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estupro. É a partir desse envolvimento do grupo que podemos notar uma modificação no suporte
digital, que passa de entretenimento a resistência/denúncia.
1.4 LUGAR DE ENUNCIAÇÃO E RITUAL ENUNCIATIVO
Zoppi-Fontana (2002; 2017) propõe a noção de lugar de enunciação para “pensar
a articulação entre os processos de subjetivação e as formas históricas de enunciação política,
para melhor compreender a relação entre o discurso, a prática política e a constituição de novos
sujeitos/movimentos sociais” (2017, p. 66). Segundo a autora,
Do ponto de vista teórico trata-se da relação entre acontecimento discursivo, memória
discursiva e enunciação na sua reflexividade performativa. Se é a posição-sujeito que
determina os sentidos dos enunciados a partir do funcionamento da memória
discursiva, é na enunciação de um sujeito em determinadas condições de produção
que esse dizer poderá ser reconhecido como legítimo relativamente a um determinado
lugar enunciativo (ZOPPI-FONTANA, 2017, p. 66).
É preciso lembrar aqui esse sujeito como interpelado ideologicamente e é isso
que nos permite usar lugar de enunciação ao invés do conhecido lugar de fala 31 (BORGES,
2017), que a autora ressalta como sendo “sobredeterminado pela ideologia, a língua e o
inconsciente, o ‘lugar de fala’ se mostra, no seu funcionamento enunciativo, sustentado em
processos metonímicos” (ZOPPI-FONTANA, 2017, p. 70). Entendemos que lugar de fala se
trata, comumente, mais de uma identificação pessoal com experiências, identificação essa que
autoriza um sujeito a dizer ou não de algo, que o permite compartilhar de/sobre sua vivência.
No entanto, a autora define lugar de fala como aqueles legitimados por processos metonímicos
que o ratificam a partir de uma experiência vivida de um sujeito que se identifica com outro:
[...] ao transformar relações de classe, gênero e segregação racial em relações morais
intersubjetivas entre indivíduos humanos, as lutas pelo reconhecimento enunciadas a
partir de um lugar de fala legitimado metonimicamente podem deslizar
inadvertidamente para o apaziguamento do conflito, dadas as condições de produção
da formação social [...] (ZOPPI-FONTANA, 2017, p. 69 – grifos da autora).
Contudo, lugar de enunciação poderia ser definido como “uma reflexão sobre a
31
Borges postula que lugar de fala “é a posição de onde olho para o mundo para então intervir nele” (2017, [n.p.]).
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/01/15/O-que-é-‘lugar-de-fala’-e-como-ele-éaplicado-no-debate-público.
Acesso em: 03 nov. 2020.