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A teoria do parceiro
A pulsão, fundamento da relação com o outro
Enfatizei que o sintoma é constituído de duas partes: seu núcleo de
gozo, que dizemos pulsional e que mergulha suas raízes no corpo próprio,
e seu envelope formal, por meio do qual ele depende do campo do
Outro, que abarca a dimensão dita de civilização. Logo corrigi este
esboço uma vez que a pulsão só conclui seu arco de gozo passando pelo
Outro, já que é no Outro que reside o que aproximamos com a expressão
de objeto perdido. É preciso que a pulsão gire em torno desse obíeto
para fechar seu percurso, a castração sendo a encenação dessa necessidade
em que o objeto perdido aparece como o objeto que pode ser
capturado.
Pensemos, por exemplo, na corrida de bigas do circo romano e na
baliza que era necessário atingir para poder ret0rnar. O que materializa
essa baliza tem pouca importância. Indiferença do objeto da pulsão!
Para que esse percurso da pulsão, de certa forma auto-erótico, se realize,
é preciso a intervenção de um objeto que está no campo do Outro.
Oi.to de outra forma, não há o Um disjunto do Outro.
Esse esquema implica uma interseção. Conhecemos, de forma
evidente, essa interseção no nível do significante em que o Um é o
sujeito, e em que aprendemos a repetir, com Lacan, que o significante
é aquele do Outro, reconhecido como o lugar dos códigos ou o tesouro
dos significantes. É a interseção significante, a nós enfaticamente
apresentada no famoso grafo de Lacan, o que ficou gravado em nossas
mentes.
Aliás, o Outro em questão não é apenas o do significante, mas
também o do significado. Dado que este esquema indica que o Outro
decide quanto à verdade da mensagem, por sua pontuação, ele também
decide quanto ao significado. Eis por que tal interseção no nível do
significante apresentou-se inicialmente no ensino de Lacan como comunicação.
A função clínica aqui evidenciada é a que Lacan chamou de '"o
desejo", como vetor que parte do Outro. A fórmula do desejo é uma
encarnação clínica da interseção entre o Um e o Outro. A segunda interseção,
a libidinal, no nível do gozo, escapa mais ainda.
Anunciamos a interseção significante a partir do esquema lacaniano
da comunicação, porém a interseção no nível do gozo é mais secreta
ainda. O próprio Lacan opôs desejo e gozo, afirmando: "o desejo é do
Outro, mas o gozo é da Coisa", como se de fato o gozo permanecesse
do lado do Um e se baseasse na evidência de que o lugar do gozo é o
corpo próprio.
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