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Jacques-Alain Miller - A teoria do parceiro-2

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A teoria do oarceiro

Por fim, recorrer à análise é sempre substituir um casal pelo outro,

ou minimamente sobrepor um ao outro. Aliás, o cônjuge, quando

ele existe, nem sempre lida muito bem com isso; ele se opõe, tolera e,

eventualmente, procura um analista. Como pude dizer certa vez, o cônjuge

nem sempre é o sujeito com o qual estamos casados, tampouco

aquele com quem dividimos a cama, o concubino.

À ocorrência de o parceiro cônjuge ser o pai chamou-se histeria

feminina, e disso fez-se uma categoria clínica à parte. É claro que o

parceiro cônjuge pode ser a mãe. O que nomeamos como o obsessivo?

O sujeito cujo parceiro é o pensamento. No caso do Homem dos Ratos,

fala-se sobre a dama de seus pensamentos. Trata-se antes, contudo, de

seus pensamentos sobre a dama. Ele goza precisamente com seu pensamento.

E o parnóico? O paranóico é aquele cujo parceiro é o que dizem

os outros e que o visa de maneira maldosa.

O parceiro tem várias caras. Em uma palavra, o parceiro é

multifacetado. Muita variedade, muita diversidade, mas não deixem de

procurar o parceiro. Não se deixem hipnotizar com a posição do sujeito

sem se perguntarem: com quem ele joga a partida?

Na psicanálise, o parceiro é uma instância com a qual o sujeito

está ligado de forma essencial, uma instância que lhe causa problemas e

que eventualmente é enigmática.

As versões lacanianas do parceiro subjetivo

Como circunscrever o parceiro tomado nesse sentido? Em primeiro

lugar, o sujeito não consegue suportá-lo, ou seja, ele não consegue mantêlo

homeostático. Nos primórdios da psicanálise, foi como se considerou

o traumatismo.

Em segundo lugar, o sujeito goza repetidamente disso, como na

análise. De modo geral, isso torna-se evidente, o que significa dizer que

o parceiro tem status de sintoma. Sem dúvida o parceiro sintoma é a

fórmula mais geral para recobrir o parceiro multifacetado.

Façamos um pequeno retorno a Lacan, que procurou de fato saber

quem é o parceiro fundamental do sujeito. A primeira resposta foi dada

a partir de 1953: "um outro sujeito". Trata-se de uma concepção dialética

da psicanálise, a introdução de Hegel na psicanálise, tida como bizarra

e apresentada por Lacan como um retorno a Freud. Nessa noção, há

sintoma quando o Outro sujeito que é o seu parceiro fundamental não

reconhece o seu desejo. Daí, o retorno ao analista como o sujeito capaz

de reconhecer os desejos que no devido tempo não foram reconhecidos

como deveriam ter sido pelo parceiro-sujeito.

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