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GIOVANA OLIVEIRA DE RUSSI - PósDefesa

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aquelas sofridas na vida pública, o que justificaria a estagnação pessoal de algumas delas e, ao

mesmo tempo, mostrava a necessidade da organização de um movimento feminino que lutasse

pelas causas múltiplas das mulheres. Com a maior participação feminina no mercado de

trabalho, surgem questionamentos sobre igualdade salarial, matrimônio, controle de natalidade

e posições de trabalho. A sociedade patriarcal começa a sofrer mudanças significativas em sua

estrutura.

Na esteira de Pêcheux (1884), Zoppi-Fontana (1994) explana que, através do que

este chamou de rituais discursivos de assujeitamento, o sujeito irá se constituir numa relação de

identificação (ou contra-identificação) com a formação discursiva que o afeta. São regras

anônimas historicamente determinadas, num tempo e espaço dado, que determinam as

condições de produção. São os rituais enunciativos que estabilizam os processos de produção

de sentido através de paráfrases.

O acontecimento discursivo funciona como o ponto de quebra desses rituais

enunciativos, como o lugar material onde o real da língua (o lapso, o ato falho, o

equívoco, a elipse, a falta, todas as formas de irrupção da lalangue) e o real do discurso

(a sua historicidade, a determinação do sentido e do sujeito por FDs inscritas num

complexo de formações ideológicas) se encontram, produzindo uma ruptura, uma

interrupção e uma emergência (Pêcheux et al., 1981) nas relações de continuidade

definidas pelos rituais (ZOPPI-FONTANA, 1994, p. 49).

Enquanto acontecimento discursivo, o funcionamento da #metoo permite o

aparecimento de novos lugares de enunciação diretamente ligados ao “original”, o que também

possibilita diferentes e novos gestos de interpretação, novas posições-sujeito, que apresentam

formações discursivas outras, diferentes associações de memória e distintas relações com a

exterioridade. Ponto este, para Orlandi (2007a, p. 14), “crucial: a ligação da materialidade do

texto e exterioridade (memória).”

O ritual enunciativo está, aqui, diretamente ligado à prática enunciativa e ao

digital, ou seja, ele estabelece uma nova prática discursiva, uma forma diversa de dizer e

circular dizeres que não eram possíveis em outro momento histórico. Novamente, temos aqui

um dos elementos que participam das condições de produção que possibilitaram o levante do

Movimento. Os rituais enunciativos irão delimitar as práticas discursivas através de práticas de

subjetivação, organizadas na linguagem e atravessadas por mecanismos ideológicos que se

dissipam para o sujeito (MARIANI, 1999, p. 48 apud PERON, 2007, p. 45). O ritual

enunciativo-discursivo que se estabelece na situação de interlocução gerada no ambiente

digital, define tanto a instituição quanto aos sujeitos que a ocupam social e discursivamente.

(PERON, 2007, p. 66).

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