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GIOVANA OLIVEIRA DE RUSSI - PósDefesa

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inúmeras famosas, como Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie, relataram seus casos de abuso

sofridos nas mãos do produtor hollywoodiano ainda no início de suas carreiras.

A reportagem publicada no New York Times foi apenas a ponta do iceberg.

Lançado em setembro de 2019, o livro “Ela disse”, das mesmas jornalistas, mostra a dura

trajetória para conseguirem as entrevistas de atrizes e mulheres que haviam sofrido na mão do

produtor. A trama parece de filme, envolvendo segredos, encontros em bares distantes e

escuros, empresas internacionais usadas para vigiar as envolvidas, atores contratados para tentar

descobrir o que o jornal já tinha, jornalistas sendo perseguidas e vítimas silenciadas. Contudo,

é preciso observar que há um apagamento da história original do metoo quando Hollywood se

apropria do mote, principalmente em se tratando da questão racial, uma vez que, no primeiro

momento, quem o cria e o utiliza é a ativista negra Tarana Burke. Com a apropriação

hollywoodiana o movimento se torna, em sua maioria, branco.

A apropriação do mote por Milano faz parecer que a campanha se deu de forma

espontânea e se originou na atriz, além de adicionar para a invisibilização das mulheres negras

por não assinalar que o mote foi criado por uma mulher negra que anos antes fundara uma ONG

para combater o assédio e ajudar sobreviventes. Pode-se observar o apagamento de Burke na

capa da revista Time (Fig. 01), que apresenta apenas uma mulher negra, a lobista Adama Iwu –

em primeiro plano cercada de brancas. Essa prática é o que Stephanie Ribeiro chama de uma

“ilha cercada de brancos”. A jornalista também alerta para o protagonismo de mulheres que já

foram conhecidamente racistas em outras ocasiões, como Taylor Swift.

Quando estou diante daquela capa, só penso nas inúmeras vezes que até mesmos

feministas, por serem brancas, me usaram de objeto para suas campanhas e circulação

de seus projetos, mas nunca estiveram do meu lado na luta no combate antirracista.

Mesmo que o assédio para mulheres negras esteja também relacionado com o racismo,

afinal não é só mero destino negras jovens terem 3 vezes mais chances de serem

estupradas no Brasil. É racismo e machismo (RIBEIRO, 2017, [n.p.]).

Essa prática é comum na branquitude,

[...] um local de vantagem estrutural, de privilégio racial. Além disso, é um "ponto de

vista", um lugar do qual as pessoas brancas olham para nós mesmos, para os outros e

para a sociedade. Ainda, ‘Branquitude’ refere-se a um conjunto de práticas culturais

que são geralmente invisíveis e anônimas (FRANKENBERG, 1993, p. 1 apud

DIANGELO, 2018, p. 39).

É preciso destacar que, quando o movimento foi criado por Burke, seu intuito

era lidar com “mulheres de minorias étnicas, frequentemente em posições desprivilegiadas nas

sociedades e cujas vozes são historicamente invisibilizadas”, pretendendo fornecer um “um

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