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A teoria do parceiro
O que é a sexualidade? O que é o Outro sexual, se o parceiro
essencial do sujeito é o objeto a, isto é, algo de seu gozo? Na época em
que Lacan nos apresentava o esquema, ele dizia que "a sexualidade é
representada no inconsciente pela pulsão". AJgum tempo se fez necessário
para que ele percebesse que a pulsão não representa a sexualidade.
Ela não a representa como relação com o Outro sexual. Ao contrário,
ela a reduz à relação com objeto a. Que conseqüências podem ser
extraídas dessa frase de Lacan? Ora, se a sexualidade só é representada
no inconsciente pela pulsão, isto quer dizer que ela não é representada.
Ela é representada por outra coisa, ela é uma representação não
representativa.
Lacan formulou de modo fulgurante a conseqüência dessa não
representação com o "não há relação sexual", o que significa dizer que
o parceiro essencial do sujeito é o objeto a, alguma coisa de seu gozo,
seu mais-de-gozar. Dito de outro modo, a invenção lacaniana do objeto a
quer dizer que não há relação sexual.
O parceiro do sujeito não é o Outro sexual. A relação sexual não
está escrita. O que isso quer dizer, essa fórmula é verdadeiro ou falsa?
Não se trata de dizer que ela é falsa, mas sim que ela não está no real.
Ela está ausente, o que justifica, dá lugar à contingência, ou seja, demonstra
a necessidade da contingência no que poderíamos chamar de
"a história sexual do sujeito", a narração de seus encontros. Em uma
palavra, isso explica que só há encontros, o que Lacan descobrira ao
isolar a função do significante.
Como a mais simples etimologia o mostra, o significante porta
consigo o arbitrário. A derivação do sentido das palavras que utilizamos
não está escrita como necessária em nenhum lugar. São sempre de encontros,
cada palavra é um encontro, a incidência de cada uma delas no
desenvolvimento erótico do sujeito está marcada por essa contingência,
o que representamos sob a forma do traumatismo: sempre um encontro,
sempre uma má surpresa. A história vivida como história é aquela
das más surpresas que tivemos. Como Lacan o disse, muito antes de
chegar à não-relação sexual: "[ ... J é pela marca de arbítrariedade própria
à letra que se explica a extraordinária contingência dos acidentes
que dão ao inconsciente sua verdadeira aparência" {Lacan, "A psicanálise
e seu ensino").
Uma análise só faz valorizar, destacar essa extraordinária contingência.
Chamamos de ••o inconsciente" as conseqüências dessa extraordinária
contingência, ou seja, é a própria contingência que a instância
do significante como tal imprime no inconsciente.
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