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A teoria do parceiro
siva da neurose. Dessa partida o sujeito sempre sai perdedor. Ele só sai
às próprias custas.
Em seguida, como afirmamos acima, Lacan introduziu um outro
parceiro que não a imagem, o parceiro simbólico, a partir da idéia de
que a clínica como patologia se enraíza nos impasses da partida imaginária,
impasses que exigem tomar a análise como partida simbólica.
Supõe-se que essa partida simbólica ocasione o passe, isto é, uma saída
exitosa para o sujeito.
A conversão de agalma em palea
Na perspectiva que escolho sobre a elaboração de Lacan a partir dos
termos partida e parceiro, a análise deveria ser uma partida exitosa para
o sujeito, o meio de ganhar a partida que ele perde no imaginário, e que
constitui precisamente sua clínica. Daí o paradoxo da posição do analista
como parceiro que, no sentido que Lacan lhe dá, é suposto jogar a
partida simbólica para perdê-la. Como analista, ele só pode ganhar a
partida sob a condição de perdê-la e de fazer o parceiro-sujeito ganhála.
Sem dúvida a posição do analista comporta uma dimensão de abnegação.
O que Lacan chama de "a formação do analista" se enraíza neste
ponto: aprender a perder a partida que joga com o sujeito, de modo que
o ganho seja do sujeito.
Talvez seja possível evocar, tal como presenciei, um fim de análise
em sua rusticidade, sua ingenuidade, sua brutalidade, como diz Lacan,
que valoriza o que isso comporta de ganho para o sujeito e de um
certo desarvoramento correlato para o analista. Eis que ao fim de uma
longa trajetória analítica o sujeito sonha que algo que só pode ser
designado como porcaria sai de sua perna, de cor negra, a cor própria,
dizem as associações, a um objeto do consultório do analista. Algum
tempo depois, eis que o sujeito enuncia, com temor e tremor, que
"ele é um porco". Desse modo, ele faz recair sobre o analista a máscara
do lobo que de fato se saciara com esse porco - ele próprio
muito ativo do ponto de vista oral - durante anos. Algum tempo
depois, esse sujeito, até então dócil, respeitoso, admirador do analista,
termina por lhe dar uma flechada de Parthe 3 : "Você é um pentelho".
J N. do T No original: Flêche du Parthe, expressão erudita de meados do século
XIX que evoca a astúcia guerreira dos Pártias, que simulavam fugir para surpreender
o inimigo com flechadas atiradas de costas por sobre os próprios ombros;
por extensão, expressão usada para designar ataque ou ironia dirigida a alguém
no final da conveua ou do encontro.
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