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A teoria do parceiro
Com efeito, as duas modalidades do casal introduzem uma dupla definiiyão
do parceiro, paradoxal e até mesmo inconsistente. Há o parceiro
a quem se dirige a demanda de amor, a quem se endereça o "me ame".
No que se refere a esse status, este é o parceiro desprovido, o que não
tem. A demanda de amor se endereça, no parceiro, àquilo que lhe falta.
Esse status do parceiro distingue-se do que é requerido ao parceiro que
causa o desejo, o detentor dessa causa. Opõem-se assim o duplo status
do parceiro desprovido e do parceiro provido.
Tal paradoxo beneficia o homem. O homem, o macho, é dotado,
se assim posso dizer, de um objeto-eclipse 5 • Conforme o momento, ele
é provido ou desprovido, satisfazendo de certa forma a esse paradoxo:
os dois em um. Daí o grande interesse comumente despertado, na relação
de casal, por aquilo que se passa depois, quando ele está desprovido.
A questão é saber se ele fica ou vai embora. Sua permanência é uma
prova de amor. Há algo além da satisfação fálica que o retém.
Esta é uma grande questão que alvoroçou os teóricos, por exemplo,
na ficção de Rousseau, em seu Discurso sobre a desigualdade entre
os homens; saber se o homem permanece com a mulher para torná-la
companheira - o que já forma o nucleus da ordem social a partir da
família - ou se, tendo obtido o que queria, ele se vai. Sou eu que traduzo
dessa forma o que diz Rousseau.
A desvantagem da mulher é a de não ter esse maravilhoso órgãoeclipse.
Na articulação proposta por Lacan, é isto o que leva um homem
a desdobrar sua parceira em a mulher parceira do amor e a mulher
parceira do desejo.
A proeza de ''A significação do falo" está em cifrar ao mesmo
tempo o parceiro do amor e o parceiro do desejo pelo falo, e em definir
essencialmente o parceiro do casal como o parceiro-falo. Se ele é o
parceiro do amor, é cifrado (-<p), uma negação incidindo sobre o
significante imaginário do falo. Se é o parceiro do desejo, é cifrado (<p).
Do lado masculino, é possível uma oscilação entre (-<p) e (<p), enquanto
do lado feminino, é ou um ou outro, e isto tende a ser um ou outro.
Amor (-cp)
Desejo (cp)
Macho (-cp) O (<P)
Fêmea (-cp) // (1.p)
s N. do ·r. No original, ''objer à édipse", uso da expressão à eclipse, que significa
o que aparece e desaparece alrernarivamente. Cf. Le Robert, Dictiomraire des
expressions et locutions.
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