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Jacques-Alain Miller - A teoria do parceiro-2

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A teoria do parceiro

Com efeito, as duas modalidades do casal introduzem uma dupla definiiyão

do parceiro, paradoxal e até mesmo inconsistente. Há o parceiro

a quem se dirige a demanda de amor, a quem se endereça o "me ame".

No que se refere a esse status, este é o parceiro desprovido, o que não

tem. A demanda de amor se endereça, no parceiro, àquilo que lhe falta.

Esse status do parceiro distingue-se do que é requerido ao parceiro que

causa o desejo, o detentor dessa causa. Opõem-se assim o duplo status

do parceiro desprovido e do parceiro provido.

Tal paradoxo beneficia o homem. O homem, o macho, é dotado,

se assim posso dizer, de um objeto-eclipse 5 • Conforme o momento, ele

é provido ou desprovido, satisfazendo de certa forma a esse paradoxo:

os dois em um. Daí o grande interesse comumente despertado, na relação

de casal, por aquilo que se passa depois, quando ele está desprovido.

A questão é saber se ele fica ou vai embora. Sua permanência é uma

prova de amor. Há algo além da satisfação fálica que o retém.

Esta é uma grande questão que alvoroçou os teóricos, por exemplo,

na ficção de Rousseau, em seu Discurso sobre a desigualdade entre

os homens; saber se o homem permanece com a mulher para torná-la

companheira - o que já forma o nucleus da ordem social a partir da

família - ou se, tendo obtido o que queria, ele se vai. Sou eu que traduzo

dessa forma o que diz Rousseau.

A desvantagem da mulher é a de não ter esse maravilhoso órgãoeclipse.

Na articulação proposta por Lacan, é isto o que leva um homem

a desdobrar sua parceira em a mulher parceira do amor e a mulher

parceira do desejo.

A proeza de ''A significação do falo" está em cifrar ao mesmo

tempo o parceiro do amor e o parceiro do desejo pelo falo, e em definir

essencialmente o parceiro do casal como o parceiro-falo. Se ele é o

parceiro do amor, é cifrado (-<p), uma negação incidindo sobre o

significante imaginário do falo. Se é o parceiro do desejo, é cifrado (<p).

Do lado masculino, é possível uma oscilação entre (-<p) e (<p), enquanto

do lado feminino, é ou um ou outro, e isto tende a ser um ou outro.

Amor (-cp)

Desejo (cp)

Macho (-cp) O (<P)

Fêmea (-cp) // (1.p)

s N. do ·r. No original, ''objer à édipse", uso da expressão à eclipse, que significa

o que aparece e desaparece alrernarivamente. Cf. Le Robert, Dictiomraire des

expressions et locutions.

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