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A teoria do parceiro
halhadoras. Isto mudou. A aristocracia francesa foi impedida de trabalhar.
Quando o burguês gentil-homem se toma por um gentil-homem e
diz: "Sim, o único dissabor que tenho é que meu pai vendia lençóis", se
lhe responde: "Nada disso, tratava-se de um gentil-homem que brincava
com seus amigos de passar lençóis". A nobreza de toga complicou o
panorama, porém o que fundamentalmente mudou as coisas foi a ideologia
do serviço público, a sensacional solução encontrada por Napoleão
para fazer trabalhar inclusive a aristocracia, para assim fabricar uma
nova. Ele conseguiu que a nobreza não somente brigasse entre si - era
este o sintoma essencial da nobreza francesa - como também que trabalhasse.
Para tanto, inventou grandes concursos, as grandes Escolas, a
meritocracia francesa e a produção de uma elite da suposta nação; uma
aristocracia do mérito que hoje, de algum modo, fraqueja em seu funcionamento.
O sintoma não funciona mais. O amor ao serviço público
como sintoma cai em desuso. Até mesmo os assuntos de corrupção,
com os quais nos encantamos todos os dias, testemunham o enfraquecimento
do antigo sintoma que fora inculcado pelo mestre.
A esse respeito, é válido um comentário sobre os Estados Unidos,
cuja vantagem foi a de não terem tido nobreza ... Eles acabaram por ter
uma, essencialmente a nobreza do dinheiro. A princípio, ganha-se dinheiro
de todos os meios e, em seguida, enobrece-se com a filantropia.
Há os grandes museus americanos, as grandes coleções, todas procedentes
de trabalhadores enriquecidos.
Fiz esse pequeno excurso para ampliar um pouco o conceito de
sintoma. Sem ele, estaríamos de saia justa, tendo somente os sintomas
da psicopatologia da vida cotidiana.
Os sintomas da moda
É preciso distinguir as drogas. O gozo da maconha é um sintoma que
não rompe necessariamente com o social. Ao contrário, ele com freqüência
é considerado como um adjuvante à relação social, ou mesmo à
relação sexual. Eis por que o presidente Clinton e outros podem confessar
terem tocado tal gozo sem por isso serem desconsiderados. Reencontramos
aqui o critério lacaniano essencial a respeito do gozo toxicômano,
verdadeiramente patológico quando preferido ao pipizinho, ou
seja, quando longe de ser um reforço, ele, ao contrário, é preferido à
relação sexual, a ponto de este gozo ter um tal valor para o sujeito, que
ele o prefere a tudo, tendo ou não que praticar crimes para alcançá-lo.
Lacan foi obrigado a recorrer às ficções kantianas para explicar o
gozo perverso. Kant considerava líquido e certo o seguinte: se disserem
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