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GIOVANA OLIVEIRA DE RUSSI - PósDefesa

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remete-se à língua no conjunto das condições materiais básicas para desdobramentos dos

processos discursivos (ORLANDI, 2012).

Ainda segundo Orlandi (2007a, p. 28), “do ponto de vista discursivo, sujeito e

sentido não podem ser tratados como já existentes em si, como a priori, pois é pelo efeito

ideológico elementar que eles funcionam, como se eles estivessem sempre lá”. Além disso, a

AD vai reunir “essa forma de conhecimento em que se inscreve na relação do mundo com a

linguagem a noção de ideologia [...] como condição para essa relação”, através da noção de

discurso (ORLANDI, 2007a, p. 28).

De maneira geral, podemos considerar que, em seus processos discursivos, as

hashtags demonstram movimentos de identificação e/ou contraidentificação dos sujeitos que

constituem posições subjetivas frente à violência. Postulamos que cada nova utilização da

#metoo nos apresenta uma função-autor 7 constitutiva do gesto interpretativo, que deriva de uma

relação com a memória. O que faz do sujeito “uma posição na filiação de sentidos, nas relações

de sentidos que vão se constituindo historicamente e que vão formando redes que constituem a

possibilidade de interpretação” (ORLANDI, 2007a, p. 15). Ou seja, ao mobilizar formulações

utilizando a hashtag, o sujeito inscreve uma posição-sujeito, coloca-se na origem dos dizeres

que enuncia.

1.1 A #METOO ENTRE MEMÓRIAS E SILENCIAMENTOS

A AD trabalha com o linguístico e com o ideológico no processo de

produção/interpretação do sujeito e dos sentidos que o significam e que ele significa. Nessa

perspectiva, o sujeito não é um indivíduo corpóreo, empírico, é um lugar de significação

ideologicamente constituído, uma posição-sujeito, isto é, um sujeito que se materializa no

entrecruzamento de diferentes discursos e se manifesta no texto pela relação a uma formação

discursiva (PÊCHEUX, 1997a apud MARQUEZAN, 2008, p. 467). As formações discursivas,

para Pêcheux e Fuchs:

determinam o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um

sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.), a partir de uma

dada posição em uma conjuntura; dito de outra forma, em uma certa relação de

7

Segundo Orlandi (2008, [n.p.]), “a função autor se dá quando o sujeito se coloca – no imaginário constituído pelo

que Michel Pêcheux (1975) chama ‘esquecimento número 1’ – na origem do que diz. Este gesto o constitui em

autor ao mesmo tempo em que constitui o texto como unidade de sentidos em relação à situação.”

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