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Jacques-Alain Miller - A teoria do parceiro-2

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A teoria du parceiro

pelo gozo eles se tornam solitários. É o status auto-erótico, até mesmo

autístico do gozo.

Mesmo considerando separadamente os sujeitos de cada sexo, a

mulher vai alhures, sozinha, enquanto o homem é presa do gozo de um

órgão destacado em seu corpo próprio, e que, se o quisermos, lhe faz

companhia. O gozo, à diferença da fala, torna solitário.

Há esta esperança que chamamos de castração, esperança de que

uma parte de gozo autístico esteja perdido e que se o reencontre no

Outro sob a forma de objeto perdido. Em outras palavras, a castração é

a esperança de que o gozo torne-se parceiro, porque ela exigiria que se

encontrasse o complemento de gozo necessário no Outro.

Para Lacan, o tema do parceiro-falo traduz a face positiva da castração:

ela é o sexo tornando os sujeitos parceiros. Sob outro ângulo,

isso faz do Outro apenas um meio de gozo, e não é evidente que isso

desqualifique ou anule o cada-um-por-si do gozo e sua idiotia.

Em O Seminário, livro 20: mais, ainda, Lacan evoca a masturbação

como o gozo do idiota. Digamos que a idiotia do gozo evidentemente

não é desqualificada pela ficção consoladora da castração. Ê bem essa a

diferença que se demarca se opomos a construção de Lacan em ''A significação

do falo" àquela que aparece em "l:Étourdit". Em ''A significação

do falo", temos de haver-nos com o parceiro falicizado, na tentativa

de demonstrar em que o falo torna parceiro. Reencontramos tal falo na

construção de "L'Étourdit", mas ela não incide sobre o parceiro, e sim

no próprio sujeito, inscrito na função fálica. Nesse nível, longe de incidir

sobre o parceiro, de qualificar o parceiro, a função fálica qualifica o

próprio sujeito, mostrando-o parceiro da função fálica. Dessa maneira,

nas entrelinhas, pode-se ler que, por esse viés, não são parceiros, ou

seja, um e o outro não são parceiros pelo viés da função fálica, que,

contrariamente, qualifica a relação do próprio sujeito com essa função.

E desse modo, o parceiro só aparece em seu status minorado, degradado,

o de ser meio de gozo.

Na verdade, o parceiro meio de gozo é o que aparece na fantasia.

A teoria da fantasia sustenta que o parceiro essencial é o parceiro

fantasístíco, este que é escrito por Lacan em sua fórmula da fantasia no

lugar do objeto a. O status essencial do parceiro no nível do gozo é ser

o objeto a da fantasia.

Certamente quando Lacan forja tal fórmula a partir de "Uma criança

é espancada", de Freud, o pequeno a é um termo imaginário, e

sem dúvida ele distingue o invólucro formal da fantasia, ou seja, a imagem

e a frase na fantasia, do núcleo de gozo como sendo propriamente

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