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A teoria do p;irceiro
ao cogito cartesiano aiterado, modificado, reescrito por ele. A teoria do
sujeito foi estabelecida para permitir a comunicação entre o ensino de
Lacan e as filosofias, cm particular, a filosofia cartesiana, os filósofos
JJÓs-cartesianos, sobretudo a filosofia crítica de Kant, de Fichte e a
fenomenologia de Husserl.
Esta tentativa, obviamente datada, não provoca de minha parte
qualquer repúdio, mas sim um complemento. A teoria do parceiro é o
complemento à teoria do sujeito.
O parceiro-Deus, bifacial
Aliás, o próprio cogito cartesiano "Penso, logo sou" possui um parceiro.
Isto não é absolutamente um solipsismo. Há um parceiro no jogo da
7erdade.
Que parceiro é esse? Em primeiro lugar, muito simplesmente,
:;eus próprios pensamemos, ou seja, o seu pnmeiro parceiro é seu pró
;1rio "eu penso". Mas dizê-lo, todavia, já é dizer demasiado porque ele
i1áo pode isolar o seu "eu penso" de seus pensamentos, a não ser que ele
cesse de se confundir com seus pensamentos, cessando pura e simplesmente
de pensar os pensamentos que tem.
E quando ele cessa de se confundir com os pensamentos que tem?
~uando ele se interroga a respeito de seus pensamentos. É evidente que
-:i.uando ele o faz, ele se distingue deles . Ele se interroga - que idéia! -
a ponto de saber se eles são verdadeiros, e até mesmo de saber como
saber se eles são verdadeiros ou não. Isso basta para pôr minhocas em
sua cabeça, cm seus pensamentos. A questão da verdade introduz as
minhocas - questão da verdade que, em Descartes, não se distingue da
questão da referência, já que se trata de saber se o pensamento, em
nossos termos, toca ou não o real.
Logo, logo a questão da verdade faz surgir a instância da mentira
sob as versões de um Outro que engana. Eis o parceiro que então surge
para Descartes: um outro imaginário, fictício, um Outro que engana,
que lhe põe essas minhocas na cabeça. É com esse Outro que ele joga
sua parti da. Meditações, de Descartes, é o nome da partida jogada com
o Outro que engana, um Outro cujos pensamentos de Descartes seria1n
1penas produções ilusórias, que ele emite para desviá-lo.
De saída, a partida jogada com o Outro enganador parece perdida,
necessariamente perdida, já que o sujeito concede onipotência ao Outro
- "você pode tudo" - portanto a potência de enganá-lo em todos os seus
pensamentos, mesmo os que lhe parecem os mais seguros. Uma partida
desigual, radicalmente desigual. O Outro enganador logo o despoja,
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