envio minha contribuição para ajudar o custo desta publicidade.<br />
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33 ,5 m i~hões de exemplares<br />
em 155 pub ~icaç - es de 69 paí<strong>se</strong>s<br />
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A Mensagem, o Comunicado, e um amplo resumo de ambos os documentos, foram publicados<br />
nos <strong>se</strong>gu intes jornais: nos ESTADOS UNIDOS, Washington Post, The New York Tim es, !Vali<br />
, Street Joumal, Los Angeles Tim es, Dallas Morn i11.g News e L '!talo-americano de Los A ngeles;<br />
no CANADÁ, The Globe a nd Ma il de. Toronto, La Pres<strong>se</strong> de Montréal e Speakup de Toronto:<br />
na ALENfANHA , Fra11kf11rter A /lgem eine Zeitung de, Frankfurt, Hamb urger Abendb latt, Suddew sche<br />
Zeitung de Munique e Die We lt de Hamburgo; na Á USTRFA , Die Pres<strong>se</strong> e Groschenblatt de<br />
Viena: na INGLA TERRA, Th e Ob<strong>se</strong>rver, The Daily Telegraph e Th e Guardian de Londres;<br />
em PORTUGAL , Comércio do Porto, Diário de Noticias e O Dia de Lisboa· na ESPANHA,<br />
La Vanguardia de Barcelona e Hoja dei Lunes de Madrid, Barcelona, Bilbao, Sevilha e Va /éncia,<br />
Sur de Málaga, Suroeste de Sevilha, Odiei de H11elb a, Cordoba, E/ Mundo Financiero e Servieio<br />
de Madrid; na FRANÇA , lnternational Hera/d Tribune e Rivarol de Paris; na IRLANDA, lrisch<br />
!ndependent e Irisch Times de Dublin; na ITÁLIA , li Tempo de Roma, li Giomale Nuovo<br />
de Milão , Giomale di Sicilia de Palermo e Gazzetta dei Sud de Messina; no LUXEMBURGO,<br />
Luxemburger Wort; na SUJÇA , La Tribune de Genéve de Genebra: 110 BRASIL , Folha de<br />
S. Paulo, Última Hora do Rio de Janeiro, A Tarde de Salvador, Estado de Minas de Belo<br />
Horizonte, Jornal do Commércio de Recife, O Estado do Paraná de Curitiba, O Popular de<br />
Goiânia e Jornal de Santa Catarina de Blumenau, Correio do Po vo, Zero Hora de Porto A legre,<br />
J \ ,Peu tsche Zeitung e Brasil Post de S. Paulo , O Mo nitor Campista de Campos, A República<br />
7 / de Natal, Diário de Natal, A Provincia do Pará de Belém, O Jornal de Uniguaiana, O Estado<br />
/ do Maranhão de S.Luis, Gazeta de Alagoas de Maceió e Letras em Marcha do Rio de Janeiro ;<br />
na ARGENTINA, La Nación de Buenos A ires, Mendoza e Los A ndes de /vlendoza, La Nueva Pro11incia<br />
de Bahia Bianca, Diário de Cuyo de San Juan , E! Sol de Caramarca, Cios Polski, Precisiones<br />
e La Palabra Ucronia de Buenos A ires e Nueva Jornada de Gal. Madariaga; no CHILE, El<br />
Mercurio de Santiago; 11 0 URUGUAI, El Pais de Montevidéu; na BOL{VIA. E! Diário de La<br />
Paz e E! :Mundo de Santa Cn1z; no EQUA DOR , E! Tiempo e E! Comercio de Quito, e E!<br />
Universo de Guayaquil; na COLÔMBIA. El Tiempo de Bogotá, E/ Pais de Ca/i, E/ Colombiano<br />
de Medellin , Diario de la Frontera d e Cucutá e Diario dei Hui/a de Neiua; na VENEZUELA,<br />
1/ Diário de Caracas, El Universal e E/ /l'tfundo de Caracas, E/ Impulso de Barquisimeto e Panorama<br />
de Maracaibo; no PERU, E/ Comercio de Lima; 110 PARAGVAI, Hoy e ABC de <strong>As</strong>sunção;<br />
na COSTA RICA, La Nación de San Jo<strong>se</strong>; na AUSTRÁLIA, Sydney Hera/d, The A ustralian<br />
de Sidney e The Me lb oume Age; nas FILIPINAS, The Times Journal de Manilha; na ÃFRJCA<br />
DO SUL , The Star, Th e Citizen, Th e Sunday Tim es e Rapport de Johanesburgo e The A rgus<br />
da Cidade do Cabo.<br />
Além destes, o Resumo dos documentos foi publicado também nas edições especiais de SELEÇÕES<br />
DE READER 'S DIGEST, que circulam em 65 poi<strong>se</strong>s <strong>das</strong> Américas, Europa, Ásia, África e Oceania.<br />
,<br />
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~1:<br />
- 1<br />
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11<br />
Pessoas indica<strong>das</strong> para receber o resumo<br />
"Socialismo Autogestionário: Hoje, França - Amanhã, o Mundo?"<br />
Nome<br />
Endereço<br />
Cidade:<br />
Nome<br />
Endereço<br />
Cidade<br />
Nome<br />
Endereço<br />
Cidade<br />
Código Postal<br />
Telefone<br />
País<br />
Telefone<br />
País
Gustavo Antonio Solimeo<br />
Luiz Sérgio Solimeo<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece<br />
- A TFP as descreve como são<br />
II<br />
Gêne<strong>se</strong>, organização,<br />
doutrina e<br />
ação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>
OS AUTORES deste trabalho, em vinte anos<br />
de convívio fecundo com o Professor Plínio Corrêa de<br />
Oliveira, dele receberam admirável exemplo de virtude e de<br />
destemor, na polêmica contra a investida do progressismo.<br />
E além do exemplo, possante estímulo para o estudo e a<br />
pesquisa; ao que <strong>se</strong> soma lucidíssima orientação concreta com<br />
a qual o Mestre abriu as vias para os discípulos.<br />
Tal é a monta do que receberam, e ainda de modo<br />
particular para a elaboração do pre<strong>se</strong>nte trabalho,<br />
que um dever de justiça e de reconhecimento os leva a<br />
afirmar de público a parte eminente do Mestre,<br />
no estudo que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue ..
AVISO PRELIMINAR<br />
AS COMUNIDADES Eclesiais de Ba<strong>se</strong> são<br />
aqui estuda<strong>das</strong> em <strong>se</strong>u conjunto, enquanto um<br />
movimento.<br />
É preciso que fique claro que não <strong>se</strong> pretende<br />
atribuir a toda e qualquer Comunidade de Ba<strong>se</strong> os<br />
erros -de doutrina e desvios de conduta apontados<br />
neste trabalho, nem tam<strong>pouco</strong> negar a pre<strong>se</strong>nça<br />
nelas de gente de boa-fé. Haverá, certamente,<br />
Comunidades que não merecem tais reparos. Não<br />
são elas, entretanto, que dão a tônica e repre<strong>se</strong>ntam<br />
o dinamismo do movimento. Por outro lado,<br />
o movimento não pode <strong>se</strong>r visto como um conjunto<br />
de <strong>CEBs</strong> inarticula<strong>das</strong> entre si. Pelo contrário,<br />
ele constitui uma vasta rede que favorece o<br />
intercâmbio de pessoas e publicações, tornando<br />
assim fácil a propagação dos erros de doutrina e<br />
desvios de conduta aqui apontados. Uma vez que<br />
tais Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> aceitam o<br />
rótulo (embora possam por vezes não aceitar por<br />
inteiro o conteúdo), cabe a elas desfazer perante o<br />
público os equívocos a que tal situação <strong>se</strong> presta.<br />
Pois o que aparece como <strong>se</strong>ndo a doutrina, os<br />
métodos e a atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, quer no noticiário<br />
e nos comentários da grande imprensa, quer nas<br />
publicações católicas de um modo geral, quer nos<br />
trabalhos de especialistas (inclusive em Estudos da<br />
CNBB), assim como nos documentos provenientes<br />
<strong>das</strong> próprias Comunidades e, sobretudo, dos Encontros<br />
nacionais e internacionais já realizados ·no<br />
País, é o que vem denunciado nestas páginas.<br />
<strong>As</strong> diferenças de matizes de opinião e de<br />
conduta dentro do movimento podem <strong>se</strong>r explica<strong>das</strong><br />
pelas próprias diferenças de feitio pessoal,<br />
de temperamento, de grau de adesão de <strong>se</strong>us membros.<br />
Mas podem <strong>se</strong>r vistas também como uma<br />
decorrência da própria natureza camaleônica do<br />
movimento, bem como do caráter gradualista de<br />
sua metodologia. Des<strong>se</strong> modo, coexistem em <strong>se</strong>u<br />
<strong>se</strong>io desde Comunidades num estágio incipiente do<br />
processo de conscientização - volta<strong>das</strong> mais para<br />
as práticas estritamente religiosas e con<strong>se</strong>rvando<br />
ainda uma fisionomia tradicional -, até aquelas<br />
num estágio mais avançado do mesmo processo,<br />
para as <strong>quais</strong> a prática religiosa e a prática política<br />
<strong>se</strong> confundem.<br />
O pre<strong>se</strong>nte trabalho, ao traçar o perfil do<br />
movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em <strong>se</strong>u conjunto, denunciando-lhe<br />
os erros e o perigo que ele repre<strong>se</strong>nta,<br />
visa não somente a alertar a opinião pública,<br />
especialmente a católica, m :tS também a ajudar a<br />
todos quantos militam de boa-fé no movimento,<br />
desconhecendo a sua verdadeira natureza, a hete-<br />
108
Parte li<br />
rodoxia de suas doutrinas, bem como suas metas<br />
últimas, no plano político-social e religioso.<br />
* * *<br />
<strong>As</strong> páginas que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guem são apenas o resumo<br />
de alguns dos principais capítulos de um trabalho<br />
<strong>muito</strong> mais extenso (cerca de 500 páginas) que está<br />
<strong>se</strong>ndo lançado pela Editora Vera Cruz em edição<br />
mimeografada, sob o título <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong><br />
<strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece - A TFP as descreve<br />
como são - Comentários e documentação totim.<br />
Nes<strong>se</strong> trabalho, as afirmações aqui conti<strong>das</strong> -<br />
além de outras que não constam destas páginas -<br />
são esteia<strong>das</strong> em uma abundância de documentação,<br />
uma riqueza de fatos e um de<strong>se</strong>nvolvimento<br />
doutrinário que a exigüidade do pre<strong>se</strong>nte<br />
volume não poderia conter.<br />
Para a elaboração do estudo completo foram<br />
compulsados, cuidadosamente classificados e analisados<br />
214 livros, 153 monografias, ensaios e artigos<br />
especializados; 67 relatórios <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> para os<br />
Encontros Nacionais e 52 outros relatórios; 437<br />
cartilhas e folhetos publicados ou distribuídos por<br />
I 77 entidades diversas; coleções dos principais<br />
órgãos da imprensa nacional, religiosa e leiga, no<br />
período I 975-<strong>1982</strong>; alguns milhares de recortes<br />
avulsos de cerca de 100 jornais e revistas de todos<br />
os quadrantes do País, ademais de dezenas de<br />
documentos eclesiásticos sobre o tema. A pesquisa<br />
e estudo de toda essa documentação (a liás já retirada<br />
de qualquer <strong>se</strong>de da TFP e guardada em<br />
lugar inatingível por qualquer operação "pegaarquivo"<br />
... ) levou cerca de quatro anos, de 1978<br />
até a pre<strong>se</strong>nte data.<br />
Na impossibilidade - por razões de espaço -<br />
de dar conhecimento aqui de toda essa documentação,<br />
os Autores limitaram-<strong>se</strong> a apre<strong>se</strong>ntar as<br />
refe rências bibliográficas indispensáveis para documentar<br />
de modo suficiente as afirmações conti<strong>das</strong><br />
nestas páginas. O leitor interessado na bibliografia<br />
mais completa, ou de<strong>se</strong>joso de um maior<br />
aprofundamento no estudo do fe nômeno <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, está convidado a<br />
recorrer ao volume mimeografado, contendo o<br />
resultado completo dessa pesquisa. Sobretudo estão<br />
convidados a tal aqueles dos leitores que<br />
qui<strong>se</strong>rem impugnar as apreciações e conclusões do<br />
pre<strong>se</strong>nte volume.<br />
(*) Os destaques em negrito constantes desta parte do<br />
trabalh o são dos Autores.<br />
Nota da Editora: O referido volume mimeografado<br />
- "<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong><br />
<strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece - A TFP as descreve<br />
como são - Comentários e documentação<br />
totais" - poderá <strong>se</strong>r adquirido na Editora<br />
Vera Cruz Ltda., à Rua Dr. Martinico Prado,<br />
246, CEP 01224, São Paulo. Tel. (011)<br />
221-8755, ramal 247.<br />
109
• Celebraçlo durante o 4 . 0 Encontro Nacional de Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no antigo noviciado dos<br />
Padres Jesultas, em ltaici-SP, abril de 1981.<br />
112
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> são como disc s voadores: todo mundo<br />
<strong>fala</strong> delas, mas ninguém <strong>sabe</strong> o que são<br />
O PE. JACQUES Loew (superior dos padresoperários<br />
france<strong>se</strong>s de Osasco-SP), não <strong>se</strong>m algum<br />
humor, anos atrás, comparava as Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> com os "discos voadores": todo o<br />
mundo <strong>fala</strong> deles, mas ninguém <strong>sabe</strong> ao certo do<br />
que <strong>se</strong> trata ...<br />
E, realmente, para a maioria dos brasileiros,<br />
ainda hoje, as <strong>CEBs</strong> continuam a <strong>se</strong>r "objetos nãoidentificados".<br />
O que <strong>se</strong> compree;1de, pois um de<br />
<strong>se</strong>us principais divulgadores, o Pe. José Marins,<br />
diz que as <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong> não são <strong>se</strong>cretas, são ao menos<br />
discretas e podem adotar qualquer nome, ou<br />
nenhum nome ...<br />
Parece ter chegado a hora de tirá-las do<br />
anonimato, de identificá-las apre<strong>se</strong>ntando a sua<br />
fisionomia.<br />
Como nascem as Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> não brotam<br />
do chão da noite para o dia, como' cogumelos<br />
depois da chuva. Tam<strong>pouco</strong> nascem por geração<br />
espontânea.<br />
Elas são, ao contrário, o resultado de um<br />
longo, sistemático e persistente trabalho de cerca<br />
de 100 mil agentes pastorais (Bispos, Padres, freiras,<br />
leigos engajados) que atuam por todo o País,<br />
mas concentram <strong>se</strong>us esforços de modo especial<br />
em certas áreas, como a periferia dos grandes<br />
centros urbanos e a zona rural (!).<br />
A motivação para a formação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é<br />
<strong>se</strong>mpre religiosa: as pessoas participam delas,<br />
primeiro e antes de tudo, por causa da religião e<br />
não por objetivos educacionais, profissionais ou<br />
políticos. Até mesmo as motivações não religiosas<br />
que podem aparecer no surgimento de algumas<br />
<strong>CEBs</strong> (de caráter assistencial ou social, por exemplo)<br />
só têm efetividade porque introduzi<strong>das</strong> por<br />
pessoas ou instituições liga<strong>das</strong> à Igreja.<br />
A iniciativa da criação <strong>das</strong> Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> cabe qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre ao clero e aos agentes<br />
pastorais, os <strong>quais</strong> procuram aproveitar nes<strong>se</strong><br />
( 1) A expressão e a figura do "agente de pastoral", ou<br />
simplesmente "agente pastoral" são de criação relativamente<br />
recente. A expressão não tem a precisão da terminologia<br />
eclesiástica tradicional, <strong>se</strong>ndo ao contrário vaga e ambígua,<br />
usada ao sabor <strong>das</strong> conveniências. Em <strong>se</strong>ntido amplo, abrange<br />
todos aqueles que <strong>se</strong> dedicam a atividades pastorais, <strong>se</strong>jam<br />
Bispos, Padres, Irmãos, Freiras, <strong>se</strong>minaristas ou simples leigos.<br />
Em <strong>se</strong>ntido restrito, designa os "leigos engajados", de ambos os<br />
113
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
<strong>se</strong>ntido as atividades e estruturas religiosas já<br />
existentes (reza do terço, novenas, Campanha da<br />
Fraternidade; capelas, associações tradicionais,<br />
movimentos). Tais elementos são reenfocados<br />
numa perspectiva "libertadora".<br />
Há também uma outra razão para a proliferação<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: em certas dioce<strong>se</strong>s, sobretudo no<br />
Interior, o indivíduo é obrigado a pertencer a<br />
alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> para poder participar<br />
da vida religiosa local, inclusive para receber<br />
os Sacramentos. Isso força muita gente, não raro a<br />
contragosto, a participar <strong>das</strong> atividades comunitárias.<br />
Como já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, antigas associações e movimentos<br />
(Congregações Marianas, Apostolado da<br />
Oração, Vicentinos, Legião de Maria, ou, mais à<br />
esquerda; Cursilhos, TLC, Movimento Familiar<br />
Cristão) foram trabalhados pelos agentes pastorais<br />
e transformados em Comunidades de Ba<strong>se</strong>, con<strong>se</strong>rvando<br />
embora as antigas denominações. Ficaram,<br />
já <strong>se</strong> vê, apenas os velhos rótulos, <strong>se</strong>ndo o<br />
conteúdo bem outro ...<br />
<strong>se</strong>xos, especialmente treinados em Institutos de pastoral, ou<br />
instituições análogas, para o trabalho de conscientização <strong>das</strong><br />
populações dos bairros periféricos e da zona rural. Tais agentes<br />
vivem exclusiva ou predominantemente de <strong>se</strong>u trabalho pastoral,<br />
<strong>se</strong>ndo sustentados pelas paróquias, prelazias, dioce<strong>se</strong>s ou<br />
organismos eclesiásticos, inclusive ligados à CNBB, como a<br />
Comissão Pastoral da Terra-CPT e o Con<strong>se</strong>lho Indigenista<br />
Missionário-CIMI, por exemplo. Com frequência, são bolsistas<br />
ou estagiários de instituições européias, norte-americanas e<br />
canaden<strong>se</strong>s de ajuda ao Terceiro Mundo. Grande parte dos<br />
sacerdotes que deixaram o ministério continuam a exercer<br />
atividades religiosas na qualidade de agentes pastorais remunerados.<br />
Nem todos es<strong>se</strong>s agentes pastorais são católicos: por<br />
exemplo, são frequentes os protestantes entre os agentes<br />
pastorais na CPT. Basta citar os luteranos ainda há <strong>pouco</strong><br />
envolvidos em conflito sangrento de terras em Rondônia,<br />
integrantes da CPT da Prelazia de Ji-Puaná.<br />
A iniciativa da criaçlo de <strong>CEBs</strong> cabe qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre aos<br />
bem treinados agentes pastorais, os <strong>quais</strong> <strong>se</strong> aproveitam<br />
<strong>das</strong> estruturas e associações religiosas jé existentes. -<br />
Encontro de agentes pastorais e animadores de Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>·em ltaquera, Zona Leste de Slo Paulo.<br />
O que slo as Comunidades<br />
Ecleslals de Ba<strong>se</strong><br />
<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong><br />
são pequenos grupos de caráter religioso, organizados<br />
por iniciativa do clero e de agentes pastorais,<br />
em torno <strong>das</strong> paróquias e capelas.<br />
Cada CEB tem 10, 30 ou 50 membros, ou até<br />
mais, como ocorre em cidades do interior e na<br />
zona rural, onde 100, 200 e mais pessoas <strong>se</strong> reúnem<br />
aos domingos para a Missa ou o "culto". Nes<strong>se</strong><br />
caso, costuma <strong>se</strong>r dividida em grupos menores<br />
conhecidos por "grupos de ba<strong>se</strong>", "grupos d;<br />
oração", "grupos de reflexão", "círculos bíblicos" e<br />
outras denominações (a terminologia varia <strong>muito</strong>).<br />
114
Parte li<br />
Capítulo I -<br />
l<br />
Os grupos de ba<strong>se</strong> têm suas reuniões próprias, uma<br />
vez por <strong>se</strong>mana, havendo mensalmente uma reunião<br />
conjunta de toda a Comunidade, a "as<strong>se</strong>mbléia",<br />
"plenário" ou "grupão".<br />
O mais comum é chamar de CEB ao conjunto<br />
de vários des<strong>se</strong>s grupos de ba<strong>se</strong> reunidos em torno<br />
de uma capela ou de um centro comunitário (dez,<br />
em média). Mas acontece também de <strong>se</strong> dar essa<br />
denominação a cada um des<strong>se</strong>s pequenos grupos,<br />
o que pode ocasionar confusões, sobretudo quando<br />
<strong>se</strong> trata de avaliar o número de Comunidades<br />
existentes em algum lugar. Cada paróquia ou<br />
capela pode abranger um <strong>se</strong>m-número de Comunidades.<br />
<strong>As</strong> várias <strong>CEBs</strong> de uma paróquia, bairro ou<br />
<strong>se</strong>tor são assisti<strong>das</strong> e coordena<strong>das</strong> por um agente<br />
ou uma equipe pastoral, que faz a ligação delas<br />
entre si e com o Vigário.<br />
Em alguns casos o grupo de CEB toma algum<br />
nome (é freqüente a denominação Comunidade<br />
Cristo Libertador ou Comunidade Cristo Ressuscitado),<br />
mas em geral são conheci<strong>das</strong> pelo Padroeiro<br />
da matriz ou capela ( Comunidade Santo<br />
Antonio, Comunidade Nossa Senhora Aparecida),<br />
ou simplesmente pelo nome do lugar ( Comunidade<br />
do Parque Cocaia). Seus membros referem<strong>se</strong><br />
a elas apenas por "a Comunidade".<br />
um ou outro pequeno comerciante, alguma professora,<br />
e apo<strong>se</strong>ntados; na zona rural, são assalariados,<br />
pos<strong>se</strong>iros, parceiros ou arrendatários, pequenos<br />
proprietários, e <strong>se</strong>us familiares.<br />
<strong>As</strong> Comunidades organizam-<strong>se</strong>, pelo comum,<br />
<strong>se</strong>gundo um critério geográfico. Às vezes, entretanto,<br />
agrupam-<strong>se</strong> por idade ou categoria profissional<br />
e ambiental: grupo de jovens, de emprega<strong>das</strong><br />
domésticas, lavadeiras, soldados, favelados,<br />
internos de sanatórios, presidiários e até ... prostitutas!<br />
(De que há indícios nas Dioce<strong>se</strong>s de Juazeiro-BA,<br />
Rio Branco-AC, Lins-SP e Crateús-CE,<br />
por exemplo). Há também <strong>CEBs</strong> de índios (tais<br />
os xocós da Dioce<strong>se</strong> de Propriá-SE, os <strong>quais</strong><br />
invadiram terras da família do prefeito de Porto<br />
da Folha, tempos atrás).<br />
Os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> slo recrutados nas cama<strong>das</strong> mais<br />
simples da população. em geral as mais religiosas da<br />
sociedade. E por sua atraçlo religiosa que aderem ao<br />
movimento. - Reunilo da Comunidade de Mangueirinha<br />
(Recife).<br />
Quem slo os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
De modo geral as <strong>CEBs</strong> são homogêneas<br />
quanto ao nível cultural e sócio-econômico dos<br />
participantes: membros de uma família, vizinhos,<br />
colegas de <strong>se</strong>rviço, moradores da mesma rua ou<br />
bairro, freqüentadores da mesma paróquia ou<br />
capela. Na periferia urbana são, na maioria,<br />
donas-de-casa, operários, pequenos funcionários,<br />
empregados do comércio e do <strong>se</strong>tor de <strong>se</strong>rviços,<br />
115
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A direção da CEB: "Um grupinho<br />
que age na surdina, planeja e<br />
decide, mas <strong>se</strong>m aparecer ... "<br />
Algumas Comunidades de Ba<strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntam<br />
uma organização interna de caráter mais ou menos<br />
convencional, com presidente, <strong>se</strong>cretário, tesoureiro.<br />
A maior parte delas, porém, rejeita es<strong>se</strong>s<br />
esquemas formais, <strong>muito</strong> <strong>pouco</strong> de acordo com o<br />
igualitarismo que <strong>se</strong>rpeia no movimento, e apre<strong>se</strong>ntam<br />
uma direção colegiada, sob a forma de<br />
equipes. Contudo, os dirigentes - <strong>se</strong>jam indivíduos<br />
ou equipes - não passariam de meros intérpretes<br />
da vontade geral da Comunidade, na qual<br />
residiria todo o poder e toda a autoridade,<br />
conforme a utopia autogestionária.<br />
A direção ostensiva cabe aos bem treinados<br />
monitores (também chamados animadores, coordenadores<br />
ou líderes), que vivem fazendo cursos<br />
de técnicas de liderança, de direção, de trabalho<br />
em comum e de dinâmica de grupo, em centros de<br />
treinamento <strong>das</strong> dioce<strong>se</strong>s e prelazias. Na realidade,<br />
quem de fato orienta e dirige a CEB é .um<br />
grupinho, o qual "age na surdina", "planeja e<br />
decide, mas <strong>se</strong>m aparecer" - como <strong>se</strong> pode ler em<br />
relatório do Regional Nordeste-! da CNBB.<br />
Mas a atuação des<strong>se</strong> grupinho, chamado "grupo<br />
fermento" (por trás do qual, obviamente, está o<br />
Padre, a freira, o agente pastoral) é feita com<br />
<strong>muito</strong> jeito, para que os membros todos tenham a<br />
ilusão de estar participando da co-gestão da CEB,<br />
e de que esta <strong>se</strong> governa a si própria <strong>se</strong>m<br />
interferência externa; ou <strong>se</strong>ja, é autogerida. Com<br />
propósito, o Pe. Pascoal Rangel comenta que os<br />
membros da CEB evidentemente repetirão o que<br />
clérigos ou agentes bem treinados lhes ensinarão a<br />
dizer, já que estão criticamente desarmados. Mas,<br />
à força de repetir, não acabarão por acreditar que<br />
foram eles mesmos que chegaram por si sós<br />
àquelas conclusões? Este é, aliás, um dos principais<br />
artifícios empregados no processo de conscientização.<br />
O grande objetivo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>:<br />
a conscientização<br />
A grande maioria dos agentes pastorais considera<br />
a conscientização como o grande objetivo e a<br />
principal função <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>. Ela ocupa em torno de dois terços dos<br />
esforços dos agentes pastorais e demais animadores;<br />
para ela são aproveita<strong>das</strong> to<strong>das</strong> as atividades<br />
internas e externas <strong>das</strong> Comunidades: cultos<br />
e celebrações; reuniões de reflexão, de discussão e<br />
ação; mutirões de trabalho; lazer comunitário;<br />
campanhas e movimentos reivindicatórios e de<br />
pressão sobre as autoridades.<br />
Ver-Julgar-agir ... como<br />
querem os agentes pastorais<br />
O local de reunião varia conforme as circunstâncias:<br />
pode <strong>se</strong>r a igreja, o salão paroquial, a<br />
capela, o centro comunitário, a creche, a escola ou<br />
um simples galpão; em <strong>muito</strong>s lugares as celebrações<br />
e reuniões realizam-<strong>se</strong> cada vez na casa de um<br />
dos participantes; também não faltam aquelas ao<br />
ar livre, à sombra acolhedora de alguma árvore ou<br />
numa discreta clareira da mata.<br />
<strong>As</strong> reuniões <strong>se</strong>guem qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre por toda a<br />
parte o esquema ver-julgar-agir. Depois de orações<br />
e cânticos, o monitor, animador ou coordenad.or<br />
pergunta como foi a <strong>se</strong>mana em casa, no bairro,<br />
no trabalho e os participantes fazem <strong>se</strong>u relato.<br />
Escolhe-<strong>se</strong> uma ou duas questões considera<strong>das</strong>·<br />
116
Parte li<br />
mais importantes e pros<strong>se</strong>gue-<strong>se</strong> a reunião em<br />
torno delas. Ou <strong>se</strong>não o monitor apre<strong>se</strong>nta um<br />
problema ( deficiência dos transportes ou pos<strong>se</strong> da<br />
terra, por exemplo) e pede que cada um relate suas<br />
experiências pessoais a respeito. Isso constitui o<br />
ver. Passa-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guir ao debate do "porquê" dos<br />
problemas levantados, à discussão <strong>das</strong> "causas": é<br />
o julgar. - O que Deus acha disso? Vai-<strong>se</strong> então à<br />
Bíblia e toma-<strong>se</strong> uma passagem que apre<strong>se</strong>nte<br />
<strong>se</strong>melhança ou analogia com a situação descrita e<br />
faz-<strong>se</strong> a aplicação. Por fim vem o agir: combina-<strong>se</strong><br />
a ação concreta para resolver o problema ou<br />
mudar a situação: mutirão para construir o centro<br />
comunitário, manifestação de protesto diante da<br />
Prefeitura, formação de uma chapa de oposição<br />
para concorrer às eleições no sindicato. Ou ainda<br />
uma "operação pega-fazendeiro".<br />
Não é difícil perceber o quanto tal método <strong>se</strong><br />
presta à manipulação da gente mais simples e<br />
totalmente confiante no que lhe vem do Padre,<br />
pelos bem adestrados monitores e agentes pastorais,<br />
os <strong>quais</strong> conduzem o debate para a direção<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> rumam para um mundo <strong>se</strong>m atrativos, todo.ele<br />
prético, funcional, laico e igualiürio. Aos <strong>pouco</strong>s, as<br />
igrejas vlo aendo substituldaa por "Centros Comuniürios"<br />
como o da Comunidade Cristo Libertador, de Macapé.<br />
Capítulo l - 1<br />
que lhes convém, levantam as questões que lhes<br />
interessam e têm <strong>se</strong>mpre à mão o texto bíblico<br />
adequado aos <strong>se</strong>us objetivos, interpretados, naturalmente,<br />
numa perspectiva "libertadora" ( existem<br />
já prontos verdadeiros "receituários" para as mais<br />
diversas · situações).<br />
Da discussão sobre a falta de água, luz,<br />
transporte ou a alta do custo de vida, para a<br />
contestação do regime sócio-político e econômico<br />
vigente o passo é pequeno (e os animadores,<br />
suficientemente habilidosos para provocá-lo). Por<br />
isso Frei Beto (apontado como um dos principais<br />
articuladores do movimento) diz que as <strong>CEBs</strong> têm<br />
um caráter pastoral que é político, enquanto faz<br />
emergir a "consciência crítica". E que querer<br />
"despolitizá-las" é privá-las des<strong>se</strong> caráter "pastoral<br />
libertador".<br />
"Ceder uma parte do <strong>se</strong>u EU,<br />
substltuldo por um NOS<br />
envolvente e conglomerante ... "<br />
<strong>As</strong> reuniões <strong>se</strong>manais são de importância vital<br />
para as Comunidades: elas é que garantem a<br />
coesão do grupo, o inter-relacionamento dos<br />
participantes, a troca de informações e experiências.<br />
Numa palavra, elas é que fazem surgir o<br />
espírito comunitário.<br />
Papel importante cabe às convivências - atividades<br />
sociais visando à maior integração do<br />
indivíduo na Comunidade e a aproximação entre<br />
os participantes dela: almoços, pas<strong>se</strong>ios, piqueniques,<br />
bailes. Não menos importantes são os<br />
jomaizinhos e boletins mimeografados, tanto para<br />
a vida interna da CEB, como para o intercâmbio<br />
com as demais.<br />
Além <strong>das</strong> reuniões regulares e <strong>das</strong> celebrações,<br />
as <strong>CEBs</strong> de<strong>se</strong>nvolvem um <strong>se</strong>m-número de ativi-<br />
117
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
dades comunitárias, de caráter religioso (cateque<strong>se</strong>,<br />
cursos bíblicos, equipes de liturgia, de<br />
canto, de preparação para os sacramentos etc.);<br />
social (trabalho coletivo, cursos de alfabetização,<br />
corte e costura, de leis etc.); e econômicas (roças<br />
comunitárias, farmácias comunitárias, compras<br />
comunitárias, caixa comum etc.),<br />
O comunitarismo exacerbado é característica<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: pretende-<strong>se</strong> fazer com que os participantes<br />
ponham toda a sua vida em comum,<br />
desde as preocupações religiosas, sociais e econômicas,<br />
até as familiares e o próprio lazer. Mesmo<br />
os problemas mais íntimos e pessoais devem <strong>se</strong>r<br />
apre<strong>se</strong>ntados, debatidos e resolvidos na Comunidade.<br />
Inclusive cas 0<br />
os de adultério, como refere<br />
Frei Clodovis Boff em livro sobre as <strong>CEBs</strong> do Acre.<br />
Como escreve um autor, é preciso que o indivíduo<br />
"ceda uma parte do <strong>se</strong>u EU, fazendo com<br />
que <strong>se</strong>ja substituído por um NÓS envolvente e<br />
conglomerante ... "<br />
Em lugar do pão e do vinho, cacau,<br />
cafê, peixe, polvilho de mandioca ...<br />
<strong>As</strong> celebrações e o culto constituem o centro da<br />
vida <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />
Segundo o espírito e as doutrinas do movimento,<br />
a liturgia da Comunidade deve refletir a<br />
<strong>As</strong> celebrações nao <strong>CEBs</strong> as<strong>se</strong>melham-<strong>se</strong> a autênticos culto protest antes, quando não descambam para rituais<br />
grotescos. Os textos "litúrgicos" têm <strong>se</strong> mpre um caráter conscientizador e "libertador". - "Celebração da Eucaristia"<br />
(<strong>se</strong>m Padre), .na Comunidade de Barro do Vento, Taué-CE.<br />
118
Parte II<br />
Capítulo I -<br />
J<br />
vida de <strong>se</strong>us membros. Por con<strong>se</strong>guinte, está cada<br />
vez mais <strong>se</strong>ndo confiada a eles a elaboração dos<br />
textos litúrgicos, dos cânticos e do roteiro <strong>das</strong><br />
celebrações.<br />
E o que <strong>se</strong> tem pre<strong>se</strong>nciado são atos que <strong>se</strong><br />
as<strong>se</strong>melham a autênticos cultos protestantes ( quando<br />
não descambam para rituais com conotações<br />
fetichistas).<br />
Em tais atos - como no Protestantismo -<br />
ocupa papel preponderante, quando não exclusivo,<br />
a chamada "Celebração da Palavra", a qual<br />
pode consistir na leitura de um texto bíblico, de<br />
uma carta de protesto às autoridades ou de uma<br />
poesia subversiva de D. Pedro Casaldáliga. Às<br />
vezes <strong>se</strong> resume na discussão dos "problemas<br />
do ·povo".<br />
Quanto às "Celebrações da Eucaristia", o que<br />
<strong>se</strong> entende por tal nas <strong>CEBs</strong> não difere <strong>muito</strong>, <strong>se</strong><br />
em algo difere, do que por tal <strong>se</strong> entende nas <strong>se</strong>itas<br />
protestantes que não a aboliram de todo. Fica<br />
relegado a plano <strong>se</strong>cundário, quando não é negado<br />
implícita ou explicitamente, o caráter sacrifical da<br />
Santa Missa, reduzida a mera refeição ( o "ágape"<br />
ou "Ceia do Senhor", dos protestantes), a uma<br />
"janta", como prosaicamente a qualifica um livrinho<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da Prelazia de São Félix do<br />
Araguaia, que tem por finalidade precisamente<br />
responder à pergunta contida no título: Missa, o<br />
que é? (Livrinho que, <strong>se</strong>ja dito de passagem, foi<br />
publicado pela Editora Vozes, de Petrópolis, e<br />
largamente difundido por todo o País). Adiante o<br />
livrinho ensina: "A missa é uma refeição. Jesus<br />
escolheu para esta refeição pão e vinho, porque era<br />
a comida que tinha em toda casa do povo dele,<br />
feito o arroz, a farinha e o café aqui para nós".<br />
Se a Missa é uma simples refeição e <strong>se</strong> o pão e o<br />
vinho foram utilizados por Jesus por <strong>se</strong>rem a<br />
comida do <strong>se</strong>u povo, porque, então, não utilizar<br />
nas "Celebrações da Eucaristia" aquilo que constitui<br />
a comida do nosso povo - o arroz, a farinha,<br />
o café?<br />
Ora, é precisamente o que <strong>se</strong> faz.<br />
Em celebrações no norte do Espírito Santo, as<br />
espécies eucarísticas foram substituí<strong>das</strong> por cacau,<br />
café, garrote, peixe e polvilho de mandioca,<br />
conforme o produto predominante na região. Na<br />
Paraíba, fez-<strong>se</strong> a partilha do cuscuz, para simbolizar<br />
a fração da hóstia.<br />
E os textos "litúrgicos" apre<strong>se</strong>ntam <strong>se</strong>mpre um<br />
aspecto "conscientizador" e "libertador", porejando<br />
o espírito de revolta e a luta de clas<strong>se</strong>s.<br />
A vasta "periferia" dos "simpatizantes"<br />
e "aliados" e a "massa de manobra"<br />
Em grande número de paróquias, especialmente<br />
em bairros periféricos, pequenas cidades e<br />
capelas rurais, as atividades religiosas do lugar<br />
constituem praticamente um prolongamento da<br />
atuação <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. Pois os <strong>se</strong>us<br />
membros é que preparam e conduzem as celebrações,<br />
novenas, festa do Padroeiro, procissões e<br />
outras manifestações da chamada "religiosidade<br />
popular", as <strong>quais</strong> oferecem excelente ocasião para<br />
o trabalho de recrutamento e de conscientização<br />
da massa,dos fiéis. O mesmo <strong>se</strong> dá com os cursos<br />
de preparação para o Batismo, a Primeira Comunhão,<br />
o Casamento, dos <strong>quais</strong> são, via de regra, os<br />
responsáveis.<br />
<strong>As</strong> atividades externas mais importantes <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> são as campanhas de mobilizaçio popular<br />
para promover 'alguma reivindicaçio: reúnem na<br />
igreja, capela ou centro comunitário os moradores<br />
do bairro, favela ou zona rural para tratar de<br />
algum problema local (água, luz, esgoto, pos<strong>se</strong> da<br />
terra, sindicalismo) e em torno des<strong>se</strong> ponto de<strong>se</strong>n-<br />
119
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
volvem um intenso trabalho de conscientização da<br />
população. Alguns acabam por integrar-<strong>se</strong> na<br />
CEB; outros passam a constituir os "simpatizantes"<br />
ou "aliados"; uma boa parte, <strong>se</strong>m o <strong>sabe</strong>r<br />
(e, não raro, <strong>se</strong>m o querer), acaba constituindo<br />
importante "massa de manobra" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Por<br />
essa forma o movimentq <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> vai formando em torno de si uma<br />
vasta periferia ou coroa, da qual elas são o núcleo<br />
ou cerne duro.<br />
A "maquina" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
O movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> passa a dispor, assim,<br />
de poderosa "máquina" de atuação, cujas peças<br />
são os organismos por elas criados ou infiltrados:<br />
clubes de mães; movimentos de reivindicações <strong>das</strong><br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> atingem <strong>se</strong>tores refratários à pregação comunista<br />
direta: pacatos chefes de familia, tranqüilas donasde-casa.<br />
ordeiros trabalhadores. - Concentração de<br />
1. 0 de maio de 1978 no Colégio Santa Maria (S ão Paulo):<br />
não faltaram os punhos cerrados. conhecido gesto comunista.<br />
periferias (água, luz, transporte, creches, posto de<br />
saúde, luta contra os loteamentos clandestinos);<br />
grupos de rua; grupos de quarteirão; grupos de<br />
música e teatro; comissões de visitas; Movimento<br />
Contra a Carestia; Movimento de Favelas; <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia<br />
do Povo; Oposição Sindical; Sociedade de<br />
Amigos de Bairro etc.<br />
São ainda as <strong>CEBs</strong> que animam entidades<br />
eclesiásticas mais amplas, como a Comissão Pastoral<br />
da Terra, Pastoral Operária, Comissões de<br />
Justiça e Paz, Centros de Defesa dos Direitos<br />
120
Parte li<br />
Humanos e outras. Elas é que fornecem os<br />
ativistas em nível de ba<strong>se</strong>, <strong>se</strong>m os <strong>quais</strong> essas<br />
entidades, de modo geral, não passariam de_<br />
simples rótulos.<br />
Com tudo isso, as Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> vão salpicando de descontentamento e de<br />
revolta os ambientes em que <strong>se</strong> movem. Elas<br />
transformam as doutrinas marxistas da Teologia<br />
da Libertação em práxis miúda, atingindo por essa<br />
forma <strong>se</strong>tores da população refratários à pregação<br />
comunista direta.<br />
Instrumentalização de uma<br />
confiança Ingênua<br />
Por <strong>se</strong>u caráter religioso e sua constituição<br />
peculiar, mobilizam em prol da luta pela derrubada<br />
<strong>das</strong> atuais estruturas, um número, mas<br />
sobretudo um tipo de pessoas normalmente avessas<br />
a qualquer militância política: pacatos chefes<br />
Capítulo I - /<br />
de família, tranqüilas donas-de-casa, operários<br />
ordeiros e homens simples da roça.<br />
Isto ocorre em virtude da confiança irrestrita<br />
no Padre, que caracteriza o brasileiro comum. Tal<br />
confiança - em si mesma louvável - é entretanto<br />
nas mais <strong>das</strong> vezes deformada por uma<br />
compreensão inexata da infalibilidade pontifícia, a<br />
qual é indevidamente estendida para os Bispos,<br />
Sacerdotes e até mesmo religiosas.<br />
Para o católico brasileiro comum, o Padre é a<br />
encarnação da própria Igreja. Ele toma suas<br />
palavras e suas atitudes como <strong>se</strong>ndo <strong>se</strong>mpre e<br />
indiscutivelmente a expressão fiel, autêntica e<br />
completa do pensamento da Igreja, por mais<br />
estranhas, heterodoxas e chocantes que <strong>se</strong>jam.<br />
E o Clero engajado nas <strong>CEBs</strong> - negador de<br />
to<strong>das</strong> as infalibilidades e de to<strong>das</strong> as autoridades<br />
- <strong>sabe</strong> explorar essa deformação em proveito da<br />
Revolução no <strong>se</strong>io da Igreja e da sociedade (cfr.<br />
Parte 1).<br />
Referências: CNBB, Pastoral Social, Estudos da CNBB-10,<br />
São Paulo, 1976; IDEM, Comunidades: Igreja na Ba<strong>se</strong>, Estudos<br />
da CNBB-3, São Paulo, 1975; IDEM, Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> no Brasil, Estudos da CNBB-23, São Paulo, 1979; FREI<br />
ALMIR RIBEIRO GUIMARÃES OFM, Comunidade de Ba<strong>se</strong> no<br />
Brasil: uma nova maneira de <strong>se</strong>r em Igreja, Vozes, Petrópolis,<br />
1979; PE. JosÉ MARINS, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> na<br />
América Latina, in "Concilium", n. 0 104, 1975; IDEM, Comunidade<br />
Eclesial de Ba<strong>se</strong>: prioridade pastoral, Paulinas, São<br />
Paulo, 1976; PAUL SINGER e VINICIUS CALDEIRA BRANDT (org.),<br />
.São Paulo: o Povo em movimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis-São<br />
Paulo, 1980; FREI BETo, O que é Comunidade Eclesial de<br />
Ba<strong>se</strong>, Ed. Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1981; PE. ROGÉRIO AucrNo<br />
PIME, Comunidade, líder, paróquia, Paulinas, São Paulo, 1977;<br />
FREI CLOD0VIS BoFF OSM, Deus e o homem no inferno verde<br />
- Quatro me<strong>se</strong>s de convivência com as <strong>CEBs</strong> do Acre,<br />
Vozes, Petrópolis, 1980; IDEM, A influência política <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>), in "SEDOC", janeirofevereiro<br />
1979; CNBB-REGIONAL oo NORDESTE-!, XVI Encontro<br />
da Comissão Episcopal Regional N E-/, Teresina, janeiro 1980,<br />
Anexo 2; CNBB-REGJONAL SuL-2, Manual sobre as Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Vozes, Petrópolis, 2.• ed., 1977;<br />
EQUIPE DE REDAÇÃO DAS DIOCESES DE CARATINGA, TEÓFILO 0-<br />
TONI, DIVINÔPOLIS E ARAÇUAI, Abra a poria - cartilha do Povo<br />
de Deus, Paulinas, 2.ª ed., 1979; PE. RAUL M0TTA DE ÜLIVEIRA,<br />
Manual <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Editora Dom<br />
Carlota, Caratinga, 1978; PE. G. DEELEN SSCC, La /g/esia ai<br />
encuentro dei pueb/o en América Latina: las comunidades de<br />
ba<strong>se</strong> en Brasil, in "Boletin Pro Mundi Vita", abril/junho 1980<br />
(Bruxelas); PE. J. KERKHOFS SJ, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
en América Latina, in "Boletin Pro Mundi Vita", <strong>se</strong>tembro<br />
1976; PE. JEsus ANDRÉS VELA SJ, Las Comunidades de Ba<strong>se</strong> y<br />
una lglesia Nueva, Editorial Guadalupe, Buenos Aires 1971 ·<br />
Relatórios e depoimentos dos Encontros Nacionais de Comu'.<br />
nidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, publicados em "SEDOC", maio<br />
1975, _outubro 1976, novembro 1976, outubro 1978, janeirofevereiro<br />
1979, <strong>se</strong>tembro 1981; PE. DOMINIQUE BARBÉ, En e/<br />
futuro, las Comunidades de Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974<br />
(prólogo de Jacques Loew).<br />
121
"Comunidade de Ba<strong>se</strong>.<br />
. .<br />
marxismo, equz<br />
OM MIGUEL Balaguer, Bispo de Tacuarembó<br />
(Uruguai), tem uma curiosa explicação<br />
quanto à origem da expressão "Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong>". Falando da necessidade de pequenas comunidades,<br />
acrescenta: "Agora elas foram batiza<strong>das</strong><br />
com o nome de 'comunidades de ba<strong>se</strong>'; expressão<br />
inspirada na terminologia marxista, equivalente a<br />
soviete; mas isso não é motivo para rejeitá-la.<br />
Tínhamos o nome já escolhido para uma criança<br />
que cuidávamos que nasces<strong>se</strong> o quanto antes".<br />
Pois bem, o estudo da história, da doutrina e<br />
da atuação <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
mostra que a inspiração marxista não fica apenas<br />
no nome ...<br />
Por outro lado, a declaração do Bispo uruguaio<br />
- que qua<strong>se</strong> choca pela franqueza - desfaz<br />
um dos mitos mais cuidadosamente alimentados<br />
pelo movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: o mito da espontaneidade.<br />
Espontaneidade que é apre<strong>se</strong>ntada como<br />
sinal da ação do Espírito.<br />
O mito da espontaneidade<br />
<strong>As</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> têm verdadeira<br />
necessidade de não aparecer aos olhos do<br />
grande público - e, mais ainda, de <strong>se</strong>us próprios<br />
membros - como um movimento organizado.<br />
Isso por razões tanto doutrinárias, quanto estratégicas.<br />
Por um lado, as próprias <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> autodefinem<br />
como "uma Igreja que nasce do povo pelo<br />
Espírito de Deus". Testemunho dessa ação do<br />
Espírito <strong>se</strong>ria o caráter espontâneo de sua origem e<br />
formação, no qual <strong>se</strong> deveria ver um "sinal dos<br />
tempos".<br />
Elas corresponderiam a um processo espontâneo<br />
e desarticulado, suscitado pelo "Espírito", ao<br />
mesmo tempo, em várias partes do mundo,<br />
sobretudo na América Latina. Cada Comunidade<br />
<strong>se</strong>ria um grupo autônomo e soberano, autogerido,<br />
nascido da realidade local. Elas são apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />
des<strong>se</strong> modo ao grande público, e é possível que<br />
como tais apareçam aos olhos de não <strong>pouco</strong>s de<br />
<strong>se</strong>us membros de ba<strong>se</strong>, os <strong>quais</strong> talvez até acreditem<br />
<strong>se</strong>r os protagonistas dessa "no.va maneira de<br />
<strong>se</strong>r Igreja" ... (Na realidade, por trás des<strong>se</strong> aparente<br />
igualitarismo e democratismo radical, está um<br />
grupo de gente bem treinada, que manipula os<br />
cordéis ... ).<br />
Por outro lado, pretendem <strong>se</strong>r já a realização, a<br />
um tempo, do modelo da nova Igreja e da nova<br />
sociedade: <strong>se</strong>m estruturas, <strong>se</strong>m organização, <strong>se</strong>m<br />
autoridade, em conformidade com a utopia autogestionária<br />
que está no bojo de sua doutrina.<br />
122
Parte li<br />
O mito da espontaneidade é assim <strong>muito</strong><br />
importante para a legitimação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> aos olhos<br />
do público e de <strong>se</strong>us próprios membros. Pois, <strong>se</strong><br />
elas nascem espontaneamente, por moção do<br />
Espírito, quem pode contestar sua fisionomia, sua<br />
doutrina e <strong>se</strong>us métodos?<br />
Um movimento que não é<br />
<strong>se</strong>creto, mas é "discreto"<br />
Mas quem acompanha com atenção o noticiário<br />
da imprensa e estuda a abundante documentação<br />
concernente a elas, acaba constatando<br />
que por toda a parte as <strong>CEBs</strong> apre<strong>se</strong>ntam as<br />
mesmas características fundamentais, as mesmas<br />
doutrinas, os mesmos objetivos, os mesmos métodos<br />
de recrutamento, formação e atuação, e até<br />
um jargão próprio.<br />
Por outro, realizaram-<strong>se</strong> no País quatro Encontros<br />
Nacionais e dois Internacionais de Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, além de numerosos encontros<br />
inter-diocesanos, regionais etc. Tudo isso, evidentemente,<br />
exige planejamento, organização, coordenação,<br />
financiamento etc.<br />
Não parece, pois, infundado concluir que, in<br />
concreto e independentemente de estruturas de<br />
caráter organizacional cuja existência <strong>se</strong> possa<br />
identificar, as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
constituem um movimento coeso e solidário, bastante<br />
disciplinado, não só de caráter nacional, mas<br />
até internacional. E tanto é assim, que autores<br />
insuspeitos (por <strong>se</strong>rem mentores ou simpatizantes<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>), inclusive publicações da própria<br />
CNBB, referem-<strong>se</strong> a elas como o "movimento <strong>das</strong><br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>" (em que pe<strong>se</strong>m as<br />
tími<strong>das</strong> re<strong>se</strong>rvas de D. Eugênio Salles com relação<br />
ao 4. 0 Encontro Nacional - re<strong>se</strong>rvas, aliás, de<br />
caráter meramente disciplinar, <strong>se</strong>m qualquer refe-<br />
Frei Betto (à esquerda). cúmplice do terrorista comunista<br />
Marighela. é um dos principais articuladores <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> em nlvel nacional. - Durante a famosa "Noite<br />
Sandinista", realizada em São Paulo em 19B0. ele<br />
confabula com o Pe. D'Escoto, Chanceler da Nicarágua.<br />
rência de ordem doutrinária ou metodológica).<br />
Como, entretanto, caracterizar um movimento<br />
que, <strong>se</strong> não é <strong>se</strong>creto, é pelo menos discreto? E que,<br />
ademais, pode adotar qualquer nome, ou nenhum<br />
nome, conforme afirmações do Pe. José Marins,<br />
um de <strong>se</strong>us principais teóricos e expoentes em nível<br />
internacional?<br />
Quem dirige o movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>?<br />
Em princípio, cada Bispo é responsável pelas<br />
<strong>CEBs</strong> de sua dioce<strong>se</strong> e cada Vigário p~las de sua<br />
123
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> mu110 <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
paróquia. E, de fato, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>u conhecimento e<br />
aprovação, ao menos tácita, elas não podem <strong>se</strong>r<br />
forma<strong>das</strong> (1).<br />
Mas uma pergunta fica: quem as coordena em<br />
nível interdiocesano, estadual, regional e nacional?<br />
E mundial?<br />
Ao contrário de outros movimentos religiosos,<br />
as <strong>CEBs</strong> não têm uma direção central ostensiva,<br />
nem responsáveis conhecidos em escalões mais<br />
elevados, menos ainda em nível nacional.<br />
Nem por isso deixa de haver uma coordenação<br />
geral do movimento comunitário, a qual, <strong>se</strong><br />
passa despercebida ao grande público (e talvez à<br />
maioria dos próprios membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ... ), não é<br />
menos real e efetiva.<br />
A unidade do movimºento é garantida, em larga<br />
medida, pelos inúmeros encontros, as<strong>se</strong>mbléias e<br />
reuniões em todos os níveis; pelos cursos de<br />
formação e treinamento de líderes e agentes pastorais;<br />
pelo intenso intercâmbio de pessoas e de<br />
publicações (dados recentes <strong>fala</strong>m em mais de três<br />
milhões de exemplares mensais, só de boletins<br />
mimeografados). O que supõe a existência de um<br />
organi~mo coordenador, composto por pessoas<br />
coni autoridade, acata<strong>das</strong> e respeita<strong>das</strong> pelas<br />
Comunidades de t.odo o País.<br />
- Quem <strong>se</strong>rão essas pessoas?<br />
Um conjunto de Bispos, Padres, freiras, agentes<br />
pastorais, teólogos, sociólogos, pastores protestantes,<br />
têm acompanhado mais de perto as<br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>, participando inclusive de<br />
<strong>se</strong>us Encontros nacionais ou internacionais. Se-<br />
rão eles os dirigentes nacionais do movimento?<br />
A suposição não é descabida, pois, em concreto,<br />
suas diretrizes teóricas e práticas é que têm orientado<br />
as <strong>CEBs</strong> brasileiras.<br />
Centenas de centros espalhados por todo o Brasil<br />
produzem uma infinidade de folhetos, cartilhas e boletins,<br />
num esforço de "conscientizar" as " ba<strong>se</strong>s" e as<strong>se</strong>gurar<br />
a unidade de doutrinas, de métodos e de objetivos<br />
do movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />
(1) Em 1975, Paulo VI estabeleceu na Exortação Apostólica<br />
Eva ngelii Nuntiandi as condições para que uma "comunidade<br />
de ba<strong>se</strong>" pudes<strong>se</strong> <strong>se</strong>r considerada "eclesial" e não mera entidade<br />
sociológica. Entre essas condições está a união com a H ierarquia<br />
(Doe. cit., n. 0 58).<br />
124
Parte II<br />
Origem <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
A S PRIMEIRAS Comunidades de Ba<strong>se</strong> teriam<br />
surgido no Brasil pelos fins dos anos 50,<br />
com os "catequistas populares" estabelecidos<br />
por D. Agnelo Rossi em Barra do Paraí, e com<br />
os grupos de "educação de ba<strong>se</strong>" do Movimento<br />
de Natal, criado anos antes por D. Eugênio Salle<strong>se</strong><br />
D . Nivaldo Monte, então jovens sacerdotes.<br />
Em nível nacional, o Plano de Emergência<br />
da CNBB ( 1962) as<strong>se</strong>ntou os <strong>se</strong>us fundamentos<br />
e o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto<br />
. (1965) já menciona explicitamente as "Comunidades<br />
de Ba_<strong>se</strong>". Nos anos <strong>se</strong>guintes passaram<br />
a constituir uma <strong>das</strong> prioridades da pastoral da<br />
CNBB. <strong>As</strong>sim ampara<strong>das</strong> pelo Episcopado, elas<br />
começaram a <strong>se</strong> multiplicar por toda a parte,<br />
sobretudo depois da Conferência de Medellin<br />
( 1968), quando foram considera<strong>das</strong> opção prioritária<br />
para a pastoral em todo o Continente.<br />
100 mil <strong>CEBs</strong>, 2,5 milhões de membros?<br />
- Qual o número total de <strong>CEBs</strong> no Brasil?<br />
Quantas pessoas militam no movimento?<br />
Duas perguntas que nem a própria CNBB <strong>sabe</strong><br />
responder. Ou diz que não <strong>sabe</strong>. Pois os Bispos<br />
responsáveis devem informar-<strong>se</strong> a respeito.<br />
Em 1974, um levantamento feito pelo CERIS<br />
(espécie de IBGE eclesiástico) dava o total de 40<br />
mil <strong>CEBs</strong> em todo o Brasil, <strong>se</strong>m informar,<br />
contudo, o número de participantes. Em 1980,<br />
para atender a um pedido de informação do<br />
Vaticano, o mesmo CERIS fez uma projeção, que<br />
deu como resultado 80 mil <strong>CEBs</strong> no País; também<br />
Capítulo I - 2<br />
não aparece o total de membros. Para hoje não há<br />
dados oficiais. <strong>As</strong> estimativas veicula<strong>das</strong> pela<br />
imprensa religiosa e leiga variam de 80 a 90 ou até<br />
100 mil <strong>CEBs</strong>, totalizando um contingente de 2 a<br />
2,5 milhões de pessoas conscientiza<strong>das</strong>. Frei Leonardo<br />
e Frei Clodovis Boff chegam a <strong>fala</strong>r em 4<br />
milhões de membros, o que constitui evidente<br />
exagero.<br />
Faltam meios para controlar essas estimativas<br />
e para avaliar, ainda que por aproximação, o<br />
número de <strong>CEBs</strong> existentes, bem como o total de<br />
<strong>se</strong>us membros. Entretanto, mais do que a falta de<br />
dados estatísticos atualizados, o que torna difícil<br />
avaliar o contingente <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é o caráter discreto<br />
do movimento, e <strong>se</strong>u aspecto camaleônico, que ora<br />
toma um nome, ora outro, ora nenhum, agindo no<br />
anonimato ou por trás de biombos e facha<strong>das</strong>.<br />
"Pressão de ba<strong>se</strong>" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e<br />
"pressão de cúpula" da CNBB<br />
Quaisquer que <strong>se</strong>jam os números, o certo é que<br />
as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> repre<strong>se</strong>ntam um<br />
contingente ponderável de pessoas. Ainda que<br />
minoritário face à população total do País, e<br />
pequeno para os objetivos que <strong>se</strong> propõe, es<strong>se</strong><br />
contingente é, no entanto, suficientemente grande<br />
para promover uma agitação que permita à<br />
CNBB, a certos <strong>se</strong>tores políticos e da imprensa<br />
apre<strong>se</strong>ntá-las como uma força irresistível, ante a<br />
qual é preciso ceder. Para repre<strong>se</strong>ntarem o show<br />
da pressão de ba<strong>se</strong> que permita à CNBB exercer a<br />
verdadeira pressão de cúpula sobre as clas<strong>se</strong>s<br />
dirigentes, no <strong>se</strong>ntido de forçar a aprovação <strong>das</strong><br />
reformas de estruturas (Reforma Agrária, Reforma<br />
Urbana, Reforma Empresarial e outras), que<br />
eliminem a propriedade privada e conduzam o<br />
País rumo ao socialismo autogestionário.<br />
125
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Uma deputada eleita pelas <strong>CEBs</strong><br />
''N O DIA 15 de novembro de 1971 duas<br />
freiras foram dar um curso sobre renovação da<br />
Igreja nesta paróquia [Nossa Senhora <strong>das</strong><br />
Graças, Vila Remo, São Paulo]. Nes<strong>se</strong> dia<br />
passaram o filme 'O valor da pessoa humana',<br />
mostrando que todo mundo tem valor, que<br />
todos têm que ter um papel na sociedade. A<br />
proposta <strong>das</strong> freiras: que não <strong>se</strong> ficas<strong>se</strong> somente<br />
neste encontro mas que continuas<strong>se</strong> em outros<br />
trabalhos. Fundar o Clube <strong>das</strong> Mães, por<br />
exemplo . ....<br />
"Ficou marcado para to<strong>das</strong> as quintas-feiras<br />
nova reunião. Uma <strong>das</strong> freiras, Irmã Verónica,<br />
saiu. Outra, Irmã Angélica, continuou com o<br />
trabalho. A té que um dia ela teria de receber<br />
[emitir] o voto perpétuo e ficar no convento.<br />
Reuniu a comunidade e fez a proposta: deveria<br />
voltar para sua Ordem ou ficar com as mães?<br />
Depois dessa reunião, ela desistiu de <strong>se</strong>r freira.<br />
Hoje está casada, tem um filho e no mês que<br />
vem nascerá o <strong>se</strong>gundo filho. Essa moça é<br />
deputada estadual, e <strong>se</strong>u nome é Irma Passoni"<br />
("O São Paulo", 10-5-79).<br />
E é preciso reconhecer que as Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> encontram-<strong>se</strong> espalha<strong>das</strong> por todo o Brasil,<br />
fazendo <strong>se</strong>ntir sua ação nos mais diversos aspectos<br />
da vida nacional: religioso, político, sindical,<br />
educacional, tanto nas capitais corno no interior,<br />
nos bairros, nas favelas, no campo e até nas<br />
profundezas da <strong>se</strong>lva amazônica.<br />
· No ano passado, as depredações de ônibus em<br />
Salvador e as invasões de terrenos urbanos em<br />
várias capitais alarmaram a opinião pública. O<br />
caso dos padres france<strong>se</strong>s acusados de incitarem<br />
ao crime os "pos<strong>se</strong>iros" do Araguaia, ou o dos<br />
colonos de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul,<br />
apenas ilustram essa atuação multiforme <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>, na qual não faltou correr o sangue.<br />
Referências: Além <strong>das</strong> referências do capítulo anterior, ver: D.<br />
MIGUEL BALAGUER, Carta ai Presbiterio, in "Vida Pastoral",<br />
Montevidéo, 45 (1975); lsMAR DE ·ouvEIRA SOARES, Comum·<br />
cação Libertadora, in "Familia Cristã", <strong>se</strong>tembro 1980; "Veja",<br />
2-7-80 e 17-12-80; "Isto é", 29-4-81; P E. EDUARDO HooRNAERT,<br />
Os perigos que ameaçam as <strong>CEBs</strong>, in "SEDOC", outubro<br />
1976, col. 276.<br />
126
Parte II Capítulo l - 2<br />
Peritos dos Encontros Nacionais dé <strong>CEBs</strong> e<br />
especialistas do movimento<br />
Frei Leonardo Boff OFM. - Professor no<br />
Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis,<br />
Redator da "Revista Eclesiástica Brasileira" e<br />
da revista teológica internacional "Concilium".<br />
Um dos mais prolíficos mentores <strong>das</strong>· <strong>CEBs</strong>,<br />
<strong>se</strong>us escritos versam especialmente acerca da<br />
eclesialidade <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. Ministra<br />
cursos para Bispos, Padres, freiras, agentes<br />
pastorais leigos e líderes de <strong>CEBs</strong> por todo o<br />
País. Expoente da Teologia da Libertação em<br />
nível internacional.<br />
Frei Gilberto Gorgulho OP. - Professor de<br />
Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia N.<br />
Sra. da <strong>As</strong>sunção e Coordenador de Pastoral<br />
na Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo, responsável<br />
pelas <strong>CEBs</strong>. .<br />
Pe. José Oscar Beozzo. - Diretor do Instituto<br />
Teológico de Lins. Sociólogo. (Essa dioce<strong>se</strong><br />
é um dos grandes centros nacionais de<br />
irradiação de Comunidades de Ba<strong>se</strong>). Encarregado<br />
de coordenar a preparação do 4. 0 Encontro<br />
Nacional. D.<br />
Frei Beto (Carlos Alberto Libãnio Christo).<br />
- Religioso dominicano; apesar de ter os<br />
estudos necessários, não quis ordenar-<strong>se</strong> Sacerdote,<br />
ficando como uma espécie de irmão leigo . .<br />
Passou quatro anos na prisão, condenado pela<br />
Justiça por envolvimento com a guerrilha<br />
urbana de Carlos Marighela, que ensangi.lentou<br />
, o País. Ào sair da prisão, foi trabalhar junto às<br />
_Comunidades de Ba<strong>se</strong> da Arquidioce<strong>se</strong> de<br />
Vitória. Coordenou o 4.° Congresso Internacional<br />
Ecumênico de Teologia (Congresso de<br />
Taboão da Serra) e a "Noite Sandinista". Inte:<br />
grante da Pastoral Operária · da Dioce<strong>se</strong> de<br />
Santo André, teve papel de destaque na articulação<br />
<strong>das</strong> greves metalúrgicas do ABC em<br />
1980. Faz ainda visitas de "as<strong>se</strong>ssoramento<br />
pastoral" a <strong>CEBs</strong> de dioce<strong>se</strong>s e pi-e~azias. Publicou<br />
alguns trabalhos de ca ráter teórico-prático.<br />
Apontado como o principal articulador do t<br />
movimento em nível nacional. •<br />
Pe. Eduardo Hoornaert. - Belga. Professor<br />
no Instituto Teológico de Recife. Especialista<br />
em História Eclesiástica, a qual está reescrevendo,<br />
<strong>se</strong>gundo a "ótica do· oprimido".<br />
Moos. Gérard Cambrón. - Canaden<strong>se</strong>. É<br />
considerado um dos maiores especialistas em<br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>, junto às <strong>quais</strong> atua, há<br />
vários anos; no Maranhão.<br />
Frei Carlos Mesters O. Carm. - Holandês.<br />
Exegeta "oficial" do movimento. Percorre todo<br />
o País ministrando cursos para agentes pastorais,<br />
líderes e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sobre Sagrada<br />
Escritura, <strong>se</strong>ndo o principal divulgador do<br />
mét_odo de "reflexão bíblica" adotado por elas e<br />
autor de diversos rote)ros para tal fim ( os<br />
Círculos Bíblicos), além de outras obras. ,<br />
Pe. João Batista Libânio SJ. - <strong>As</strong><strong>se</strong>ssor da<br />
CRB-Conferência dos Religiosos do Brasil;<br />
membro do Centro .João XXIII (dos Jesuítas<br />
e.. . -+-1_~1<br />
127
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
do Rio, que presta as<strong>se</strong>ssoria à CNBB) e<br />
professor na PUC carioca. Especialista nos<br />
aspectos -teológicos da metodologia <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
Frei Clodovis Boff OSM. - Professor no<br />
Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis.<br />
Leciona <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s por ano," passando os outros<br />
<strong>se</strong>is junto às <strong>CEBs</strong> da Prelazia do Acre e Purus.<br />
Tem vários trabalhos publicados sobre Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, especialmente sobre a participação<br />
destas na política, e sobre Teologia da<br />
Libertação.<br />
; ,<br />
L<br />
Jether Pereira Ramalho. - Sociólogo e<br />
pastor protestante. Membro do CEDI-Centro<br />
Ecumênico de Documentação e Informação,<br />
cuja revista "Tempo e Pre<strong>se</strong>nça" é um dos<br />
porta-vozes da Teologia da Libertação e <strong>das</strong><br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>, embora mantida por<br />
instituição metodista.<br />
Pedro <strong>As</strong>sis Oliveira Ribeiro. - Sociólogo<br />
do CERIS-Centro de Estatísticas Religiosas e<br />
Investigações Sociais, órgão anexo à CNBB.<br />
· Colaborador da "Revista Eclesiástica Brasileira".<br />
11Vê <strong>se</strong> temos cara de <strong>se</strong>minaristas!"<br />
Ü s SEMINARISTAS estão <strong>se</strong>ndo, cada<br />
vez mais, formados no contexto <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>. É o caso, por exemplo, de<br />
Deville Alonço de 29 anos e Wilson de Oliveira<br />
Salles, 26 anos, <strong>se</strong>minaristas da Região Episcopal<br />
Belém, da Capital paulista. Eles repre<strong>se</strong>ntam<br />
bem o novo tipo de Padre que está<br />
surgindo na "Igreja-nova-que-,nasce-do-povo",<br />
como <strong>se</strong> pode ver por estas palavras suas a uma<br />
revista de inícios de 1979:<br />
"Deville - Uma boa pergunta a fazer é<br />
<strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> somos <strong>se</strong>minaristas. Somos <strong>se</strong>culares,<br />
não pertencemos a ordens ou congregações.<br />
Devemos total e irrestrita obediência ao nosso<br />
bispo. Espera um <strong>pouco</strong>, corta o total e irrestrita.<br />
Devemos obediência ao bispo. Somos<br />
'leigos engajados', eu já dis<strong>se</strong>. Olha para nós e<br />
vê <strong>se</strong> temos cara de clérigos, noviços, essas<br />
coisas . .... Nós nos matamos nas comunidades<br />
de ba<strong>se</strong> . .... Nossa formação é na prática, junto<br />
ao povo, sofrendo com ele. ....<br />
Wilson - .... Aquilo que nós, os <strong>se</strong>culares,<br />
os leigos engajados e alguns outros padres<br />
regulares <strong>muito</strong> conscientes pretendemos, é a<br />
evangelização a partir da realidade concreta,<br />
numa ótica marxista mesmo" ("Brasil Reportagem",<br />
ano 1, n.º 2, 1979, p. 16; "O São<br />
Paulo", 30-11-79, pp. l e 5).<br />
128
A ditadura <strong>das</strong> Comunidatles Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
OUCO SE FALA sobre um dos aspectos<br />
mais terríveis do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, que é a verdadeira ditadura<br />
religiosa que ele vai instaurando por toda a parte.<br />
Em <strong>muito</strong>s lugares começa ( ou já vai adiantada)<br />
verdadeira per<strong>se</strong>guição religiosa contra as pessoas<br />
refratárias às <strong>CEBs</strong>.<br />
Sanções religiosas e sociais<br />
Para levar os recalcitrantes, os omissos ou<br />
passivos, ao engajamento comunitário onde, através<br />
da conscientização, terão suas mentalidades<br />
muda<strong>das</strong>, o clero engajado lançou mão do mais<br />
eficiente instrumento de coação de que <strong>se</strong> possa<br />
dispor: as sanções religiosas.<br />
E para tornar efetivas tais sanções, vão-<strong>se</strong><br />
criando dispositivos de controle dos fiéis, algo<br />
assim como uma Gestapo ou KGB do progressismo<br />
e da esquerda católica, que fazem lembrar as<br />
temíveis polícias políticas do regime nazista e do<br />
soviético.<br />
Des<strong>se</strong> modo, por qua<strong>se</strong> todo o País, mas<br />
sobretudo nas zonas mais isola<strong>das</strong> do Interior,<br />
dificilmente alguém poderá participar dos Sacramentos<br />
ou de qualquer atividade religiosa - como<br />
<strong>se</strong>jam, Batismo, Crisma ou Primeira Comunhão<br />
dos filhos, <strong>se</strong>r padrinho d1~ Batismo ou Crisma, ou<br />
simplesmente testemunha de casamento - <strong>se</strong> não<br />
pertence r a alguma Comunidade de Ba<strong>se</strong> e não<br />
obtiver dela a autorização escrita para ta l.<br />
Vê-<strong>se</strong> bem como tal "excomunhão" religiosa<br />
implica müítas vezes em autêntica "excomunhão<br />
social" do indivíduo. Tal o caso do Batismo,<br />
Crisma e, sobretudo, Casamento, atos religiosos<br />
que constituem ao mesmo tempo acontecimentos<br />
sociais, de aproximação entre parentes e amigos. É<br />
preciso ter isso pre<strong>se</strong>nte para avaliar a força de tais<br />
sanções religiosas, principalmente nas pequenas localidades,<br />
onde todos <strong>se</strong> conhecem e <strong>se</strong> relacionam.<br />
A mercê dos lideres comunittírios<br />
Na Dioce<strong>se</strong> de São Mateus-ES, por exemplo,<br />
exige-<strong>se</strong> para tudo um Atestado de Residência<br />
Religiosa, fornecido apenas sob condições <strong>se</strong>veríssimas,<br />
entre as <strong>quais</strong> está o compromisso de<br />
participar nos grupos de reflexão pelo menos uma<br />
vez por <strong>se</strong>mana, e mais a <strong>se</strong>guinte coação moral e<br />
política: "10. Aceita a caminhada da Igreja Católica<br />
nesta Dioce<strong>se</strong>, que escolheu caminhar com os<br />
pobres e aceita a conscientização sobre problemas<br />
sociais e a orientação sobre a política?" Esta é uma<br />
<strong>das</strong> condições para cuja ob<strong>se</strong>rvância as instruções<br />
129
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> .. . <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
aos dirigentes <strong>das</strong> Comunidades pedem a maior<br />
vigilância e o maior rigor.<br />
O candidato ao atestado preenche um questionário,<br />
sob as vistas dos líderes. Mandam-lhe<br />
voltar dentro de algum tempo, para <strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> foi<br />
aprovado ou não. Nes<strong>se</strong> intervalo, os líderes<br />
<strong>se</strong> reúnem com a Equipe de levantamento da<br />
vivência cristã, a qual procede a investigações sobre<br />
a vida do candidato, para decidir <strong>se</strong> ele satisfaz ou<br />
não às exigências requeri<strong>das</strong> para o fornecimento<br />
do atestado. Se concluírem que sim, fornecem-lhe o<br />
papel, assinado por pelo menos quatro dirigentes.<br />
Se considerarem que a pessoa não está em<br />
condições de receber o atestado - dizem as<br />
instruções -, os líderes não poderão assinar. Em<br />
vez de assinar, cada um escreverá "em ob<strong>se</strong>rvação",<br />
e explicarão ao interessado que o caso dele<br />
não está maduro ainda, e que dentro de alguns<br />
me<strong>se</strong>s, com a boa vontade dele em "caminhar com<br />
a Comunidade", o caso dele poderá <strong>se</strong>r resolvido,<br />
dentro do possível...<br />
Quando <strong>se</strong> dá o caso, o atestado é feito em duas<br />
vias, ficando a primeira com o Coordenador da Vivência<br />
Cristã, para o Padre conferir no dia da visita.<br />
"Não afrouxar o laço!"<br />
Frei Beto, <strong>fala</strong>ndo a respeito da mesma<br />
questão no Acre, adverte: "Os monitores devem<br />
estar bem atentos para não afrouxar o laço e<br />
considerar a pre<strong>se</strong>nça dos pais em 3 ou 4 reuniões<br />
como pertença e participação na comunidade . ....<br />
Isso vai durar até que o povo esteja conscientil.ado".<br />
A ditadura do "flchArlo"<br />
Na Paróquia de Itarana-ES (Arquidioce<strong>se</strong> de<br />
Vitória), resolveu-<strong>se</strong>, a partir de 1966, adotar o<br />
esquema de Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Decidiu-<strong>se</strong><br />
que o Batismo <strong>se</strong>ria celebrado tão-somente<br />
na comunidade e exclusivamente de gente da<br />
comunidade "que tives<strong>se</strong> os compromissos"; os<br />
padrinhos só poderiam <strong>se</strong>r igualme nte pessoas da<br />
comunidade e que "cump ris<strong>se</strong>m também os compromissos".<br />
Entre os compro missos exigidos estava:<br />
"Conscientização num círculo bíblico <strong>se</strong>manal".<br />
A Primeira Comunhão foi retardada para os<br />
15 ou 16 anos, <strong>se</strong>ndo levado mais em consideração<br />
o compromisso assumido pelo candidato. Cada<br />
aluno do Catecismo tem sua ficha, "que é zelada<br />
com muita atenção".<br />
Aliás, o sistema de fichas está <strong>muito</strong> em uso em<br />
qua<strong>se</strong>_ to<strong>das</strong> as paróquias que, como a de Itarana,<br />
adotaram o regime ditatorial <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>. Cada membro da Comunidade tem uma<br />
ficha na qual são anotados os progressos ou<br />
retrocessos no engajamento comunitário, para<br />
acompanhamento pelos agentes pastorais e pelo<br />
Vigário. Em Itarana chama-<strong>se</strong> também "fichário"<br />
à equipe que cuida da atualização <strong>das</strong> fichas e que<br />
exerce a coordenação (na verdade um férreo<br />
controle) da Comunidade.<br />
Não é demais insistir o quanto tais dispositivos de<br />
controle dos fiéis <strong>se</strong> as<strong>se</strong>melham aos organismos de<br />
vigilância e repressão dos regimes totalitários.<br />
Os famosos "curslnhos preparat6rlos"<br />
Frei Marcos Sassatelli, dominicano da Arquidioce<strong>se</strong><br />
de Goiânia, informa que nas <strong>CEBs</strong> locais o<br />
batismo é administrado apenas duas ou três vezes<br />
por ano, quando a Comunidade acha que os<br />
interessados estão preparados; o mesmo <strong>se</strong> dá com<br />
o casamento. Na mesma Arquidioce<strong>se</strong> (como, de<br />
resto, por toda a parte) insiste-<strong>se</strong>, nos cursos de<br />
preparação aos Sacramentos ( os famosos . "cursi-<br />
130
Capítulo l - 3<br />
O sacramento augusto que introduz o homem na Santa<br />
Igreja Católica Apostólica Romana, é ministrado em ato<br />
es<strong>se</strong>ncialmente religioso. Para realçar sua importência,<br />
a Igreja <strong>se</strong>mpre lançou mi o de todos os recursos da arte.<br />
- Na foto. bela Pia Batismal da Igreja de Santa Cecllia,<br />
em Slo Paulo.<br />
nhos preparatórios"!), que <strong>se</strong> deve exigir mais <strong>das</strong><br />
pessoas, "principalmente em relação à vivência<br />
comunitária e à conscientização sobre o papel do<br />
cristão no mundo de hoje".<br />
Tem havido algumas reações a essa verdadeira<br />
ditadura eclesiástica, a essa verdadeira per<strong>se</strong>guição<br />
religiosa contra os refratários às <strong>CEBs</strong>. Mas são<br />
reações isola<strong>das</strong> e, na maior parte, de alcance<br />
apenas local, visto como a estrutura eclesiástica<br />
brasileira, em to<strong>das</strong> as suas instâncias, dá mão<br />
Contrastando com a tradição da Igreja. para batizar <strong>se</strong>us<br />
filhos hoje, os pais encontram cada vez maior dificuldade.<br />
têm que <strong>se</strong> sujeitar cada vez maia às exigências <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>. Estas <strong>se</strong> <strong>se</strong>rvem des<strong>se</strong> Sacramento de salvaçlo -<br />
como doa demais Sacramentos - para fina de conacientizaçlo.<br />
- Cartazes informam os fiéis sobre "curainhoa"<br />
de batizado e casamento.<br />
firme ao movimento <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>. <strong>As</strong>sim, ou os fiéis <strong>se</strong> submetem, ou ficam<br />
privados dos Sacramentos. E não são <strong>pouco</strong>s os<br />
que abandonam a Igreja e perdem a Fé ...<br />
Exemplo pungente<br />
Um exemplo pungente da eficácia dessas sanções<br />
religiosas, para obter a conscientização do<br />
indivíduo e <strong>se</strong>u engajamento no movimento comu-<br />
131
Depois de andar léguas para<br />
batizar o filho, um pobre pai é<br />
informado pelo Padre que,<br />
" ssm uma carta da Comunid•<br />
d11 ", ele não poderia batizar...<br />
A Comunidade exigiu<br />
um ano de participação nas<br />
reuniões, para dar a cartel. ..<br />
nitário, dessa pressão sobre o povo simples e <strong>se</strong>m<br />
defesa, é narrada por Frei Beto, a quem Dom<br />
Moacir Grechi encomendou um as<strong>se</strong>ssoramento<br />
pastoral na sua Prelazia do Acre e Purus. Conta o<br />
cúmplice do terrorista Carlos Marighela:<br />
"Um pai foi procurar o padre na casa paroquial,<br />
na cidade. 'O que quer o <strong>se</strong>nhor?', perguntou<br />
o padre. 'Vim pedir que o <strong>se</strong>nhor batize o meu<br />
filho'. 'Onde é que você mora?'. 'Moro no <strong>se</strong>ringai<br />
Montevidéo', respondeu o pobre homem. O padre<br />
olhou o <strong>se</strong>ringueiro e perguntou: 'Trouxe a carta<br />
do monitor de <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ringai, assinada pelos membros<br />
da comunidade?' O homem respondeu: 'Não<br />
<strong>se</strong>nhor. Nem sabia que tinha de trazer esta carta'.<br />
'Só posso batizar <strong>se</strong>u filho - explicou o padre -<br />
tendo nas mãos esta carta'.<br />
"O homem regressou ao <strong>se</strong>ringai. Procurou o<br />
monitor: 'Queria levar meu filho para o padre<br />
batizar. Você pode me dar a carta para o padre?' O<br />
monitor explicou: '<strong>As</strong>sinada só por mim, a carta<br />
não vale. Para valer, tem que ter pelo menos 5<br />
assinaturas. Mas o pessoal só assina depois que<br />
você e sua mulher já tiverem pelo menos I ano de<br />
participação na comunidade'. Ao fim des<strong>se</strong> ano de<br />
participação, o <strong>se</strong>ringueiro não precisou levar o<br />
filho ao padre: havia tomado consciência de que o<br />
batismo pelo monitor tinha o mesmo valor" -<br />
conclui Frei Beto.<br />
Mas não era só: o pobre <strong>se</strong>ringueiro tinha<br />
mudado sua mentalidade, sua visão da Igreja e do<br />
mundo.<br />
Referências: DIOCESE DE SÃO MATEUS-PAROQUIA DE BARRA DE s.<br />
FRA NC1sco-ES, Folha de prova, exame, ao Atestado de Residência<br />
Religiosa, mimeografado, s. d.; IDEM, Um Caminho(Normas<br />
e Instruções para lideres de Comunidades), dezembro 1978,<br />
mimeografado, pp. 6-9; IDEM, Atestado de Residência Religiosa<br />
- Folhas de Instruções aos responsáveis, mimeografado, s. d.,<br />
n.ºs 4 e 9; FREI ALBERTO LIBÃN EO CHRISTO (FREI BETO), O canto<br />
do galo - Relatório pastoral de uma visita à Prelazia do Acre e<br />
Purus, Secretariado da Pastoral Arquidiocesano-SP AR, Goiânia,<br />
mimeografado, p. 11 , transcrito da "Revista Eclesiástica<br />
Brasileira", junho 1977; Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> -<br />
Uma Igreja que nasce do povo - Encontro de Vitória-ES,<br />
Vozes, Petrópolis, 1975, pp. 38-41 , 52, 69-70, 79; FREI M ARcos<br />
SASSATELLI, Comunidade de Ba<strong>se</strong>, in "Revista da Arquidioce<strong>se</strong>",<br />
Goiânia, <strong>se</strong>tembro 1976, p. _ 633; " Revista da<br />
Arquidioce<strong>se</strong>", Goiânia, julho 1976, p. 493; CNBB-SuL II,<br />
Manual sobre as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, Vozes<br />
Petrópolis, 2.• edição, 1977, pp. 72-73, 77; FREI BETo, Batism~<br />
de Sangue - Os dominicanps e a morte de Marighela<br />
Civilização Brasileira, Rio, <strong>1982</strong>.<br />
'<br />
132
A PRESENTA-SE neste capítulo, de modo<br />
esquemático e numa visão de conjunto, a evolução<br />
psicológica e doutrinária do indivíduo, desde o<br />
momento em que é atraíçlo para a CEB, até ao<br />
final do processo, quando já está completamente<br />
integrado no movimento, aceitando suas doutrinas<br />
e objetivos, e participando de suas atividades.<br />
Semelhante evolução bem poderia <strong>se</strong>r qualificada<br />
de "baldeação ideológica inadvertida", <strong>se</strong>gundo<br />
a expressão cunhada pelo Prof. Plínio Corrêa<br />
de Oliveira para designar certa técnica de persuasão<br />
implícita e sub-reptícia, utilizada pelo comunismo<br />
internacional. Com efeito, há não poucas<br />
analogias entre um processo e outro ( l ).<br />
a) Atração através da religião<br />
l) Aproveitando a religiosidade do nosso povo<br />
(sua prática religiosa, sua simpatia para com a<br />
religião e <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes), os ·agentes pastorais<br />
aproximam a pessoa, da Comunidade de Ba<strong>se</strong>,<br />
atraindo-a para uma prática mais intensa da vida<br />
religiosa.<br />
(1) PLINIO CoRRtA DE OLIVEIRA, Baldeação Ideológica<br />
Inadvertida e Diálogo, Editora Ve ra Cruz, São Paulo, 4.• ed .,<br />
1974.<br />
2) A participação num grupo religioso leva a<br />
pessoa a <strong>se</strong>ntir-<strong>se</strong> valorizada, amparada e orientada<br />
em meio ao anonimato e ao caos da vida<br />
moderna. Ela tende a abrir-<strong>se</strong>, a <strong>se</strong> tornar <strong>se</strong>mpre<br />
mais sociável nes<strong>se</strong> grupo que <strong>se</strong> lhe mostra<br />
propício e acolhedor.<br />
3) Essa tendência a maior sociabilidade dos<br />
neófitos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é exacerbada pela supervalorização<br />
dos aspectos "comunitários" não só da<br />
prática religiosa, como de to<strong>das</strong> as demais atividades<br />
(sociais, culturais, profissionais, familiares e<br />
até de lazer). Aos <strong>pouco</strong>s, vai-<strong>se</strong> formando uma<br />
"consciência comunitária". A opinião prevalente<br />
na comunidade passa a <strong>se</strong>r a regra do bem pensar,<br />
bem <strong>se</strong>ntir, bem agir.<br />
4) À medida que a pessoa <strong>se</strong> integra dessa<br />
forma na vida da Comunidade, ao mesmo tempo<br />
que vai participando <strong>das</strong> atividades e recebendo<br />
encargos, <strong>se</strong>us mecanismos de defesa e de censura<br />
vão <strong>se</strong> desmobilizando, e ela vai ficando menos ela<br />
mesma, e mais permeável às influências do grupo e<br />
de <strong>se</strong>us mentores. Dissolve-<strong>se</strong> nele.<br />
b) Doutrinação sub-reptfcia<br />
1) A desmobilização e permeabilização psicológica<br />
torna o indivíduo mais suscetível à doutrinação.<br />
133
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
1<br />
A TFP as descreve como são<br />
2) Esta não é feita de modo formal e explícito,<br />
mas de maneira sutil e sub-reptícia.<br />
3) Por um sistema de afirmações apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />
sob forma interrogativa, de debates discreta e jeitosamente<br />
orientados, e de dúvi<strong>das</strong> sutilmente<br />
levanta<strong>das</strong>, a pessoa vai tendo sua mentalidade<br />
alterada, suas certezas abala<strong>das</strong>, suas convicções<br />
gradualmente transforma<strong>das</strong>, <strong>se</strong>m que <strong>se</strong> dê conta<br />
disso. Vai respondendo <strong>se</strong>mpre mais, de acordo<br />
com o que lhe foi sugerido, e reagindo conforme o<br />
de<strong>se</strong>jado. Mas ela crê, não obstante, que tudo<br />
corresponde aos <strong>se</strong>us próprios pensamentos e<br />
<strong>se</strong>ntimentos e que chegou por si mesma às<br />
conclusões a que foi induzida.<br />
e) Critica da "religião antiga" e<br />
apre<strong>se</strong>ntação da Igreja-nova<br />
Em sua beleza simples, cheia de graça e de nobreza, a<br />
Capela do Outeiro da Glória, no Rio, repre<strong>se</strong>nta bem o<br />
tipo de religiosidade que as <strong>CEBs</strong> combatem: a elevaçlo<br />
da alma para o sublime, o sagrado, pera Deus.<br />
1) Dessa maneira vai-<strong>se</strong> fazendo a crítica da<br />
"religião antiga" e a apre<strong>se</strong>ntação da Igreja-nova.<br />
E o paciente vai tendo operada em si a mais<br />
profunda <strong>das</strong> transformações que <strong>se</strong> possa dar na<br />
mente humana: uma radical tra_rv,formação religiosa.<br />
De um antípoda ele passa para outro.<br />
2) Insinua-<strong>se</strong>-lhe aos <strong>pouco</strong>s, que ao contrário<br />
da Igreja-nova, a "Igreja antiga" não dava oportunidade<br />
ao povo: ele não era consultado, tudo era<br />
feito pelo Vigário, que era uma espécie de patrão<br />
na esfera religiosa.<br />
3) Estabelece-<strong>se</strong> assim um paralelo entre a<br />
Igreja "antiga" e a sociedade civil: em ambas o<br />
pobre não tinha "voz nem vez". Só os ricos, os<br />
poderosos, mandavam e eram ouvidos.<br />
4) Afirma-<strong>se</strong> que a Igreja "antiga" só <strong>se</strong> preocupava<br />
com o pecado individual, e não com a injustiça<br />
social. Por isso era alienante; impedia o<br />
"pequeno" de sair de sua situação de opressão<br />
134
Parte li<br />
nesta terra, acenando-lhe como ficha de consolação<br />
a felicidade no Céu ...<br />
5) Apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> então como <strong>se</strong>ndo a verdadeira<br />
Igreja, aquela que <strong>se</strong> empenha em "libertar"<br />
o homem de todo o mal, decorrência do pecado, já<br />
aqui nesta terra.<br />
d) Mudança da visão da religião<br />
I) Mostra-<strong>se</strong> então que a "verdadeira" prática<br />
da religião consistiria na luta contra o "pecado<br />
social", o "pecado institucionalizado" nas "estruturas<br />
de dominação"; que a "raiz de todo o<br />
pecado" <strong>se</strong> encontraria nas estruturas capitalistas,<br />
"fruto do egoísmo". <strong>As</strong>sim, não pode haver<br />
harmonia entre as clas<strong>se</strong>s, porque não pode haver<br />
harmonia entre o egoísta explorador e o pobre<br />
explorado, entre o oprimido e o opressor.<br />
Ser católico <strong>se</strong>ria aceitar essa concepção revolucionária<br />
da doutrina da Igreja e da prática <strong>das</strong><br />
virtudes cristãs individuais (relega<strong>das</strong> para o<br />
<strong>se</strong>gundo plano <strong>se</strong> não inteiramente olvida<strong>das</strong>), e<br />
praticar a fundo a grande virtude cristã por<br />
excelência, que consiste em <strong>se</strong>r revolucionário e em<br />
fazer na prática a revolução socialista e comunista.<br />
2) Es<strong>se</strong> teria sido o ensinamento do próprio<br />
Cristo, ao fazer a "opção pelos pobres", pelos<br />
"oprimidos", pelos "marginalizados". Ele <strong>se</strong> teria<br />
encarnado na luta de clas<strong>se</strong>s, para vencer o pecado<br />
e instaurar o Reino de Deus. Teria sido morto<br />
pelos imperialistas da época (os romanos) com a<br />
cumplicidade do clero (pontífices e doutores da<br />
Lei) e dos chefes do povo (Sinédrio), que não<br />
queriam perder <strong>se</strong>us privilégios.<br />
3) O Reino de Deus, embora só <strong>se</strong> realize em<br />
sua plenitude no fim dos tempos, começaria já,<br />
"aqui e agora", nesta terra, pelo estabelecimento<br />
de uma sociedade <strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s e <strong>se</strong>m dominações.<br />
Capítulo I - 4<br />
A fome não faz revolução,<br />
mas sim a conscientização<br />
O PRÓPRIO ex-<strong>se</strong>cretário-geral do PCB,<br />
Luís Carlos Prestes, dá-<strong>se</strong> bem conta da necessidade<br />
da conscientização política para levar o povo<br />
à revolução. Declarou ele em Porto Alegre: "O<br />
povo está cada vez mais para a esquerda em<br />
con<strong>se</strong>qüência da inflação, mas a fome não faz<br />
revolução e, sim, a conscientização política"<br />
("O Estado de S. Paulo", 27-12-80).<br />
O chefe comunista ensina assim a tantos<br />
magnatas do capitalismo que <strong>se</strong> prezam de<br />
"modernos" e marxistas, que a boa ordenação<br />
dos assuntos econômicos não basta para pôr<br />
dique à expansão comunista.<br />
e) Transformação <strong>das</strong> mentalidades<br />
pela consclentlzação<br />
I) Ao mesmo tempo que lhe é incutida uma<br />
religião nova, revolucionária, sua mentalidade é<br />
modificada mediante um processo de conscientização:<br />
procura-<strong>se</strong> provocar no indivíduo e no<br />
grupo a consciência <strong>das</strong> desvantagens de sua<br />
situação na sociedade e a necessidade de participar<br />
em sua alteração.<br />
2) Essa conscientização começa em geral com<br />
uma "pesquisa" na qual <strong>se</strong> faz o "levantamento da<br />
realidade" do bairro, da região etc. Entrevistando<br />
os moradores, colhendo dados, os participantes da<br />
135
O OI NHE IRO<br />
Ou <strong>se</strong>ja o CAPITAL. Da, vem<br />
o nome de SISTEI\A CAPITA<br />
LISTA, que é o ti po de soci<br />
edade em que a gente vi-<br />
Um anticapitalismo virulento e <strong>se</strong>m matizes caracteriza<br />
as cartilhas e folhetos em uso nas Comunidades Eclesiai!l<br />
de Ba<strong>se</strong>.<br />
Comunidade vão-<strong>se</strong> conscientizando de sua situação<br />
de carência.<br />
3) Identifica<strong>das</strong> as carências, deficiências e<br />
irregularidades <strong>das</strong> <strong>quais</strong> a vida moderna está<br />
cheia, passa-<strong>se</strong> à "análi<strong>se</strong>" dessa situação. Os<br />
agentes pastorais, monitores ou líderes da Comunidade<br />
conduzem o "debate", por meio <strong>das</strong> perguntas<br />
conscientizadoras, para "descobrir" as "raízes<br />
do mal". Chega-<strong>se</strong> à conclusão de que to<strong>das</strong><br />
essas mazelas são fruto não de situações conjunturais<br />
<strong>muito</strong> complexas (como a grande concentração<br />
urbana, por exemplo), da insuficiência de<br />
recursos ou de circunstâncias adversas (rudeza do<br />
..<br />
'i: "<br />
'õ<br />
t'.)<br />
..<br />
...<br />
"õ<br />
t'.)<br />
.,<br />
"0<br />
:i<br />
V)<br />
é<br />
e .,<br />
u<br />
ti:<br />
u<br />
clima, pobreza do solo etc.), mas sim a con<strong>se</strong>qüência<br />
inevitável de um "sistema de pecado".<br />
4) A mentalidade do membro da Comunidade<br />
de Ba<strong>se</strong> torna-<strong>se</strong>, assim, tensa, reivindicativa,<br />
inconformada, revoltada contra sua situação. Passa<br />
de uma "consciência ingênua" para uma "consciência<br />
crítica"; ou <strong>se</strong>ja: "toma consciência" da<br />
"situação · de opressão" em que vive na atual<br />
sociedade de clas<strong>se</strong>s.<br />
5) Não basta, porém, "tomar consciência" de<br />
que é oprimido e querer sair dessa situação. É<br />
preciso empenhar-<strong>se</strong> pessoalmente na luta, pois<br />
"ninguém liberta ninguém", e cada um deve <strong>se</strong>r o<br />
"agente de sua própria libertação", começando por<br />
modificar-<strong>se</strong> a si mesmo, livrando-<strong>se</strong> de uma<br />
mentalidade "alienada". "conformista" .<br />
f) Mobilização para a ação<br />
reivindicativa e de protesto<br />
1) Uma vez detectada a carência local (falta de<br />
posto de saúde, transportes, água encanada, asfa<br />
lto etc.), tem início a mobilização para a ação.<br />
2) Esta ação ad extra constitui um poderoso<br />
fator de conscientização dos próprios membros<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como também de toda a população do<br />
bairro, a qual, por repercussão, vai adquirindo o<br />
mesmo estado de espírito tenso e reivindicativo<br />
dos membros da Comunidade, tornando-<strong>se</strong> facilmente<br />
manipulável.<br />
3) A luta pelas "reivindicações populares"<br />
altera por completo a vida dos integrantes <strong>das</strong><br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>. O comportamento dessas<br />
pessoas simples, que antes nunca tinham tido<br />
atuação além do âmbito de suas modestas relações<br />
familiares e de vizinhança, fica profundamente<br />
modificado. <strong>As</strong> numerosas concentrações, as<strong>se</strong>m-<br />
136
Parte li<br />
bléias de moradores, coleta de assinaturas, visitas<br />
a jornais; o contato com gente importante (advogados,<br />
políticos, autoridades); a oportunidade de<br />
<strong>fala</strong>r, de repetir de forma escachoante a enorme<br />
quantidade de slogans e fra<strong>se</strong>s-feitas que assimilaram,<br />
tudo isso tem o efeito de retirá-los - pelo<br />
menos quando fazem agitação social - do prosaísmo<br />
da vida quotidiana: <strong>se</strong>ntem-<strong>se</strong> agora valorizados,<br />
importantes, paladinos de uma causa<br />
político-religiosa.<br />
4) A ação é, pois, indispensável para a plena<br />
integração do indivíduo na CEB, para despertar<br />
nele o prurido contestatório <strong>das</strong> estruturas reli-<br />
Um discreto treinamento<br />
de ativistas<br />
''A A TIVIDADE de J. [Pe. José Mahon,<br />
criador da Pastoral Operária do ABC] não pára<br />
por aí, apoiando somente as <strong>CEBs</strong> e a Pastoral O<br />
perária. Ele também é pároco, e não de uma só<br />
paróquia, mas de duas . .... Quando os operários<br />
<strong>das</strong> paróquias que J. assume aprendem a <strong>se</strong><br />
expressar · em público, a dirigir, e a avaliar<br />
reuniões ou celebrações, eles estão aprendendo<br />
(<strong>muito</strong>s deles já aprenderam) sua profissão de<br />
'<strong>se</strong>r gente'. E essa 'profissão' vão aplicá-la na<br />
<strong>As</strong>sociação de Amigos de Bairro, no sindicato<br />
ou na oposição sindical, e também, porque não,<br />
num partido político que esteja realmente nas<br />
mãos dos trabalhadores" (F1LH0s DA CARIDADE,<br />
Os Filhos da Caridade na Dioce<strong>se</strong> de Santo<br />
André, Oficinas <strong>das</strong> Edições L,oyola, São Paulo,<br />
1980, pp. 13-14).<br />
Capítulo 1- 4<br />
giosas e sociais, para manter acesa a "chama<br />
sagrada" da luta pela libertação de to<strong>das</strong> as<br />
opressões. Nesta altura, pode-<strong>se</strong> dizer, o processo<br />
tornou-<strong>se</strong> irreversíve l: dificilmente a vítima dele<br />
quererá e con<strong>se</strong>guirá voltar ao estado anterior, de<br />
simples operário, ordeiro lavrador, pacato chefe<br />
de família ou tranqüila dona-de-casa de subúrbio,<br />
preocupados unicamente com os mil probleminhas<br />
concretos que constituem a vida prosaica de todos<br />
os dias ...<br />
g) "Leitura consclentlzadora" da Blblla<br />
1) A ilusão de <strong>se</strong>rem paladinos de uma luta<br />
sagrada de caráter libertador é exacerbada nos<br />
membros <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> pelo<br />
verdadeiro fundamentalismo bíblico (2) que vige<br />
no movimento.<br />
(2) O fund11mentalismo bíblico é uma postura diante da Bíblia,<br />
que vê nos Livros Sagrados - entendidos antes de tudo<br />
em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido literal - a única e suprema fonte de todo o <strong>sabe</strong>r<br />
e de toda a autoridade. Inspira a maioria <strong>das</strong> <strong>se</strong>itas protestantes<br />
do tipo "pentecostalista" e de fundo milenarist11.<br />
Os milen11rist11s, interpreta ndo erradamente uma passagem<br />
do livro do A poca lip<strong>se</strong> (Ap. 20, l-6), esperam uma nova vinda<br />
de Nosso Senhor Jesus C risto, que reina ria direta mente, em<br />
pessoa, durante mil a nos, instaurando uma fe licidade completa<br />
na terra. Condenada como herética, a idéia do milênio é co ntinuamente<br />
retoma da por <strong>se</strong>itas religiosas ó u filosóficas (mesmo,<br />
a <strong>se</strong>u modo, <strong>se</strong>itas a téias como é o caso do ma rxismo), as qua is<br />
põem sua espera nça num estágio de perfeição d a humanidade<br />
q ue e liminaria toda dor, todo sofrimento, fazendo reinar um~<br />
fe licidade perfeita sobre a terra (cfr. Les Religions, verbetes<br />
Fondamenralisres e Milenarisme; JULES MONNEROT, Sociologie<br />
de la Révolurion, 2.eme panie, Les millenium sur la rerre et<br />
les terreurs de l'h isroire, Fayard, Paris, l 969; PE. GEORGES M.<br />
M. CoTI1ER OP. Marxisme et messianisme, in "Ateísmo e D iálogo",<br />
Bolletino del Segretariato per i non credenti, Città de!<br />
Vaticano, <strong>se</strong>ttembre 1974).<br />
137
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
2) Com efeito, a Bíblia vai ocupando cada vez<br />
mais papel preponderante na vida <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
vindo a constituir-<strong>se</strong> no único ponto de referência,<br />
na instância última e soberana, olvidado e posto<br />
de lado o Magistério da Igreja.<br />
3) Nos "círculos bíblicos", "cultos dominicais",<br />
"reuniões de reflexão" e outras, adota-<strong>se</strong> o<br />
método chamado "integração Bíblia-vida": toma<strong>se</strong><br />
um texto bíblico e faz-<strong>se</strong> a comparação com a<br />
situação atual; ou o inverso: parte-<strong>se</strong> de um fatõ de<br />
hoje e procura-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>melhança com algum episódio<br />
bíblico. Subjacente a es<strong>se</strong> método está o<br />
princípio de que Deus Se revela do mesmo modo<br />
tanto na Bíblia quanto nos acontecimentos; de que<br />
é Palavra de Deus tanto o que está na Sagrada<br />
Escritura quanto o que acontece agora. Então a<br />
Bíblia precisa <strong>se</strong>r entendida à luz dos acontecimentos<br />
atuais, e os acontecimentos atuais dev~m<br />
<strong>se</strong>r interpretados à luz da Bíblia.<br />
4) Conclusão des<strong>se</strong> princípio é que <strong>se</strong> Deus<br />
inspirou e iluminou os Patriarcas, Profetas e<br />
outros personagens bíblicos, do mesmo modo Ele<br />
inspira e ilumina os homens de hoje. Essa posição<br />
fundamentalista leva <strong>muito</strong>s integrantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
a mitificarem suas vi<strong>das</strong>, identificando-<strong>se</strong> com os<br />
personagens bíblicos e considerando-<strong>se</strong>, como eles,<br />
investidos de uma missão sagrada e guiados<br />
diretamente por Deus.<br />
5) Isto conduz, naturalmente, ao mais completo<br />
livre-exame e abre caminho para to<strong>das</strong> as<br />
divagações - portanto também para to<strong>das</strong> as<br />
aberrações doutrinárias e desvios de personalidade.<br />
ln concreto no caso <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> gera um<br />
fanatismo messiânico e milenarista.<br />
6) A esta distorção acresce a "leitura dialética<br />
da Bíblia": as Sagra<strong>das</strong> Escrituras devem <strong>se</strong>r li<strong>das</strong><br />
a partir de uma posição classista - o "lugar social<br />
do pobre", isto é, a partir da "ótica do oprimido".<br />
Ensinar perguntando,<br />
convencer sugerindo ...<br />
O CERNE da conscientização consiste em<br />
fazer com que as pessoas tenham a impressão<br />
de que são elas que estão chegando por si<br />
mesmas às conclusões ou posições que lhes são<br />
sugeri<strong>das</strong>, e não percebam que estão tendo sua<br />
mentalidade, temperamento ou opinião modificados<br />
por sugestões vin<strong>das</strong> de fora. Um dos<br />
artifícios mais eficazes para alcançar tal resultado<br />
consiste em introduzir sob forma interrogativa<br />
o assunto que <strong>se</strong> quer tratar e, através de<br />
questões sucessivas, ir conduzindo os espíritos<br />
para os pontos de vista do agente de pastoral.<br />
<strong>As</strong> perguntas, na verdade, já contêm implicitamente<br />
sua resposta, ou ao menos elementos<br />
dela, indicando o tom, o rumo que ela deve<br />
tomar. A interrogação está qua<strong>se</strong> que apenas na<br />
forma, pois de fato as perguntas apre<strong>se</strong>ntam<br />
afirmações, suscitam dúvi<strong>das</strong>, levantam suspeitas<br />
etc. Tudo sob o pretexto de procurar obter o<br />
"con<strong>se</strong>nso grupal", apontado como <strong>se</strong>ndo a<br />
resultante <strong>das</strong> opiniões dos membros do grupo.<br />
Na verdade, es<strong>se</strong> con<strong>se</strong>nso grupal não é <strong>se</strong>não o<br />
objetivo previamente estabelecido pelo agente<br />
pastoral, introduzido sob forma de perguntasafirmações.<br />
O con<strong>se</strong>nso grupal constitui um dos<br />
elementos de pressão psicológica mais poderosos<br />
sobre os membros de um grupo, pois em <strong>se</strong>u<br />
nome faz-<strong>se</strong> os recalcitrantes aceitarem determinado<br />
ponto de vista ou resolução, sob pena de<br />
<strong>se</strong> marginalizarem. Es<strong>se</strong> artifício é <strong>muito</strong> utilizado<br />
nas técnicas de Dinâmica de Grupo, nas<br />
<strong>quais</strong> os agentes pastorais são altamente treinados.<br />
138
Parte li<br />
Outrora Deus inspirou os judeus oprimidos na<br />
luta contra os egípcios opressores, libertando-os<br />
do cativeiro mediante a atuação conscientizadora<br />
de Moisés. Hoje também, o povo (os pobres, os<br />
marginalizados) está oprimido pelo cativeiro <strong>das</strong><br />
estruturas capitalistas. A missão da Igreja, como a<br />
de Moisés, é a de conscientizar o povo para que<br />
ele, uma vez despertado, lute pela sua libertação,<br />
destruindo as estruturas de pecado do regime<br />
capitalista.<br />
7) <strong>As</strong>sim, <strong>se</strong>ria o próprio Deus quem inspiraria<br />
diretamente toda a agitação político-social<br />
promovida pelas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
o que faz com que elas não recuem diante de<br />
nenhuma lei ou autoridade, civil ou religiosa. -<br />
Com efeito, que lei ou pessoa, por mais augusta<br />
que <strong>se</strong>ja, pode querer interpor-<strong>se</strong> à vontade do<br />
próprio Deus, manifestada nas <strong>CEBs</strong>?<br />
h) Papel "legltlmador" do Bispo<br />
Capítulo I - 4<br />
1) Em geral ao ingressarem no movimento, os<br />
fiéis não <strong>se</strong> dão conta dos erros e desvios dele.<br />
Entretanto, à medida que o processo conscientizador<br />
avança, o <strong>se</strong>nso católico leva-os a perceber<br />
as discrepâncias entre o que ouvem e pre<strong>se</strong>nciam,<br />
e a doutrina católica tradicional. Muitos abandonam<br />
desde logo o movimento, tornando-<strong>se</strong>, em<br />
não <strong>pouco</strong>s casos, hostis a ele. Alguns, desconfiados,<br />
<strong>se</strong> não rompem abertamente, tendem a<br />
retrair-<strong>se</strong>. Outros, enfim, perplexos, procuram<br />
conciliar as novidades com o que aprenderam no<br />
catecismo. Pode instalar-<strong>se</strong> neles um conflito interno,<br />
uma situação de angústia, ou até de de<strong>se</strong>spero.<br />
2) Para fazer frente a <strong>se</strong>melhantes situações, o<br />
movimento dispõe de poderoso recurso de legiti-<br />
Conscientizada, u<br />
m a oradora <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> dis<strong>se</strong>mina em<br />
torno de si a conscientiza<br />
ç ão. -<br />
Manifestação do<br />
Movimento Contra<br />
a Carestia em<br />
São Paulo, em 1978
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... d~ <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
11<br />
Antes de organizar uma revolução,<br />
é preciso aprender a organizar um pique-nique,,<br />
o PE. DOMINIQUE Barbé, padre-operário<br />
francês, coordena a Pastoral Operária da Região<br />
Episcopal de Osasco e integra a da Arquidioce<strong>se</strong><br />
de São Paulo. Grande propulsor de<br />
<strong>CEBs</strong> em bairros operários, traça o retrato de<br />
uma delas - a de Vila Yolanda - em um livro<br />
traduzido para vá rios idiomas. No texto abaixo,<br />
extraído do mencionado livro, o Pe. Barbé<br />
deixa claro como as atividades mais correntes,<br />
inclusive a Liturgia, podem <strong>se</strong>r utiliza<strong>das</strong> como<br />
eficiente adestramento para a atuação revolucionária:<br />
,.<br />
sário, evidentemente, para defender uma causa<br />
justa. . ... Luís, Renato e Francisco dirigem a<br />
missa há <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s. Não é certo que <strong>se</strong> aprendem<br />
a <strong>fala</strong>r e a ler em público quando estão na<br />
Igreja, o farão com mais de<strong>se</strong>nvoltura em outras<br />
ocasiões? Isso pode <strong>se</strong>r-lhes de grande utilidade".<br />
E mais adiante: "Com o mesmo grupo<br />
de jovens descobrimos que antes de pensar em<br />
organizar a revolução, era preciso <strong>sabe</strong>r organizar<br />
um pique-nique. Querem a revolução ... .<br />
nós lhes propomos um pique-nique e .... juntos<br />
descobrimos que <strong>se</strong> qui<strong>se</strong>rem ter no dia de<br />
amanhã responsabilidades políticas, tomar parte<br />
nas mudanças de estruturas sociais, levar a<br />
bom termo uma greve justa, é preciso passar<br />
humildemente pela organização de um piquenique.<br />
Ê assim que <strong>se</strong> aprende a paciência, a<br />
longanimidade, o domínio de si e a estratégia da<br />
ação" (DoMINIQUE BARBI:, En E/ Futuro, Las<br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974,<br />
pp. 58-59).<br />
"Depois de ter estudado, durante três me<strong>se</strong>s,<br />
todos os textos da ressurreição, uma equipe<br />
redige o folheto de que <strong>fala</strong>mos, que vem a <strong>se</strong>r a<br />
sínte<strong>se</strong> de suas descobertas. A ninguém escap'a<br />
que, <strong>se</strong> são capazes de compor o texto de um<br />
jornalzinho, aprenderam ao mesmo tempo a<br />
escrever uma petição, uma carta, uma reivindicação<br />
coletiva, no dia em que isto for necesmação:<br />
o aval dos Bispos tranqüiliza as pessoas<br />
quanto à catolicidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sua fidelidade à<br />
Igreja. Pois <strong>se</strong> radicou no espírito de nosso povo,<br />
como corolário aliás gratuito da infalibilidade<br />
papal, a convicção da infalibilidade do Bispo em<br />
sua união com o Papa. De onde o fiel imagina que<br />
haveria de sua parte impiedade e até dúvida na Fé,<br />
<strong>se</strong> não aceitas<strong>se</strong> como indiscutível tudo quanto o<br />
Bispo pensa. E até tudo quanto ele faz. De onde, <strong>se</strong><br />
o Bispo dá aval às <strong>CEBs</strong>, fá-lo em consonância<br />
com o pensamento e as diretrizes do Papa. E<br />
portanto o fiel pode aceitar como católico tudo o<br />
que as <strong>CEBs</strong> dizem, mesmo que em oposição ao<br />
ensinamento tradicional da Igreja. Pois o Bispo<br />
não tem lapso em sua fidelidade ao Papa. E este<br />
não erra ...<br />
3) É, pois, a crença na infalibilidade da Igreja,<br />
que leva o indivíduo a <strong>se</strong> engajar num processo<br />
140
Parte li<br />
que, <strong>se</strong>m isso, reJe1taria. Daí a importância da<br />
pre<strong>se</strong>nça do Bispo não só no começo do processo,<br />
mas em todo o <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>nvolvimento - pessoalmente<br />
ou por interpostos agentes pastorais, que <strong>se</strong><br />
<strong>sabe</strong> gozarem de sua confiança. Igual papel<br />
exercem, a fortiori, órgãos de cúpula do episcopado:<br />
CNBB, CELAM etc., ao apoiarem as <strong>CEBs</strong>.<br />
1) Um método cientificamente<br />
estudado e aplicado<br />
l) Todo este método é estudado cientificamente<br />
e elaborado a partir <strong>das</strong> experiências da<br />
Ação Católica, do "método Paulo Freire" ("pedagogia<br />
libertadora"), e outras técnicas psicológicas<br />
e sociais, por peritos altamente especializados,<br />
<strong>se</strong>ndo aplicado por pessoal <strong>muito</strong> bem treinado.<br />
2) Embora es<strong>se</strong> método possa <strong>se</strong>r aplicado em<br />
nível individual, ele é concebido para <strong>se</strong>r utilizado<br />
sobretudo em grupos.<br />
3) Sua grande eficácia, aliás, está em <strong>se</strong>r<br />
aplicado a grupos: um número suficientemente<br />
grande, de modo a permitir a pressão do grupo<br />
sobre o indivíduo, impedindo que <strong>se</strong> ressaltem as<br />
individualidades, e <strong>se</strong> imponham aos demais; mas<br />
Capítulo / - 4<br />
não tão grande, de forma a impedir que o indivíduo<br />
<strong>se</strong> mantenha alheio ao processo, isolando-<strong>se</strong><br />
dentro do grupo.<br />
4) Mediante dinâmicas de grupo e outras técnicas<br />
psico-sociais, o indivíduo vai-<strong>se</strong> tornando cada<br />
vez mais dependente do conjunto e incapaz de<br />
pensar, querer ou agir por si mesmo. Vai-<strong>se</strong><br />
tornando cada vez mais mero fragmento do grupo<br />
e menos ele próprio. <strong>As</strong>sim, o grupo todo caminha<br />
junto, dando os passos decisivos que cada indivíduo,<br />
isoladamente, talvez não des<strong>se</strong>. O dinamismo<br />
coletivo arrasta o indivíduo, mas ele não <strong>se</strong> dá<br />
conta disso e, ao fim da caminhada, julgará ter<br />
andado com as próprias pernas ...<br />
5) <strong>As</strong> etapas do processo não são estanques,<br />
mas <strong>se</strong> interpenetram. O processo alimenta-<strong>se</strong> a si<br />
mesmo: na medida em que a pessoa vai-<strong>se</strong><br />
azedando temperamentalmente, cresce nela o prurido<br />
de reivindicações e protestos; na medida em<br />
que tal prurido aumenta, ela <strong>se</strong> torna mais aberta à<br />
luta de clas<strong>se</strong>s; na medida em que <strong>se</strong> atira à luta de<br />
clas<strong>se</strong>s toma-<strong>se</strong> mais propensa a aceitar as transformações<br />
doutrinárias, e assim por diante. A<br />
"conscientização" de<strong>se</strong>ncadeia a ação e a ação<br />
reforça a "conscientização".<br />
141
144<br />
• Padres. freiras. agentes pastorais e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
aplaudem os expoentes mundiais da Teologia da libertação<br />
e os chefes da guerrilha nicaragüen<strong>se</strong>. durante a<br />
"Noite Sandinista", no teatro da Universidade Católica<br />
de São Paulo. Em destaque: D. Casaldáliga veste o uniforme<br />
de guerrilheiro com que foi pre<strong>se</strong>nteado na ocasião.
D • MOACIR GRECHI, Bispo-Prelado do<br />
Acre e Purus e um dos principais mentores nacionais<br />
do movimento <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong>, definiu as <strong>CEBs</strong> como "a parte<br />
concreta da Teologia da Libertação". E D. Valdir<br />
Calheiros, Bispo de Volta Redonda-RJ, outro de<br />
<strong>se</strong>us próceres ( organizador do 1. 0 Encontro Latino-Americano<br />
e presidente do 4. 0 Encontro<br />
Nacional de <strong>CEBs</strong>), considera as Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> como "a Teologia da Libertação posta em<br />
prática". Frei Leonardo Boff, por <strong>se</strong>u lado, afirma<br />
que a vinculação entre Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> e Teologia da Libertação não é casual, mas<br />
necessária. "<strong>As</strong> comunidades eclesiais e a teologia<br />
da libertação - diz ele - são dois momentos de<br />
um mesmo prõcesso de mobilização do povo", as<br />
primeiras repre<strong>se</strong>ntando "a prática da libertação<br />
popular" e a <strong>se</strong>gunda "a teoria dessa prática".<br />
<strong>CEBs</strong>-TL, um nexo que não é casual<br />
Não é, pois, mera coincidência que os principais<br />
mentores <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
em nosso País <strong>se</strong>jam precisamente os mais notórios<br />
repre<strong>se</strong>ntantes nacionais da Teologia da<br />
Libertação-TL. Basta citar, entre outros, os irmãos<br />
Frei Leonardo e Frei Clodovis Boff, Frei<br />
•<br />
Beto, Frei Carlos Mesters, Frei Gilberto Gorgulho,<br />
o Pe. J. B. Libânio SJ e o Pe. Eduardo<br />
Hoornaert.<br />
Também não foi por simples casualidade que o<br />
IV Congresso Internacional Ecumênico de Teologia<br />
reuniu em Taboão da Serra-SP, em fevereiro<br />
de 1980, os principais expoentes mundiais da TL,<br />
especialmente os latino-americanos (Pe. Gustavo<br />
Gutiérrez, Pe. Jon Sobrino, Pe. Pablo Richard,<br />
Pe. Ronaldo Mufioz, pastor J. Míguez-Bonino)<br />
para - juntamente com <strong>se</strong>us colegas nacionais e<br />
militantes de <strong>CEBs</strong> - debater o tema Eclesiologia<br />
<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
Teologia da Libertação,<br />
doutrina rellglosa que explica<br />
a atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
A Teologia da Libertação é, portanto, o<br />
conteúdo da doutrina religiosa <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (1). Tal doutrina religiosa modela<br />
todo o programa <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sua atuação externa e<br />
(1) Alguém poderia objetar não <strong>se</strong>r admissível que as<br />
doutrinas da Teologia da Libertação circulem nas <strong>CEBs</strong><br />
porque a TL foi condenada por João Paulo II em Puebla.<br />
Em primeiro lugar, cabe responder que a vi nculação entre<br />
<strong>CEBs</strong> e Teologia da Libertação, aqui apontada, é afirmada por<br />
145
<strong>As</strong> C EBs ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TF P as descreve como são<br />
sua vida interna; dá a justificação moral a suas<br />
metas de igualitarismo religioso, social, político e<br />
econômico; confere impulso e força de impacto à<br />
atuação dos corifeus e mentores maiores e menores<br />
do movimento, desde Cardeais e Bispos até<br />
agentes pastorais leigos e simples monitores de<br />
<strong>CEBs</strong> perdi<strong>das</strong> pela imensidão de nosso território.<br />
Teologia da Libertação e Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> constituem, convém acentuar, dois<br />
momentos de um mesmo processo: a teoria e a<br />
prática da "libertação popular". A TL esclarece a<br />
atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, de modo que atividades<br />
aparentemente <strong>se</strong>m gravidade, inócuas ou até<br />
louváveis, <strong>se</strong> vistas sob a luz da TL, ganham novo<br />
significado. A TL aponta o horizonte para onde<br />
devem caminhar as <strong>CEBs</strong> e estas realizam o<br />
programa da TL.<br />
<strong>As</strong>sim, para formar uma idéia clara da verdadeira<br />
fisionomia <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> e para compreender a fundo a sua atuação,<br />
torna-<strong>se</strong> indispensável conhecer, ainda que nas<br />
suas linhas gerais , os princípios básicos da Teologia<br />
da Libertação.<br />
Da Redenção sobrenatural,<br />
A "libertação" polltlca<br />
A Teologia da Libertação põe inteiramente na<br />
sombra (quando não despreza de todo) o ponto<br />
central da libertação operada por Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo, qual <strong>se</strong>ja, o resgate da dívida da<br />
Humanidade para com a justiça divina ofendida,<br />
efetuado por meio de sua Paixão e Morte na Cruz.<br />
Resgate que só Ele poderia realizar, uma vez que a<br />
ofensa feita ao Deus infinito, pelo pecado original,<br />
só poderia <strong>se</strong>r resgatada pelo próprio Deus.<br />
Portanto, nossa libertação da tirania do demônio,<br />
do pecado e da morte eterna - com to<strong>das</strong> as<br />
con<strong>se</strong>qüências de ordem social, terrena - foi uma<br />
libertação sobrenatural, um dom gratuito da mi<strong>se</strong>ricórdia<br />
divina, à qual os homens devem associar<strong>se</strong><br />
por suas boas obras.<br />
mentores nacionais do movimento <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>,<br />
em declarações contemporâneas ou posteriores a Puebla. Por<br />
outro lado, os erros doutrinários e desvios de conduta são<br />
denunciados no pre<strong>se</strong> nte trabalho com apoio em abundante<br />
documentação, provinda <strong>das</strong> fontes mais idôneas, ou <strong>se</strong>ja,<br />
escritos dos principais ideólogos do movimento e textos<br />
elaborados pelas próprias <strong>CEBs</strong>.<br />
Ora, os erros a í encontrados foram bem caracterizados e<br />
condenados por João Paulo II , no discurso de inauguração da<br />
Conferência de Puebla, como mostrou o Prof. Plinio Corrêa de<br />
Oliveira em lúcidos artigos publicados na imprensa diária nos<br />
me<strong>se</strong>s de março e abril de 1979.<br />
Ademais, a afirmação de que a TL foi condenada por João<br />
Paulo em Puebla é categoricamente co ntestada por prelados<br />
altamente colocados na cúpula do órgão que <strong>fala</strong> em nome dos<br />
Srs. Bispos brasileiros: D. Ivo Lorsc heiter, presidente da CN BB<br />
e D. Luciano Mendes de Almeida, <strong>se</strong>cretário, além de outros<br />
Prelados, como D. Cândido Padim, de Bauru.<br />
A declaração de D. Ivo Lorscheiter (a qual, diga-<strong>se</strong> de<br />
passagem, não prima pela lógica) foi feita a Frei Betto, o qual<br />
indagou <strong>se</strong> o Pontífice havia condenado a Teologia da<br />
Libertação. O presidente da CNBB foi enfático: "De jeito<br />
nenhum. O Papa apenas chamou a arenção para o risco de<br />
alguns abusos. A Teologia da Liberraçíio já foi incorporada à<br />
dourrina oficial da Igreja (sic!), arravés da Evangelii Nuntiandi,<br />
onde Paulo VI, <strong>se</strong>m negá-la (sic!) rambém adverte sobre alguns<br />
exageros que podem <strong>se</strong>r comeridos em <strong>se</strong>u nome". Não é fácil<br />
entender a afirmação de que um Pa pa incorporou determinada<br />
teologia à doutrina da Igreja, apenas porque não a negou (sic!).<br />
e além disso fe z advertências contra possíveis exageros em<br />
nome dela. Mas, o que vem ao caso é que D. Ivo (como<br />
também D. Luciano e D. Padim) conteste que a TL tenha sid o<br />
condenada.<br />
O que importa em admitir que ela tem li vre curso, não só<br />
nas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, como em todos os<br />
a mbientes católicos. De resto, basta entra r em uma li vra ri a<br />
religiosa para constatar que é precisamente o que ocorre. O u<br />
então, folhear documentos da própria CNBB ...<br />
146
Parte li Capítulo li - 1<br />
Frei Leonardo Boff<br />
11<br />
0 que propomos não é teologia<br />
no marxismo#<br />
mas marxismo na teologia"<br />
- Textos -<br />
FREI LEONARDO BoFF: "A teologia da libertação<br />
.... relê e interpreta a realidade social<br />
conflitiva. E aqui aflora o problema: importa<br />
conhecer de modo o mais científico possível<br />
esta realidade/ .... A opção política, ética e<br />
evangélica prévia em favor dos pobres contra a<br />
sua pobreza ajuda a escolher aquele instrumental<br />
que faça justiça aos reclamos de dignidade<br />
por parte dos explorados. Neste momento de<br />
racionalidade e objetividade, o teólogo pode <strong>se</strong><br />
utilizar do aporte da teoria marxista da história<br />
. .... O que propomos não é teologia dentro<br />
do marxismo, mas marxismo (materialismo<br />
histórico) dentro da teologia" ( I ).<br />
PE. ALFONSO GARCIA RuBio (analisando a<br />
TL): "Uma vez que o marxismo é ciência, do<br />
ponto de vista cristão não há problema algum<br />
em adotá-lo" (2).<br />
PE. JuAN Luis SEGUNDO SJ: "O marxismo<br />
pretende evidenciar a mentira social, e para isso<br />
elaborou um instrumental analítico científico. É<br />
algo de que deve regozijar-<strong>se</strong> o cristão, como<br />
deve alegrá-lo o fato deste instrumental <strong>se</strong>r<br />
empregado também para manifestar a ideologização<br />
da própria Igreja e da reflexão teológica.<br />
Purifica-<strong>se</strong>, assim, a Igreja, coisa de que<br />
ela <strong>se</strong>mpre tem necessidade" (3).<br />
PE. FRANCISCO T ABORDA SJ: "O meu ideal é<br />
o que está no evangelho, a fraternidade e o<br />
amor, mas o evangelho não me dá o instrumental<br />
científico de análi<strong>se</strong> da realidade . .... A<br />
análi<strong>se</strong> marxista da realidade é uma aquisição<br />
<strong>das</strong> ciências sociais" (4).<br />
Lmz ALBERTO GôMEZ DE SouzA: "Para a<br />
teologia da libertação não existe, atualmente,<br />
outra reflexão teórica melhor que o marxismo,<br />
que está in<strong>se</strong>rido na práxis da realidade" (5).<br />
(1) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil",<br />
6-4-80.<br />
(2) Teologia da Libertação: Política ou Profetismo?,<br />
Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 243.<br />
(3) Resumido pelo PE. A. G. RueIO, op. cit., p. 227.<br />
(4) "Jornal do Brasil", 24-8-80.<br />
(5) Apud PE. RoGER VEKEMANS SJ, Expansión mundial<br />
de la Teología de la liberación latinoamericana, in Socialismo<br />
y Socialismos en América Latina, Secretariado General<br />
dei CELAM, Bogotá, 1977, p. 276.<br />
147
A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve com o são<br />
A concepção marxista adotada pela Teologia da Libertação,<br />
e corrente nas <strong>CEBs</strong>, vê no "pobre" o verdadeiro<br />
"messias" e "redentor" da humanidade. - Este "crucifixo",<br />
estampado pelo "Boletim da CPT" (Comissão<br />
Pastoral da Terra, ligada à CNBB), está inteiramente de<br />
acordo com tal concepção.<br />
_.,<br />
A TL, deixando de lado a noção do resgate,<br />
transforma a Redenção (do latim Redemptio, que<br />
quer dizer resgate) , numa libertação como outra<br />
qualquer, à qual <strong>se</strong> pode chegar por outros meios<br />
que não o pagamento de um débito contraído. De<br />
onde, o papel de Nosso Senhor Jesus Cristo ficar<br />
inteiramente esvaziado de sua importância fundamental,<br />
o mesmo acontecendo com o caráter da<br />
gratuidade do dom recebido.<br />
A libertação assume para a TL um caráter<br />
eminentemente político - e não sobrenatural -<br />
<strong>se</strong>gundo o qual o próprio Cristo é visto apenas<br />
como um líder popular que foi morto ao tentar<br />
sacudir o jugo do Império Romano e o dos chefes<br />
da Sinagoga. Do mesmo modo a ação dos<br />
Profetas, especialmente de Moisés, são apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong><br />
como lutas políticas para libertar o povo <strong>das</strong><br />
opressões. A causa de to<strong>das</strong> as opressões, que até<br />
hoje dominam o povo, <strong>se</strong>gundo a TL, são as<br />
desigualdades políticas, econômicas, sociais e inclusive<br />
religiosas. Uma vez elimina<strong>das</strong> essas desigualdades,<br />
<strong>se</strong> con<strong>se</strong>guirá libertar afinal o homem,<br />
e nisso consiste a verdadeira redenção da Hunanidade.<br />
Marxismo e luta de clas<strong>se</strong>s<br />
Transformado o conceito de redenção, a TL<br />
passa a utilizar uma filosofia que está inteiramente<br />
de acordo com a nova concepção. Ou <strong>se</strong>ja, é<br />
no marxismo que ela vai buscar uma nova<br />
explicação para a salvação dos homens e os meios<br />
estratégicos para. con<strong>se</strong>gui-la. O Pe. Battista Mondin,<br />
professor na Pontifícia Universidade Urbaniana<br />
de Roma, comenta: "O princípio arquitetônico<br />
[da TL] é constituído pelo mistério da<br />
libertação da Humanidade realizado por Cristo: o<br />
princípio hermenêutico [interpretativo] é a filo-<br />
]48
Parte li<br />
Cap ítulo li - /<br />
sofia marxista da libertação . .. .. E a estratégia para<br />
con<strong>se</strong>guir a libertação é a proposta por Marx, a<br />
luta de clas<strong>se</strong>s".<br />
Uma vez adotados os novos conceitos, utilizada<br />
a estratégia da luta de clas<strong>se</strong>s, quem é que<br />
substitui a Cristo, como o redentor da Humanidade?<br />
O proletariado: "messias" e "redentor"<br />
A resposta de Marx é clara: o único elemento<br />
capaz de salvar os homens da situação de opressão<br />
em que <strong>se</strong> encontram na sociedade de clas<strong>se</strong>s,<br />
fundada na propriedade privada e na livre iniciativa,<br />
é a clas<strong>se</strong> do proletariado. Segundo o autor<br />
de O Capital, o proletariado resulta de um sistema<br />
de opressão, no qual a riqueza de uns é fruto<br />
necessário da exploração de outros. Como ele<br />
nega a legitimidade do lucro, a riqueza só pode <strong>se</strong>r<br />
obtida mediante o roubo dos trabalhadores, a<br />
exploração de <strong>se</strong>u trabalho pelo mecanismo da<br />
mais-valia.<br />
Para Marx, no momento em que essa clas<strong>se</strong>, o<br />
proletariado, empobrecida, despojada, marginalizada,<br />
<strong>se</strong> unir e quebrar o jugo dos exploradores,<br />
ela destruirá o próprio mecanismo da exploração,<br />
fonte do egoísmo que, <strong>se</strong>gundo ele, é a propriedade<br />
privada. Com isso, o proletariado não<br />
somente <strong>se</strong> libertará a si mesmo, mas libertará,<br />
redimirá, os próprios opressores.<br />
O "pobre" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ê o<br />
"proletariado-redentor" de Marx<br />
O marxismo considera, portanto, o proletariado<br />
como o verdadeiro "messias", conforme têm<br />
demonstrado vários autores, entre os <strong>quais</strong> o<br />
Os sofrimentos inenarráveis de Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo em 1ua Paixlo e Morte na Cruz, preço de noa 18<br />
Redençlo, estio expre1ao1 com a veneraçlo e o carinho<br />
da piedade criatl tradicional neste belo crucifixo, venerado<br />
na Sede principal da TFP, em Slo Paulo.<br />
149
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Karl Marx<br />
O mito da "ciência,, marxista<br />
A TEOLOGIA da Libertação afirma partir<br />
dos dados da realidade para a sua elaboração<br />
teológica, ao inverso da Teologia tradicional,<br />
que parte dos dados da Revelação.<br />
Entretanto, argumentam, o Evangelho não<br />
oferece nenhum critério científico para a análi<strong>se</strong><br />
da realidade. Logo, é preciso buscá-lo nas<br />
ciências sociais. E concluem que o método<br />
científico mais apto para tal análi<strong>se</strong> é aquele<br />
oferecido pelo materialismo histórico: a análi<strong>se</strong><br />
marxista.<br />
Ora, pretender que o marxismo <strong>se</strong>ja uma<br />
ciência é, em rigor de lógica, um absurdo. Pois<br />
como "provas" do acertado de suas conclusões<br />
ele só apre<strong>se</strong>nta suas próprias premissas teóricas.<br />
Por outro lado, os fundamentos doutrinários<br />
do marxismo não são dedutíveis por via<br />
lógica, a partir de pressupostos bem demonstrados,<br />
mas são mera decorrência de afirmações<br />
gratuitas, toma<strong>das</strong> como <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>m dados revelados.<br />
Como a partir do absurdo tudo é<br />
possível, uma vez aceitas como váli<strong>das</strong> essas<br />
afirmações, pode-<strong>se</strong> construir todo um sistema<br />
com aparência de correção lógica, no qual umas<br />
afirmações vão <strong>se</strong>rvindo de "prova" e de<br />
sustentação às outras.<br />
O Pe. Baldomero Ortoneda, jesuíta espanhol,<br />
auxiliado por uma equipe e orientado por<br />
especialistas, deu-<strong>se</strong> ao trabalho de analisar do<br />
ponto de vista da filosofia e <strong>das</strong> ciências<br />
naturais, os princípios básicos do marxismoleninismo.<br />
Ao cabo de 700 páginas de comparação<br />
<strong>das</strong> afirmações (mais de 15 mil) de cerca<br />
de 900 autores comunistas, com os dados da<br />
biologia, da química, da física, da geologia e<br />
<strong>das</strong> matemáticas, além da filosofia, constata a<br />
existência de perto de 400 erros de caráter<br />
científico, 600 erros de raciocínio e 200 erros<br />
filosóficos. O que desqualifica totalmente qualquer<br />
sistema (cfr. BALDOMERO 0RTONEDA, Principias<br />
Fundamentales dei Marx ismo-Leninismo,<br />
México-Madrid, 1974).<br />
Por con<strong>se</strong>guinte, a análi<strong>se</strong> marxista da<br />
realidade não é <strong>se</strong>não a adaptação da realidade<br />
aos pressupostos apriorísticos do materialismo<br />
histórico. <strong>As</strong>sim, a realidade não é investigada<br />
<strong>se</strong>gundo a objetividade dos fatos, mas<br />
interpretada e adaptada às conclusões prévias<br />
da doutrina.<br />
150
Parte II<br />
dominicano suíço Fr. Georges M.M. Cottier e o<br />
sacerdote espanhol Pe. Gregorio Rodríguez de<br />
Yurre.<br />
Ora, nos escritos dos teólogos da libertação e<br />
em documentos emanados <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ou a elas<br />
destinados, o modo como é apre<strong>se</strong>ntado o "pobre"<br />
(ou o "povo", já que nes<strong>se</strong> contexto um equivale<br />
ao outro), identifica-o inteiramente com a concepção<br />
marxista do "proletariado". Portanto, do<br />
"messias" e "redentor"!<br />
- Como <strong>se</strong> opera essa rotação de conceitos?<br />
Ainda aqui, pela adoção do marxismo.<br />
A Teologia da Libertação toma o conceito de<br />
"pobre" de grande significado bíblico, e o reduz a<br />
uma categoria meramente sócio-política, a de<br />
"clas<strong>se</strong> oprimida", própria à análi<strong>se</strong> marxista,<br />
<strong>se</strong>gundo a qual a sociedade <strong>se</strong> divide em burguesia<br />
e proletariado, opressores e oprimidos. Dessa<br />
forma, o "pobre" da TL equivale ao "proletariado"<br />
de Marx.<br />
A "clas<strong>se</strong> oprimida": "Povo de Deus",<br />
destlnatãrlo da mensagem evangélica<br />
Outro conceito bíblico interpretado do mesmo<br />
modo é o de "povo de Deus". Ele deixa de<br />
constituir uma realidade religiosa, para <strong>se</strong> transformar<br />
numa categoria meramente sociológica,<br />
entendida igualmente num <strong>se</strong>ntido classista, equivalente<br />
também a proletariado (o "povo", por<br />
excelência, <strong>se</strong>gundo Marx). O mesmo <strong>se</strong> dá com<br />
tantos outros conceitos.<br />
É ao pobre - tomado nessa acepção - que <strong>se</strong><br />
destina a mensagem evangélica, lê-<strong>se</strong> em documentos<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e escritos de teólogos da libertação.<br />
Não, porém, em virtude de suas disposições<br />
pessoais, de abertura, de aceitação dessa mensagem,<br />
mas unicamente em razão de sua situação de<br />
Capíwlo II - /<br />
"despojamento", que o identifica com o proletariado<br />
da concepção marxista.<br />
Es<strong>se</strong> "pobre", es<strong>se</strong> "povo", entendido como<br />
"clas<strong>se</strong> oprimida", é pura e simplesmente tomado<br />
como <strong>se</strong>ndo o "Povo de Deus". Ou <strong>se</strong>ja, como a<br />
própria Igreja. "Se não <strong>se</strong> é povo, como <strong>se</strong>r povo<br />
de Deus?", pergunta-<strong>se</strong> num relatório para o 2. 0<br />
Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong>.<br />
Des<strong>se</strong> modo, "ou a libertação vem pelo povo,<br />
ou não há libertação", sintetiza a Mensagem de<br />
Natal de 1978 da Dioce<strong>se</strong> de Goiás.<br />
Nem podia <strong>se</strong>r de outra forma: não é o "povo",<br />
o "pobre", o "oprimido", o novo "r,1essias", o novo<br />
"redentor", colocado pela Teologia da Libertação<br />
no centro do mistério da sal~ação?<br />
A "Igreja-que-nasce-do-povo", igreja<br />
marxista da Teologia da Libertação<br />
Conferido ao pobre es<strong>se</strong> caráter messiânico,<br />
compreende-<strong>se</strong> que <strong>se</strong> fale em "uma Igreja que<br />
nasce do povo" (slogan dos dois primeiros encontros<br />
nacionais de <strong>CEBs</strong>): o "pobre", o "povo",<br />
enquanto "redentor" da humanidade, substitui-<strong>se</strong><br />
a Nosso Senhor Jesus Cristo. Por con<strong>se</strong>guinte, a<br />
Igreja, em vez de nascer do lado aberto do<br />
Salvador morto na Cruz, nasce do sofrimento e da<br />
luta des<strong>se</strong> "povo-pobre-redentor", éle sua "práxis<br />
libertadora".<br />
O que faz inteiramente <strong>se</strong>ntido com todos os<br />
pressupostos da Teologia da Libertação, com sua<br />
adoção da análi<strong>se</strong> marxista.<br />
<strong>As</strong>sim, não há como fugir à conclusão: a<br />
"Igreja-que-nasce-do-povo", as <strong>CEBs</strong>, não são<br />
<strong>se</strong>não a "Igreja" marxista da Teologia da Libertação.<br />
E sua finalidade não pode <strong>se</strong>r outra <strong>se</strong>não<br />
"ajudar a construir uma sociedade mais igualitária,<br />
cuja matéria possa tornar mais viável e con-<br />
151
A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
ereto o Reino de Deus neste mundo", na expressão<br />
de Frei L. Boff. Ou <strong>se</strong>ja, buscar a sociedade<br />
<strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s da utopia comunista.<br />
A linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido<br />
- Mas como fazer aceitar pelos católicos es<strong>se</strong><br />
novo conteúdo de antigos conceitos?<br />
Pela utilização de um artifício <strong>muito</strong> sutil: a<br />
·linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido.<br />
Os teólogos da libertação, os mentores de<br />
<strong>CEBs</strong> e progressistas em geral, empregam uma<br />
linguagem aparentemente bíblica, cheia de citações<br />
escriturísticas, que são toma<strong>das</strong>, pelo leitor<br />
menos atento, em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido natural e próprio,<br />
quando na realidade têm uma significação marxista<br />
camuflada.<br />
É, em grande medida, graças ao emprego dessa<br />
linguagem de duplo <strong>se</strong>ntido, que tais eclesiásticos e<br />
agentes pastorais têm levado <strong>muito</strong>s fiéis a concordarem<br />
com propostas aparentemente sadias, mas<br />
de fato revolucionárias, que certamente teriam<br />
rejeitado <strong>se</strong> tives<strong>se</strong>m entendido o verdadeiro <strong>se</strong>ntido<br />
da linguagem que ouviam.<br />
Referências: Livros - PE. BATTISTA MoNDIN, Os Teólogos da<br />
libertação, Ed ições Paulinas, 1980; P E. A. G. R ue10, Teologia<br />
da Libertação: Política ou Profe1ismo?, Edições Loyola, São<br />
Paulo, 1977; PE. GusTAVO GuTlfRREZ, Teologia da Libertação,<br />
Vozes, Petrópolis, 1975; FREI LEONARDO BoFF OFM, Jesus<br />
Cristo Libertador, Vozes, Petrópolis, 1974, 4.ª edição; IDEM,<br />
Teologia desde e/ cautiverio, lndo-America n Press Service,<br />
Bogotá, 1975; FREI CLODov1s BoFF OSM, Comunidade Eclesial<br />
- Comunidade Política, Vozes, Petrópolis, 1978; PE. ÁLVARO<br />
BARREIRO SJ, Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e a Evangelização<br />
dos Pobres, Edições Loyola, São Paulo, 1979; PE. GR E<br />
GORIO RODRIGUEZ DE YuRRE, E/ Marxismo, BAC, Madrid,<br />
1979, 2 volumes. Artigos - FR EI LEONARDO BoFF OFM, Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e Teologia da Libertação, in "Convergência"<br />
{Revista da Conferência dos Religiosos do Brasil),<br />
Frei Carlos Mesters<br />
é o principal divulgador<br />
do método de<br />
reflexão bíblica empregado<br />
nas Comunidades<br />
Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>.<br />
<strong>se</strong>tembro 1981; IDEM, Marxismo na Teologia, in "Jornal do<br />
Brasil", 6-4-80; ID EM, Igreja Povo que <strong>se</strong> Liberta, in "Revista<br />
Eclesiástica Brasileira", <strong>se</strong>tembro 1978; PE. J. B. L1BÃN10 SJ,<br />
Congresso Internacional Ecumênico de Teologia. in "Revista<br />
Eclesiástica Brasileira", março 1980; PE. J . KERKHOFs SJ. Las<br />
comunidades de ba<strong>se</strong> en la lglesia , in "Boletin Pro Mundi<br />
Vita" (Bruxelas), <strong>se</strong>tembro 1976; PE. G. D EELEN SSCC. La lglesia<br />
ai enwentro dei pueblo en América Latina: las comunidades<br />
de ba<strong>se</strong> en Brasil, "Boletín Pro Mundi Vita", abril/junho<br />
1980; PE. GEORGES COTTIER OP, Marxisme e1 Messianism e, in<br />
"Ateísmo e Dialogo" (Bolletino dei Segretariato per i non<br />
credenti, Città deli Vaticano), <strong>se</strong>ttembre 1974; MARIA Jos~<br />
SARNO, Pobre, Teologia e Libertação. in "O São Paulo",<br />
2-10-8 1; HUGO <strong>As</strong>SMANN , A memória dos pobres como revelação<br />
de Deus, in "O São Paulo", 10-4-8 1; "The Ch urch of the<br />
Poor" - Latin America's comunidades de ba<strong>se</strong> keep growing.<br />
"Time", May 7, 1979; "Movimento". 29-1-79; Natal: A Igreja<br />
vo lra a <strong>fala</strong>r de jusriça, in "Jornal da Tarde". São Paulo,<br />
25-12-78; PUNIO Co RRéA DE OLIVEIRA, A mensagem de Puebla:<br />
noras e comenrários, in "Folha de S. Paulo", 26-3; 7, 14, 26-4 e<br />
19-5-79. Documentos - Dowmentojinal do Congresso Internacional<br />
Ecumênico de Teologia (Congresso de Taboão da<br />
Se"rra-SP), in "Revista Eclesiásti ca Brasileira", março 1980;<br />
Carta aos Cristãos que vivem e celebram sua fé nas Comunidades<br />
Cristãs Populares dos paí<strong>se</strong>s e regiões pobres do<br />
mundo {Congresso de Taboão da Serra-SP), ibidem.<br />
]52
Parte II<br />
Cap ítulo II -<br />
I<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> criticam<br />
a Santa Igreja e pregam<br />
uma "/greja-No"!fa"<br />
igualitária, herética e<br />
subversiva - Textos<br />
NO 1. 0 ENCONTRO Nacional <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (Vitória-1975), <strong>fala</strong>-<strong>se</strong> na<br />
"Igreja nova que nasce no meio do povo, principalmente<br />
através <strong>das</strong> comunidades eclesiais de<br />
ba<strong>se</strong>", e procura-<strong>se</strong> "delinear <strong>se</strong>u perfil", descobrir<br />
suas "características futuras".<br />
Essa "Igreja- Nova" é incompatível com a verdadeira<br />
Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo - a<br />
Santa Igreja Católica Apostólica Romana - , a<br />
qual é apre<strong>se</strong>ntada pelas <strong>CEBs</strong> e pela Teologia da<br />
Libertação como uma Igreja "opressora" e "alienadora".<br />
Os textos abaixo - extraídos de documentos<br />
de encontros de <strong>CEBs</strong> ou de obras e declarações de<br />
"teólogos da libertação" - <strong>se</strong>rvem para ilustrar o<br />
modo injurioso como é tratada a Igreja tradicional<br />
e para apre<strong>se</strong>ntar algumas características dessa<br />
'' Igreja-nova-que-nasce-do-povo·'.<br />
A. Critica da Igreja tradicional<br />
A "Igreja de ontem"<br />
era alienante<br />
2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório<br />
<strong>das</strong> Comunidades de Ribeirão Bonito e Cascalheira<br />
- Prelazia de S. Felix-MT): "A Igreja de<br />
ontem, o povo julgava que os padres eram donos<br />
da salvação. Ela tem culpa de nós não enxergar e<br />
não ter uma vida melhor. .. .. Antigamente os<br />
padres pregavam o <strong>se</strong>rmão e rezavam o terço<br />
inteiro sozinho. E <strong>se</strong>mpre querendo <strong>sabe</strong>r <strong>se</strong> o<br />
povo sabia as orações. .... Espancavam, queria<br />
surrar o povo e o colocar em sujeição. Eles eram<br />
ricos como os tubarões e não tinham comunidade<br />
com o povo. Naquele tempo o camarada era atrasado<br />
e os padres eram sabidos. O povo era besta e<br />
153
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
os padres iam <strong>se</strong> prevalecendo da bestagem do<br />
povo. Eles não davam orientação" (1).<br />
Luta revolucionãria para<br />
libertar-<strong>se</strong><br />
de uma religião alienante<br />
Pe. Gustavo Gutiérrez: "O homem latinoamericano<br />
ao tomar parte em sua própria libertação,<br />
.... na lura revolucionária liberta-<strong>se</strong> de<br />
algum modo da tutela de uma religião alienante<br />
que tende à con<strong>se</strong>rvação da ordem" (2).<br />
A "Igreja tradicional"<br />
não testemunha<br />
a palavra e a vida de Jesus<br />
2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem<br />
da Igreja de Goiás - Dioce<strong>se</strong> de Goiás Velho):<br />
"Perante o · Evangelho, a Igreja tradicional <strong>se</strong><br />
apre<strong>se</strong>nta como um terreno que precisa mesmo de<br />
destaca. Continua funcionando, mas parece que<br />
alguma coisa impede que testemunhe a palavra e a<br />
vida de Jesus" (3).<br />
Afastava de Jesus<br />
"O tronco é Jesus Cristo e só ele. Muitos<br />
querem outro tronco, ou <strong>se</strong>ja o padre ou <strong>se</strong>ja<br />
algum santo. E na Igreja tradicional, os padres<br />
agiam de um modo que favorecia este engano" (4).<br />
E opressora e impede a<br />
caminhada da "Igreja-Nova"<br />
3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Conclusões<br />
do Relatório <strong>das</strong> Comunidades do Estado de São<br />
Paulo): "A Igreja antiga está ao lado do capitalismo.<br />
O domínio da Igreja tradicional impede a<br />
caminhada da nova, porque é bem diferente. A<br />
Igreja tradicional não acredita no povo, tem medo<br />
do povo, medo de perder o trono. Regime ditatorial:<br />
tudo é decidido de cima e o povo simplesmente<br />
acompanha".<br />
"Sinais de escravidão: uma Igreja que concentra<br />
toda a estrutura de poder: político, econômico<br />
e cultural .... não fez uma opção pelo pobre ....<br />
apre<strong>se</strong>nta · a leitura do Evangelho a partir do<br />
opressor; transfere a Deus os problemas ( Deus<br />
quer assim ... ; <strong>se</strong>mpre haverá pobres ... ; quanto<br />
mais <strong>se</strong> sofre aqui ... ;) ... . <strong>se</strong> julga a única capaz de<br />
ensinar a verdade" (5).<br />
Prega um Deus alienador<br />
3. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> (Relato dos<br />
participantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>): [Quem está adubando a<br />
raiz do mal]: "É a própria religião que existe e que<br />
bota umas coisas na cabeça do pessoal. Uma fama<br />
que foi colocada na cabeça do pessoal de como é<br />
Deus: um Deus alienador" (6).<br />
B. Perfil da Igreja Nova <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>-Teologia da Libertação<br />
Nasce através <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
I.º Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório do<br />
Encontro): "O objetivo do encontro foi delinear o<br />
perfil e descobrir as características futuras da<br />
Igreja nova, que nasce no meio do povo, principalmente<br />
através <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong>" (7).<br />
154
Parte II<br />
Capítulo li -<br />
I<br />
E uma "Igreja-povo",<br />
·que não fica cega<br />
fitando o Evangelho<br />
2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem<br />
da Igreja de Goiás): "Nossa Igreja é para quem<br />
quer e não para quem pode". "E do povo e não do<br />
dinheiro". "Está com o povo e não por cima do<br />
povo". "É um compromisso com a vida e não com<br />
a religião". "Não fica cega fitando o Evangelho,<br />
mas vê sua claridade nas coisas da vida". "Enxerga<br />
como o pecado <strong>se</strong> arruma na organização da<br />
sociedade e <strong>sabe</strong> que só vencerá na mudança".<br />
"Uma Igreja que <strong>se</strong> coloca decididamente a<br />
<strong>se</strong>rviço do povo aos <strong>pouco</strong>s <strong>se</strong> transforma numa<br />
Igreja-povo". "Se não <strong>se</strong> é povo, como <strong>se</strong>r povo de<br />
Deus?" (8).<br />
Uma Nova Igreja, <strong>se</strong>m<br />
religião, <strong>se</strong>m hierarquia,<br />
com outro evangelho<br />
2. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Comunidades<br />
de Ribeirão Bonito e Cascalheira - Prelazia<br />
de São Félix do Araguaia): "Hoje a Igreja volta ao<br />
tempo de Cristo, está mostrando o verdadeiro<br />
caminho cristão. .. .. Estamos aqui formando a<br />
Nova Igreja". "Deus não quer a terra, nem o céu<br />
para uns <strong>pouco</strong>s só. Tubarão, egoísta, não tem vez<br />
no reino de Deus. Quem tudo quer para si está<br />
fora do reino de Deus". "A glória do Pai é assim:<br />
ninguém mais alto, ninguém mais baixo".<br />
"Prescindir da religião e partir mais para a fé .<br />
Prescindir de nossa religião e partir mais para a<br />
mensagem central de evangelho: Anúncio de Deus<br />
como pai, anúncio da salvação. Confronto de<br />
nosso evangelho com o evangelho do povo em fa<strong>se</strong><br />
de antigo testamento" (9).<br />
Outra Igreja,<br />
que <strong>se</strong> compromete com<br />
a mudança de estruturas,<br />
econômica, social e polltica<br />
3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório<br />
<strong>das</strong> Comunidades do Estado de São Paulo): "Outra<br />
Igreja [a Igreja-Nova <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>] é a que <strong>se</strong><br />
compromete com a mmlança de estruturas econômica,<br />
social e política; alimenta a fé, que dá<br />
coragem e fundamento para a luta (ex.: grupos<br />
CPT, CIMI ... ); revê a própria história e relê a<br />
Bíblia através da situação do oprimido" (10).<br />
Organizar os trabalhadores,<br />
missão da Igreja<br />
3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Relatório do<br />
Encontro): "Os Padres ligam a Igreja com os<br />
pobres . .... A gente tá refletindo sobre o Evangelho,<br />
sobre Política e tentando organizar os<br />
trabalhadores (Goiás)" ( 11).<br />
Igreja e movimento popular,<br />
uma s6 realidade<br />
Congresso de Taboão da Serra (Documento<br />
Final): "Na luta do povo, a Igreja redescobre<br />
<strong>se</strong>mpre mais a sua identidade e a sua missão<br />
próprias. - A corrente cristã no interior do<br />
movimento popular e a renovação da Igreja a<br />
partir de sua opção pelos pobres são um movimento<br />
eclesial único e específico. Este movimento<br />
eclesial vai configurando diferentes tipos de comunidades<br />
eclesiais de ba<strong>se</strong> onde o povo encontra um<br />
155
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> f ala. p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve co n:o são<br />
espaço de resistência, de luta e de esperança frente<br />
à dominação. A li os pobres celebram sua f é em<br />
Cristo libertador e descobrem a dimensão p olítica<br />
da caridade" ( 12).<br />
Igreja: povo<br />
a <strong>se</strong>rviço do povo<br />
Frei Gilberto Gorgulho OP: "A Igreja simplesmente<br />
é um povo a <strong>se</strong>rviço do próprio povo. A pre<strong>se</strong>nça<br />
e ação pastoral da Igreja alcança uma dimensão<br />
pastoral que de<strong>se</strong>mboca no campo p olítico" ( 13).<br />
Função da "Igreja-Nova":<br />
acabar com o<br />
medo do comunismo<br />
Pe. Ernesto Cardenal (Pergunta do repórter<br />
Peter Klein: Isto quer dizer que o trabalho de um<br />
cristão ou de um padre no Terceiro Mundo deve<br />
<strong>se</strong>r transmitir o conhecimento do comunismo ao<br />
povo, ti rar-lhe o medo do comunism o?): "R . Sim.<br />
O p roblema é acabar com o medo diante do comunism<br />
o; <strong>se</strong>r um elem ento de mudança e de reforma.<br />
e ajudar na construção do socialism o na A m érica<br />
Latina, até alcançar a p az e realizar a construção<br />
do socialism o. Isto f eito, p artir para a construção<br />
da sociedade.final comunista, isto é, a fundação do<br />
'reino do amor'" (14).<br />
Papel do Episcopado:<br />
favorecer a Revolução<br />
Pe. Alfonso Garcia Rubio: " O que espera a<br />
Teologia da libertação da Hierarquia eclesiástica.?<br />
Que <strong>se</strong> dessolidarize ef etivamente do sistema imperante,<br />
e que admita, de fato, no <strong>se</strong>u interior.<br />
op ções claramente revolucionárias . .. .. Na grande<br />
maioria dos paí<strong>se</strong>s latino-americanos ... . significa<br />
normalmente a op ção p olítica de esquerda uma<br />
op ção contra o sistema dominante, considerado<br />
com o opressor e anti-humano" ( 15).<br />
«A missão dá Igreja é pregar o comunismo»<br />
O pensam enlo de Er11esto Carde,uu- padre, poeta. guerrilheiro e. agoru<br />
m iniJtro da &J·,CIJ+(J() do lfOt.ro g 01Xmo da N icanigJUJ.<br />
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Parte li<br />
Sacramentos: ações<br />
libertadoras e celebrações<br />
conscieniizadoras nas <strong>CEBs</strong><br />
Pe. Juan Luis Segundo SJ (resumido pelo Pe.<br />
A. G. Rubio): "Os sacramentos, ou constituem<br />
'uma celebração conscientizadora e motivadora da<br />
ação libertadora do homem na história' ou contribuem<br />
para a desumanização do homem . .... <strong>As</strong>sim<br />
como em toda verdadeira conscientização há<br />
<strong>se</strong>mpre uma dimensão comunitária, dado que o<br />
diálogo é absolutamente indispensável (ninguém<br />
<strong>se</strong> conscientiza nem <strong>se</strong> liberta sozinho), assim<br />
também uma prática sacramental libertadora tem<br />
necessidad€. de comunidades eclesiais reais, comunidades<br />
de ba<strong>se</strong>" (16).<br />
2. 0 Encontro <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Mensagem da Igreja<br />
de Goiás): "O batismo só tem <strong>se</strong>ntido <strong>se</strong> for<br />
recebido dentro de uma comunidade . .... Reparamos<br />
que o batismo era desperdiçado por toda<br />
parte . .... Fomos examinar os outros sacramentos<br />
e deu no mesmo resultado. .... 'Terá <strong>se</strong>ntido<br />
celebrar o sacramento numa sociedade que tem<br />
por lei o capital e o lucro, o que leva a desprezar as<br />
pessoas?' .... A Igreja de Goiás resolveu diminuir a<br />
celebração dos sacramentos para dar mais tempo e<br />
atenção à evangelização" (17).<br />
Novo Santo:<br />
o militante polltico<br />
Frei Leonardo Boff OFM: "Nas comunidades<br />
de ba<strong>se</strong> criou-<strong>se</strong> a situação para um outro tipo de<br />
santidade, aquela do militante. Mais que lutar<br />
contra as próprias paixões (é uma luta permanente),<br />
luta-<strong>se</strong>, politicamente, contra a espoliação e<br />
geração de mecanismos de acumulação excludente<br />
"Eu me sinto, vestido<br />
de guerrilheiro,<br />
como me poderia<br />
<strong>se</strong>ntir paramentado<br />
de Padre", diz D.<br />
Casaldéliga, ao vestir<br />
o unifonne guerrilheiro<br />
com que foi<br />
pre<strong>se</strong>nteado na<br />
" Noite Sandinista",<br />
em São Paulo.<br />
e no esforço de construir relações mais comunitárias<br />
e equilibra<strong>das</strong>" ( 18).<br />
"Em contraposição ao santo cristão - um<br />
ob<strong>se</strong>rvante, um asceta - nas ba<strong>se</strong>s surge outro<br />
tipo: o militante, solidário às lutas do povo,<br />
surgem santos operrírios, de gravata" ( 19).<br />
NOTA":<br />
(1) "SEDOC", novembro 1976, col. 565.<br />
(2) Teologia da libertação, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 67.<br />
(3) "SEDOC", novembro de 1976, col. 501.<br />
(4) Idem, col. 518.<br />
(5) Idem, outubro 1978, col. 329.<br />
(6) Idem, col. 433.<br />
(7) Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>: uma Igreja que nasce<br />
do povo, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 11.<br />
(8) "SEDOC", novembro 1976, cols. 515, 523.<br />
(9) Idem, cols. 565, 567.<br />
(10) Idem, outubro 1978, col. 329.<br />
(11) Ibidem, col. 419.<br />
(12) Documento Final do Congresso Ecumênico Internacional<br />
de Teologia, n.ºs 20 e 21.<br />
(13) "Folhetim", 28-1-79, p. 6.<br />
(14) "O Estado de S. Paulo", 19-1-79.<br />
( 15) Teologia da libertação: Política ou Profetismo?. Edições<br />
Loyola, São Paulo, 1977, p. 31.<br />
(16) Idem, p. 157.<br />
(17) "SEDOC", novembro 1976, cols. 501-502.<br />
( 18) Características da Igreja encarnada nas clas<strong>se</strong>s subalternas,<br />
in "SEDOC', janeiro-fevereiro 1979, col. 841.<br />
(19) "O Estado de S. Paulo", 29-2-80.<br />
157
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
A nova religião da 11 lgreja-Nova":<br />
"O mau ladrão também é Deus"<br />
- Textos -<br />
Mistura de concepções heréticas modernistas<br />
com as idéias-força marxistas de luta de clas<strong>se</strong>s e<br />
de domínio da economia (o modo de produção)<br />
sobre to<strong>das</strong> as demais atividades do homem,<br />
inclusive a religiosa, a Teologia da Libertação -<br />
doutrina que anima o movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> - acaba <strong>se</strong>ndo praticamente uma<br />
transposição do marxismo em termos religiosos. A<br />
coletânea de textos que <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue - extraídos de<br />
documentos ou de obras e declarações de próceres<br />
dessa corrente - apre<strong>se</strong>nta diferentes aspectos<br />
dessa nova religião.<br />
Deus: o homem. lnterpretaçlo<br />
marxista da Santlsslma Trindade<br />
Pe. Gustavo Gutiérrez: "No encontro com os<br />
homens dá-<strong>se</strong> nosso encontro com o Senhor . .... É<br />
conhecida esta poesia de León Felipe, da qual<br />
<strong>muito</strong> gostava 'Che' Guevara . .... 'Amo-te, Cristo/<br />
. . .. Tu nos ensinaste que o homem é Deus ... / Um<br />
pobre Deus crucificado como tu / e aquele que<br />
está à tua esquerda no Gólgota / o mau ladrão /<br />
também é Deus!' " (1).<br />
D. Alfonso López Trujillo (referindo-<strong>se</strong> à<br />
Teologia da Libertação): "Conhecem-<strong>se</strong> ensaios de<br />
uma 'Teologia Trinitária marxista', nos <strong>quais</strong> as<br />
Cf]tegorias: política, economia, sociedade, <strong>se</strong>rvem<br />
de fundamento e de manifestação <strong>das</strong> p essoas<br />
Trinitárias ... " (2).<br />
Palxlo de Cristo: palxlo do povo, vitima<br />
do capltallsmo e da Igreja tradlclonal<br />
Pe. Antonio Haddad SSS: "Mas hoje a Igreja<br />
tenta mostrar que essa morte de Cristo tão<br />
chorada e lamentada na 6. ª f eira da Paixão é<br />
também a morte do povo. O povo que morre nas<br />
crueldades da luta diária pela sobrevivência.<br />
E <strong>se</strong> o Cristo continua morrendo hoje e o povo<br />
também .. . quem são os assassinos?<br />
• Mata o Cristo e o povo quem apóia os<br />
empresários do A BC e não ouve os operários.<br />
• Mata o Cristo e o povo quem quer manter o<br />
sistema capitalista brasileiro.<br />
• Mata o Cristo e o povo quem continua<br />
defendendo uma Igreja tradicionalista desligada<br />
dos problemas do mesmo povo. . ...<br />
E o povo deve descobrir neste dia de luto para<br />
a humanidade que esta morte ainda vai <strong>se</strong>r fonte<br />
de nova vida como foi a do Cristo. É o sangue do<br />
operário, do marginalizado e do injustiçado que<br />
vai fazer desta terra brasileira um País onde aqueles<br />
que são maioria tomarão o <strong>se</strong>u destino nas<br />
mãos" (3).<br />
Frei Leonardo Boff OFM: "Tenho para mim<br />
que a morte de Jesus foi humana, provocada pelos<br />
antagonismos que havia em sua época" (4).<br />
Demõnlo: o lucro, o capltallsmo<br />
Pe. Juan Luis Segundo SJ: "Quando <strong>se</strong> batiza<br />
uma criança, o ritual prescreve algumas orações<br />
para expulsar o demônio da criança .... porque<br />
não ensaiar uma terceira possibilidade: chamar<br />
pelo nome e sobrenome es<strong>se</strong> demônio que <strong>se</strong> quer<br />
158
Parte li<br />
expulsar? .... Se <strong>se</strong> trata de uma criança pobre,<br />
porque não dizer: 'Sai daí espírito imundo do<br />
capitalismo' . .... Se <strong>se</strong> trata de um rico, porque não<br />
dizer: 'Sai desta criança, espírito imundo do<br />
lucro' " (5).<br />
Socorro Guerrero (Repre<strong>se</strong>ntante <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da<br />
Nicarágua no Congresso de Taboão da Serra): "O<br />
capitalismo é o pior, o maior inimigo. É aquilo que<br />
chamamos o diabo, na Bíblia. Porque o diabo em<br />
si, não existe, mas o capitalismo sim, existe" (6).<br />
Pecado Original: a propriedade privada<br />
Congresso de Teologia de Taboão da Serra<br />
(Documento final): "O Deus em que acreditamos é<br />
Capírulo li - 1<br />
o Deus da Vida, da liberdade e da justiça. Ele criou<br />
'a terra e tudo que nela existe' a <strong>se</strong>rviço do homem<br />
e da mulher, para que eles vivam, comuniquem a<br />
vida e transformem esta terra em lar para todos os<br />
<strong>se</strong>us filhos. O pecado do homem que <strong>se</strong> apropria<br />
da terra e assassina <strong>se</strong>u irmão não destrói o<br />
desígnio de Deus (Gn. 2-4) (1). Por isso Ele chama<br />
Abraão para <strong>se</strong>r o pai de um povo (Gn. 12ss) e<br />
( 1) A passagem citada do documento final do Congresso de<br />
Taboão da Serra pretende apre<strong>se</strong>ntar um resumo da história da<br />
criação, da ruptura da aliança entre Deus e o homem pelo<br />
pecado original, e a renovação dessa aliança por meio de<br />
Abraão e Moisés. Ora, a única referência ao pecado que<br />
rompeu a aliança entre Deus e o homem vem nas palavras: "O<br />
pecado do homem que <strong>se</strong> apropria da terra e assassina <strong>se</strong>u<br />
Para Marx. o prole·<br />
tariado carrega a<br />
cruz de todos os<br />
sofrimentos da humanidade,<br />
<strong>se</strong>ndo<br />
por isso o verdade<br />
iro "redentor"<br />
doa homens. Esta<br />
ilustraçlo de uma<br />
"Via-Sacra" estampada<br />
em "O<br />
Slo Paulo" - órglo<br />
da Arquidioce<strong>se</strong><br />
paulistana -<br />
mostra como, introduzida<br />
pela Teologia<br />
da Libertaçlo.<br />
essa concepçlo<br />
tornou-<strong>se</strong> corrente<br />
nos meios católicos.<br />
OfAOP.'IULO<br />
------------- - -- -<br />
Experiências pastorais na Se1nana Santa<br />
A ~ de Bo,. ~ Hr- o 1f'Olw,tu,o cb ho>Qllol, ~ Ir,<br />
~ ~i;"~~ (~:.::-:,·:~~,. , ... 11-<br />
W .wno yio.liXfO dJ lr1tf11.t.. dl;i~<br />
do o p,,cuoo da • >0 '3CID, oco,,,.<br />
q.. o ...o,o, pon., do P0PUbl6o ,~ ,om pgln u o , W p,, \.IO, 1n«"tt \<br />
""-1,o, loton,Jo~D,mlc'IH--<br />
1,oi~'!:"" "-)l. r~l)lo,f1C6o l» l rabalho.liof.nr.<br />
~ :,''t':.·:tdoc:,:=~a:a::e;:.<br />
~ ~<br />
cii anca "° bamo.<br />
"Riil d-ci q.. e.brrm o , oo p,u,~cn<br />
So,,to, ludo Otl)rrN (_,., Wfl'Cl,., ' •<br />
''°°' do '°"'° do bo>
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Uma Igreja autogestionária,<br />
numa sociedade autogestionária<br />
HÁ UNIDADE de pensamento na Revolução:<br />
propagada no Estado, ela filtra para a Igreja,<br />
e propagada na Igreja filtra para o E_st~do.<br />
O Pe. Domingos Barbé mostra a mt1ma<br />
conexão que existe entre a implantaç~o da<br />
autogestão na sociedade e na Igreja: "E coisa<br />
estranha e contraditória, pedir para a sociedade<br />
civil a autonomia, a autogestão, a democracia,<br />
a socialização, inclusive do poder e, ao mesmo<br />
tempo, não deixar as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>rem autônomas,<br />
<strong>se</strong> 'autogerirem' mesmo no que diz respeito à sua<br />
vida eucarística" (Artigo O ministério Eucarístico<br />
e as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, in "O<br />
São Paulo", 20-2-81, p. 4).<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> não de<strong>se</strong>jam, portanto, reformar<br />
apenas o Estado e a est_r~tura política, -~as<br />
· também as estruturas soc1a1s e mesmo rehgio<br />
. sas <strong>se</strong>gundo <strong>se</strong>u ideal de igualitarismo radical.<br />
Reforma portanto da Igreja e da sociedade civil<br />
conjuga<strong>das</strong> entre si, para cria_r um _mun~o novo,<br />
um "Reino de Deus" que <strong>se</strong> 1dent1ficana com a<br />
1 sociedade <strong>se</strong>m clas<strong>se</strong>s e "autogerida" da etapa<br />
; final do comunismo.<br />
irmão". A fra<strong>se</strong> que "assassina <strong>se</strong>u irmão" só pode referir-<strong>se</strong> à<br />
morte de Abel por Caim, relatada no Gênesis. Entreta~t_o, o<br />
fratiddio praticado por Caim deu-<strong>se</strong> depois do p~ca.do ongmal;<br />
logo, não pode <strong>se</strong>r relacionado com ele; ademais, ocorreu por<br />
inveja e nada tem a ver com o que, no texto dos teólogos da<br />
libertação, o antecede: a "apropriação da terra". Logo, o<br />
pecado do homem, o pecado original, só pode entender-<strong>se</strong><br />
como <strong>se</strong>ndo a "apropriação da terra". Ora, os Capítulos 2 a 4<br />
M oisés para libertar este povo da opressão, fazer<br />
com ele uma aliança e encaminhá-lo à terra<br />
prometida (txodo, Deuteronômio)" (7).<br />
Pecado atual: o capltallsmo<br />
Mensagem às Comunidades de Ba<strong>se</strong> (Congresso<br />
de Teologia de Taboão da Serra): " ... . nos organizemos<br />
numa luta comum para tirar o pecado do<br />
mundo, o grande pecado social do sistema capitalista<br />
que mata a vida de tantos irmãos" (8).<br />
3. 0 Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> (Conclusões):<br />
"Toda essa opressão que chega sobre nós tem sua<br />
raiz no pecado: . .. . Es<strong>se</strong> grande pecado é agora<br />
social e <strong>se</strong> chama sistema capitalista" (9).<br />
Redenção: libertação s6cio-polf tlca<br />
Pe. Gustavo Gutiérrez: "O pecado exige uma<br />
libertação radical, mas esta inclui necessariamente<br />
uma libertação política" (10).<br />
Frei Leonardo Boff OFM: "A salvação é um<br />
conceito englobante. Não <strong>se</strong> restringe às libertações<br />
sócio-econômicas e políticas. Mas não <strong>se</strong><br />
realiza também <strong>se</strong>m elas" ( I I ).<br />
Pe. Alfonso Garcia Rubio: "No contexto latino-americano<br />
[os teólogos da libertação] atribuem<br />
às tendências revolucionárias importância prioritária<br />
à libertação política. Nesta vive o cristão o<br />
amor a Deus e ao próximo, .... empenhando-<strong>se</strong><br />
do livro do Gênesis, narram a criação do homem, a queda<br />
original fruto da desobediência a Deus, e a morte de Abel por<br />
Caim. Nem uma palavra é dita sobre o "pecado da apropriação<br />
da terra". Quem considera a "apropriação da terra"<br />
como uma espécie de "pecado original" são os comunistas, que<br />
dizem que o "comunismo primitivo" terminou por causa da<br />
apropriação dos meios de produção (repre<strong>se</strong>ntada principalmente<br />
pela terra) surgindo assim a sociedade de clas<strong>se</strong>s.<br />
160
Parte li<br />
Capitulo li -<br />
I<br />
vontade de Deus<br />
o ENSINAMENTO do Magistério tradicional<br />
da Igreja a respeito da diversidade de<br />
clas<strong>se</strong>s vem expresso de modo claro e inequívoco<br />
nesta passagem do Papa Bento XV: "Os<br />
que ocupam situações inferiores quanto à<br />
posição social e à fortuna devem convencer-<strong>se</strong><br />
bem de que a diversidade de clas<strong>se</strong>s na sociedade<br />
vem da própria natureza, e-de que <strong>se</strong> deve<br />
procurá-la, em última análi<strong>se</strong>, na vontade de<br />
Deus: 'porque ela criou os grandes e os pequenos'<br />
(Sap. 6, 8), para o maior bem dos indivíduos<br />
e da sociedade. Essas pessoas humildes<br />
devem compenetrar-<strong>se</strong> desta verdade: qualquer<br />
que <strong>se</strong>ja a melhora que obtenham para a sua<br />
situação, tanto pelos <strong>se</strong>us esforços pessoais<br />
como com o concurso dos homens de bem,<br />
<strong>se</strong>mpre lhes ficará, como aos demais homens,<br />
uma pesada herança de sofrimentos. Se tiverem<br />
essa visão exata da realidade, não <strong>se</strong> esgotarão<br />
em esforços inúteis para <strong>se</strong> elevarem a um nível<br />
superior às suas capacidades, e suportarão os<br />
males inevitáveis com a resignação e a coragem<br />
que a esperança de bens eternos dá" (BENTO XV,<br />
Carta Soliti Nos, de 11 de março de 1920, ao<br />
Bispo de Bérgamo, Les En<strong>se</strong>ignements Pontificaux<br />
- La Paix lntérieure des Nations, par<br />
les Moines de Solesmes, Desclée & Cie, pp.<br />
293-294).<br />
Papa Bento XV (1914-1922)<br />
161
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
corajosamente na práxis libertadora até dar a vida<br />
pelos outros" (12).<br />
Moral: bom ê aquilo que<br />
favorece a revoluçlo<br />
Pe. Ronaldo Muiioz SSCC: "Penso que como<br />
cristãos, podemos aceitar, em geral, a concepção<br />
marxista de que é eticamente bom aquilo que na<br />
práxis revolucionária <strong>se</strong> vai mostrando eficaz para<br />
a causa do proletariado" ( 13).<br />
O ldeArlo soclallsta-comunlsta:<br />
reallzaçlo da utopia cristã<br />
Frei Leonardo Boff OFM: "O que a teologia<br />
poderá dizer é que o ideário socialista-comunista<br />
propiciaria à fé, caso venha a <strong>se</strong> historizar, mais<br />
possibilidades que o capitalismo de realizar topicamente<br />
a utopia cristã acerca do homem e da<br />
sociedade" (14).<br />
Reino de Deus: Instauração da<br />
(iltlma etapa do comunismo<br />
Pe. Pablo Richard: "Para nós, com o triunjo<br />
<strong>das</strong> forças populares, o povo da Nicarágua <strong>se</strong> encontra,<br />
agora, mais próximo do reino de Deus" ( 15).<br />
Frei Betto e Pe. Pablo Richard: "Vários teólogos<br />
insistiram na integração entre ciência e fé -<br />
comenta 'Movimento' - e tanto Pablo Richard<br />
como Frei Beto - um teólogo, outro agente<br />
pastoral - afirmaram que o socialismo 'é apen"as<br />
uma etapa do Reino de Deus'" (16).<br />
Pe. Ernesto Cardenal (líder sandinista e atual<br />
Ministro da Cultura da Nicarágua): "Em um dos<br />
meus versos escrevi uma vez a <strong>se</strong>guinte linha:<br />
'comunismo e reino de Deus na terra significam a<br />
mesma coisa'. E com isto eu queria dizer que o<br />
comunismo e o Estado da 'sociedade final comunista'<br />
que ainda não está realizada em parte<br />
alguma do mundo - pois até agora nos encontramos<br />
ainda na fa<strong>se</strong> da construção do socialismo -<br />
que esta futura sociedade comunista <strong>se</strong>rá, ela<br />
mesma, o 'Reino de Deus na Terra' " ( 17).<br />
"O comunismo, <strong>se</strong>gundo Marx, é a sociedade<br />
na qual não haverá egoísmo nem injustiça de<br />
nenhuma espécie, é o mesmo que os cristãos<br />
entendemos por reino de Deus na Terra" (18).<br />
NOTAS<br />
(1) Teologia da Libertação, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 171.<br />
(2) Teologia Liberadora en América Latiria, Ediciones<br />
Paulinas, Bogotá, 1974, p. 105.<br />
(3) "O São Paulo", 6-4-79, p. 4.<br />
(4) Citado por FREI BEno, Diário de Puebla, Civilização<br />
Brasileira, 1979, p. 60.<br />
(5) Apud MoNS. ALFO NSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 79.<br />
(6) "Catolicismo", julho-agosto 1980, p. 20.<br />
(7) Documento Final do Congresso Internacional Ecumênico<br />
de Teologia, n. 0 29, in "Revista Eclesiástica Brasileira",<br />
março 1980, p. 156.<br />
(8) Carta aos Cristãos que vivem e celebram a sua f é nas<br />
Comunidades Cristãs Populares dos paí<strong>se</strong>s e regiões pobres do<br />
mundo, in "Revista Eclesiástica Brasileira", março 1980,<br />
p. 168.<br />
(9) 3. 0 Encontro Intereclesial <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> - Igreja Povo que <strong>se</strong> Liberta, in "Revista Eclesiástica<br />
Brasileira", <strong>se</strong>tembro 1978, p. 510; "SEDOC", outubro 1978,<br />
cols. 447-448.<br />
(10) Apud PE. A. G. RueJO, Teologia da Libertação: Política<br />
ou Profetismo?, Edições Loyola, São Paulo, 1977, p. 135.<br />
(11) Que é fazer Teologia partindo de uma América Latina<br />
em cativeiro?, in "Revista Eclesiástica Brasileira", dezembro<br />
1975, p. 863.<br />
(12) Op. cit. , p. 213.<br />
( 13) Apud MoNS. ALFONSO LOPEZ TRUJILLO, op. cit., p. 31.<br />
(14) Marxismo na Teologia, in "Jornal do Brasil", 6-4-80.<br />
(15) "Movimento", 25-2-80.<br />
( 16) Idem, 3-3-80.<br />
(17) "O Estado de S. Paulo", 17-1-79.<br />
(18) "Movimento", 6-8-79.<br />
162
D. José Maria nes corifeu do<br />
movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, ro ama a prostituição<br />
como um verda eiro -<strong>se</strong>rviço de Deus!<br />
o SEMANÁRIO da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />
Paulo mostra a que extremos pode conduzir a<br />
Teologia da Libertação com sua concepção "messiânica"<br />
da figura do "pobre". Em reportagem sob<br />
o título Um encontro da mulher marginalizada, o<br />
jornal dirigido pelo Bispo Auxiliar D. Angélico<br />
Sândalo Bernardino descreve o trabalho da Dioce<strong>se</strong><br />
de Juazeiro-BA com as prostitutas da cidade.<br />
Diz a reportagem:<br />
"A Escola Senhor do Bonfim tem como objetivo<br />
primeiro de promover as prostitutas, fazendo<br />
com que elas <strong>se</strong> sintam 'gente ', filhas de Deus e<br />
capacitando-as profissionalmente . .... <strong>As</strong> metas de<br />
trabalho junto às mulheres é ajudá-las a descol)rir<br />
<strong>se</strong>us valores, criando uma consciência crítica afim<br />
de que elas percebam toda a exploração de que são<br />
vítimas . .... Como uma <strong>das</strong> metas prioritárias da<br />
mesma [Dioce<strong>se</strong> de Juazeiro] são as Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, <strong>se</strong> fez um levantamento, aproveitando<br />
as visitas, convidando-as para encontros<br />
<strong>se</strong>manais na Escola visando, a longo prazo, a formaçio<br />
de <strong>CEBs</strong> e tardes recreativas".<br />
É por considerá-las "explora<strong>das</strong>", "marginaliza<strong>das</strong>",<br />
portanto "pobres", de acordo com a TL,<br />
que as Comunidades iniciaram <strong>se</strong>u trabalho junto<br />
às mulheres de vida infame. Isto fica mais claro<br />
ainda em outra reportagem do mesmo <strong>se</strong>manário,<br />
relatando <strong>se</strong>melhante trabalho na localidade de<br />
Sobradinho, <strong>se</strong>mpre na Dioce<strong>se</strong> de Juazeiro. <strong>As</strong>sim<br />
o jornal do Cardeal Arns conclui esta <strong>se</strong>gunda<br />
reportagem: "Nes<strong>se</strong> caminho a comunidade de<br />
Sobradinho vem descobrindo que é imenso 'o potencial<br />
evangelizador dos pobres, enquanto estes<br />
interpelam, constantemente [a Igreja], chamando<br />
ª à conversão' (Puebla 1147)".<br />
Ao lado dessa reportagem, o jornal publica<br />
um estudo do Pe. Hugues d'Ans, de Lins, intitulado<br />
"Elas nos precederão no Reino de Deus",<br />
no qual afirma: "Entendemos melhor agora por<br />
que Jesus coloca as prostitutas no primeiro lugar<br />
no Reino de Deus: com efeito, ao contrário<br />
do que <strong>se</strong> pensa geralmente, elas não são 'mulheres<br />
de vida fácil', mas sim pobres (em todos os<br />
<strong>se</strong>ntidos do termo), oprimi<strong>das</strong> e explora<strong>das</strong>". Por<br />
isso ele as apre<strong>se</strong>nta como "o rosto do Cristo<br />
Sofredor, o Senhor que nos questiona e interpela<br />
(Puebla, 31)".<br />
Se as mulheres que exercem a profissão infame<br />
são tão-só "pobres" e não pecadoras públicas, por<br />
que, então, não formar <strong>CEBs</strong> com elas e não as<br />
admitir nas Comunidades já existentes? (1)<br />
(!) Há fortes indlcios de formação de <strong>CEBs</strong> com prostitutas,<br />
ou pelo menos de sua participação ativa nas Comuni-<br />
163
<strong>As</strong> C EBs .. <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> fa la. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
O. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa<br />
Por outro lado, como "pobre-redentor", na<br />
concepção da TL, a mulher pública tem um papel<br />
messiânico, uma missão religiosa.<br />
- De que natureza <strong>se</strong>ria es<strong>se</strong> papel, essa<br />
missão?<br />
D. J ,sé Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa<br />
e corifeu do movimento <strong>das</strong> Comunidades Ecledades,<br />
em diversos outros lugares como por exemplo Lins-SP,<br />
Rio Branco-AC e Tauá (Dioce<strong>se</strong> de Crateús-CE).<br />
siais de Ba<strong>se</strong>, responde a essas perguntas, de modo<br />
a não deixar dúvi<strong>das</strong> sobre até que aberrações<br />
pode levar a aceitação dos pressupostos marxistas<br />
da Teologia da Libertação.<br />
São tão chocantes suas afirmações, que é preciso<br />
ler suas próprias palavras. Numa entrevista a<br />
W. J. Solha, comentando o romance Mutirão para<br />
matar, de um certo Barreto, <strong>se</strong>u amigo, diz o<br />
Arcebispo de João Pessoa: "Há um trecho bom no<br />
livro. É um em que ele conta como uma prostituta<br />
era estimada num lugarejo apesar da profissão. É<br />
que, desde que chegara à cidadezinha, nunca mais<br />
marido nenhum bateu na esposa, buliu com as<br />
moças. Mas vai daí que um belo dia essa m•ilher<br />
morre e tudo volta a <strong>se</strong>r como era . .... Havia então,<br />
no lugar. uma moça de boa família, que estava<br />
prestes a <strong>se</strong>r freira. Tudo parecia caminhar normalmente,<br />
até que ela ... percebeu o drama da sua<br />
comunidade... e colocou-<strong>se</strong> em questão: <strong>se</strong> não<br />
<strong>se</strong>rviria melhor ao Senhor substituindo a meretriz.<br />
Nes<strong>se</strong> impas<strong>se</strong>, abria-<strong>se</strong> com o pai, que <strong>se</strong> limitou a<br />
lhe advertir: 'Minha filha: no convento você está<br />
<strong>se</strong>rvindo a Nosso Senhor e, ao mesmo tempo,<br />
estará num lugar tranqüilo, com suas horas de<br />
sos<strong>se</strong>go. Ali [no prostíbulo], não: você <strong>se</strong>rá o próprio<br />
Cristo!' Ela optou pela prostituição" - conclui<br />
o Arcebispo da Paraíba!<br />
O repórter perguntou <strong>se</strong> o fato era real. D. José<br />
Maria respondeu que não. O fato real, que ele<br />
havia contado ao romancista, era o de uma prostituta<br />
que estava para morrer e foi atendida por<br />
um Bispo. Este insistia em que ela lhe contas<strong>se</strong> "as<br />
boas ações" que tives<strong>se</strong> feito. Afinal a mulher<br />
infame lhe dis<strong>se</strong>: "Não <strong>se</strong>i <strong>se</strong> ... Talvez Jesus consideras<strong>se</strong><br />
... Tenho até vergonha de dizer ... mas em todos<br />
os natais eu ia <strong>se</strong>mpre à prisão e ... dava o meu<br />
corpo ... àqueles prisioneiros que tinham a condenação<br />
maior, àqueles que mais precisas<strong>se</strong>m de mulher ..."<br />
164
Parte li Capítulo li - 2<br />
A Igreja nunca <strong>se</strong> desinteressou do problema da prostituição. Mas ela <strong>se</strong>mpre procurou resolver es<strong>se</strong> problema<br />
tirando a mulher da vida infame, da mi<strong>se</strong>rável condição a que esta <strong>se</strong> tinha deixado arrastar. Seguindo tão nobre<br />
tradição, Santa Maria Eufrásia Pelletier fundou a Congregação do Bom Pastor, cuja finalidade era amparar as<br />
pecadoras arrependi<strong>das</strong> e de<strong>se</strong>josas de mudar de vida, bem como pre<strong>se</strong>rvar des<strong>se</strong> perigo meninas e moças<br />
desampara<strong>das</strong>. A Congregação do Bom Pastor, fundada na França no século passado, difundiu-<strong>se</strong> por todo o mundo.<br />
<strong>As</strong> fotografias apre<strong>se</strong>ntam Santa Maria Eufrásia quando jovem, antes de entrar para o convento, e já no fim da vida:<br />
uma vida austera e operosa, toda consagrada a resolver o problema da impureza em sua forma extremada, a<br />
prostituição . Mais ainda do que o curso do tempo, a tarefa complexa e absorvente fez da jovem rica em formosura de<br />
<strong>se</strong>mblante e de alma, a veneranda anciã dignificada pela fidelidade na sublime vocação.<br />
165
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
O jornalista comentou que o fato real era<br />
<strong>muito</strong> melhor do que o imaginado. D. José Maria<br />
Pires confirmou: "Claro! E tem uma conotação<br />
nova ... e clara ... do verdadeiro <strong>se</strong>ntido do <strong>se</strong>rviço<br />
de Deus!"<br />
Nesta declaração cumpre ressaltar dois pontos.<br />
Primeiro, que o Arcebispo de João Pessoa, ao<br />
qualificar de "bom" es<strong>se</strong> trecho do romance, admite,<br />
com o suposto pai de família, que uma jovem<br />
"no convento está <strong>se</strong>rvindo a Nosso Senhor", porém<br />
no prostíbulo "<strong>se</strong>rá o próprio Cristo". Segundo,<br />
ele afirma de modo inequívoco, que a prostituição<br />
"tem uma conotação nova ... e clara ... do<br />
verdadeiro <strong>se</strong>ntido do <strong>se</strong>rviço de Deus".<br />
Ou <strong>se</strong>ja, que a prostituição, ou pelo menos<br />
certa forma de prostituição, constitui um verdadeiro<br />
"<strong>se</strong>rviço de Deus". Vale dizer, é sagrada.<br />
Nessa perspectiva <strong>se</strong> entendem as palavras de<br />
uma freira que trabalha com prostitutas, relata<strong>das</strong><br />
por Frei Clodovis Boff em <strong>se</strong>u livro sobre as <strong>CEBs</strong><br />
do Acre: "<strong>As</strong> prostitutas me trouxeram muita<br />
riqueza religiosa e humana. Muitas são exemplo<br />
para mim. Vivem até melhor que eu, que sou<br />
religiosa. . . .. Tem uma que <strong>se</strong>mpre reza o credo<br />
antes de dormir com homem".<br />
Palavras escandalosas, máxime nos lábios de<br />
uma Esposa de Cristo, mas que faz <strong>se</strong>ntido com a<br />
concepção religiosa da prostituição, proclamada<br />
pelo Arcebispo da Paraíba, parecendo conferir um caráter<br />
oblativo ao próprio ato pecaminoso: "Tem uma<br />
que <strong>se</strong>mpre reza o credo antes de dormir com homem''.<br />
Não é de estranhar, assim, o slogan ostentado<br />
por um grupo de prostitutas, que participaram de<br />
uma celebração litúrgica presidida pelo Bispo Prelado<br />
de Acre e Purus, D. Moacir Grechi, no encerramento<br />
de um curso de Teologia ministrado por<br />
Frei Clodovis Boff a Padres, freiras, agentes pastorais<br />
e líderes de <strong>CEBs</strong>: "Últimas na Sociedade e<br />
primeiras no Reino".<br />
Referências: T EóF ILO CELSO DA SILVA, Relatório de uma visita<br />
às cidades de Uns. Mirandóp olis e A raçatuba-SP, São Paulo,<br />
1981 , p. 1, oolicopiado; PE. HUGUES DºA NS E IOLANDA TOSHI E<br />
ID E, <strong>As</strong> prostitu/as vos precederão no Reino de Deus, in "Vida<br />
Pastoral", maio-junho 1981, PP- 7-12; P E. H uGUES D'ANS, Elas<br />
nos precederão no Reino de Deus, in "O São Paulo", 19-6-8 1,<br />
p. 4; Pastoral em vez de violência, idem, ibidem; Um encontro<br />
da mulher marginalizada, idem, 22-1-82, p . 5; Dom José -<br />
diálogo com W. J. Solha, "Correio da Paraíba", 18-7-78, 5.•<br />
página; FREI Cwoov1s BoFF OSM, Deus e o homem no inferno<br />
verde - Quatro me<strong>se</strong>s de convivência com as <strong>CEBs</strong> do A cre,<br />
Vozes, Petrópolis, 1980, p. 117; IDEM, A Igreja, o Poder e o<br />
Povo (Relatório de um Curso de Teologia), in "Revista Eclesiás<br />
tica Brasileira", março 1980, p. 47.<br />
( ______ P_astoral<br />
AS PROSTITUTAS VOS PRECEDERÃO<br />
NO REINO, DE DEUS<br />
J<br />
Página<br />
Pe. Hugues d'Ans e<br />
lolanda Toshie Ide<br />
de "Vida<br />
Pastoral", revista<br />
distríbulda gratuitamente<br />
aos agentes<br />
pastorais, contendo<br />
o artigo do<br />
Pe. H. d'Ans e sua<br />
colaboradora.<br />
A/g im., exclam arão : ··1;11,to provocador.'"<br />
Pois 11àc,; porem a_ ~!"~_j~-Mt 21.31. Q diw<br />
de Jesus e ain<br />
irn1gçào~11<br />
1-er ade". T en1Qí_/illlli]J.'.11LfilWL prouess~u J!Ur·<br />
9:J _.J).fO.~titu~~ão,_ ,_ó _quy --ª·" ~aclalr na,_ I 1c m<br />
'c:9m -2 irrfima p a.r~.L .?em.1m.: .. iil:i.uficien_t
Parte li<br />
Imagem Peregrina<br />
de Nossa Senhora<br />
de Fétima que chorou<br />
em Nova Orleans<br />
(Estados Unidos).<br />
em julho de<br />
1972. A fotografia<br />
foi tirada pelo Pe.<br />
Romagosa durante<br />
a extraordinária<br />
lacrimação. O misterioso<br />
pranto mostra<br />
a Virgem a chorar<br />
sobre o mundo<br />
contemporâneo.<br />
como outrora Nosso<br />
Senhor chorou<br />
sobre Jerusalém.<br />
Lágrimas de dor<br />
profunda. na previsão<br />
do castigo que<br />
virá. Em que medida<br />
as aberrações<br />
que circulam nos<br />
ambientes <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> contribuíram<br />
para este pranto 7
170<br />
• Lançamento oficial do Movimento do Custo de Vida<br />
- um dos "braços pollticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> - em 1978.<br />
no Colégio Arquidiocesano de São Paulo.
Manipular palavras e conceitos, para<br />
justificar esbulhos e violências<br />
OS AGENTES pastorais que atuam no campo<br />
aplicam o rótulo de "pos<strong>se</strong>iro" a todo homem<br />
do campo ligado às <strong>CEBs</strong> rurais, que esteja<br />
em conflito com donos de terras, companhias<br />
agropecuárias ou colonizadoras, órgãos públicos<br />
etc.<br />
Ora, pos<strong>se</strong>iro é categoria juridicamente definida<br />
em nossa complexíssima legislação agrária,<br />
com direitos e deveres definidos e fixados. Ao<br />
darem tal qualificaiivo a todo e qualquer lavrador<br />
em litígio, as <strong>CEBs</strong> estão muitas vezes cobrindo<br />
com o manto protetor da Lei não só os verdadeiros<br />
pos<strong>se</strong>iros, mas também os simples invasores<br />
de terras. Estes, <strong>se</strong> estão de boa-fé, merecem por<br />
certo a compreensão tanto dos proprietários rurais,<br />
como <strong>das</strong> autoridades. Mas nem por isso<br />
deixam de <strong>se</strong>r invasores, nem adquirem direitos.<br />
Quanto aos invasores de má-fé, estes sujeitam-<strong>se</strong><br />
às penas que a Lei prevê para o crime de esbulho<br />
pos<strong>se</strong>ssório: não passam de esbulhadores, portanto.<br />
É fácil ver como os agentes pastorais, líderes e<br />
monitores de <strong>CEBs</strong>, por meio da conscientização,<br />
con<strong>se</strong>guem fazer crer àquelas pessoas simples que<br />
elas são de fato pos<strong>se</strong>iros (detentores, portanto, de<br />
certos direitos), quando na realidade, muitas vezes,<br />
nem elas próprias <strong>sabe</strong>m qual é sua verdadeira<br />
situação legal; em casos não raros <strong>sabe</strong>m <strong>muito</strong><br />
bem que esta é insustentável. ..<br />
Para colorir a situação, os agentes pastorais<br />
criaram uma nova figura, a do "migrante". A esta<br />
figura, justapõem outra - também de recente<br />
lançamento - que a completa e qua<strong>se</strong> a define: a<br />
do "carente". A partir delas, fixam como única<br />
norma do direito de propriedade, ou antes, do uso<br />
e pos<strong>se</strong> da terra, a necessidade, ou - como dizem<br />
documentos de <strong>CEBs</strong> rurais e urbanas -<br />
a "precisão".<br />
Estabelece-<strong>se</strong>, então, a <strong>se</strong>guinte relação:<br />
migrante = carente = pos<strong>se</strong>iro. Ou <strong>se</strong>ja: todo o<br />
migrante, por essa simples razão, é um carente;<br />
<strong>se</strong>ndo a precisão o único título legítimo para a<br />
pos<strong>se</strong> da terra, todo o carente <strong>se</strong> transforma desde<br />
logo em pos<strong>se</strong>iro.<br />
Inversamente, todo aquele que detém a propriedade<br />
da terra, mas não a cultiva diretamente,<br />
ou não vive exclusivamente dela, é considerado<br />
usurpador, ainda quando <strong>se</strong>ja comprovadamente<br />
·o proprietário legítimo. <strong>As</strong>sim, recebem os rótulos<br />
pejorativos de "grileiro", "tubarão" e outros; e <strong>se</strong>us<br />
empregados são <strong>se</strong>mpre rotulados de "jagunços",<br />
"pistoleiros", "capangas".<br />
É exatamente o que fazem os autores de um<br />
Estudo da CN BB, tendenciosamente intitulado<br />
Pastoral da Terra: pos<strong>se</strong> e conflitos, realizado sob<br />
171
MIGRANT<br />
1<br />
hllt r T<br />
OI\,<br />
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1<br />
- )<br />
Uma nova figura começa a <strong>se</strong>r introduzida pelos agentes<br />
pastorais nos conflitos de terras:. a do "migrante". -<br />
Cartaz do Centro de Estudos Migratórios (São Paulo) e<br />
Centro Pastoral dos Migrantes (Dioce<strong>se</strong> de Santo André).<br />
responsa bilidade da Comissão Episcopal de Pastoral,<br />
à qual, precisamente, estava subordinada a<br />
Comissão Pastoral da Terra. Ao apre<strong>se</strong>ntar o<br />
quadro dos conflitos de terras na Amazônia Legal,<br />
o referido Estudo inverte completamente as posições,<br />
qualificando de "invasor" da "terra dos<br />
pos<strong>se</strong>iros", os proprietários e os empresários, tanto<br />
quanto os chamados "grileiros" (indivíduos que<br />
procuram apossar-<strong>se</strong> de terra alheia mediante falsos<br />
títulos de propriedade e outros recursos desonestos).<br />
Ou <strong>se</strong>ja, transforma o proprietário e o empresário<br />
em esbulhador, sujeito às penas da Lei!<br />
Feita essa subversão de conceitos, o caminho<br />
fica aberto para toda espécie de violências: nem<br />
tudo o que é legal ( o título de propriedade) é legítimo,<br />
proclamam os agentes pastorais e líderes de<br />
<strong>CEBs</strong>.<br />
Já <strong>se</strong> vê que estão aqui atingidos não somente<br />
os proprietários rurais supergrandes ( em gerai<br />
empresas agropecuárias) e os <strong>muito</strong> grandes, mas<br />
também os grandes, médios e até pequenos fazendeiros,<br />
pois <strong>se</strong>melhante visualização contesta o<br />
próprio direito de propriedade e a legitimidade de<br />
outros títulos que não o trabalho e a "precisão".<br />
Não é de admirar, pois, que <strong>se</strong> chegue a aberrações<br />
como as chama<strong>das</strong> "operações pega-fazendeiro"<br />
e os "mutirões contra a jagunçada", narra<strong>das</strong><br />
adiante.<br />
Essa completa subversão da ordem jurídica<br />
traz como con<strong>se</strong>qüência lógica o questionamento<br />
<strong>das</strong> decisões judiciais em favor do proprietário e a<br />
resistência à ação da Polícia, encarregada de fazer<br />
cumprir tais decisões. Daí o desprestígio sistemático<br />
do Poder Judiciário e da Polída, apre<strong>se</strong>ntados<br />
<strong>se</strong>mpre como aliados dos "grileiros". O que só<br />
agrava os conflitos de terras.<br />
Característica nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido é a <strong>se</strong>guinte passagem<br />
cto relatório de uma CEB rural do Maranhão:<br />
"Lá os grileiros destruíram umas roças, nós<br />
procuramos a Secretaria de Segurança, mas nada<br />
ela fez. Os grileiros continuaram destruindo as<br />
roças. Quando a polícia veio foi p ra prender alguns<br />
de nós. A polícia e os juízes estão <strong>se</strong>mpre ao<br />
lado dos grileiros. Nas reunião a gente reflete tudo<br />
isto. Os pos<strong>se</strong>iros não tem escrituras <strong>das</strong> terras. Os<br />
grileiros jogaram capangas dentro de nossas terras<br />
172
Parte li<br />
Capitulo li! -<br />
I<br />
e devoraram nossas roças. Os pos<strong>se</strong>iros procuraram<br />
os <strong>se</strong>us direitos, nós recebemos apoio do<br />
Sindicato e da CPT (Comissão Pastoral da Terra).<br />
<strong>As</strong> autoridades nada faziam. Então nós resolvemos<br />
derrubar as cercas que os grileiros tinham<br />
feito. Agora eles estão fazendo prisões, mas o pessoal<br />
está unido. O juiz lá manda a polícia prender<br />
os pos<strong>se</strong>iros e defender os grileiros".<br />
Sintomática também a <strong>se</strong>guinte instrução contida<br />
em um folheto do Centro de Defesa dos Direitos<br />
Humanos do Regional Nordeste II da CNBB,<br />
apre<strong>se</strong>ntado por D. Helder Câmara: "Quer dizer,<br />
procurar o Juiz é um caminho certo e legal. Acontece<br />
que nestas áreas de pos<strong>se</strong>iros existe muita<br />
dificuldade de encontrar o Juiz. Não é só encontrar<br />
qualquer juiz. É preciso que o Juiz <strong>se</strong>ja uma<br />
pessoa livre para julgar, que esteja do lado dos<br />
trabalhadores".<br />
- Justiça de clas<strong>se</strong>?<br />
Fica aqui lançada a suspeição sobre a integridade<br />
dos juízes de um modo geral: o magistrado<br />
que não estiver "do lado dos trabalhadores" não é<br />
"uma pessoa livre para julgar".<br />
Encontra-<strong>se</strong> com freqüência em documentos<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> ou a elas destinados a acusação velada<br />
ou explícita de parcialidade sistemática da Justiça<br />
e da Polícia. Nas conclusões finais do 2. 0 Encontro<br />
Nacional de Comunidades de Ba<strong>se</strong> (Vitória, 1976),<br />
está afirmado: "Os grandes (latifundiários e até<br />
órgãos governamentais, como FUNAI, CODE<br />
V ALE) procuram expulsar os pos<strong>se</strong>iros e pequenos<br />
proprietários para <strong>se</strong> apoderarem de suas<br />
A pressão do clero esquerdista sobre o Judiciário foi particularmente intensa por ocasião do julgamento dos Padres<br />
Camio e Gouriou. Por toda a parte realizaram-<strong>se</strong> atos de solidariedade aos sacerdotes france<strong>se</strong>s. - Na Catedral de<br />
São Paulo, o Cardeal Arns presidiu uma concelebração com <strong>se</strong>us Bispos Auxiliares e numerosos Padres.<br />
,__,.,,,, 1<br />
.-.r---1<br />
----<br />
1<br />
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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
terras. .... Nessa luta os grandes têm <strong>se</strong>mpre o<br />
apoio <strong>das</strong> autoridades e da polícia, ~ os pobres<br />
nada valem, nem têm direito a nada. São tratados<br />
pior que cachorro".<br />
Já o "Boletim da Comissão Pastoral da Terra"<br />
enfatiza: "Os ricos que <strong>se</strong>mpre querem mais terra,<br />
como querem <strong>se</strong>mpre mais dinheiro, fazem todo<br />
tipo de pressão, de ameaça, de violência direta,<br />
muitas vezes até matam, ou mandam matar ... E<br />
estão <strong>se</strong>mpre soltos, inocentados, livres e protegidos.<br />
O dia, porém, que os índios, pos<strong>se</strong>iros ou<br />
outros lavradores cansam e veem que é inútil apelar<br />
por justiça, - pois nada e ninguém acode e<br />
defende de fato <strong>se</strong>u direito -, e passam a REA <br />
GIR, enfrentando direto e igual <strong>se</strong>us agressores, -<br />
às vezes e em último caso até f erindo ou matando<br />
<strong>se</strong>us concorrentes violentos, não poucas vezes<br />
acompanhados de soldados da polícia -, aí sim a<br />
autoridade aparece já e pronta para dominar os<br />
revoltosos, prender os violentos assassinos, desarmar<br />
todo mundo (menos os agressores), castigar ..."<br />
Se o Juiz e o Delegado "estão <strong>se</strong>mpr:e do lado<br />
dos grileiros", que resta fazer?<br />
* * *<br />
1<br />
É evidente que não <strong>se</strong> pretende negar aqui os t<br />
abusos, injustiças e até violências pratica<strong>das</strong> por u<br />
1<br />
grileiros, proprietários ou mesmo autoridades, "'<br />
~<br />
·~<br />
"' o<br />
e.<br />
Referências: CNBB - COMI SSÃO E PISCOPAL DE P ASTORAL, Pastorai<br />
da Terra-2: pos<strong>se</strong> e conflitos, Estudos da CNBB-13, Edi- -~<br />
ções Paulinas, São Paulo, 1976, pp. 232 ss.; CNBB - NoRD ES- "'<br />
TE li, R
Comissão Pastoral da Terra:<br />
"Somos a Igreja no meio rural, organizada em<br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>"<br />
Fundação e estrutura da CPT<br />
O principal agente de organização, conscientização<br />
e mobilização do trabalhador rural, por<br />
meio <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, é a Comissão<br />
Pastoral da Terra - CPT.<br />
Em 1975 a Conferência Nacional dos Bispos do<br />
Brasil e a Pontifícia Comissão de Justiça e Paz<br />
(Secção brasileira) patrocinaram um encontro em<br />
Goiânia, do qual resultou a criação de um organismo<br />
oficioso do Episcopado, especialmente destinado<br />
a tratar dos assuntos relacionados com a<br />
propriedade, pos<strong>se</strong> e uso da terra: a Comissão<br />
Pastoral da Terra - CPT, ligada à CNBB por<br />
intermédio da Comissão Episcopal de Pastoral.<br />
Seus objetivos declarados são:<br />
a) Promover o "processo global de Reforma<br />
Agrária do nosso País";<br />
b) Promover a sindicalização rural;<br />
c) "Organizar uma as<strong>se</strong>ssoria jurídica para tudo<br />
o que <strong>se</strong> refere aos problemas da terra e dos<br />
trabalhadores rurais";<br />
d) "Promover campanhas de conscientização<br />
para os trabalhadores rurais e agentes de pastoral";<br />
e) Promover a instituição de uma Justiça A-<br />
grária.<br />
A CPT está organizada em nível nacional, sob<br />
a presidência e a vice-presidência de membros do<br />
Episcopado (pre<strong>se</strong>ntemente, D. Moacir Grechi,<br />
Prelado do Acre e Purus e D. Pedro Casaldáliga,<br />
Prelado de São Félix do Araguaia-MT); em nível<br />
regional, sob a responsabilidade dos Secretariados<br />
Regionais da CNBB; em nível de dioce<strong>se</strong>s e prelazias<br />
e, por fim , em nível paroquial e até de Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>.<br />
Uma vasta r·ede, como <strong>se</strong> vê.<br />
Integram a CPT, em <strong>se</strong>us vários níveis, Bispos,<br />
Padres, freiras, agentes pastorais leigos de ambos<br />
os <strong>se</strong>xos, as<strong>se</strong>ssores (advogados, agrônomos, sociólogos,<br />
antropólogos, economistas) e, também,<br />
lavradores. Estes - <strong>se</strong>gundo D. Moacir Grechi,<br />
presidente da entidade - são qua<strong>se</strong> todos membros<br />
e até mesmo monitores ou coordenadores de<br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Aliás, a própria<br />
Comissão Pastoral da Terra <strong>se</strong> autodefiniu em sua<br />
2.ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Nacional: "Somos a Igreja no meio<br />
rural, organizada na forma de Comunidades Cristãs<br />
de Ba<strong>se</strong>, onde brotam os grupos da CPT".<br />
São, portanto, as <strong>CEBs</strong> que fornecem à Comissão<br />
Pastoral da Terra os elementos de ba<strong>se</strong>, por<br />
meio dos <strong>quais</strong> o trabalho da CPT atinge os mais<br />
remotos rincões do mundo rural brasileiro. Por<br />
outro lado, a CPT - como organismo eclesiás-<br />
175
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
trabalha e vive; .... 3 - No direito do trabalhador<br />
rural que não tem terra, inclusive dos que foram<br />
expulsos da terra, de tomar pos<strong>se</strong> de áreas produtivas<br />
não cultiva<strong>das</strong> dos grandes latifúndios e <strong>das</strong><br />
terras públicas . .... Apelamos a to<strong>das</strong> as mulheres<br />
do meio rural, para que participem <strong>das</strong> organizações<br />
de ba<strong>se</strong> e <strong>das</strong> lutas pela terra, pondo fim ao<br />
machismo e à opressão dentro <strong>das</strong> próprias famílias".<br />
Se "a terra é de quem nela trabalha e vive",<br />
então o proprietário que não cultiva sua gleba com<br />
"Não existe uma entidade como a Igreja que vá à ba<strong>se</strong><br />
para o trabalho, pega o homem realmente onde ele está,<br />
nos bairros, na roça, no interior da Amazônia ... " (D. Angélico<br />
S. Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo).<br />
\<br />
D. M oacir Grechi, Bispo do Acre e Purus, um dos<br />
principais mentores do movimento <strong>das</strong> Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> e presidente nacional da CPT - Comissão Pastoral<br />
da Terra.<br />
tico ligado à CNBB - dá cobertura a toda a<br />
agitação promovida nos campos pelos agentes<br />
pastorais e membros <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>,<br />
estendendo sobre eles o manto protetor da invulnerabilidade<br />
de que goza ela própria.<br />
Programa da CPT: "A terra<br />
ê de quem nela trabalha"<br />
Quanto ao programa difundido pela CPT,<br />
basta co n:siderar algumas <strong>das</strong> conclusões da referida<br />
2. ª <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Nacional: "Companheiros e<br />
Companheiras, .. .. decidimos apoiar os trabalhadores<br />
.... 1 - Na luta pela Reforma Agrária,<br />
porque acreditamos que a terra é de quem nela<br />
176
Parte li<br />
as próprias mãos e nela não vive, não é mais que<br />
um usurpador. E a terra, roubada, deve <strong>se</strong>r "libertada".<br />
É o que proclama em editorial o boletim<br />
da CPT:<br />
"Essa é a nossa 'páscoa camponesa': A LUTA<br />
PARA LIBERTAR A TERRA! .... A terra, livre<br />
<strong>das</strong> cercas e da ganância dos ricos".<br />
E o Calendário do Lavrador para 1979, publicado<br />
pela mesma CPT, é categórico: "<strong>As</strong> cercas<br />
roubaram a terra dos homens . .. .. Quando amanhecerá<br />
o derradeiro dia de to<strong>das</strong> as cercas?"<br />
É por isso que elas são considera<strong>das</strong> "malditas":<br />
- "Malditas <strong>se</strong>jam<br />
to<strong>das</strong> as cercas!<br />
Malditas to<strong>das</strong> as<br />
propriedades priva<strong>das</strong>!"<br />
Eis aí, resumido em quatro versos de D. Pedro<br />
Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia e<br />
vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra,<br />
todo o programa que inspira a agitação rural<br />
levada a efeito pelos agentes pastorais e militantes<br />
de <strong>CEBs</strong> por todo o País.<br />
Referências: CNBB, Pastoral da terra, Estudos da CNBB-11 ,<br />
Edições Paulinas, Sã o Paulo, 1976, p. 24; CNBB, Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no Brasil, Estudos da CNBB-23,<br />
Edições Paulinas, São Paulo, 1979, p. 50; CPT, Calendário do<br />
La vrador-1979; FR EI BETo, O que é Comunidade Eclesial de<br />
Ba<strong>se</strong>. Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1981 , p. 26; D . P ED RO CASALDA<br />
LI GA, Tierra nuestra, libertad, apud PUNIO CoRR~A DE OLI VE IR A,<br />
A Igreja ante a escalada da ameaça comunista - Apelo aos<br />
Bispos silenciosos, Editora Ve ra C ruz, São Pa ulo, 1976, p. 13;<br />
"O Sã o Pa ulo", 29-4-80 e 5-10-79; "SEDOC", maio 1978, cols.<br />
1009-1011 ; D1R CE CAR VA LH O, Pastoral da Terra em def esa do<br />
trabalhador rural, in "Família Cristã", maio de 1980, p. 5; "Boletim<br />
da Comissão Pastora l da Terra", novembro-dezembro<br />
1977, p. 3 e ma rço-a bril 1979, pp. 1-2; "Diá rio de Perna m<br />
buco", 5-1 -79.<br />
"Malditas to<strong>das</strong> as cercas! Manditas to<strong>das</strong> as propriedades<br />
priva<strong>das</strong>!" - proclama o Bispo de São Félix do<br />
Araguaia e vice-presidente nacional da CPT, D . Pedro<br />
Casaldáliga.<br />
'·<br />
A CPT prega a violência<br />
em prosa e verso<br />
"Tem havido muita luta,<br />
<strong>muito</strong> sangue derramado,<br />
ou <strong>se</strong> entra na peleja<br />
ou o terreno é tomado,<br />
ou os pos<strong>se</strong>iros arrisca a vida,<br />
ou perde todo bocado."<br />
("Boletim da Comissão Pastoral da Terra"<br />
julho-agosto 1977, p. 9).<br />
'<br />
177
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descr.eve como são<br />
"Romaria da Terra" no Rio Grande do Sul:<br />
11Alto lál esta terra tem donor 1<br />
D. MOACIR Grechi, Bispo-Prelado do<br />
Acre e Purus e presidente nacional da Comissão<br />
Pastoral da Terra, liderou em fevereiro de 1980<br />
a terceira "Romaria da Terra", realizada na<br />
localidade de Tiaraju, a 12 quilômetros de São<br />
Gabriel, no Rio Grande do Sul.<br />
A escolha da localidade não foi obra do<br />
acaso: ali morreu o índio Sepé Tiaraju, o "São<br />
Sepé", na luta contra os povoadores brancos,<br />
no século XVIII...<br />
Outro não foi o tema dessa singular "romaria":<br />
durante todo o dia os oradores <strong>se</strong> sucederam<br />
na "Tribuna do Povo" manifestando sua<br />
disposição de "lutar pela terra que nos está <strong>se</strong>ndo<br />
roubada pelos grandes latifundiários" .. .<br />
D. Moacir quis, com sua pre<strong>se</strong>nça, reanimar<br />
essa luta.<br />
Fez-<strong>se</strong> a Via-Sacra.<br />
- Via-Sacra?<br />
De fato houve uma caminhada transportando<br />
uma cruz, com para<strong>das</strong> regulares para meditação<br />
("estações"). Nada porém de contemplar<br />
a Verônica enxugando o rosto do Salvador, o<br />
Cirineu ajudando-O a carregar a Cruz; menos<br />
ainda o encontro de Maria Santíssima com <strong>se</strong>u<br />
Divino Filho. .<br />
"Cada 'estação' da Via-Sacra - relata um<br />
matutino gaúcho - é dedicada a um dos temas<br />
atuais. <strong>As</strong>sim êxodo, a falha assistência médica,<br />
a exploração nos preços, o peleguismo nos<br />
sindicatos" ...<br />
Os cantos eram igualmente "piedosos": "Nós<br />
vamos lutar / a terra nossa ocupar / a terra vai<br />
pra quem trabalhar / a história não falha / nós<br />
vamos ganhar. / Já chega de tanto esperar / já<br />
chega de tanto sofrer / a luta vai <strong>se</strong>r tão difícil /<br />
na lei ou na marra / nós vamos ganhar. / Se a<br />
gente morrer nessa luta, / o sangue <strong>se</strong>rá <strong>se</strong>mente<br />
/ a história não falha / nós vamos ganhar ".<br />
"Na lei ou na marra", "<strong>se</strong> a gente morrer<br />
nessa luta", "o sangue <strong>se</strong>rá <strong>se</strong>mente" ... Versos<br />
que dão o que pensar, sobretudo quando cantados<br />
no local onde houve luta pela terra, há<br />
duze ntos anos, entre índios e brancos ...<br />
Mas não foi só:<br />
D. Moacir Grechi sugeriu que a fra<strong>se</strong>: "Alto<br />
lá , esta terra tem dono", atribuída ·ao líder<br />
guarani, <strong>se</strong>rvis<strong>se</strong> de slogan para todos os que <strong>se</strong><br />
áefrontam com os "novos in vasores".<br />
Já <strong>se</strong> viu quem são os "invasores", <strong>se</strong>gundo<br />
estudo da CNBB, prefaciado pelo mesmo D .<br />
Moacir Grechi, e como a CPT considera "dono"<br />
da terra apenas "aquele que nela trabalha e<br />
nela vive".<br />
"Alto 'lá, srs. proprietários! esta terra tem<br />
dono!" Es<strong>se</strong> parece <strong>se</strong>r o brado de guerra<br />
sugerido pelo Prelado aos "pos<strong>se</strong>iros" de todo<br />
o País contra os detentores dos títulos de<br />
propriedade.<br />
Referências: " Folha da Manhã", Porto Alegre. 21-2-80;<br />
"Jorn al do Brasil", 27-2-80.<br />
178
VIOL~NCIA NO CAMPO -<br />
l<br />
A LAGAMAR, na Paraíba, oferece um exemplo<br />
característico do modo de atuar <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> em conflitos de terras, para criar<br />
"área de tensão social", com vistas à desapropriação.<br />
Um exemplo "quente" da atuação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
Em conferência pronunciada no Teatro da<br />
Universidade Católica, no dia 29 de fevereiro de<br />
1980, D. José Maiia Pires, ao tratar <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, a certa altura diz o <strong>se</strong>guinte: "Eu<br />
gostaria, <strong>se</strong> houves<strong>se</strong> tempo, de apre<strong>se</strong>ntar, agora,<br />
um exemplo que esquentas<strong>se</strong> um <strong>pouco</strong> mais.<br />
Seria a situação de algumas comunidades, especialmente<br />
da comunidade de Alagamar".<br />
O próprio D. José Maria Pires e <strong>se</strong>u então<br />
Bispo Auxiliar, D. Marcelo Carvalheira (ambos<br />
corifeus nacionais do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>), haviam apre<strong>se</strong>ntado es<strong>se</strong><br />
exemplo "quente" como modelo para as <strong>CEBs</strong> da<br />
Arquidioce<strong>se</strong> de João Pessoa, em Carta Pastoral<br />
de 12 de fevereiro de 1978, a qual mandam que <strong>se</strong>ja<br />
lida "na primeira reunião <strong>das</strong> Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> e dos Grupos de Reflexão".<br />
Em poucas palavras, o "caso Alagamar" pode<br />
resumir-<strong>se</strong> no <strong>se</strong>guinte: cerca de 450 famílias de<br />
lavradores viviam nas terras do Sr. Arnaldo Maroja,<br />
pagando-lhe "foros" (espécie de aluguel anual<br />
pelo uso da terra). Em novembro de 1975 es<strong>se</strong><br />
proprietário morreu <strong>se</strong>m herdeiros necessários.<br />
Deixou, entretanto, estabelecido em testamento<br />
que suas terras (cerca de 13 mil hectares) fos<strong>se</strong>m<br />
vendi<strong>das</strong> e a importância apurada, distribuída<br />
entre as 42 pessoas ali designa<strong>das</strong>.<br />
Os agentes pastorais criam o caso<br />
Interferindo na questão, os agentes de pastoral<br />
que atuavam na região fizeram pressão para que o<br />
governo adquiris<strong>se</strong> as terras e implantas<strong>se</strong> nelas<br />
um núcleo de colonização e Reforma Agrária. Tal<br />
não <strong>se</strong> deu e as terras foram vendi<strong>das</strong> a dez pessoas<br />
diferentes. Quando os novos proprietários<br />
qui<strong>se</strong>ram fazer uso delas, plantando cana e criando<br />
gado, começaram os conflitos.<br />
"Foi então que o povo de Alagamar tomou<br />
contato com o movimento de Não-Violência. A<br />
prendeu a <strong>se</strong> unir e <strong>se</strong> organizar em torno de <strong>se</strong>us<br />
direitos" - comenta "O São Paulo", <strong>se</strong>manário da<br />
Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo.<br />
Além de entrar em contato com o movimento<br />
"Não-Violência" (ou <strong>se</strong>ja com o próprio D. José<br />
M. Pires, que é um de <strong>se</strong>us dirigentes), o pessoal de<br />
179
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Alagamar passou a receber orientação também do<br />
Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidioce<strong>se</strong><br />
da Paraíba. Como <strong>se</strong> recorda, es<strong>se</strong> Centro<br />
foi organizado e era dirigido, desde fins de<br />
1977, por Vanderlei Caixe, <strong>se</strong>ntenciado como terrorista<br />
(ver quadro).<br />
Não cabe aqui entrar no mérito da pendência<br />
entre os lavradores de Alagamar e os novos proprietários<br />
<strong>das</strong> terras. Mas mesmo abstraindo do<br />
mérito de tal questão, não é difícil perceber, pela<br />
<strong>se</strong>qüência dos fatos e dos pronunciamentos, que o<br />
Arcebispo, diretamente ou através dos agentes<br />
pastorais e <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />
tenha enxertado um <strong>se</strong>ntido subversivo na ação<br />
em favor dos ocupantes de Alagamar.<br />
Destruir as cercas, arrancar a<br />
cana, prender o gado dos<br />
proprietãrios: alguns exemplos<br />
de "ação não-violenta" ...<br />
Na citada Carta Pastoral escrevem D. José<br />
Maria Pires e D. Marcelo Carvalheira: "Quando<br />
começaram as dificuldades, [os agricultores] <strong>se</strong>mpre<br />
procuraram <strong>se</strong>us órgãos de clas<strong>se</strong>, a <strong>sabe</strong>r, o<br />
Sindicato e a Federação. Nunca recorreram à violência.<br />
Procuraram agir dentro da lei e buscaram<br />
contato com as autoridades".<br />
Contraditoriamente, acrescentam logo em <strong>se</strong>guida:<br />
"Arrancaram as cercas que foram feitas em<br />
suas pos<strong>se</strong>s. Tangeram e prenderam o gado solto<br />
que devorava suas plantações. Reuniram-<strong>se</strong> em<br />
grande número (cerca de 300) para arrancar a cana<br />
plantada indevidamente. Deram toda assistência<br />
possível aos oito companheiros que foram presos<br />
por ordem judicial ou detidos por ordem da<br />
Segurança Nacional".<br />
Se arrancar cercas, tanger e prender gado dos<br />
Em A lagamar, os<br />
agentes pastorais<br />
procuraram, por<br />
meio <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
criar um "foco de<br />
tensão social" a<br />
fim de forçar o Governo<br />
a desapropriar<br />
as terras. Entre<br />
es<strong>se</strong>s agentes<br />
pastorais estavam<br />
duas freiras holandesas,<br />
a Irmã Mar<br />
Iene e a Irmã Tony.<br />
. ~ !. :_; /.':,<br />
Prin<br />
proprietários, arrancar a cana plantada pelos donos<br />
da terra não constituem objetivamente, medi<strong>das</strong><br />
violentas, então as palavras já não têm <strong>se</strong>ntido.<br />
Convém insistir num ponto: o Arcebispo de<br />
João Pessoa e <strong>se</strong>u Bispo Auxiliar mandam que o<br />
documento em que narram tais atitudes <strong>se</strong>ja lido<br />
"na primeira reunião <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e<br />
dos Grupos de Reflexão". Isso não equivale a dar<br />
uma diretriz a tais Comunidades e grupos para que<br />
procedam da mesma forma quando <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntar<br />
o caso?<br />
Quem é o agressor: o dono<br />
da terra que planta a cana, ou<br />
aquele que a arranca?<br />
D. José Maria Pires e D. Marcelo perguntam<br />
a <strong>se</strong>guir: "Quem tem mais direito de ficar com<br />
aquelas terras? <strong>As</strong> 446 famílias (700 <strong>se</strong>gundo outros)<br />
que ali moram e trabalham, ou uma dúzia de<br />
pessoas abasta<strong>das</strong> que residem confortavelmente<br />
em Pernambuco?"<br />
É o caso de perguntar <strong>se</strong> o direito de pro-<br />
180
Capítulo Ili - 3<br />
Levar a opção pelos oprimidos a<br />
con<strong>se</strong>qüências "mais pesa<strong>das</strong>" ...<br />
:,e as-corpus<br />
.<br />
I<br />
l<br />
<strong>As</strong> lrma.s Marlene e l onnv. deti<strong>das</strong> e 1mped1dJs de nrculd1<br />
priedade depende da "abastança" ou do "conforto"<br />
de alguém, ou <strong>se</strong> é um direito natural, as<strong>se</strong>gurado<br />
pela legislação dos paí<strong>se</strong>s não-comunistas.<br />
"Quem é o agressor?" - continuam os Bispos.<br />
"Os compradores que trazem gado de fora e o<br />
soltam nas terras ou os lavradores que tangem e<br />
prendem o gado para que não estrague suas lavouras?<br />
Quem é o agressor? O comprador que planta<br />
cana nas pos<strong>se</strong>s dos moradores ou os que arrancam<br />
a cana para defenderem a sua pos<strong>se</strong>?"<br />
Note-<strong>se</strong> que os Bispos não acusam os fazendeiros<br />
de <strong>se</strong> ttrem apossado por meios ilícitos ou<br />
fraudulentos da propriedade em questão. Pura e<br />
simplesmente negam que <strong>se</strong>ja legítimo o direito<br />
que adquiriram sobre ela, tratando-os como agressores<br />
por quererem plantar ou criar gado numa<br />
terra que compraram, e dando razão àqueles que<br />
prendem es<strong>se</strong> gado e arrancam suas plantações:<br />
"E, <strong>se</strong> as agressões partem dos proprietários, porque<br />
é que, até agora, somente agricultores foram<br />
presos ou detidos quando não fazem outra coisa<br />
<strong>se</strong>não defender, por meios não-violentos, os <strong>se</strong>us<br />
direitos?"<br />
<strong>As</strong> perguntas indigna<strong>das</strong> dos dois Prelados carecem<br />
de <strong>se</strong>nso lógico pois referem-<strong>se</strong> aos fazendeiros<br />
como proprietários, compradores, e ao<br />
mesmo tempo qualificam-nos de agressores por<br />
quererem utilizar as terras que adquiriram. Se os<br />
Bispos negam a legitimidade dos direitos deles,<br />
então deviam referir-<strong>se</strong> a eles como usurpadores,<br />
"grileiros" ou qualquer outro qualificativo mais<br />
adequado. Mas a lógica não costuma estar pre<strong>se</strong><br />
nte na pena dos esquerdistas, eclesiás ticos ou<br />
leigos.<br />
"A Igreja da Paraíba tomou posição" - dizem.<br />
"Ela está do lado dos agricultores de Alagamar. E<br />
o faz por fidelidade ao Evangelho e por amor ao<br />
povo. Como Jesus, fizemos uma opção pelos opri-<br />
. midos, embora reconheçamos que estamos ainda<br />
longe de levar às con<strong>se</strong>qüências mais pesa<strong>das</strong> es<strong>se</strong><br />
compromisso. Mas estamos caminhando nessa<br />
direção e o número dos que <strong>se</strong> comprometem<br />
com o povo cresce constantemente".<br />
- Quais <strong>se</strong>riam essas "con<strong>se</strong>qüências mais<br />
pesa<strong>das</strong>" em cuja direção os dois Bispos dizem<br />
estar caminhando?<br />
Se "a terra é de quem nela<br />
trabalha", porque não a fãbrica?<br />
Os dois Prelados pros<strong>se</strong>guem, defendendo o<br />
princípio de Marx da distribuição <strong>das</strong> riquezas<br />
"<strong>se</strong>gundo as necessidades": "Os compradores de<br />
Alagamar não precisam daquelas terras para viver.<br />
Os agricultores que nelas residem e trabalham<br />
dependem delas para sua sobrevivência. O bem<br />
comum está, pois, exigindo que elas <strong>se</strong>jam desa-<br />
181
Liderados por D . Pires e mais três Bispos - D. Helder, D .<br />
Manoel Pereira (Campina Grande) e D . Francisco Austregésilo<br />
(Afogados da lngazeira-PE) - os "pos<strong>se</strong>iros"<br />
de Alagamar espantam o gado solto pelos donos <strong>das</strong><br />
terras.<br />
propria<strong>das</strong>. Sustentamos que a compra, por dinheiro,<br />
não pode <strong>se</strong>r a única nem a principal fonte<br />
de direito de propriedade. A necessidade e o trabalho<br />
são títulos mais nobres e mais legítimos.<br />
Quem precisa da terra tem mais direito do que<br />
quem não precisa. Quem a cultivou com carinho é<br />
mais dono do que aquele que tem dinheiro mas<br />
'nunca plantou um c11roço de nada' ... "<br />
Essa última afirmação é de estarrecer: por trás<br />
dela está o princípio comunista de que "a terra é de<br />
quem nela trabalha". De onde decorre também<br />
que "a fábrica é de quem nela trabalha". Pois <strong>se</strong><br />
para <strong>se</strong>r dono da terra é preciso ter plantado<br />
algum "caroço" de alguma coisa, a nalogamente,<br />
para <strong>se</strong>r dono de fábrica é preciso ter fabricado<br />
alguma peça. Ou <strong>se</strong>ja, <strong>se</strong>r operário. O trabalho<br />
passa a <strong>se</strong>r a única fonte do direito, como na<br />
doutrina marxista.<br />
Desobediência ao Judiciãrio<br />
Mas os dois mentores <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> não ficam<br />
apenas nos princípios. D. José Maria Pires declara<br />
182<br />
ao <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo: "Temos<br />
continuado a acompanhar a caminhada nãoviolenta<br />
de Alagamar. Estive lá e pude ver de perto<br />
a animação e o grau de consciência daquela gente.<br />
Houve pelo menos dois sinais de crescimento na<br />
linha de ação não-violenta. O primeiro foi um ato<br />
de desobediência à proibição judicial. O juiz havia<br />
proibido a utilização dos cocos colhidos e depositados<br />
num barracão. Os moradores descobriram<br />
que estavam <strong>se</strong>ndo ludibriados por agentes dos<br />
proprietários e invadiram pacificamente (sic!) o<br />
barracão e distribuíram os cocos entre si".<br />
Aqui a subversão às leis não está apenas aprovada,<br />
sugerida, mas elogiada e posta como exemplo<br />
(aumento do "grau de consciência")! A isto o<br />
Arcebispo chama de "caminhada não-violenta"!<br />
"Pressão de ba<strong>se</strong>" e<br />
"pressão de cúpula"<br />
O caso vem-<strong>se</strong> arrastando ao longo dos anos,<br />
com sucessivos desdobramentos. Graças à "tensão<br />
,<br />
D. Hélder Câmara em Alagamar<br />
Bispos e ruricolas de ,<br />
e.xptJlsam o gado <strong>das</strong> ~<br />
,.<br />
J •<br />
t f ,.,.<br />
'i T<br />
·-'<br />
r
Parte ll<br />
Capitulo Ili - 3<br />
Subversivos as<strong>se</strong>ssoram<br />
<strong>CEBs</strong><br />
Paulo Fontelles de Lima<br />
P AULO Fontelles de Lima é as<strong>se</strong>ssor jurídico<br />
da Comissão Pastoral da Terra na região do<br />
Araguaia-Tocantins (sul do Pará), palco na<br />
década passada da mais violenta guerrilha rural<br />
que o País já conheceu. Fontelles é admirador<br />
dessa guerrilha, aliás, bastante informado de<br />
<strong>se</strong>us meandros, como <strong>se</strong> pode constatar pela<br />
série de artigos que publicou no jornal do PC<br />
do B, faze ndo "de dentro" o histórico da luta<br />
sangrenta promovida por aquele partido.<br />
Com efeito, só alguém <strong>muito</strong> chegado aos<br />
guerrilheiros poderia estar informado de pormenores<br />
do que <strong>se</strong> passava naquele movimento<br />
insurrecional, como os relatados por P. Fontelles.<br />
Escreve ele: "A preparação de futuras<br />
lideranças camponesas também <strong>se</strong> fazia. Pacientemente,<br />
através do estreito contato pessoal,<br />
os futuros guerrilheiros iam descobrindo<br />
os campone<strong>se</strong>s mais firmes e decididos, mais<br />
esclarecidos. Sabe-<strong>se</strong> que, a boca fechada, algumas<br />
questões de natureza política eram trata<strong>das</strong><br />
-.<br />
social" criada, parte <strong>das</strong> terras já foi desapropriada.<br />
Mas o Prelado garante: "O Governo com o<br />
tempo vai ter que continuar a desapropriação".<br />
Ou <strong>se</strong>ja, a "tensão" fabricada através <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
vai continuar até atingir <strong>se</strong>us objetivos últimos ...<br />
Aplicação local do binômio "pressão de ba<strong>se</strong>pressão<br />
de cúpula", com vistas ao reformismo<br />
radical pleiteado pela CNBB.<br />
Referências: D. Josf MARIA PIRES, Do centro para a margem,<br />
Ed. Acauã, João Pessoa, 1978, pp. 40-53. 155-167 e 181-195;<br />
J osf J . QUEIROZ (org.), A Igreja dos pobres na América Latina,<br />
Brasilien<strong>se</strong>, São Paulo, 1980, pp. 82-97; "Boletim da CPT' n °<br />
15, março-abril 1978, pp. 3-10; "Isto é", 18-4-79, p. 15 e 23-i°-80,<br />
p. 22; "O Norte" (João Pessoa), 6-2-79; "Kosmos" (São Paulo),<br />
março-abnl 1980, p. 3; "SEDOC", dezembro 1977, cols. 540-<br />
543 e maio 1978, cols. 1025-1030; "O São Paulo", 15-7-78 p. 5;<br />
22-7-78 , p. 5; 23-11-79, p. 4 e 15-2-80, p. 7.<br />
183
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
entre os militantes do PC do B e algumas<br />
lideranças de massa, preparando os embates<br />
que viriam. Paralelamente a es<strong>se</strong> trabalho, no<br />
mais rigoroso <strong>se</strong>gredo, ia <strong>se</strong> fazendo a preparação<br />
militar, individual e coletiva, teórica e<br />
prática. Toda a região ia <strong>se</strong>ndo mapeada, os<br />
igarapés reconhecidos, as grutas anota<strong>das</strong>, a<br />
<strong>se</strong>lva tornando-<strong>se</strong> amiga".<br />
Paulo Fontelles de Lima e sua mulher Hecilda<br />
foram presos em Brasília à época <strong>das</strong> guerrilhas<br />
( 1971 ), acusados de envolvimento com a<br />
luta armada. Acabaram <strong>se</strong>ndo condenados (ela<br />
a um ano de prisão, ele a um ano e oito me<strong>se</strong>s)<br />
por vinculação com a organização clandestina<br />
Ação Popular Marxista-Leninista, panfletagem<br />
contra o Governo na Universidade de Brasília,<br />
pixações e tentativas de reorganização da UNE<br />
- União Nacional dos Estudantes. Anteriormente,<br />
nos anos 1968-1969, havia participado<br />
da agitação estudantil em Belém. Foi um dos<br />
fundadores e presidente da Sociedade Paraen<strong>se</strong><br />
de Defesa dos Direitos Humanos, entidade inti~<br />
mamente vinculada à atuação contestatória<br />
promovida pelo Clero engajado, em todo o<br />
Estado do Pará, sobretudo na capital.<br />
V ANDERLEI Caixe, fundador e, até há<br />
bem <strong>pouco</strong> tempo, dirigente do Centro de<br />
Defesa dos Direitos Humanos da Arquidioce<strong>se</strong><br />
da Paraíba (o qual tem ocupado papel preponderante<br />
na agitação rural promovida pelas <strong>CEBs</strong><br />
naquele Estado de que é exemplo o caso Alagamar)<br />
é ele próprio um ex-terrorista urbano,<br />
preso, julgado e <strong>se</strong>ntenciado como tal.<br />
Numa entrevista à TV Borborema, da capital<br />
paraibana, a uma pergunta sobre a acusação<br />
de comunista que pesava sobre aquele <strong>se</strong>u auxiliar<br />
direto , respondeu D. J osé Maria Pires:<br />
"Trata-<strong>se</strong> do advogado Vanderlei Caixe, que eu<br />
conheci quando ele estava preso em Presidente<br />
Venceslau, juntamente com três dominicanos.<br />
Eu f ora visitar os três dominicanos que esta vam<br />
presos e aí tomei conhecimento com mais alguns<br />
presos políticos, entre eles o Vanderlei.<br />
Depois que ele cumpriu a pena e foi colocado<br />
em liberdade, ele terminou o curso de direito,<br />
quando foi preso já estava no último ano e<br />
<strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> interessou pelos direitos humanos.<br />
Nós mantivemos muitas e longas conversas.<br />
Mantivemos uma correspondência <strong>muito</strong> grande,<br />
e eu pedi ao Vanderlei que vies<strong>se</strong> me ajudar<br />
a organizar o Centro de Defesa dos Direitos<br />
Humanos. Ele prestou es<strong>se</strong> <strong>se</strong>rviço, e depois<br />
convidado por mim, <strong>se</strong> dispôs a assumir a coordenação<br />
do Centro. Até hoje, pelo que eu <strong>se</strong>i,<br />
Vanderlei tem <strong>se</strong> situado dentro da lei. Ajudando<br />
os pequenos a buscar o recurso da lei. Se ele<br />
foi ou é comunista; <strong>se</strong> esteve ou não preso, é<br />
outra coisa" .. .<br />
Sendo homens como tais os as<strong>se</strong>ssores <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> rurais, os con<strong>se</strong>lheiros de pobres lavradores<br />
<strong>se</strong>m instrução, mas confiantes na orientação<br />
eclesiástica, pode-<strong>se</strong> ficar surpreendido de<br />
que a tensão e a violência no campo cresça cada<br />
vez mais?<br />
Ref erências: Viver e lutar com o povo, in "Tribuna Operária",<br />
3-1-81; "Resistência", Belém, abril 198 1, pp. 8-9; "O<br />
Norte", João Pessoa, 6-2-79.<br />
]84
VIOLÍ:NCIA NO CAMPO - 2<br />
vés de ref arma?"<br />
'' Q UE TAL revolução, ao invés de ref arma?"<br />
É com es<strong>se</strong> título que o <strong>se</strong>manário<br />
da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo publicou,em fevereiro<br />
de 1980, declarações de D. Tomás Balduíno.<br />
- "O nome verdadeiro não é reforma agrária,<br />
é revolução agrária, e isso não vem apenas com<br />
boa vontade, com gestos cordiais", afirmou o<br />
Bispo de Goiás Velho.<br />
Logo, é preciso gestos não cordiais? ... Ou <strong>se</strong>ja,<br />
revolução ao pé da letra?<br />
Es<strong>se</strong> parece <strong>se</strong>r exatamente o <strong>se</strong>ntido de suas<br />
palavras, como <strong>se</strong> pode ver por esta entrevista, três<br />
me<strong>se</strong>s depois, a um jornal de Goiânia: "A Reforma<br />
Agrária deve <strong>se</strong>r a que o povo de<strong>se</strong>jar . .... Eu<br />
acredito, inclusive, que <strong>fala</strong>r de reforma radical é<br />
uma incoerência. Só uma revolução pode <strong>se</strong>r<br />
radical. Uma reforma é <strong>se</strong>mpre ajeitar as coisas<br />
... É pintar a casa, quando a solução, talvez,<br />
fos<strong>se</strong> derrubá-la".<br />
Mas D. Tomás Balduíno não constitui a única<br />
voz episcopal a pregar a violência no campo, conforme<br />
ressalta da <strong>se</strong>guinte ob<strong>se</strong>rvação feita durante<br />
o XVI Encontro do Regional Nordeste I da<br />
CNBB (Bispos do Maranhão, Piauí e Ceará), em<br />
janeiro de 1980: "Os Bispos devem respeitar a<br />
dinâmica dos agentes de pastoral da terra <strong>se</strong>m<br />
forçá-los a assumirem posições violentas".<br />
Por <strong>se</strong>u lado, D. Pedro Casaldáliga afirmou<br />
que "agora a questão não é mais de defender as<br />
terras, mas de invadi-las".<br />
Palavra-de-ordem que, aliás, os sindicatos de<br />
sua Prelazia (controlados pelas <strong>CEBs</strong>) já estavam<br />
pondo em prática, <strong>se</strong>gundo o jornal do PC do B:<br />
"O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de<br />
Santa Terezinha informa: começou em fevereiro<br />
último um 'surto de ocupação de terras' à beira da<br />
BR-158, na região de São Félix, Mato Grosso do<br />
No rte . .... É um movimento novo, diferente do que<br />
havia há alguns anos atrás. Antes, havia a luta<br />
entre pos<strong>se</strong>iros e grileiros, pelas terras devolutas.<br />
Agora, o fundo <strong>das</strong> terras devolutas da<br />
região praticamente acabou. <strong>As</strong> ocupações <strong>se</strong><br />
dão em fazen<strong>das</strong> já instala<strong>das</strong>, cerca<strong>das</strong> e f uncionando.<br />
A primeira razão para isso <strong>se</strong> ouve da própria<br />
boca dos pos<strong>se</strong>iros: 'É a lei da precisão' . .. .. O<br />
Sindicato de Santa Terezinha informa que a reação<br />
da clas<strong>se</strong> dominante veio imediata: 'os destacamentos<br />
policiais nos povoados da BR-158 foram<br />
reforçados, vários pos<strong>se</strong>iros tiveram suas armas de<br />
caça apreendi<strong>das</strong>, além de ameaças de morte e<br />
intimidações às lideranças sindicais e agentes pastorais<br />
da igreja local . .... Raimundo Muriçoca, 0<br />
combativo presidente do Sindicato .. .. diz que 'é a<br />
185
eforma agrária <strong>se</strong>ndo feita pelas mãos do próprio<br />
povo'"<br />
- Que falta, pois, para a "revolução agrária"<br />
proposta por D. Tomás Balduino? Que <strong>se</strong>ja cruenta?<br />
Não falta <strong>muito</strong> ... <strong>se</strong> é que algo falta!<br />
• • *<br />
No já citado XVI Encontro do Regional Nordeste<br />
I da CNBB (Maranhão, Piauí e Ceará), pre<strong>se</strong>ntes<br />
Bispos, Padres, freiras, agentes de pastoral,<br />
sindicalistas e dirigentes de <strong>CEBs</strong>, a delegação do<br />
Maranhão assim apre<strong>se</strong>ntou a situação fundiária<br />
em <strong>se</strong>u Estado: "Muitas terras <strong>se</strong>m título onde o<br />
primeiro que chega <strong>se</strong> faz dono, ficando o pos<strong>se</strong>iro<br />
prejudicado por ignorância e falta de condições<br />
para a legalização; ameaças de morte contra pos<strong>se</strong>iros<br />
e numerosos casos de violência mortal ....<br />
Diante dessa problemática os pos<strong>se</strong>iros estão con<strong>se</strong>guindo<br />
êxito através da resistência armada e<br />
através da conscientização <strong>das</strong> Comunidades de<br />
&<strong>se</strong>".<br />
"Resistência armada", "conscientização <strong>das</strong><br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong>": dois elementos que têm<br />
aparecido juntos com uma freqüência alarmante.<br />
Ou que, pelo menos, devia alarmar.<br />
"O nome verdadeiro não é reforma agrária, é revolução<br />
agrária!" - afirma D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás,<br />
vice-presidente do CIMI {Con<strong>se</strong>lho lndigenista Missionário)<br />
e prócer nacional <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>.<br />
Referências: "O São Paulo", 15-2-80; "Tribuna Operária", 19-<br />
4-80; Relatório do XVI En contro do Regional No rteste- 1 -<br />
CNBB, 4/ 9-1-80, p. 10; idem , Anexo/, p. 3; Entrevista de D.<br />
Tomás Balduíno ao jornal "Cinco de Março" (Goiânia), 26-5-<br />
80, transcrita no "Boletim da Comissão Pastoral da Te~ra",<br />
maio-junho 1980, pp. 17-1 8.<br />
186
VIOLf.NCIA NO CAMPO - 3<br />
Sangue na região <strong>das</strong> guerrilhas do PC do B<br />
- ... E as águas d Araguaia<br />
de vermelho<br />
UMA DAS regiões brasileiras onde os conflitos<br />
de terras têm sido mais graves é o sul do Pará,<br />
cenário também <strong>das</strong> sangrentas guerrilhas rurais<br />
da década passada. Coincide <strong>pouco</strong> mais ou menos<br />
com o território <strong>das</strong> Dioce<strong>se</strong>s de Marabá e<br />
Conceição do Araguaia, cujos Bispos são D. Alano<br />
Pena e D. Patrick Jo<strong>se</strong>ph Hanrahan (o qual em<br />
abril de 1979 substituiu a D. Estêvão Cardoso de<br />
Avelar, transferido para Uberlândia).<br />
"Os pos<strong>se</strong>iros resolveram resistir ... "<br />
Em 1979, o jornal "O São Paulo", assim<br />
descrevia a situação na região: "Em outubro último,<br />
a Comissão Pastoral da Terra regional Araguaia-Tocantins,<br />
denunciou, em Brasília, a eminência<br />
(sic) de um conflito de largas proporções<br />
entre pos<strong>se</strong>iros, latifundiários e a Polícia Militar,<br />
no sul do Pará. Somente em Conceição do Araguaia,<br />
em questão de 45 dias, nos me<strong>se</strong>s de <strong>se</strong>tembro<br />
e outubro, ocorreram nada menos que 25<br />
conflitos armados, com dois pistoleiros mortos e<br />
nove outros feridos, <strong>se</strong>gundo o relato. Além disso,<br />
o advogado Paulo Fontelles, da CPT, explica que<br />
houve uma radical mudança de posição por parte<br />
dos pos<strong>se</strong>iros, nestes últimos tempos: 'Cansados de<br />
tantas injustiças, eles resolveram não sair da terra<br />
e resistir' ".<br />
O <strong>se</strong>manário dirigido por D. Angélico Bernardino<br />
<strong>se</strong> refere às baixas entre os que qualifica de<br />
"pistoleiros", mas não diz quem fez os disparos<br />
que os vitimaram. O advogado e as<strong>se</strong>ssor da<br />
CPT, Paulo Fontelles, entretanto, <strong>se</strong> apressa em<br />
justificar os "pos<strong>se</strong>iros": "Cansados de tantas injustiças,<br />
eles resolveram não sair da terra e re-<br />
5istir".<br />
Teriam eles por si sós "resolvido" a adotar a<br />
"resistência" ou <strong>se</strong>ria esta uma con<strong>se</strong>qüência da<br />
conscientização <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>?<br />
"A paciência do povo <strong>se</strong><br />
esgota, sr. general!"<br />
No dia 25 de maio de 1980 o Bispo de Marabá,<br />
D. Alano Pena, enviou uma carta ao General<br />
Manuel de Jesus e Silva, Comandante da 23.ª<br />
Brigada de Infantaria da Selva, a qual dá bem<br />
idéia do acirramento <strong>das</strong> tensões. Depois de <strong>se</strong><br />
referir ao que qualifica de desmandos de "grileiros",<br />
perora o Prelado:<br />
"Agora não dá mais para agüentar isso, sr.<br />
general. A paciência do povo <strong>se</strong> esgota. Que<br />
187
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> muiro <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
regime é es<strong>se</strong> nosso que só aciona com eficiência a<br />
solução dos problemas dos ricos e dos que têm<br />
força econômica na mão? Que regime é este que<br />
assiste de braços cruzados ao esmagamento progressivo<br />
de centenas de pobres, só porque são<br />
pobres? O pobre é <strong>se</strong>mpre o ladrão, é <strong>se</strong>mpre o<br />
invasor. O rico é <strong>se</strong>mpre o homem de bem, com<br />
todos os direitos do <strong>se</strong>u lado . ....<br />
A té quando, sr. general? Receio que esteja para<br />
estourar coisa bem desagradável por aí, com <strong>muito</strong><br />
sangue correndo e nós, que vamos fazer? A Igreja<br />
não pode, sob pena de trair <strong>se</strong>u mestre, pedir a um<br />
povo torturado pela in<strong>se</strong>gurança e ameaças constantes,<br />
que tenha paciência. Isto <strong>se</strong>ria uma afronta<br />
à dignidade humana deste povo pisoteado".<br />
"Gringo": dirigente de CEB<br />
e lfider da Oposição<br />
sindical - Morte e vingança<br />
Na realidade, os receios do Prelado eram um<br />
<strong>pouco</strong> tardios: a "coisa desagradável" havia já<br />
estourado, e o sangue já começara a correr.<br />
Dias antes fora morto por um grupo de 42<br />
pos<strong>se</strong>iros o faze ndeiro Fernando Leitão Diniz. E o<br />
sangue continuou a correr: dias depois, aparecia<br />
morto em Araguaína,Raimundo Ferreira Lima, o<br />
"Gringo", agente pastoral e candidato de oposição<br />
à presidência do Sindicato de Trabalhadores Rurais<br />
de Conceição do Araguaia. Ao que consta, um<br />
,J \<br />
. '(,(,<br />
O Bispo de Marabá, D. Alano Pena, não<br />
esconde sua admiração pelos guerrilheiros do<br />
PC do B que atuaram no território de sua<br />
Dioce<strong>se</strong>, na região do Araguaia: " - Os guerrilheiros<br />
de vez em quando entravam nas vilas,<br />
assim ... incursões-relâmpago, e via-<strong>se</strong> que era<br />
um pessoal <strong>muito</strong> idealista, talvez um <strong>pouco</strong><br />
suicida, porque eles supervalorizavam um a<br />
poio de ba<strong>se</strong>s populares que ainda não dava<br />
para ter aqui no nosso meio. Mas, o certo é que<br />
ninguém vai negar o valor da coragem deles,<br />
inclusive a de dar a vida aí, pelo que des<strong>se</strong> e<br />
vies<strong>se</strong>, por causa des<strong>se</strong> ideal. E não <strong>se</strong>i <strong>se</strong> a<br />
turma que está aí defendendo o Sistema faria a<br />
mesma coisa ... " ("Jornal da Tarde", 13- 1-79,<br />
p. 5; PALMÉRIO DôRIA E OUTROS, A Guerrilha do<br />
A raguaia, Col. História Imediata-!, Editora<br />
Alfa-Ômega, São Paulo, 1978, p. 59).<br />
188
Parte 1/<br />
Capítulo Ili - 5<br />
filho de criação Jo fazendeiro assassinado jurara<br />
matar o "Gringo", por considerá-lo responsável<br />
pela morte de Leitão Diniz.<br />
O <strong>se</strong>cretário-geral da CNBB, D. Luciano Mendes<br />
de Almeida, afirmou naqueles dias que a Igreja<br />
estava sofrendo uma lamentável campanha difamatória<br />
na região. Sobre o assassínio do fazendeiro<br />
Fernando Leitão Diniz, D. Luciano dis<strong>se</strong><br />
que, <strong>se</strong>gundo informações presta<strong>das</strong> pela Comissão<br />
Pastoral da Terra à CNBB, os pos<strong>se</strong>iros atiraram<br />
em legítima defesa com armas de caça.<br />
O insuspeito <strong>se</strong>manário de D. Paulo Evaristo<br />
Arns conta como os pos<strong>se</strong>iros (1) <strong>se</strong> "defenderam"<br />
do fazendeiro:<br />
"Um grupo de lavradores da região esteve na<br />
redação de O São Paulo, para dar a versão correta<br />
dos fatos . .... São inúmeros os casos de grileiros<br />
que estão praticando o 'arrastão', isto é, demarcando<br />
áreas além <strong>das</strong> estipula<strong>das</strong> nos títulos. Por<br />
exemplo, o conflito da Fundação Brasil Central,<br />
na região de São Geraldo, a 500 km de Conceição<br />
do Araguaia, cujos desdobramentos terminaram<br />
na morte do 'Gringo'. Um conhecido grileiro -<br />
Oliveira Paulino - vendeu uma gleba de 300<br />
alqueires a outro, Fernando Dias Leitão (sic), que<br />
tentou estender os domínios para uma área de<br />
1.800 alqueires ao redor do lote, expulsando mais ~<br />
de 800 famílias. .... Os pos<strong>se</strong>iros tentaram um ..:.<br />
"'<br />
( 1) Convém <strong>se</strong>mpre ter em vista que, para o clero progressista<br />
que promove agitação rural, os proprietários são sistematicamente<br />
tratados por "grileiros", de modo que nunca <strong>se</strong><br />
<strong>sabe</strong> - ao ler <strong>se</strong>us relatos - <strong>se</strong> a pessoa designada por es<strong>se</strong><br />
epíteto é ou não desonesta. Do mesmo modo, os empregados<br />
des<strong>se</strong>s fazendeiros são qua lificados de "pistoleiros", "jagunços"<br />
etc. E os lavradores envolvidos em litígi os (com freqüência<br />
membros de <strong>CEBs</strong> ou por elas manipulados), são <strong>se</strong>mpre<br />
apre<strong>se</strong>ntados como "pos<strong>se</strong>iros" ainda quando, na realidade, <strong>se</strong><br />
trate de simples invasores.<br />
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<strong>As</strong> tensões e conflitos no Sul do Pará - palco de<br />
guerrilhas na década de 70 - tem sido agravada pela<br />
atuação do clero esquerdista, por meio <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>.<br />
.... ~-,.<br />
189
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
acordo com Fernando Leitão Diniz, mas depois de<br />
marcarem um encontro e o grileiro não aparecer,<br />
resolveram procurá-lo. Ele estava concluindo a .<br />
demarcação da área expandida, com o qual os<br />
pos<strong>se</strong>iros não concordavam, e estavam parados<br />
pelas questões legais. Dois homens desarmados<br />
foram <strong>fala</strong>r com ele e <strong>se</strong>us jagunços, e um grupo de<br />
40 lavradores ficou esperando, a 40m do local.<br />
ARMADO. Os pos<strong>se</strong>iros notaram que eles<br />
estavam armados e então correram, e o grupo de<br />
40 que estava ao longe, <strong>se</strong> confrontou com Leitão,<br />
que morreu no local. Os lavradores <strong>se</strong> esconderam<br />
na mata, e avisaram que só <strong>se</strong> renderiam ao<br />
Exército. Mais tarde, eles <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntaram à Justiça<br />
em Conceição do Araguaia. Nes<strong>se</strong> mesmo dia<br />
- 23-5 - os prefeitos de Conceição do Araguaia e<br />
de Araguaínajuntamente com os presidentes pelegos<br />
dos sindicatos de lavradores <strong>das</strong> duas cidades,<br />
foram ao ministro da Justiça dar a sua versão dos<br />
fatos, dizendo que 'os padres estavam de metralhadoras<br />
na beira do Araguaia, organizando a<br />
guerrilha' ... ".<br />
Estratégia para garantir<br />
a impunidade?<br />
Qualquer que <strong>se</strong>ja a versão exata dos fatos - e<br />
aqui não cabe entrar no cerne desta questão - a<br />
atuação dos pos<strong>se</strong>iros parece ter obedecido a uma<br />
estratégia previamente estudada, com assistência<br />
jurídica, para garantir a impunidade dos "pos<strong>se</strong>iros".<br />
A hipóte<strong>se</strong> ganha corpo <strong>se</strong> <strong>se</strong> analisa sua<br />
conduta antes e depois do confronto com o fazendeiro,<br />
e durante o inquérito policial.<br />
A propósito, comenta o correspondente de um<br />
jornal paulista: "O advogado Paulo Fontelles, que<br />
dá assistência jurídica em Conceição do Araguaia<br />
aos pos<strong>se</strong>iros que mataram o fazendeiro Leitão<br />
Diniz .... contestou ontem as acusações feitas, à<br />
Igreja de ter orientado o crime e também os<br />
pos<strong>se</strong>iros para que apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong>m uma mesma<br />
versão à polícia . .. .. Por mais que o delegado José<br />
Maria Alves <strong>se</strong> esforças<strong>se</strong> no interrogatório para<br />
identificar um líder, um mandante ou quem atirou<br />
primeiro, nada con<strong>se</strong>guiu. Essa união dos pos<strong>se</strong>iros<br />
praticamente impedirá à Justiça apontar um<br />
culpado porque <strong>se</strong> foram 42 os que dispararam e<br />
16 os tiros que atingiram o fazendeiro .... prevalecerá<br />
no final a dúvida. Como a Justiça consagra o<br />
princípio de que a dúvida beneficia o réu, es<strong>se</strong><br />
crime deverá ficar impune".<br />
Convém recordar quem é o advogado Paulo<br />
Fontelles: simpatizante <strong>das</strong> guerrilhas do Araguaia,<br />
ex-militante da Ação Popular Marxista<br />
Leninista e colaborador do jornal do PC do B ...<br />
Não parece demais insistir: <strong>se</strong> os "pos<strong>se</strong>iros"<br />
tives<strong>se</strong>m sido previamente instruídos sobre como<br />
proceder, de modo a garantir a impunidade, não<br />
teriam procedido de outra forma, antes, durante e<br />
depois da ação delituosa.<br />
Dias depois, como já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>, foi morto o líder<br />
des<strong>se</strong>s mesmos pos<strong>se</strong>iros e agente pastoral Raimundo<br />
Ferreira Lima, o "Gringo", aparentemente<br />
em represália pelo assassínio do fazendeiro Leitão<br />
Diniz.<br />
Exploração polftica de<br />
um epls6dio trAgico<br />
A morte de "Gringo" foi explorada pelas esquer<strong>das</strong>,<br />
"católicas" ou não, as <strong>quais</strong> procuraram<br />
colher dividendos políticos do trágico episódio,<br />
apre<strong>se</strong>ntando-o como fruto <strong>das</strong> "estruturas injustas".<br />
Por toda a parte organizaram-<strong>se</strong> atos de repulsa,<br />
terminando as manifestações com uma concentração<br />
político-religiosa em Conceição do Ara-<br />
190
Parte II<br />
guaia, no dia 8 Je junho de 1980, promovida pelas<br />
<strong>CEBs</strong> e CPT da região, com o apoio de 30 entidades,<br />
entre as <strong>quais</strong> a CNBB, a UNE, a CON<br />
T AG, a Sociedade Paraen<strong>se</strong> dos Direitos Humanos.<br />
Várias personalidades estiveram pre<strong>se</strong>ntes:<br />
D. Albano Cavallin (Bispo Auxiliar de Curitiba,<br />
repre<strong>se</strong>ntando a CNBB); D. Celso Pereira de<br />
Almeida (Bispo de Porto Nacional e presidente da<br />
CPT da região de Araguaia-Tocantins); D. Alano<br />
Pena (Bispo de Marabá); D. Estêvão Cardoso de<br />
Avelar (Bispo de Uberlândia e antigo Bispo de<br />
Conceição do Araguaia); os deputados Aurélio<br />
Perez (<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> de São Paulo),<br />
Lucival Barbalho, Roman Tito, Jader Barbalho,<br />
além do vereador paulistano Benedito Cintra<br />
(<strong>muito</strong> chegado, ele também, às <strong>CEBs</strong>). Naturalmente,<br />
não faltou o advogado Paulo Fontelles.<br />
Nem o "agente pastoral" Nicola Arpone.<br />
D. Celso discursou: "A igreja, meus caros, não<br />
tem medo de sangue, o povo unido não tem medo<br />
de sangue, porque foi do sangue que foi construída<br />
a ba<strong>se</strong> da sociedade. E hoje nós temos o sangue do<br />
'Gringo' construindo a ba<strong>se</strong> da oposição, da chapa<br />
2, e o sindicato livre de Conceição do Araguaia".<br />
No mesmo <strong>se</strong>ntido falou D. Estêvão Cardoso<br />
Avelar: "Raimundo queria um sindicato livre e<br />
libertador e não amarrado às autoridades".<br />
Falaram também diversos repre<strong>se</strong>ntantes <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> rurais.<br />
Frutos amargos da conscientização<br />
dos lavradores<br />
Nessa mesma região, em 13 de agosto 'do ano<br />
passado, ocorreu uma emboscada em que morreu<br />
o gerente de castanhal Luiz Antonio dos Santos e<br />
ficaram feridos quatro agentes da Polícia Federal e<br />
do GET AT - Grupo Executivo de Terras do<br />
Capírulo III - 5<br />
Araguaia-Tocantins. A emboscada foi armada por<br />
13 "pos<strong>se</strong>iros", incitados, <strong>se</strong>gundo a Polícia Federal,<br />
pelos padres france<strong>se</strong>s Aristide Camio e François<br />
Gouriou. Os religiosos e os "pos<strong>se</strong>iros" -<br />
ligados às <strong>CEBs</strong> da região (2) - foram presos e<br />
condenados em primeira instância pela Justiça<br />
Militar, por crime contra a Segurança Nacional<br />
( os advo_gados vão recorrer da <strong>se</strong>ntença).<br />
- "E a Igreja quem provoca essas invasões de<br />
terras e embosca<strong>das</strong>", acusa o Cel. Fernando<br />
Miranda, do GETAT.<br />
MLPD<br />
MOV JMENTO PELA L 1 HERTAÇ.i\O<br />
...,.--------- DOS Pl
~<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descréve como são<br />
O Pe. Ricardo Rezende, da Comissão Pastoral<br />
da Terra, alega: "Nós ainda con<strong>se</strong>guimos impedir<br />
que os pos<strong>se</strong>iros atirem nos soldados. mostrando<br />
que só irão prejudicar-<strong>se</strong> <strong>se</strong> resistirem à polícia".<br />
Ob<strong>se</strong>rva porém que "é impossível impedir que os<br />
pos<strong>se</strong>iros e pistoleiros <strong>se</strong> matem. O ódio entre eles<br />
é <strong>muito</strong> grande".<br />
Ódio que a conscientização nas Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> não faz <strong>se</strong>não aumentar.<br />
Seja qual for o veredicto final da Justiça<br />
quanto à responsabilidade dos dois sacerdotes<br />
france<strong>se</strong>s e dos pos<strong>se</strong>iros na emboscada do dia 13<br />
de agosto de 1981, uma coisa é certa: enquanto<br />
continuar o processo de conscientização dos lavra-<br />
MDDO<br />
dores pelas <strong>CEBs</strong> rurais e a "as<strong>se</strong>ssoria" de agentes<br />
pastorais e membros da CPT, os conflitos de terras<br />
não cessarão, e as águas do legendário Araguaia<br />
continuarão a tingir-<strong>se</strong> de vermelho ...<br />
Ref erências: "O São Paulo", 23-11-79. 6 e 12-6-80; "Movimento",<br />
16-6-80; "O Dia", Rio de Janeiro, 25-5-80; "O Estado<br />
de S. Paulo", 30-5-80, 8. 12, 18 e 26- 11-81, 23-6-82; "Resistência",<br />
Belém, julho 80; "Tribuna Operária", 14-6-80; CIC, 24-<br />
6-80; "Isto é", 16-12-8 1, p. 53 ; "Folha de S. Paulo··, 10 e 18-12-<br />
8 1; "Jornal do Brasil", 16-10-8 1; P E. FRA NÇO IS GouR 1ou, Noel<br />
derriere les barreaux, in "Echos de la Rue du Bac" (Bulletin<br />
de documentation des Missions Êtrangeres), n. º 159. fé vricr<br />
<strong>1982</strong>, pp. 5 1-54; CLAUDE L ANGE, L'Ég li<strong>se</strong> (! / la q11es1io 11 agraire<br />
en Amazonie, id em, n. 0 16 1. avril <strong>1982</strong>. pp. 107-113 .<br />
~., ... ,,A igrejae a ?evolução<br />
l'm• d111 111;., , .... , rm h •rrn .. , dt' n1111<br />
, 1,. 11 .. ~ ,.,..,., _ _ -- ,,-4,.,,r .1 llfl.t•rc., .,,,<br />
di. "-lr ,iri.,tu:i. lt- m , uJo , parlluDóll.i\l -,h\ a<br />
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qu, I,· 1'·'" """tr,, ,,.11,., 11!1,,,1.,1,, .. 111,•1,t,· ,,.<br />
, 111,p, .. 100 p.01lr,., ~ lr,•lrll•, nulh.oro•<br />
ti,· l, 1~"' ti.o h:r, I• ,1,, 'lõ11 .,r•• ,•u .o h,r .. m ".,<br />
rn,uh , w lun11lu t .. p,,1,1ul• r<br />
t m :·'41 r .. u111,1,,.
VIOL~NCIA NO CAMPO - 4<br />
O ACRE, escassamente povoado, em grande<br />
parte recoberto por extensos <strong>se</strong>ringais e pela mata<br />
impenetrável, situa-<strong>se</strong> na atual "fronteira agrícola"<br />
do País. Para lá <strong>se</strong> têm dirigido levas de colonos<br />
vindos do Nordeste, do Leste (capixabas, sobretudo)<br />
e também do Sul (gaúchos e paranaen<strong>se</strong>s). O<br />
Estado tem atraído igualmente o interes<strong>se</strong> de<br />
investidores do Sul, os <strong>quais</strong> aproveitam-<strong>se</strong> de<br />
incentivos fiscais para adquirir grandes áreas, destina<strong>das</strong><br />
à implantação de projetos agropecuários<br />
de algum porte. O preço até há <strong>pouco</strong> relativamente<br />
baixo de suas terras, e a boa qualidade <strong>das</strong><br />
mesmas, atraiu igualmente para o Estado fazendeiros<br />
de outras regiões do País. Embora nem<br />
todos procedam de São Paulo, es<strong>se</strong>s novos fazendeiros<br />
são conhecidos em qua<strong>se</strong> toda a Amazônia<br />
por "paulistas".<br />
Mas essa expansão agrícola não <strong>se</strong> tem verificado<br />
<strong>se</strong>m choques e tensões: como em toda região<br />
pioneira, são ali numerosos os casos de conflitos<br />
por questões de terra.<br />
Curiosa coincidência: a qua<strong>se</strong> totalidade dos<br />
conflitos tem ocorrido na região sudeste do Estado,<br />
entre os rios Acre e Purus.<br />
- Coincidência?<br />
Parece haver algo mais do que isso: es<strong>se</strong> território<br />
corresponde à Prelazia do Acre e Purus, que<br />
tem por Bispo precisamente D. Moacir Grechi,<br />
presidente da Comissão Pastoral da Terra, da<br />
CNBB, e um dos mais ativos mentores nacionais<br />
<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
Sindicalização em massa<br />
D. Moacir Grechi não esperou pelas conclusões<br />
do 2. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> ( 1976), nas<br />
<strong>quais</strong> <strong>se</strong> lê: "O Sindicato torna-<strong>se</strong> um instrumento,<br />
uma ferramenta para a conscientização e a união<br />
dos lavradores".<br />
Desde que assumiu a Prelazia (1973), D. Moacir<br />
mobilizou todo o pessoal ligado à estrutura<br />
eclesiástica no <strong>se</strong>ntido de promover a sindicalização<br />
em massa, não só rural, mas também urbana:<br />
Padres, freiras, agentes pastorais, monitores de<br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>. Até Frei Beto<br />
andou por lá dando as<strong>se</strong>ssoria.<br />
Depois de três ou quatro anos podia apre<strong>se</strong>ntar<br />
um resultado de fazer inveja a qualquer líder<br />
sindical: 20 mil pessoas sindicaliza<strong>das</strong>, numa população<br />
de 300 mil almas! Lavradores, <strong>se</strong>ringueiros,<br />
estivadores, lavadeiras, oleiros, - ninguém<br />
ficou <strong>se</strong>m <strong>se</strong>u sindicato ou associação de clas<strong>se</strong>,<br />
cujos dirigentes <strong>se</strong> confundem, aliás, com os monitores<br />
e membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Tal é o caso de Wilson<br />
193
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
de Souza Pinheiro, monitor de Comunidade de<br />
Ba<strong>se</strong> e presidente do Sindicato dos Trabalhadores<br />
Rurais de Brasiléia, na divisa com a Bolívia, o<br />
qual, aliás, acabou tragicamente morto por questões<br />
de terra, <strong>se</strong>ndo vingado por <strong>se</strong>us companheiros<br />
de CEB e de sindicato. Mas não convém<br />
adiantar aqui os fatos. Já <strong>se</strong> verão com pormenores<br />
as con<strong>se</strong>qüências da conscientização dos<br />
trabalhadores rurais sindicalizados pelas <strong>CEBs</strong> do<br />
Acre e Purus.<br />
"Operações pega-fazendeiro" e<br />
"mutirões contra a jagunçada"<br />
Frei Clodovis Boff, as<strong>se</strong>ssor pastoral do Bispo<br />
do Acre e Purus e presidente nacional da CPT, D.<br />
Moacir Grechi, apre<strong>se</strong>nta, de maneira por assim<br />
dizer didática, em artigo na "Revista Eclesiástica<br />
Brasileira", a tensão e a violência promovida pelas<br />
<strong>CEBs</strong> nas fazen<strong>das</strong> e <strong>se</strong>ringais acreanos (!).<br />
Com o objetivo de "mostrar a forma concreta<br />
que toma a fé nas <strong>CEBs</strong> em termos de mobilização<br />
libertadora", o Religioso <strong>se</strong>rvita conta alguns<br />
casos. O próprio modo de ele <strong>se</strong> referir a tais<br />
casos já diz <strong>muito</strong>: "operação pega-fazendeiro",<br />
"mutirão contra a jagunçada" ...<br />
É tal a gravidade dos fatos narrados, que<br />
pareceu mais conveniente transcrever as próprias<br />
palavras de Frei C. Boff:<br />
( I) Os relatos a <strong>se</strong>guir foram colhidos em fonte suspeita<br />
(por <strong>se</strong> u facciosismo em favor <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>). De modo que procuram<br />
dar a impressão de que, nos três casos relatados, as<br />
autoridades militares e policiais teriam dado razão aos a utores<br />
<strong>das</strong> violências descritas, o que poderia le va r a admitir que eles<br />
tinham o direito de <strong>se</strong> u lado.<br />
Seja como for, os métodos empregados caracterizam-<strong>se</strong><br />
pela violência . e num país civilizado, com um Poder Judiciário<br />
organizado, a violência não é o meio de <strong>se</strong> reivindicarem direitos.<br />
"I . 0 caso: 'Operação pega-fazendeiro'<br />
Já fazia algum tempo que um <strong>se</strong>ringalista do<br />
<strong>se</strong>ringai 'Guanabara', no Alto lacó, mancomunado<br />
a um des<strong>se</strong>s fazendeiros paulistas que estão<br />
invadindo, 'grilando' e ocupando a Amazônia,<br />
estava ameaçando de expulsão os <strong>se</strong>ringueiros e<br />
lavradores de uns quatro <strong>se</strong>ringais daquela área.<br />
Estes resistiram em conjunto. Mas as pressões<br />
continuaram. A água ia subindo. Em dado momento,<br />
bastou o insulto à dignidade dos lavradores<br />
(dis<strong>se</strong>ram deles que eram 'cachorros que latem<br />
mas não mordem') para que aqueles homens <strong>se</strong><br />
levantas<strong>se</strong>m. Quarenta e um deles embargaram<br />
com estacas e rolos de pau, por duas <strong>se</strong>manas, a<br />
pista, no meio da mata, onde descia o fazendeiro<br />
paulista com <strong>se</strong>u aviãozinho. Um <strong>se</strong>gundo insulto<br />
acompanhando o início da derrubada de uma<br />
estrada de <strong>se</strong>ringa (de que vive ainda boa parte<br />
daquela gente), levantou dessa vez mais de cem<br />
homens. Armaram-<strong>se</strong> com suas espingar<strong>das</strong> de<br />
caça e foram prender por conta própria o paulista<br />
e o <strong>se</strong>ringalista. Depois de pegas, montaram-nos<br />
em dois jumentos e conduziram-nos, sob armas,<br />
em três dias de caminho, até um batalhão do<br />
exército situado na fronteira com o Peru. E lá<br />
obrigaram-nos a assinar, diante <strong>das</strong> autoridades<br />
militares, um termo pelo qual <strong>se</strong> comprometiam a<br />
não mais invadir as terras dos lavradores e <strong>se</strong>ringueiros.<br />
Importa notar neste caso que a maioria<br />
absoluta daqueles homens estavam ligados às<br />
<strong>CEBs</strong> da região. A própria iniciativa e a estratégia<br />
da operação 'pega-fazendeiro' foi discutida e liderada<br />
pelos membros mais atuantes <strong>das</strong> mesmas<br />
<strong>CEBs</strong>".<br />
Frei Clodovis relata, com toda a tranqüilidade,<br />
como os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> constituíram-<strong>se</strong> juízes<br />
em causa própria e fizeram-<strong>se</strong> também justiça com<br />
as próprias mãos, invadindo propriedade alheia,<br />
194
prendendo pessoas e as coagindo, "sob armas", a<br />
acompanhá-los. Para que os lavradores e <strong>se</strong>ringueiros<br />
pudes<strong>se</strong>m "resistir em conjunto" (ou mesmo<br />
individualmente), era preciso que o direito<br />
estives<strong>se</strong> do lado deles, que o <strong>se</strong>ringalista e o<br />
fazendeiro fos<strong>se</strong>m realmente grileiros e não legítimos<br />
proprietários. Mas isto cabe à Justiça verificar<br />
e não aos Bispos, agentes pastorais ou líderes<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Ou, então que estives<strong>se</strong>m praticando<br />
violências físicas ou fortes coações morais contra<br />
eles. Mas, ainda assim, só poderiam agir em legítima<br />
defesa, e uma vez esgotados todos os recursos<br />
legais. Ora, o frade, tão informado dos pormenores<br />
dessa e de outras "operações pega-fazendeiro",<br />
não diz entretanto qual a violência que estaria<br />
<strong>se</strong>ndo cometida contra os lavradores e <strong>se</strong>ringueiros,<br />
aludindo vagamente a "ameaças de expulsão",<br />
"pressões" e "insultos"; quanto aos "insultos à<br />
dignidade dos lavradores", alegados como a "gota<br />
d'água", a julgar pelo exemplo aduzido (teriam<br />
dito que eles eram "cachorros que latem mas não<br />
mordem") - por si sós, eles não justificariam uma<br />
reação armada tão violenta e radical como a<br />
relatada.<br />
Uma operação que reúne l00 homens armados<br />
para atacar propriedades, prender pessoas e man-<br />
195
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
tê-las sob coação durante três dias, caracteriza<br />
antes uma ação de banditismo ... ou de insurreição.<br />
Pois repre<strong>se</strong>nta a rejeição, pelo menos de fato, <strong>das</strong><br />
leis e <strong>das</strong> instituições do País, submetendo parte<br />
dele à jurisdição de "tribunais" privados e de<br />
"milícias populares".<br />
Convém acentuar, com o próprio Frei Clodovis,<br />
"que a maioria absoluta daqueles homens<br />
estavam ligados às <strong>CEBs</strong> da região". Mais ainda:<br />
"A própria iniciativa e estratégia" da operação, foi<br />
discutida e decidida nas reuniões <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />
Em um livro sobre as Comunidades de Ba<strong>se</strong> do<br />
Acre, Frei C. Boff, <strong>fala</strong>ndo sobre um encontro de<br />
monitores de <strong>CEBs</strong>, volta a referir-<strong>se</strong> à "operação<br />
pega-fazendeiro":<br />
"No último dia foi feita uma análi<strong>se</strong> de uma<br />
confrontação que, armados, os pos<strong>se</strong>iros da região<br />
tiveram com os fazendeiros. No balanço, o pessoal t<br />
falou da coragem e união que o povo mostrou. O ~ .____,_ _ ___,__~~~---------~negativo<br />
foi a falta de uma organização maior e<br />
principalmente ter deixado a solução final do<br />
conflito nas mãos de 2 ou 3 pessoas, que botaram<br />
muita coisa a perder, já no fim do 'pega'. A parte<br />
do uso de armas foi <strong>muito</strong> discutida: tinha gente<br />
que dizia: 'Está certo'; e outras: 'Não está certo'.<br />
Até que todo o mundo achou que, naquele caso,<br />
não tinha outro jeito. Isso mostra que o uso da<br />
força faz <strong>se</strong>mpre problema para a consciência, mas<br />
que, às vezes, ele <strong>se</strong> impõe. <strong>As</strong> circunstâncias<br />
obrigam a vontade".<br />
O relato de Frei Clodovis deixa entrever o<br />
papel decisivo do fator religioso para arrastar os<br />
lavradores a ações violentas: o "problema para a<br />
conscifncia" dos agressores só foi aquietado graças<br />
ao prestígio moral da Igreja (como também -<br />
não parece temerário supor - à habilidade dos<br />
agentes pastorais que, <strong>se</strong>gundo técnica já descrita,<br />
orientavam discretamente a discussão, até levar<br />
O boletim do MLPA - Movimento pela Libertação dos<br />
Presos do Araguaia - dá sua versão da embosca·aa de<br />
agosto de 1981, em razão da qual foram condenados<br />
pela Justiça os Padres Camio e Gouriou, e treze lavradores.<br />
"todo o mundo" a "achar" que naquele caso "não<br />
havia outro jeito", <strong>se</strong>não "o uso da força" ... ).<br />
Se foi preciso apelar para a religião a fim de<br />
tranqüilizar alguns dos participantes da "operação<br />
pega-fazendeiro", qual não terá sido o peso des<strong>se</strong><br />
fator para levá-los a empreender uma ação que<br />
repugnava pelo menos a alguns, ainda não inteiramente<br />
"conscientizados"?<br />
Frei Clodovis pros<strong>se</strong>gue <strong>se</strong>u relato sobre a<br />
"mobilização libertadora" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> acreanas:<br />
"2. 0 caso: 'Mutirão contra a jagunçada'<br />
Es<strong>se</strong> caso <strong>se</strong> passou no Km 38 da estrada que<br />
liga Rio Branco com Boca do Acre (AM). Aí<br />
196
Parte li<br />
estavam já há algum tempo sitia<strong>das</strong> perto de 40<br />
famílias de pos<strong>se</strong>iros ocupando e trabalhando<br />
aquela região. Mas entrou um fazendeiro paulista<br />
com meia dúzia ou mais de jagunços e decidiu<br />
botar para fora aquelas famílias a pretexto de que<br />
a terra era dele pelo fato de tê-la comprado [sic!].<br />
Mas as famílias de pos<strong>se</strong>iros resistiram, até que a<br />
situação <strong>se</strong> tornou mortalmente ameaçadora. Aí o<br />
Sindicato dos Trabalhadoris Rurais em articulação<br />
com gente da Igreja resolveu entrar em ação.<br />
Programou realizar um gesto concreto de solidariedade<br />
àquelas famílias ameaça<strong>das</strong>. Mais de 300<br />
homens, vindos de diversos lugares, chegaram ao<br />
local em tensão armados com terçados [facões] e<br />
alguns de armas de caças . .... O resultado foi que<br />
prenderam os pistoleiros que puderam ( outros<br />
fugiram) e apre<strong>se</strong>ntaram-nos e as suas armas às<br />
autoridades em Rio Branco. Com o afastamento<br />
dos grileiros e <strong>se</strong>us capangas, restituíram a paz às<br />
famílias ameaça<strong>das</strong>".<br />
Frei Clodovis procura, neste caso, disfarçar um<br />
tanto a responsabilidade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, mas não faz<br />
<strong>se</strong>não confirmá-la:<br />
"Deve-<strong>se</strong> aqui ob<strong>se</strong>rvar que esta ação não foi<br />
um empreendimento organizado a partir <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
.... Foi enquadrada substancialmente pelo Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais . .... A Igreja institucional<br />
apoiou essa iniciativa e participou ativamente<br />
nela (irmãs <strong>se</strong> encontravam entre os trabalhadores,<br />
padre foi rezar missa de solidariedade e<br />
ação de graças no lugar), mas <strong>muito</strong>s membros <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> e sobretudo monitores tiveram um papel de<br />
destaque. Foi uma ação que <strong>se</strong> manteve como<br />
referência importante nas reuniões posteriores <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>, que viam com naturalidade essa iniciativa<br />
popular como uma ação própria.<br />
Diga-<strong>se</strong> também que tanto no <strong>se</strong>u nascimento<br />
quanto atual de<strong>se</strong>nvolvimento, os sindicatos rurais<br />
Capítulo Ili - 6<br />
estiveram estreitamente vinculados às <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong>ndo<br />
comum que hoje um monitor <strong>se</strong>ja ao mesmo<br />
tempo líder sindical".<br />
f: tal o envolvimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nesta ação,<br />
quer por meio de <strong>se</strong>us monitores, quer de <strong>se</strong>us<br />
membros, quer dos sindicatos rurais controlados<br />
por ela, que qua<strong>se</strong> não <strong>se</strong> compreende a ressalva<br />
do frade <strong>se</strong>rvita de que não <strong>se</strong> tratou de "um<br />
empreendimento organizado a partir <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>".<br />
A ressalva parece ter um caráter meramente formal.<br />
Entretanto, ao fazê-la, Frei Clodovis deixa<br />
vazar um dado de extrema importância para <strong>se</strong><br />
compreender toda a agitação rural, não só no<br />
Acre, mas em muitas outras partes do Brasil<br />
trabalha<strong>das</strong> pela CPT e <strong>se</strong>us agentes pastorais: os<br />
sindicatos rurais, tanto no <strong>se</strong>u nascimento, como<br />
no <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>nvolvimento, estão estreitamente vinculados<br />
às <strong>CEBs</strong> e é comum que o monitor <strong>se</strong>ja ao<br />
mesmo tempo líder sindical.<br />
No <strong>se</strong>u citado livro sobre as <strong>CEBs</strong> dei Acre, ao<br />
descrever um treinamento de monitores, Frei C.<br />
Boff acrescenta alguns dados sobre esta ação:<br />
"Havia entre os monitores de Brasiléia gente<br />
que tinha participado do 'mutirão contra a jagunçada'.<br />
Eles contaram o fato dizendo: 'Fomos lá<br />
cortar a cabeça da cobra porque o rabo já estava <strong>se</strong><br />
mexendo por aqui'.<br />
Com figuras assim, o povo mostra que enxerga:<br />
enxerga que existe um sistema de exploração.<br />
Que <strong>se</strong> tem problema de terra em Boca do Acre,<br />
ele está ligado ao problema da terra no outro lado,<br />
aqui em Brasiléia".<br />
O "povo" estará realmente "enxergando" por si<br />
mesmo o "sistema de exploração", ou <strong>se</strong>rão os<br />
agentes pastorais "conscientizadores" que o estarão<br />
fazendo "ver"?<br />
Seja como for, <strong>se</strong>m a existência de uma organização<br />
como o movimento <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> por trás dos<br />
197
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
lavradores e <strong>se</strong>ringueiros do Acre, não <strong>se</strong>ria possível<br />
toda essa articulação entre gente de pontos tão<br />
distantes, como Boca do Acre, no Estado do<br />
Amazonas, junto à confluência dos Rios Acre e<br />
Purus, e Brasiléia, "do outro lado", como diz Frei<br />
Clodovis, na fronteira com a Bolívia. E menos<br />
ainda <strong>se</strong> explicariam es<strong>se</strong>s deslocamentos tão freqüentes<br />
de pessoas de <strong>pouco</strong>s recursos, de um<br />
extremo ao outro da Prelazia de D. Moacir Grechi,<br />
para empreender "mutirões contra a jagunçada"<br />
e "operações pega-fazendeiro".<br />
Mas não ficam por aí os casos de tropelias e<br />
violências praticados por membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> a<br />
creanas, com os <strong>quais</strong> Frei C. Boff brinda os<br />
leitores da "REB":<br />
"3. 0 caso: 'Operação pega-fazendeiro II'<br />
Es<strong>se</strong> cc.so <strong>se</strong> passou perto do último Natal<br />
[1979], no <strong>se</strong>ringai "Nova Empresa", não longe de<br />
Rio Branco. A situação <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntava aí como<br />
mais um caso de ameaça de expulsão da terra<br />
contra algumas dezenas de famílias pos<strong>se</strong>iras naquela<br />
área. Depois_ de o 'paulista' ter destruído e<br />
até queimado várias casas dos lavradores, es<strong>se</strong>s<br />
não suportaram mais. Uns cinqüenta deles <strong>se</strong> uniram,<br />
<strong>se</strong> armaram e <strong>se</strong> dirigiram à casa do patrão<br />
para prendê-lo a ele e a <strong>se</strong>us capangas. Estes,<br />
tendo-o percebido em tempo fugiram . Os lavradores<br />
crivaram de balas a casa do 'paulista' rebentaram-na<br />
toda por dentro, mas a deixaram ainda<br />
em pé. Depois foram até a casa de um dos pistoleiros<br />
e a colocaram abaixo. Tendo vindo da capital<br />
um destacamento da polícia, comandado pelo<br />
próprio Secretário de Segurança, entregaram-<strong>se</strong><br />
pacificamente, convencidos da justiça da sua causa.<br />
Efetivamente três dias depois voltaram para<br />
suas casas, mas já agora decididos a colocar a<br />
questão da terra em pratos limpos com o 'paulista'<br />
que, para salvar a pele, achou por bem ceder.<br />
Esta ação foi uma iniciativa de lavradores que<br />
na sua maioria qua<strong>se</strong> absoluta era gente <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>.<br />
Foi, aliás nas reuniões <strong>das</strong> mesmas que aqueles<br />
campone<strong>se</strong>s <strong>se</strong> tinham decidido por aquela operação<br />
. .... O próprio 'paulista' entendeu que aquela<br />
ação surgia direta do trabalho pastoral da Igreja e<br />
ele também, foragido que estava, veio procurar o<br />
vigário pedindo proteção, contra os pos<strong>se</strong>iros que<br />
não tinham ainda desistido dele ... "<br />
Estranha situação esta em que um cidadão<br />
brasileiro "para salvar a pele" é obrigado a pedir<br />
proteção ... ao Vigário! Não há de <strong>se</strong>r <strong>muito</strong> diferente<br />
da do Irã do aia to lá Komeini ... a não <strong>se</strong>r<br />
num ponto: lá o "clero" xiita tomou formalmente<br />
o poder. ..<br />
O último caso relatado por Frei C. Boff na<br />
"Revista Eclesiástica Brasileira" revela um grau de<br />
organização e de coordenação, como também um<br />
"enquadramento" dos "lavradores e ex-lavradores",<br />
que dão que pensar:<br />
"4. 0 caso: A invasão da área relativa ao projeto<br />
de as<strong>se</strong>ntamento 'Pedro Peixoto'<br />
O que estava em questão era uma vasta área<br />
(uns 300 milha) que estava destinada pelo Governo<br />
à colonização. Como o projeto tar<strong>das</strong><strong>se</strong> a <strong>se</strong>r<br />
implantado, alguns grandes fazendeiros <strong>se</strong> apropriaram<br />
daquela área e começaram a explorá-la<br />
por conta, inclusive com a anuência de gente do<br />
Governo. Diante da impassibilidade do INCRA,<br />
um bom grupo de lavradores <strong>se</strong>m terra ou exlavradores<br />
<strong>das</strong> periferias da capital, <strong>muito</strong>s dos<br />
<strong>quais</strong> membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>se</strong> reuniu só na ba<strong>se</strong> da<br />
boca para o ouvido e, com o apoio e enquadramento<br />
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de<br />
Rio Branco e da Comissão Pastoral da Terra<br />
decidiu invadir aquela terra e aí <strong>se</strong> estabelecer.<br />
Mais de 100 homens munidos de facões, numa<br />
primeira tentativa, na véspera do Nataf. não con-<br />
198
Parte li<br />
<strong>se</strong>guiram penetrar na área. A operação era por<br />
demais vistosa e já tinha despertado a atenção dos<br />
grileiros e em <strong>se</strong>guida do próprio Governo que<br />
interveio policia/mente e impediu em tempo aquela<br />
invasão. Aí os lavradores e ex-lavradores fizeram<br />
um recuo estratégico para permitir cair as<br />
suspeitas e, logo após o Natal, de maneira inapercebida,<br />
em pequenos grupos, entraram na área,<br />
abrindo assim, caminho para outros. Deste modo<br />
consumaram, sob os olhos <strong>das</strong> autoridades a<br />
ocupação da terra".<br />
Cap ítulo Ili - 6<br />
É de surpreender que tal processo de violência,<br />
armada ou não, acabe por provocar vítimas fatais,<br />
tanto do lado dos proprietários e "grileiros", quanto<br />
do dos lavradores conscientizados pelas <strong>CEBs</strong>?<br />
É precisamente o que <strong>se</strong> tem dado, conforme <strong>se</strong><br />
verá a <strong>se</strong>guir, na apre<strong>se</strong>ntação de outros incidentes<br />
ocorridos no Acre.<br />
Antes, porém, convém recordar que Frei Clodovis<br />
Boff considera os casos que narra como<br />
exemplos da 'forma concreta que toma a fé em<br />
termos de mobilização libertadora". Em outros<br />
Francisco Julillo, fundador <strong>das</strong> famigera<strong>das</strong> Ligas Camponesas da época de Jango, em carta a D. Helder Câmera,<br />
chama as <strong>CEBs</strong> de "admiráveis". O ex-deputado (que nessa mesma carta <strong>se</strong> declara marxista e manifesta entusiasmo<br />
pelo revolucionério comunista vietnamita Ho Chi Mine por Sandino). tem muita razão para admirar as Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>: as "operações pega-fazendeiro" promovi<strong>das</strong> por elas. estão criando no campo brasileiro um clima de<br />
in<strong>se</strong>guranç-'\ e de revolta <strong>se</strong>melhante ao que ele insuflou com suas Ligas naqueles conturbados dias que precederam a<br />
Revolução de 1964 ...<br />
199
termos: as tropelias e violências promovi<strong>das</strong> pelas<br />
<strong>CEBs</strong> no Acre são decorrência de uma motivação<br />
religiosa. Daí a sua radicalidade.<br />
Monitor de CEB e dirigente<br />
sindical é morto e vingado<br />
Em 1979, um grupo de 94 <strong>se</strong>ringueiros impediu<br />
a derrubada de alguns alqueires de mata nas terras<br />
de Nilo Sérgio de Oliveira, em Brasiléia, na fronteira<br />
com a Bolívia. Algum tempo depois, o presidente<br />
do sindicato rural local, Wilson Pinheiro de<br />
Souza, também monitor de CEB, era assassinado.<br />
Para os companheiros da vítima, havia apenas um<br />
culpado: o fazendeiro Nilo Sérgio.<br />
Dias depois da morte de Wilson Pinheiro, no<br />
domingo, 27 de julho, realizou-<strong>se</strong> em Brasiléia<br />
uma reun_ião dos sindicatos de trabalhadores rurais<br />
de Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri, Sena<br />
Madureira e Boca do Acre (AM), com a pre<strong>se</strong>nça<br />
de Jacob Bittar e Luiz Inácio da Silva, Lula.<br />
Segundo o Secretário de Segurança, houve "pronunciamentos<br />
quentes" durante a reunião com a<br />
pre<strong>se</strong>nça de cerca de 600 pessoas.<br />
Um dia depois, Nilo Sérgio foi morto por um<br />
grupo de <strong>se</strong>ringueiros armados na rodovia que liga<br />
Brasiléia a <strong>As</strong>sis Brasil...<br />
Algum dia talvez <strong>se</strong> chegue a esclarecer todo<br />
es<strong>se</strong> assunto e a estabelecer a autoria e a responsabilidade<br />
por ambos os crimes. Isto, contudo,<br />
compete à Polícia e à Justiça. O pre<strong>se</strong>nte trabalho<br />
tem por objetivo apenas mostrar a atuação <strong>das</strong><br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, na <strong>se</strong>lva, no campo<br />
e na cidade.<br />
Por essa razão, apre<strong>se</strong>ntam-<strong>se</strong> aqui alguns<br />
dados sobre o malogrado sindicalista assassinado,<br />
promotor, aliás, de uma <strong>das</strong> operações antes descrita<br />
por Frei Clodovis ("2. 0 caso: 'Mutirão contra<br />
"Terra e guerra", é como um <strong>se</strong>manário paulistano de<br />
centro-esquerda <strong>se</strong> refere aos conflitos no campo: em<br />
que medida as "operações pega-fazendeiro", promovi<strong>das</strong><br />
pelas <strong>CEBs</strong>, estão na origem ou de<strong>se</strong>nvolvimento<br />
nessa "guerra'?<br />
a jagunçada'"). Quem os fornece é o mesmo Frei<br />
Clodovis Boff, que o conheceu nos encontros de<br />
treinamento de monitores de <strong>CEBs</strong>, e está contida<br />
no livro já referido:<br />
"No treinamento de Brasiléia, no começo de<br />
dezembro [ de 1979), impressionou-me a convicção<br />
que o Wilson mostrou dando <strong>se</strong>u depoimento. Foi<br />
depois que o Centro de Defesa dos Direitos Humanos<br />
tinha passado uns diapositivos <strong>fala</strong>ndo da<br />
situação dos direitos humanos básicos no Acre:<br />
terra, <strong>se</strong>gurança, escola, casa. Na discussão que <strong>se</strong><br />
<strong>se</strong>guiu, o <strong>se</strong>nhor Wilson dis<strong>se</strong>:<br />
Estamos lutando há quatro anos no Sindicato<br />
de Brasiléia. Mas tem ainda <strong>muito</strong> trabalhador<br />
200
Parte 1/<br />
"Nós já sublinhamos que na América Latina<br />
e em qua<strong>se</strong> todos os paí<strong>se</strong>s subde<strong>se</strong>nvolvidos, o<br />
campo é que, nas condições atuais, constitui o<br />
terreno de luta ideal; dessa forma, a ba<strong>se</strong> <strong>das</strong><br />
reivindicações sociais que o guerrilheiro deve<br />
levantar <strong>se</strong>rá a mudança de estruturas da propriedade<br />
agrária. A luta deve de<strong>se</strong>nvolver-<strong>se</strong>,<br />
pois, continuamente sob a bandeira da Reforma<br />
Agrária" (Ernesto "Che" Guevara, Oeuvres<br />
J - Textes militaires, François Maspero, Paris,<br />
1976, pp. 52-53).<br />
que i contra o sindicato dele. Então, a culpa da<br />
opressão do trabalhador é também do próprio<br />
trabalhador. Quando tem problema de terra, o<br />
pessoal recorre ao Sindicato. Então nós temos por<br />
princípio empatar a venda da terra. Mas o pos<strong>se</strong>iro<br />
cede. Ele vende a terra. Vem para a cidade e<br />
depois volta querendo de novo a pos<strong>se</strong> da terra.<br />
Para Boca do Acre, contra a jagunçada, levamos<br />
73 homens. .. .. Nós fomos e voltamos com a<br />
vitória. O que eu não canso de dizer é isso: O<br />
próprio trabalhador é responsável de sua miséria.<br />
Ando dia e noite por to<strong>das</strong> as colocações (área de<br />
exploração entregues a um <strong>se</strong>ringueiro) dando<br />
explicação para o trabalhador .. .. '<br />
Capítulo Ili - 6<br />
E o Wilson teve o destino de Jesus e de todos<br />
os profetas - pros<strong>se</strong>gue Frei Clodovis. Os grandes<br />
jornais do Brasil do mês passado ljulho de 1980)<br />
noticiaram o assassinato de Wilson pelos fazendeiros.<br />
Noticiaram também que, por demora da<br />
justiça, os companheiros do mártir não tiveram<br />
paciência: fizeram justiça com suas próprias mãos<br />
- mataram o que eles consideravam o responsável<br />
daquela morte. Agora está no Acre a Comissão<br />
Justiça e Paz dos Bispos do Brasil (CNBB) para<br />
acompanhar de perto os fatos".<br />
Deixando de lado qualquer outra consideração<br />
que o texto possa sugerir, é de estranhar a facilidade<br />
com que o mentor de <strong>CEBs</strong> atribui a este<br />
ou aquele grupo ou pessoa a responsabilidade pela<br />
morte do dirigente sindical e monitor de <strong>CEBs</strong>,<br />
<strong>se</strong>m esperar pela conclusão dos inquéritos competentes.<br />
Da mesma forma, causa espécie a pressa do<br />
frade em justificar "os companheiros do mártir":<br />
"por demora da justiça", eles "não tiveram paciência"<br />
e "fizeram justiça com suas próprias mãos".<br />
Basta uma simples verificação de datas para constatar<br />
que a vingança dos companheiros de Wilson<br />
não <strong>se</strong> deveu à "demora da justiça": o sindicalista<br />
foi morto no dia 21 de julho de 1980; a reunião dos<br />
sindicatos à qual compareceu Lula foi no dia 27 do<br />
mesmo mês; o assassínio do fazendeiro Nilo Sérgio<br />
ocorreu no dia <strong>se</strong>guinte, 28. Ou <strong>se</strong>ja, uma<br />
<strong>se</strong>mana apenas depois da morte de Wilson.<br />
Ref erências: FREI Cwoov1s BoFF, Deus e o Homem no Inferno<br />
Verde, Vozes, Petrópolis, 1980, pp. 44. 81-82; IDEM, <strong>CEBs</strong> e<br />
Práticas de übertação, in "Revista Eclesiástica Brasileira",<br />
dezembro 1980, pp. 600-603; CARLOS ALBERTO LIB ÃN IO CH RISTO<br />
(FR EI BETo), O Canto do Galo - Relatório Pastoral de u:na<br />
visita à Prelazia de Acre e Purus, SPAR, Goiânia, 1977;<br />
"SEDOC", outubro 1976, col. 442 e maio 1980, col. 1145; "Folha<br />
de S. Paulo", 29-7-79; "Jornal do Brasil", 24-8-80.<br />
201
Reivindicar... Tensiona . . . Conscientizar ...<br />
Para conduzir os ,membros <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> ao marxismo na prática<br />
,,.<br />
E NA CHAMADA "periferia" <strong>das</strong> grandes cidades<br />
que a ação reivindicativa e de protesto de<br />
caráter político empreendida pelas <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolve<br />
de maneira mais intensa, porém qua<strong>se</strong> impalpável.<br />
Agentes pastorais bem treinados (Padres, freiras,<br />
leigos) instalam-<strong>se</strong> junto às sofri<strong>das</strong> populações<br />
dos bairros periféricos e aproveitam-<strong>se</strong> <strong>das</strong><br />
carências locais para atrair, mobilizar e conscientizar<br />
os moradores. A partir de problemas muitas vezes<br />
reais, mas <strong>se</strong>mpre exagerados e tratados de modo<br />
tensionante, vão criando um clima de descontentamento<br />
generalizado, de revolta e de luta de clas<strong>se</strong>s.<br />
Por -toda a parte, es<strong>se</strong>s agentes vão suscitando<br />
movimentos reivindicatórios, ou encampando os<br />
já existentes, conferindo-lhes uma nota política e<br />
ideológica antes desconhecida.<br />
Mas essa politização dos movimentos reivindicatórios<br />
não começou desde logo por uma pregação<br />
doutrinária: partiu de problemas que tocam<br />
diretamente o homem comum, que dizem respeito<br />
à sua vida de todos os dias, às suas aspirações mais<br />
imediatas, ou antes, às suas necessidades mais<br />
prementes.<br />
Essa movimentação toda <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nas "periferias"<br />
e nas favelas não tem por finalidade última<br />
202<br />
resolver problemas concretos de injustiças ou carências<br />
reais, mas sim, aglutinar, conscientizar e<br />
mobilizar a população, e ao mesmo tempo mostrar<br />
a falência do sistema e promover a sua derrocada.<br />
Não que neste ou naquele caso o objetivo visado<br />
não <strong>se</strong>ja de fato o atendimento de determinada<br />
reivindicação concreta: as <strong>CEBs</strong> têm necessidade<br />
de algumas vitórias, até por razões de credibilidade<br />
(uma atuação que nunca leva a nada desmoraliza<br />
qualquer movimento). Mas essa não é a<br />
finalidade principal, como salienta D. Angélico<br />
Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São Paulo<br />
e mentor de <strong>CEBs</strong> na Arquidioce<strong>se</strong>: " Toda reivindicação,<br />
mesmo aquela que não dá certo, é uma<br />
etapa importante na conscientização do povo".<br />
O importante é, portanto, reivindicar. Reivindicar<br />
<strong>se</strong>mpre e por toda a parte, mesmo que não dê<br />
certo: a luta comum ajuda a criar a "consciência de<br />
clas<strong>se</strong>", explica o marista gaúcho Irmão Antonio<br />
Cechin, coordenador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> da Arquidioce<strong>se</strong><br />
de Porto Alegre e mentor dos lavradores de Ronda<br />
Alta.<br />
Muitas vezes os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> pedem<br />
com urgência o que <strong>sabe</strong>m que não há recursos<br />
para <strong>se</strong> lhes dar logo. Ou pedem o impossível, para<br />
não <strong>se</strong>rem atendidos, e assim provocarem a revolta.
Parte ll<br />
Ademais, to<strong>das</strong> as reivindicações são acres,<br />
com um fundo de indignação o qual estoura em<br />
manifestações de protesto <strong>se</strong> não forem atendi<strong>das</strong>.<br />
Em outros termos, o processo reivindicatório<br />
conduz os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> à luta de clas<strong>se</strong>s e<br />
ao marxismo na prática, antes mesmo de eles<br />
conhecerem a doutrina marxista, como salienta<br />
Frei Clodovis Boff.<br />
Aliás, não é por acaso que o Partido Comunista<br />
Brasileiro atribui importante conteúdo político<br />
D . Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São<br />
Paulo: "Toda reivindicação. mesmo aquela que não dá<br />
certo. ajuda a conscientizar o povo ... ..<br />
Capitulo Ili - 7<br />
às reivindicações promovi<strong>das</strong> pelas <strong>CEBs</strong> nos bairros<br />
periféricos e nas favelas.<br />
Tais movimentos reivindicatórios e de protesto<br />
não devem, entretanto, <strong>se</strong>r considerados em si<br />
mesmos, isoladamente, em <strong>se</strong>us aspectos, por assim<br />
dizer, episódicos, mas devem <strong>se</strong>r in<strong>se</strong>ridos no<br />
contexto mais amplo da intensa ação política<br />
de<strong>se</strong>nvolvida pelo clero engajado, por meio <strong>das</strong><br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> e organizações<br />
auxiliares.<br />
Essa atuação constitui o que <strong>se</strong> costuma denominar<br />
"pressão de ba<strong>se</strong>", a qual <strong>se</strong> conjuga com a<br />
"pressão de cúpula", exercida pela CNBB, contra<br />
as instituições vigentes, em conformidade com a<br />
estratégia comunista aplicada em tantas nações,<br />
no <strong>se</strong>ntido de promover as reformas de estrutura<br />
(Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma da<br />
Empresa etc.), as <strong>quais</strong> conduzirão o País para um<br />
regime cada vez mais próximo da meta final: o<br />
socialismo autogestionário, última e mais radical<br />
etapa do comunismo.<br />
Seria cansativo passar em revista aqui toda<br />
essa movimentação <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, sobretudo nas periferias<br />
dos grandes centros urbanos, da qual a<br />
imprensa <strong>se</strong> ocupa largamente.<br />
Como <strong>se</strong> faz a "pressão de ba<strong>se</strong>"<br />
Alguns exemplos, tomados entre <strong>muito</strong>s, podem<br />
dar ao leitor uma idéia do clima emocional,<br />
de tensão e revolta em que é realizada essa "pressão<br />
de ba<strong>se</strong>". E de como fatos, muitas vezes realmente<br />
lamentáveis e dignos de reprovação, são<br />
instrumentalizados para efeitos de conscie ntização<br />
ou para exacerbar os ânimos e provocar a indignação.<br />
O que interessa ressaltar aqui não é o mérito<br />
<strong>das</strong> questões, mas a forma como as mesmas são<br />
conduzi<strong>das</strong>, e sua finalidade.<br />
203
A s <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhec~ -<br />
A TFP as descreve corno são<br />
• No bairro de Artur Alvim, um trem colheu<br />
um ônibus _que atravessava os trilhos, matando<br />
muitas pessoas. Fato trágico. Imediatamente realiza-<strong>se</strong><br />
manifestação junto aos trilhos, liderada pelo<br />
Bispo que atua na região, D. Angélico Sândalo<br />
Bernardino. Em meio a discursos e cartazes, D.<br />
Angélico propõe suspender to<strong>das</strong> as Missas, em<br />
um domingo, e convocar todo o povo para <strong>se</strong>ntar<strong>se</strong><br />
nos trilhos, caso não fos<strong>se</strong>m coloca<strong>das</strong> porteiras<br />
na passagem de nível. Foi dado à empresa ferroviária<br />
um prazo de 60 dias para o atendimento da<br />
reivindicação. Concomitantemente, membros da<br />
Comunidade fazem correr um abaixo-assinado<br />
<strong>As</strong> reivindicações promovi<strong>das</strong> ou encampa<strong>das</strong> pelas<br />
<strong>CEBs</strong> são conduzi<strong>das</strong> de modo a criar um clima de<br />
descontentamento e tensão. - Concentração diante da<br />
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.<br />
pelo bairro, exigindo a colocação <strong>das</strong> referi<strong>das</strong><br />
porteiras.<br />
• A questão da falta de água nas periferias de<br />
São Paulo - cidade que cresce numa velocidade<br />
vertiginosa - <strong>se</strong>rve de ocasião, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong> diria de<br />
pretexto, para manifestações promovi<strong>das</strong> pelas<br />
<strong>CEBs</strong>.<br />
- No Jardim Eliana, "200 moradores" promovem<br />
uma pas<strong>se</strong>ata-procissão, até a bica que fornece<br />
água. Rezam e cantam. Um dos cânticos tem a<br />
<strong>se</strong>guinte estrofe (inspirada em versos de D. Pedro<br />
Casaldáliga):<br />
"Somos povo, somos gente,<br />
somos o povo de Deus<br />
queremos água em casa<br />
só temos água na bica.<br />
Conhecemos a verdade<br />
e o direito de <strong>se</strong>r mais.<br />
Exigimos liberdade<br />
te, ra, casa, água e paz".<br />
A propósito da falta d'.água, por <strong>pouco</strong> não <strong>se</strong><br />
chegou ao slogan de Lênin: "Pão, paz e terra" ...<br />
O próprio <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />
Paulo reconhece que "o pequeno pas<strong>se</strong>io da comunidade<br />
não teria sido possível, <strong>se</strong>m a pre<strong>se</strong>nça de<br />
três <strong>se</strong>minaristas" que há quatro anos "participam<br />
<strong>das</strong> atividades da Paróquia do Grajaú, constituída<br />
de <strong>se</strong>te pequenas comunidades do Setor Interlagos".<br />
• No Jardim Romano, o estaqueamento prévio<br />
para uma obra de grande vulto, faz <strong>se</strong>car os<br />
poços da região. A situação é aflitiva. D. Angélico<br />
sobe na carroceria de um caminhão, flaoqueado<br />
por dois violeiros, para arengar o "povo".<br />
Afirma que é só o povo <strong>se</strong> reunindo que as .1utori-<br />
204
Parte II<br />
Capítulo III - 7<br />
• No Parque Cocaia, Santo Amaro, os "moradores"<br />
cantam, diante da Imobiliária, os mesmos<br />
versos de D. Casaldáliga cantados pelos habitantes<br />
do Jardim Eliana, a propósito da falta<br />
d'água, só que, mudado o pretexto, os outros<br />
versos, de circunstância, também são alterados:<br />
"Somos povo, somos gente,<br />
somos um povo de Deus,<br />
queremos nossas escrituras<br />
queremos nossos terrenos".<br />
"Tenho <strong>se</strong>dei" - exclamou Nosso Senhor no alto da<br />
Cruz. Este pungente brado do Divino Redentor é aplicado<br />
num <strong>se</strong>ntido todo material por membros de <strong>CEBs</strong> da<br />
Zona Leste de SIio Paulo, para protestar contra a falta<br />
de égua.<br />
dades atendem, que a greve é um exemplo disso e<br />
que o governo tem medo do povo reunido.<br />
• Na Vila Ré, um "Posto de Saúde" é a reivindicação.<br />
Os promotores dizem que lutam pelos<br />
<strong>se</strong>us direitos e afirmam que só os ricos são privilegiados.<br />
O povo da periferia não tem nada<br />
daquilo a que teria direito.<br />
- Outro problema que dá margem a uma série<br />
de "pequenas ações conscientizadoras" (a expressão<br />
é de D. Angélico), é o da irregularidade em<br />
loteamentos populares. De si, evidentemente, é<br />
odioso explorar o pobre em <strong>se</strong>us já parcos haveres.<br />
Mas a <strong>se</strong> levar em consideração unicamente a<br />
movimentação promovida pelas <strong>CEBs</strong>, em São<br />
Paulo não existiriam <strong>se</strong>não loteadoras inescrupulosas<br />
e fraudulentas.<br />
O ponto de encontro dos "moradores" foi o<br />
Centro Comunitário da Igreja Nossa Senhora <strong>das</strong><br />
Graças, <strong>se</strong>de da equipe do Pe. Mariano Baraglia,<br />
dedicada à formação de Comunidades de Ba<strong>se</strong> na<br />
Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo.<br />
• Dia 6 de março de 1979, parque do Ibirapuera:<br />
liderados pela deputada estadual Irma Passoni<br />
(a ex-Irmã Angélica, líder de <strong>CEBs</strong>), mais de<br />
mil favelados chegam ao gabinete do Prefeito para<br />
pedir a pos<strong>se</strong> de todos os terrenos ocupados por<br />
favelas. O prefeito recebe uma comissão de moradores<br />
e diz que não pode atender <strong>se</strong>u pedido. A<br />
deputada leva a notícia aos que ficaram fora do<br />
gabinete, e inicia-<strong>se</strong> o comício político. Alto<strong>fala</strong>ntes,<br />
discursos inflamados e apartes revoltados<br />
compõem o quadro de hostilidade ao alcaide<br />
paulistano. É acentuado o inconformismo dos<br />
favelados.<br />
Além da proposta de compra do lote onde têm<br />
barraco, com prazo de um ano para construir uma<br />
casa de blocos de cimento, com pagamento do<br />
terreno proporcional aos vencimentos de cada<br />
família, pediram também a instalação de rede de<br />
água e esgoto, luz, policiamento, canalização de<br />
córregos, creche, uma escola e a criação de um<br />
posto de saúde. Os favelados, quando de<strong>se</strong>mbar-<br />
205
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
caram no pátio, em frente do gabinete do prefeito,<br />
foram informados que apenas <strong>se</strong>ria recebida uma<br />
comissão. Contrariados por não poderem <strong>se</strong> reunir<br />
com o prefeito, os favelados decidiram pedir,<br />
através de <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes, que o prefeito fos<strong>se</strong><br />
até eles para prestar os esclarecimentos sobre as<br />
reivindicações. O Chefe do Executivo municipal<br />
não cedeu a essa pressão, mas recebeu os vereadores<br />
e parlamentares que acompanhavam os favelados,<br />
e os repre<strong>se</strong>ntantes destes, e apre<strong>se</strong>ntou<br />
algumas soluções aos pedidos feitos, explicando a<br />
impossibilidade de atender a tudo. A resposta<br />
desagradou os "faveleiros".<br />
O incidente denuncia o modo de agir característico<br />
<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>: exigência de<br />
que a autoridade receba diretamente <strong>se</strong>us membros<br />
ou compareça às concentrações que promovem;<br />
apre<strong>se</strong>ntação de reivindicações impossíveis<br />
de <strong>se</strong>rem atendi<strong>das</strong>, quer pela sua natureza, quer<br />
pelo <strong>se</strong>u número, quer pela falta de recursos; com<br />
isso, os dirigentes criam entre as "ba<strong>se</strong>s", ingênuas<br />
e fáceis de <strong>se</strong>rem manipula<strong>das</strong>, <strong>se</strong>ntimentos de<br />
frustração e revolta contra o poder constituído, o<br />
qual é acusado pelos mentores do movimento de<br />
<strong>se</strong>rem surdos aos "pequenos", aos "oprimidos", só<br />
dando ouvido às exigências dos "grandes", dos<br />
"ricos", dos "poderosos".<br />
Referências: Livros: P AUL SI NGER, Movimentos de bairro, in<br />
PAUL SI NGER E VINICIUS C ALDE IRA BRANDT (org.), São Paulo: o<br />
povo em movimento, Editora Vo zes-CEBRAP, 1980, p. 91 ;<br />
IR MÃO ANTON IO CECHIN, A cateque<strong>se</strong> nas comunidades eclesiais<br />
de ba<strong>se</strong>, in D. ADRIANO HIPÓLITO E OUTROS, Pastoral popular<br />
libertadora, Escola Superior de Teologia São Lourenço de<br />
Brindes, Porto Alegre, 1981 , p. 124; COLETIVO NACIONAL DE<br />
DIRIGENTES COMU NISTAS, Te<strong>se</strong>s para um debate nacional de<br />
comunistas pela legalidade do PCB, Editora Juruá, São Paulo,<br />
1981, pp. 92-93. Artigos e notícias: FREI BETo, Da prática da<br />
pas1oral popular, in "Encontros com a Civilizaçã o Brasileira",<br />
agosto 1978, pp. 105- 106; ARQUIDIOC ESE DE s. P AULO - R EG IÃO<br />
EPI SCOPAL DE SÃO MIGUEL, O povo <strong>se</strong> organiza caminhando -<br />
<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de Comunidades, 1981 , mimeografado; FREI CL0-<br />
oov1s BoFF OSM, A influência po/í1ica <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>), in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979, col.<br />
816; "Boletim <strong>das</strong> Porteiras", mimeografado; "Brasil Mulher",<br />
novembro de 1978, p. 5; "Movimento", 12-5-80, p. 11 ; "Veja",<br />
29-12-76, pp. 30-31; "Folhetim" n. 0 106, 28-1-79, p. 4; "Jornal<br />
do Brasil", 14-5-78 ; "Folha de S. Paulo", 14 e 23-4-79; 29-6-81.<br />
"O Estado de S. Paulo", 8 e 22-3-79; 3-4-82. "O São Paulo", 25-6-<br />
77, p. 10; 2-7-77, p. I; 10-7-77, p. 1; 16-7-77, pp. 4-5 ; 27-8-77,<br />
p. 2; 3-9-77, pp. J , 8 e 10; 22-10-77, p. 10; 29-10-77, p. 8;<br />
31-12-77, p. 5; 15-7-78, p. 5; 6-1-79, p. 5; 24-4-81 , p. 4.<br />
A "máquina" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong> <strong>se</strong>rve também dos favelados para pressionar as autoridades. Na foto, concentração diante<br />
da Prefeitura de Sl o Paulo: o cartaz improvisado (cheio de erros - propositais? - de português) contrasta com a<br />
faixa confeccionada de acordo com os melhores padrões técnicos do gênero.
A DEPUTADA estadual Irma Passoni (PT),<br />
<strong>fala</strong>ndo na Universidade Metodista de Piracicaba,<br />
em março de 1981, sobre sua atuação nas <strong>CEBs</strong> da<br />
Zona Sul de São Paulo, fez a <strong>se</strong>guinte confissão:<br />
"Temos organizado, muitas vezes, invasões aterrenos<br />
do IAPAS porque os favelados não têm mais<br />
onde construir". Me<strong>se</strong>s depois, D. Angélico Sândalo<br />
Bernardino, Bispo da Zona Leste de São<br />
Paulo, afirmava <strong>se</strong>r preciso que, mediante a organização<br />
do povo, "a terra que foi roubada do<br />
povo, e está nas mãos de <strong>pouco</strong>s, pas<strong>se</strong> a <strong>se</strong>r pos<strong>se</strong><br />
de todos, <strong>se</strong>ja através da legitimação, <strong>se</strong>ja através<br />
da invasão de terrenos pertencentes ao governo".<br />
Tanto o Bispo Auxiliar de São Paulo, como a<br />
deputada, ambos corifeus do movimento <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, são taxativos ao afirmar<br />
que <strong>se</strong> deve invadir, e que já <strong>se</strong> estão invadindo<br />
terrenos urbanos. E D. Angélico, lembrando<br />
Marx e Proudhon, explica a razão: fazer com<br />
que a terra que "foi roubada do povo e está nas<br />
mãos de <strong>pouco</strong>s, pas<strong>se</strong> a <strong>se</strong>r pos<strong>se</strong> de todos". Ou<br />
<strong>se</strong>ja, instaurar o socialismo coletivista. Promover<br />
uma Reforma Urbana radical.<br />
A espetacular ocupação da Fazenda ltupu, de<br />
propriedade do IAPAS, no bairro Alto da Riviera,<br />
Zona Sul de São Paulo, ilustra bem a atuação<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> nas invasões de terrenos urbanos.<br />
lnvasiles na Zona Sul de SIio Paulo:<br />
"organização caprichada"<br />
Embora a invasão da área de 28 alqueires,<br />
próxima à Represa Guarapiranga, Zona Sul de<br />
São Paulo, no dia 6 de <strong>se</strong>tembro de 1981, não<br />
tenha sido a primeira <strong>das</strong> ocupações de terrenos<br />
promovi<strong>das</strong> pelas <strong>CEBs</strong> na capital paulista, foi<br />
<strong>se</strong>m dúvida a mais espetacular. A antiga Fazenda<br />
ltupu foi durante dias palco de um <strong>muito</strong> bem<br />
montado show ou ação de guerra psicológica,<br />
destinado a impressionar o País: os "carentes",<br />
levados pelo de<strong>se</strong>spero, invadiram áreas "abandona<strong>das</strong>",<br />
procurando solucionar por conta própria<br />
um dos mais angustiantes problemas urbanos - o<br />
da moradia -, que uma sociedade falida não<br />
podia ou não queria resolver.<br />
Segundo declarações do diretor do DEOPS<br />
paulista à imprensa, a invasão da Fazenda Itupu<br />
foi decidida e planejada em uma série de reuniões<br />
realiza<strong>das</strong> durante me<strong>se</strong>s na Sociedade dos Amigos<br />
do Alto Riviera e nas Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong>, com a participação, entre outros, de<br />
Padres Oblatos de Maria Imaculada (norte-americanos);<br />
de Frei Airton Pereira da Silva, dominicano;<br />
dos deputados Aurélio Perez (PMDB) e<br />
207
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Irma Passoni (PT) e do vereador Benedito Cintra<br />
(PMDB).<br />
Os Padres James Gibbons (superior provincial<br />
dos Oblatos) e John Drexel negaram o envolvimento<br />
de sua Congregação com a invasão, mas<br />
admitiram que a proposta de invasão havia sido<br />
levantada em reunião de uma Comunidade Eclesial<br />
de Ba<strong>se</strong> da região, tendo sido "totalmente<br />
refutada" (sic).<br />
Numa última reunião, com os mesmos participantes,<br />
dois dias antes da invasão, os pormenores<br />
da operação foram acertados. É de um <strong>se</strong>manário<br />
pauiista o relato abaixo:<br />
"Dois dias antes, um grupo bem menor, cerca<br />
de vinte pessoas, havia realizado um outro encontro,<br />
entre quatro paredes, na <strong>se</strong>de da Sociedade<br />
Amigos do Alto da Riviera - região do bairro<br />
onde está situada a fazenda -, para planejar a<br />
invasão. Todos os detalhes foram considerados ali.<br />
O es<strong>se</strong>ncial era formar, antes de tudo, uma comissão<br />
coordenadora do movimento. Ou <strong>se</strong>ja, um<br />
grupo que <strong>se</strong> encarregas<strong>se</strong> de espalhar pelo bairro<br />
a falsa notícia de que a Prefeitura estava doando<br />
terras ali perto; outro que arregimentas<strong>se</strong> voluntários<br />
para o trabalho braçal (preparar o loteamento);<br />
mais um para organizar e dirigir as as<strong>se</strong>mbléias<br />
diárias dos pos<strong>se</strong>iros; e, finalmente, uma<br />
turma que cui<strong>das</strong><strong>se</strong> para que ninguém abandonas<strong>se</strong><br />
completamente <strong>se</strong>u terreno - orientando os<br />
invasores para trazerem cobertores, lampiões e<br />
café para suportar as madruga<strong>das</strong>. Organização<br />
caprichada".<br />
Nessa mesma reunião ficou combinada uma<br />
concentração prévia no campo de futebol do bairro<br />
da Figueira Grande: de lá, cerca de 200 a 400<br />
pessoas, arma<strong>das</strong> de foices, facões, picaretas, enxa<strong>das</strong>,<br />
cavadeiras e muni<strong>das</strong> de trenas e outros<br />
apetrechos, deslocaram-<strong>se</strong> para a antiga fazenda<br />
do IAPAS. Os organizadores haviam já espalhado<br />
pela região a falsa notícia de que a Prefeitura ia<br />
doar terras da Fazenda ltupu (artifício, aliás, utilizado<br />
em várias outras invasões, não apenas em<br />
São Paulo), e que cada interessado deveria demarcar<br />
o <strong>se</strong>u lote. Os coordenadores do movimento foram<br />
levados ao campo de futebol num carro dos Padres<br />
Oblatos, os <strong>quais</strong>, juntamente com Frei Airton,<br />
respondem pela Paróquia de Vila Remo, próxima dali.<br />
Consumada a invasão, os dirigentes da operação<br />
(identificados por um grande crachá de cartolina<br />
branca, <strong>se</strong>m nomes, apenas com a inscrição<br />
"Comissão") começaram a orientar os invasores,<br />
por meio de as<strong>se</strong>mbléias, realiza<strong>das</strong> várias vezes<br />
por dia. Apesar do anonimato, a imprensa identificou<br />
como um dos mais ativos membros da<br />
"Comissão" o marido da deputada Irma, o professor<br />
Armelindo Passoni: "<strong>As</strong> operações de campo<br />
foram visivelmente comanda<strong>das</strong> por Arme/indo,<br />
que, munido de uma prancheta, .... trabalhava<br />
desde o rair do sol até o final da noite ca<strong>das</strong>trando<br />
pos<strong>se</strong>iros, espichando a fita métrica de uma<br />
trena para cima e para baixo, orientando todo o<br />
trabalho da 'comissão' ".<br />
Dias depois, D. Fernando Penteado, Bispo<br />
Auxiliar e Coordenador <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo,<br />
visitou a área invadida e ocupada.<br />
Os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni e o<br />
vereador Benedito Cintra negaram terem instigado<br />
a invasão, mas não desmentiram o <strong>se</strong>u apoio<br />
decidido aos invasores. Comentando a invasão,<br />
Aurélio Perez teve uma fra<strong>se</strong> enigmática: "O próximo<br />
passo é o saqueamento dos supermercados,<br />
pois o homem com f orne é uma fera".<br />
- Prognóstico ou ameaça?<br />
D. Angélico Sãndalo Bernardino considerou a<br />
invasão como um "gritante sinal q_ nos indicar que<br />
208
Parte II<br />
Capítulo III - 8<br />
o povo busca sua libertação". "Libertação", por<br />
meio da violência e invasões, com desprezo da<br />
ordem constituída, tem um nome: Revolução.<br />
No <strong>se</strong>xto dia da ocupação (11 de <strong>se</strong>tembro) foi<br />
efetuada a desocupação da gleba e a reintegração<br />
de pos<strong>se</strong> ao IAPAS, decreta<strong>das</strong> pela Justiça. A<br />
operação de despejo transcorreu <strong>se</strong>m incidentes,<br />
mas não <strong>se</strong>m desgaste para o Poder constituído,<br />
obrigado a mobilizar forte contingente policialmilitar<br />
(cerca de três mil homens da Polícia Militar,<br />
da Civil e da Federal) para garantir o cumprimento<br />
da decisão judicial.<br />
Uma <strong>se</strong>mana depois da desocupação judicial<br />
do terreno do IAP AS, cerca de 300 pessoas, lide-<br />
A ocupação da Fazenda do IAPAS, em São Paulo, foi um<br />
bem montado show de guerra psicológica revolucionária:<br />
"carentes", em de<strong>se</strong>spero, invadem áreas "abandona<strong>das</strong>".<br />
Um dos planejadores do lance teria sido Aurélio<br />
Pérez, deputado e animador de <strong>CEBs</strong> (foto menor).<br />
Armelindo Passoni, marido da deputada lrma, coordenou<br />
a operação (foto grande).
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
ra<strong>das</strong> pelos mesmos deputados Aurélio Perez e<br />
Irma Passoni e pelo vereador Benedito Cintra,<br />
concentraram-<strong>se</strong> diante da <strong>se</strong>de da Prefeitura de<br />
São Paulo, no Parque do lbirapuera, para "cobrar<br />
do prefeito a promessa de ceder uma área municipal<br />
para construção de nossas casas". Posteriormente<br />
o prefeito afirmou ter provas de que 80%<br />
des<strong>se</strong>s auto-intitulados "pos<strong>se</strong>iros da Fazenda ltupu",na<br />
realidade não haviam participado da invasão<br />
do terreno do IAP AS. Não passavam, pois, de<br />
meros figurantes de um novo show: os pobres<br />
"pos<strong>se</strong>iros" expulsos de "suas" terras, a pedir<br />
justiça ...<br />
Além disso, o prefeito apre<strong>se</strong>ntou fotografias<br />
para comprovar que vários dos manifestantes e<br />
ram os mesmos que no ano anterior tinham estado<br />
na Prefeitura para reivindicar creches. Entre estes<br />
achava-<strong>se</strong> Maria Saraiva, responsável pelo aluguel<br />
dos ônibus que levaram os manifestantes à Prefeitura,<br />
e que, ela sim, havia participado ativamente<br />
da invasão da Fazenda ltupu, usando inclusive<br />
megafone para dirigir a ocupação. Maria Saraiva,<br />
que liderou outras invasões na região, é <strong>das</strong> mais<br />
destaca<strong>das</strong> ativistas do Movimento Contra a Carestia,<br />
um dos "braços políticos" <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, que<br />
conta entre <strong>se</strong>us principais dirigentes precisamente<br />
os deputados Aurélio Perez e Irma Passoni.<br />
"reflexão" e discussão <strong>das</strong> Comunidades, em<br />
forma de celebração, com características de sociodrama,<br />
o caso da invasão de um terreno da<br />
Prefeitura, na Rua Monte Taó, patrocinada pelas<br />
próprias <strong>CEBs</strong>. O <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de<br />
São Paulo, de larga penetração nas Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, ocupou-<strong>se</strong> também do caso em várias<br />
reportagens.<br />
A invasão do terreno da Rua Monte Taó,<br />
Jardim Camargo Novo, Itaim Paulistá, não foi tão<br />
espetacular como as que vieram depois. Começou<br />
discretamente, em fins de maio de 1981: uma<br />
família, <strong>se</strong>guida depois de outras, instalou-<strong>se</strong> no<br />
terreno em questão. Um morador da rua, alegando<br />
<strong>se</strong>r proprietário da área, comunicou a invasão à<br />
Prefeitura e chamou a Polícia. Entram então em<br />
cena as Comunidades de Ba<strong>se</strong>, conforme o relato<br />
de "O São Paulo":<br />
Monte Ta6: as <strong>CEBs</strong> de São Paulo<br />
Invadem também n·a Zona Leste<br />
Na Zona Leste de São Paulo, as invasões de<br />
terrenos foram precedi<strong>das</strong> de "encontros" de<br />
Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, os <strong>quais</strong> tinham<br />
como roteiro o livrinho O povo <strong>se</strong> organiza<br />
caminhando, lançado pela Região Episcopal de<br />
São Miguel, cujo Bispo é D. Angélico Sândalo<br />
Bernardino. O livrinho apre<strong>se</strong>nta como tema de<br />
210
Parte li<br />
A invasão de terrenos<br />
na Zona Leste<br />
de Silo Paulo (na<br />
fot o da página precedente,<br />
invasores<br />
do Jardim Robru),<br />
foi preparada por<br />
encontro <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
da região. Ao lado,<br />
a cartilha que <strong>se</strong>rviu<br />
de roteiro para<br />
es<strong>se</strong> encontro.<br />
O POVO<br />
"Uma pessoa da Comunidade São Marcos, que<br />
ia passando pelo local, resolveu verificar o que<br />
estava acontecendo. <strong>As</strong>sim que constatou as violências<br />
que estavam <strong>se</strong>ndo sofri<strong>das</strong> pelas famílias,<br />
<strong>se</strong> dirigiu imediatamente ao salão da comunidade,<br />
e ali com outras pessoas pertencentes à comunidade<br />
resolveram apoiar as famílias despeja<strong>das</strong> e<br />
ainda fazer um levantamento de outras famílias<br />
em igual situação . .... Enquanto isso, uma comissão<br />
de 8 pessoas, entre as <strong>quais</strong> várias que também<br />
iriam invadir o terreno, relacionaram 20 famílias<br />
que estavam passando por gran-des dificuldades, e<br />
resolveram organizar um mutirão durante todo o<br />
dia e toda a noite do dia 13 / 06. E encerrar<br />
simbolicamente es<strong>se</strong> mutirão com uma celebração<br />
da qual participariam cerca de 30 comunidades de<br />
todo o Itaim Paulista . .... No mesmo dia a partir<br />
Capítulo Ili - 8<br />
de 15 hs começou o mutirão. Ele/oi noite adentro<br />
com o apoio de qua<strong>se</strong> to<strong>das</strong> as famílias da<br />
comunidade. .... O mutirão terminou com uma<br />
celebração no local no dia 14/06, do qual participaram<br />
cerca de 30 comunidades, que vinham até<br />
o local em caminhada com faixas e cartazes . ....<br />
Além <strong>das</strong> comunidades as famílias contaram com<br />
a pre<strong>se</strong>nça de D. Angélico, bispo da região, e da<br />
Deputada Irma Passoni".<br />
O livrinho destinado às <strong>CEBs</strong> da Região de<br />
São Miguel apre<strong>se</strong>nta o caso de Monte Taó como<br />
"a história da luta por um pedaço de terra e a<br />
opressão dos poderosos". E a compara com a<br />
"história do Servo Sofredor" (profecia de Isaías a<br />
respeito de Nosso Senhor Jesus Cristo), depois do<br />
que vêm as perguntas-insinuantes e as conclusões<br />
conscientizadoras: ·<br />
"O POVO SE ORGANIZA CAMINHANDO<br />
Animador: O que virá? Não <strong>se</strong> <strong>sabe</strong> ainda.<br />
Vão <strong>se</strong>r retirados do local? ·<br />
Vão vencer resistindo até o fim?<br />
Vão con<strong>se</strong>guir outro local para morar?<br />
Para enfrentar essa opressão, o povo está <strong>se</strong><br />
UNINDO e ADQUIRINDO EXPERIÊNCIAS<br />
NA ORGANIZAÇÃO à medida em que novas<br />
represálias e novas dificuldades surgem.<br />
Leitor: Em to<strong>das</strong> as i<strong>das</strong> às autoridades (Regional,<br />
Prefeitura, Delegacia, Cabes) uma COMIS<br />
SÃO <strong>se</strong> prepara junto com o pessoal para <strong>fala</strong>r e<br />
defender a posição de todos. Todos são responsáveis.<br />
Não <strong>se</strong> entrega ninguém. É a fome, a necessidade,<br />
a precisão que faz com que todos lutem por<br />
um pedaço de chão. Essa história nos ensina uma<br />
coisa <strong>muito</strong> séria e indispensável:<br />
TODOS: O POVO SE ORGANIZA CAMI<br />
NHANDO, ASSUMINDO E EXECUTANDO<br />
SUA MISSÃO!"<br />
211
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong>ja/a, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
E termina com o ítem: "Discuta com <strong>se</strong>us<br />
companheiros":<br />
"J. O nosso grupo e nossa Comunidade é<br />
solidária às lutas populares que acontecem no<br />
Brasil, em São Paulo, em nossa Região? Como<br />
apoiamos? ·<br />
2. O que a luta de MONTE TAÓ tem a nos<br />
ensinar?<br />
3. O que significa caminhar unidos e organizados?"<br />
Es<strong>se</strong> roteiro era destinado a preparar ás <strong>CEBs</strong><br />
da região de São Miguel para o Encontro Regional<br />
de Comunidades, a realizar-<strong>se</strong> em 20 de<br />
<strong>se</strong>tembro de 1981. Depois de <strong>se</strong>melhantes "reflexões"<br />
e "discussões", é de estranhar que em 1. 0 de<br />
outubro começas<strong>se</strong>m as invasões de terrenos na<br />
região?<br />
Terá sido por mera coincidência que, após as<br />
invasões em série de terrenos (além de São Paulo,<br />
o fato <strong>se</strong> repetiu nas principais capitais do País),<br />
no ano de 1981, a CNBB, em sua reunião plenária<br />
do começo do ano <strong>se</strong>guinte, tenha aprovado um<br />
documento pleiteando a Reforma Urbana?<br />
Referências: ARQUIDIOCESE DE GOIÂNIA - SECRETARIADO DA<br />
PASTORAL, Cartilha do pos<strong>se</strong>iro Urbano, 1980; "Tribuna Piracicabana"<br />
(Piracicaba-SP), 27-3-81; "Isto é", 16-9-81 ; "Folha<br />
de S. Paulo", 8 a 23-9-81; "Jornal do Brasil", 14-7, 7 e 8-9-81;<br />
"O Estado de S. Paulo", 9, 19, 22 e 30-9, 1-10-81; "O São<br />
Paulo", 3-7 e 28-8-81 ; "Brasil Reportagem", Ano 1, n. 0 2, 1979,<br />
pp. 36-37; ARQUIDIOCESE DE SÃO P AULO, Guia Geral 1980; R E<br />
GIÃO EPISCOPAL DE SÃO MIGUEL (Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo), o<br />
· povo <strong>se</strong> organiza caminhando, mimeografado, s.d.; "Isto é",<br />
16-9-81, pp. 21-23; "Jornal do Brasil", 7-9 e 8-9-81; "Folha de<br />
S. Paulo", 8-9, 11-9, 19-9 e 23-9-81 ; "O Estado de S . Paulo",<br />
. 19-9, 22-9, 23-9 e 30-9-81, 1-10-81 ; "O São Paulo", 13-7-81 ,<br />
p. 9 e 11-9-81.<br />
Mais um ato do show <strong>das</strong> invasões: para pre1111ionar as autoridades, invasores de terrenos urbanos <strong>se</strong> valem do<br />
titulo de "pos<strong>se</strong>iros".<br />
212
Parte /l Capítulo lll - 8<br />
Lições para ocupar a terra alheia -<br />
A ARQUIDIOCESE de Goiânia lançou u<br />
ma Cartilha do Pos<strong>se</strong>iro Urbano, a qual tem<br />
orie_ntado invasões de terrenos não só naquela<br />
capital, mas também em outras partes do Brasil<br />
(foi encontrada, por exemplo, entre os ocupantes<br />
da Vila dos Bancários, em Porto Alegre).<br />
A Cartilha parte do princípio <strong>se</strong>guinte: a<br />
Constituição brasileira estabelece que o salário<br />
mínimo deve <strong>se</strong>r suficiente para atender a to<strong>das</strong><br />
as necessidades do trabalhador, entre as <strong>quais</strong> a<br />
de moradia digna. Sempre que tal não acontecer,<br />
este tem o direi~o de procurar um terreno<br />
vazio e ali construir <strong>se</strong>u barraco, "crente que<br />
aquele terreno é de direito do trabalhador que<br />
faz a ri9ueza do Brasil". Criando a figura do<br />
"pps<strong>se</strong>iro urbano", a Cartilha afirma que o<br />
invasor de um terreno "abandonado" que nele<br />
construiu um barraco e fez outras benfeitorias<br />
não pode <strong>se</strong>r incomodado, pois "este é o maior<br />
documento que <strong>se</strong> torna até mais sagrado que o<br />
documento escriturado que ficou abandonado".<br />
Recomenda que qualquer "ato de violência ou<br />
tentativa de retirada dos moradores" <strong>se</strong>ja denunciado<br />
à Comissão Pastoral da Terra, aos<br />
jornais e à televisão. Acon<strong>se</strong>lha ainda a "procurar<br />
ajuda e solidariedade nas Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>, nas Igrejas e nas Paróquias".<br />
A Cartilha joga de modo ambíguo com os<br />
termos "desocupado", "vazio" e "abandonado"<br />
. . ... . '<br />
mais ou menos como smommos de "terra de<br />
A 11 Cartilha do pos<strong>se</strong>iro urbano,,<br />
ninguém". Uma <strong>das</strong> ilustrações, por exemplo,<br />
apre<strong>se</strong>nta um homem com um saco às costas<br />
dizendo à mulher: "Maria! Aquela terra está<br />
abandonada! Deve <strong>se</strong>r de ninguém. Vamos fazê<br />
o nosso barraco lá!?"<br />
Depois de explicar os casos em que o<br />
"pos<strong>se</strong>iro" pode <strong>se</strong>r despejado por ordem judicial,<br />
a Cartilha ensina: "Antes que chegue nesta<br />
situação, ainda há mais um recurso que é a<br />
força da união, capaz de mudar o rumo suspendendo<br />
o despejo, dando-lhe da pos<strong>se</strong> o<br />
direito através da desapropriação". Ou ·<strong>se</strong>ja<br />
ensina a resistir em grupo, gerando um foco ·d~<br />
tensão e pressionando as autoridades a promoverem<br />
a desapropriação do terreno por interes<strong>se</strong><br />
social, nos termos da legislação vigente.<br />
Para tal resistência, insiste na "união comunitária",<br />
na formação de comunidades e associações<br />
de moradores, as <strong>quais</strong> devem estudar<br />
em conjunto as propostas de acordo feitas pelos<br />
proprietários ou autoridades para desocupação<br />
da área invadida, e impedir acordos individuais.<br />
Todo o línguajar da Cartilha é eivado do<br />
espírito da luta de clas<strong>se</strong>s, apre<strong>se</strong>ntando <strong>se</strong>mpre<br />
o proprietário, o rico, como opressor, que quer<br />
aumentar <strong>se</strong>us lucros, engrossar <strong>se</strong>u capital pela<br />
exploração do pobre, do trabalhador.<br />
Referências: "Correio do Povo" e "Zero Hora" (Porto<br />
Alegre), 18 e 19-8-81; ARQUIDIOCESE DE GOIANIA- SECRETA<br />
RIADO DA PASTORAL, Cartilha do Pos<strong>se</strong>iro Urbano, 1980.<br />
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213
O Movimento Contra a 'Carestia, un1 dos<br />
"braços político ' <strong>das</strong> C EBs<br />
OS GRAVES distúrbios 4ue abalara~ Salvador<br />
nos me<strong>se</strong>s de agosto e <strong>se</strong>tembro do ano<br />
.. passado trouxeram de novo para as páginas dos<br />
, } jornais o nome de uma entidade nascida nas <strong>CEBs</strong><br />
/, ,;:._, da Zona Sul de São Paulo e que <strong>se</strong> espalhou por<br />
/ ,~
Parte li Capítulo Ili - 9
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, poucu sr conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
o quebra-quebra de velculos como forma de protesto foi debatido em reuniões de Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
Nas fotos, depredação de trens suburbanos e manifestação do Movimento Contra a Carestia, em São Paulo.<br />
em 1978, e que <strong>se</strong> constituiu numa <strong>das</strong> bandeiras<br />
da Oposição, <strong>se</strong>ndo que no pleito daquele ano<br />
foram eleitos diversos dirigentes do MCV: Irma<br />
Passoni e Marco Aurélio Ribeiro, a deputado<br />
estadual; Aurélio Perez, a deputado federal, todos<br />
pela sigla oposicionista (MDB).<br />
Es<strong>se</strong> abaixo-assinado teve ainda importante<br />
papel na deflagração e sustentação <strong>das</strong> greves<br />
de<strong>se</strong>ncadea<strong>das</strong> em São Paulo e no ABC, a partir<br />
de 1978.<br />
Por isso tudo, o Movimento do Custo de Vida<br />
- hoje Movimento Contra a Carestia - foi consi-<br />
derado por um comentarista como o principal dos<br />
"braços políticos" <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
Referências: "A Tarde", 22 e 23-8, 3, 4 e 22-9-81; "Correio da<br />
Bahia", 22-8-81; "Jornal da Bahia", I 1, 15, 21 e 22-8-81;<br />
"Tribuna da Bahia", 21 a 27-8, 15-9-81: "Jornal do Brasil", 23,<br />
26 e 27-8, 21-9-81; "Folha de S. Paulo", 22 a 27-8, 4-9-81;<br />
"O Estado de S. Paulo", 21 a 29-8, 4 e 5-9, 24-lú -81 ; "Veja", 9-<br />
9-81 , pp. 20-23; "Tribuna Operáric1", 29-9-8 I, p, 2; "Tribuna<br />
Piracicabana", 27-3-81; P. S1NGER E V. C. BR ANDT :org.), São<br />
Paulo: o povo em movimento, Vozes-CEBRAP, Pctrópohs<br />
S. Paulo, 1980, pp. 97-101 ; "O São Paulo", 10-5-79; "Isto é",<br />
22-3-78, pp. 8-1 I; 3-5-78, p. 24; 21-2-79, p. 23; "Cadernos do<br />
CEAS", <strong>se</strong>tembro-outubro 1978, p. 23.<br />
216
..<br />
••<br />
Função social, p orrete e faca ll'O•••<br />
PLINIO CORRtA DE OLIVEIRA<br />
1<br />
Dado o esquema especial de imposição <strong>das</strong> páginas<br />
do pre<strong>se</strong>nte volume, sobrava em branco um fólio. Constituía-<strong>se</strong><br />
assim, para a Editora, o minúsculo problema de<br />
aproveitar ou desperdiçar essas duas páginas em branco.<br />
Não há empresa de publicidade que perca qualquer<br />
ocasião para <strong>se</strong> dirigir ao público... Como aproveitá<br />
/a, então?<br />
-A solução <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntou à Editora desde logo, providencial.<br />
E simples como tantas vezes são as coisas<br />
da Providência.<br />
Com efeito, o mais recôndito background da demagogia<br />
sócio-econômica <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de<br />
Ba<strong>se</strong> está na deturpação de um ensinamento <strong>muito</strong><br />
verdadeiro da Doutrina da Igreja sobre a função social<br />
da propriedade. Publicar, pois, algo sobre essa def armação<br />
enriquece o pre<strong>se</strong>nte livro.<br />
No caso, enriquece-o especialmente por <strong>se</strong> tratar da<br />
transcrição de um luminoso artigo escrito pelo Prof<br />
Plinio Corrêa de Oliveira para a "Folha de S. Paulo"<br />
(12-8-82), contendo sobre o qssunto uma argumentação<br />
jamais apre<strong>se</strong>ntada até hoje - que saibamos.<br />
""<br />
A<br />
primeira vista, nada de mais simples, nem de<br />
mais claro: <strong>se</strong> A é proprietário de bens que lhe<br />
sobram, e B está em risco de vida porque lhe<br />
falta uma parcela des<strong>se</strong>s bens e, ademais, B não tem com<br />
o que pagar A, estabelece-<strong>se</strong> entre A e B uma situação<br />
conflitual. Pois o direito à vida de B entra em choque<br />
com o direito de propriedade de A. Qual dos direitos<br />
deve prevalecer? Evidentemente o de B, pois o direito<br />
que um homem tem à sua vida é preeminente em relação<br />
ao direito que outro tem à sua propriedade.<br />
Esta solução tão simples, que <strong>se</strong> prende à função<br />
social da propriedade, constituía matéria para investigações<br />
- obras-primas de subtileza e sansatez - dos<br />
moralistas católicos antigos. <strong>As</strong>sim, debatiam eles <strong>se</strong> a<br />
obrigação de A assistir a B pertencia aos deveres de<br />
caridade ou aos de justiça. Neste último caso, em que<br />
gênero de justiça <strong>se</strong> encaixavam: comutativa ou distributiva.<br />
E <strong>se</strong>ndo na distributiva, caso o beneficiário<br />
adquiris<strong>se</strong> posteriormente haveres que lhe sobras<strong>se</strong>m, <strong>se</strong><br />
era obrigado a reembolsar o benfeitor. Em qualquer<br />
eventualidade, ficaria B devendo gratidão a A, isto é,<br />
afeto, respeito, ajuda quando ocorres<strong>se</strong> o caso? E assim<br />
outras questões, algumas <strong>das</strong> <strong>quais</strong> nada simples, to<strong>das</strong><br />
<strong>muito</strong> importantes não só para a boa formação moral do<br />
católico mas também para o adequado relacionamento<br />
entre os homens.<br />
Exemplifico. Se alguém não tem como pagar moradia,<br />
e outrem tem casas de sobra, o <strong>se</strong>gundo deve<br />
franquear gratuitamente alguma habitação ao necessitado;<br />
ou <strong>se</strong> alguém não tem onde plantar, e outrem<br />
tem terras de sobra, este último deve facilitar<br />
as terras necessárias ao primeiro. "Franquear", "facilitar"?<br />
O que querem dizer exatamente es<strong>se</strong>s vocáde<br />
carência? Ou dar? Opino que, <strong>se</strong>mpre quando a<br />
situação de B possa <strong>se</strong>r remediada com um simples<br />
empréstimo, exigir a doação constitui autêntico abuso.<br />
Um <strong>pouco</strong> como S6, precisando de pão um indigente, o<br />
padeiro lhe tives<strong>se</strong> que dar a padaria, e não apenas o pão.<br />
Opino ainda que, podendo o indigente que consiga<br />
abastança reembolsar quem lhe cedeu o uso gratuito, ou<br />
a propriedade de algum bem, deve fazê-lo . E que, em<br />
qualquer caso, o beneficiário fica vinculado ao benfeitor<br />
pelos laços do respeito e da gratidão. Deve-lhe homenagem<br />
e assistência.<br />
• • •<br />
Bem entendido, assim não pensa a "esquerda católica".<br />
O carente deve ver em todo abastado um ladrão, o<br />
qual está indebitamente de pos<strong>se</strong> de algo daquilo a que o<br />
carente tem direito estrito. Pelo que, ao carente toca o<br />
..<br />
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direito de avançar pura e simplesmente - de porrete ou<br />
faca na mão, <strong>se</strong> fo r preciso - contra o abastado, e<br />
arrancar-lhe o necessário. Quem julga da quantidade e da<br />
qualidade des<strong>se</strong> necessário? h o carente. Tanto mais que<br />
ao lado dele está o berreiro demagógico da imprensa<br />
esquerdista e, <strong>muito</strong> frequentemente, o apoio ainda mais<br />
demagógico do bispo local. Berreiro e apoio <strong>se</strong>m os <strong>quais</strong><br />
o carente jamais ousaria empunhar a faca, ou o porrete .. .<br />
Do papel da caridade cristã para resolver pacificamente<br />
situações dessa natureza, a "esquerda católica"<br />
nada diz. Ou qua<strong>se</strong> nada. Da justiça comutativa, pela<br />
qual alguém deve pagar o que comprou, ou fornecer o<br />
que vendeu, e da distinção entre esta justiça e a distributiva,<br />
idem.<br />
Dos deveres de gratidão, de homenagem e de assistência<br />
do beneficiário, menos ainda. Ela pretende fulminar<br />
to<strong>das</strong> essas nobres obrigações com uma só injúria:<br />
"cheiram à I.dade Média".<br />
E, munida de uma noção assim empobrecida do que<br />
<strong>se</strong>ja a justiça social, a "esquerda católica" investe contra<br />
toda a ordem sócio-econômica vigente. Com gáudio, é<br />
bem claro, do PC, do PC do B, e de todo gênero de<br />
socialistas, utopistas ou terroristas.<br />
O mais curioso é que, assim procedendo, a "esquerda<br />
católica" não hesita em afirmar que tenta introduzir entre<br />
os homens a plena vigência dos princípios de igualdade e<br />
fraternidade, os <strong>quais</strong>, <strong>se</strong> olhados de certo ângulo, perdem<br />
o espírito subversivo que lhes deu a Revolução<br />
Francesa.<br />
Ora, é precisamente o contrário que <strong>se</strong> dá. Com sua<br />
justiça social falha de matizes, descabelada e agressiva, a<br />
"esquerda católica" não faz <strong>se</strong>não introduzir a escravidão<br />
entre os homens.<br />
Vamos aos fatos. Até aqui <strong>se</strong> considerou como atributo<br />
es<strong>se</strong>ncial do homem livre a escolha da profissão. E<br />
do lugar, bem como <strong>das</strong> condições em que essa profissão<br />
<strong>se</strong> haja de exercr.r. Consideremos, entretanto, uma região<br />
<strong>se</strong>rtaneja para onde tenham afluído <strong>muito</strong>s desbravadores.<br />
Ali faltam médicos. E de vez em quando alguém<br />
morre à míngua de tratamento. Ou ali faltam casas<br />
razoáveis, pois não há engenheiros nem mestres-de-obra.<br />
Ou, enfim, ali pululam os crimes, porque faltam advogados<br />
que promovam a defesa dos direitos genuínos. Nas<br />
regiões vizinhasJ pelo contrário, há fartura de médicos,<br />
advogados e engenheiros. Em con<strong>se</strong>quência, dá-<strong>se</strong> um<br />
choque entre o direito à vida, à moradia condigna e à<br />
<strong>se</strong>gurança pessoal do <strong>se</strong>rtanejo_, de um lado, e de outro<br />
lado o direito dos médicos, advogados e engenheiros de<br />
exercerem sua profissão onde entendam. Repete-<strong>se</strong> a<br />
situação conflitual entre A e B descrita no começo deste<br />
artigo. · ·<br />
Ora, não é só ao direito de propriedade que toca uma<br />
função social, mas a todo direito humano. Logo, a raciocinar<br />
simplística e demagogicamente sobre o assunto,<br />
caberia aos <strong>se</strong>rtanejos exigir que os ditos facultativos <strong>se</strong><br />
transla<strong>das</strong><strong>se</strong>m para o <strong>se</strong>u <strong>se</strong>rtão. O que daria forçosamente<br />
no direito, para o Poder público, de requisitar os<br />
facultativos que entendes<strong>se</strong>, e mandá-los - pobres<br />
mujiques intelectuais -<br />
para onde fos<strong>se</strong>m designados.<br />
Mas, bem analisa<strong>das</strong> as coisas, não <strong>se</strong>ria difícil<br />
descobrir cem outras situações análogas: dentistas, donos<br />
de aparelhos de radiografia, de laboratórios de<br />
análi<strong>se</strong>, de hospitais, de empresas de recreação (não é<br />
também esta indispensável à vida humana?), professores<br />
etc. Tudo isto podia <strong>se</strong>r agarrado com pinça nas partes<br />
"privilegia<strong>das</strong>" <strong>das</strong> grandes cidades, para <strong>se</strong>r redistribuído<br />
pelos bairros, ou pinçado indistintamente nestas<br />
últimas, para <strong>se</strong>r atirado por es<strong>se</strong>s <strong>se</strong>rtões imensos do<br />
Brasil, ao encalço dos desbravadores, onde quer que<br />
ess<strong>se</strong>s <strong>se</strong> atiras<strong>se</strong>m à busca de riquezas .. . para si mesmos.<br />
Mais ainda. Se o afluxo de candidatos a certa<br />
profissão indispensável baixas<strong>se</strong> no País, o Estado teria o<br />
direito de promover nas escolas <strong>se</strong>cundárias os inquéritos<br />
adequados para discernir as pobres crianças que tives<strong>se</strong>m<br />
jeito para elas, e obrigá-las a <strong>se</strong>guir essa profissão, até<br />
contra o gosto delas e dos pais: função social.<br />
• • •<br />
A função social, assim simplística e demagogicamente<br />
entendida, promete liberdade e igualdade. E cria<br />
uma nova clas<strong>se</strong> de mujiques, de escravos no estilo da<br />
Rússia comunista.<br />
"Função social, função social, de quantas injustiças e<br />
até de quantos crimes vai <strong>se</strong>ndo ameaçado, em teu nome<br />
todo o Brasil" - tenho vontade de exclamar, quand~<br />
penso em tudo isto!<br />
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1 •<br />
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PC,<br />
desde Ba<strong>se</strong><br />
A FAMÍLIA de José Pedro da Silva, originária<br />
de Minas Gerais, era <strong>muito</strong> religiosa. Ele<br />
próprio, aos 14 anos, entrou para a Congregação<br />
Mariana, no Norte do Paraná, onde moravam.<br />
Quando tinha 19 anos, Zé Pedro veio com a<br />
família para São Paulo. Algum tempo depois, em<br />
1968, entrou para a Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Vila<br />
Yolanda, em Osasco, município fabril da Grande<br />
São Pl.'ulo, dirigida por uma equipe de padresoperários<br />
france<strong>se</strong>s, Jiderada pelo Pe. Dominique<br />
Barbé. A partir daí, sua vida mudou.<br />
Zé Pedro começou a <strong>se</strong> desinibir, a <strong>se</strong> politizar<br />
e a <strong>se</strong> encaminhar para a militância sindical. Em<br />
1974 Zé Pedro foi eleito vice-presidente do Sindicato<br />
dos Metalúrgicos de Osasco. Mas, em <strong>pouco</strong><br />
tempo, <strong>se</strong> incompatibilizou com <strong>se</strong>us companheiros<br />
de Diretoria e passou a militar na Oposição<br />
sindical, tornando-<strong>se</strong> <strong>se</strong>u elemento de maior destaque.<br />
A história de Zé Pedro ilustra bem o papel <strong>das</strong><br />
Comunidades de Ba<strong>se</strong> no novo sindicalismo que<br />
vem surgindo no País, desde fins dá década de 60:<br />
um sindicalismo politizado e de inspiração religiosa,<br />
animado pela Teologia da Libertação.<br />
Novas lideranças<br />
surgi<strong>das</strong> nas paróquias<br />
/·<br />
"Zé Pedro"<br />
l ";.<br />
Es<strong>se</strong> novo movimento sindical, <strong>se</strong>gundo uma<br />
publicação dos Padres Jesuítas, surgiu e <strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolveu<br />
numa <strong>se</strong>miclandestinidade, no período de<br />
repressão e de intervenção nos sindicatos, que <strong>se</strong><br />
<strong>se</strong>guiu às greves de Osasco e Contagem (MG) em<br />
1968, a partir de grupos de ba<strong>se</strong> qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpre<br />
ligados às comunidades e paróquias operárias.<br />
<strong>As</strong> Pastorais do Mundo do Trabalho, ou simplesmente<br />
Pastorais Operárias, foram aponta<strong>das</strong><br />
como os mais fortes canais que substituíram os<br />
sindicatos na formação política dos operários na<br />
época aludida: foram as reuniões nas paróquias à<br />
noite ou nos fins de <strong>se</strong>mana que formaram os<br />
novos líderes que agora voltam aos sindicatos.<br />
Muito a propósito, a revista "Isto é" (de centroesquerda<br />
e, por isso mesmo, insuspeita) comenta<br />
que a Igreja substituiu os partidos po~íticos -<br />
legais e ilegais - na mobilização dos trabalhadores.<br />
Cita o boletim então clandestino "Voz Operária",<br />
no qual o Partido Comunista Brasileiro constatava<br />
sua falta de penetração entre os trabalha-<br />
217
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve com o são<br />
dores: '1Devemos] encontrar formas e meios de<br />
romper a barreira que nos <strong>se</strong>para de nossa ba<strong>se</strong><br />
social: a massa trabalhadora e a clas<strong>se</strong> operária".<br />
Conclui "Isto é": "Nem PC. nem A rena, nem<br />
M DB, portanto. Mas há um organismo poderoso<br />
atuando junto aos meios operários desde 1968: a<br />
Igreja Católica".<br />
A revista resume bem a realidade: o Partido<br />
Comunista desgastou-<strong>se</strong> inteiramente em sua ação<br />
junto ao operariado, e os pa rtidos legais então<br />
existentes não con<strong>se</strong>guiram <strong>se</strong> nsibilizá-lo (como,<br />
de resto, ocorre também com os atuais), mas<br />
foram substituídos por organismos que atuam em<br />
nome da Igreja - força <strong>muito</strong> mais poderosa que<br />
os pa rtidos e a única capaz de fazer moverem-<strong>se</strong> os<br />
brasileiros - operários ou não - numa direção<br />
que lhes repugna. Seus membros mais dinâmicos<br />
aproveitam-<strong>se</strong> <strong>das</strong> altas posições que ocupam,<br />
para promoverem - em nome dela - a demolição<br />
da sociedade atual e sua substituição por um<br />
socialismo indefinido, que cada vez mais vai assumindo<br />
o colorido ró<strong>se</strong>o tendente ao rubro do<br />
regime autogestionário do Partido Socialista Francês<br />
de M.itterrand. E <strong>se</strong>u instrumento para isso são<br />
as Pastorais Operárias que, por meio <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de B_a<strong>se</strong>, atingem o trabalhador e<br />
sua família na fábrica, na paróquia, no bairro.<br />
Com efeito: uma vez que o recrutamento dos<br />
membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> na zona urbana <strong>se</strong> faz sobretudo<br />
entre os operários da "periferia", era inevitável<br />
que, eles, uma vez conscientizados, procuras<strong>se</strong>m<br />
influir no meio operário. A maneira mais<br />
natural de influírem nes<strong>se</strong> ambiente é certamente a<br />
militância sindical, para a qual <strong>se</strong> acham preparados<br />
pela própria vida interna <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, como<br />
também pela sua atuação externa, de mobilização,<br />
reivindicação e protesto. Muitos deles, ademais,<br />
foram treinados em técnicas de liderança, de atua-<br />
ção em conjunto, de dinâmica de grupo e outras.<br />
Tal treinamento dá-lhes condições não só de influir<br />
nas decisões <strong>das</strong> as<strong>se</strong>mbléias gremiais, mas<br />
até mesmo de virem a domina r os si ndicatos onde,<br />
até há bem <strong>pouco</strong> tempo, os únicos militantes<br />
organizados e adestrados eram os comunistas.<br />
"Pollticos na leitura do Evangelho,<br />
religiosos na luta sindical"<br />
É tão notória a pre<strong>se</strong>nça do Clero esquerdista e<br />
<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> no movimento sindical<br />
que <strong>muito</strong>s <strong>se</strong> perguntaram <strong>se</strong> es<strong>se</strong> Clero não teria<br />
uma estratégia para dominar os sindicatos.<br />
D. Tomás Balduino, Bispo de Goiás Velho, por<br />
ocasião do 3. 0 Encontro Nacional de <strong>CEBs</strong> (João<br />
Pessoa, 1978), tentou negar a existência de qualquer<br />
plano nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, mas <strong>se</strong>u desmentido não<br />
convenceu: ele afirmou que o pessoal ligado ao<br />
Clero entrava espontaneamente para os sindicatos ...<br />
Entretanto, D . Tomás reconhece - e isso é de<br />
suma importância - que es<strong>se</strong> pessoal <strong>se</strong> engajou<br />
na militância sindical em con<strong>se</strong>qüência de uma<br />
motivação religiosa, inspirada pela Teologia da<br />
Libertação: "<strong>As</strong>sim como eles eram políticos na<br />
leitura do Evangelho, eles <strong>se</strong> tornam religiosos na<br />
luta sindical".<br />
Essa nota religiosa é que marca a militância<br />
dos membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, tanto nos sindicatos<br />
como na oposição sindical, do mesmo modo que<br />
nas greves inspira<strong>das</strong> ou sustenta<strong>das</strong> por elas.<br />
Sindicalização consclentlzadora<br />
Etapa da estratégia empregada pela:; <strong>CEBs</strong><br />
para dominar os sindicatos, ou pelo menos fortalecer<br />
a própria posição dentro deles, é a intensa<br />
campanha de sindicalização promovida pelos <strong>se</strong>us<br />
218
Parle li Capitulo Ili - /O<br />
Waldemar Rossi<br />
Sindicalistas ligados às <strong>CEBs</strong> de São Paulo<br />
ENTRE OS líderes sindicais mais atuantes<br />
ligados às <strong>CEBs</strong> e à Pastoral Operária na região<br />
de São Paulo, podem <strong>se</strong>r citados José Pedro da<br />
Silva, o "Zé Pedro", de Osasco; Anísio de<br />
Oliveira, membro da Pastoral Operária da Arquidioce<strong>se</strong><br />
de São Paulo e candidato da Chapa<br />
3 de Oposição à presidência do Sindicato dos<br />
Metalúrgicos de São Paulo em 1978; o malogrado<br />
Santo Dias da Silva, candidato à vicepresidência<br />
na mesma chapa, igualmente da<br />
Pastoral Operária, agente pastoral e coordenador<br />
da Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Santa Margarida<br />
(Vila Remo), além de repre<strong>se</strong>ntante operário<br />
na CNBB (morto em 1979 num confronto<br />
entre piquete grevista e policiais); Aurélio Pérez,<br />
ex-<strong>se</strong>minarista, formador de inúmeras Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> na Zona Sul de São Paulo e<br />
foi eleito por elas deputado federal pelo antigo<br />
MDB, hoje no PMDB; um dos fundadores do<br />
Movimento do Custo de Vida (atual Movimento<br />
Contra a Carestia - MCC) e candidato<br />
derrotado à presidência do Sindicato dos Metalúrg1cos<br />
de São Paulo em 1981, ao que consta,<br />
com o apoio do PC do B; Waldemar Rossi, o<br />
qual, <strong>pouco</strong>s me<strong>se</strong>s depois de saudar João<br />
Paulo II em nome dos operários brasileiros, fez<br />
campanha para eleições sindicais com o apoio<br />
ostensivo do ex-<strong>se</strong>cretário-geral do Partido Comunista<br />
Brasileiro, Luís Carlos Prestes; Caetano<br />
Matanó; Santo Conte; Hélio Bombardi;<br />
Fernando do ó, e outros (cfr. "SEDOC", outubro<br />
1978, cols. 360-362; "Brasil Reportagem",<br />
Ano l, n. 0 2, 1979, pp. 36-7; "O Estado de S.<br />
Paulo", 31-10-79 e 25-7-81 ; "Isto é", 16-9-81,<br />
p. 22; "Jornal do Brasil", 14-7-81; "Folha de S.<br />
Paulo", 25-7-81).<br />
membros, não só ingressando eles mesmos nos<br />
respectivos sindicatos, mas levando a isso <strong>se</strong>us<br />
parentes, vizinhos e companheiros de <strong>se</strong>rviço.<br />
Tal campanha - além da vantagem óbvia de<br />
aumentar os próprios contingentes para eventuais<br />
disputas eleitorais - oferece aos membros <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> ocasião de <strong>se</strong> porem em contato com larga<br />
parcela do operariado, ampliando por es<strong>se</strong> modo<br />
<strong>se</strong>u raio de influência.<br />
A campanha apre<strong>se</strong>nta um caráter conscientizador,<br />
uma vez que procura fazer com que os<br />
trabalhadores <strong>se</strong> associem ao sindicato, tendo em<br />
vista não tanto os benefícios previdenciários, sociais<br />
e recreativos, mas a "participação na luta por<br />
conquistas reais para toda a clas<strong>se</strong>" - conforme <strong>se</strong><br />
lê no relatório da Comunidade de Santa Margarida<br />
(Vila Remo, São Paulo).<br />
Uma nova oposição sindical<br />
A Pastoral Operária vem criando, por meio<br />
<strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, um novo tipo de<br />
219
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Um novo sindicalismo, animado pela Teologia da Libertação ... <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de metalúrgicos em greve na Igreja Matriz<br />
de SIio Bernardo do Campo-SP, em 1980.<br />
oposição sindical. Oposição aos sindicatos de tipo<br />
"assistencialista" ou "pelego" ( como chamam, em<br />
geral, os sindicatos que aceitam a política oficial,<br />
como também aqueles que não <strong>se</strong> empenham<br />
<strong>muito</strong> a fundo na luta de clas<strong>se</strong>s, ou são apenas<br />
moderados). Oposição de caráter doutrinário, religioso.<br />
Até então, as oposições sindicais visavam diretamente<br />
a conquista dos postos de direção <strong>das</strong><br />
entidades de clas<strong>se</strong>. Tinham, pois, um caráter<br />
qua<strong>se</strong> exclusivamente eleitoral, com duração efêmera,<br />
dissolvendo-<strong>se</strong> ao término dos pleitos sindicais.<br />
A nova oposição sindical, inspirada pelas<br />
<strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária, ao contrário, tem por<br />
objetivo não apenas ganhar eleições, m;is sobretudo<br />
conscientizar os trabalhadores, infundir-lhes<br />
uma nova mentalidade, convencê-los de que não<br />
basta lutar por melhores salários e melhores condições<br />
de trabalho, mas que é preciso suprimir o<br />
220
Parte li<br />
próprio sistema capitalista, apontado como a causa<br />
de todos os males da clas<strong>se</strong> operária e dos<br />
pobres em geral.<br />
Por con<strong>se</strong>guinte, a nova oposição sindical não<br />
tem o caráter transitório <strong>das</strong> anteriores, e não <strong>se</strong><br />
esgota com o processo eleitoral: continua ativa, à<br />
maneira de um sindicato paralelo.<br />
<strong>As</strong>sim, as <strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária costumam<br />
lançar chapas de oposição a eleições sindicais<br />
ainda quando não têm a menor possibilidade de<br />
vitória. Ê que a campanha eleitoral constitui uma<br />
importante ocasião para o <strong>se</strong>u trabalho de arregimentação<br />
de novos adeptos e, sobretudo, de conscientização<br />
dos operários. Além do que, o simples<br />
fato de <strong>se</strong>us membros disputarem cargos eletivos<br />
confere-lhes estabilidade no emprego, em virtude<br />
da legislação vigente, o que lhes permite continuar<br />
impunemente <strong>se</strong>u trabalho de agitação nas fábricas.<br />
Mobilização de toda a familia<br />
Essa atuação no interior <strong>das</strong> fábricas é meticulosa<br />
e procura mobilizar os operários por meio<br />
de "pequenas lutas", contra "irregularidades" internas<br />
de cada indústria, que vão desde problemas<br />
de refeitório, instalações sanitárias etc., até à luta<br />
por melhorias salariais, passando pelas reivindicações<br />
em torno da assistência e convênios médicos.<br />
Vale a pena conhecer as táticas utiliza<strong>das</strong>,<br />
conforme o relatório da Comunidade de Santa<br />
Margarida: "Nes<strong>se</strong> trabalho de articulação e de<br />
pequenas lutas, todos os métodos possíveis foram<br />
usados. Desde a conversa ao pé da máquina ou no<br />
banheiro, até à distribuição de boletins e a convocação<br />
de encontros maiores, a pesquisa de opinião<br />
que resultou na história em quadrinhos chamada<br />
Zé Marmita".<br />
Capítulo Ili - /O<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>-Pastoral Operária têm promovido,<br />
ainda, nos bairros, a articulação de trabalhadores<br />
de fábricas diversas, fora da estrutura sindical, em<br />
grupos chamados "interfábricas", para a sua conscientização.<br />
<strong>As</strong> eleições sindicais, como já foi dito, são<br />
excelente ocasião de conscientização, não só dos<br />
membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e de <strong>se</strong>us colegas de trabalho,<br />
mas também <strong>das</strong> famílias dos trabalhadores; as<br />
Comunidades mobilizam nessas campanhas todo<br />
o mundo que podem: mulheres, velhos, jovens e<br />
até crianças. Des<strong>se</strong> modo, pessoas que não estão<br />
diretamente envolvi<strong>das</strong> nas lutas sindicais e que<br />
são, até, refratárias a tal tipo de atividade, acabam<br />
participando delas pela motivação religiosa que as<br />
<strong>CEBs</strong> lhes conferem.<br />
Expulsar os "vendilhões" do ... Sindicato<br />
A motivação religiosa da nova oposição sindical<br />
é bem ilustrada por uma passagem do já citado<br />
relatório da Pastoral Operária da Comunidade de<br />
Santa Margarida para o 3. 0 Encontro nacional.<br />
Ao tratar do item "oposição sindical", o relatório<br />
cita o Evangelho de São Lucas: "Entrando no<br />
Templo [Jesus], começou a expulsar os vendedores<br />
e compradores, dizendo: 'Minha casa é casa de<br />
oração. Vós porém a haveis convertido em covil de<br />
ladrões' (Lc. 9, 45-46)". O Templo, no caso, é o<br />
Sindicato, dominado pelos "pelegos", os "vendilhões"<br />
que devem <strong>se</strong>r expulsos com o açoite ...<br />
Referências: PE. D. 8ARB~, En e/ futuro, las Comu:1idades de<br />
Ba<strong>se</strong>, Studium, Madrid, 1974; CEDAC, Perspe,::tiva!i do novo<br />
sindicalismo, Apre<strong>se</strong>ntação de José Ibrahin, Edições : .oyola<br />
CEDAC, 1980, pp. 33-37; "O São Paulo", 18-2-78 e 29-7-78;<br />
"Folhetim", 28-1-79; "Isto é", 3-5-78, p. 20 ss.; Relatório da<br />
Comunidade de Santa Margarida, in "SEDOC", outubro 1978,<br />
cais. 356. 357, 358 e 261.<br />
221
l<br />
'6.-~-----<br />
( ~-<br />
)<br />
A GREVE dos metalúrgicos do ABC em 1980<br />
teve tal duração e revelou tal organização, politização<br />
e radicalização - com aspectos de ilegalidade<br />
e turbulência estranhos à índole ordeira e<br />
tranqüila do povo brasileiro - que <strong>muito</strong>s <strong>se</strong><br />
perguntaram que fator novo estaria interferindo<br />
no meio operário-sindical.<br />
Durante os dias mesmos daquela greve, o<br />
então <strong>se</strong>cretário-geral do Partido Comunista Brasileiro,<br />
Luis.Carlos Prestes, depois de elogiar Lula,<br />
admitiu que _a Igreja, "uma <strong>das</strong> piores adversárias"<br />
do PC até 1964, "hoje está em comunhão" com os<br />
comunistas, "na medida em que <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes<br />
apoiarem a greve dos metalúrgicos". Em <strong>muito</strong><br />
e <strong>muito</strong> la_rga medida, então, cabe ob<strong>se</strong>rvar,<br />
uma vez que à época o apoio do Clero progressista<br />
à greve metalúrgica foi total.<br />
Não foi esta a primeira vez (nem a última) que<br />
o velho dirigente comunista fez alusões a uma<br />
aliança pelo menos tácita entre a Igreja e o Partido<br />
Comunista, <strong>se</strong>m ter sido jamais desmentido de<br />
modo convincente e irretorquível, ou provocar a<br />
indignação que a hipóte<strong>se</strong> deveria suscitar nos<br />
meios eclesiásticos.<br />
- Teria havido uma aliança efetiva entre <strong>se</strong>tores<br />
esquerdistas do Clero e comunistas, em torno<br />
daquelas greves do ABC?<br />
A pre<strong>se</strong>nça de Bispos e Padres no movimento<br />
grevista foi notória. Por outro lado, houve inúmeras<br />
denúncias de infiltração comunista nas greves,<br />
por parte de autoridades civis, policiais e<br />
militares.<br />
- Haveria razões doutrinárias que justificas<strong>se</strong>m<br />
tal aliança?<br />
Se <strong>se</strong> tiver em conta que os agentes pastorais,<br />
Padres e Bispos com participação ativa naquelas<br />
greves, são <strong>se</strong>guidores da chamada Teologia da<br />
Libertação, não <strong>se</strong>ria difícil encontrar razões de<br />
caráter doutrinário para justificar <strong>se</strong>melhante a<br />
liança.<br />
Pois foi justamente em nome da "opção pelos<br />
pobres" e da "libertação dos oprimidos" - princípios<br />
básicos da TL - que o Clero em questão<br />
assumiu as greves do ABC em 1980.<br />
<strong>As</strong>sim, independentemente de qualquer eventual<br />
aliança de fato que possa ter havido entre<br />
<strong>se</strong>tores esquerdistas do Clero e esta ou aquela<br />
corrente comunista, a realidade é que tú, eclesiásticos,<br />
in concreto, constituíram-<strong>se</strong>, mutu proprio e<br />
<strong>se</strong>m conchavos, em aliados objetivos do comunismo<br />
internacional, uma vez que <strong>se</strong>us princípios<br />
doutrinários e as atitudes práticas deles decorrentes<br />
conduzem a uma identidade de metas e fins<br />
últimos com o comunismo: a destruição <strong>das</strong> atuais<br />
222
Parte li<br />
Capilulo III - 11<br />
estruturas soc1a1s, a eliminação da propriedade<br />
privada e a implantação de um regime socialista.<br />
E o principal instrumento do Clero esquerdista<br />
nessa atuação têm sido as Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong>.<br />
"<strong>As</strong> greves não calram do céu"<br />
<strong>As</strong> greves de 1978-1979-1980 não podem <strong>se</strong>r<br />
toma<strong>das</strong> <strong>se</strong>paradamente, como <strong>se</strong> uma não tives<strong>se</strong><br />
relação com a outra. Ao contrário, elas constituem<br />
um processo reivindicatório único (in<strong>se</strong>rido no<br />
processo político); no qual o elemento de longe<br />
mais ativo, o que empenhou de modo mais decisivo<br />
<strong>se</strong>u apoio - moral, material e de recursos<br />
humanos - foi, <strong>se</strong>m dúvida, o Clero progressista.<br />
Essas greves, entretanto, "não caíram do céu<br />
como o maná no de<strong>se</strong>rto", conforme acentua o<br />
relatório da Comunidade de Santa Margarida;<br />
elas foram, ao contrário, o "resultado de um lento,<br />
paciente e teimoso trabalho de ba<strong>se</strong>".<br />
No que <strong>se</strong> refere às greves dos metalúrgicos do<br />
ABC em 1980, es<strong>se</strong> "longo, paciente e teimoso<br />
trabalho de ba<strong>se</strong>" pode <strong>se</strong>r acompanhado pelas<br />
páginas de "O São Paulo", <strong>se</strong>manário da Arquidjoce<strong>se</strong><br />
paulopolitana.<br />
A preparação começou me<strong>se</strong>s antes da abertura<br />
do dissídio, em março daquele ano, em reuniões<br />
da Pastoral Operária de São Paulo.<br />
A Pastoral OperAria planeja,<br />
as <strong>CEBs</strong> executam ...<br />
Já em 2 de dezembro do ano anterior ( 1979),<br />
militantes e agentes de vários grupos e pastorais<br />
pu<strong>se</strong>ram-<strong>se</strong> a estudar um boletim da Pastoral<br />
Operária da Região Episcopal Leste-2 da Arquidioce<strong>se</strong><br />
de São Paulo, que propunha, entre outros,<br />
No ABC, os sindicalistas<br />
pertencem às <strong>CEBs</strong>.<br />
Mas não vivem dizendo ...<br />
NA<br />
VÉSPERA da eclosão do movimento<br />
paredista, Frei Beto - tido e havido como o<br />
principal articulador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em nível nacional<br />
- declarou: "Existe todo um vínculo entre<br />
a maioria dos trabalhadores e a Igreja, pois eles<br />
participam de comunidades de ba<strong>se</strong>, da pastoral<br />
operária, freqüentam as igrejas, encontram<br />
nas capelas e templos de <strong>se</strong>us bairros <strong>se</strong>us<br />
locais habituais de reunião . .... No ABC, a<br />
Pastoral Operária e a Ação Católica Operária<br />
procuram sistematizar mais essa pre<strong>se</strong>nça do<br />
trabalhador na Igreja e dela entre os trabalhadores.<br />
Es<strong>se</strong> trabalho <strong>se</strong> dá permanentemente na<br />
área, mas <strong>se</strong> torna evidente em momentos de<br />
cri<strong>se</strong> como este quando toda a infraestrutura da<br />
Igreja é acionada pelos próprios trabalhadores<br />
que participam <strong>das</strong> comunidades de ba<strong>se</strong> . .... Os<br />
militantes sindicais são membros <strong>das</strong> comunidades<br />
de ba<strong>se</strong> de suas paróquias, mas não vivem<br />
declarando isto o tempo todo" ... ("Companheiro",<br />
7-5-80).<br />
223
os <strong>se</strong>guintes pontos: "Organizar o fundo de greve<br />
permanente"; "aproveitar de todos os movimentos<br />
religiosos e de bairro para propagar e levantar as<br />
lutas, como por exemplo missa do trabalhador,<br />
novena de Natal; movimentos de reivindicação de<br />
água, luz ... "; "reforçar os comandos e reuniões<br />
interfábricas" e "continuar criando e incentivando<br />
os grupos de apoio". Para to<strong>das</strong> essas tarefas, os<br />
militantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e <strong>das</strong> Pastorais deviam "procurar<br />
conhecer as pessoas mais combativas nos<br />
bairros, nas fábricas" .. .<br />
No dia 20 de janeiro de 1980, os mesmos<br />
grupos reuniram-<strong>se</strong> em São Miguel Paulista ( onde<br />
residem <strong>muito</strong>s operários do ABC), para debater<br />
es<strong>se</strong>s pontos. Em 9 de março, toda a Pastoral<br />
Operária da Arquidioce<strong>se</strong> de São Paulo reuniu-<strong>se</strong><br />
no Colégio Arquidiocesano para fazer uma avaliação<br />
do movimento operário no ano anterior e<br />
traçar as metas para 1980. Chegou-<strong>se</strong> à conclusão<br />
de que embora a greve de 1979 não tives<strong>se</strong> alcançado<br />
resultados positivos no aspecto econômico,<br />
ela repre<strong>se</strong>ntou um avanço político.<br />
Em 15 de março a Pastoral Operária volta a<br />
reunir-<strong>se</strong> em São Miguel Paulista. Tudo é pensado<br />
e programado. Fixam-<strong>se</strong> metas e distribuem-<strong>se</strong><br />
tarefas: "Engajar os grupos de Igreja em apoio<br />
concreto ao Movimento Operário: clubes de mães,<br />
grupos de ruas, direitos humanos, jovens etc.";<br />
"apoio às greves através dos grupos de Igreja";<br />
'formação de um fundo de apoio permanente<br />
(formar uma equipe de finanças com repre<strong>se</strong>ntantes<br />
de várias pastorais)".<br />
Não <strong>se</strong> podia de<strong>se</strong>jar preparação mais minuciosa<br />
dos meios operários com vistas às greves programa<strong>das</strong>.<br />
E só a estrutura eclesiástica dispunha<br />
de recursos para tal. É, aliás, o que afirma um dos<br />
articuladores de toda essa mobilização, D. Angélico<br />
Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar de São<br />
BOLETIM<br />
COMISSÃO NACIONAL DE PASTORAL OPERÁRIA<br />
(_A"fl- 111 ~<br />
__ _<br />
CONCLAT<br />
PELA UNIÃO<br />
DOS<br />
TRABALHADORES<br />
FIAT DO RIO<br />
Greve<br />
contra<br />
de<strong>se</strong>mprego<br />
CEBS<br />
--a:<br />
POLÍTICA<br />
METALÚRGICOS<br />
DE RECIFE<br />
Também em nível nacional é íntima a conexão entre as<br />
<strong>CEBs</strong> e a Pastoral Operária. - Boletim da Comissão<br />
Nacional de Pastoral Operária, da CNBB, publicado em<br />
Volta Redonda, sob os auspícios de D . Valdir Calheiros,<br />
um dos próceres nacionais <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> .<br />
Paulo, responsável pela Pastoral Operária: "Não<br />
existe uma entidade como a Igreja que vá à ba<strong>se</strong><br />
para o trabalho, pega o homem realmente onde ele<br />
está, nos bairros, na roça, no interior da Amazônia".<br />
No que lhe assiste toda razão ...<br />
"Sofisticada engrenagem<br />
organizacional"<br />
Um comentarista ob<strong>se</strong>rvou que a referida greve<br />
dos metalúrgicos do ABC só foi possível graças a<br />
uma "sofisticada engrenagem organizacional" que<br />
prescindia não somente da <strong>se</strong>de do sindicato, mas<br />
do próprio Lula. "Sofisticada engrenagem" que<br />
tinha como eixo a Pastoral Operária e o movimento<br />
<strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>.<br />
224
Parte li<br />
Capítulo Ili -<br />
li<br />
Tal realidade foi reconhecida pelo principal<br />
articulador dessas greves, Frei Beto, o qual afirmou<br />
que a maioria dos trabalhadores e militantes<br />
sindicais participa <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e da<br />
Pastoral Operária de suas paróquias, embora não<br />
o declarem ...<br />
O próprio coordenador <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> do ABC,<br />
<strong>As</strong>trogildo Cândido de Souza, declarou que estas<br />
atuaram diretamente na organização dos metalúrgicos.<br />
<strong>As</strong>trogildo dis<strong>se</strong> que os núcleos de <strong>se</strong>u<br />
bairro, na Vila Homero Thon, em Santo André, <strong>se</strong><br />
dividiam de modo a que cada membro ficas<strong>se</strong> com<br />
a tarefa de chamar para reuniões nas paróquias os<br />
metalúrgicos de determinada rua, convocando-os<br />
à sustentação do movimento. Aí aparecem em<br />
plena atividade os famosos grupos de rua, mencionados<br />
na descrição do movimento. Tarefa <strong>se</strong>melhante<br />
de<strong>se</strong>mpenharam as oito Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> da Vila Palmares: qualquer comunicação do<br />
comando grevista era encaminhada aos "repre<strong>se</strong>ntantes<br />
de <strong>se</strong>tor", os <strong>quais</strong> a passavam a "repre<strong>se</strong>ntantes<br />
de rua", e estes, por sua vez, iam de casa<br />
em casa transmitindo a palavra-de-ordem.<br />
Coube às <strong>CEBs</strong> papel destacado na arrecadação<br />
de mantimentos para o Fundo de Greve,<br />
através de "mutirão nas ruas" e, também da<br />
organização de chás beneficentes.<br />
De grande importância foi a atuação <strong>das</strong> comissões<br />
de visita cuja principal função era convencer<br />
as mulheres dos metalúrgicos a terem maior<br />
participação na greve.<br />
o 'piquete' mais poderoso e inatacãvel<br />
Nos próprios piquetes, a participação <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> foi intensa. O mesmo coordenador<br />
delas no ABC, <strong>As</strong>trogildo Cândido de<br />
Souza ( ele próprio motorista de transporte esco-<br />
lar), declarou que os membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> - "embora<br />
nem todos fos<strong>se</strong>m metalúrgicos" - participavam<br />
dos piquetes, saindo às 4 horas da manhã<br />
para os pontos de ônibus e portas de fábricas, num<br />
esforço de conscientização. Em São Miguel, na<br />
Zona Leste de São Paulo, era nas reuniões diárias<br />
<strong>das</strong> comunidades que <strong>se</strong> preparavam os piquetes<br />
que na manhã <strong>se</strong>guinte iriam interceptar os ônibus<br />
<strong>das</strong> empresas e convencer os mais vacilantes ...<br />
O Movimento Contra a Carestia - MCC<br />
constituiu-<strong>se</strong> num dos principais "grupos de a<br />
poio" aos grevistas, tendo sido uma <strong>das</strong> entidades<br />
organizadoras do "1. 0 de Maio Unificado", que<br />
levou ao ABC gente de toda a Grande São Paulo,<br />
num apoio farfalhante ao movimento paredista.<br />
Ademais, parti-::ipou ativamente da coleta de dinheiro<br />
e gêneros para o Fundo de Greve.<br />
Em suma, a Pastoral Operária, as <strong>CEBs</strong> e<br />
demais organismos e entidades a elas vinculados<br />
constituíram-<strong>se</strong> naquilo que um <strong>se</strong>manário marxista<br />
denominou - com muita propriedade - "o<br />
'piquete' mais poderoso e inatacável de que os<br />
operários dispõem".<br />
MIiitantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> na<br />
"Comissão dos 400 lulas"<br />
Como já foi ressaltado, a greve dos metalúrgicos<br />
do ABC em 1980 foi planejada de tal forma<br />
que prescindis<strong>se</strong> não somente da <strong>se</strong>de do Sindicato,<br />
mas do próprio Lula e demais dirigentes da<br />
entidade: foi montado uma espécie de comando<br />
dirigente, o qual começou a funcionar antes mesmo<br />
da eclosão da greve, a Comissão de Salárioí- e<br />
Mobilização.<br />
Essa comissão (apelidada, com espírito, de<br />
"Comissão dos 400 lulas") era composta por 480<br />
metalúrgicos - 430 homens e 50 mulheres. Foram<br />
225
Logo no inicio da greve doa metalúrgicos do ABC em<br />
1980, Frei Betto passou a <strong>se</strong>guinte palavra-de-ordem:<br />
"No caso de intervençlo nos sindie11tos, os metalúrgicos<br />
poderio usar as igrejas, i' destae11<strong>das</strong> para isso. E <strong>se</strong> 11<br />
pollcia tentar 'intervir' nas paróquias, por exemplo, cercando<br />
11s praças. esta,, configurado um 'estado de<br />
represslo à Igreja neste pais"' ("O Slo Paulo". 6-4-80).<br />
necessárias 215 reuniões, durante três me<strong>se</strong>s (de<br />
fins de novembro a começo de março), para a sua<br />
formação.<br />
Dela faziam parte desde novatos <strong>se</strong>m nenhuma<br />
experiência anterior, até velhas raposas do sindicalismo<br />
dos anos 60; alguns conhecidos ativistas<br />
do Sindicato, como "Alemão", "Osmarzinho"; dois<br />
ou três ex-estudantes há <strong>muito</strong> integrados como<br />
operários em São Bernardo; e, finalmente, "inúmeros<br />
líderes operários formados nos movimentos<br />
religiosos de ba<strong>se</strong> da regiio".<br />
Um as<strong>se</strong>ssor multo especial: Frei Beto<br />
"Valeu <strong>muito</strong> a ajuda de Frei Beto, o dominicano<br />
que divulga e coordena trabalhos <strong>das</strong> comunidades<br />
eclesiais de ba<strong>se</strong> em São Paulo, hoje<br />
uma espécie de as<strong>se</strong>ssor e escudeiro de Lula" -<br />
informa um <strong>se</strong>manário socialista.<br />
Foi Fréi Beto quem orientou a "Comissão dos<br />
400 lulas"; foi ele quem dividiu o trabalho em<br />
subcomissões, "para evitar que todos discutis<strong>se</strong>m<br />
tudo <strong>se</strong>m ter nenhuma tarefa concreta"; ele ainda<br />
quem deu a idéia de substituir uma parte <strong>das</strong><br />
reuniões gerais por reuniões de subgrupos de 8 a<br />
10 operários, cada um com tarefas específicas<br />
(<strong>se</strong>gurança do palanque do Estádio de Vila Euclides,<br />
preparação de lanches, distribuição de folhetos<br />
e informações, programação do "trabalho de<br />
persuasão dos fura-greve para o dia <strong>se</strong>guinte").<br />
Graças a esta estratégia, as fastidiosas as<strong>se</strong>mbléias<br />
gerais no Estádio, nas <strong>quais</strong> <strong>se</strong> revezavam os sindicalistas<br />
profissionais, foram substituí<strong>das</strong> por minias<strong>se</strong>mbléias<br />
de trabalhadores, divididos por fábricas<br />
e dirigi<strong>das</strong> por membros da Comissão.<br />
A participação de Frei Beto no movimento<br />
grevista do A.BC foi bem focalizada pelo jornalista<br />
José Nuemanne Pinto, e vale a pena transcrever<br />
suas palavras:<br />
"Frei Beto tornou-<strong>se</strong> uma espécie de eminên-'<br />
eia parda da greve. Amigo pessoal e homem de<br />
confiança de Lula, passou a morar com o líder<br />
operário em sua casa, no Jardim <strong>As</strong>sunção, em<br />
São Bernardo do Campo. Frei Beto é conhecido<br />
por suas instruções táticas e, <strong>se</strong>gundo um militante<br />
sindical. 'é ele quem empurra Lula para a<br />
frente, na hora em que os pessimistas vêm com<br />
<strong>se</strong>us con<strong>se</strong>lhos negativos e suas lamentações' ".<br />
· Outras publicações confirmam essa apreciação,<br />
ao mencionar fra<strong>se</strong>s que <strong>se</strong> teriam ouvido<br />
aqui e ali: "Lula deu para <strong>se</strong>guir os con<strong>se</strong>lhos de<br />
um padre ex-terrorista" ou "Lula está <strong>se</strong>ndo as<strong>se</strong>s~<br />
sorado por radicais". Alusões evidentes ao fato de<br />
Frei Beto ter sido condenado à prisão por envolvimento<br />
na guerrilha urbana de Carlos Marighela,<br />
que ensanguentou o País nos últimos anos da<br />
década de 60.<br />
226
Parte li<br />
Capítulo III - 11<br />
"Guerra contra os patrões"<br />
A greve dos metalúrgicos de São Bernardo e<br />
Santo André, declarada ilegal por Tribunal competente,<br />
foi mais do que uma greve reivindicatória.<br />
Essa greve desfechou numa "declaração de guerra<br />
ao patronato e ao governo", numa "verdadeira<br />
guerra contra os patrões", como acentuaram dois<br />
jornais de esquerda.<br />
Em plena matriz de São Bernardo, na última<br />
as<strong>se</strong>mbléia grevista, foi lida essa "declaração de<br />
guerra", contida num boletim distribuído pela<br />
diretoria deposta do sindicato metalúrgico e pela<br />
Comissão de Salários e Mobilização: "Que os<br />
patrões e o governo saibam: atrás de cada máquina<br />
terão um trabalhador em guerra; .... a guerra<br />
continua porque em nosso coração e em nossa<br />
alma carregamos a ira dos justos e a eterna <strong>se</strong>de de<br />
justiça". Isso significa: "Nenhuma hora extra, marcha<br />
lenta, reduzir a produção, esculhambar a qualidade,<br />
companheiro demitido, máquinas para<strong>das</strong><br />
até a readmissão".<br />
<strong>As</strong> palavras do último orador da as<strong>se</strong>mbléia,<br />
Wagner Lino Alves, membro da "Comissão dos<br />
400 lulas", indicam o clima no qual essa guerra<br />
<strong>se</strong>ria conduzida: "Amanhã, quando entrarem nas<br />
fábricas, vocês devem deixar o amor na porta.<br />
Dentro do coração de cada trabalhador o que vai<br />
existir é o ódio".<br />
"Uma greve polltlca, sim Senhor"<br />
Durante a greve, o aspecto político da mesma<br />
foi bem ressaltado. Numa reportagem intitulada<br />
Uma greve política, sim Senhor, o jornalista Ivan<br />
Valente salienta o conteúdo político <strong>das</strong> reivindicações<br />
dos metalúrgicos do ABC. De fiito, um<br />
I·\ ~<br />
'•<br />
Na " Missa de Páscoa dos Trabalhadores", celebrada<br />
durante as greves de 1980, o Bispo de Santo André,<br />
D . Cléudio Hummes, relacionou as reivindicações dos<br />
metalúrgicos com a primeira Péscoa, a "libertação dos<br />
judeus de escravidão do Egito".<br />
comunicado do Sindicato dos Metalúrgicos de<br />
São Bernardo e Diadema, do início de abril, dizia<br />
que a greve continuava "não só pelas reivindicações<br />
econômicas, mas sobretudo pelas garantias<br />
sociais, principalmente a estabilidade no emprego".<br />
Na realidade, desde o início, esta greve tinha<br />
por objetivo o fortalecimento sindical, como deixa<br />
claro um folheto distribuído pelos sindicatos metalúrgicos,<br />
antes mesmo de começarem as negociações.<br />
Entre as 25 reivindicações apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> um<br />
mês antes da deflagração da greve, algumas são de<br />
227
caráter eminentemente político, numa linha autogestionária:<br />
"livre acesso dos dirigentes sindicais às<br />
indústrias, para verificar as condições de trabalho";<br />
,;controle de chefias, isto é, o direito dos<br />
trabalhadores punirem as chefias injustas e, a cada<br />
<strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s, manifestarem-<strong>se</strong> sobre o comportamento<br />
de <strong>se</strong>us chefes, com a substituição daqueles<br />
cujo comportamento não for aprovado pelos trabalhadores".<br />
Outra reivindicação era a do delegado sindical<br />
gozando de estabilidade; os operários exigiam<br />
ainda que as empresas só poderiam dispensar os<br />
trabalhadores por motivo de cri<strong>se</strong> fin anceira ou<br />
técnica. Mesmo assim, em primeiro lugar <strong>se</strong>riam<br />
dispensados os empregados que estives<strong>se</strong>m interessados<br />
em sair da empresa, depois os de menores<br />
encargos familiares, e assim por diante. Ou <strong>se</strong>ja, as<br />
empresas não podiam punir com a demissão os<br />
agitadores político-sociais, os <strong>quais</strong> ficariam assim<br />
livres para tumultuar o funcionamento <strong>das</strong><br />
fábricas.<br />
O controle <strong>das</strong> chefias pelos operários, com a<br />
possibilidade de punir <strong>se</strong>us chefes e até mesmo de<br />
afastá-los do cargo, bem como o controle da<br />
demissão dos empregados, repre<strong>se</strong>ntam os passos<br />
iniciais para o estabelecimento da ditadura autogestionária<br />
(como na França de Mitterrand), colocando<br />
as empresas à mercê <strong>das</strong> minorias politiza<strong>das</strong><br />
dos militantes <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong> e<br />
dos sindicatos.<br />
Uma greve "libertadora"<br />
O caráter religioso, que caracteriza o novo<br />
sindicalismo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, esteve pre<strong>se</strong>nte nas greves<br />
dos metalúrgicos do ABC em 1978-1980. Foi ele<br />
acentuado não somente pela transformação <strong>das</strong><br />
Igrejas em centros grevistas e locais de as<strong>se</strong>m-<br />
Lula o Dom Paulo E11or1i.. 10 Arn:. sv<br />
encon1,a1om na <strong>se</strong>mana PIUS.Jda du ·<br />
ran te um debate promo~1do polo 1om a1<br />
'"O São Paulo ", da Cur,a Mo:,opol"<br />
tana O assunto !01 a ,n ,e,wmç.lo nos<br />
~,',ta,S:,~d;c::,~,s..;1.o ,:i:;· e~<br />
!:;;';;~~Ji~ifª r~~':s"~.:. ·~,:~=~<br />
l.'1,1cJorps et.JdO u.n,dos para pó, t1 m a<br />
1<br />
inr&rvençlo Pa,a D P;,ulo a "auro.<br />
1 nom,a s1no1ul ó uma ant,ga dou uina<br />
da lgr~o e a S,nd,c•10 Ptec1u de<br />
mdependlnc,a pa:o s~ um d19ào do<br />
o,,rogo en,,o as ctos<strong>se</strong>s, <strong>se</strong>m pr1e1~,<br />
~ovosrnot,.,mcomum;~<br />
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•·<br />
.11tJQÇ1Pflmea1a a nwac;«o de Dom..<br />
~ d,o Hummes. o,~po dfl Stnto<br />
ltncr~ -<br />
bléias, pelo apoio decidido da CNBB e de prelados<br />
como D. Cláudio Hummes, Bispo de Santo<br />
André e do Cardeal Arns e <strong>se</strong>us Bispos auxiliares,<br />
mas sobretudo pela filosofia que insp;rou o movimento.<br />
Em plena greve de 1980, foi celebrada no<br />
Estádio de Vila Euclides (São Bernardo), uma<br />
"Missa de Páscoa dos Trabalhadores", durante a<br />
228
Cap itulo Ili -<br />
li<br />
qual D. Cláudio Hummes relacionou à "primeira<br />
Páscoa", a "libertação dos judeus da escravidão do<br />
Egito" com as reivindicações dos metalúrgicos<br />
do ABC.<br />
Dias depois, em as<strong>se</strong>mbléia grevista na Matriz<br />
de São Bernardo do Campo, D. Cláudio Hummes<br />
retomou a comparação entre os judeus oprimidos<br />
e os operários grevistas: "Moisés incomodou os<br />
poderosos, mas organizou o <strong>se</strong>u povo e con<strong>se</strong>guiu<br />
derrotar o faraó. Cada um de vocês deve <strong>se</strong>r um<br />
Moisés com a missão de libertar os trabalhadores".<br />
Em entrevista posterior, o Bispo de Santo<br />
André enveredou mais claramente pelas vias da<br />
Teologia da Libertação, aceitando a concepção<br />
marxista do "proletariado-redentor" (ver reportagem<br />
sobre a Teologia da Libertação) e o papel<br />
dirigente do "povo organizado".<br />
D. Cláudio afirmou que a Igreja do ABC<br />
queria <strong>se</strong>r fiel à "opção preferencial pelos pobres",<br />
e acrescentou: "Dentro des<strong>se</strong> contexto de Puebla,<br />
a Igreja pretende <strong>se</strong>r uma Igreja que está pre<strong>se</strong>nte<br />
no meio do povo, e evidentemente, daquela parte<br />
do povo que é mais organizada, a parte do povo<br />
que mais tem possibilidades de cumprir um papel<br />
histórico em nome de todos: a tarefa histórica de<br />
mudança <strong>das</strong> atuais estruturas da nossa sociedade,<br />
onde há injustiça, opressão e corrupção . .... E a<br />
parte já mais organizada deste povo é que leva a<br />
luta da construção de um mundo novo. E o resto<br />
do povo, que ainda não con<strong>se</strong>guiu <strong>se</strong> organizar,<br />
deve <strong>se</strong>r conscientizado a apoiar a parte mais<br />
organizada".<br />
Suas palavras ganham em significação <strong>se</strong> compara<strong>das</strong><br />
com a <strong>se</strong>guinte afirmação de Lênin: "Só<br />
uma clas<strong>se</strong>, exatamente os operários industriais<br />
urbanos e fabris em geral, têm condições para<br />
dirigir toda a massa de trabalhadores e explorados<br />
na luta para derrubar o jugo do capital".<br />
Sob o signo da<br />
Revolução da Nicarãgua<br />
A greve de 41 dias dos metalúrgicos do ABC<br />
foi conduzida, como <strong>se</strong> viu, com o p<strong>se</strong>udo-misticismo<br />
religioso, que impregna o novo sindicalismo<br />
promovido pelas Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />
229
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
~ O/AO PAULO g<br />
l~J --.---- - ,~. ~,~-~<br />
1/.,...... .........._...--~--..,......<br />
Em 28 de fevereiro de 1980 realizou-<strong>se</strong> no teatro da<br />
PUC paulistana a "Noite Sandinista", com a pre<strong>se</strong>nça<br />
de chefes da guerrilha nicaragüen<strong>se</strong>. Frei Bato, Lula,<br />
sindicalistas e membros de <strong>CEBs</strong> reuniram-<strong>se</strong> naqueles<br />
dias, a portas fecha<strong>das</strong>, com os dirigentes sandinistas.<br />
Um mês depois, eclodiam as greves .. . - Nicarágua,<br />
apenas o começo?<br />
alimenta<strong>das</strong> pela Teologia da Libertação. Mais<br />
precisamente, pela TL posta em prática. Ora,<br />
<strong>se</strong>gundo o <strong>se</strong>manário da Arquidioce<strong>se</strong> de São<br />
f>aulo, "a expressão mais alta da prática concreta<br />
da Teologia da Libertação" foi a Revolução Sandinista<br />
da Nicarágua ...<br />
Cerca de um mês antes da eclosão do movimento<br />
grevista do ABC, reuniu-<strong>se</strong> em Taboão da<br />
Serra-SP o 4.° Congresso Internacional Ecumênico<br />
de Teologia, com a participação dos principais<br />
repre<strong>se</strong>ntantes mundiais da Teologia da Libertação,<br />
tendo por tema a "Eclesiologia <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>". TL e <strong>CEBs</strong> reuni<strong>das</strong><br />
num mesmo encontro, portanto. Coincidência<br />
ou não, o coordenador des<strong>se</strong> congresso não foi<br />
'outro <strong>se</strong>não o já por demais referido Frei Beto ...<br />
A grande atração do Congresso de Taboão da<br />
Serra foi a delegação da Nicarágua, da qual faziam<br />
parte destaca<strong>das</strong> figuras da Frente Sandinista de<br />
Libertação e membros de Comunidades de Ba<strong>se</strong>.<br />
O "caso da Nicarágua" foi apre<strong>se</strong>ntado como<br />
paradigma para a ação "libertadora" <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> ...<br />
Paralelamente ao Congresso, realizou-<strong>se</strong> uma<br />
Semana de Teologia, com <strong>se</strong>ssões no Teatro da<br />
Universidade Católica - TUCA, destina<strong>das</strong> especialmente<br />
aos membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> paulistanas. Em<br />
uma dessas <strong>se</strong>ssões, a "Noite Sandinista" (presidida<br />
pelo mesmo Frei Beto), Socorro Guerrero -<br />
integrante de uma Comunidade de Ba<strong>se</strong> de Manágua<br />
e do dispositivo de sustentação da guerrilha -<br />
concitou (sob aplausos) os militantes <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong><br />
brasileiras a <strong>se</strong>guirem o exemplo <strong>das</strong> de <strong>se</strong>u país,<br />
as <strong>quais</strong> <strong>se</strong> engajaram na insurreição armada para<br />
derrubar o capitalismo, "o diabo da Bíblia", <strong>se</strong>gundo<br />
suas palavras (1).<br />
No encerramento dessa Semana de Teologia, o<br />
Cardeal Arns tomou a palavra: - "Como concluir?<br />
- perguntou. Não há conclusão. A coisa<br />
apenas começou ... .... Vejam esta pergunta: Chega<br />
(1) A TFP promoveu larga difusão do número de "Catolicismo"<br />
contendo ampla reportagem fotográfica, bem como o<br />
texto de todos os pronunciamentos dos oradores da "Noite<br />
Sandinista", comentados pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira<br />
(cfr. "Catolicismo", julho-agosto 1980).<br />
230
Parte II<br />
Capítulo Ili -<br />
li<br />
de teologia e vamos à pra11ca: onde estão os<br />
grupos que vão para a Nicarágua, para aprender?<br />
Eu respondo: Sei que, em São Paulo, há grupos <strong>se</strong><br />
preparando e de malas prontas para partir. Até<br />
com a permissão do Arcebispo de São Paulo ... "<br />
Mas não foi preciso ir até a Nicarágua para<br />
aprender: naqueles dias mesmo, o comandante<br />
Daniel Ortega, um dos principais chefes guerrilheiros<br />
e membro da Junta de Governo, e o Pe.<br />
Miguel D'Escoto, chanceler, ambos pre<strong>se</strong>ntes em<br />
Taboão, reuniram-<strong>se</strong> a portas fecha<strong>das</strong> com "repre<strong>se</strong>ntantes<br />
dos movimentos de ba<strong>se</strong> da Igreja na<br />
periferia" (<strong>CEBs</strong>), <strong>das</strong> Pastorais da Arquidioce<strong>se</strong>,<br />
e ... o Sr. Luís Inacio da Silva, "Lula", além de<br />
outros dirigentes do PT. O Cardeal tii,ha razão: a<br />
"coisa" parece que tinha apenas começado ...<br />
Com efeito, menos de um mês depois eclodia a<br />
greve "libertadora" do ABC, sob a conduta ostensiva<br />
de Lula (e a velada de Frei Beto) e com as<br />
bênçãos do Sr. Cardeal-Arcebispo de São Paulo ...<br />
Referências: "O Estado de S. Paulo", 20-3, 22-4, 26-4 e 6-5-80;<br />
"Jornal do Brasil", 21-4 e 22-4-80; CARLOS CASTELLO BRANCO,<br />
Substituem-<strong>se</strong> os personagens, "Jornal do Brasil" - "Coluna<br />
do Castello", 23-4-80; "O Dia", Ri o de J a neiro, 20-4-80: "Folha<br />
da Tarde", São Paulo, 1-5-80; "SEDOC", outubro 1978, cols.<br />
355-363; "O São Paulo", 18-1 , 2-5, 7-3, 14-3, 23-3 e 11-4-80;<br />
" Compa nheiro", 27-2, 9-4 e 7-5-80; "Movimento", 3-3, 14-4 e<br />
12-5-80; "O Trabalho", 23-4-80; " Isto é", 12-3, 9-4 e 30-4-80;.<br />
" Em Tempo", 15-5-80; "Folha de S. Pa ulo", 2-5 e 13-5-80;<br />
"Cadernos do CEAS", <strong>se</strong>tembro-outubro 1978, pp. 20 ss.;<br />
"Jornal de Brasília", 1-5-80; "Folhetim", 28-1 -79 e 11-5-80;<br />
"Catolicismo", julho-agosto 1980; "Jornal da Tarde", "O Globo",<br />
" Diá ri o de Perna mbuco" de 7-4-80; A greve na voz dos<br />
trabalhadores - Da Scania a !tu, Coleção História Imediata,<br />
Ed . Alfa Ô mega, São Paulo, J979, pp. 52-53; LENIN, Obras.<br />
t. 29, p. 387, ci tado por V. G. AFANASS IEV, Filosofia Marxista<br />
- Compêndio Popular, Ed it orial Vitória, Rio de Janeiro,<br />
1963, p. 313; P E. J . B. LIBÃNIO, Congresso Internacional Ecumênico<br />
de Teologia, in " Revista Eclesiástica Brasileira", ma rço<br />
1980, pp. 126- 133.<br />
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>,<br />
à esquerda<br />
doPCB<br />
D . Paulo Arns<br />
ANALISANDO a atuação do Sr. Cardeal<br />
Arns nas greves de 1979, o Pe. Sellitti, de "O<br />
Lutador", <strong>se</strong>manário católico de Belo Horizonte,<br />
tem o <strong>se</strong>guinte comentário: "Essa cessão<br />
dos templos só pode <strong>se</strong>r compreendida em sua<br />
dimensão real <strong>se</strong> percebermos, por trás do fato,<br />
algo mais que a necessidade de defender o<br />
di~eito de reunião dos operários em greve,<br />
pnvados de suas <strong>se</strong>des. E que a greve e os<br />
comandos de greve não repre<strong>se</strong>ntavam a posição<br />
dos sindicatos, mas <strong>das</strong> oposições sindicais.<br />
Uma minoria <strong>se</strong>m dúvida, mas <strong>muito</strong> ativa, em<br />
que as esquer<strong>das</strong> radicais e menos conciliadoras<br />
<strong>se</strong> encontram com os líderes de movimentos<br />
populares estimulados pela Igreja. É nessa zona<br />
de turbulência que <strong>se</strong> tem colocado as <strong>CEBs</strong><br />
(Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>), à esquerda do<br />
PCB. Isto me parece revelar uma dimensão<br />
<strong>pouco</strong> visível, <strong>pouco</strong> declarada, mas real, da<br />
decisão que levou a Igreja paulistana a ceder<br />
<strong>se</strong>'us templos para <strong>se</strong>de dos comandos de greve;<br />
é que os militantes dos movimentos de Igreja<br />
(<strong>CEBs</strong>) estavam na frente de uma greve, defla- .<br />
grada pela oposição sindical e não pelo sindicato"<br />
(Artigo Igreja mais política e Igreja mais<br />
religiosa, transcrito no "Mensageiro de Santa<br />
Rita", Franca-SP, dezembro 1979, p. 76).<br />
23 1
I<br />
'tranJ.bérn na<br />
de <strong>1982</strong>
'º·. ..<br />
• • I I
Uma concepção ,;e/i iasa da política<br />
e polítioa da religião<br />
Q UAL A FORÇA política <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> - <strong>CEBs</strong>?<br />
A questão - de grande interes<strong>se</strong> em si mesma<br />
- ganha atualidade com a abertura do processo<br />
eleitoral. Dos ambientes eclesiásticos e da esfera<br />
restrita dos políticos, governantes e elites dirigentes,<br />
ela desceu ao domínio do grande público,<br />
ganhou as páginas dos jornais e <strong>se</strong> tornou tema de<br />
conversas. Chegou mesmo a provocar polêmicas,<br />
por vezes acalora<strong>das</strong>, envolvendo personalidades<br />
dos mais diversos <strong>se</strong>tores da vida nacional.<br />
Seria, entretanto, dar mostras de uma concepção<br />
demasiado estreita e anacrônica da política<br />
confinar a importância <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais<br />
de Ba<strong>se</strong> ao terreno puramente eleitoral. Sem negligenciar<br />
as manifestações de pujança que elas já<br />
demonstraram nes<strong>se</strong> terreno, é preciso descer mais<br />
fundo para avaliar a verdadeira importância política<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> no panorama brasileiro.<br />
Mais do que <strong>se</strong>u número e sua estrutura organizacional<br />
(de resto nada desprezíveis), o que<br />
torna as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> uma<br />
"potência emergente" no panorama político brasileiro<br />
é sua característica de movimento eclesial. É<br />
por <strong>se</strong>rem organismos da Igreja, fomentados,<br />
apoiados, prestigiados pelo Episcopado, que elas<br />
ganham credibilidade junto à população majoritariamente<br />
católica do País e recebem toda a cobertura<br />
por parte da grande maioria dos órgãos de<br />
imprensa (<strong>se</strong>mpre pródigos em conferir-lhes espaços<br />
e emprestar-lhes as tubas da publicidade), bem<br />
como dos "sapos" - es<strong>se</strong>s plutocratas amigos de<br />
to<strong>das</strong> as esquer<strong>das</strong>.<br />
E aqui já <strong>se</strong> chega ao âmago da questão: é a<br />
Religião que confere às <strong>CEBs</strong> a sua força política.<br />
Não só pelo apoio externo, isto é, pela legitimação<br />
episcopal, mas pela própria dinâmica de<br />
suas concepções religiosas é que as <strong>CEBs</strong> emergem<br />
como força política.<br />
Toda prãtlca "Libertadora"<br />
ê prãtlca religiosa<br />
Com efeito, as <strong>CEBs</strong> apre<strong>se</strong>ntam-<strong>se</strong> como a<br />
"prática concreta" da Teologia da Libertação, e a<br />
TL afirma que a fé tem uma dimensão política: a<br />
finalidade da religião é a libertação do homem d·e<br />
toda a "opressão".<br />
A opressão, em nossos dias, no mundo ocidental,<br />
<strong>se</strong> corporifica nas estruturas da sociedade<br />
capitalista - dizem os "teólogos da libertação".<br />
Para libertar "o homem todo e todos os homens" é<br />
preciso transformar essas estruturas. O que <strong>se</strong> faz<br />
pela atuação política (ou pela revolução arma-<br />
235
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
da .. . ). A prática religiosa é, pois, prática libertadora.<br />
Reciprocamente, toda prática libertadora é<br />
intrin<strong>se</strong>camente religiosa, <strong>pouco</strong> importando a<br />
qualidade ou a intenção dos agentes: a essência da<br />
religião, da fé - afirmam - está no ato libertador,<br />
não na crença em dogmas e na ob<strong>se</strong>rvância<br />
dos Mandamentos.<br />
Política e religião encontram-<strong>se</strong>, nessa perspectiva,<br />
tão intimamente uni<strong>das</strong>, que o membro <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong> engaja-<strong>se</strong> na luta política por razões religiosas<br />
e pratica a religião de um modo político:<br />
são políticos na prática da religião e religiosos na<br />
prática política. O que conta é o caráter libertador<br />
de uma e de outra.<br />
Daí decorre uma concepção mais ampla da<br />
atividade política, que não <strong>se</strong> restringe ao jogo<br />
político-eleitoral e à militância partidária, mas <strong>se</strong><br />
este_nde a toda a at uação libertadora <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong>: movimentos reivindicatórios ou de<br />
protesto, greves, luta sindical, agitação rural e<br />
tudo o mais que <strong>se</strong> viu.<br />
A polêmica a respeito da importância política<br />
<strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> girará em falso enquanto negligenciar<br />
essa realidade e <strong>se</strong> cifrar no risco de sua instrumentalização<br />
por partidos (legais ou ilegais, abertos ou<br />
clandestinos) e à sua participação no processo<br />
político-elei torai.<br />
A consclentlzação: da<br />
religião à polftlca<br />
A passagem da esfera religiosa à política dá-<strong>se</strong><br />
como con<strong>se</strong>qüência imediata e inevitável do processo<br />
de conscientização <strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s comunitárias,<br />
considerada pela maioria dos agentes pastorais<br />
como a principal atividade <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> e que ocupa<br />
cerca de dois terços de <strong>se</strong>u tempo.<br />
Dois ambientes em torno do crucifixo, duas concepções<br />
de religil o: à esquerda a Igreja de Nossa Senhora da Paz,<br />
em Silo Peulo, transformada em local de comlcio; à direita,<br />
monges espanhóis em oraçl o.<br />
A essência da conscientização consiste em despertar<br />
o indivíduo (em nome da Religião) para<br />
problemas que o rodeiam (dos <strong>quais</strong> nem <strong>se</strong>mpre<br />
<strong>se</strong> dava conta, e com os <strong>quais</strong>, via de regra,<br />
convivia de maneira suportável), com o intuito<br />
deliberado de provocar nele a insatisfação com sua<br />
situação pre<strong>se</strong>nte e o de<strong>se</strong>jo de participar na<br />
transformação <strong>das</strong> estruturas da sociedade, onde<br />
residiria a causa de todos os <strong>se</strong>us males.<br />
Mas a transformação da sociedade não <strong>se</strong> faz<br />
cabalmente <strong>se</strong>m a atividade política ( ou a ação<br />
236
Parte li<br />
Cap ítulo I V -<br />
I<br />
por força da conscientização, tornou-<strong>se</strong> um descontente<br />
com a sociedade vigente e decidiu engajar-<strong>se</strong><br />
na luta pela transformação de suas estruturas,<br />
atuando de acordo com metas e estilos que as<br />
<strong>CEBs</strong> lhe incukaram <strong>se</strong>rem os melhores.<br />
O membro da CEB, ao ingressar na vida<br />
político-partidária, leva consigo uma nova visão<br />
do homem e do mundo e está tomado por um<br />
estado temperamental que condiciona sua atuação,<br />
ainda que <strong>se</strong> tenha desligado formalmente do<br />
movimento <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>, como querem<br />
alguns Prelados.<br />
Parlamentares, s_lm.<br />
Membros <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> também<br />
revolucionária ... ). Portanto, o indivíduo, na medida<br />
em que é conscientizado, é arrastado para a<br />
arena política.<br />
Postas as coisas por essa forma, não tem<br />
<strong>se</strong>ntido dizer, como <strong>se</strong> tem ouvido tantas vezes,<br />
que as <strong>CEBs</strong> enquanto tais não fazem política<br />
partidária e que, <strong>se</strong> <strong>se</strong>us membros ingressam nos<br />
partidos, fazem-no a título pessoal. Pois quem ingressa<br />
na vida partidária já não é o cidadão<br />
comum, levado a isso por razões pessoais, circunstanciais,<br />
ou <strong>quais</strong>quer outras. É o indivíduo que,<br />
É preciso ressaltar que, embora militando em<br />
partidos políticos diversos, os membros <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, em sua maioria, continuam,<br />
naturalmente, a freqüentar as reuniões destas,<br />
inclusive por motivações estritamente religiosas.<br />
E continuam, inevitavelmente, em sua atuação<br />
pública, abertos a todo o estado de ânimo do<br />
movimento, expresso, por exemplo, em comentários<br />
sobre a situação política e em sugestões sobre<br />
o que fazer ou evitar, apre<strong>se</strong>nta<strong>das</strong> a eles pelos<br />
dirigentes imediatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. Estes, por sua vez,<br />
recebem de dirigentes superiores as orientações<br />
que vêm da cúpula do movimento. Tudo isso<br />
importa, pelo menos para a maioria dos membros,<br />
em um verdadeiro sistema de transmissão de<br />
orientações. De modo que, em muitas matérias, a<br />
atuação dos políticos oriundos <strong>das</strong> Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> pode <strong>se</strong>r <strong>muito</strong> mais condicionada pela<br />
cúpula suprema do movimento do que pelas<br />
direções dos partidos a que estão filiados.<br />
237
Um centauro polftico-religioso<br />
- Diante de tal quadro, que repre<strong>se</strong>ntam<br />
propriamente as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
na vida política do Brasil?<br />
Trata-<strong>se</strong>, antes de tudo, de um movimento, de<br />
uma corrente filosófico-religiosa que, à <strong>se</strong>melhança<br />
dos partidos comunistas e socialistas, quer<br />
apropriar-<strong>se</strong> do Estado, do Poder Público, para<br />
colocá-lo a <strong>se</strong>rviço de suas próprias concepções<br />
religiosas e filosóficas, no caso, a Teologia da<br />
Libertação.<br />
- <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> constituem, então, um partido<br />
político?<br />
Em certo <strong>se</strong>ntido sim, em certo <strong>se</strong>ntido não.<br />
Elas não <strong>se</strong> reduzem a um mero partido político,<br />
embora possam <strong>se</strong>r considera<strong>das</strong> como tal em<br />
certa manifestação de sua atividade. Mas pelo <strong>se</strong>u<br />
vulto, sua doutrina, <strong>se</strong>us objetivos, transcendem<br />
de <strong>muito</strong> os estreitos limites de simples agremiação<br />
partidária: elas constituem uma espécie de<br />
religião (de fato, são uma Igreja-Nova a germinar<br />
obscuramente nas fileiras católicas, como <strong>se</strong> viu<br />
no capítulo relativo à Teologia da Libertação) que<br />
pretende dominar o Estado e instrumentalizá-lo<br />
em determinada direção. Talvez <strong>se</strong> pudes<strong>se</strong> dizer,<br />
metaforicamente, que as <strong>CEBs</strong> são um partido,<br />
assim como um centauro é um cavalo: movimento<br />
híbrido, político e religioso, da mesma forma que<br />
o mítico centauro é metade homem, metade<br />
cavalo.<br />
É es<strong>se</strong> movimento híbrido, es<strong>se</strong> centauro político-religioso<br />
( ou religioso-político), que procura,<br />
por meio da política, dominar o Estado. Política,<br />
vale repetir, que não <strong>se</strong> restringe à atividade<br />
partidária e eleitoral, mas que também não· a<br />
exclui. Sem <strong>se</strong> identificar inteiramente com nenhuma<br />
<strong>das</strong> legen<strong>das</strong>, as <strong>CEBs</strong> pairam sobre to<strong>das</strong>,<br />
de mo90 a que <strong>se</strong>us membros possam atuar com<br />
liberdade de movimento em cada partido, na<br />
medida em que o exijam as circunstâncias pessoais,<br />
locais ou políticas (*).<br />
(º) Por ocasião de sua visita ao Brasil, em 1980, S. S. João<br />
Paulo II confiou à CNBB uma mensagem dirigida às Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> do Brasil, na qual <strong>se</strong> podem ler as<br />
<strong>se</strong>guintes palavras: "Se nos anos passados, as Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> latino-americanas, brasileiras em particular,<br />
238
Parte li<br />
Capítulo / V -<br />
I<br />
Para que rumos corre tão desabaladamente<br />
es<strong>se</strong> centauro político-religioso (instigado pelos<br />
<strong>se</strong>tores mais radicais do Clero), procurando arrastar<br />
consigo o País?<br />
Socialismo autogestionãrio francês<br />
ou sandinismo nicaragUen<strong>se</strong>?<br />
É desconhecer o radicalismo do movimento<br />
pretender que as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />
quando <strong>se</strong> lançam no processo político-eleitoral,<br />
não têm maiores ambições que a conquista de<br />
algumas cadeiras parlamentares, de alguns mandatos<br />
de prefeito, ou mesmo a ocupação de uma ou<br />
outra pasta ministerial. Elas visam as<strong>se</strong>nhorear-<strong>se</strong><br />
do Estado, mas apenas como instrumento, já que o<br />
<strong>se</strong>u projeto leva à extinção do próprio Estado, de<br />
conformidade com a utopia anarquista de Marx.<br />
Elas pretendem - por meio de uma atuação<br />
política global - influir, não só na vida pública da<br />
manifestaram enorme vitalidade e foram acolhi<strong>das</strong> como valiosíssimo<br />
elemento pastoral; <strong>se</strong> tiveram, além disso, notável<br />
repercussão no Exterior, foi justamente porque souberam<br />
manter, <strong>se</strong>m desvios nem alterações, a dimensão eclesial,<br />
fugindo à contaminação ideológica" ( Todos os pronunciamentos<br />
do Papa no Brasil, Edições Loyola, São Paulo, 1980,<br />
p. 268).<br />
Tudo quanto o pre<strong>se</strong>nte livro informa acerca <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é<br />
fundamentado em documentos incontroversos. Deve-<strong>se</strong> então<br />
concluir que o Pontífice estava insuficientemente informado<br />
quando sobre elas assim <strong>se</strong> pronunciou?<br />
Tal hipóte<strong>se</strong> não implica na menor irreve rência em relação<br />
à Cátedra de São Pedro, pois a doutrina da Igreja admite a<br />
possibilidade de um Pontífice estar mal informado acerca de<br />
alguma associação ou movimento.<br />
Ademais, embora as palavras de João Paulo II soem como<br />
um elogio irrestrito às <strong>CEBs</strong> brasileiras, elas talvez comportem<br />
uma outra interpretação.<br />
Com efeito, linhas antes, o Pontífice havia externado sérias<br />
apreensões em relação às Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong>,<br />
exortando-as à vigilância: "Entre as dimensões <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, julgo conveniente chamar a atenção<br />
para aquela que mais profundamente as define e <strong>se</strong>m a qual <strong>se</strong><br />
esvairia sua identidade: a eclesialidade. Sublinho esta eclesialidade<br />
porque está explícita já na designação que, sobretudo na<br />
América Últina, as comunidades receberam. .... Sublinho<br />
também esta eclesialidade porque o perigo de atenuar essa<br />
dimensão, <strong>se</strong> não deixá-la desparecer em beneficio de outras,<br />
não é nem irreal nem remoto, antes é <strong>se</strong>mpre atual. É particularmente<br />
insistente o risco de inlTomissio do político. Esta<br />
intromissão pode dar-<strong>se</strong> na própria gêne<strong>se</strong> e formação <strong>das</strong><br />
comunidades, que <strong>se</strong> congregariam não a partir de uma visão<br />
de lgre_ia, mas com critérios e objetivos de ideologia política.<br />
Tal intromissão, porém, pode dar-<strong>se</strong> também sob a forma de<br />
instrumentalização política de comunidades que haviam nascido<br />
em perspectiva eclesial. Uma delicada atenção e um sério e<br />
corajoso esforço para manter em toda a sua pureza a dimensão<br />
eclesial dessas comunidades é um eminente <strong>se</strong>rviço que <strong>se</strong><br />
presta, de uma parte, a elas próprias e, de outra parte, à Igreja:<br />
.... A oportunidade desta viagem parece-me momento adequado<br />
para exortar as Comunidades & lesiais de Ba<strong>se</strong> no Brasil<br />
a con<strong>se</strong>rvarem intata a sua dimensão eclesial não obstante<br />
tendências 011 impulsos que venham do Exterior ou do próprio<br />
país num <strong>se</strong>ntido diverso (op. cit., pp. 268-269 - destaques<br />
nossos).<br />
Em <strong>se</strong>u <strong>se</strong>ntido imediato, estas palavras premunem as <strong>CEBs</strong><br />
contra um perigo apenas possível. Mas perigo grave e insistente,<br />
que põe notoriamente a vigilância do Pontífice em um<br />
estado de viva apreensão, pode-<strong>se</strong> até dizer de sobressalto.<br />
Ora, es<strong>se</strong> 'sobressalto é <strong>pouco</strong> provável que <strong>se</strong> exprimis<strong>se</strong><br />
com tais matizes de linguagem <strong>se</strong> ele tives<strong>se</strong> as <strong>CEBs</strong> em conta<br />
de campos de escol, inteiramente imunes à <strong>se</strong>meadura da má<br />
<strong>se</strong>mente. Ou <strong>se</strong>ja, <strong>se</strong> ele não discernis<strong>se</strong> nas <strong>CEBs</strong> tendências<br />
para absorver a ação ideológico-política do esquerdismo. E<br />
tendências vivas!<br />
Tomando assim o pronunciamento pontiflcio em <strong>se</strong>u conjunto,<br />
vê-<strong>se</strong> que os dados informativos publicados no pre<strong>se</strong>nte<br />
livro de algum modo caminham ao encontro de apreensões<br />
que já afligiam João Paulo li. Põem-lhe simplesmente em<br />
mãos material informativo sobre uma realidade que ele já<br />
. parecia entrever. Neste <strong>se</strong>ntido, a confirmam dolorosamente.<br />
239
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
nação, mas na vida particular dos cidadãos; impor<br />
um novo tipo de organização ·política, uma nova<br />
sociedade, um homem novo.<br />
Numa palavra, querem implantar no Brasil um<br />
regime socialista autogestionário, <strong>se</strong>melhante ao<br />
que o Partido Socialista Francês de Mitterrand<br />
está procurando instaurar na França por meio de<br />
reformas aplica<strong>das</strong> com gradualidade, e também<br />
àquele que os sandinistas tentam impor a ferro e<br />
fogo na sofrida e infeliz Nicarágua.<br />
Referências: F REI LEONARDO E FR EI CLODOVIS BoFF, Comunidades<br />
Cristãs e Política Partidária, in "Encontros com a Civilização<br />
Brasileira", n. 0 3, <strong>se</strong>tembro 1978, p. 15 (es<strong>se</strong> estudo "foi<br />
discutido e aprovado em reuniões com as ba<strong>se</strong>s e com a pre<strong>se</strong>nça<br />
de dezes<strong>se</strong>te bispos da Igreja Católica no Brasil"); FREI<br />
LEONARDO BoFF OFM, Que é fazer Teologia partindo de uma<br />
América Latina em cativeiro?, in " Revista Eclesiástica Brasileira",<br />
dezembro 1975, p. 863; PE. GusTAVO Gur1fRREZ, Teologia<br />
da Libertação, Vozes, Petrópolis, 2.ª ed., 1975; P E. A. G.<br />
R uem, Teologia da Libertação: Política ou Profetismo .?, Edições<br />
Loyola, São Paulo, 1977; FREI CLooov1s BoFF OSM, A influência<br />
política <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>),<br />
in "SEDOC", janeiro-fevereiro 1979, cols. 802-808; 4. 0 ENCON<br />
TRO NACIONAL DAS COMUNIDADES ,ECLES IAIS DE BASE (ltaici,<br />
1981 ), Relatório geral - Carta conclusão do encontro, in<br />
"SEDOC", <strong>se</strong>tembro 1981 , col. 139; CLAUDIO GurnEs, O conflito<br />
é entre o regime e a Igreja, in "Voz da Unidade", 14-11-80;<br />
Mal orientada. CEB pode virar grupo político (entrevista de<br />
D. José Varani), "Voz do Paraná", 23-10-77, p. 7; Bispo reme<br />
influência marxista na Igreja, "Jornal de Brasília", 23-9-80;<br />
Cardeal alerta para infiltração nas comunidades de ba<strong>se</strong> do<br />
Rio, "O Globo", 8--12-80; Núncio acha exagerada denúncia<br />
de infiltração, "O Estado de S. Paulo", 20-12-80; H ELENA<br />
SALEM (coordenação), A Igreja dos Oprimidos, Col. Brasil<br />
Ho_ie-3. Ed. Brasil Debates, São Paulo, 198 1, p. 204; Bispo<br />
Auxiliar pede "reformas urgentes", "Jornal do Brasil", 5-12-80;<br />
CANDIDO PROCÓPIO F ERRE IR A DE CAMARGO E OUTROS, Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong>, in P . S1 NGE R E V. C. BRANT (org.),<br />
São Pauln: o p ovo em movimento, Vozes-CEBRAP, Petrópolis,<br />
1980, p. 78; O. SEIXAS B1ANCHI NI E A. P ALME IR A, Experiências<br />
comunitárias: mito e realidade - Viagem aos Municlpios<br />
de São Mateus. Pinheiros e Boa Esperança - Estado do<br />
Espírito Santo, abril 198 I, policopiado.<br />
240
~<br />
EM MEIO à cn<strong>se</strong> de valores e ao caos do<br />
mundo contemporâneo, e em que pe<strong>se</strong> todo o<br />
processo de dessacralização por que ele tem<br />
passado, é ainda no Clero que nosso povo deposita<br />
grande parte de sua confiança, restos de uma<br />
veneração de tempos idos.<br />
Portanto, caso o Clero, ou parte dele, queira<br />
fazer uso de sua força e corroborar a atividade<br />
política <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>, esta pode <strong>se</strong> transformar num<br />
elemento decisivo da vida política brasileira. O que<br />
parece estar acontecendo.<br />
Com efeito, o dia em que <strong>se</strong> fizer um levantamento<br />
rigoroso sobre a participação <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> no processo políticoeleitoral<br />
brasileiro, especialmente no que <strong>se</strong> refere<br />
ao nível municipal, a opinião pública terá certamente<br />
uma surpresa quanto à extensão do fenômeno:<br />
elas constituem uma "potência emergente"<br />
na vida pública do Brasil.<br />
Dados fragmentãrios, mas expressivos<br />
Com <strong>se</strong>us milhares de núcleos espalhados por<br />
todo o País - englobando um contingente de membros<br />
difícil de calcular - as <strong>CEBs</strong> ultrapassam de longe<br />
a rede de diretórios de qualquer dos partidos políticos<br />
existentes, quiçá de todos eles somados. Compreende-<strong>se</strong>,<br />
pois, que políticos, homens públicos e<br />
cidadãos responsáveis de modo geral, estejam<br />
atentos a es<strong>se</strong> pote!].cial e <strong>se</strong> preocupem com o<br />
risco de sua canalização para objetivos eleitorais.<br />
Faltam, entretanto, dados completos e atualizados<br />
para avaliar a atuação eleitoral <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. O<br />
que existe são dados fragmentários, que vez por<br />
outra vêm à tona nas águas relativamente tranqüilas<br />
do noticiário político.<br />
São, entretanto, suficientes para deixar entrever<br />
o que ocorre nas regiões mais profun<strong>das</strong> dessas<br />
mesmas águas.<br />
Um crimentarista político chegou a afirmar que<br />
as <strong>CEBs</strong> influíram decisivamente nas eleições parlamentares<br />
de 1978, garantindo a vitória do<br />
partido oposicionista em regiões até então sob o<br />
controle da Arena.<br />
Foi precisamente o que ocorreu em São Paulo,<br />
onde as <strong>CEBs</strong> da Zona Sul elegeram para a<br />
<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia Legislativa e a Câmara Federal, pela<br />
legenda da Oposição, dois de <strong>se</strong>us mais destacados<br />
membros - a ex-freira Irma Passoni e o<br />
animador comunitário Aurélio Pérez -, numa<br />
região da cidade considerada reduto eleitoral de<br />
conhecido político situacionista, o qual a duras<br />
penas con<strong>se</strong>guiu as<strong>se</strong>gurar uma cadeira no legislativo<br />
estadual. <strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> paulistanas fizeram<br />
.<br />
'<br />
241
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
ainda outro deputado estadual, também pelo<br />
MDB, na pessoa do advogado Marco Aurélio<br />
Ribeiro, do Movimento do Custo de Vida.<br />
Não s6 na Oposição<br />
Mas não é só na Oposição que as Comunidades<br />
de Ba<strong>se</strong> marcam sua pre<strong>se</strong>nça no panorama<br />
político-partidário brasileiro. Em Curitiba, por<br />
exemplo, nas eleições municipais de 1976, as <strong>CEBs</strong><br />
decidiram lançar pela Arena a candidatura de <strong>se</strong>u<br />
ativo militante João lglosso, e ele acabou <strong>se</strong>ndo o<br />
vereador mais votado da cidade. No mesmo pleito,<br />
as Comunidades reconduziram à Prefeitura de<br />
Boa Esperança, no Espírito Santo, o ex-prefeito<br />
Amaro Covre, do partido governista. Já em 1972,<br />
na vizinha cidade de São Mateus, as <strong>CEBs</strong> ha ·iam<br />
imposto aos diretórios locais dos dois partidos -<br />
Arena e MDB - <strong>se</strong>us próprios candidatos à<br />
O papel polltico <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é continuamente salientado<br />
por jornais de to<strong>das</strong> as tendências.<br />
Câmara Municipal, sob a ameaça de boicotarem<br />
as eleições. Os candidatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> foram eleitos<br />
com facilidade. No pleito <strong>se</strong>guinte ( 1976), elegeram<br />
pelo MDB dois líderes de Comunidade,<br />
Gualter Nunes Loureiro e Túlio Paris, para os cargos<br />
de. prefeito e vice-prefeito. Com isso, as <strong>CEBs</strong>, que<br />
já dominavam a Câmara Municipal, passaram a<br />
controlar também o Executivo. Depois de quatro<br />
anos de mandato, o prefeito Loureiro não aceitou<br />
a prorrogação do mesmo, <strong>se</strong>ndo substituído pelo<br />
vice, Túlio Paris, o que garantiu às Comunidades a<br />
continuidade na aplicação de <strong>se</strong>u programa em<br />
nível municipal.<br />
Também no Nordeste, no<br />
Estado do Rio e no Paranã<br />
Também a Prefeitura de Aratuba - pequeno<br />
município produtor de frutas e verduras na <strong>se</strong>rra<br />
de Baturité, a 140 quilômetros de Fortaleza - é<br />
praticamente dominada pelas 72 Comunidades de<br />
Ba<strong>se</strong> locais. Elas elegeram um prefeito cujo filho e<br />
principal as<strong>se</strong>ssor é ativo militante comunitário. E<br />
já <strong>se</strong> preparam para eleger no pleito deste ano<br />
alguém de <strong>se</strong>us próprios quadros, de preferência<br />
um trabalhador rural. No <strong>se</strong>rtão pernambucano, o<br />
prefeito de Calçado presta contas às <strong>CEBs</strong>, antes<br />
mesmo de tratar com a Câmara de Vereadores. E<br />
em Trajano de Moraes, município pobre do<br />
interior fluminen<strong>se</strong>, as lideranças comunitárias<br />
dominam completamente a vida pública local,<br />
substituindo os antigos chefes partidários.<br />
A margem <strong>das</strong> instituições<br />
À margem dos quadros institucionais vigentes,<br />
as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> estão criando<br />
~ um novo instrumento de atuação política direta -<br />
Ol<br />
o<br />
.E<br />
E<br />
"<br />
~
Parte II<br />
Cap ítulo I V - 2<br />
Manifestação do<br />
Movimento Contra<br />
a ·carestia, na<br />
Catedral de São<br />
Paulo. - O MCC é<br />
considerado um dos<br />
principais "braços<br />
políticos" <strong>das</strong><br />
<strong>CEBs</strong>. Em 1978,<br />
três de <strong>se</strong>us dirigentes<br />
foram eleitos<br />
deputados: Irma<br />
Passoni, Marco<br />
Aurélio Ribeiro e<br />
Aurélio Pérez (na<br />
foto, assinalado pela<br />
aeta).<br />
as "<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias do Povo" ou "Con<strong>se</strong>lhos Populares"<br />
- , os <strong>quais</strong>, em cidades da importância de<br />
Campinas e Osasco, foram oficializados pelas<br />
administrações municipais como o canal entre o<br />
Poder Público e os moradores dos bairros periféricos<br />
e favelas, em detrimento da Câmara de<br />
Vereadores. De maneira rr.ais discreta, exercem<br />
influência análoga junto às Prefeituras de Joinville<br />
e Lajes (Santa Catarina) e outras localidades.<br />
O domínio político de certas Prefeituras pelas<br />
<strong>CEBs</strong> aparece às vezes marcado por um arzinho<br />
ditatorial nada tranqüilizador: "A nossa clas<strong>se</strong> lá<br />
<strong>se</strong> envolveu na política - lê-<strong>se</strong> num relatório de<br />
Comunidades do Ceará. Vamos experimentando o<br />
prefeito, <strong>se</strong> não <strong>se</strong>rvir nós bota para fora" ...<br />
São Mateus: ao assalto<br />
do governo municipal<br />
A estratégia pela qual - através da conscientização<br />
política e de um cuidadoso planejamento a<br />
longo prazo - as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
as<strong>se</strong>guram es<strong>se</strong> domínio político, aparece claramente<br />
no relato da experiência levada a cabo na<br />
cidade de São Mateus, no litoral norte do Estado<br />
do Espírito Santo. Foi ele apre<strong>se</strong>ntado no 2. 0<br />
Encontro Nacional <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> em 1976. É tão<br />
exemplificativo que merece <strong>se</strong>r transcrito no es<strong>se</strong>ncial,<br />
com alguns subtítulos acrescentados para<br />
facilitar a leitura.<br />
243
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
e Conscientização política <strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s comunitárias.<br />
- "Em 1972 iniciou-<strong>se</strong> na paróquia um<br />
trabalho de conscientização política, solicitada por<br />
muitas comunidades. Nas reuniões de animadores<br />
procurava-<strong>se</strong> descobrir as dificuldades e os problemas<br />
<strong>das</strong> comunidades. [Seguem-<strong>se</strong> vários depoimentos].<br />
Daí vem o questionamento: ' Por que tudo isso?<br />
Será que é porque o Município é pobre? porque o<br />
governo não tem dinheiro?'. 'Não. O município<br />
tem meios! Só que não zela pelo interior. Nós do<br />
interior somos esquecidos pelas autoridades, os<br />
políticos só lembram da gente-na hora <strong>das</strong> eleições,<br />
depois não valemos mais nada: somos explorados<br />
pelo voto. Só nos fazem promessas que nunca<br />
D . Aldo Gema, Bispo<br />
de São Mateus<br />
ES. - No norte capixaba,<br />
quem qui<strong>se</strong>r<br />
participar da vida<br />
religiosa é obrigado<br />
a pertencer a<br />
alguma Comunidade<br />
de Ba<strong>se</strong> e a aceitar<br />
a "conscientização<br />
sobre problemas<br />
sociais" e a<br />
"orientação sobre<br />
política" da dioce<strong>se</strong>.<br />
<strong>As</strong> cartilhas de e ,---------------<br />
co nsc ient ização -~ No BR~SIL .. lllf Mu1ro<br />
política elabora<strong>das</strong> i T'EMPO GlUE G •ASSIM:<br />
por dioce<strong>se</strong>s de t o-<br />
0<br />
do o Pais apre<strong>se</strong>n- ~<br />
tam uma visão sim- ,,<br />
plística da realida- ;<br />
de brasileira, pró- ~<br />
pria a alimentar a 5<br />
luta de clas<strong>se</strong>s. A r<br />
cartilha da Arqui- g<br />
dioce<strong>se</strong> do Rio de ~<br />
Janeiro (foto) em ~<br />
nada difere <strong>das</strong> de- ~<br />
mais nes<strong>se</strong> ponto. iii<br />
o<br />
;;<br />
~<br />
POio,...io11<br />
IV,"i.ilntl, .t...;.tdOol)<br />
cumprem'. 'É certo tudo isso? Será que não podemos.fazer<br />
algo para mudar esta situação? Como?'"<br />
• Pressão sobre os partidos para imposição de<br />
candidatos <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>. - "Entre os vários questionamentos<br />
descobriu-<strong>se</strong> um f enômeno: a Câmara<br />
municipal não repre<strong>se</strong>ntava o povo do interior. Só<br />
um dos nove vereadores morava no interior: todos<br />
os outros eram da cidade, desligados de qualquer<br />
vivência comunitária. .... Com a ajuda de alguns<br />
animadores mais entrosados na política foi planejado<br />
um programa de conscientização. Nas reflexões<br />
de grupo, no culto, nas reuniões os assuntos<br />
verteram sobre o <strong>se</strong>ntido da verdadeira política,<br />
sobre os deveres dos cidadãos em relação à política,<br />
à dignidade da pessoa que não deve deixar-<strong>se</strong><br />
244
Parte li<br />
comprar, sobre o <strong>se</strong>ntido do voto etc. Como con<strong>se</strong>qüência<br />
prática foi feita uma pesquisa entre as<br />
comunidades para que indicas<strong>se</strong>m o candidato a<br />
vereador que preferiam. A escolha caiu sobre<br />
pessoas que viviam com o povo. Os candidatos<br />
foram propostos aos diretórios dos dois partidos<br />
políticos com esta condição: 'Ou vocês os colocam<br />
entre os candidatos para vereadores, ou nós não<br />
votaremos'. A cúpula dos partidos, apesar de não<br />
estar de acordo, teve que aceitar as pessoas indica<strong>das</strong><br />
pelas comunidades".<br />
Cabe aqui um parênte<strong>se</strong> para ob<strong>se</strong>rvar que,<br />
<strong>se</strong>ndo o voto uma obrigação legal, a instigação ao<br />
boicote eleitoral importa núma instigação à ilegalidade.<br />
Pros<strong>se</strong>gue o relatório <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> de São Mateus.<br />
"No pleito que <strong>se</strong>guiu. cada distrito do interior<br />
con<strong>se</strong>guiu eleger com facilidade <strong>se</strong>us repre<strong>se</strong>ntantes.<br />
Naturalmente, em <strong>se</strong>guida, não faltaram dificuldades<br />
e per<strong>se</strong>guições por parte daqueles que<br />
viram desta maneira <strong>se</strong>u domínio político abalado".<br />
Em 1976, como já ficou dito, as <strong>CEBs</strong> conquistaram<br />
a Prefeitura, elegendo (pelo MDB) o prefeito<br />
Gualter Nunes Loureiro e o vice Túlio Paris,<br />
ambos líderes comunitários. Adquiriram assim<br />
condições para impor <strong>se</strong>u programa.<br />
Que partido político dispõe de <strong>se</strong>melhante<br />
máquina de pressão, de tão apurado know-how e<br />
de agentes tão bem treinados?<br />
• Pressão religiosa par11 fins políticos. - Para<br />
<strong>se</strong> fazer uma idéia dos instrumentos empregados<br />
por essa verdadeira máquina de pressão políticoreligiosa,<br />
convém <strong>sabe</strong>r que na Dioce<strong>se</strong> de São<br />
Mateus, os fiéis para receber os Sacramentos,<br />
casar, bati.zar os filhos, <strong>se</strong>r padrinhos de Batismo e<br />
Crisma, ou simplesmente testemunhas de casamento,<br />
são submetidos a exigências descabi<strong>das</strong>: é<br />
Capiwlo I V - 2<br />
preciso apre<strong>se</strong>ntar um "Atestado de Residência<br />
Religiosa", fornecido pelos líderes da Comunidade<br />
... Entre as exigências para receber tal atestado<br />
consta a <strong>se</strong>guinte: " /0. Aceita a caminhada da<br />
Igreja Católica nesta Dioce<strong>se</strong>, que escolheu c·aminhar<br />
com os pobres e aceita a consci~ntização<br />
sobre problemas sociais e a orientação sobre política<br />
?"<br />
É possíve l violentar de modo mais brutal as<br />
consciências, em nome da Religião, para fins<br />
declaradamente políticos? E quantos <strong>se</strong>rão os fiéis<br />
em condições de resistir a tal máquina de pressão<br />
religiosa?<br />
Quando as <strong>CEBs</strong> tomam o<br />
poder: Boa Esperança, esboço<br />
de autogestão comunitãria<br />
No vizinho município de Boa Esperança, a<br />
máquina <strong>das</strong> Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> fez<br />
eleger por dois mandatos intermitentes ( 1971-1972<br />
e 1977-1980, prorrogado até <strong>1982</strong>) Amaro Covre,<br />
do partido situacionista. Adquiriram assim condições<br />
para a::1licar naquela localidade capixaba sua<br />
experiência de "democracia direta", de "autogestão<br />
comunitária".<br />
• O "milagre" de Boa Esperança. - O "milagre"<br />
de Boa Esperança vem relatado com indisfarçável<br />
simpatia pelo sociólogo esquerdista Maurício<br />
Tragtenberg, em artigo sob o título Administração<br />
comunitária ressuscitou Boa Esperança.<br />
A crer no relato, a cidadezinha de Boa Esperança<br />
estava destinada a desaparecer do mapa: <strong>se</strong>u<br />
comércio reduzido a uma casa de <strong>se</strong>cos e molhados<br />
e duas lojinhas de tecidos. O Tribunal de<br />
Contas do Estado chegara a acon<strong>se</strong>lhar a extinção<br />
do Município e sua incorporação ao de São<br />
Mateus.<br />
245
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>. p ouco <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve com o são<br />
Ocorreu então o "milagre":<br />
"Deu-<strong>se</strong> o estancamento do êxodo rural, erradicação<br />
da miséria, pleno emprego para todos,<br />
eletrificação rural, construção de 300 km de estra<strong>das</strong>,<br />
produção de 12 milhões de sacas de café,<br />
produção de 26 mil litros de leite diários, mil sacos<br />
de farinha de mandioca e a existência de 33 mil<br />
cabeças de gado, devido à mobilização comunitária<br />
como ba<strong>se</strong> da administração municipal, posta<br />
em prática pelo prefeito Amaro Covre de 1971 a<br />
1973 retomada em 1977, quando ele foi eleito por<br />
novos quatro anos".<br />
Com que recursos Boa Esperança realizou <strong>se</strong>u<br />
"milagre econômico"? Segundo Tragtenberg, tudo<br />
<strong>se</strong> fez "<strong>se</strong>m recursos financeiros, <strong>se</strong>m contar com o<br />
apoio do governo estadual e f ederal". Verdadeiro<br />
milagre, com efeito!<br />
Matriz de Boa Esperança-ES<br />
·"Boa Esperança realizou <strong>se</strong>u 'milagre econômico'<br />
através da sua capacidade em mobilizar recursos<br />
a partir da comunidade, eliminando assim o<br />
êxodo rural, a miséria e decadência econômica",<br />
afirma Tragtenberg.<br />
Explicação bastante simples, para querp queira<br />
acreditar nes<strong>se</strong> tipo de "milagre". Pois não aponta<br />
como <strong>se</strong> con<strong>se</strong>guiu "mobilizar recursos" a partir de<br />
uma comunidade que - <strong>se</strong>gundo o relato do<br />
próprio Tragtenberg - estava às portas da miséria<br />
... Mas é preciso que a autogestão <strong>se</strong>ja a::,re<strong>se</strong>ntada<br />
com as atrações <strong>das</strong> coisas mágicas, "talismânicas",<br />
que eliminam <strong>se</strong>m maior esforço todos<br />
os problemas da humanidade ...<br />
• O papel <strong>das</strong> Comunidades de Ba<strong>se</strong>. - A<br />
crescenta M . Tragtenberg: "Papel fundamental<br />
cabe às comunidades de ba<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong> pela<br />
Igreja que, a partir de 1971, assumiram a forma de<br />
entidades civis compostas por repre<strong>se</strong>ntantes de<br />
entidades econômicas, culturais e líderes de comunidades<br />
do Município".<br />
A cidade toda está organizada "comunitariamente":<br />
"Os problemas são levantados a nível de<br />
comunidade de ba<strong>se</strong>, cada escola do Município <strong>se</strong><br />
constitui numa comunidade e para cada 1?. famílias<br />
há um líder por rua, escolhido por elas, r.eúnem-<strong>se</strong><br />
mensalmente por convocação, pela professora<br />
local e coordenados pelos líderes . .... Conjuntos<br />
de comunidades formam o centro de irradiação<br />
ou agrovila, cujos membros reúnem-<strong>se</strong> a cada<br />
bimestre com todos os líderes, vereadores, prefeito<br />
e as<strong>se</strong>ssores, delegado de polícia, diretores de<br />
escola; e passam a analisar as atas advin<strong>das</strong> da<br />
comunidade de ba<strong>se</strong> e a elaborar plano de trabalho<br />
a nível de centro de irradiação, para beneficiar<br />
to<strong>das</strong> as comunidades".<br />
• <strong>As</strong> Comunidades é que decidem. - Vem,<br />
então, a descrição da "estrutura do poder comuni-<br />
246
~<br />
Parte li<br />
tário": "A estrutura do poder comunitário de Boa<br />
Esperança <strong>se</strong> compõe de 150 líderes de comunidades<br />
de ba<strong>se</strong> rurais e 49 de ba<strong>se</strong>s urbanas. A<br />
Prefeitura anima o poder comunitário. O poder<br />
político real está nas comunidades de ba<strong>se</strong>, fundamento<br />
dos centros de irradiação ba<strong>se</strong> do Con<strong>se</strong>lho<br />
Municipal de De<strong>se</strong>nvolvimento, que tem funções<br />
executivas, legislativas e fiscalizadoras. através <strong>das</strong><br />
<strong>As</strong><strong>se</strong>mbléias e ação de <strong>se</strong>us líderes.<br />
Ao con<strong>se</strong>lho, as<strong>se</strong>mbléia soberana do Município,<br />
submetem-<strong>se</strong> o prefeito, a burocracia e os<br />
. vereadores. O vereador é eleito pelos cidadãos e é<br />
um líder comunitário eleito pela comunidade a que<br />
pertence".<br />
Essa apre<strong>se</strong>ntação do poder comunitário de<br />
Boa Esperança parece referir-<strong>se</strong> a outro país que<br />
não o Brasil, pois aqui não existe, legalmente<br />
instituído, nenhum superpoder municipal, com<br />
funções executivas, legislativas e de tribunal de<br />
contas, como as atribuí<strong>das</strong> ao Con<strong>se</strong>lho de De<strong>se</strong>nvolvimento<br />
Municipal, ao qual prefeito, vereadores<br />
e toda a administração devem estar submetidos.<br />
Não existe, no quadro institucional brasileiro,<br />
nenhuma "as<strong>se</strong>mbléia soberana do Município":<br />
Executivo e Legislativo municipais são poderes<br />
iguais, cada qual gozando de autonomia na esfera<br />
própria. Modernamente, é característica dos regimes<br />
absolutistas, totalitários ou ditatoriais o enfeixamento<br />
dos dois poderes (mais o de fiscalizar)<br />
nas mãos de uma única pessoa, categoria ou<br />
instituição.<br />
A funcionar na prática, tal con<strong>se</strong>lho <strong>se</strong>ria, pois,<br />
um verdadeiro ditador colegiado comunitário, em<br />
nível municipal, como o regime socialista autogestionário<br />
francês o é em nível nacional, de acordo<br />
com a denúncia do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,<br />
em "Mensagem" já célebre.<br />
VOZ OPERARIA<br />
1,ur. Au i.1,.11, ,\1 n,1~::.u -. ,•,1 •• t-n ,, • 1 11, : ·<br />
o. '"',--~,. , r,. ,,,,<br />
~ccumc nt;>_d_a C~~!B,<br />
um m arco<br />
no caminho<br />
de lutas<br />
dos democratas<br />
==~~;: ...<br />
Capítulo IV - 2<br />
-: · -t·- ---1<br />
10.J::l:m _ :1,:.<br />
1 C~ (\:; b i~:i :J..<br />
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<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Células marxistas?<br />
11<br />
Temos que correr o risco ... ,,<br />
O JORNAL do PCB publica um artigo de<br />
Cláudio Guedes, no qual <strong>se</strong> pode ler o <strong>se</strong>guinte:<br />
"Em poucas palavras, a Igreja que apoiou os<br />
golpistas em 64 e cuja tradição no país era de<br />
apoio às clas<strong>se</strong>s dominantes, mudou. Esta mudança<br />
está claramente exposta nos objetivos<br />
pastorais definidos em_Medellin (1968) e confirmados<br />
por Puebla 1979: é tarefa dos católicos<br />
opor-<strong>se</strong> às injustas estruturas sociais e políticas<br />
que oprimem e degradam milhões de pessoas na<br />
América Latina. Esta orientação tem <strong>se</strong> concretizado<br />
fundamentalmente pela atuação <strong>das</strong> Comunidades<br />
Eclesiais de Ba<strong>se</strong> (<strong>CEBs</strong>)" ("Voz da<br />
Unidade", 14-11-80).<br />
Não é de estranhar, pois, que <strong>se</strong> fale em<br />
infiltração comunista nas <strong>CEBs</strong>, ou até mesmo<br />
em sua transformação em "células comunistas".<br />
Em uma entrevista de 1977, o então Bispo de<br />
Jaboticabal-SP, D. José Varani, afirmava: "Se<br />
o líder for de mentalidade, digamos, esquerdista,<br />
pode fazer da CEB uma célula comunista"<br />
("Voz do Paraná", 23-10-77, p. 7).<br />
D. Tomás Murphy, Bispo Auxiliar de Salvador,<br />
concorda com a afirmação de que há o<br />
perigo de que as <strong>CEBs</strong> percam <strong>se</strong>u caráter eclesial,<br />
religioso e <strong>se</strong> transformem em "células<br />
marxistas". Entretanto, es<strong>se</strong> prelado acha que<br />
"temos que correr o risco" ("Jornal de Brasília",<br />
23-9-80).<br />
Mal .orientada,<br />
CEB pode virar<br />
grupo p1ítico<br />
Professor de T eoloq,o,<br />
Filosof,o e Direito<br />
Canónico. o bispo de<br />
Jobot,cabol, no ,n ter,or<br />
11orre de São Poulo. dó<br />
11e"o ' Rodo V,vo" suo<br />
visão sobre os ·<br />
problemas o,ua,s do<br />
lare10 Dom José Voro 111<br />
C' anos. podre desde<br />
1'"'139 e b,spo desde 1950<br />
1robolhou o maior porte<br />
de '"º , ,da sacerdotal<br />
com o povo simples do<br />
,nterior Talvez par<br />
. . - -'~......J.::~~~~~~----=...:.....-J<br />
O Sr. Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro,<br />
D. Eugênio Sales, também manifestou sua<br />
preocupação de que as <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>jam infiltra<strong>das</strong><br />
pelo comunismo, embora não <strong>se</strong>ja contra a<br />
participação política, a título pessoal, de <strong>se</strong>us<br />
membros (cfr. "O Globo", 8-12-80).<br />
Já o recentemente falecido Núncio Apostólico,<br />
D. Carmine Rocco, considerou "exagera<strong>das</strong>"<br />
as afirmações de que há infiltração de<br />
esquerda nas <strong>CEBs</strong>. Para poder chamá-las de<br />
comunistas <strong>se</strong>ria necessário que "elas <strong>fala</strong>s<strong>se</strong>m<br />
alguma coisinha a mais" ("O Estado de S.<br />
Paulo", 20-12-80).<br />
r<br />
'<br />
248<br />
"'-<br />
"'.<br />
- _:_~
Parte li Capítulo I V - 2<br />
A busca da autogestlo socialista pelas <strong>CEBs</strong> <strong>se</strong>guirá apenas a "via eleitoral" de Mitterrand, ou descambará para a<br />
luta de "libertaçllo" armada, como na Nicarágua? <strong>As</strong> duas formas nllo <strong>se</strong> excluem necessariamente ... - Na foto da<br />
esquerda, Mitterrand durante sua campanha presidencial. A direita, o "Comandante" sandinista Daniel Ortega faz a<br />
aaudaçlo comunista no teatro da Universidade Católica de SIio Paulo, aplaudido por Frei Bato, padres, freiras e<br />
dirigentes de CEB11.<br />
Vem a <strong>se</strong>guir, no artigo de M. Tragtenberg, um<br />
tópico de especial interes<strong>se</strong>, para quem tem dúvi<strong>das</strong><br />
de que as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong><br />
constituem um verdadeiro partido camuflado, por<br />
trás dos partidos políticos registrados: "Vereadores<br />
do PDS ou PMDB <strong>se</strong> distinguem mais em<br />
função de suas tarefas como líderes comunitários.<br />
Não são as direções partidárias que decidem <strong>se</strong>us<br />
compromissos e tarefas, mas sim as comunidades a<br />
que pertehcem".<br />
E o Prof. Tragtenberg expõe a filosofia que<br />
está por trás des<strong>se</strong> governo <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong>: "Boa Esperança<br />
realiza a prática da democracia direta onde<br />
as relações de trabalho apre<strong>se</strong>ntam cunho igualitário<br />
não <strong>se</strong> orientando para ·um modelo de crescimento<br />
fundado na· concentração de renda, propriedade<br />
e poder''.<br />
A experiência de Boa Esperança - tal como<br />
tem sido apre<strong>se</strong>ntada - parece indicar o rumo que<br />
as Comunidades Eclesiais de Ba<strong>se</strong> querem imprimir<br />
à sociedade brasileira: o da autogestão.<br />
Mas a autogestão <strong>das</strong> <strong>CEBs</strong> é mera aparência<br />
uma vez que é o Clero - e mais especialmente os<br />
Bispos, em cujas mãos está o Clero - quem as<br />
manipula.<br />
249
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong> ... <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece -<br />
A TFP as descreve como são<br />
Aliás, que é a autogestão, <strong>se</strong>não um imenso<br />
blefe, no qual as verdadeiras forças que dirigem -<br />
<strong>se</strong>ja o Clero, um partido ou qualquer outra - não<br />
aparecem?<br />
Referências: Livros: MARCIO MOREIRA ALVES, A Força d
A TF P recomenda<br />
<strong>As</strong> doutrinas propugna<strong>das</strong> pela TFP estão exp<br />
ostas em diversas publicações - livros, manifestos,<br />
declarações, comunicados, cartas aberras etc.<br />
"Catolicismo" tem franqueado suas páginas<br />
para rodos os pronunciamentos da TFP. O leit or<br />
encontrará ainda, nes<strong>se</strong> prestigioso mensário de<br />
cultura católica, informações e notícias sobre as<br />
diversas atividades da associação.<br />
Dos livros difundidos pela TFP, vários produziram,<br />
a <strong>se</strong>u tempo, tal impccro sobre os acon-<br />
• • •<br />
• EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA (1943)<br />
Plínio Corrêa de Oliveira<br />
Primeiro brado de alerta contra o progressismo nascente. Aponta e refuta os erros<br />
infiltrados no laicato católico, especialmente nas organizações de Ação Católica.<br />
Prefácio do Cardeal Bento Aloisi Ma<strong>se</strong>lla, então Núncio Apostólico no Brasil. Objeto<br />
de expressiva carta de louvor escrita em nome do Papa Pio XH pelo Substituto<br />
da Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons. J . B. Montini. mais tarde Paulo VI.<br />
384 p p. - Edição esgotada.<br />
recimentas - quer no campo religioso, quer<br />
110 campo temporal - que passaram a fazer<br />
parte da História de nosso País. Des<strong>se</strong>s livros<br />
f oram em geral tira<strong>das</strong> muitas edições e vendi<strong>das</strong><br />
dezenas de milhares de exemplares de cada<br />
um.<br />
Co nhecê-los é indispensável para quem queira<br />
<strong>se</strong> f ormar um panorama autêntico e completo da<br />
lura contra o comunismo, ·em nosso País, no<br />
decurso dos últimos cinqüenta anos .<br />
oomftO DE CONSCl(NCIA<br />
- ::s--<br />
• REFORMA AGRÁRIA - QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA (1960)<br />
D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina<br />
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos<br />
Prof. Plínio Corrêa de Oliveira<br />
Economista Luiz Mendonça de Freitas<br />
Besr-<strong>se</strong>ller polêmico que alertou o povo brasileiro cont ra a reforma agrária<br />
socialista e anticristã. Estudo doutrinário e técnico, ba<strong>se</strong>ado nos princípios da<br />
doutrina social católica, em considerações históricas e em abundantes estatísticas.<br />
Contribuiu decisivamente para formação do clima ideológico no qual eclodiu no<br />
Brasil o grande movimento anticomunista de março de 1964.<br />
520 pp. - Quatro edições em português e três em espanh ol. Total: 39 mil exemplares.<br />
/ X
e ACORDO COM O R EGI ME CO MUNISTA: PA RA A IGREJ A,<br />
ESPERANÇA OU AUTODEMO LIÇÃO? (1963)<br />
Plinio Corrêa de Oli eira<br />
Denuncia a manobra do comunismo que induz os católicos a aceitarem a eliminação<br />
da propriedad privada em troea de uma tal ou qual liberd ade de culto.<br />
Obra elogiada e recomendada em carta da agrada Congregação dos Seminários e<br />
Universidades como "eco fidelíssimo" dos documentos do Supremo Magistério da<br />
Igreja. Publicada originariamente sob o título A liberdade da Igreja no Estado<br />
comunista.<br />
l 28 pp. - Dez edições em português, onze em espanho l. cinco em fra ncês, quatro<br />
em inglês , três em ita liano, duas em polonês, uma em alemão. uma em húngaro e<br />
uma em vietnamita. Transcrito em 39 jornais ou revistas de treze diferentes paí<strong>se</strong>s.<br />
Total: 171 mil exemplares.<br />
DECLARAÇÃO DO MORRO ALTO (1964)<br />
Pelos mesmos autores de RA-QC<br />
Programa positivo de política agrária com o o bjetivo de resolver a fund o<br />
problemas do campo, <strong>se</strong>m entretanto des fi gura r a estrutura rural vigente.<br />
-<br />
\ 32 pp. - Duas ed ições, 22.500 exemplares.<br />
1<br />
BALD EAÇÃO IDEO LÓGICA INAD VE RTIDA E DI ÁLOGO (1965)<br />
Plí nio Corrêa de Oliveira<br />
Descreve o processo certeiro e subtil pelo qua l, através do diálogo irenista, <strong>muito</strong>s<br />
católicos <strong>se</strong> transformam inadve rtidamente em comunistas.<br />
128 pp. - Cinco edições em português, quatro em espanhol, uma em ita liano e<br />
uma em a lemão. Reproduzido em <strong>se</strong>is jornais e revistas de quatro paí<strong>se</strong>s.<br />
Total: 98,5 mil exemplares.<br />
• A IGREJ A ANTE A ESCALADA DA AMEAÇA COMUNISTA -<br />
A PELO AOS BISPOS S ILENCIOSOS ( 1976)<br />
Plíni o Corrêa de Oliveira<br />
Pri meiro estudo a a pre<strong>se</strong>ntar ao público brasileiro um vasto panorama da gra nd e<br />
pe leja doutrinária que surgiu há mais de quarenta anos em pequenos núcleos<br />
católicos e ganhou progressivamente todo o Brasil. No mesmo volume, res umo do<br />
momentoso livro da TFP chilena, A Igreja do Silêncio no Chile - A TFP andina<br />
proclama a verdade inteira.<br />
224 pp. - Quatro edições, 51 mil exemplares.<br />
X
OL _ÇÃO E<br />
+ -<br />
CONTRA-REVOLUÇAO<br />
Plinio Corrêa de Oliveira<br />
Revolução e Contra-Revolução é todo um programa de<br />
vida adotado por milhares de pessoas no mundo inteiro.<br />
Consubstancia os ideais <strong>das</strong> TFPs, e é assim o livro de<br />
cabeceira dos sócios, cooperadores e simpatizantes dessas<br />
associações. Nes<strong>se</strong> monumental estudo, Plínio Cor-.<br />
rêa de Oliveira analisa o processo de descristianização<br />
da sociedade temporal e laicização da sociedade espiritual<br />
iniciado no século XV e que vai atingindo <strong>se</strong>u<br />
ápice nos dias que correm. É a Revolução, cujas grandes<br />
molas propulsaras são o orgulho e a <strong>se</strong>nsualidade.<br />
A primeira grande explosão des<strong>se</strong> processo revolucionário<br />
foi, no campo cultural e artístico, a Renascença,<br />
que com o <strong>se</strong>u humanismo naturalista, quebrantou a<br />
pureza e a austeridade de costumes da Europa cristã; e<br />
no religioso, a Reforma de Lutero, a qual, rejeitando a<br />
autoridade do Papa e dos Bispos, introduziu alterações<br />
igualitárias na estrutura eclesiástica.<br />
A Revolução Francesa de 1789 produziu na estrutura<br />
hierárquica do Estado efeitos análogos aos do protestantismo<br />
na estrutura da Igreja. Esta <strong>se</strong>gunda Revolução<br />
erigiu como lema a célebre trilogia - liberté,<br />
égalité, fraternité - mas não a levou até às últimas<br />
con<strong>se</strong>qüências, e manteve mais ou menos intactas as<br />
desigualdades no campo sócio-econômico.<br />
Caberia à terceira Revolução - o Comunismo -<br />
as<strong>se</strong>star o golpe de morte na última desigualdade que<br />
restava, a de condição social e de fortuna. Porém, antes<br />
mesmo de atingir o <strong>se</strong>u termo, o comunismo vai engendrando,<br />
como fruto pútrido de si mesmo, a Quarta<br />
Revolução. Esta vai constituindo um fenômeno com-<br />
• •<br />
plexo, que comporta a desagregação total do Estado,<br />
substituído por miríades de corpúsculos sociais <strong>muito</strong><br />
largamente autônomos, a abolição virtual da família e<br />
da propriedade individual, e a reforma do homem, o<br />
qual, freudianamente "liberado" de qualquer freio, viveria<br />
<strong>se</strong>gundo o livre impulso de <strong>se</strong>us instintos.<br />
<strong>As</strong>sim, uma sociedade a-sacra!, completamente igualitária<br />
e anárquica é a grande meta para a qual tende o<br />
processo revolucionário.<br />
Em Revolução e Conira-Revolução, Plinio Corrêa de<br />
Oliveira aponta as metas e os métodos aptos a cortar o<br />
passo e extinguir o processo revolucionário. E assinala<br />
as razões não só de esperança como de certeza da vitória<br />
da Contra-Revolução: as portas do inferno não prevalecerão<br />
contra a Igreja.<br />
•<br />
64 pp. - Uma edição em português, cinco em espanhol, três em italiano, duas em inglês e duas em francês.<br />
Publicado originariamente em "Catolicismo".<br />
Total: 86 mil exemplares.<br />
XI
.1<br />
, ....<br />
• T RIBALIS MO INDÍGENA, IDEAL COMUNO-MISS IONÁRIO<br />
PARA O BRASIL NO SÉCULO X I (1977)<br />
Plínio Corrêa de Oliveira<br />
Denuncia a corrente neomissionária aggiornara que <strong>se</strong> opõe à cateque<strong>se</strong> e à<br />
civil ização dos indígenas, e prega uma espécie de "luta de clas<strong>se</strong>s" entre silvícolas e<br />
brancos. Estudo indispensável para o conhecimento da grande cri<strong>se</strong> pela qual passa<br />
a Igreja no Brasil e que tende a <strong>se</strong> transformar, de cri<strong>se</strong> religiosa, em cri<strong>se</strong> de todo o<br />
País.<br />
l 28 pp. - Sete edições em português, além da transcrição em "Catolicismo".<br />
Publicado em inglês na revista "Crusade for a Christian Civi lization". Tota l:<br />
87 mil exemplares.<br />
• MEIO SÉCULO DE EPOPÉIA ANT ICOMUNISTA ( 1980)<br />
Historia os 50 anos de luta em defesa dos princípios básicos da civilização cristã<br />
iniciada por Plínio Corrêa de Oliveira em 1928 nos ambientes especificamente<br />
católicos, e da qual desabrochou em 1960 a Sociedade Brasileira de Defesa da<br />
Tradição, Família e Propriedade - TFP, que vem tendo desde então marcante<br />
pre<strong>se</strong>nça no confronto ideológico de nossos dias, não só na sociedade brasileira,<br />
como em todo o mundo.<br />
472 pp. -- Quatro edições em português, uma em inglês. Total: 43 mil exemplares.<br />
• 1<br />
l<br />
e SO U CAT Ó LI CO: POSSO SER CONTRA A REFORMA AGRÁRIA? ( l98 1)<br />
Plínio Corrêa de Oliveira e Carlos Patrício dei Campo<br />
Ana lisa acuradamente o documento Igrej a e problemas da terra emitido pela<br />
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CN BB) e mostra que não há<br />
consonância entre a Reforma Agrária preconizada por es<strong>se</strong> documento episcopal e<br />
os ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério da Igreja.<br />
360 pp. - T rês edições em português, 24 mil exemplares.<br />
• FREI, O KERENSKY C HILENO (1967)<br />
Fabio Vidigal Xavier da Silveira<br />
Considerado livro profético quando, em 1970, <strong>se</strong> cumpriu sua previsão, feita três<br />
a nos antes. de que a política esquerdista do Presidente demo-cristão Eduardo Frei<br />
preparava a ascensão de um governo marxista no Chile.<br />
208 pp. - Duas edições em português, <strong>se</strong>te em espanhol e uma em italiano.<br />
Publicado duas vezes em "Catolicismo" ( 1967 e 1970) e três vezes na revista<br />
"Cruzada" de Buenos Aires. Transcrito em numerosos jornais e revistas do<br />
Exterior. Total: 128,8 mi l exemplares.<br />
Xll
D. Antonio de Castro Mayer, até há <strong>pouco</strong> Bispo de Campos, publicou em<br />
sua profícua e luminosa atuação à testa daquela Dioce<strong>se</strong> uma série de<br />
importantes documentos pastorais, todos eles relacionados, imediata ou mediatamente,<br />
com a grande controvérsia originada pelo aparecimento do progressismo<br />
teológico e do esquerdismo sócio-econômico nos meios religiosos brasileiros:<br />
• POR UM CRISTIANISMO AUTÊNTICO (1971)<br />
Texto integral de nove Cartas Pastorais, uma Instrução Pastoral e uma Circular.<br />
Cartas Pastorais: Sobre a definição do dogma da <strong>As</strong>sunção da Bem-Ave111urada<br />
Virgem Maria ( 1950) • Sobre problemas do apos1olado moderno ( 1953) •<br />
Prevenindo os diocesanos co111ra os ardis da <strong>se</strong>i/a comunisla (1961) • Cas1idade,<br />
humildade, peni1ência - carac1erís1icas do cris1ão, alicerces da ordem social<br />
( 1963) • Os Documen1os Conciliares sobre Sagrada Li/urgia e inslrume/1/os de<br />
comunicação social ( 1963) • Considerações a propósito da aplicação dos<br />
Docume111os promulgados pelo Concílio Ecumênico Vaticano /l(l966) • Sobre<br />
a pre<strong>se</strong>rvação da Fé e dos bons cos/Umes ( 1967) • Sobre o Sa1110 Sacrifício da<br />
1'vfissa ( 1969) • Aggiornamento e Tradição ( 1971) • Instrução Pastoral sobre a<br />
Igreja ( 1965) • Circular sobre a reverência aos Sa111os Sacrame111os ( 1970).<br />
402 pp. - Dois mil exemplares.<br />
• CARTA PASTORAL SOBRE CURSILHOS DE CRISTANDADE (1972)<br />
Advertência sobre os erros que <strong>se</strong> introduziram nos até então incontrovertidos<br />
Cursilhos de Cristandade.<br />
112 pp. - Três edições em português, uma em inglês. Publicada na íntegra em<br />
"Catolicismo". Total: 96 mil exemplares.<br />
• CA RTA PASTORAL PELO CASAMENTO INDISSOLÚVEL (1975)<br />
Ex posição precisa e acessível da doutrina católica contrária ao divórcio.<br />
64 pp. - Duas edições em português. Transcrita em cinco jornais ou revistas de<br />
quatro paí<strong>se</strong>s. Total:<br />
-y--~<br />
119 mil exemplares.<br />
---·- \<br />
- 1<br />
'<br />
' .~ ....... ~ \<br />
·"""~· \<br />
~ ....--· 1)<br />
• CARTA PASTORAL SOBRE A MEDIAÇÃO<br />
UN IVERSAL DE MARIA SANTÍSSIMA (1978)<br />
• CARTA PASTORAL SOBRE A<br />
REALEZA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (1977)<br />
64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Catolicismo".<br />
Total: 8,5 mil exemplares.<br />
64 pp. - Uma edição em português. Publicada na íntegra em "Catolicismo" e em<br />
"Cristia nità", Itália. Total : 13,5 mil exemplares.<br />
XIII
...<br />
1<br />
e<br />
EL NACIONALISMO, UNA INCÓGNITA<br />
EN CONSTANTE EVOLUCIÔN (1970)<br />
Cosme Beccar Varela Hijo, Carlos F. lbarguren, Jorge M. Storni, Miguel Beccar<br />
Varela e Ernesto P. Burini, da Comissão de Estudos da Sociedade Argentina de<br />
Defesa da Tradição. Família e Propriedade.<br />
Mostra como o nacionalismo argentino evoluiu de uma posição tradicional<br />
católica e hispânica para uma posição nitidamente esquerdista.<br />
264 pp. - Três edições, <strong>se</strong>is mil exemplares.<br />
e LOS "KERENSKYS" ARGENTINOS (1972)<br />
Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />
Denuncia uma minoria revolucionária constituída por "sapos" da alta finança,<br />
clérigos esquerdistas, homens de imprensa, figuras do Governo de então e da<br />
intelligentsia, bem como por políticos profissionais, cuja atuação visava conduzir<br />
a Argentina ao socialismo populista, pela instauração de um governo esquerdista<br />
moderado - <strong>muito</strong> esquerdista e <strong>pouco</strong> moderado.<br />
192 pp. - Três edições, 13 mil exemplares.<br />
-~<br />
" ALLENDE ET SA "VOIE CHILIENNE" ... POUR LA MISERE (1974)<br />
Reportagem sobre o malogro da experiência de "socialismo em liberdade" do<br />
governo da Unidade Popular no Chile, feita in loco, imediatamente após a queda<br />
de Allende, por enviados <strong>das</strong> TFPs brasileira, argentina e chilena.<br />
240 pp. - Publicado em jornais ou revistas <strong>das</strong> TFPs e entidades congêneres do<br />
Brasil , Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Estados Unidos, Uruguai e<br />
Venezuela. Total: 69 mil exemplares.<br />
• LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE -<br />
LA TFP PROCLAMA LA VERDAD ENTERA (1976)<br />
Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />
Descrição e análi<strong>se</strong> do desconcertante apoio que uma grande parte do<br />
Episcopado e uma ponderável parcela do Clero chilenos, encabeçados pelo<br />
Cardeal Silva Henríquez, deram ao marxista Allende para sua ascensão ao poder<br />
e permanência nele.<br />
468 pp. - Edições também na Argentina, Colômbia, Espanha, França e Estados<br />
Unidos. Total: 24 mil exemplares. Resumos amplamente difundidos no Brasil,<br />
Argentina e Bolívia.<br />
XIV
' -. - "<br />
• IL CREPUSCOLO ARTIFICIALE DEL CILE CATTOLICO (1973)<br />
Coletânea de artigos do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira e de man_ifestos da T~P<br />
chilena sobre as con<strong>se</strong>qüências ruinosas da instalação do marxismo no Chile.<br />
208 pp. - Edição da Alleanza Ca1tolica, de Piacenza, Itália.<br />
•<br />
••<br />
• IZQUIERDISMO EN LA IGLESIA: "COMPANERO DE RUTA" DEL<br />
COMUNISMO EN LA LARGA AVENTURA DE LOS FRACASOS Y DE<br />
LAS METAMORFOSIS (1976)<br />
Comisión de Estudios de la Sociedad Uruguaya de<br />
Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad<br />
Mostra como uma parcela iníluente da Hierarquia e do Clero uruguaios<br />
apoiaram a subversão que durante vários anos convulsionou o país, e que teve<br />
como braço armado o movimento guerrilheiro tupamaro.<br />
384 pp. - Duas edições no Uruguai e uma na Espanha. Total: 11 mil exemplares.<br />
• DÉVELOPPEMENT ET PAIX: UN SOCIALISME MULTICOLORE<br />
AU SERVICE DU COMMUNISME (1978)<br />
Jeunes Canadiens pour une Civilisation Chrétienne<br />
Denuncia as tendências marxistas da Organisation Catholique Canadienne pour<br />
/e Développement et la Paix, fundada pelo Episcopado daquele país para ajudar<br />
as nações subde<strong>se</strong>nvolvi<strong>das</strong>.<br />
128 pp. - Editado em francês e inglês.<br />
• COLEÇÃO "DIÁLOGOS SOCIALES" (1967)<br />
l. ?LA PROPIEDAD PRIVADA ES UN ROBO? - Propiedad privada: ?Derecho<br />
sagrado o privilegio odioso?<br />
2. ?UD DEBE TRABAJAR SOLO PARA EL ESTADO? - Propiedad privada:<br />
?Como puede <strong>se</strong>rvir ai bien comun? ?Cual es su función social?<br />
3. AHORRAR PARA LOS HIJOS ?ES ANTTSOCIAL? - Propiedad privada<br />
y cla<strong>se</strong>s sociales: ?Servidoras o enemigas de la familia?<br />
4. UN SOLO PATRON Y TODOS PROLETARIOS: ideal socialista - Dirigismo<br />
estatal: ?Favorable o nocivo a la libre iniciativa y a la dignidad humana?<br />
Temas da problemática comunismo x anticomunismo apre<strong>se</strong>ntados de forma<br />
resumida e substanciosa, na mesma linguagem de que estes costumam <strong>se</strong> revestir<br />
em conversas ca<strong>se</strong>iras e encontros de rua.<br />
32 pp. cada - Nove edições em espanhol e cinco êm português (somente dos três<br />
primeiros). Total: 459 mil exemplares.<br />
XV
~<br />
.1<br />
• AS APARIÇÕES E A M,ENSAGEM DE F ÁTIMA CONFORME OS<br />
MANUSCRITOS DA IRMÃ LUCIA (1967)<br />
Antonio Augusto Borelli Machado<br />
Texto <strong>das</strong> célebres revelações feitas em 1917, em Fátima, Portuga l, nas <strong>quais</strong> Nossa<br />
Senhora adverte o mundo sobre o perigo da expansão do comunismo.<br />
Acompanham notas explicativas e comentários. . .<br />
96 pp. - Dezes<strong>se</strong>is edições em português, treze em espa~hol e quatro em _1ta lta!1º·<br />
Publicado originariamente em "Catolicismo" e transcnto em diversos Jornais e<br />
revistas de <strong>se</strong>te paí<strong>se</strong>s. Total: 600 mil exemplares.<br />
•<br />
Para entender o que <strong>se</strong> passa, leia ...<br />
• O de<strong>se</strong>nrolar desconexo e confuso dos acontecimentos mundiais produz o <strong>se</strong>ntimento<br />
fru strante de que "não é passivei entender mais nada".<br />
• Pa ra quem <strong>se</strong> coloca no mirante da doutrina católica, es<strong>se</strong>s acontecimentos têm<br />
entretanto uma explicação. É a luta permanente entre o Bem e o Mal, entre a cidade<br />
terrena e a cidade celes te, de que <strong>fala</strong>m os Santos. es pecialmente Santo Agostinho.<br />
• "Catolicismo" oferece a <strong>se</strong>us leitores uma a náli<strong>se</strong> dos fa tos à luz dos ensinamentos<br />
tradicionais da Igreja. E mostra como o mundo <strong>se</strong> aproxima do momento ápice<br />
em que os inimigos de Deus tentarão o supremo esforço para a implantação de U'll<br />
estado de coisas tota lmente contrá ri o aos princípios do Evangelho de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo. É disto exemplo frisante a sanha comunista, a qua l atinge, nos dias que<br />
correm, o paroxismo da impudência .<br />
• "Catolicismo" mostra que, de outro lado, é de <strong>se</strong> esperar que, cm tal emergência, a<br />
Providência Divina intervenha de modo fulgurante para derrota r os <strong>se</strong>quazes de<br />
Satanás e implantar nesta terra o Reino do Imaculado Coração de Maria, conforme<br />
Nossa Senhora manifestou em Fátima: " Por fim, o meu Imaculado Coração 1riunfará".<br />
Isto é, a plena vigência dos princípios do Evangelho tanto na sociedade espiritua l<br />
quanto na sociedade temporal.<br />
({IA:f"q,~~ÇE~Mº<br />
Re percute no mundo<br />
inteiro o Mensagem dOB TFPe<br />
• Mensário<br />
alua/idades.<br />
Pedidos à EDITORA P ADRE BELCHIOR DE P o TES s, e.<br />
Rua Dr. Martinica Prado 27 1 - CEP 01224 - São Paulo<br />
Tel.: 22 1-8755 (ramal 235).<br />
XVI
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251
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece ... a TFP as descreve como são<br />
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/Jto t a felicidade - Roltiro para os encontros de Evan·<br />
gtlização do mis miuiondrio, 1976<br />
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qúe você tem <strong>se</strong>u grupo de ba<strong>se</strong>, o qul' f azer rom ell' '<br />
CENTRO CULTURAL DE ITAQUERA - São Paulo,<br />
Companhtiro lutador ... , 1980<br />
CENTRO DE EDUCAÇÃO POPULAR INSTITUTO SE<br />
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O que Ia polírira, partido t a atual rt/ormulação partiddria,<br />
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Povo conquistard Saúd,, 1981<br />
iqsu/todo dt> uma pesquisa .' ~ita pelo prq}rio povo l'm 1979<br />
CENTRO DE ESTUDOS E AÇAO COMUNITÀRIA -<br />
Nova lguaçu-RJ, A mulher nos lutas p opulares, Cader·<br />
nos do CEAC<br />
CENTRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS - São Paulo,<br />
Como funciona a .sociedad~?. 1979<br />
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CIPES - Centro de· IntercArTlbio de Pesquisas e Estudos<br />
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Boletim "Hora Extra", n.ºs 21 , 40, 41, 1980-1981<br />
"Cadernos de Documentação", n.ºs 2, 3, 4, 1980-1981<br />
"Cadernos de Informação", n.º S, 6, 7, 8, 198 1<br />
(distribuição) FGTS prejudica OJ lrabalhadorts rurais,<br />
Recife, 1979<br />
(distribuição) História da revoluçdo agrícola da Areia/ -<br />
A hi.Jtdria da revolução dos agriru//orts que bolOu o gri·<br />
!tiro para correr<br />
CENTRO O POVO ATUALIZADO, T. Otoni, Anunciar aos<br />
Pobres o Evangelho da iibtrtaçdo<br />
O povo conquis1ard saúde (pÔra as reuniões dos pequenos<br />
comunidad,sj, 1981<br />
Ch direilos humanos e a prdtica' da não·violência (Pale.s·<br />
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CENTRO DE PSICOLOGIA DA RELIGIÃO DE JUA<br />
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CRD - Centro de Reflexão e Documentação - Goiânia,<br />
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/. 0 eh Maio: lulas t vilórias da clas<strong>se</strong> trabalhadora, 1980<br />
CENTRO DOS TRABALHADORES RURAIS DO SUB<br />
MÉDIO S. FRANCISCO, -T,rra por 1
<strong>As</strong> <strong>CEBs</strong>, <strong>das</strong> <strong>quais</strong> <strong>muito</strong> <strong>se</strong> <strong>fala</strong>, <strong>pouco</strong> <strong>se</strong> conhece ... a TFP as descreve como sao<br />
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A lgrtjo o <strong>se</strong>rviço do Povo<br />
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Como é Nossa lgrtja<br />
Ixw quer o bem de todos, 1978<br />
É verdade que a Igreja não é o culto?<br />
Exigências Cristã.r de uma Ordem Política (versão popular),<br />
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Jesus a Serviço do Povo<br />
Mini.stirios: Igrej a a <strong>se</strong>rviço.. 1981<br />
Novena de Natal, 1978<br />
Novena de Natal, 1979<br />
Para uma Igreja dos pobrt s (Palestra de D. Ivo lorscheitu)<br />
Roteiros de reflexão para uma corucientizaçtio po/ltica,<br />
1977<br />
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Terço Blblico nas fam flias, 1979<br />
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Horizonte, A Igreja que o Papa veio vu, 1980<br />
Daqui não saio, 1981<br />
Da roça para a cidad~. 1980<br />
1N quem é a culpa da crist ?, 1981<br />
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GETEC - Grupo de Estudos e Trabalho e Educação Comunitária<br />
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Cadu no Popular n. 0 /<br />
GRUPOS DE EVANGELIZAÇÃO DA PERIFERIA DE<br />
SALVAD9R, Carta ao, Bispos<br />
GRUPOS JÓYENS CATOLICOS DEABAETETUBA-PA<br />
'"Ixspertador" n."s 5/ 16, dez. 76/_a~o. 78 · '<br />
GRUPO DE PARÓQUIAS DE SALVADOR, O Povo caminha<br />
- t nds cristi!os?<br />
IPPH - Instituto Paulista de Promoção Humana - Llns<br />
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MCC - Movimento Contra a Carestta, Todo· o apoio à<br />
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p wso: 6. • <strong>As</strong>stmbliia do /tfo vi~nto do Cwto ck Vida<br />
de Goids<br />
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M LPA - Movimento pela libertação dos presos JlO Araguaia,<br />
Carajds: Progresso ou ve.nda da Pdtria? -<br />
Oposiç4o Sindical no Campo - A Luta da chapa ] no<br />
Sindicato dos Trabalhadores Rurais d, Andradina-SP<br />
OPOSIÇÃO SINDICAL DE CAMPO GRANDE-ES, Movim,nto<br />
Op,rdrio no Esplrito Santo, 1980<br />
PARôQUIA DA CATEDRAL DE T. OTONI, Ek f oi<br />
"demirido", 1979<br />
A criança ,! Jesus, 1979<br />
Estes peq~ninos<br />
PARôQUIA DIVINO SALVADOR - Campinas-SP, "SIC<br />
- Seu Informativo Comunitário·". n. 0 1, 1979<br />
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PARÓQUIA ITABERAI-GO, "A caminhada da EJperança•,<br />
jul 74<br />
PAROQUIA JARDIM MIRIAM-SP, "Jornal da Gente"<br />
~~77 . '<br />
PARôQUJA N. SRA. IMACULADA CONCEIÇÃO_ T.<br />
Otoni-MG, Anunciar aos pobres o Evangelho da libertaçdo,<br />
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PARÓQUIA N. SRA. GUADALUPE - São Paulo, "Construindo",<br />
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PARÓQUIA SANTA RITA DE CASSIA - São Paulo<br />
"Rccadlo", out. 75<br />
'<br />
254
Parte li<br />
Bibliografia Documenração<br />
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"Boletim <strong>das</strong> Porteiras"<br />
PARÓQUIA S. FRANCISCO DE ASS IS - Ba rra de S.<br />
Francisco-ES. Um caminho, 78<br />
PARÓQU IA S. PEDRO - J oinvi lle-SC, Aos Cris1ãos da<br />
comu11itlade de S. Pedro. 1978<br />
PARÓQUIAS. J UDAS TADEU APÓSTOLO - Silo Paulo.<br />
Missa da Juve ntude<br />
PARÓQUIAS STO. ANTONIO DE T AUÁ, NOVA TIM<br />
BOTEUA E CURUÇÁ-PA, Para onde vais? C F-80<br />
Saúdt• para todos, CF-8 1<br />
PAR00UIAS DE T. OTONI, Terra pra morar - A Re.
.<br />
~<br />
V<br />
º~....-~---------------------,<br />
Um documento de João Paulo li<br />
Já estava no prelo o pre<strong>se</strong>nte volume, quando foi<br />
divulgado o texto integral da carta de João Paulo II<br />
aos Bispos da Nicarágua.<br />
A carta - datada de 29 de junho e lida nas<br />
igrejas daquele país no dia 8 de agosto deste ano -<br />
deixa ver a preocupação do Pontífice acerca de problemas<br />
de natureza <strong>muito</strong> afim com os que são<br />
tratados neste livro. A es<strong>se</strong> titulo, é útil transcrever<br />
aqui o trecho mais candente do momentoso documento:<br />
"Dai o absurdo e perigoso que é imaginar, à margem<br />
- para não dizer contra - a Igreja construida<br />
em torno do Bispo, outra Igreja concebida como<br />
'carismática' e não institucional, 'nova' e não tradicional,<br />
alternativa, e, como <strong>se</strong> preconiza ultimamente,<br />
uma Igreja Popular. .<br />
Não ignoro que a tal denominação - sinônimo de<br />
'Igreja que nasce do povo' - <strong>se</strong> pode atribuir uma<br />
significação aceitável. Com ela <strong>se</strong> pretenderia indicar<br />
que a Igreja surge quando uma comunidade de pessoas<br />
- especialmente de pessoas dispostas, por sua<br />
pequenez, humildade e pobreza, à aventura cristã -<br />
<strong>se</strong> abre à Boa Nova de Jesus Cristo e começa a vivê-la<br />
em comunidade de fé, de amor, de esperança, de<br />
oração, de celebração e de participação nos mistérios<br />
cristãos, especialmente na Eucaristia.<br />
Sabeis, porém, que o documento final da III Conferência<br />
do Episcopado Latino-americano em Puebla<br />
declarou '<strong>pouco</strong> feliz' este nome de 'Igreja Popular'<br />
(cfr. n. 0 263). E o fez depois de maduro estudo e reflexão<br />
entre Bispos de todo o Continente, consciente que<br />
estava de que tal nome encobre, em geral, outra<br />
realidade.<br />
'Igreja Popular', em sua acepção mais comum,<br />
visível nos escritos de certa corrente teológica, significa<br />
uma Igreja que nasce <strong>muito</strong> mais de supostos<br />
valores de uma camada da população do que da livre<br />
e gratuita iniciativa de Deus. Significa uma Igreja<br />
que <strong>se</strong> esgota na autonomia <strong>das</strong> chama<strong>das</strong> ba<strong>se</strong>s,<br />
<strong>se</strong>m referência aos legítimos Pastores ou Mestres;<br />
ou, ao menos, sobrepondo os 'direitos' <strong>das</strong> primeiras<br />
à autoridade e aos carismas que a fé faz perceber nos<br />
<strong>se</strong>gundos. Significa - já que ao termo povo <strong>se</strong> dá facilmente<br />
um conteúdo assinaladamente sociológico e<br />
político - Igreja encarnada nas organizações populares,<br />
marcada por ideologias, postas ao <strong>se</strong>rviço de suas<br />
reivindicações, de <strong>se</strong>us programas e grupos considerados<br />
como não pertencentes ao povo. É fácil perceber<br />
- e o nota explicitamente o documento de Puebla<br />
- que o conceito de 'Igreja Popular' dificilmente<br />
escapa à infiltração de conotações fortemente ideológicas,<br />
na linha de uma certa radicalização política, da<br />
luta de clas<strong>se</strong>s, da aceitação da violência para a con<strong>se</strong>cução<br />
de determinados fins etc.<br />
Quando eu mesmo, em meu discurso de inauguração<br />
da <strong>As</strong><strong>se</strong>mbléia de Puebla, fiz sérias re<strong>se</strong>rvas a<br />
respeito da denominação 'Igreja que nasce do povo',<br />
tinha em vista os perigos que acabo de recordar. Por<br />
isso, sinto agora o dever de repetir, valendo-me de<br />
vossa voz, a mesma advertência pastoral, afetuosa e<br />
clara. É um apelo aos vossos fiéis, por meio de vós,<br />
Uma 'Igreja Popular' oposta à Igreja presidida<br />
pelos legítimos Pastores é - do ponto de vista do<br />
ensinamento do Senhor e dos Apóstolos no Novo Testamento,<br />
bem como do ensinamento antigo e recente<br />
do Magistério solene da Igreja - um grave desvio<br />
da vontade e do plano de salvação de Jesus Cristo.<br />
É, ademais, um inicio de abertura de uma trinca e<br />
ruptura daquela unidade que Ele deixou como sinal<br />
característico da mesma Igreja, e que Ele quis confiar<br />
precisamente aos que 'o Espírito Santo estabeleceu<br />
para governar a Igreja de Deus' (Heb. XX, 20)"<br />
("L'Os<strong>se</strong>rvatore Romano", 7-8-82).<br />
256
• Um clérigo de nome Teófilo - narra a lenda medieval - fôra embaldo pelo demônio, a quem <strong>se</strong> entregara por<br />
meio de um pacto escrito. Porém, caindo em si, recorreu à Mie de Deus, que impôs ao Maligno a restituiçl o do<br />
documento e a renúncia ao poder que adquirira sobre o infeliz. - No grupo em relevo (tímpano da Catedral de Notre<br />
Dame de Paris, século XIII), a Virgem Santíssima protege Teófilo e brande contra o demônio, vencido e apavorado.<br />
<strong>se</strong>u gl6dio cruciforme.
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
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Nas poéticas margens do rio Araguaia,<br />
feitas por Deus para encantar o homem,<br />
a luta de clas<strong>se</strong>s já derramou sangue ...